sexta-feira, 11 de novembro de 2022

O império contra-ataca - Elena Landau (O Estado de S. Paulo)

O império contra-ataca

Elena Landau

O Estado de S. Paulo11/11/2022


A transição foi iniciada, e com atraso. Faltam apenas 50 dias para a troca de comando.

Os apoios recebidos no segundo turno tornam inevitáveis diferentes perfis políticos compondo o grupo, a ser liderado por Alckmin. Mas há limites para a heterogeneidade de idéias.

Quando vi o quarteto para a economia, lembrei do Stanislaw Ponte Preta. "Moderna Teoria Monetária", "Nova Matriz Econômica", Estado intervencionista ou um sólido e coerente programa econômico com âncora fiscal. O que pode sair dessa Torre de Babel? Pelo que ouvimos de Lula nesta semana, não há motivos para otimismo. É cada vez mais urgente que o ministro da Economia seja anunciado, para que fique claro qual rumo será tomado.

Haverá espaço para a revisão do projeto petista? Deveria. Mas pouco provável. Lá está a volta a um passado que deu muito errado. Refinarias, indústria naval, reindustrialização, microprocessadores e bancos públicos. Só falta acabar com a TLP.

As etapas no debate da PEC da Transição estão trocadas. O valor do tal "waiver" só deveria ser discutido após a revisão do Orçamento. O atual, encaminhado por Bolsonaro, já prevê um déficit de R$ 60 bilhões e traz prioridades invertidas. Mantém desonerações para combustíveis, enquanto inviabiliza as áreas social e tecnológica.

É na discussão de um novo Orçamento que o futuro governo deveria incorporar seu programa, incluindo nele as promessas de campanha. Se houver espaço.

Só que Lula, enfim, disse o que pensa sobre a PEC: não aceita limites. Mostra que não aprendeu que, sem responsabilidade fiscal, as pessoas mais necessitadas são as que mais sofrem. O real perde valor, os juros sobem. Inflação e desemprego são sempre o resultado. Engana-se quem acha que é a Faria Lima que sai perdendo.

Não existe isso de que o volume de gastos não é o problema, basta "saber gastar". Esse filme a gente conhece, e não termina bem. A má alocação de recursos públicos é nossa tradição.

Todo político gosta de gastar. Lula dobrou a aposta. Quer liberdade para os "gastos do bem"; escolhidos por ele, claro. Se a cada restrição aos desejos dos governantes uma PEC for proposta, Orçamento e o planejamento perdem sentido.

Lula faz agora movimento oposto ao de 2002, quando tentou furar a bolha de pessimismo com a Carta aos Brasileiros. Assumiu e deu continuidade às políticas de FHC. Hoje, anuncia seu projeto Lula3. É governo do PT para o PT. E lá se vão esperanças de um governo de conciliação, compatível com os apoios que recebeu. As equipes de transição, pelo jeito, são só para inglês ver.

Elena Landau, economista e advogada elena.landau@eusoulivres.org


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.