sábado, 1 de outubro de 2022

Sobre o verdadeiro sentido (involuntário) das próximas eleições - Paulo Roberto de Almeida

Sobre o verdadeiro sentido (involuntário) das próximas eleições

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Nota sobre o voto negativo – dos dois lados – que os eleitores serão obrigados a escolher um deles contra o outro.

  

Um fato simplório a ser registrado, neste domingo 2/10/2022: as eleitoras e eleitores brasileiros NÃO estarão votando, desta vez, num programa propositivo para o futuro do país, pois que passamos longe de debates apresentando propostas pertinentes sobre o que desejamos na vida da nação e para nós próprios.

A verdade é que estaremos, em grande medida, apenas rejeitando a má escolha que fizemos no passado recente. 

Mas, o fato é que nem em 2018 o fizemos, pois que também estávamos rejeitando erros anteriores que ameaçavam se repetir.

Quando é que começaremos a deixar de rejeitar nossos próprios erros, para adentrar num esforço sério de escolha de programas alternativos baseados em propostas objetivas de políticas públicas?

A verdade, mais uma vez, é que isso é quase impossível, pois que somos reféns de caciques oportunistas de um estamento político predatório que já detém as rédeas do poder e do dinheiro, e que domina os mecanismos de auto-reprodução e de eternização nas altas instâncias do Estado, com um ou outro aventureiro — geralmente populista e demagogo — se apossando eventualmente dos cargos abertos à competição eleitoral.

A razão de sermos reincidentes nas más escolhas eleitorais é a mesma de ainda continuarmos a ser um país insuficientemente desenvolvido, com muitas desigualdades sociais, e de mantermos ainda milhões de pobres e de miseráveis, 200 anos depois de termos assumido o comando da antiga colônia de exploração: um país de elites em geral medíocres e egoístas, que descuraram completamente o principal componente de uma nação desenvolvida: um povo minimamente educado, capaz de aumentar a participação do capital humano no aproveitamento dos fabulosos recursos naturais que herdamos pelos acasos da história e da geografia. 

Enquanto não tivermos um povo educado continuaremos a ser vítimas desses aventureiros e oportunistas políticos, tentando regularmente nos desfazer das más escolhas nos escrutínios eleitorais. 

Tentei refletir sobre alguns dos projetos de construção da nação formulados por duas dezenas de estadistas do pensamento no meu mais recente livro publicado. 

Uma conclusão possível, aliás repetida diversas vezes por um dos construtores frustrados da nação, que foi Roberto Campos: “O Brasil é um país que não perde oportunidades de perder oportunidades”.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4246: 1 outubro 2022, 2 p.


 

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