Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;
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domingo, 13 de outubro de 2013
Retrocessos no ensino superior patrocinados pelo governo com o nosso dinheiro - Augusto Nunes
sábado, 28 de setembro de 2013
A tragedia (ou a comedia?) partidaria brasileira - Augusto Nunes, Editorial O Globo
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quarta-feira, 28 de agosto de 2013
O stalinismo redivivo: um Gulag virtual vai sendo montado no cerrado central... - Augusto Nunes
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E a ofensiva já começou: a direita orquestrou tudo, obviamente...
Boletim diário da Conjuntura da Fundação Perseu Abramo, 28/08/2013:
Dilma condena ação de diplomata brasileiro e rejeita comparação de Embaixada com DOI-CODI:
A presidenta Dilma Rousseff fez duras críticas na terça-feira, 27, à ação do diplomata brasileiro Eduardo Saboia, que havia comparado a situação do senador boliviano Roger Pinto a de um prisioneiro do Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) na época da ditadura militar. Segundo Dilma, “é tão distante a embaixada brasileira lá em La Paz como é distante o céu do inferno”, citando sua própria experiência no presídio da ditadura militar. Ainda segundo Dilma, ao trazer Roger Pinto para o Brasil sem autorização do governo boliviano e sem o conhecimento do governo brasileiro, Saboia arriscou a vida do senador, além de cometer uma quebra de hierarquia inaceitável na diplomacia brasileira. O senador boliviano, proprietário de terras na fronteira do Acre, é considerado o porta-voz do agronegócio boliviano. Opositor ferrenho de Evo Morales, o senador acumula processos de desvio de verbas e corrupção quando governou a província de Pando, além de ser acusado de venda de terras públicas a estrangeiros e favorecimento de jogos ilegais. A acusação mais grave que paira sobre ele é a de participação no massacre de 13 indígenas na província de Pando em 2008.
Comentário: A ação de Saboia, possivelmente orquestrada com o ex-embaixador brasileiro na Bolívia, Marcel Biato, revela uma manobra “oposicionista” dentro do corpo do Estado Brasileiro, imediatamente apoiada pela direita nacional. As ligações de Pinto com agentes da inteligência norte-americana, denunciadas pela revista Carta Capital, revelam o papel do senador ruralista como representante dos interesses americanos para desestabilizar o governo Morales. Sua aceitação como asilado político foi um grave erro da diplomacia brasileira, pois desconsidera a soberania da justiça boliviana, que julga denuncias gravíssimas contra o senador. As justificativas para a arriscada fuga são ainda menos plausíveis de aceitação, dado que um homem com “saúde frágil” e claro risco de morte não poderia ser submetido a uma longa viagem de automóvel como ocorreu.
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
Brasil-Bolivia: quando a moral e' frouxa e a espinha flexivel - Augusto Nunes
Ele vai ser mantido num limbo político, até que a Justiça obrigue o governo (parece que vamos chegar a esse ponto) a definir um estatuto para ele. Vai passar a viver no Brasil, pelo menos temporariamente, e talvez tenha a companhia de um diplomata caído em desgraça, para desgraça do Brasil e do Itamaraty.
Gestos de altivês, de diplomacia ativa, verdadeiros, sem hipocrisia, são raros; gestos de independência verdadeira, são mais raros ainda; gestos de ousadia, no limite da rebeldia são praticamente inexistentes, infelizmente.
Vivemos tempos interessantes, tempos miseráveis, e tempos esperançosos...
Paulo Roberto de Almeida
sábado, 24 de agosto de 2013
Existem Asilos e asilos; Escravidao e escravidao: depende de onde onde vc olha...
Quanto ao direito de asilo, só para os que fogem de torpes ditaduras burguesas...
Paulo Roberto de Almeida
terça-feira, 13 de agosto de 2013
Um pais atrasado, mais mentalmente, do que materialmente. Qual seria?
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Da coluna do jornalista Carlos Brickmann, 13/08/2013:
Um grande político baiano, Octavio Mangabeira, cunhou uma frase fantástica: "Pense num absurdo. Na Bahia tem precedente". Poderia ser mais ambicioso: se o absurdo for realmente absurdo, no Brasil há precedente. Pois não é que o Supremo Tribunal Federal inicia o estudo, hoje, da possibilidade de transformar a última instância em penúltima? Oito meses depois de determinar a sentença dos réus condenados no processo do Mensalão, o Supremo discute se pode ou deve rever a decisão da qual não cabe recurso - mas, se o recurso se chamar embargo, recurso talvez possa haver. Enfim, seja qual for o nome do que está sendo debatido, onze dos 25 condenados podem ter a sentença reduzida. E penas de prisão em regime fechado serão, no caso, modificadas para regime semiaberto.
E assim terminará o caso? Não: o deputado Nathan Donadon foi condenado à prisão em regime semiaberto e já está cumprindo pena. Mas, como o Supremo decidiu que quem pode cassar mandatos é o Congresso, enquanto o Congresso não tomar sua decisão o nobre parlamentar pode exercer a função de deputado durante o dia e virar presidiário à noite, dormindo na cadeia. Dos onze condenados pelo Mensalão cuja sentença pode ser reduzida - ou não - José Genoíno e João Paulo Cunha são deputados. E talvez consigam trabalhar em meio período.
quarta-feira, 17 de julho de 2013
Avioes, caes farejadores e soberania nacional - relacoes Brasil-Bolivia (Valor Economico, Augusto Nunes)
Finalmente:
sexta-feira, 12 de julho de 2013
O Brasil a caminho do fascismo corporativo?: mafia sindical e pelegos tentam enquadrar o Brasil...
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GREVE: oportunistas e descarados, aliados do lulopetismo se misturam à greve geral para não ficar atrás dos movimentos populares de protesto — e fingem que os protestos populares não vêm sendo contra o governo que apoiam
sábado, 22 de junho de 2013
Duas imagens, duas atitudes: com meu inteiro apoio...
segunda-feira, 27 de maio de 2013
Roberto Civita: um editor que acreditava no seu trabalho (Abril-Veja)
“Gosto de ser editor e o que eu sei fazer é revista”, dizia Roberto Civita. Mesmo depois de 1990, quando a morte de Victor Civita o levou a assumir o comando da Abril e chefiar o processo de diversificação do grupo fundado pelo pai, ele nunca se afastou da atividade que o seduziu definitivamente na década de 60, quando começou a por em prática os conhecimentos assimilados anos antes, na sua segunda temporada nos Estados Unidos. Nascido em Milão, Roberto Civita morou em Nova York de 1939 a 1949, quando veio para São Paulo. O bom desempenho no Colégio Graded garantiu-lhe uma bolsa de estudos nos EUA, onde percorreu, ao longo da década de 50, caminhos que o levariam à descoberta da vocação profissional e à volta definitiva ao Brasil.
sexta-feira, 17 de maio de 2013
Tropecando na etica, distraido (ou deliberadamente...) - Editorial do Estadao, Reynaldo Rocha
Lula e a falta de ética
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quinta-feira, 16 de maio de 2013
A frase do ano: "A classe media e' fascista..." - Adivinhe quem?
Quem poderá nos salvar?
Jesus Cristo é a salvação?
Difícil, depois destas frases memoráveis:
sábado, 11 de maio de 2013
Pequena historia de duas mentiras - Reynaldo Rocha
domingo, 24 de março de 2013
O fascismo em construcao no Brasil: o ovo da serpente...
Muitos não concordarão, dizendo que eu sou paranoico, que eu exagero, e coisas do gênero.
Mas tenho vivência suficiente, bastante conhecimento da história, e sei reconhecer os companheiros, pois já estive entre eles. Posso dizer com certeza: o fascismo já se instalou, com outras roupas.
O Brasil infelizmente vai cair na armadilha, e vai demorar para se recuperar.
Paulo Roberto de Almeida
Reynaldo-BH: O ovo da serpente germinou
REYNALDO ROCHA
Blog do Augusto Nunes, 24/03/2013
“É como o ovo de uma serpente. Através das finas membranas, você pode claramente discernir o réptil já perfeito” (Dr. Vergerus, personagem de O Ovo da Serpente, de Ingmar Bergman)
A semente do radicalismo, da corrupção e violência já está plantada. Regada e cuidadosamente cultivada.
Na Alemanha pós-Weimar, numa cadeia de nome Landsberg, um líder chamado Adolf Hitler tramava a conquista do poder pela via eleitoral. Conseguiu em 1933, depois de escrever Mein Kampf!.
Foi nomeado primeiro-ministro depois que o nacional-socialismo venceu a eleição prometendo uma “Alemanha para os alemães” e uma era de prosperidade para todos que aderissem ao pensamento único.
A política nazista era simples na concepção. Escolhia-se um inimigo a ser destruído. Comunistas, judeus, cristãos (afinal o cristianismo foi considerado pro Hitler um “atraso social”). A partir de então, todos eram classificados de acordo com tal critério.
Não havia censura à imprensa. Não havia imprensa.
Políticos tinham duas opções: ou aderiam às novas ordens políticas ou desapareciam.
No plano externo, o nazismo não queria ser exemplo. Precisava ser prova inconteste de acerto. Para tanto, até a força (econômica – mesmo de um país em ruínas – ou de canhões) era justificável.
A democracia (representada pelo “império americano”) era o Asmodeu dos poderosos. A doutrina que destruía valores. Que ousava apontar divergências, falsidades e erros. Um inimigo.
A ideologia não tinha ideólogos. Tinha ícones.
A pouca consistência das teses políticas era desprezada. Defendiam um “homem do povo”! Um pintor medíocre que, infeliz e doente, se imaginava menor que qualquer outro. Alemão ou não.
A idolatria em estado bruto! Uma juventude (?) que seguia o líder como ratos encantados por um flautista de Hamelin. Os devotos agrediam quem ousava contrariar a adoração do líder maior. Financiados, alimentados e comprados pelo nazismo, marchavam unidos para consumar o assassinato de adversários julgados pelo critério do ódio.
Aliado ao que havia de pior no mundo, incluindo ditadores histriônicos e risíveis (como Mussolini), o nazismo era a ameaça que de tão ridícula e insana, não se julgava ameaça real.
Essa miopia histórica custou milhões de vidas.
Não seria o caso de, mantidas as proporções e também as motivações, constatarmos que o ovo já foi chocado?
Já não é preciso procurar o réptil em meio a membranas.
A serpente está entre nós. Talvez espalhando ovos ao longo nossos caminhos.
Mas uma já há.
Subsidios a um dicionario de anacolutos e paradoxos (sem esquecer as metonimias)
Mas não é só ali que a inculta e bela sofre o passar do tempo, e o aprofundamento da falta de educação (uma figura de estilo, como vocês veem, pois não se pode aprofundar o que simplesmente não existe). A coisa se espalhou de tal maneira, que entendo que já temos condições de levantar todos os casos e compor uma Wikipedia inteira da novilingua brasileira, muito mais interessante, por ser alegre, colorida e chistosa (outra figura, em portuñol, a língua do papa) do que a novilíngua original do Orwell, muito chata, muito quadrada, muito inglesa...
A nossa é, como sempre, muito melhor, deitada eternamente em berço hiperbólico (êta figura...), e sempre pronta para nos atacar de surpresa, quando menos esperamos.
Vamos ter de conviver com isso certo tempo mais, minha gente.
Mais 16 ou 24 anos estaria bem?
Paulo Roberto de Almeida
O QUARTO SEGREDO DE DILMA
CELSO ARNALDO ARAÚJO
Blog do Augusto Nunes, 23/03/2013
Três anos de dilmês intensivo – em carga horária que me credenciaria a um pós-doutorado no estudo desse dialeto – e ainda estremeço ao ouvir Dilma. A reprodução que ela fez do diálogo privativo com o Papa Francisco, na coletiva depois do encontro, beira a insanidade narrativa — como o Augusto demonstrou magistralmente em post anterior. Não importa o que ele efetivamente disse a ela — certamente num português mais escorreito que o da presidente do Brasil — ou o que ela tentou dizer a ele, em dilmunhol. O grande problema é o que ela disse que ele teria dito. Não bastando dizer o que diz, Dilma ainda põe palavras suas nos lábios dos outros – e justo do papa!
Ao transcrever a conversa — que heresia — Dilma fez o novo papa falar dilmês: “Ele estava me dizeno que ele espera uma presença grande dos jovens na medida em que ele é o primeiro papa, ele é várias coisas primeiro”.
Em dilmês é assim: a conversa já tinha acabado, Dilma dava entrevista à imprensa, mas o papa ainda estava dizendo alguma coisa lá dentro. Deve ter ficado falando sozinho. E, segundo Dilma, além de sua beatitude natural, o papa tem também uma imensa platitude – a ponto de afirmar que espera grande presença de jovens numa jornada mundial de jovens. Francisco, que é “várias coisas primeiro”, é também o primeiro papa a se tornar ventríloquo de Dilma Rousseff.
Se o papa falasse como Dilma o transcreve, Jorge Mario Bergoglio não seria sacristão da capelinha da Villa 31, o bairro mais pobre de Buenos Aires. Ela empobrece e vulgariza tudo o que passa por sua fala – dos sentimentos mais nobres a uma receita de omelete. Dilma, que se diz economista e só não é doutora porque descobriram que não era, é a única usuária desse estranho patois que é o dilmês – expressão verbal que parece não ter passado por um processo completo de aquisição da linguagem. Imagine qualquer brasileiro presente na Praça de São Pedro no dia da entronização descrevendo uma hipotética conversa com o papa — nenhum diria as coisas que Dilma disse, como disse.
Assista ao vídeo de novo: a senhora que fala baixinho, dizendo em voz beatífica as maiores bobagens para soar como uma chefe de governo sintonizada espiritualmente com o pontificado de Francisco, parece uma estadista? Só se for pela pompa e pela circunstância de sua comitiva pagã – donos de agências de turismo calculam em 500 mil dólares, no mínimo, fora a parte aérea, os gastos com o beija-mão papal em Roma. Dilma não mediu custos. Foram 52 suítes no The Westin Excelsior e não se fala mais nisso. É aquela história – país rico é pais sem pobreza.
Mas não foi, em absoluto, uma viagem perdida. Na conversa com o papa, a presidente teve uma visão extraordinária, dela extraindo os Três Segredos de Dilma, a saber:
1. O papa é muito normal
2. O papa é muito modesto
3. O papa é muito importante para o momento em que vivemos
Este terceiro segredo de Dilma, como o terceiro de Fátima, ainda tem uma aura de mistério: queria ela referir-se, como mandaria a lógica, ao “momento que vivemos”, indicando uma quadra específica da vida humana na Terra; ou, como de fato disse, ao “momento em que vivemos”, o qual situa os sete bilhões de seres viventes da Terra em torno da descoberta de que estamos todos vivos, e ao mesmo tempo?
Mas há um quarto segredo, esse ainda insondável – quando for enfim revelado, virá à tona, em seus bastidores espantosos, o maior escândalo da história da República. Sempre que abre a boca, não importa o assunto, Dilma Rousseff passa a impressão de ser alguém que chegou à Presidência por um terrível engano. Os auxiliares mais próximos descobriram isso faz tempo. Não são burros — longe disso. Quando constataram o erro de pessoa, no dia mesmo em que Dilma começou a falar, ainda na pré-campanha (“Pra mim sê pré”), temeram pelo pior, temeram pelo fim do lulopetismo e das lulomamatas, com a derrota nas urnas. Mas, como nada se contrapunha ao notório engano, nem da parte da oposição nem por iniciativa da mídia, a turma relaxou e a farsa acabou vingando.
A presidente revelou-se logo tão ou mais desastrosa que a candidata, mas, de novo sem contestação, as forças que colocaram Dilma na Presidência assumiram Dilma como ela é. Atualmente, o Portal do Planalto transcreve suas falas na íntegra, sem pentear um anacoluto ou disfarçar uma verruga sintática. São peças históricas – pela ousadia e pelo deboche.
Porque simplesmente não é possível, não é normal, não é aceitável que uma pessoa investida da condição de presidente da República tenha essa dificuldade patológica de expressar uma ideia, um conceito, uma opinião, uma analogia, um sentimento, uma sensação… uma conversa amena, descontraída e privilegiada com um papa que faz questão de deixar tudo e todos muito à vontade.
O que leva alguém a supor que uma pessoa com esse nível de estrato verbal tenha competência para ser presidente da República? Que entenda e processe convenientemente, por meio de argumentos bem articulados, sem platitudes contraproducentes ou pastiches de clichês, a miríade de temas nacionais que mobiliza um presidente da República?
O quarto segredo de Dilma ainda está longe, muito longe, de ser desvendado – haja vista sua extraordinária popularidade e a certeza quase estatística de que será reeleita no primeiro turno de 2014.
Será que o Papa Francisco já está habilitado a desfazer milagres?
domingo, 24 de fevereiro de 2013
Mensalao e outras corrupcoes: o que se ve, e o que nao se ve...
De fato, o universo econômico é dominado, como não poderia deixar de ser no mundo contemporâneo, por medidas governamentais. Os Estados, ou os governos, determinam tudo, inclusive a liberação total dos fluxos, se por acaso dominados por uma ideologia liberal, ou libertária, ou o intervencionismo mais completo e absoluto, como nos sistemas comunistas defuntos (nem todos) e nos fascismos enterrados. Ficou, porém, e o keynesianismo é apenas uma variante mais light e insidiosa dessa realidade, o fato da intervenção governamental, para regular, liberar, constranger, taxar, etc.
E qualquer medida econômica possui, justamente, o seu lado visível, que é o que se pretende, sempre com boas intenções, e o seu lado menos visível, até obscuro, que são os efeitos indesejados, imprevistos, até inéditos, que é o que se obtem quando governos iluminados pretendem ditar às pessoas e empresas o que elas podem, ou não podem fazer com os seus ativos.
Em política, também é assim, e mais do que tudo ela tem muitos lados invisíveis que não sabemos como as coisas se deram, exatamente, e só uma pequena parte vem à tona.
Assim é, assim foi, e assim será, com o julgamento mais famoso ocorrido no Brasil contemporâneo, o do Mensalão, pelo qual um bando de meliantes travestidos de políticos foi pego com a boca na botija. O bandido mais condenado, coitado, é provavelmente, o menos culpado de todos, pois é evidente que o famoso operador financeiro da quadrilha do Mensalão não teria feito nada daquilo se não tivesse carta branca do chefe da quadrilha, que deveria ter recebido uma pena três vezes maior.
Assim ocorre, também, com o outro lado da história, sequer presente na história do Mensalão: o chefão maior, o capo di tutti i capi, não apareceu, mas foi ele o responsável final de tudo isso.
O mesmo ocorre no atual escândalo chamado de Rosegate, a amante do capo, que nunca teria feito o que fez se não autorizada, talvez até instruída pelo mesmo obscurso personagem.
Talvez haja um processo rumoroso, talvez não. Talvez o criminoso maior apareça, talvez não. Não sabemos ainda o que vai acontecer.
Uma coisa é certa: nunca saberemos exatamente o que aconteceu, pois os bandidos não vão confessar.
Quem conhece a história toda?
Eles próprios, claro. Mas também tem outros que sabem, que assistiram, que espionaram, que talvez chantageiem os personagens principais, e não apenas em torno desses dois casos tristemente famosos. Tem muitos outros episódios que não sabemos, que sequer desconfiamos e que nunca iremos saber.
Quem sabe algo a respeito? Eu tenho um palpite, apenas isto: um palpite.
Os cubanos sabem de muitas coisas...
Vão revelar? Não em público, apenas para os próprios interessados, para usar na medida de suas necessidades.
E quando a história der as suas voltas, vão queimar os papeis por que isso os compromete também.
Grandes bandidos se esforçam para não deixar pegadas.
É isso. Por enquanto fiquem com uma crônica do Mensalão, que conta apenas uma parte da história...
Paulo Roberto de Almeida
O jornalismo independente ilumina a paisagem infestada de repórteres invertebrados e colunistas estatizados
Augusto Nunes, 23/02/2013
Na edição impressa de VEJA, comentei o livro do jornalista Merval Pereira sobre o julgamento do mensalão. Segue-se o texto. (AN)
Numa paisagem infestada de repórteres invertebrados, críticos construtivos, colunistas estatizados e analistas que combatem valentemente quem ousa discordar do governo, o espaço ocupado por jornalistas nascidos sob o signo da independência e condenados a amar a verdade acima de todas as coisas parece perturbadoramente acanhado. É mesmo diminuto, mas não há motivos para inquietação.
Os integrantes dessa linhagem nunca foram muitos. Mas cada um vale por uma multidão, comprova Merval Pereira em Mensalão – O dia a dia do mais importante julgamento da história política do Brasil (Editora Record; 285 páginas; 34,90 reais). “O jornalismo é o exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter”, ensinou Cláudio Abramo.
É o que Merval tem feito há mais de 40 anos, ao longo dos quais brilhou como repórter de campo ou exercendo cargos de chefia nas Organizações Globo, no Jornal do Brasil e em VEJA. É o que faz todos os dias em sua coluna no Globo e nos comentários para a GloboNews e para a rádio CBN. Foi o que fez durante os quatro meses e meio em que milhões de brasileiros acompanharam ─ primeiro com ceticismo, em seguida com esperança, enfim com justificado entusiasmo ─ o julgamento da quadrilha que tentou a captura do Estado Democrático de Direito até ser desbaratada em meados de 2005.
Aos 63 anos, eleito há quase dois para a Academia Brasileira de Letras, o jornalista carioca reconstitui essa metamorfose fascinante no livro que reúne 86 artigos publicados na página 4 do Globo, precedidos por um pedagógico prefácio do ex-ministro Carlos Ayres Britto e completados por dois textos, até agora inéditos, que induzem o mais descrente dos leitores a acreditar que o Brasil nunca mais será o mesmo. Começou a mudar ─ para melhor.
Como adverte o posfácio, nenhuma decisão judicial é capaz de iluminar da noite para o dia a face escura de um país. Se no Brasil Maravilha que Lula inventou é possível até erradicar a miséria por decreto, no Brasil real os avanços são mais demorados. O Supremo não erradicou a corrupção. Ao condenar uma organização criminosa comandada por figurões federais, contudo, revogou a norma não escrita segundo a qual alguns são mais iguais que os outros, embora todos sejam iguais perante a lei.
Ao contrário do miserável-brasileiro, o brasileiro corrupto não virou uma espécie extinta. Mas ninguém mais pode considerar-se condenado à perpétua impunidade. Veja-se o escândalo protagonizado por Rosemary Noronha e seus comparsas. Um jipe doado a um dirigente do PT por serviços prestados a uma empresa privada, exemplifica Merval, “equivale à operação plástica para a chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo, em troca talvez de uma audiência marcada”.
Nem existem diferenças notáveis, lembra o autor, entre arranjar emprego para a ex-mulher do político poderoso ou premiar com um cruzeiro marítimo a secretária que diz que conversa com o ex-presidente todos os dias. O caso Rose sugere que o país é o de sempre. Visto de perto, informa aos gritos que as coisas mudaram.
Há um ano, como demonstra o livro, Lula estava em campanha para adiar o julgamento do mensalão ou absolver todos os culpados. Confiante no apoio de gente que nomeou, como o presidente Ayres Britto ou o relator Joaquim Barbosa, enxergou subordinados obedientes onde havia juízes honrados. Decidido a ganhar de goleada, recorreu à chantagem para enquadrar Gilmar Mendes. A vítima do achaque contou o que acontecera e Lula preferiu acompanhar o julgamento pela TV Justiça.
Atropelado em novembro pela Operação Porto Seguro, que apurou as bandalheiras da turma de Rose, o mais falante dos palanqueiros foge da história há mais de três meses. “Depois do julgamento do mensalão, há mais chance de o poderoso de plantão, apanhado com a boca na botija, pagar por seus crimes, até mesmo na cadeia”, constata Merval. É verdade, confirma a estridente mudez de Lula.