Aécio diz que vai ser oposição vigilante e fiscalizadora
para que os escândalos não sejam “varridos para debaixo do tapete - O Globo
/ Pablo Jacob
RIO - Aécio Neves chega caminhando
sozinho pela rua. Vem do pediatra e entra na casa do amigo onde daria
entrevista, em Ipanema, contando que os filhos gêmeos, nascidos prematuros,
engordaram. Diz que depois de olhar tanto no olho da adversária que o derrotou
na campanha mais acirrada da História não abdicará de seu papel de fazer
oposição. Admite erros. Mas diz que, pela primeira vez, o PT enfrentará uma
“oposição conectada com a sociedade, e isso os assusta”.
Como o senhor viu a entrevista da
presidente Dilma, que chamou de lorota o corte de ministérios e de ideia maluca
sua proposta de choque de gestão?
A candidata Dilma estaria muito
envergonhada da presidente Dilma. Para a candidata, aumentar juros era tirar
comida da mesa dos pobres. Três dias depois da eleição, o BC aumentou os juros.
Para a candidata, não havia inflação. A presidente agora admite que há e que é
preciso controlá-la. A candidata dizia que as contas públicas estavam em ordem,
e descobrimos que tivemos um setembro com o pior resultado da história. A
candidata dizia que cumpriria o superávit fiscal, e agora se prepara para pedir
a revisão da meta de 1,9%. Estamos assistindo ao maior estelionato eleitoral da
História. O choque de gestão, que incomoda tanto o PT, nada mais é do que
gastar menos com o Estado e mais com as políticas fins. É o contrário do que o
PT pratica. O próximo mandato, que se inicia, já começa envelhecido. A
presidente não se acha no dever de sequer sinalizar como será a política
econômica. E é curioso vermos a presidente correndo desesperada atrás de um
banqueiro para a Fazenda. Eu hoje chego na minha casa, coloco a cabeça no
travesseiro e durmo com a consciência muito tranquila. Fiz uma campanha falando
a verdade, não fugi dos temas áridos, sinalizei na direção da política
econômica que achava correta. Não sei se a candidata eleita pode fazer o mesmo.
A oposição também não está
envelhecida?
A oposição sai extremamente
revigorada da eleição. A campanha teve duas marcas muito fortes. A primeira,
protagonizada pelo PT e pela candidata que venceu: a utilização sem limites da
máquina pública, do terrorismo eleitoral, aterrorizando beneficiários do Bolsa
Família, do Minha Casa Minha Vida. Inúmeras regiões ouviram durante meses, isso
sim uma grande lorota, que, se o 45 ganhasse, seriam desfiliados dos programas.
Infelizmente, essa é uma marca perversa. Mas há uma outra, extraordinária, que
é um combustível para construir essa nova oposição. O Brasil acordou, foi às
ruas. Minha candidatura passou a ser um movimento. Nosso e desafio é manter
vivo esse sentimento de mudança, por ética.
Como atuar de forma diferente?
Pela primeira vez, o PT governará
com uma oposição conectada com a sociedade. O sentimento pós-eleição foi quase
como se tivéssemos ganhado. E os primeiros movimentos da presidente são de
desperdiçar a oportunidade de renovar, de admitir equívocos, mudar rumos. Ela
começa com o mesmo roteiro: reúne partidos para discutir um projeto de reforma
política ou uma agenda de crescimento? Não! Reúnem-se em torno da divisão de
ministérios, de nacos de poder. As pessoas não se sentam para ouvir da
presidente: "Quero o apoio para um grande projeto de país." Era o que
eu faria. A grande pergunta dos brasileiros será: para que novo mandato se não
há projeto novo de país? Para continuar distribuindo cargos e espaço de poder
para as pessoas fazerem negócios? A presidente corre o risco de começar o
mandato com sentimento de fim de festa.
O PSDB fará um “governo paralelo”?
Vamos constituir dez grupos, de dez
áreas específicas, para acompanhar as ações do governo. Comparar compromissos
de campanha com o que acontece em cada área. Queremos subsidiar nossos
companheiros, lideranças da sociedade, vereadores, governadores, parlamentares.
Isso não reforça o discurso de que
vocês precisam desmontar o palanque?
Chega a ser risível ouvir o PT falar
que é hora de descer do palanque. O PT, sempre que perdeu, nunca desceu. E
quando venceu também não desceu. E quem paga a conta são os brasileiros.
Cumprimentei a presidente pela vitória. Agora vou cumprir o papel que me foi
determinado por praticamente metade da população. Vamos ser oposição vigilante,
fiscalizadora, e não vamos deixar que varram para debaixo do tapete, como
querem fazer, esses gravíssimos escândalos que estão aí.
Mas não houve acordo na CPI da
Petrobras para blindar políticos, com apoio do PSDB?
Quero dizer de forma peremptória e
definitiva: vamos às últimas consequências nessas investigações, não importa a
quem atinjam. Até pelo nível de insegurança de setores da base do governo, o
que pode estar vindo por aí é algo muito, mas muito grave. Não depende mais
apenas da ação do Congresso ou da Justiça no país, porque essa organização
criminosa que, segundo a PF, se institucionalizou na Petrobras, tem
ramificações fora do Brasil. E outros países estão agindo. Nosso papel é não
permitir, do ponto de vista político, tentativas de limitação das
investigações. Se alguém pensou em algum acordo, e no caso do deputado Carlos
Sampaio ele foi ingenuamente levado a isso, será corrigido.
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A desconstrução marcou a campanha.
Como enfrentar isso em 2018?
O marketing petista deseduca a
população porque não permite o debate. Será que vai dar certo sempre? Queremos
transformar o Bolsa Família em política de Estado para que saia dessa perversa
agenda eleitoral. Apresentamos o projeto, e agora ficou claro porque o PT votou
contra. O PT prefere ter um programa para manipular as vésperas das eleições,
como se fosse uma bondade. Há uma manipulação vergonhosa de instituições como
Ipea e IBGE. A presidente usou o marketing de que tinha tirado não sei quantos
milhões da miséria já sabendo que a miséria aumentara. Mais um estelionato.
Setembro foi o pior mês do século em geração de emprego. Há 20 milhões de
jovens sem ensino fundamental e médio. Nossa educação, comparativamente a
nossos vizinhos, é péssima. E o governo acha que política social é o Bolsa
Família. Não. Tem que ser saúde, educação de qualidade e geração de emprego
para incorporar essas pessoas ao mercado formal.
Como o PSDB se manterá unido com uma
disputa interna que se anuncia para 2018?
Antecipar uma divisão no PSDB hoje é
uma bobagem. Não tenho obsessão em ser candidato a presidente. O que há hoje é
um PSDB, ao lado de outras forças, conectado a setores da sociedade com os
quais não estávamos vinculados. Esse é o grande fato novo. Lá na frente, o
candidato será aquele que tiver melhores condições de vencer.
Há uma nova direita indo às ruas e
pedindo a volta dos militares. Como fazer com que o PSDB não se confunda com
esse movimento?
Com nosso DNA. Sou filho da
democracia. O que houve foi a utilização de movimentos da sociedade por uma
minoria nostálgica que nada tem a ver conosco e com nossa história. A agenda
conservadora, antidemocrática, totalitária, é a do PT. Esse documento do PT,
lançado depois das eleições, é muito grave. Fala no cerceamento da liberdade da
imprensa, de um projeto hegemônico de país, sem alternância de poder. Fala de
uma democracia direta que, de alguma forma, suplantaria ou diminuiria a
participação do Congresso na definição das políticas públicas. Teve um momento
na campanha do meu avô Tancredo, em 1984, que pregaram uns cartazes em Brasília
com o símbolo do comunismo. Era um movimento da direita mais radical para dizer
que ele era comunista. Tancredo disse: "Olha, para a esquerda não adianta
me empurrar que eu não vou." Ele era um homem de centro. E, agora, eu
digo: "Para a direita não adianta me empurrar que eu não vou".
E os erros na campanha? Faltou
conexão com minorias, movimentos de base?
Faltaram poucos votos que não
conseguimos por falta de estrutura. Nas eleições municipais teremos candidatos
com capilaridade em segmentos muito mais amplos. Em dezembro, reuniremos a
Executiva com esse foco. Faremos ampla campanha, uma semana de filiação no
Brasil. Com gente nas ruas, sindicatos, universidades. Estarei em Maceió, numa
grande teleconferência, para sinalizar que o Nordeste sempre será prioridade
para o PSDB. As pessoas estão procurando saber como participar, como se filiar.
Isso nunca acontecera. Voltamos a ser depositários da confiança de parcela
importante da sociedade que nunca fez política e está querendo fazer.
Quais foram os erros em Minas? É
consenso que o senhor perdeu porque foi derrotado lá.
Ainda estou tentando entender. Meus
adversários tiveram ação organizada muito forte nas regiões mais pobres de
Minas. Temos imagens de deputados com megafones dizendo: "Aécio vai acabar
com o Bolsa Família". Os Correios não levavam nosso material, e não
estávamos atentos. Houve talvez certa negligência do nosso pessoal. E nossa
candidatura estadual também não foi bem. No segundo turno, a força do
governador eleito acabou sendo um contraponto forte. Ninguém é invencível. Eu
não sou infalível. É do jogo político. Souberam ser mais competentes do que
nós. A responsabilidade é minha mesmo. Vamos recuperar esse espaço. Lançar
candidato a prefeito em Belo Horizonte, onde ganhamos por 60% a 30%, e em todas
a grandes cidades.
E a derrota no Rio?
Eu ter tido 45% dos votos no Rio foi
um ato de heroísmo. Os dois candidatos do segundo turno estavam com Dilma. E
ainda espalharam jornais apócrifos me colocando como inimigo do Rio.
A aliança de oposição será mantida?
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É bom que a oposição tenha várias
caras. É um erro estratégico, além de gesto de absoluta arrogância, achar que
sou o líder das oposições. Não sou. Somos um conjunto de pessoas credenciadas
para falar em nome de uma parcela importante da população. Sou cioso da
autonomia do Congresso. Mas gostaria de ver alguma forma essa aliança reeditada
na eleição para a presidência da Câmara. Quem sabe num gesto em direção do PSB.
A mim agradaria, mas é uma decisão que será tomada com absoluta autonomia pelos
deputados.
O senhor sempre repete a frase de
Tancredo que ser presidente, mais do que projeto, é destino. Ainda concorda?
Não é obsessão, como jamais foi. Sou
hoje um homem de bem com a vida, conheci um Brasil novo, vibrante, com
esperança. Não é frase de efeito. Vi coisas de emocionar. Gente que via
esperança em mim. E isso é muito sério.