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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Diplomacia partidaria e diplomacia diplomatica: tudo a ver? - Eliane Cantanhede (FSP)

Tô fora!
Eliane Cantanhede
Folha de S.Paulo, 14/02/2014

 BRASÍLIA - Tanto a questão de Henrique Pizzolato quanto a fuga de médicos cubanos são assuntos que têm uma dimensão internacional. Mas, como não participou de nenhum dos dois na origem, o Itamaraty agora lava as mãos no desenrolar (ou no enrolar) das coisas.
Quando o governo Lula começou a discutir o caso do italiano Battisti, condenado à prisão perpétua por assassinato no país dele, o Itamaraty votou no Conare (o comitê para refugiados) contra o asilo –ou a favor da extradição. Mas, como a história registra, o governo Lula deu mil e uma voltas, mil e um jeitinhos, até manter o cara aqui, livre, leve e solto.
Agora, quando a situação se inverte e o fujão Pizzolato está na Itália, é o Itamaraty que não quer mais saber dessa história. Quem deu asilo a Battisti que se vire com Pizzolato, ou "quem pariu Mateus que o embale".
Quando –e se– o Ministério da Justiça, a Procuradoria e, de raspão, o Supremo tomarem providências para pedir a extradição, um diplomata bem vestido, bem penteado, poliglota e cheio de cursos vai colocar a correspondência num envelope bacana para entregar na Embaixada da Itália em Brasília. E lavar as mãos.
O mesmo vale para a evasão de médicos cubanos. Quando o governo decidiu trazer milhares deles (já são cerca de 7.400 inscritos), todas as tratativas foram feitas pelo Planalto, pelo Ministério da Saúde, pela assessoria internacional da Presidência, mesmo criando doutores de primeira e de segunda classe no Mais Médicos, menina dos olhos de Dilma e das campanhas petistas.
Agora, quando cubanos começam a desertar e não dá para mandá-los de volta pelas asas da Venezuela, como ocorreu com os boxeadores no governo Lula, o que o Itamaraty pode fazer? Nem pode exigir que os irmãos Castro deem um jeito nos insubordinados nem pode impedir os EUA de concederem vistos.
Logo, essas duas questões internacionais não são para o Itamaraty, são para a diplomacia partidária.


Eliane Cantanhêde, jornalista, é colunista da Página 2 da versão impressa da Folha, onde escreve às terças, quintas, sextas e domingos. É também comentarista do telejornal 'GloboNews em Pauta' e da Rádio Metrópole da Bahia

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

A ilha do tesouro des companheiros: uma bela conta de Pizzolato na Suica

Mensalão

Governo investiga conta secreta de Pizzolato na Suíça

Condenado pelo Supremo Tribunal Federal e foragido do país, ex-diretor do Banco do Brasil na época do mensalão teria acumulado 2 milhões de euros

Henrique Pizzolato, ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil
Henrique Pizzolato, ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil (Rodrigo Paiva/AE)
Autoridades brasileiras e suíças investigam uma conta secreta de Henrique Pizzolato, ex-diretor do Banco do Brasil, condenado no julgamento do mensalão. Pizzolato fugiu para a Itália após ter prisão decretada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A conta aberta em um banco na Suíça foi movimentada há dois meses, logo depois da fuga do mensaleiro, que deixou o Brasil em setembro. O saldo inicial seria de quase 2 milhões de euros e, atualmente, a conta não está zerada, segundo revelou o jornal O Estado de S.Paulo nesta sexta-feira.
Segundo o governo brasileiro, a conta internacional confirma como foi bem orquestrada a fuga de Pizzolato. Apesar da certeza da Polícia Federal quanto à ida do condenado à Itália, a PF afirma que não tem recebido cooperação da polícia italiana – a única com poder para apurar o paradeiro de Pizzolato, que tem dupla cidadania.
Um tratado assinado entre Brasil e Itália não permite extradição de quem tem dupla cidadania.
A recém-criada coordenação de rastreamento e captura da polícia assumiu a investigação com uma equipe de seis policiais. A Interpol, organização que reúne polícias de vários países, também auxilia no caso. O assunto ainda é mantido em sigilo pela Procuradoria-Geral da República e pela PF.
A principal linha de investigação é rastrear o percurso do dinheiro. Diplomatas do Brasil afirmaram que ocorreu uma “intensa troca” de cartas e comunicações entre Brasília e Berna, na Suíça, nas últimas semanas.
Resistência - O pedido de ajuda de Brasília aos suíços enfrentou resistência inicial para ser atendido, apesar do acordo de cooperação judicial mantido entre os dois países. Isso porque o suposto crime não teria ocorrido na Suíça e não existiriam provas na Justiça local de que o dinheiro movimentado fosse fruto de corrupção.
O que permitiu a cooperação foi o fato de o nome de Pizzolato ter entrado na lista da Interpol. Com isso, as autoridades suíças também foram levadas a colaborar com um caso de alguém que já havia sido julgado e condenado em última instância. O sinal verde para a cooperação foi dado, mas com a condição de que o papel das autoridades suíças não fosse revelado inicialmente.
O pedido de ajuda do Brasil foi tratado pelo Escritório Federal da Polícia, conhecido como Fedpol. Uma vez recebido, o departamento lançou uma busca nos cantões suíços, obrigou bancos a buscar o nome de Pizzolato e conseguiu identificar a movimentação na área que seria de responsabilidade legal de Genebra.
O ex-diretor do Banco do Brasil foi condenado a 12 anos e 7 meses de prisão pelo STF pelos crimes de lavagem de dinheiro, corrupção passiva e peculato. As investigações mostraram que ele recebeu 326.000 reais de propina para favorecer uma das empresas de Marcos Valério em contratos com o Banco do Brasil. Como ex-diretor do banco, Pizzolato teria participado do desvio de aproximadamente 74 milhões de reais do Fundo Visanet para alimentar o esquema.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

STF faz volta atras nas condenacoes do Mensalao: Joaquim Barbosa renuncia - Carlos Chagas

Seria um simples boato, ou é verdade?
Conhecendo-se a política brasileira, os comportamentos atuais, de políticos e magistrados, nada deveria nos surpreender.
Paulo Roberto de Almeida

A LUZ QUE SE APAGA E A ESCURIDÃO QUE SE APROXIMA
Carlos Chagas
Tribuna da Imprensa, 3/01

Confirmam amigos chegados ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa: ele pedirá aposentadoria antes de ser sucedido, em abril do próximo ano, pelo ministro Ricardo Lewandowski, na direção maior do Poder Judiciário. 

Motivo: o desmonte do mensalão, que começará logo depois da mudança na presidência da mais alta corte nacional de Justiça.

Como? Através de manobra já engendrada pelo PT e pelos advogados dos mensaleiros, com a aquiescência de Lewadowski, que permitirá a REVISÃO dos processos onde foram condenados 25 implicados num dos maiores escândalos da história da República. Estaria tudo coordenado, apenas aguardando a mudança da guarda. Apesar de a revisão de processos constituir-se em exceção na vida dos tribunais, pois acontece apenas com o surgimento de fatos novos no histórico das condenações, já estariam em fase de elaboração os recursos de quase todos os hoje condenados, a cargo de advogados regiamente remunerados, junto com outros ideologicamente afinados com o poder reinante.

Nada aconteceria à margem de discussões e entreveros jurídicos, mas a conspiração atinge a composição atual do Supremo Tribunal Federal. E a futura, também. 

O término do mandato de Joaquim Barbosa na presidência da Corte Suprema marcaria a abertura das comportas para a libertação dos criminosos postos atrás das grades e daqueles que se encaminham para lá.

Joaquim Barbosa não estaria disposto a assistir tamanha reviravolta, muito menos a ser voto vencido diante dela. Assim, prepara seu desembarque. Pelo que se ouve, não haverá hipótese de mudar a decisão já tomada, mesmo ignorando-se se aceitará ou não transmudar-se para a política e aceitar algum convite para candidatar-se às eleições de outubro. Tem até abril para decidir, apesar das múltiplas sondagens recebidas de diversos partidos para disputar a presidência da República.

A informação mostra como são efêmeros os caminhos da vida pública. Até agora vencedor inconteste na luta contra a corrupção, reconhecido nacionalmente, Joaquim Barbosa pressente a curva no caminho, não propriamente dele, mas dos mesmos de sempre, aqueles que conseguem fazer prevalecer a impunidade sempre que não se trata de punir ladrões de galinha.

Afinal, alguns meses de cadeia podem machucar, mas se logo depois forem revogados através de revisões patrocinadas pelas estruturas jurídicas postas a serviço das elites, terão passado como simples pesadelos desfeitos ao amanhecer. Não faltarão vozes para transformar bandidos em heróis. 

A reação do ainda presidente do Supremo de aposentar-se ficará como mais um protesto da luz que se apaga contra a escuridão que se aproxima. 

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O projeto petista e a Republica de Weimar: qualquer semelhanca nao e' mera coincidencia...

Reproduzo um post de um cidadão preocupado, como eu, com os rumos do Brasil atual.
A postagem foi feita no blog "No Bico da Chaleira", assinada por alguém que caracteriza seu blog como sendo "Eferverscências liberais de um herdeiro da pampa pobre". Dixit.
Paulo Roberto de Almeida

O PT e os pilares da sociedade


A principal diferença entre uma sociedade desenvolvida e uma subdesenvolvida reside na solidez e na qualidade das suas instituições. O curso da história contemporânea, nos últimos 200 anos, tem sido a construção de sociedades compostas de instituições impessoais, que visam à defesa das liberdades individuais contra a tirania. É somente em estado de liberdade que o ser humano pode desenvolver-se em seu máximo potencial.
Este curso não tem sido trilhado sem percalços. São inúmeros os exemplos na história recente em que as instituições são apropriadas por grupos identificados de poder, que as deturpam seja para fins pessoais, seja para a realização de histerias ideológicas que objetivam a destruição do ser humano como o conhecemos (vide os exemplos do comunismo e do nazismo). O resultado é sempre o mesmo: o horror.
Ao longo da última década, o PT vem consolidando seu projeto de poder pela degradação contínua das frágeis instituições que vínhamos tentando construir no Brasil. E nem poderia se esperar algo diferente, vez que para os comunistas o estado, a família, a igreja, a imprensa, etc., são instituições burguesas, e como tal devem ser eliminadas para dar lugar à ditadura do proletariado. Para eles, a única instituição que deve existir é o partido, como confluência do interesse da classe trabalhadora. Puro delírio psicótico.
O Estado de São Paulo fez, em editorial, uma excelente análise do projeto petista e da atual situação política no Brasil. Vale à pena a leitura:http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,o-que-trama-o-pt-,1098987,0.htm
Na esteira do projeto de poder do PT, o Executivo foi aparelhado ideologicamente, o Legislativo foi esvaziado pelo mensalão, a igreja foi tomada pela teologia da libertação, a imprensa é dependente da publicidade oficial do governo, a família é desmoralizada pela erotização infantil de cartilhas escolares oficiais, e por aí vai. Os exemplos são inúmeros e todos no sentido de suprimir a liberdade individual e destruir as instituições “burguesas”.
Mas este projeto de poder do PT não foi totalmente consolidado. Há ilhas de resistência, como parcelas do Judiciário, por exemplo. O STF cumpriu seu papel constitucional no julgamento do mensalão e na prisão dos cardeais do PT, que agora investe sordidamente contra a Justiça e a pessoa do Ministro Joaquim Barbosa, pondo em risco o pouco que resta de moral da instituição.
E nisso o PT está sendo ajudado pela postura corporativa do Presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, que criou uma crise constitucional ao recusar-se a dar cumprimento à decisão do STF de perda imediata do mandato dos deputados mensaleiros.
Walter Ceneviva em sua coluna de hoje na folha (http://www1.folha.uol.com.br/colunas/walterceneviva/2013/11/1375537-a-crise-dos-poderes.shtml) fez uma análise jurídica muito apurada da situação. Em primeiro lugar, de acordo com o art. 102 da Constituição Federal, cabe ao STF, como guarda da Constituição, dar a última palavra sobre a interpretação da Carta. Em segundo lugar, conforme o art. 44 da Constituição, a Câmara dos Deputados não representa a totalidade do Poder Legislativo, composto também pelo Senado Federal, não podendo, portanto, opor-se à determinação constitucional de outro Poder da República. A Constituição Federal é clara. O Brasil não pode ter presidiários como representantes da Nação.
Este processo de erosão das instituições não é novo. Já vimos este filme antes. Ele é o tema central do ambiente político do entre-guerras, antes da ascensão do nazismo e da catástrofe da segunda guerra mundial.
Se recordar é viver, vale à pena revisitar a obra dos dadaístas da República de Weimar. Ao final deste post, reproduzo a tela “Os pilares da sociedade”, de George Grosz. A obra é de 1926, dois anos depois da publicação de “Mein Kampf” e 7 anos antes da ascenção de Hitler, em 1933.
Na tela, Grosz apresenta a imagem de uma sociedade em chamas, cujas instituições estavam completamente deturpadas. Vê-se ali um país comandado por quatro tipos de porcos proselitistas: o político, o magistrado, o jornalista e o sacerdote. Cada qual olhando para um lado diferente, inebriados pelo odor dos excrementos de suas mentes psicóticas. Preocupantemente similar ao que vivemos no Brasil de hoje.
A República de Weimar não foi capaz de conter o nazismo. Suas instituições – “os pilares de sua sociedade” -, ruiram e deram lugar ao Terceiro Reich. O resto da história a gente conhece. A pergunta é: os pilares da nossa sociedade serão capazes de conter o projeto de poder do PT?
Qualquer coincidência não é mera semelhança.
Qualquer coincidência não é mera semelhança.

sábado, 16 de novembro de 2013

Mensalao: orgulhosos de serem quadrilheiros - Reinaldo Azevedo


Reinaldo Azevedo, 16/11/2013
 às 6:47

Estão como pinto no lixo!

Nossa!
Sabem aqueles caras financiados por estatais? Sim, trata-se de uma forma de mensalão. Estão como pinto no lixo. Afetam indignação com a prisão dos companheiros, mas mal conseguem disfarçar a alegria. É como se dissessem: “Tá vendo, Dilma, como nós somos necessários? Tá vendo, PT, como é bom contar com a gente? Afinal, estamos aqui numa espécie de competição interna para ver quem elogia mais o Zé Dirceu, quem ataca mais o Supremo, quem xinga mais o Joaquim Barbosa, quem hostiliza mais a imprensa…”
Faz sentido. Se não forem eles a defender o crime, será quem? Nem o Marcola e o Fernandinho Beira-Mar fariam isso, né? Nos “salves” do PCC e do Comando Vermelho, os marginais não se tomam por santos, mas por aquilo que são: bandidos.
Por Reinaldo Azevedo

A prisao dos quadrilheiros e as trapalhadas do Congresso - editorial Estadao

Editorial O Estado de S.Paulo, 15/11/2013

O julgamento da Ação Penal 470 teve seu ponto culminante há 11 meses, em dezembro de 2012, quando o Supremo Tribunal Federal (STF), após 49 sessões que se estenderam por quatro meses e meio, condenou 25 dos 40 denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por vários crimes relacionados com o plano urdido por então dirigentes do Partido dos Trabalhadores (PT) para garantir apoio parlamentar ao governo Lula mediante o pagamento de propina a parlamentares e dirigentes da chamada base aliada.

A decisão tomada por unanimidade na última quarta-feira pela Suprema Corte, de determinar a execução imediata das penas ─ inclusive para condenados, como o ex-ministro José Dirceu, que ainda podem ter revistas partes de suas sentenças ─, é apenas o desdobramento natural de um processo longo, quase interminável, complexo e extremamente polêmico, que apesar de todos os pesares permitiu à consciência cívica do país vislumbrar o início do fim da histórica tradição de impunidade dos poderosos.
O desdobramento natural do processo do mensalão, de qualquer modo, representa mais um episódio relevante na história jurídica e política do país, não apenas porque só era esperado pela maioria dos observadores para o próximo ano, mas, principalmente, porque dá uma resposta clara aos cidadãos que já começavam a se sentir afrontados pela desfaçatez e empáfia com que alguns condenados ─ não por acaso os mais notórios ─ vinham tentando desqualificar a decisão da Suprema Corte e desmoralizar os ministros por ela responsáveis.
Não é fácil para o cidadão comum compreender a razão pela qual o julgamento do mensalão se arrasta já por oito anos e ainda tem pela frente um tempo indefinido que será consumido na apreciação de recursos que o processo penal brasileiro garante aos réus ─ especialmente àqueles que dispõem de meios para pagar as melhores bancas advocatícias. Essa é uma distorção que, desde logo, compromete a prática da boa justiça. Mas é de esperar que, ao colocar em evidência essa faceta perversa da Justiça, o processo do mensalão enseje a abertura de uma ampla discussão nacional sobre a necessidade de expurgar do ordenamento jurídico o viés retrógrado que aqui e ali ainda perdura.
Por outro lado, o avanço no processo do mensalão com a decretação da prisão dos condenados vai colocar mais uma vez em xeque o Congresso Nacional. Depois de, em nome de uma visão equivocada de autonomia que reflete apenas um corporativismo primário, terem cometido o absurdo de garantir o mandato de um deputado condenado e preso, os parlamentares terão que decidir o que fazer com os quatro colegas que a Ação Penal 407 está colocando atrás das grades.
Senadores e deputados estão aparentemente empenhados na aprovação de projeto de emenda constitucional que acaba com o voto secreto nas decisões sobre a cassação de mandatos de seus pares. Seria uma maneira de inibir a repetição do vexame que transformou em deputado-presidiário Natan Donadon, que cumpre pena no presídio da Papuda, no Distrito Federal, e que por essa singela razão está impedido de comparecer à Câmara dos Deputados para cumprir as obrigações que o mandato impõe. Esse absurdo seria apenas cômico, se não fosse revelador do ponto a que chegou a degradação dos valores éticos entre os representantes eleitos pelo povo.

Mas, como senadores e deputados não se entendem, patrocinando projetos conflitantes, o impasse será certamente debitado, por parlamentares docemente constrangidos, aos regimentos internos das duas Casas. E tudo permanecerá como lhes é de gosto, até que o instinto de sobrevivência diante de eventual recrudescimento das manifestações populares e da proximidade das eleições acabe colocando algum juízo nas nobres cabeças dos representantes do povo. Afinal, o processo do mensalão, agora revigorado pela decisão unânime dos ministros do Supremo, continua estimulando a consciência cívica do povo brasileiro.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Governo (ir)real, governo paralelo (real), shadow cabinet, e verdadeira autoridade...

Não pretendo tratar do Mensalão, pois a farsa se desenvolve ao ritmo brasileiro, ou seja, lentamente, para trás...
Apenas um registro sobre onde está, de fato, o poder no Brasil: no guia genial dos povos e seu trabalho de governo subterrâneo, por vezes aéreo, estratosférico, mas simplesmente efetivo.
O retrato do Brasil atual está todo nesta matéria...
Paulo Roberto de Almeida

Para Lula e Dilma, prisão agora evita ataques na eleição

Em almoço no Alvorada, cúpula do governo avalia que decisão do STF reduz munição dos adversários para constranger presidente

15 de novembro de 2013 | 2h 10
Vera Rosa e Rafael Moraes Moura - O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - Em três horas e meia de conversa, no Palácio da Alvorada, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva avaliaram ontem que a execução antecipada das penas dos réus petistas do mensalão é mais favorável ao governo que a prisão em 2014. Dilma quer que essa etapa do julgamento termine logo para que adversários não explorem o assunto na campanha eleitoral.
Ao deixar o Alvorada, porém, Lula esquivou-se de comentar a possibilidade de prisão imediata de condenados no mensalão. "Quem sou eu para fazer qualquer insinuação ou julgamento da Suprema Corte?", disse o ex-presidente. "Eu acho que quem tem de discordar ou não são os advogados, que têm de saber se pode fazer ou não (a prisão)."
O diagnóstico sobre o peso do mensalão na campanha ocorreu ontem em almoço oferecido por Dilma a Lula, do qual também participaram os ministros Aloizio Mercadante (Educação), José Eduardo Cardozo (Justiça), o marqueteiro João Santana, o presidente do PT, Rui Falcão, e Paulo Okamotto, que comanda o Instituto Lula. Antes, Lula esteve na cerimônia que marcou a chegada, a Brasília, dos restos mortais do ex-presidente João Goulart.
Na avaliação do governo, o assunto mensalão só causaria algum estrago para o PT nas disputas de 2014 se os réus do partido fossem presos às vésperas das eleições. Ao liquidarem essa etapa agora, o ex-ministro José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-tesoureiro Delúbio Soares cumpririam pena em regime semiaberto, apenas dormindo na cadeia.
Dirceu pode até se livrar do regime fechado, caso o Supremo acate seu recurso contestando o crime de formação de quadrilha. Na prática, o tempo que passar agora recluso será "abatido" da sentença final.
Com essa análise, o Planalto e a cúpula do PT argumentam que a decisão do Supremo pela prisão antecipada poupará Dilma de constrangimentos.
Em público, porém, a ordem é evitar comentários sobre o assunto, como avisou o próprio Lula. "Como eu posso ter uma opinião sobre uma decisão da Suprema Corte, gente? Não tem sentido", afirmou ao ser questionado se a execução antecipada da pena seria injusta.
Em conversas reservadas, porém, Dilma sempre lamenta a situação de Genoino. Para ela, o deputado só foi condenado por ser presidente do PT na época do escândalo. Ele ainda se recupera de uma cirurgia e está de licença médica da Câmara.
A reforma ministerial, as brigas com o PMDB e a formação dos palanques de Dilma nos Estados também foram abordados na conversa. Doze ministros devem deixar os cargos para se candidatar e Dilma quer fazer as mudanças até janeiro.
O deputado Ricardo Berzoini (PT-SP) é um dos cotados para voltar à Esplanada, talvez no Ministério das Comunicações. Ele foi ministro do Trabalho de Lula.
COLABOROU JOÃO DOMINGOS

Quadrilheiros e bandidos: ainda podem escapar da justa pena - ReinaldoAzevedo

Com a ajuda providencial de alguns sabujos aliados que estão onde não deveriam estar...
PRA

    quinta-feira, 14 de novembro de 2013

    Um observador estrangeiro observa o Mensalao: uma observacao generosa...

    Acredito que o embaixador Seixas da Costa foi generoso com o povo brasileiro e comedido em seus comentarios sobre o Mensalão, o maior crime político, a maior fraude partidária de que se tem notícia na História do Brasil.
    Paulo Roberto de Almeida

    Mensalão
    Um dia de junho de 2005, no "salão de autoridades" do aeroporto de Manaus, a minha atenção foi despertada para as inesperadas revelações que estavam a ser feitas, na televisão, por um deputado brasileiro, de seu nome Roberto Jefferson, sobre a existência de um suposto esquema de compra de votos no Congresso brasileiro. Não o sabia então, mas esse iria ser o "dia 1" daquilo a que se chamaria o "mensalão".
    Seguiram-se meses de debates, inquéritos, denúncias, em torno de uma singular operação que envolvia pagamentos e desvio de verbas de natureza pública. O Brasil colou-se às televisões e passou a conhecer a figura de Marcos Valério, o "arquiteto" dessa habilidosa montagem. Com a passagem dos meses, o processo foi-se aproximando do número dois do governo Lula, o poderoso ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Quase quatro dezenas de outros réus se lhes juntaram. Dirceu acabaria por ser afastado. A sua substituta chamava-se Dilma Roussef.
    O Brasil nunca mais foi o mesmo depois do surgimento do "mensalão". E a imagem do PT, Partido dos Trabalhadores, que havia sido criado em torno de Lula da Silva, foi afetada de uma forma que mudou para sempre a perceção dessa força política aos olhos dos brasileiros.
    O processo do "mensalão" poderá estar a chegar ao seu termo. Anteontem, o Supremo Tribunal Federal (que, no Brasil, conjuga as funções de corte suprema e de corte constitucional) decidiu mandar proceder à imediata prisão efetiva dos réus já condenados, não esperando por alguns recursos pendentes. Não tenho dúvidas que este radical ato de "coragem" só ocorreu porque os juízes do STF, um tribunal que tem muito de político, perceberam que a "rua" exigia isso mesmo, depois das recorrentes manifestações dos últimos meses.
    A luta contra a corrupção está muito longe de estar ganha no Brasil, por um conjunto de vícios instalados para cuja desaparição as condições ainda não estão criadas. Mas o caso do "mensalão" foi uma experiência que ensinou muito aos brasileiros e os tornou incomparavelmente mais exigentes com as suas instituições.     

    Vergonha da nossa Justica, alias, esse nome nao lhe cabe...

    Assistindo hoje à sessão da TV Justiça sobre o julgamento do Mensalão, ou Ação Penal 470 -- o maior crime político já cometido na história do Brasil (mas acredito que existem piores, que ainda vão vir, ou que já existiram mas não foram julgados, como por exemplo o fato de o chefe da máfia não fazer parte deste julgamento) -- cheguei a ficar constrangido, e sentir vergonha, ao imaginar diplomatas, jornalistas, observadores de outros países assistindo o triste espetáculo protagonizado hoje pelos que passam por ministros do Supremo (alguns certamente não mereciam estar lá).
    Quando penso nas sessões extremamente objetivas da Suprema Corte dos EUA -- existe audios posteriores das sessões, não esse espetáculo pirotécnico que é a nossa TV Justiça em ação --, quando penso no extremo recato da Corte Constitucional da França, na Corte de Heidelberg, quando comparo tudo isso e veja o teatro lamentável oferecido por nossos "juízes", me dá esse mesmo sentimento de vergonha alheia já mencionado por um jornalista conhecido.
    Quem duvidar de mim, veja a página da Suprema Corte dos EUA, leia o seu regimento (Rules, objetivas, em menos de 60 páginas), leiam as súmulas dos julgamentos, com menos de 20 páginas, e vejam o trabalho primoroso conduzido pelos juízes nos julgamentos, perfeitamente objetivo, conciso, sem floreios, sem demagogia.

    Independentemente de quantos bandidos possam ir para a cadeia agora, o espetáculo da nossa "justiça" é algo deplorável, sob todos os aspectos.
    E sabemos que não só pelo bandido principal que escapou, mas pelos vários outros estão soltos, que todos os prejuízos que eles provocaram para as nossas instituições -- e não só os as centenas de milhões roubados, mas a prostituição dos mecanismos do Estado conduzida pela banda de criminosos que nele se instalou -- tudo isso é mínimo se comparado com a imensa perda de credibilidade que agora temos, no Estado, na justiça, na decência moral neste país...
    O Brasil é um país que anda para trás, e isso se reflete também nos juízes histriônicos que exibimos ao mundo todo. Que bandidos eleitos ocupem o poder, isso é de certa forma esperado. Que responsáveis pela suprema corte tenham um comportamento de serviçais dos primeiros, isso já é deplorável.
    Paulo Roberto de Almeida

    segunda-feira, 30 de setembro de 2013

    O Brasil foi assaltado, mais uma vez, como esperado... - Guilherme Fiuza

    A Primavera Burra
    Guilherme Fiuza
    O Globo, 29/09/2013

    O Supremo Tribunal Federal melou a prisão dos mensaleiros, na mão grande. Como se sabe, pela primeira vez na história a corte máxima tem juízes partidários, como Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli, obedientes aos seus senhores petistas. E os principais réus do mensalão, que por acaso mandam no Brasil, têm os melhores advogados de Brasília — pagos a peso de ouro com uma dinheirama que eles não precisam dizer de onde veio, mas pode-se supor. Foi com essa blitz política (disfarçada de jurídica), ou, em bom português anglo-saxão, com esse lobby, que o Brasil foi roubado de novo, à luz do dia.
    E o que fizeram os brasileiros, que agora são revolucionários e esculhambam o trânsito a qualquer hora do dia para “mudar o Brasil”? Não fizeram nada. Os bravos manifestantes da Primavera Brasileira de 2013 assistiram ao novo assalto, como diria Anitta, ba-ban-do.
    O golpe dos embargos infringentes foi vexaminoso. Uma manobra tosca, que embaralhou um julgamento cristalino e cindiu o direito e o bom senso — o que é uma cisão grave, mas não nesse Brasil onde civismo é jogar pedra em vidraça. Votos como o do ministro Marco Aurélio mostraram que o julgamento só poderia ser reaberto — decisão drástica — se não pairassem dúvidas sobre a legalidade dos embargos.
    Pois bem: o julgamento foi reaberto em casos onde houve quatro votos contrários à sentença. E a própria decisão de reabertura teve cinco votos contrários! Não seria então o caso de entrar com embargos infringentes contra a aceitação dos embargos infringentes?
    Não, não seria, porque nesse caminho de prostituição da técnica, a lógica já foi abandonada no acostamento há muito tempo, e o espírito da lei já foi pendurado na parede, ao lado de um retrato do filho do Brasil. A blitz dos advogados milionários do PT fez o STF virar as costas para a lógica e o espírito da lei. Normal. Quem está do outro lado é só o Brasil, esse pobre coitado, que não tem nada concreto para oferecer: nem cargos, nem prestígio, nem favores, nem negócios, nem mesmo a emoção de um café da manhã com José Dirceu, o astro da penumbra.
    Foi comovente ver a bancada petista no Supremo, em ações grandiloquentes e tom épico, defendendo com garra um futuro tranquilo e confortável. O PT inaugurou o patriotismo privado.
    Para o pobre coitado do outro lado, batizado com nome de madeira nativa (profetizando a cara de pau), o que aconteceu no Supremo Tribunal Federal é apenas o fim. Se as massas (e os gatos pingados) não sabem direito por que vão às ruas, se não é só por 20 centavos, se é por tudo — e tudo, como se sabe, é igual a nada —, a zombaria do STF contra o país inteiro, aliviando os maiores assaltantes da história da República, cujo grupo político por acaso governa o Brasil, é a causa das causas. É para inundar as ruas de gente, é para cercar os palácios da Justiça Federal em todo o território, é para, aí sim, parar tudo e avisar que isso aqui não é a casa da mãe Dilma e de seus companheiros parasitários.
    Mas o que se viu por aí depois do golpe do STF? Bem, escolha a sua manifestação preferida: black blocs vaiando e ameaçando artistas de cinema na chegada ao Festival do Rio; revolucionários da Cinelândia recebendo a adesão do Batman e do Saci Pererê; ninjas, fora do eixo e fora de órbita, discutindo a relação com a polícia (decidindo o que veio primeiro, a pedra ou a pimenta); sindicalistas privatizando as ruas e decidindo quem pode ir e vir.
    Enquanto isso, estoura novo escândalo na boquinha que Dilma Rousseff cultivou dentro do Ministério do Trabalho — o mensalão redivivo na farra das ONGs piratas. Mais R$ 400 milhões desviados para a turma que a presidente fingiu escorraçar em 2011, com o inesquecível Carlos Lupi, mas que na verdade protegeu, porque é dando que se recebe. Os réus que o STF acaba de refrescar fizeram escola, só não vê quem não quer. E ninguém parece querer. Não apareceu um único mascarado no horizonte para acuar os sócios do governo popular nesse novo escárnio. Eles preferem rosnar contra artistas de cinema.
    Não pode haver mais dúvidas: os movimentos de protesto que levaram os brasileiros às ruas em 2013 passarão à história como a Primavera Burra.
    PS: o ministro do Trabalho passa bem, os ministros infringentes idem, e os mensaleiros estão estourando champanhe com a nova disparada de Dilma no Ibope. Vêm aí mais quatro anos de sucção pacífica.

    sábado, 28 de setembro de 2013

    Sobre a podridao da atual republica dos companheiros - Ricardo Velez-Rodriguez

    Ricardo Vélez-Rodríguez
    Blog Rocinante, 19/09/2013

    Tornou-se infelizmente realidade a expressão que resume a frustração da plateia quando o bandido do filme ganha a parada: “A polícia não presta. Chamem o ladrão!” Os mensaleiros estão em festa. A lulopetralhada aplaude. Militantes, mensaleiros e juízes sem compromisso com a Nação conseguiram, afinal, aparelhar o Brasil, tendo desarmado e desmoralizado o Supremo. O Ministro Celso de Mello, que tinha condenado os mensaleiros com palavras duras, terminou cedendo e aprovando a admissibilidade dos embargos infringentes, fato que praticamente desmonta a condenação dos réus. Vale a pena lembrar as duras palavras com que o decano dos ministros do Supremo tinha condenado os mensaleiros: “Agentes públicos que se deixaram corromper e particulares que corrompem são, corruptores e corruptos, os profanadores da República, os subversivos da ordem institucional, os delinquentes, os marginais da ética do poder”. E continuava assim o decano: “Esse processo revela um dos episódios mais vergonhosos da história política do nosso país, pois os elementos probatórios que foram produzidos pelo Ministério Público expõem aos olhos de uma nação estarrecida, perplexa e envergonhada um grupo de delinquentes que degradou a atividade política, transformando-a em plataforma de ações criminosas”.

    O que aconteceu? - Se pergunta, perplexa, a opinião pública. Respondo: os juízes do Supremo, a maioria dentre eles, priorizaram a tecnicidade jurídica por sobre os imperativos da moral social. Ora, bolas. Todos sabiam que os mensaleiros tripudiaram no túmulo da dignidade republicana. Ressoam ainda as duras palavras proferidas quando da primeira condenação, tanto pelo decano que desempatou a última votação, quanto por outros Ministros como Gilmar Mendes que foi um dos cinco membros do Supremo que, na última semana, rejeitaram o adiamento do resultado prático das sentenças. Ao criticar a tentativa do “novato” ministro Barroso de reduzir a importância do mensalão com a declaração de que as penas impostas aos réus eram excessivas e exageradas, Gilmar Mendes frisou: “Já se disse que esse crime não era o maior escândalo (...) perpetrado. Ainda que fossem só 170 milhões de reais, não foi só isso, nós falamos de um sistema criado para comprometer a democracia, manipular a vontade dos parlamentares. Não se trata, portanto, de pena exacerbada”.

    É claro, como observava com acuidade o jornalista Percival Puggina no seu blog, que as penas impostas aos mensaleiros do PT foram pequenas, se comparadas às que receberam os membros da iniciativa privada, Marcos Valério e companhia. Criminoso pertencente a partido político no comando do Estado patrimonial é contemplado com penas mais brandas do que um cidadão comum. Já era ruim essa patente desigualdade perante a lei. Mas a atual decisão do Supremo de acolher os embargos infringentes e mandar para a escatologia a condenação definitiva dos mensaleiros é escárnio demais! O positivismo jurídico dos juízes do Supremo foi mau conselheiro, quando os levou a sobrepor às exigências da moral e da defesa da igualdade de todos perante a lei, a tecnicidade jurídica. A quem poderá acudir a massa dos cidadãos deste país, acuada pela corrupção dos costumes políticos, orquestrada desde cima pelos donos do poder?

    Reinaldo Azevedo, o crítico feroz da ação da petralhada no caso do julgamento do mensalão, até que foi brando na sua avaliação do voto dos embargos infringentes pelo decano dos ministros do Supremo. Afirma o jornalista no seu blog de Veja: “O destino foi bastante cruel com o venerando ministro Celso de Mello na reta final de sua longa trajetória no Supremo Tribunal Federal (STF), aonde chegou aos 43 anos, em julho de 1989, indicado por José Sarney. Caso não antecipe a sua aposentadoria, deixa a corte em novembro de 2015, quando completa setenta anos. Ao longo desse tempo, as mais variadas correntes de opinião, com visões as mais distintas, souberam apreciar a sua retidão, o seu caráter, a sua seriedade. Jamais se furtou, quando achou conveniente, a dizer palavras muito duras e severas, como quando chamou os mensaleiros de marginais do poder”.

    Afirmo, contudo, que o ministro Celso de Mello não soube interpretar a demanda da sociedade brasileira em prol de uma justiça que realmente iguale todos os brasileiros perante a lei. Para os petralhas, as vantagens dos embargos infringentes. Para o resto, a dura lex! O destino foi cruel com o ministro, que não esteve à altura da responsabilidade que a República colocou nas suas mãos. Os heróis de ontem, como Pétain na França que mergulhou na servidão ao nazismo na vergonha de Vichy, podem cair hoje do seu pedestal por falta de lucidez e de coragem.


    A infeliz decisão do Supremo só faz aumentar a já intolerável sensação de impunidade no Brasil e dá armas aos criminosos que, em bando, pretendem instaurar o regime totalitário e nauseabundo do crime organizado sobre a República. Já tem advogado sem vergonha que denuncia a pouca representatividade do PCC na tomada de decisões políticas! Daí para a anarquia pura e simples e o conflito civil generalizado é só um passo! Deus nos guarde! A nefasta aprovação dos embargos infringentes, mais do que um deslize do Supremo, foi uma infeliz decisão que não se coaduna com os desejos da Nação brasileira em prol de mais justiça. Veremos se reforçar a tendência ao estabelecimento de um peronismo à brasileira, que consolidará no comando da República uma malta de aventureiros e criminosos que todos ansiávamos ver fora do páreo.

    quarta-feira, 25 de setembro de 2013

    Mensalao: um julgamento lamentavelmente politizado, infelizmente...

    ...e para vergonha do STF, que criou um inferno para si mesmo (com a conivência de companheiros, inclusive internos) e que promete politizar, e ridicularizar, ainda mais a suprema corte (minúsculas obrigatórias, estrito e lato senso).
    Nunca antes, neste país, tivemos um supremo tão baixo e tão sem credibilidade como o atual (e seguramente no futuro previsível, quando a corte recuará e baixará aunda maus).
    Prossegue, portanto, o desmantelamento das institições brasileiras pelo partido totalitário.
    Paulo Roberto de Almeida

    Nova chance a condenados não altera ‘julgamento político’, diz direção do PT

    Fernando Gallo

    O Estado de S. Paulo, 24/09/2013


    O presidente do PT? Rui Falcão, afirmou ontem que a decisão do Supremo Tribunal Federa! de dar uma nova chance a parte dos condenados do mensalão "não mudou a qualidade do julgamento". Para Falcão, o processo "foi eminentemente político". O secretário-geral do partido, Paulo Teixeira, afirmou que, ao aceitar os embargos infringentes, os ministros da Corte poderão "corrigir equívocos".
    Na semana passada, o STF decidiu aceitar os embargos infringentes, recurso que dá aos condenados o direito de nova análise de crimes pelos quais foram condenados - desde que o julgado tenha tido pelo menos quatro votos pela absolvição.
    A medida concede uma segunda chance, por exemplo, ao ex-ministro José Dirceu. Condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha, ele poderá pedir novo julgamento para este último crime e, se for absolvido, livrar-se do cumprimento de sua pena em regime fechado. José Genoino, ex-presidente do PT, e Delúbio Soares, ex-tesoureiro do partido, também poderão pedir embargos infringentes para o crime de quadrilha.
    Críticas. Foi a primeira declaração de Rui Falcão desde a decisão pelo novo julgamento. O assunto não esteve na pauta oficial da reunião de ontem da Executiva do partido em São Paulo - o único documento com a posição do PT sobre o julgamento foi divulgado em 14 de novembro, já com críticas ao Supremo.
    Nas declarações à imprensa de ontem, as críticas aos magistrados foram reiteradas, mesmo diante de um resultado positivo para os réus do caso.
    Falcão avaliou que a aceitação dos embargos não altera o fato de o STF ter decidido, na visão dele, "em cima de suposições e presunções". "Continuo entendendo que foi um julgamento eminentemente político, que condenou os companheiros sem provas, baseado em indícios, suposições e presunções, que aplicou a teoria do domínio do fato, que é uma coisa totalmente despropositada. Não mudou a qualidade (do julgamento). Simplesmente deram acolhida a uma coisa que vale para qualquer um que tenha sido julgado só pelo STF e tem direito a um segundo julgamento, uma segunda jurisdi ao que é um princípio universal
    Paulo Teixeira - deputado federal que disputará em novembro, com Rui Falcão, a eleição interna para o comando do PT -disse esperar que a Corte possa "ter mais tranquilidade" para "corrigir equívocos". "Tem penas desproporcionais, condenações sem provas. Esperamos que nessa fase possa haver maior equilíbrio", afirmou Teixeira, segundo quem há no partido a percepção de que o Supremo sofreu influências externas na hora de julgar os petistas e condená-los, no entendimento final da Corte, por montar um esquema de desvio de verbas públicas a fim de comprar votos no Congresso entre os anos de 2003 e 2005, no primeiro mandato do ex-presidente Lula.
    Ainda ontem, em entrevista ao site da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, o ex-secretário-geral da Presidência do governo Lula Luiz Dulci atacou a oposição, classificando-a de "golpista". Na avaliação das críticas aos governos petistas, Dulci, hoje dirigente do Instituto Lula, não mencionou o processo do mensalão, mas disse que há uma "judicialização" da política.
    Prazos. Também ontem, o ministro do Supremo Luís Roberto Barroso entregou seu voto por escrito para publicação.
    O acórdão do caso, porém, só será publicado quando todos os 12 ministros do STF entregarem seus votos. A previsão é que o início do julgamento dos embargos infringentes ocorra apenas em fevereiro de 2014 -ano de eleições presidenciais no País. O relator dos recursos será o ministro Luiz Fux.

    sexta-feira, 20 de setembro de 2013

    Nao e' so' pelos 170 milhoes roubados pelo PT, senhores juizes... - Reinaldo Azevedo

    Reinaldo Azevedo, 20/09/2013

    Trinta pessoas protestaram na Avenida Paulista contra a admissão dos embargos infringentes na quarta-feira. Cinco atrizes postaram nesta quinta foto no Instagram em que aparecem, vestidas de preto com a legenda “atrizes em luto pelo Brasil”: Carol Castro, Rosamaria Murtinho, Nathália Timberg, Suzana Vieira e Barbara Paz. Aumentou meu respeito por elas. Artista que hoje não exibe o nariz marrom diante do partido do poder é coisa rara. Isso não quer dizer, obviamente, que sejam antipetistas — o que não tem a menor importância. Trata-se somente de um protesto contra a impunidade. No Distrito Federal, um grupo enviou 37 pizzas para o STF, endereçadas a Ricardo Lewandowski, que está tendo o seu trabalho devidamente reconhecido. Aqui e ali, houve outras pequenas manifestações de indignação. Mas resta evidente que nem o advento do deputado-presidiário nem o risco de o julgamento do mensalão desandar comoveram as ruas.
    Quando Roberto Barroso, o “novato”, e Celso de Mello, o decano, decidiram demonizar as “multidões”, vociferando contra o clamor popular, eu fiquei aqui a me perguntar: “Mas a que clamor se referem estes senhores? Onde estão as multidões?”. Os truculentos já haviam expulsado do espaço público o povo de verdade enquanto aqueles dois batiam a mão do peito para exaltar a própria independência. Foi constrangedor. Não honra a biografia de um e não ajuda a construir a do outro. A miríade de grupelhos de esquerda, muitos deles financiados com dinheiro público, que alimentavam os protestos por intermédio das redes sociais já havia retirado o time de campo, num rápido processo de desmobilização. O PT foi muito eficiente no trabalho de contenção. E os setores da imprensa que estavam brincando de Primavera Árabe resolveram arrumar outra distração.
    Se eu tivesse alguma dúvida — na verdade, como vocês sabem, nunca tive — sobre o real caráter das manifestações de junho, ela teria se dissipado agora. Não era “pelos 20 centavos”? Pois bem. Poder-se-ia criar agora o movimento “não é pelos R$ 170 milhões” — mais ou menos o valor a que se chegou na pequeníssima fatia do mensalão que foi investigada. O poder real do PT está hoje nos fundos de pensão, que conseguiram passar incólumes pela investigação. Onde estão os protestos?
    Não é só pelos R$ 170 milhões, mas é também contra a impunidade.
    Não é só pelos R$ 170 milhões, mas é também contra um grupo que ousou se organizar para tomar a democracia de assalto.
    Não é só pelos R$ 170 milhões, mas é também contra uma Justiça que se mostra incapaz de garantir aos réus as seguranças próprias de uma democracia e, ao mesmo tempo, demonstrar que essa democracia repudia o malfeito.
    Não é só pelos R$ 170 milhões, mas é também contra uma óbvia operação de captura do Poder Judiciário por um partido político.
    Não é só pelos R$ 170 milhões, mas é também contra uma Justiça que parece organizada para proteger malfeitores.
    Não é só pelos R$ 170 milhões, mas é também contra o uso de dinheiro público para criar na Internet e nas redes sociais uma teia de apoio a larápios, que fraudaram o estado de direito.
    Não é só pelos R$ 170 milhões, mas é também contra o uso de uma lei de incentivo à cultura para cantar as glórias de corruptos, peculadores e quadrilheiros.
    Não é só pelos R$ 170 milhões, mas é também contra partidos e lideranças de oposição que silenciam diante do risco da impunidade.
    Que fique claro! Não estou duvidando dos motivos de milhares que foram às ruas e da justeza de algumas de suas reivindicações. Estou aqui a destacar, isto sim, que aqueles protestos foram superestimados e, em boa parte, estimulados por setores da imprensa que tentam colar nas redes sociais num esforço meio desesperado e vão de acompanhar o frenesi. Ao fazê-lo, perdem profundidade, capacidade de análise e, infelizmente, a devida prudência.
    Quaisquer que tenham sido os motivos que detonaram aqueles protestos — já escrevi muito a respeito —, nada aconteceu de mais grave do que o Poder Legislativo tentar inaugurar a sua “facção Papuda” e o risco de a corte suprema sofrer uma desmoralização inédita em tempos democráticos. Não, senhores! Não é só pelos R$ 170 milhões — só o escândalo recém-descoberto no Ministério do Trabalho pode chegar a R$ 400 milhões.

    É pela afronta à dignidade.

    O minimo que voce precisa saber sobre o Mensalao - Olavo de Carvalho

    OLAVO DE CARVALHO 
    Comentário completo de Olavo de Carvalho em 10 de outubro de 2012, transcrito por Felipe Moura Brasil.
    Posted:  19 SETEMBRO 2013

    "Antes de tudo mais, tem uma coisa que eu quero dizer pra vocês: eu não estou compartilhando desse entusiasmo nacional pela punição dos mensaleiros. Eu não acho que isso foi uma grande vitória da democracia, eu não acho que isso foi um marco histórico, eu acho que isto é mais uma ilusão de uma classe média IDIOTA, que acha que pode combater esse esquema petista simplesmente aplicando a lei, ou seja: sem nenhuma tomada de posição ideológica, sem nenhuma análise estratégica, nem nada. Que acha que pode mover um combate contra uma força política tremenda usando apenas acusações criminais de corrupção contra os indivíduos. E por que é que eu acho isso?

    Em primeiro lugar: nada do que foi feito no Mensalão, absolutamente nada, foi feito apenas para proveito individual do sr. Fulano ou do sr. Beltrano. Tudo isso está perfeitamente integrado dentro da estratégia do partido e eles entraram nisso com muito 'boa' consciência porque afinal de contas estão jogando para o partido e não para 'nós' [eles] mesmos. Isso é tradicional nesses movimentos esquerdistas.
    Vocês devem ter assistido àquele filme sobre o Jimmy Hoffa [nos EUA, 'Hoffa'; no Brasil, 'Hoffa - Um homem, uma lenda'], com o Jack Nicholson, em que o sujeito roubou, roubou, roubou, mas ele estava sempre com a consciência tranquila, porque 'Não, eu não roubei pra mim, roubei para os sindicatos... Claro que eu levei lá a minha comissão, mas o objetivo fundamental era fortalecer o movimento revolucionário'. Então, sem investigar direitinho qual é a função estratégica do mensalão dentro do projeto petista total, você não vai entender é coisa nenhuma.

    E, ademais, o que vai acontecer com esses mensaleiros condenados? No máximo vão pegar uma prisão domiciliar por um tempinho, vão continuar com as suas atividades normais e nada de pior vai lhes acontecer. Quanto ao sr. Lula, parece que não vai ser tocado. Nem o Lula, quanto mais o partido, meu Deus do Céu! Quer dizer: o que está acontecendo no Brasil, há anos, é uma guerra assimétrica, onde um lado pode roubar, trapacear, mentir, difamar, fazer o que quiser, e o outro não pode sequer tomar uma posição ideológica: 'Nós vamos aqui apenas nos ater ao aspecto jurídico criminal...' Ou seja: é claro que isso é guerra assimétrica. Um lado tem que lutar com uma mão amarrada.

    E, ademais, celebrar a condenação de corruptos - vocês já viram quantas vezes vocês já fizeram isso?

    Quando o Maluf foi condenado, foi uma festa nacional: 'Acabou a corrupção no Brasil! Agora é um novo Brasil!'... Tudo no Brasil é um marco histórico. O sujeito dá um peido: é um acontecimento histórico! [Risos] Depois, na queda do Collor, que roubou infinitamente menos que essa gente, foi uma festa maior ainda: 'É a festa democracia! É o novo Brasil!' etc. Vocês vão cair nessa de novo, gente? Puta merda...

    Quer dizer que o problema do Brasil não é a corrupção. O problema é que a corrupção foi tanta que o padrão de julgamento moral já baixou. Então é aquele negócio que fala o Reinaldo Azevedo: 'Não, eu podia estar roubando, eu podia estar matando, mas estou aqui trabalhando, portanto sou um santo.' Já estão pensando até em lançar o Joaquim Barbosa presidente da República.

    Vocês não lembram da campanha do Betinho? O Betinho foi um estrategista de esquerda, marxista, que descobriu que a caridade pode dar lucros políticos. Tradicionalmente a esquerda era contra as obras de caridade, porque dizia que isso amortecia a consciência social do proletariado, aplacava a revolta dos pobres e tal. E um dia chegou um cara, que tinha um QI 12,6 - contrastando com a média de 12,4 -, que era o Betinho, e disse: 'Não... Oh, raios, nós estamos perdendo oportunidade! Porque ficam essas senhoras do movimento de arregimentação feminina, federação das indústrias, esse pessoal todo fazendo caridade e se promovendo com a caridade, e nós ficamos parecendo os malvados da história. Então vamos nós monopolizar a caridade.' E foi isso que fez. E isto foi a origem do Bolsa Família, gente! Já esqueceram tudo?

    E ele dizia claramente em entrevista: 'Não, isso aí não adianta nada. Só o que vai resolver é a socialização dos meios de produção.' Quer dizer: o cara era comunista, ortodoxo mesmo. E sabia que a caridade não ia resolver nada na perspectiva dele e que, portanto, aquilo era só para melhorar a imagem das esquerdas e criar eleitorado. Ele praticamente confessava isso.

    Não obstante, o Betinho constou durante anos como o protótipo da bondade. Chegaram a propor a beatificação do Betinho! A revista Veja soltou a capa 'Um santo brasileiro'. Quer dizer que, para ser santo, é só você inventar um truque para melhorar a imagem do seu partido - pronto: você já virou santo. Agora, o Joaquim Barbosa mostrou alguma competência - mínima, hein - como juiz, quer dizer, cumpriu a sua obrigação, fez o que qualquer juiz deveria ter feito no lugar dele, pronto: ele já 'virou' presidente da República, porra.

    Vocês já ouviram falar do Princípio de Peter? Laurence J. Peter, que escreveu o livro 'Todo Mundo é Incompetente, Inclusive Você'. Leiam esse livro. Ele diz o seguinte: numa empresa ou num órgão estatal, o sujeito faz o serviço dele direitinho e daí ele é promovido. Faz de novo o serviço direitinho, é promovido. Aí, promovido pela terceira vez, ele começa a fazer burrada, daí para e não sobe mais. Isso quer dizer que todos os caras que estão no primeiro escalão de qualquer coisa são todos incompetentes por definição.

    [Nota do Felipe: O Princípio de Peter foi assim enunciado por Lawrence J. Peter: "Num sistema hierárquico, todo funcionário tende a ser promovido até ao seu nível de incompetência."]

    Então essa mania de que 'O cara deu certo aqui. Promove!', isso nem sempre funciona. Não teve gente, uns idiotas que vieram [e propuseram]: 'Olavo de Carvalho para presidente!'? Eu digo: eu seria um primor de incompetência! Puta que pariu! Não é porque eu sou capaz de fazer isto aqui que eu estou fazendo que eu sou capaz de fazer uma outra coisa. Joaquim Barbosa, a mesma coisa: não é porque ele é um bom juiz que vai ser um bom presidente da República. O presidente da República precisa de algo mais do que conhecer e respeitar as leis. O homem não administrou nem um clube de futebol, já querem botá-lo na presidência da República.

    Então isso aí mostra o barateamento das virtudes morais. E isso já é a corrupção da alma, a corrupção profunda da psique brasileira. Quer dizer: a sociedade está tão corrompida que o simples fato de o sujeito fazer o mínimo já é, para eles, o máximo. Então quer dizer: as grandes virtudes humanas, as virtudes superiores, [os brasileiros] não são mais capazes de imaginar!

    Então o que são os heróis de um país que mede as coisas nessa escala? Quer dizer: se aparecer um santo de verdade, vocês não são capazes de reconhecer. Um herói de verdade, não são capazes de reconhecer. Um sábio de verdade, não são capazes de reconhecer. O pessoal mede [por esses padrões muito baixos]... O que é um gênio no Brasil? Gênio [no Brasil] é Chico Buarque de Hollanda, porra! Se você mostra uma coisa que é superior, como por exemplo eu mostrei o Mário Ferreira dos Santos, as pessoas não sabem o que é que é, então não falam. Mas o Chico Buarque, eles são capazes de perceber alguma coisa. Então o sujeito fez uns sambinhas, pronto: é gênio! E [as pessoas no Brasil] não entendem que esta descida do padrão de julgamento moral é o que facilita toda a operação dessa gente, tipo mensalão. Então não se incomodem, meus filhos: vocês prendem esses, vai vir coisa pior.

    Sobretudo aguardem... O pessoal que é da esquerda mesmo e que está fazendo discursos inflamados contra os mensaleiros, eles fazem discursos inflamados por quê? 'Essa geração da esquerda acabou, eles se ferraram, agora é nossa vez.' Exatamente como o PT fez nas décadas de 1980 e 1990, porque o PT fez carreira na base da acusação de corrupção. Foi o PT que acabou com a carreira do Maluf, que acabou com a carreira do Antônio Carlos Magalhães, que acabou com a carreira do Collor de Mello, que acabou com a carreira de todos os seus inimigos posando como 'o partido ético'! Chamava-se na época, o pessoal dizia: 'o partido ético', meu Deus do Céu!

    Por quê? Porque isso também foi algum espertalhão lá dentro que falou: 'Não, peraí, nós vamos refrear um pouco o discurso ideológico e vamos agora usar o discurso do inimigo.' Porque a direita antigamente fazia carreira na luta contra a corrupção. Se vocês estudarem, vocês vão ver que lutar contra a corrupção era a bandeira da antiga UDN, que o Jânio Quadros(!) subiu nesta base de acusar os outros de corruptos, e o adversário principal dele era corrupto mesmo, era o Adhemar de Barros, então ele subiu nesta base, para depois chegar lá em cima e fazer o que fez. Do mesmo modo, o Fernando Collor de Mello: vocês não se lembram que ele era o caçador de marajás?

    Então quem quer no Brasil que faça carreira na base do combate à corrupção é picareta. E vai enganar vocês de novo, porra.

    Quer dizer: não que seja ruim que os caras sejam condenados, e não que os juízes não tenham feito o serviço deles direito. Fizeram, mas fizeram o mínimo. Agora, levantar o verdadeiro problema e dizer 'Peraí. Isto não é um crime praticado por tais ou quais indivíduos. Isto é um crime praticado por uma entidade chamada Partido dos Trabalhadores, que, dentro da sua estratégia geral, usou deste recurso do mensalão, como utiliza a aliança com as Farc, que é hoje, segundo documentos oficiais do governo americano, a maior distribuidora de drogas do universo!' Isto ninguém quer investigar. Perto disso, o que é que é o mensalão? O mensalão não é nada, minha gente. E ainda vem mais. Quando sair esse negócio do Carlinhos Cachoeira, esse é que vai ser legal. Porque isso aí vai sobrar pra Dona Dilma também. Então você vai ver que ainda vai [piorar]...

    Olha: as latrinas no Brasil são que nem aquelas bonecas russas, matryoshka: você abre uma latrina, tem outra latrina dentro, outra latrina dentro, outra latrina... [Risos.] Só que é o contrário da matryoshka, porque na matryoshka as bonecas vão ficando pequenininhas, no Brasil acontece esse negócio: você abre uma latrina, aparece outra maior dentro! E outra, e outra, e outra, e outra! É a merda sem fim. Por quê? Não é pegando casos isolados de corrupção que vocês vão acabar com isso, gente.

    Vocês têm que entender: há um problema estrutural permanente, que é o seguinte: vocês já notaram que, quanto mais cresce a hegemonia cultural esquerdista, mais cresce a corrupção, mais cresce a violência, mais cresce a imoralidade geral? Isso está acontecendo faz 30 anos e vocês não chegaram ainda à conclusão, porra!? Estudem um pouco, e vocês vão ver o seguinte: que é uma tradição dos partidos revolucionários de esquerda utilizar-se do direito burguês como instrumento para chegar ao poder, para em seguida não só destruir esse direito burguês, mas destruir todo e qualquer direito. Porque a ideia mesma de direito é incompatível com o marxismo. O direito, no entender do marxismo, é a vontade da elite revolucionária, que encarna o espírito da história. Então é a abolição de todo e qualquer direito e sua substituição pelo 'poder onipresente e invisível' do partido, como dizia Antonio Gramsci. É isso que eles estão fazendo, minha gente. Mas vocês não conseguem ver relação nenhuma?

    Então aqui tem uma professora que escandalizou um aluno de dez anos com um dicionário sobre posições sexuais. Então todo mundo diz: 'Oh! Que coisa!' Mas você não vê nenhuma relação entre isso e o mensalão não? Você não percebe que é a mesma coisa? Que é corromper a sociedade como um todo, em todos os seus níveis? E que este tem sido o projeto da esquerda há 30 anos? Que trinta! Quarenta! Leiam Herbert Marcuse. Leia o material da Escola de Frankfurt e vocês vão entender tudo aquilo que está acontecendo.

    Agora, o fato é o seguinte: é que vocês estão sofrendo os efeitos de uma macroestratégia de alcance continental e querem tratar disso como se fosse um problema assim: 'Ah, ele cometeu um crimezinho aqui, o outro cometeu um crimezinho ali' e, quando pega uns criminozinhos e condena, todo mundo canta vitória e diz 'É a vitória da democracia!' e bate no peito... Vocês não bateram no peito quando caiu o Collor, porra!? Hein? Vocês não lembram os caras-pintadas na rua, 'tudo' cantando o hino nacional? Vocês vão cair nisso de novo!?

    Olha aqui: luta ideológica é luta ideológica. Esse pessoal da esquerda, o objetivo deles é chegar a implantar o socialismo no continente. E uma vez que implantou o socialismo, ele não cai mais, meu filho. Porque mesmo que ele caia, continua no poder a mesma elite, como aconteceu na Rússia e na China. Então isso aí é o poder eterno, é o que esses caras querem, porra. E eles estão fazendo tudo para isto.

    Cada vez que eles usam o discurso moralista burguês, o pessoal burguês todo se comove. Diz: 'Oh! Ele é de esquerda, mas é honesto! Ele é de esquerda, mas não rouba!' Meu Deus do Céu! Esquerdista honesto é quadrado redondo, porra. O processo revolucionário esquerdista, ele é desonesto na base. A noção mesma de honestidade é objeto de chacota entre os marxistas. É que vocês não estudam.

    Se vocês querem saber se um sujeito é comunista, vocês querem saber assim: "Ah, mas pra ele ser comunista, ele tem que ser sincero.' Ah, então ele é sincero ou aproveitador? Eu falo: essa distinção só existe na sua cabeça, ô burguês. Para o marxista, isto não faz diferença. A própria noção de sinceridade... Imagina se a sinceridade da crença de um militante tem a mais mínima importância dentro de uma organização revolucionária comunista? Os seus sentimentos subjetivos não importam, meu filho! Importam as suas conexões reais, os seus compromissos materiais efetivos já assumidos, importam o quanto de poder 'nós' temos sobre você. Se você, por dentro da sua cabeça, está complemente contra, não importa, porra. 

    Então quer dizer: é uma noção religiosa de sinceridade, da fé - eu sempre pego a categoria cristã da fé - que [vocês] aplicam no comunismo. No cristianismo, é importante ter a fé sincera. Mas, se quer saber, esse conceito de fé não existe nem nas outras religiões! No Islam, não importa se o cara é hipócrita. Você não precisa ter fé nenhuma. É só fazer a declaração pública. Isso é oficial, porra. Eu conheço a teologia islâmica, porra. Escrevi um livro, ganhei um prêmio do governo da Arábia Saudita, eu entendo alguma coisa desse negócio, porra. Então a sinceridade não tem importância no Islam. Porque o Islam não é um objeto de fé como o cristinianismo, fé individual. Não. O islam é uma comunidade. Então, qual é o equivalente da fé no budismo e no hinduísmo? Acontece que essa noção de fé, ela, além de ser religiosa, só se aplica a UMA religião, que é o cristianismo. E você, trouxa, pega tudo que existe, não só as outras religiões como até ideologias políticas, e quer aplicar esse conceito lá. Então você pergunta: 'Mas esse cara é comunista mesmo ou ele é aproveitador?' Eu digo: quanto mais comunista, mais aproveitador. E quanto mais sincero, mais mentiroso. Essa categoria não se aplica nesses casos. Mas não adianta explicar.

    Eu não sei quem foi que disse: 'Nós não acreditamos na mentira, porque fomos enganados. Nós acreditamos porque queremos.'

    Então não vem para cima de mim com esta nova festa cívica. Eu já estou com 65 anos de idade, eu já vi tanta festa cívica, eu já vi tantos momentos históricos que no dia seguinte ninguém lembra mais... Por exemplo, se você falar: campanha do Betinho, quem é que se lembra hoje? Quem de 20, 25 anos sabe o que é campanha do Betinho? Nem sabe. Passou! Foi mais um peido histórico.

    Peido uma hora faz barulho, mas passa com o vento. [Risos] Então isso daí foi mais um peido histórico. Pode se transformar em alguma coisa se aprofundarem as investigações e procurarem o aspecto estrutural. Mais ainda. Tem outra coisa: como esses deputados todos foram comprados para votar determinadas leis e medidas oficiais, essas medidas oficiais não valem. Tem que ser tudo revogado. Isto quer dizer que, no mínimo, no mínimo, do crime de responsabilidade o presidente [Lula] não pode escapar. E a atual [Dilma], também não! A respeito da atual, esperem as investigações sobre o PAC, sobre o Carlinhos Cachoeira, que vocês vão ver que vai sobrar para ela também. Mas vai sobrar só nominalmente. Outra coisa: o Zé Dirceu pode dizer 'Não, eu sou réu primário, então não vou para a cadeia'. Réu primário, porque todos os crimes anteriores dele foram anistiados. Quer dizer: o sujeito faz o crime, todo mundo da esquerda faz o crime, e a direita apaga. Faz o crime, e a direita apaga. Estão fazendo a mesma coisa na Colômbia."

    * * *

    Nota de rodapé: Isto foi apenas um programa de rádio, ok? Para uma análise completa do assunto em textos escritos, veja o capítulo 'Petismo', especialmente a seção 'Tradição & estratégia', do best seller de Olavo de Carvalho, organizado por Felipe Moura Brasil, 'O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota':https://www.facebook.com/ominimoquevoceprecisasaberparanaoserumidiota.