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sábado, 11 de outubro de 2014

Os mercenarios do nazi-petismo e o assedio na internet - Paulo Roberto de Almeida


Paulo Roberto de Almeida

O partido dos neobolcheviques totalitários, devidamente orientado por um êmulo de Goebbels, montou, como sabem todos os observadores atentos, um exército de mercenários para atuar no espaço cibernético. Não temos ideias de quantos são (algumas centenas, provavelmente, mas podemos errar por otimismo), quanto ganham, seus nomes verdadeiros ou as instruções precisas que eles recebem (ainda que saibamos quem as expede), mas seu modo de atuação é muito simples: eles vasculham, de modo regular e contínuo, a internet, numa tarefa ao mesmo tempo ofensiva e defensiva.
No plano da defensiva, são aqueles que sempre comentam abaixo das colunas mais frequentadas de jornalistas famosos, inserindo mensagens de “cidadãos comuns” reclamando de um ou outro aspecto da matéria, mas sobretudo defendendo a causa totalitária à qual eles pertencem, e à qual prestam serviço (pago, obviamente, mas tem também os voluntários, os true belivers, os criacionistas políticos que a ela aderem cegamente), e eles já têm respostas prontas, padronizadas, para “desmentir” o colunista neste ou naquele aspecto menos vistoso para os chefes da quadrilha, para os líderes do bando, enfim, para os Stalins Sem Gulag que pululam no partido totalitário. No plano ofensivo, eles aproveitam o mesmo movimento para sempre encontrar um jeito de atacar aqueles que eles acreditam serem (ou que são realmente) seus adversários (que eles tratam como inimigos), sempre também de forma padronizada, trazendo acusações sobre outras patifarias escabrosas sobre algum líder da oposição.
Mas não só isso: eles também ocupam, invadam, se disseminam em todos os veículos de comunicação social, sempre com nomes falsos, identidades construídas, personalidades fabricadas, para fazer o mesmo trabalho sujo, subterrâneo, mentiroso: defender os chefes de gangue e atacar os que não pertencem ao partido totalitário ou que não partilham a sua visão do mundo. Creio que isto é o essencial a ser dito sobre esse exército das sombras, que melhorou bastante os métodos inventados por Josef Goebbels, durante a ascensão e consolidação do partido e do poder nazifascistas, na Alemanha de entre-guerras: mentir, mentir, mentir, sempre atacar os adversários com os piores golpes sujos, intimidar, assediar, ocupar espaços, enfim, fazer aquilo que a história e a literatura já nos demonstraram como possível de ser feito em diversas circunstâncias. Mussolini aprendeu algumas táticas fascistas com Lênin, sim, com Lênin, e Hitler aprendeu com ambos, e com Stalin, como ascender na escala do poder, usando todos os métodos abomináveis que os totalitarismos empregaram para manter o seu poder, com base no terror físico, mas sobretudo na manipulação dos meios de comunicação, sem o que eles não teriam os votos e o apoio das massas.
Tenho enfrentado alguns desses personagens das sombras, em exercícios paralelos de confrontações virtuais que não devem se distinguir de muitas outras em circunstâncias similares. Sabem todos os que seguem o meu site, os meus blogs (em especial o Diplomatizzando) e, mais recentemente (sim, acabei me rendendo a esse instrumento), as minhas postagens no Facebook, que eu tenho opiniões pessoais sobre alguns assuntos que constituem objeto de meus estudos e reflexões: políticas públicas, de maneira geral, relações internacionais e política externa do Brasil em especial, e temas de cultura no sentido lato: livros, viagens, observações sobre a política mundial e quaisquer outros assuntos inteligentes (eu decido o que é, e às vezes não é, mas sempre tem sentido didático o que eu escolho debater). Sempre recebi, no formulário do site ou nas seções apropriadas do blog, mensagens ou comentários sobre minhas postagens, sobre meus artigos, sobre minhas opiniões emitidas nesses veículos. Não faço objeção à maior parte deles, mesmo quando não se conformam a certo padrão de correção ou cortesia, porque sempre acho que podemos aprender com qualquer experiência, mesmo as mais “negativas”, digamos assim. Afinal de contas, o mundo, por mais que não queiramos ser maniqueístas, é sim dividido entre muitos bonzinhos, alguns poucos malvados e uma vasta maioria de indiferentes, alguns ingênuos, outros ignorantes (e que parecem preferir continuar assim), a maior parte preguiçosos, simplesmente.
Pois bem, os mercenários do partido totalitário podem ser enquadrados facilmente na segunda categoria, embora alguns só façam aquilo por dinheiro, mas creio que boa parte está sinceramente motivada pela causa da “igualdade”, da “justiça social”, da correção das “mazelas” da direita e dos reacionários – incidentalmente, creio que todo mundo reparou como esse pessoal se aliou rapidamente aos piores representantes da velha direita reacionária, aos execrados coronéis da velha política – e querem apenas o melhor para o Brasil. A lavagem cerebral – feita durante anos a fio pelos gramscianos da academia, e antes pelas saúvas freireanas que pululam nos dois ciclos anteriores – foi tão bem feita que eles se tornaram criacionistas políticos, fundamentalistas que não aceitam nenhuma outra verdade senão aquela ditada pelo partido neobolchevique. E não adianta apontarmos para os piores atos de corrupção, de malversações, as enormes mentiras e falcatruas ordenadas e executadas pelos apparatchiks e pelos chefes de gangue, eles não vão se convencer: são infensos a qualquer raciocínio lógico, a qualquer evidência documentada de crime político (e até comum, muitos deles), a qualquer argumento sensato sobre o danoso que tem sido para o país suportar tantas mistificações continuadas. Eles não se comovem, e reafirmam os seus propósitos: “ah, sim, isso pode ter acontecido, mas veja aqui o que fizeram os neoliberais, os reacionários, aqueles que querem fazer o Brasil andar para trás”. Tivemos vastos e multiplicados exemplos desse tipo de situação na atual campanha eleitoral, e eu me defronto com esse tipo de atitude a todo momento, várias vezes por dia.
Nem todo esse povo pertence ao exército das sombras do partido totalitário: a maior parte é formada por universitários ingênuos, gente que nasceu ontem, e que acha que sabe tudo sobre o Brasil e o mundo, porque leu meia dúzia de artigos dos ideólogos mais conhecidas desse grupo, e foi educada com base naquela literatura rastaquera que todos sabemos existir na academia brasileira. Eles ainda não viram o mundo, não sabem como trabalha uma empresa, e em grande medida sequer têm uma ideia precisa de como funciona o governo, mas eles têm ideias acabadas sobre tudo e sobre todos, e embora alguns pensem com suas próprias cabeças, nas horas decisivas eles se juntam na defesa da tropa e das táticas selecionadas para promover as suas causas. Eles sabem muito pouco sobre as revoluções russa e chinesa – ou o que sabem foi justamente ditado pela mesma literatura de terceira classe a que estão acostumados – e não se importam muito em que as piores ditaduras totalitárias do século XX (e aqui eu não distingo as cores, se vermelha ou preta) tenham eliminado da face da terra algo como cem milhões de pessoas inocentes (fora das guerras, estou dizendo). A insensibilidade é tamanha que eles não se importam com o que está acontecendo agora mesmo em Cuba ou na Venezuela, e com os sofrimentos impostos a estes e a outros povos por ditadores que partilham das mesmas convicções anticapitalistas e anti-burguesia. O que fazer? Este é o resultado da lavagem cerebral imposta aos nossos jovens desde cedo.
No meu caso, eu fui ganhando, ao longo do tempo, alguns “seguidores” menos desejados, gente que entrava (anonimamente cabe registrar) em meus blogs e postagens para atacar, ofender, denegrir, desmentir, sem contribuir minimamente para o debate em causa – e quando era o caso, eu postaria, mesmo depreciativamente em face de minhas posições – mas apenas para tentar rebaixar um trabalho feito de forma voluntária, inteiramente assumido como missão pessoal, no terreno didático e intelectual, sem qualquer compromisso com movimentos, partidos ou escolas de pensamento. Quem me segue de forma regular sabe do que estou falando, e talvez até conheça alguns desses atacantes, alguns até colegas de carreira (mas sempre anônimos, claro). Enfim, não caberia recapitular aqui todos os episódios de “embates” com os desconhecidos virtuais.
Quem são eles? Não sabemos e provavelmente nunca saberemos. Mas isso não importa muito, assim como pouco importa o que eles têm a dizer. Os personagens de carne e osso não são tão importantes quanto o que eles representam, pois isso desvenda um método, e ajuda a entender como trabalham os totalitários. Se eles podem intimidar, confrontar, rebater, acusar, mentir, desmentir, enfim, fazer tudo o que eles fazem de modo “industrial” – ou seja, em massa – tudo bem. Mas certos veículos, e certas pessoas, pela capacidade eventual que possuem de influenciar opiniões e moldar atitudes, precisam receber um “tratamento especial”. Acredito que eu me enquadro nessa categoria, daí eu ter sido designado para esse seguimento reforçado. Até quando isso vai ocorrer? Eu não sei, e nem mesmo eles sabem, e provavelmente esteja ligado ao calendário eleitoral. Eu me permito dialogar com alguns deles, para tentar aprender um pouco mais sobre a psicologia “dessa gente”, alguns bem intencionados, como disse, muitos outros desempenhando uma tarefa, ainda que ela seja vil e mentirosa.
Pois bem, o que se pode fazer com os mercenários das sombras? Provavelmente nada, apenas se divertir um pouco com eles, e esperar que entrem mais vezes no meu blog, para fazer aquilo que foram instruídos fazer: intimidar, desencorajar, dobrar “adversários” para melhor sustentar a causa totalitária que é a deles. Se estivéssemos na época dos nazistas, um pelotão de milicianos talvez já tivesse sido mandado atrás de mim, com os “remédios” que os fascistas italianos e os nazistas alemães empregavam contra socialistas, comunistas, democratas, judeus e outros “inimigos do povo”: ameaças, eventual violência física, logo mais adiante prisão, campo de concentração, até eliminação. Não estamos nesse cenário, felizmente, mas infelizmente é o que vemos sendo montado em ditaduras amigas do partido totalitário, aqui mesmo ao lado, e com a qual eles nunca se “dessolidarizaram”, mesmo em face das piores violações das liberdades democráticas e dos direitos humanos.
Este é o mundo deles. Obviamente não é o meu mundo, e vou continuar lutando com todas as minhas forças – em meu modesto quilombo de resistência intelectual, como digo sempre – para impedir esses degenerados de alcançarem seus objetivos, que são aqueles mesmos descritos por dissidentes do mundo totalitário, começando por Ignazio Silone, Arthur Koestler – de Darkness at Noon –, Eric Blair – o George Orwell de Animal Farm e 1984 – e tantos outros que lutaram contra o novo monstro totalitário, aqui mesmo no Brasil, em vários países da América Latina e em todos os lugares.
Talvez sejam apenas personagens passageiros que logo deixarão de existir, mas a quem tenho de agradecer, sinceramente, pela oportunidade que me dão de fazer uma nova reflexão sobre o sentido de minha missão auto-assumida, e que me permitiu elaborar estes novos comentários sobre um fenômeno recorrente na internet. Não tenho nada a lhes dizer, a não ser recomendar que continuem lendo o meu blog – na verdade que eles continuem a ler coisas inteligentes – para talvez aprender algumas lições de tolerância, de dignidade, de honestidade intelectual, sempre em defesa de valores democráticos, e de princípios que eu sei que não são os deles: as economias de mercado, a total liberdade nos meios de comunicação, a iniciativa individual, a meritocracia, contra os falsos igualitarismos e o “homem massa”, contra o qual já se revoltava Ortega y Gasset. Talvez eles aprendam um pouco, não necessariamente me lendo, mas lendo a história, e simplesmente observando o mundo real. Eles vão aprender, ainda que tardiamente.

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 12 de outubro de 2014

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