Acabo de terminar de ler este livro, que recomendo vivamente, por se tratar, realmente, de uma história global do algodão, de sua cultura, de seu comércio e sobretudo de sua industrialização, o primeiro empreendimento da revolução industrial e a primeira indústria verdadeiramente global, com seu centro em Manchester, depois se espalhando pelo mundo inteiro. A informação disponível sobre o Brasil é da melhor qualidade, baseada em nossos historiadores econômicos, em teses universitárias e no famoso livro do brasilianista Stanley J. Stein, The Brazilian Cotton Manufacture. Transcrevo aqui a parte final, por mim traduzida, de suas referências ao Brasil, quando a industrialização realmente deslancha:
“As
três décadas pós-1892 foram chamadas de a idade do ouro da manufatura
brasileira de algodão. Foi na sequência da emancipação da escravidão que as
elites manufatureiras ganharam mais influência sobre o governo e conseguiram
induzir políticas coerentes com os seus interesses, especialmente tarifas. Em
1860, a tarifa sobre o algodão era tão baixa quanto 30% sobre o valor das
importações, em 1880 ela tinha dobrado para 60%, e, depois de batalhas
delongadas, elas se elevaram para 100% em 1885. Elas ainda ascenderam em 1886,
em 1889 e em 1900. As tarifas protecionistas de 1900 permaneceram então em vigor
durante três décadas, criando um mercado protegido altamente lucrativo para os
fabricantes. Como resultado, em torno de 1920, 75 a 85% de todos os produtos de
algodão usados no Brasil eram fiados e fabricados internamente. Um inglês disse
com grande pesar em 1921 que '21 anos atrás o Brasil era um excelente mercado
para Manchester... Primeiramente os tecidos ordinários caíram fora, e agora
todos esses bens estão sendo fabricados no país, e apenas os de qualidade
superior ficaram para ser importados'”. p. 400, frase do inglês citado, no livro de Stanley Stein, p. 101."
Um grande livro de história econômica e de história do capitalismo.
Paulo Roberto de Almeida
(New York: Alfred A. Knopf, 2014, 616 p.; ISBN: 978-0-375-41414-5)
About The Book
Cotton
is so ubiquitous as to be almost invisible, yet understanding its
history is key to understanding the origins of modern capitalism. Sven
Beckert’s rich, fascinating book tells the story of how, in a remarkably
brief period, European entrepreneurs and powerful statesmen recast the
world’s most significant manufacturing industry, combining imperial
expansion and slave labor with new machines and wage workers to change
the world. Here is the story of how, beginning well before the advent of
machine production in the 1780s, these men captured ancient trades and
skills in Asia, and combined them with the expropriation of lands in the
Americas and the enslavement of African workers to crucially reshape
the disparate realms of cotton that had existed for millennia, and
how industrial capitalism gave birth to an empire, and how this force
transformed the world.
The
empire of cotton was, from the beginning, a fulcrum of constant global
struggle between slaves and planters, merchants and statesmen,
workers and factory owners. Beckert makes clear how these forces ushered
in the world of modern capitalism, including the vast wealth and
disturbing inequalities that are with us today. The result is a book as
unsettling as it is enlightening: a book that brilliantly weaves
together the story of cotton with how the present global world came to
exist.
Nenhum comentário:
Postar um comentário