Vejam bem: não se trata do programa do PSB para governar o Brasil, e sim do projeto Marina Silva para encantar os corações.
Paulo Roberto de Almeida
Projeto Marina
Celso Ming
O Estado de S.Paulo, 28/08/2014
O lançamento do programa do governo do PSB-Rede, coordenado por uma das controladoras do Grupo Itaú, Maria Alice Setúbal, a Neca, está agendado para sexta-feira; Mas não é preciso esperar para conhecer algumas de suas linhas mestras
Está na hora de começar a avaliar o que seria a política econômica de um agora mais provável governo Marina Silva.
De cara, a principal objeção seriam as enormes dificuldades de governabilidade a enfrentar, dada a baixa densidade política da coalizão PSB-Rede. Mas este é um problema de qualquer partido e bloco político do Brasil. Enquanto houver 32 siglas – e outras em processo de registro, como a Rede Sustentabilidade – nenhum presidente terá maioria no Congresso. Valerá a capacidade de composição que Marina ainda não demonstrou, até porque não conseguiu oficializar seu partido nem apaziguar os políticos do PSB, agora órfãos de Eduardo Campos.
Enquanto foi ministra do Meio Ambiente do governo Lula, Marina notabilizou-se por suas posições ambientalistas rígidas, a ponto de criar convulsões no setor do agronegócio. Dentro do PT também produziu críticas torrenciais. Lula se queixava de que, em vez de empenhar-se pelo desenvolvimento e facilitar a aprovação de projetos hidrelétricos, Marina preferia defender o bagre. Também foram notórias suas posições contrárias à aprovação das culturas transgênicas. Curiosamente, o candidato a vice de sua chapa, o gaúcho Beto Albuquerque, esteve todos estes anos em campo oposto. A candidata ainda não explicou como vai lidar com esses desafios.
O lançamento do programa do governo do PSB-Rede, coordenado por uma das controladoras do Grupo Itaú, Maria Alice Setúbal, a Neca, está agendado para sexta-feira. Mas não é preciso esperar para conhecer algumas de suas linhas mestras. As primeiras manifestações de Marina sobre as escolhas de políticas macroeconômicas mostram mão firme na direção de retomada da ortodoxia. Seu principal assessor na área, o professor Eduardo Giannetti da Fonseca, já avisou que, se eleito, o governo Marina retomará o tripé abandonado no segundo mandato Lula e no mandato Dilma. Isso significaria a formação de um mais alentado superávit primário (sobra de arrecadação destinada ao pagamento da dívida), observância mais rigorosa da meta de inflação e câmbio flutuante, sem essa enorme interferência do governo.
Marina tem anunciado que pretende plena autonomia do Banco Central na execução da política monetária (política de juros) e o retorno à função original eminentemente técnica das agências reguladoras, hoje loteadas politicamente pelo governo PT. Giannetti está avisando que um eventual governo Marina abandonará o casuísmo da administração Dilma, voltado para a distribuição de bondades para determinados setores, e não para outros, fator que cria distorções, insegurança e incertezas. A intenção é trabalhar na direção do aumento da produtividade sistêmica, e não nas desonerações parciais e temporárias.
Isso sugere que serão atacadas outras distorções criadas, como o represamento de preços e tarifas, que desidrataram a Petrobrás, a economia do etanol e o setor elétrico. Não está claro em que proporção e em que condições essa conta será repassada para o contribuinte.
Também não se sabe como seriam encaminhadas as reformas inadiáveis – nesta lista estão a política, a do sistema tributário, a da Previdência Social e a das leis trabalhistas. Ainda há tempo para esclarecimentos. De todo modo, do jeito dele, o mercado financeiro já mostrou que está confiando no que agora é mais do que uma mera hipótese Marina.
CONFIRA:
O gráfico mostra como tem desabado o Índice de Confiança da Indústria. (ICI). Em agosto, foi atingido o menor nível desde abril de 2009.
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