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sexta-feira, 30 de abril de 2021

Antonio Paim: do marxismo ao liberalismo - Paulo Roberto de Almeida

Antonio Paim: do marxismo ao liberalismo


 Paulo Roberto de Almeida

Uma homenagem ao grande mestre que faleceu em 30 de abril de 2021

Publicado em formato de e-book no site do Livres; link: https://www.eusoulivres.org/publicacoes/antonio-paim-uma-homenagem-ao-grande-historiador-do-liberalismo-brasileiro/ ;  pdf: https://cdn.eusoulivres.org/wp-content/uploads/2021/05/01012322/Ebook-Antonio-Paim.pdf); divulgado por via da plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/48811785/3902_Antonio_Paim_do_marxismo_ao_liberalismo_Ebook_Livres_2021_);

Entrevista com Antonio Paim, por ocasião da publicação da 2a edição da obra  História do Liberalismo Brasileiro (2a. edição, revista e ampliada; SãoPaulo: LVM, 2018), no site do Livres; link: https://www.eusoulivres.org/ideias/antonio-paim-1927-2021/  

 

A trajetória intelectual de Antonio Ferreira Paim (nascido na Bahia em 1927) é ímpar na cultura e na história das ideias políticas e filosóficas no Brasil, tendo emergido no marxismo – com curso de filosofia na Universidade do Brasil e depois na Universidade de Moscou –, e realizado ao longo da vida uma guinada política e filosófica que o levou ao liberalismo. Numa primeira etapa de sua carreira acadêmica, empreende estudos sobre as ideias filosóficas no Brasil, seguindo as correntes de pensamento desde a fase colonial até a atualidade, trajetória que ele reconstitui em dois de seus primeiros livros: História das ideias filosóficas no Brasil (1967) e O estudo do pensamento filosófico brasileiro (1979). 

Nessa primeira fase já se ocupa igualmente da questão do estatismo na formação da nação brasileira, na qual debate – em seu livro A querela do estatismo (1978) – a formação do Estado brasileiro como Estado patrimonial, notadamente através da obra de Oliveira Vianna e pelo estudo das influências pombalinas e positivistas sobre as elites dirigentes. Notadamente, ele adota o conceito difundido por Simon Schwartzman de “patrimonialismo modernizador”, que teria sido o da era Vargas e do regime militar, mesmo se a burocracia tradicional tenha conseguido manter sua supremacia sobre as elites técnicas mais identificadas com os militares e outros impulsionadores do progresso econômico. Na segunda edição desse seu livro sobre o estatismo (1994), Paim se afirma mais conclusivo e argumenta que “a estratégia mais aconselhável à sociedade consiste em tentar reduzir as funções do Estado, cuidando de retirá-lo da economia e de todas as esferas não seja imprescindível” (p. 20).

Nesse mesmo livro, ela já recusava a caracterização de “capitalista” para a formação econômica e social do Brasil, assim como tentava interpretar o fracasso da construção de um sistema representativo no país e se propunha traçar uma “estratégia para enfraquecer o patrimonialism e favorecer o capitalismo” (capítulo VII, pp. 193-200). No plano puramente teórico e conceitual, Paim acreditava que se deveria “obter algum arejamento na Universidade e conseguir quebrar o monólito da dominação marxista-positivista” nela existente (p. 194). Entre as tarefas básicas desse desmantelamento do patrimonialism no Brasil, ele sugeria algumas que em grande medida se confundiam com as preleções liberais de Roberto Campos: 

1)    “Eliminar todas as burocracias estatais devotadas aos programas oficiais de combate à pobreza”, na medida em que essas políticas, “como tudo mais, transformaram-se em mero pretexto para justificar a voracidade fiscal e permitir ao patrimonialism apropriar-se de verbas sem o menor controle da opinião pública” (pp. 195-6).

2)    “Levar a bom termo o programa de privatização, empenhando-se no sentido de transformá-lo num novo projeto de desenvolvimento” (p. 196).

3)    Efetuar um “reexame específico da estrutura dos vários órgãos integrantes da União”, que atendem “precisamente ao jogo do patrimonialismo” e do empreguismo (p. 196).

4)    Examinar concretamente as ações de que poderia resultar a dignificação do servidor, por um lado, e profissionalizar as FFAA, reduzindo suas dimensões (p. 197). 

 

Não obstante a boa análise de Paim quanto aos fundamentos do atraso brasileiro, a partir da consolidação do patrimonialismo (ainda que modernizador), ele parece acreditar na existência de uma classe empreendedora sinceramente comprometida com a construção de um capitalismo competitivo no Brasil, o que parece desmentido por quase dois séculos de extrema subserviência desses “capitalistas” (se o termo se aplica) ao Estado onipotente e onipresente. Nas próprias palavras de Paim, registre-se que ele está

... naturalmente supondo que a liderança empresarial brasileira estaria convencida de que só tem a ganhar se conseguir obstar a atuação do patrimonialismo e lograr que o capitalismo alcance um novo patamar. Estaria voltada para pactuar com aquelas forças que, no interior do Estado, se dispusessem a abdicar das tradições patrimonialistas – isto é, de estabelecer a tutela do Estado sobre a sociedade –, aceitando o penoso caminho de buscar a constituição do Estado Liberal de Direito. (...)

Ao enfrentar a questão do patrimonialismo brasileiro cumpre-nos reconhecer francamente que as tradições culturais prevalecentes em nosso país são francamente desfavoráveis ao capitalismo. (...)

A tradição liberal é débil e descontínua e sofreu tão fortes constrangimentos, sob a República, que a afetariam mesmo se se tratasse de algo melhor estruturado. (A querela do estatismo, 2ª. edição, 1994, pp. 197-8)

 

Considerando-se que a primeira edição do livro (1978) foi publicada em plena vigência do “patrimonialismo modernizador” do regime militar, e que o prefácio à sua segunda edição (1993) vem datado da grande deterioração inflacionária da redemocratização, pode-se argumentar que a análise acadêmica de Paim carece de uma percepção mais realista a respeito da extrema dependência desses “capitalistas” das políticas setoriais desenhadas pelos dirigentes políticos, mais exatamente pelas corporações estatais, que constituem precisamente o cerne e o coração do patrimonialismo conservador no Brasil. A partir dessa época, justamente, Paim se dedica a compendiar, analisar e sintetizar o pensamento político brasileiro, contribuindo para tornar mais conhecidos de pesquisadores acadêmicos e da opinião pública bem informada um conjunto importante de pensadores brasileiros (e portugueses), inserindo suas teses e propostas analíticas no contexto de um outro conjunto de pensadores estrangeiros, aqueles que, nos dois últimos séculos, influenciaram os estudos e as discussões políticas e constitucionais no Brasil. 

Nos anos 1990, Paim publicou praticamente um livro por ano, sempre sobre seus temas preferidos: o pensamento político brasileiro, a trajetória e a agenda do liberalismo, no mundo e no Brasil, assim como cursos de introdução a esses grandes temas, em colaboração com colegas e mestres nas mesmas áreas: Francisco Martins de Souza, Ricardo Vélez Rodríguez, Ubiratan Borges de Macedo, José Guilherme Merquior, Gilberto de Mello Kujawski, Carlos Henrique Cardim e Leonardo Prota, entre outros. O objetivo comum de todos esses intelectuais sempre foi a busca das bases morais de um amplo consenso nacional em torno de um sistema político liberal representativo e de um regime econômico dotado das mais amplas liberdades competitivas, propenso à inserção do país na interdependência global. Mas, a sombra do patrimonialismo se interpõe de maneira obstinada a essa conformação de uma democracia de mercado no país

Aliás, países não são exatamente condomínios, onde vizinhos se conhecem e podem se reunir para discutir benfeitorias na propriedade comum. Nações não costumam reunir-se em assembleia, de tempos em tempos, para debater tranquilamente qual caminho adotar em face de ofertas igualmente interessantes quanto às melhores políticas para guiar o seu processo de desenvolvimento, frente às quais cabe decidir sobre as de menor custo relativo e de maior retorno possível. Isso só acontece em momentos de ruptura, guerras, revoluções, golpes, quando uma nova elite sobe ao poder, e precisa adotar condições mínimas de governabilidade, para assentar as bases mais ou menos aceitáveis de sua legitimidade política (ou não). Existem também fases menos felizes, quando um país pode sair de um tipo de dominação racional-legal, para usar a terminologia weberiana, para descambar numa administração de tipo carismática, que nos remete aos piores exemplos da tradição latino-americana de caudilhos e golpes de estado; por sinal, a Argentina só decaiu durante praticamente 80 anos seguidos porque em 1930 se derrocou uma república “oligárquica” para inaugurar um ciclo de governos autoritários, e depois populistas, supostamente identificados com a “soberania” do país e “projetos nacionais” de desenvolvimento, geralmente alinhados ao protecionismo e à industrialização substitutiva, como o Brasil, aliás. 

Pois bem, sem fazer qualquer história virtual do Brasil, Antonio Paim, um dos grandes pensadores da nacionalidade, examina no seu livro, Momentos Decisivos da História do Brasil (2000), três momentos decisivos de nossa história, quando poderíamos, teoricamente, ter “escolhido” um caminho melhor, mas falhamos, terrivelmente – ou nossas elites falharam –, em adotar aquela via que poderia ter nos levado a um estágio mais elevado de desenvolvimento econômico e social, a um sistema político mais representativo e a uma organização institucional menos conspurcada pelo patrimonialismo tradicional. Não tenho certeza de que o Brasil, como nação, tenha tido essas chances, essas janelas abertas às suas elites, para debater, de forma consciente e deliberada, essas vias “progressistas”, mas cabe mencionar as “teses” de Antonio Paim, para verificar, o que perdemos como oportunidades históricas.

A primeira, ainda na fase colonial, foi o fato de ter constituído precocemente uma economia florescente, ligada ao açúcar e outras atividades paralelas, que poderia ter sido a base de um desenvolvimento ulterior mais estruturado. Tendo sido mais rico do que as colônias inglesas na América do Norte nos séculos XVI a XVII, em grande parte devido aos cristãos novos, os judeus portugueses convertidos forçadamente que se tornaram os grande financistas do comércio internacional do açúcar, a chance perdida se explica pelo papel da Contra Reforma e da Inquisição na repressão desses “capitalistas mercantis”, o que bloqueou, portanto, a possibilidade de uma economia vinculada de maneira mais “decisiva” – o termo se aplica – aos mercados internacionais. 

A segunda oportunidade perdida foi no século XIX, com a nação independente e já na fase de construir seu estado nacional, quando Paim acredita que as elites trataram de assegurar a unidade nacional, com certo sucesso até (comparativamente à completa desagregação da hispano-América, por exemplo), mas a um alto custo, perdendo, no mesmo movimento, a iniciativa de consolidar um sistema representativo eficiente. O Regresso, nos anos 1840, e, mais tarde, as teses positivistas, inspiradas em Comte, “conspiraram” para manter o Brasil um sistema político pouco funcional tanto para fins da “ordem”, quanto do “progresso”. As frequentes intervenções militares desde o início da República se encarregam de eliminar a possibilidade de constituição de uma “moral social de tipo consensual”, que nunca tivemos entre nós, nas palavras de Paim.

A terceira, em pleno século XX, foi a consolidação, que ele chama de “estruturação”, do Estado patrimonial, sob Getúlio Vargas, e o abandono do sistema representativo. Nessa terceira parte de sua obra, Paim é bastante crítico daquilo que ele chama de “lixo historiográfico”, a maior parte de extração pretensamente marxista, que produziu alguns delírios sobre o “caráter da revolução brasileira” pelos representantes dessa corrente. Já na queda da monarquia, o Brasil perdeu a oportunidade de constituir um “Estado liberal de Direito”, enveredando depois pelas “oligarquias dos estados”, mais até que a chamada “política dos governadores”. Mas, o castilhista Getúlio Vargas conseguiu implantar um Estado nacional unitário, ao mesmo tempo em que fixou o patrimonialismo, no conceito weberiano da palavra, realidade já estudada por Simon Schwartzman. O feito de Vargas, resumido por Paim, foi “retomar o projeto formulado no Império, de constituição do Estado Nacional, abdicando de dar-lhe a feição democrático-representativa e dele fazendo um autêntico Estado patrimonial. O projeto Vargas seria retomado pela Revolução de 64” (p. 217-18). 

O último capítulo desse livro de Paim tem por título, de forma otimista, “Como sair do patrimonialismo”, mas não devemos esquecer que o livro deve ter sido terminado em 1999 para ser publicado no ano seguinte. Apoiando-se na experiência das privatizações daquela década, ele concorda com Roberto Campos em que “o problema reside na adequada formulação das políticas” (p. 315), e não só econômicas. Quinze anos depois, no entanto, no livro que ele organizou e publicou, com colaborações de Paulo Kramer e de Ricardo Vélez-Rodríguez, O patrimonialismo brasileiro em foco(Campinas: Vide Editorial, 2015), ele tem de constatar, tristemente, a “sobrevivência da estatização brasileira”, e se pergunta como enfrentá-la (capítulo II, p. 35-43). Se formos ainda mais pessimistas, não há como discordar do mesmo Ricardo Vélez-Rodríguez, em seu livro A Grande Mentira: Lula e o patrimonialismo petista (Campinas: Vide Editorial, 2015), em que o patrimonialismo tradicional brasileiro foi transmutado, pelas mãos e pés dos companheiros, em um patrimonialismo de tipo criminoso. Como é mesmo que dizia Lavoisier? Na natureza, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. A despeito de basicamente político, este último livro possui um importante capítulo sobre as “desgraças do intervencionismo no Brasil”, que também começa pelas desgraças de Mauá, aliás recorrendo ao livro de Jorge Caldeira.

Os grandes obstáculos à conformação do capitalismo brasileiro continuaram a ser examinadas por Antonio Paim num pequeno livro publicado na passagem do milênio: O relativo atraso brasileiro e sua difícil superação (2000). Em outros termos, o autor reconhece que o Brasil ingressou decisivamente na Revolução industrial, processo notadamente acelerado a partir da segunda metade do século XX, de forma que nas últimas décadas do século esse atraso tornou-se apenas relativo, sobretudo porque o país não logrou superar sua histórica má distribuição de renda, assim como não conseguiu “estruturar a pesquisa científica, que corresponde ao motor do progresso ininterrupto” observado nos países avançados (p. 10). O que ele procura argumentar nesse seu livro é que o relativo atraso brasileiro é de “difícil superação” porque o Brasil ainda não é um país capitalista, e sim patrimonialista, tendo estruturado sua revolução industrial sem deixar de ser patrimonialista. Outras duas razões desse relativo atraso e das dificuldades em superá-lo residem no “cientificismo” – que consiste na importação de um positivismo mal digerido – e no “contra-reformismo”, que impede a mudança de arraigadas tradições culturais (como o ódio ao lucro e à riqueza), de transformação muito lenta em função da persistência de hábitos longamente arraigados na população.

No primeiro quesito, o industrialismo patrimonialista, sobressai-se o poderoso intervencionismo do Estado na esfera econômica, que antecede o próprio keynesianismo como doutrina ou guia prático a orientar a principais medidas regulatórias do Estado na vida econômica do país. Paim localiza num antigo manual do engenheiro Aarão Reis, Economia política, finanças e contabilidade (Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1918, 2 vols.), adotado oficialmente na Escola Politécnica do Rio de Janeiro e que durante longos anos constituiu a base do ensino formal de economia no país. Antonio Paim transcreve nada menos de 11 atribuições que cumpriria ao Estado observar (pp. 16-17), que se desdobrariam na era Vargas e mais além, como prescrições incontornáveis a um processo de desenvolvimento econômico, seguidos desde a implantação do Conselho Federal do Comércio Exterior, nos anos 1930, seguidos pelas ações do Estado Novo e, já na redemocratização de 1946, pela Comissão Mista Brasil-Estados Unidos e seus corolários no BNDE, na criação de algumas estatais e no Plano de Metas de JK. O regime militar representou a culminância desse processo, colocando o Brasil entre as maiores economias do mundo, mas agravando algumas distorções típicas de todo o período, como a estatização de amplos setores da economia, o nacionalismo extremado, que ambos confirmaram e consolidaram o patrimonialismo tradicional. 

O cientificismo, por sua vez, está estreitamente vinculado à penetração e difusão do pensamento positivista a partir de meados do século XIX, exemplifica por Antonio Paim na obra de Luís Pereira Barreto (1840-1923), que publica dois livros correspondendo às três filosofias do mestre francês, nomeadamente Filosofia teológica (1874) e Filosofia metafísica (1876). Posteriormente, em nome da Igreja positivista, Teixeira Mendes (1855-1927) também demonstra preconceito contra as instituições universitárias, o que reforçou, segundo Antonio Paim, as recomendações dos positivista, que “lograram influenciar a maioria dos componentes dos órgãos decisórios e [que] por isso mesmo são responsabilizados diretamente pelo abandono sistemático da ideia de implantar-se a Universidade, nos decênios iniciais da República” (p. 39). A oposição só começa a arrefecer a partir da criação da Associação Brasileira da Educação (ABE), nos anos 1920, em especial na década seguinte, com a criação da USP, em 1934, e da Universidade do Distrito Federal, no ano seguinte. O grande idealizador e fundador dessas inovações é Anísio Teixeira (1900-1971), que luta por instituições claramente identificadas com objetivos práticos de formação de recursos humanos para o desenvolvimento nacional.

Simon Schwartzman, no livro Formação da comunidade científica no Brasil (São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1979), trata da questão da integração das escolas tradicionais – faculdades de Direito, Medicina, escolas de Farmácia, Odontologia, Agronomia, Politécnica – às novas universidades, o que não se fez sem grandes dificuldades. Antonio Paim volta a registrar a permanência do cientificismo pombalino, prolongado pelo positivismo, como um dos obstáculos ao desenvolvimento do espírito científico no Brasil, e que para ele prolongou-se inclusive na formação de uma “versão positivista do marxismo”, que ele analisou em seu livro História das ideias filosóficas no Brasil (5ª. ed.; Londrina: UEL, 1997). Para ele, o varguismo, pela ação de personalidades como Francisco Campos, deformou o espírito propositor dos antigos pais fundadores da ABE, como explicitado por ele na passagem seguinte: 

Desse modo, a Universidade seria estruturada como uma federação de escolas isoladas, voltadas para a formação profissional. O projeto da ABE é inteiramente abandonado e as Faculdades de Filosofia, desmembradas após 1964, também são enquadradas na consecução de tais objetivos limitados. Há casos extremos, como os cursos de Filosofia, formalmente destinados a diplomar professores para o ensino secundário, disciplina que deixou de existir naquele nível de ensino. Assim, a atividade está voltada para si mesma, mesmo no que toca a pós-graduação, transformada em simples exigência para as promoções estatutárias. 

O marxismo positivista, por sua vez, não tem interesse no desenvolvimento de qualquer espécie de pesquisa, porquanto se trata apenas de enquadrar a realidade em determinados esquemas, não obstante a circunstância de que sua obsolescência haja transitado em julgado. (...)

E assim, consagrou-se a vitória do cientificismo, derrotando o projeto de estruturar no país pesquisa científica digna de nome, reconhecida internacionalmente... (O relativo atraso..., op. cit., pp. 58-59)

 

No terceiro e penúltimo capítulo desse seu importante pequeno livro, Paim aborda a questão da persistência da moral contra-reformista, herdada de Portugal e que “atravessou sem percalços as centúrias subsequentes” (p. 64), constituindo, ao que parece, uma das bases do ideário nacional, em especial com respeito às questões da pobreza, do lucro, do espírito capitalista. Em suas palavras: 

São muito eloquentes as evidências de que a moral contra-reformista tornou-se um dos ingredientes fundamentais de nossa moralidade social básica. O ódio ao lucro e à riqueza são sentimentos amplamente difundidos, sendo muito generalizada a condenação ao capitalismo. Defendê-lo, ainda hoje, não deixa de ser uma temeridade. (p. 75) 

 

Mesmo entre militares, politicamente adversários do socialismo, a repugnância do capitalismo, do espírito de lucro, não deixou de prevalecer, sobretudo nas estatais que vários deles comandaram durante o regime autoritário de 1964-1985. No seu último capítulo, Paim indaga se conseguiremos vencer o patrimonialismo, o cientificismo e o contra-reformismo. Ele se revela moderadamente pessimista, por várias razões, entre elas “porque a massa da população não associa a péssima distribuição de renda à persistência do patrimonialismo” (p. 122). A grande audiência de que dispõem os patrimonialistas no Brasil “é impeditiva do pleno florescimento do capitalismo, que seria a única forma de disseminar no país focos de desenvolvimento econômico” (idem). Paim termina essa sua pequena grande obra, registrando o pensamento de uma grande historiadora americana: 

Na seleção dos eventos que considerou no magnífico livro intitulado A marcha da insensatez, Barbar Tuchman (1912-1989) adotou como critério que o erro representado por aquele passo tivesse sido denunciado antes de que a elite decidisse empreende-lo. Quando mais não seja, a nossa denúncia, se não revelar maior eficácia, servirá ao menos para evidenciar, perante o historiador do futuro,  que nem todos estavam cegos. Certamente que é pouco. Mas não deixa de representar mais um estímulo à nossa persistência. (p. 122)

 

Fontes e bibliografia:

 

Obras de Antonio Paim

A filosofia da Escola do Recife. Rio de Janeiro: Saga, 1966

História das ideias filosóficas no Brasil. São Paulo: Grijalbo-USP, 1967 (5ª. ed.: 1997)

Cairu e o liberalismo econômico. RJ: Tempo Brasileiro, 1968

Tobias Barreto na cultura brasileira: uma reavaliação (com Paulo Mercadante). SP: Grijalbo-USP, 1972

Evolução histórica do Liberalismo (com Francisco Martins de Souza, Ricardo Vélez-Rodríguez, e Ubiratan Borges de Macedo). 1977

A querela do estatismo: a natureza dos sistemas econômicos: o caso brasileiro. RJ: Tempo Brasileiro, 1978. 2ª ed.: 1994.

O estudo do pensamento filosófico brasileiro. RJ: Tempo Brasileiro, 1979.

História do Liberalismo brasileiro (1ª ed. 1998; nova edição: SP: LVM, 2018)

Momentos Decisivos da História do Brasil (São Paulo: Martins Fontes, 2000)


quinta-feira, 22 de abril de 2021

O que Merquior, um visionário “liberal-raiz”, ensina ao Brasil de hoje - Livres

O que Merquior, um visionário “liberal-raiz”, ensina ao Brasil de hoje

Livres, 19/04/2021

 Há quarenta anos, o diplomata, sociólogo e crítico literário José Guilherme Merquior (1941-1991) sintetizava a noção do que é liberalismo nos seguintes termos: “uma dose inata de desconfiança ante o poder.” Daí decorria o primeiro princípio liberal: “o constitucionalismo, isto é, o reconhecimento da constante necessidade de limitar o poder”. No artigo em questão, intitulado "O Argumento Liberal", Merquior acrescentava ainda à descrição do núcleo central das ideias liberais “a liberdade civil”, amparada e garantida pelo “estado enquanto foco emissor de direito”, a valorização da individualidade e a busca pela combinação de eficácia econômica, justiça social e igualdade individual, tal como preconizada por John Maynard Keynes.

São esses, entre outros, os aspectos decisivos da tradição liberal que informam o pensamento do autor brasileiro. O leitor de O Argumento Liberal, coletânea de ensaios e artigos (quase todos para a imprensa) originalmente lançada em 1983 e que agora volta a público em edição da É Realizações, poderá avaliar a profundidade, a qualidade e a honestidade das análises de Merquior a respeito do liberalismo e de toda uma variedade de temas filosóficos, históricos e políticos que estão no horizonte deste brilhante e desconcertante livro.

O brilho é já conhecido de todo leitor da obra deste precoce intelectual brasileiro (estreia sua coluna de crítica literária no Jornal do Brasil aos 18 anos). Com clareza e conhecimento de causa, Merquior consegue expor ao grande público leitor dos jornais um repertório amplo e complexo. Da filosofia de um Giambattista Vico e de um Immanuel Kant, passando por temas como a história das ideias econômicas e o direito, à recepção crítica de seus contemporâneos como o pensador francês Claude Lefort e a professora da USP Marilena Chauí, encontra-se nos artigos de Merquior um compromisso inegociável com o aperfeiçoamento humano por meio do saber e da cultura, com o debate e o esclarecimento públicos – uma verdadeira “paixão pela razão”, frase que dá título ao documentário produzido pela É Realizações e a que todo comprador do livro tem acesso mediante um código digital específico.

Esse entusiasmo otimista abre o livro em sua apresentação, com a afirmação categórica de seu autor: “esse livro se baseia na convicção de que tanto o saber quanto a história – a lógica do conhecimento e a lógica da experiência – estão do lado da democracia liberal”, reconhecendo na “argumentação liberal”, por seu caráter racional, objetivo e plural, o melhor antídoto contra toda forma de obscurantismo, de qualquer tipo intelectual e de qualquer parte do espectro ideológico. Trata-se do otimismo de um homem comprometido irremediavelmente com o legado do Iluminismo: o progresso do conhecimento e da técnica e a real melhoria da vida e da condição humanas que disso resultara. Não é acaso que Merquior afirme, no espírito de Kant, que a tarefa intelectual não é “humanizar o conhecimento” – isto é, as ciências –, mas sim preservar seu rigor para que o conhecimento melhore a vida humana. Seu liberalismo é um iluminismo – e, por isso mesmo, é um humanismo.

Saltará aos olhos do leitor atual o compromisso de Merquior com esse vibrante otimismo iluminista em cada crítica feita a ideologias e modas intelectuais que não eram mais que sermões irracionalistas e irresponsáveis. De temas marxistas em voga então (como o debate sobre “dialética”) ao desfile de “modas” acadêmicas europeias (como a variante pós-moderna), Merquior fustigará os inimigos da razão e da objetividade com argumentos eruditos e precisos. Será, contudo, no núcleo duro da compreensão do liberalismo que esse engajamento humanista há de se mostrar mais surpreendente ao leitor de hoje. 

Ao escrever sobre os “neoliberais”, que experimentavam o auge de seu prestígio no mundo ocidental com a influência das ideias de economistas como o Nobel Friedrich Hayek, Merquior afirmará com vigor e senso crítico que “a desestatização completa é, no mundo moderno, uma completa miragem – e nos países em desenvolvimento, o caminho da injustiça e da estagnação”, reafirmando, assim, suas convicções no que chamava de social liberalismo – um liberalismo que não fosse jamais reduzido a certas posições econômicas privatizantes.

Tanto no artigo que dá nome ao livro, quanto em outros momentos desta notável coletânea, Merquior insiste em preservar o lugar das preocupações com a liberdade econômica – indiscutivelmente importante – com um conjunto de princípios e de ideias mais amplos e que são indissociáveis da história e do conceito de liberalismo e de sua mais nobre e correta compreensão: a contenção do poder por meio da divisão dos poderes e do imperativo do consentimento individual; a preservação dos direitos de minorias; a ampliação das liberdades individuais e políticas; resultando, sobretudo no século XX, “naquilo que Raymond Aron chama de síntese democrático-liberal: o complexo de direitos civis, políticos e sociais acatados pelas democracias industriais avançadas, e que combinam várias liberdades, nos dois sentidos básicos de participação e não impedimento”. Apaixonado pela razão, Merquior era capaz de sínteses intelectuais impressionantes como esta, em que, em poucas linhas, o cerno do pensamento de Montesquieu, de John Locke, de Benjamin Constant, de John Stuart Mill e de Aron emerge no texto em uma formulação lapidar precisa.

Quase quatro décadas após o lançamento original do livro, o que nele desconcerta é a distância que o separa do Brasil de 2020. A visão do autor acerca do liberalismo não vingou – política e intelectualmente, fracassou sem deixar frutos. No Brasil atual, em que triunfou um mórbido liberalismo que se esgota em privatismo vulgar, que vem de par com o elogio à ditadura, o louvor a torturadores, o desprezo à ciência e à informação, a brutalidade como conduta e o ódio como moeda corrente, é difícil reconhecer em José Guilherme Merquior um representante legítimo das ideias liberais. Mas é precisamente por esse fracasso desconcertante do liberalismo brasileiro que o humanismo culto, cosmopolita e otimista que define essencialmente o liberalismo de Merquior deve ser reivindicado hoje como forma de resistência civilizada ao horror, servindo de aposta esclarecida no futuro.


quinta-feira, 18 de março de 2021

Para liberais, socialistas e críticos do socialismo: convergências ou divergências continuadas - Colóquio em outubro 2021

 International Conference

University of Lorraine – Nancy (France)

21st-22nd October 2021

 

Liberalism and/or socialism: tensions, exchanges and convergences from the 19th century to today 

 

The fall of the Berlin Wall led Francis Fukuyama in 1992 to predict the triumph of liberal democracy. However, the terrorist attacks of 2001, the economic crisis of 2008, Brexit and the Covid crisis have resulted in the reappearance of debates about the relationship between the state and the individual, ranging from the representation of the former in democratic countries to the distribution of wealth. These transformations question the boundaries between systems of political and economic thought that had previously been considered, perhaps wrongly, as being separate: China claims to bring together socialism and capitalism, while the ruling British Conservatives, like other governments which advocate free-market economics, are resorting to increasing public spending on a massive scale in order to address the current health crisis. In countries where the left has not gained sufficient support to be elected to government, it has displayed a vibrancy which refutes the thesis of its collapse, but it contains deep divisions concerning social reforms and the role of the state in the face of globalisation and multiculturalism. The principles of emancipation and individual rights based on modernity and the Enlightenment have faced criticism, which has been expressed in the rise of populism, conservatism, and the endorsement of holism as the basis of politics.         

In light of the aforementioned changes, this conference aims at reevaluating the relationship between two major ideologies – liberalism and socialism – which seem to be contested nowadays, exploring the forms they have taken and tracing their development from their rise in the 19th century onwards.    

Socialism seeing itself as a critique of economic liberalism, the two systems of thought emerged partially in opposition to each other. The extension of the state was sometimes cited as a means of emancipation of an oppressed class (Marx) and sometimes as a means of subjugation of individuals (Hayek). Antisocialist rhetoric was a platform for important figures of economic liberalism such as Herbert Spencer in the 19th century and Margaret Thatcher in the 20th century. Conversely, left-wing theoreticians and activists found in the critique of capitalism common ground uniting various, potentially conflicting, currents like syndicalists, social democrats, cooperators and Marxists. The main focus of study will be the way socialism and liberalism use each other to define themselves as ideologies. To what extent do they draw their identity from their adversaries’ representation and critique of them? How does the polarisation of debates serve political mobilisation and activism?      

The question of private property reveals elements of convergence between the two systems of thought and visions of the world. The liberal tradition, which cannot be reduced to rational individualism, was able to incorporate into its project the concepts of common good and community, particularly in a moral dimension (Rosenblatt) and, at the turn of the twentieth century, the principle of collectivism exerted an influence over the New Liberalism, just as the latter contributed to the development of reformist socialism (Jackson, Clarke, Freeden). On the left, figures such as Anthony Crosland or Tony Blair laid claim to ethical socialism, a current represented earlier by Robert Owen, the Christian socialists and R.H. Tawney, which judged that the egalitarian ideal was to a certain extent compatible with the two pillars of liberalism – the market economy and democracy.      

Consequently, can representations and assumptions which are common to liberalism and socialism be identified, and how do values and political principles (democracy, equality, social justice) borrowed by one ideology from the other allow the ideologies to be (re)defined? Close attention will be paid to thinkers and theoreticians who, either by their trajectories (J.S. Mill, D.G. Ritchie) or in their system of thought (N. Geras), have laid claim to both ideologies. To what extent does their thinking result from political, economic and social contingencies or from specificities belonging to one system or the other?     

Through these points of convergence or divergence, the conference will be an opportunity to question the meanings of political concepts and language in their context and will seek to identify the evolutions as well as the durability and / or the disappearance of these ideologies. Can socialism be rethought along the lines suggested by Axel Honneth and by the adoption of the principle of liberal democracy? Or are the class struggle and opposition to capitalism the very essence of this movement? Must Mark Bevir be followed when he states that, “ideologies are not mutually exclusive, reified entities. They are overlapping traditions with ill-defined boundaries” (Bevir, 86)?  Is it possible to agree with Michael Freeden that the concept of a “post-ideological era” serves to promote in itself a system of thought which prefers to remain hidden (Freeden, 2005, 255)? The rootedness of the two currents in modernity can also be examined. On some occasions, they have privileged the individual and on others the group, both defending a universal emancipatory project in history. Does the appearance of what Marx predicted as “an association in which the free development of each is the condition for the free development of all” find a paradoxical echo in the project developed by R. Nozick to promote a minimal state in order to achieve a libertarian utopia of cooperation?   

We will welcome papers that address the interactions between socialism and liberalism in the English-speaking world (Ireland, the United Kingdom, the United States,…) , in the fields of intellectual history, the history of political and economic thought, economic and political history. The aim of this interdisciplinary conference will be to explore the overlapping of these ideologies and systems of thought, the implementation of policies drawing on them and the work of intellectuals and activists who have contributed to the shaping and evolution of these traditions.

Papers may discuss, but are not limited to:

- Transfers of concepts and the blurring of systems: new liberalism, liberal socialism, libertarian socialism and market socialism in theory and practice

- Interpretations and reappropriations of liberal thinkers by socialists, of socialist thinkers by liberals

- Philosophies of history common to the two ideologies

- Socialism, liberalism and the theories of value

- Methodological individualism and holism

- Socialism and liberalism faced with questions of identity and the influence of communitarians

- Liberal and socialist roots of working-class and radical movements: cooperatism, chartism, syndicalism, etc.

- Questioning of the socialist-liberal divide by conservative, anarchist, populist trends

- Theoretical and practical overlapping between socialism and liberalism in times of crisis (environmental, health, economic, political…)

 

Organising committee

Vanessa Boullet, Stéphane Guy, Peterson Nnajiofor, Ecem Okan, Jeremy Tranmer,

Academic and scientific partners include CRECIB, IDEA (UR EA2338 – Université de Lorraine), PHARE (Université de Paris I – Panthéon Sorbonne).

 

Submissions

Please send proposals (300 words maximum) and a short biography to liberalism.socialism.conference@gmail.com and stephane.guy@univ-lorraine.fr  by 10th May 2021.

You will be notified by 30th May if your paper is accepted.

 

References

Bevir, Mark, The Making of British Socialism, Princeton, NJ, Princeton University Press, 2011

Boldyrev, Ivan and Till Düppe (eds), Economic Knowledge in Socialism, 1945-89, History of Political Economy (Annual Supplement to Volume 51), Durham, Duke University Press, 2019

Castoriadis, Cornelius, Le Contenu du Socialisme, Paris, Éditions 10/18, 1979

Clarke, Peter, Liberals and Social-Democrats, Cambridge, Cambridge University Press, 1978

Cohen, Gerald A., Why Not Socialism? Princeton, NJ, Princeton University Press, 2010

Engels, Friedrich & Karl Marx, The Communist Manifesto (1848), intr.  Yanis Varoufakis, London, Penguin, 2018

Freeden, Michael, The New Liberalism: An Ideology of Social Reform, Oxford, OUP, 1978

--------------------- “Confronting the chimera of a ‘post‐ideological’ age”, Critical Review of International Social and Political Philosophy 8:2 (2005), 247-262

Fukuyama, Francis, The End of History and the Last Man (1992), New York, Free Press, 2006

Geras, Norman, Marx and Human Nature: Refutation of a Legend, London, Verso, 1983

Harvey, David. A Brief History of Neoliberalism, Oxford, Oxford University Press, 2007

Hayek, Friedrich von, The Road to Serfdom (1944), London, Routledge, 2001

Herbert Spencer, The Man v. the State (1884), Indianapolis, Ind. : Liberty Classics, 1981

Hobsbawm, Eric, The Age of Empire, 1875 – 1914, London, Weidenfeld and Nicolson, 1987

Honneth, Axel, The Idea of Socialism (2015), Cambridge, Polity Press, 2017

Jackson, Ben and M. Stears (Eds.), Liberalism as Ideology. Essays in Honour of Michael Freeden, Oxford, Oxford University Press, 2012

Kolakowski, Leszek, Modernity on Endless Trial, Chicago, University of Chicago Press, 1990

Mill, John Stuart, Principles of Political Economy, and Chapters on Socialism. Ed. & intr. Jonathan Riley, Oxford, OUP, 2008

Nozick, Robert, Anarchy, State and Utopia, New York, Basic Books, 1974

Rosenblatt, Helena, The Lost History of Liberalism: From Ancient Rome to the Twenty-First Century, Princeton, NJ, Princeton University Press, 2018

Tomlinson, Jim, “The Limits of Tawney's Ethical Socialism: A Historical Perspective on the Labour Party and the Market”, Contemporary British History, 16:4 (2010), pp. 1-16

Viner, Jacob, Essays on the Intellectual History of Economics, ed. D.A. Irwin, Princeton, NJ, Princeton University Press, 1991

domingo, 18 de outubro de 2020

Governo Bolsonaro desmoralizou o liberalismo no Brasil - Ricardo Bergamini

 Salim Mattar pode ser um liberal por inteiro no caso das privatizações, e fez bem em deixar o governo que se recusa, por razões eleitoreiras (e por causa do estatismo do degenerado), em fazer privatizações que NÃO DEPENDEM do Congresso, mas se ele é, realmente um antivacinal, como se informa ao final, posso dizer com todas as letras que ele é UM IDIOTA COMPLETO!.

Paulo Roberto de Almeida 


Governo Bolsonaro desmoralizou o liberalismo no Brasil (Ricardo Bergamini).

 

Prezados Senhores

 

Afirmações do comunista Salim Mattar (ex-secretário especial de Desestatização e Privatização):

 

1 - Quando pediu demissão da equipe econômica do governo Jair Bolsonaro (sem partido), em 11 de agosto, Salim Mattar deixou claro que estava insatisfeito com o ritmo das privatizações. Agora, o ex-secretário especial de Desestatização e Privatização diz que o presidente abandonou a agenda liberal de olho na reeleição e que o ministro da Economia e seu ex-chefe, Paulo Guedes, está sendo "tolhido" por militares e outros ministros.

 

2 - Se ele [Jair Bolsonaro] quisesse, podia privatizar todas as empresas que não precisam [de aprovação] do Congresso. Depende só dele, [mas] falta vontade. Salim Mattar, ex-secretário de Desestatização:

 

- São 200 empresas estatais federais, sendo 46 com controle direto da União (18 dependentes exclusivas do tesouro nacional, e 28 não dependentes do tesouro nacional), e 154 com controle indireto (111 subsidiárias no Brasil, e 43 subsidiárias no exterior.

- Cabe lembrar que existem 154 empresas estatais com controle indireto do governo, que não necessitam de autorização do Congresso para serem vendidas. 

 

Os jornalistas vigaristas, pilantras e picaretas, que estão na folha de pagamento do SECOM do Bolsonaro, culpam o Congresso Nacional e o Judiciário como sendo os empecilhos das privatizações.

 

Mattar critica ministros e diz que Bolsonaro não privatiza para se reeleger

 

Filipe Andretta

 

Do UOL, em São Paulo

 

24/09/2020 16h53

 

Quando pediu demissão da equipe econômica do governo Jair Bolsonaro (sem partido), em 11 de agosto, Salim Mattar deixou claro que estava insatisfeito com o ritmo das privatizações. Agora, o ex-secretário especial de Desestatização e Privatização diz que o presidente abandonou a agenda liberal de olho na reeleição e que o ministro da Economia e seu ex-chefe, Paulo Guedes, está sendo "tolhido" por militares e outros ministros.

 

As declarações foram dadas ao canal virtual de Marcos Cintra, ex-secretário especial da Receita Federal, que foi demitido por Guedes em setembro do ano passado, porque defendeu a criação de um imposto sobre transações, como a antiga CPMF. Um ano depois, Guedes está em plena campanha pela aprovação de uma nova CPMF.

 

Na opinião de Matar, os militares no governo são uma "reserva moral", mas são despreparados para governar um país ou gerir empresas. O empresário também criticou os ministros Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) e Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia).

 

Falta vontade e base no Congresso

 

Bolsonaro tem expandido sua base no Congresso nos últimos meses, fazendo concessões aos partidos do Centrão. O líder do governo na Câmara, por exemplo, é o deputado Ricardo Barros (PP-RR), ex-ministro do governo Michel Temer.

 

Apesar disso, Mattar afirmou que Bolsonaro não pode cumprir todas as promessas de privatização porque não tem maioria no Congresso.

 

Mesmo assim, disse que Bolsonaro erra ao não vender empresas e subsidiárias que não precisam de autorização parlamentar.

 

Se ele [Jair Bolsonaro] quisesse, podia privatizar todas as empresas que não precisam [de aprovação] do Congresso. Depende só dele, [mas] falta vontade.Salim Mattar, ex-secretário de Desestatização.

 

No papel de entrevistador, Cintra lembrou que Bolsonaro não tem um histórico liberal e perguntou se Mattar confia na "fé débil dos recém-convertidos".

 

O ex-secretário respondeu que Bolsonaro nunca escondeu sua origem como deputado do "baixo clero", mas que o presidente "evoluiu" após entrar em contato com as ideias liberais de Guedes.

 

Pagar servidores porque Bolsonaro quer reeleição

 

Para Mattar, a desidratação do projeto de reforma administrativa, que muda as regras para o funcionalismo público, é um exemplo de como o presidente Bolsonaro abandonou a agenda liberal por estar mais preocupado com a próxima campanha eleitoral.

 

Bolsonaro não tomou algumas medidas, e a reforma administrativa é um cambeta, porque só vai pegar os futuros servidores. Ou seja, durante 30 anos nós vamos continuar pagando esses servidores [...] porque ele [Bolsonaro] deseja se reeleger.Salim Mattar, ex-secretário de Desestatização.

 

A reforma administrativa ficou parada durante meses no governo, o que levou ao pedido de demissão de outro secretário, Paulo Uebel, em agosto, junto com Mattar. Na época, Guedes qualificou a saída dos dois como uma "debandada" da equipe.

 

Menos de um mês depois, o governo tirou a reforma administrativa da gaveta e a enviou ao Congresso. Mas o projeto afeta apenas servidores futuros e poupa a elite do funcionalismo ao não atingir militares, parlamentares, juízes e membros do Ministério Público.

 

Apenas dois liberais no governo

 

Para Mattar, apenas os ministros Paulo Guedes (Economia) e Ricardo Salles (Meio Ambiente) são liberais dentro do governo.

 

"O Salles não pode fazer nada, porque não tem nada para privatizar. Ele está privatizando parques, o que é interessante", disse.

 

Mattar diz que Paulo Guedes "encarna hoje a figura do líder liberal para encaminhar o Brasil para outros rumos". "Porém, na medida em que ele vai para o governo, ele é tolhido", complementou.

 

Segundo o ex-secretário, Guedes só pode privatizar as empresas ligadas ao Ministério da Economia, e com restrições: teria sido proibido pelo presidente de vender bancos públicos e sofreu uma derrota no Congresso na tentativa de privatizar a Casa da Moeda.

 

Críticas a ministros

 

Mattar criticou ex-colegas de governo, principalmente o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas. "Um cara trabalhador, dedicado, faz muita obra. Mas não é um liberal", afirmou.

 

O ex-secretário diz que Freitas poderia privatizar "com uma canetada" a EPL (Empresa de Planejamento e Logística), conhecida por ser a empresa criada no governo Dilma Rousseff para construir o trem-bala.

 

Outro alvo de críticas foi o ministro Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), por supostamente dificultar a privatização dos Correios e da Telebras.

 

Nós tentamos fechar, enquanto pertencia ao ministério do Marcos Pontes, os Correios e a Telebras. Não conseguimos. Agora, com o novo ministro, Fábio Farias [Comunicações], uma nova liderança em ascensão, que tem o respeito do presidente Bolsonaro, vai sim privatizar, coisa que não conseguimos em 18 meses de governo.Salim Mattar, ex-secretário de Desestatização.

 

Bolsonaro recriou o Ministério das Comunicações em julho, transformando-o na 23ª pasta deste governo. Durante a campanha eleitoral, Bolsonaro havia prometido ter no máximo 15 ministérios.

 

Genro do dono do SBT, Silvio Santos, o ministro Fábio Faria (PSD-RN) é considerado parte do Centrão.

 

Apoio ao movimento antivacina

 

Fundador da locadora de carros Localiza, Salim Mattar é um entusiasta do liberalismo. Ele defende a menor intervenção do Estado nas liberdades individuais em todas as esferas e apoiou o movimento antivacina, comparando as vacinas à cachaça.

 

Quem é contra vacina obrigatória tem uma tendência liberal, porque o governo não tem o direito de pedir a ele para tomar uma vacina, como o governo não tem o direito de pedir a um cachaceiro que não beba cachaça. Fumar, beber, tomar vacina, isso é liberdade do indivíduo.Salim Mattar, ex-secretário de Desestatização.

 

Especialistas alertam que as vacinas são um instrumento fundamental para a redução de mortalidade e o aumento da qualidade e da expectativa de vida em todo o mundo.

terça-feira, 6 de outubro de 2020

O Argumento Liberal - José Guilherme Merquior (O Estado da Arte)

 Divulgação Política 

José Guilherme Merquior: O Argumento Liberal