Breve nota biográfica: Paulo
Roberto de Almeida
Nasci em São Paulo, na
exata metade do século XX, depois de uma primeira metade conhecida como a mais
mortal de todas as épocas históricas anteriores. Por sorte (ou talvez, como
diria Raymond Aron, graças à arma atômica, segundo o diagnóstico feito logo em
1947: “paz improvável, guerra impossível”), a minha geração, e as duas
seguintes, não conhecemos nenhum novo conflito global, mas inúmeros,
incontáveis conflitos parciais, guerras civis, guerras limitadas, sem mencionar
uma imensa destruição econômica, inclusive no próprio Brasil, em função de
governos irresponsáveis, líderes populistas, aventureiros políticos.
Creio que “aprendi” economia
na prática, ao nascer numa família de baixa classe média, com pais que não
dispunham sequer de primário completo, sem livros em casa, e tendo de trabalhar
desde muito cedo (e gostaria de sublinhar: desde muito cedo).
Tive sorte de residir,
mesmo numa casinha muito modesta, muito próximo de uma biblioteca pública
infantil, onde passei toda a minha infância (mesmo antes de aprender a ler) e
metade da primeira adolescência. Devo à Biblioteca Infantil Municipal Anne
Frank os melhores momentos de minha infância, tendo lido provavelmente tudo o
que havia de disponível para um garoto sedento de novos saberes, como eu era.
Depois, devo ao Ginásio Vocacional Oswaldo Aranha, na primeira adolescência,
tudo o que eu aprendi de importante, e que iria guiar a minha vida doravante.
Foi ali que fui “apresentado” aos problemas de relações internacionais, quando
ouvi o que me pareceu uma fascinante preleção de Oliveiros da Silva Ferreira
sobre a crise dos mísseis soviéticos em Cuba, um ano ou dois depois da famosa confrontação
russo-americana (1962) que levou o mundo ao limiar de um holocausto nuclear.
Nos anos seguintes, aprendi de verdade economia nas páginas desse jornal
reacionário que eu lia quase todos os dias, o Estadão, onde também aprendi a
conhecer Raymond Aron e muitos outros luminares do melhor pensamento político
do século XX.
Chegado ao século XXI,
creio que posso fazer um balanço positivo de uma trajetória intelectual toda
ela dedicada a ensinar aos mais jovens o que eu mesmo aprendi nos livros, na
observação da realidade, em incontáveis viagens, em contato com pessoas mais
espertas, mas sobretudo na reflexão ponderada com base em todas as metodologias
anteriores. Viajei muito, li muito (não tanto quanto Carmen Lícia, minha
adorável companheira de quase 40 anos, mas quase tanto) e sobretudo mantive uma
atitude, em face de afirmações peremptórias e argumentos lidos e ouvidos, que
aprendi muito jovem: ceticismo sadio. O que isso quer dizer? Nunca tome uma
opinião, uma afirmação, mesmo um argumento de autoridade, pelo seu “valor face”,
mas procure perguntar: é isso mesmo?; por que?; tem fundamento?; quais as provas?;
não seria de outra forma?; vamos examinar melhor...
O que eu gostaria de
deixar, como memória, como recordação, como lição a mim mesmo ou aos outros, ao
longo de uma vida dedicada aos estudos e aos escritos? Talvez apenas isto:
aprendeu, refletiu, transmitiu conhecimentos, esforçou-se para tornar o mundo
um pouco melhor do que aquele que recebeu dos pais e das gerações passadas. A
certeza de ter contribuído com o meu quinhão de conhecimentos para a elevação
espiritual da humanidade, ou pelo menos do Brasil, é uma das coisas mais gratificantes
que tenho legítimo orgulho de exibir...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 2 de agosto de 2016
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