COMÉRCIO EXTERIOR
Como a ideologia isolou o Brasil comercialmente
Especialistas dizem que o País se afastou de grandes mercados, como o dos Estados Unidos
Jornal do Commercio (Pernambuco), 07/10/2015
Da Editoria de Economia
O Brasil apostou muito no comércio com países feito a Venezuela, que está com a economia se arrastando
Agência France Press
O anúncio da criação do bloco econômico Transpacífico reacendeu a discussão sobre o quanto a política comercial brasileira foi impactada pela ideologia antiamericana nos últimos 12 anos, na administração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, ambos do PT. O País focou sua atuação comercial no Mercosul, formado por alguns países da América do Sul que, além da instabilidade política, estão com a economia estagnada, como Argentina e Venezuela. Nesse período, o Brasil também aumentou as relações com a África, comércio que também não tem grande potencial, de acordo com especialistas. O problema brasileiro não foi mirar economias emergentes e sim dar as costas às grandes potências.“Insistir no Mercosul foi um erro. O País está isolado comercialmente e isso foi o resultado de uma política isolacionista, que incluiu o alinhamento político como por exemplo ocorreu com a Venezuela. O Brasil deve despolitizar a política externa, pensar em relações comerciais que atraiam recursos via exportação. Deve se aproximar de países como os Estados Unidos, Canadá e União Europeia. Estes que deveriam ser parceiros preferenciais”, resume o professor do Departamento de Economia da UFPE Ricardo Chaves. Parceiro preferencial é quando dois países concordam em diminuir algum tipo de barreira tarifária para aumentar o comércio entre ambos. Já as barreiras são tarifas e taxas cobradas sobre importados.
Apesar dos EUA serem o 2º maior destino das nossas exportações, especialistas dizem que o Brasil se afastou, na última década, do mercado norte-americano. “Na própria América do Sul, muitos países fizeram acordos bilaterais com os EUA. O Chile vende frutas em condições especiais para os americanos”, afirma Chaves.
Professor de Economia Internacional da UFPE, Ecio Costa argumenta que a ideologia política teve um peso na composição do atual cenário do comércio exterior. “O Brasil se recusou a fazer parte da Alca por acreditar que era uma via de mão única a favor dos Estados Unidos. Depois disso, deveria ter feito acordos bilaterais, como fez o Chile”, conta, acrescentando que o nosso vizinho também fez acordos que incluíram a comercialização de uva, vinhos, cobre e móveis.
Ele diz também que o Brasil ficou esperando pelas negociações das Rodadas de Doha, iniciadas em 2002 e que até “agora não saíram do papel”. E cita que além da Transpacífico outras novas parcerias podem isolar mais ainda o comércio exterior do País. “Já começaram as negociações para um bloco chamado Transatlântico que vai transformar os Estados Unidos e a União Europeia numa área de livre comércio (com a diminuição das barreiras tarifárias). Se isso ocorrer, o Brasil vai perder a competitividade para esses destinos em produtos como a soja, frango, carne suína, aço e ferro, entre outros”, conta. A Transpacífico também deve impactar as vendas do Brasil ao exterior. Formada por 12 países, esse grupo consumiu 25% das exportações brasileiras no ano passado.
A falta de acordo bilateral faz um produto tipicamente nacional ser sobretaxado na União Europeia, o açúcar. Lá, para cada tonelada do produto nacional é adicionada uma taxa de <SC170,65> 68 (cerca de R$ 297). Somente 30% das importações de açúcar daquele bloco são taxadas. E, desse total, 84% dessa taxação incidem sobre o açúcar brasileiro. “Vários países da América do Sul fecharam acordos bilaterais recentemente sobre commodities. Isso não ocorreu com os nossos produtos”, lamenta o presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco, Renato Cunha.
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