Por isso mesmo me desculpo com os "keynesianos de carteirinha", acusados numa postagem anterior, esta aqui,
Dois dos keynesianos true believers, mas atentos ao que o mestre realmente disse, me corrigem, e demonstram que avisaram antes do desastre acontecer.
Recebo, do jovem pós-doutor Fábio Terra, um dos dois dois autores, com Fernando Ferrari, um keynesiano gaúcho, do artigo que eu reproduzi na postagem acima indicada, primeiro uma mensagem de crítica à minha atitude, o que aceito inteiramente.
Reproduzo primeiro a sua primeira mensagem, que foi sucedida por um comentário meu, que por sua vez recebeu sua segunda mensagem, recebida abaixo.
Primeira Mensagem:
On Oct 6, 2015, at 20:37, Fábio Terra <xxxxxx@xxxx.br> wrote:
Mensagem enviada pelo formulário de Contato do SITE.
Nome: Fábio Terra
Cidade: Uberlândia
Estado: MG
Email: xxxxxx@xxxxx.br
Assunto: Sugestao
Mensagem: Olá prezado Paulo, boa noite.
Com tristeza li seu comentário em seu blog sobre o texto que publiquei ontem no Valor em coautoria com o Prof. Fernando Ferrari. Tristeza, pois, embora você nos denomine keynesianos de carteirinha, você também nos concedeu o adjetivo covarde, sem saber que vimos já desde 2009/2010 argumentando que as mudanças de condução da política econômica, que depois virariam a NMM não eram keynesiana; além disso, fazemos um profundo resgate da obra de Keynes para corretamente apresentá-la aos leitores mais desavisados. Portanto, desde cedo estávamos informando que, se a NMM era keynesiana, tal keynesianismo era de almanaque. Minha tese de doutorado, defendida em 2011, já versa sobre isso; bem como um outro trabalho escrito em 2010, publicado pela Revista da Cepal em 2012. Prof. Ferrari fez o mesmo, desde há muito. Uma pena que não tenha tido contato com estes trabalhos antes de nos qualificar de covardes. Certamente, isso é o que não somos, pois enfrentamos, além de !
desconhecimentos como o seu, a fúria e o ataque daqueles economistas pouco técnicos, mas muito ‘politiqueiros’ que acham que Keynes cabe em qualquer aventura econômica - os, como bem denominou, keynesianos de botequim.
Pelo respeito ao seu excelente currículo, à toda sua produção intelectual e à longa atividade à serviço público do Brasil, buscarei acreditar que seu comentário foi casuísta, coisa de momento, pois não posso crer que você seja assim indelicado. Não lhe conheço, mas é possível perceber em seu blog que você é gentil e cortês, diferente do seu comentário.
Críticas ao texto, são bem-vindas. Às pessoas, talvez desnecessárias.
Seguiu minha mensagem de desculpas e de comentários...
Segunda mensagem:
Caro Paulo,
obrigado pela atenciosa resposta. Concordo com sua visão sobre o que se fez e o que ainda se faz, teórico e politicamente, da obra de Keynes. Eis minha luta (e do Prof. Ferrari e alguns outros no Brasil) para evitar que Keynes seja uma caixinha para qualquer coisa. Diga-se de passagem, sempre ressalto a incoerência lógica daqueles que pregam que aumento dos gastos públicos gera automática ampliação do investimento privado: como pode algo automático, certo, em termos keynesianos, se foi o mencionado autor que mostrou à teoria econômica o papel fulcral da incerteza nos sistemas econômicos?
Por sinal, você mencionou a Associação Keynesiana Brasileira, sou dela diretor há algum tempo e fui o organizador do seu último encontro, que reuniu mais de 300 participantes. Ela, de fato, surgiu já no descenso do Keynesianismo, mas no fundo ela surgiu por esta trajetória descendente mesmo e, para além, para que o resgate separasse os keynesianos de carteirinha dos de botequim. Ela serve a debater a nobre economia política keynesiana e repudiar o uso vulgar de Keynes.
Tive, como lhe disse, a sensação de que seu comentário era mais provocador do que jocoso, mas no momento que vivemos a provocação não está no nível das ideias, ele nunca esteve tão raso e raivoso. Por isso, até, meu susto: não fomos covardes por apresentarmos o debate, fomos corajosos por enfrentá-lo no momento em que todos apontam o dedo a um tal (qual?) Keynes e por termos sido consistentes com o que vimos falando há tempos (mando os links aos textos abaixo e alguns em anexo). Não pulamos do barco, denotamos que não era esse barco que Keynes estaria.
Não se preocupe. A retirada das qualificações que não fazem jus já satisfaz. Terei maior prazer em conversar e discutir sobre Keynes, pois é uma obra - e vida - que vale a pena ser revista. Muito longe do que se pensa comumente, ele queria salvar o capitalismo, queria promover a liberdade e a iniciativa privadas, achava a experiência comunista um desastre e várias outras coisas que jamais se tocam (na verdade, se toca o contrário do que ele dizia) nos debates.
Este texto apresenta a política econômica keynesiana:
http://www.scielo.org.mx/scielo.php?pid=S0185-16672012000300003&script=sci_arttext
Este texto aplica a lógica acima (daí a parte teórica do texto se repetir) ao caso brasileiro e, na última seção, especificamente às políticas contracíclicas de 2009:
http://repositorio.cepal.org/handle/11362/11562
São ambos anteriores a 2012, mas como você sabe, publicações levam tempo.
Os textos em anexo, (i) “o keynesianismo não keynesiano”..... não consegui fazê-lo ser publicado em nenhum jornal do país e (ii) os desafios do investimento e da indústria.... sairá entre novembro e dezembro na Brazilian Keynesian Review. O texto (i), por sinal, serviu de base (ii). Foram ambos escritos na passagem de 2014 para 2015, mas a demora na publicação não permitiu que eles saíssem antes.
Um cordial abraço e qualquer comentário ou menção adicional, por favor, fique à vontade.
Fábio
Recebi, junto com esta segunda mensagem, os trabalhos "O keynesianismo não keynesiano"e "Os desafios do investimento e da indústria no Brasil: um drama em seis atos", mas que ainda não li, para poder comentar.
Com minhas desculpas renovadas por ter misturado no mesmo molho keynesianos de carteirinha, e rústicos keynesianos de botequim, fica enteão aberto o debate sobre o que o keynesianismo pode trazer de útil ao Brasil.
Minha posição pessoal é a de que os keynesianos, contrariando o mestre, estão sempre seguindo algum economista morto, no caso o próprio. A minha crítica principal aos keynesianos é a de que eles continuam transformando algumas receitas mal cozidas de medidas anticíclicas em teoria do desenvolvimento, como já tinha feito Prebisch. Pena, o Brasil merece enterrar os mortos (inclusive Roberto Simonsen, Ce Furtado, Getúlio Vargas, os militares, os petralhas, e outros personagens que ajudaram a criar o ogro famélico que se chama Estado), e olhar para a frente.
Paulo Roberto de Almeida
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