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sábado, 3 de abril de 2021

A participação do Brasil no golpe de Pinochet contra Allende - Peter Kornbluh (National Security Archive), by Malcolm Byrne

 National Security Archive: Brazil Abetted Overthrow of Allende in Chile 

by Malcolm Byrne



On 57th anniversary of military coup in Brazil, the National Security Archive Posts Declassified Documentation on Brazilian Regime's Effort to Subvert Democracy and Support Dictatorship in Chile 

 

New Book Reveals Brazilian Intervention to Undermine Allende, Bolster Pinochet 

 

Edited by Peter Kornbluh

 

Washington D.C., March 31, 2021 – The Chilean ambassador to Brazil, Raúl Rettig, sent an alarming cable in March 1971 to his foreign ministry titled “Brazilian Army possibly conducting studies on guerrillas being introduced into Chile.” Multiple sources had informed the Embassy that the Brazilian military regime was evaluating how to instigate an insurrection to overthrow the Allende government. The military had established a “war room” with maps and models of the Andean mountain range along the Chilean border to plan infiltration operations, stated the cable, classified “strictly confidential.” According to Rettig’s report, “the Brazilian Army apparently sent a number of secret agents to Chile who would have entered the country as tourists, with the intention of gathering more background on possible regions where a guerilla movement might operate.” No date had yet been set, one informant said, to initiate this “armed movement.” 

 

The revealing Rettig cable is one of hundreds of documents obtained from Brazilian, Chilean and U.S. archives by investigative reporter Roberto Simon for his new book, Brazil against Democracy: the Dictatorship, the Coup in Chile and the Cold War in South America. Published in Brazil last month, the book exposes the clandestine role Brazil’s military regime played in the September 11, 1973, coup that brought General Augusto Pinochet to power, as well as the Brazilian contribution to Chile’s apparatus of repression during his 17-year dictatorship. The book highlights the infamous Oval Office meeting in 1971 between President Nixon and the head of the Brazilian military dictatorship, a conversation originally revealed by the National Security Archive's publication of the Top Secret White House memcon and cited by Brazil's truth commission. 

 

"The book shows how the Brazilian military dictatorship actively worked to undermine Chile's democracy during the Allende years and, after 1973, to help the Chilean junta consolidate its power,” Simon noted in an interview with the National Security Archive. “Brazil provided direct support to, and a model for, the Pinochet dictatorship." 

 

“This book is a game changer for the historical narrative on imperial intervention in Chile,” according to Peter Kornbluh, who directs the Chile and Brazil documentation projects at the Archive. “It provides a far fuller understanding of the history of foreign violations of Chile’s sovereignty, and suggests there is more to be learned.” 


segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Golpe do Chile em 1973: o papel ativo do Brasil em apoio aos militares golpistas

O Brasil de Pinochet

Documentos chilenos revelam detalhes sobre como a ditadura militar, sob Médici, apoiou conspiradores no Chile antes, durante e após golpe que este mês completa 40 anos

O Estado de S.Paulo, 1/08/2013
Roberto Simon, enviado especial a Santiago

SANTIAGO - O expediente no Itamaraty já havia terminado quando, às 20h30 de 13 de setembro de 1973, diplomatas chilenos foram recebidos na chancelaria esvaziada, em Brasília. O presidente Emílio Garrastazu Médici estava em São Paulo, de onde telefonara dando ordens expressas para que o Brasil se tornasse o primeiro país a reconhecer a junta militar que derrubara o governo de Salvador Allende. Um avião com "20 toneladas de medicamentos" estava a caminho de Santiago.
Pinochet e tropas militares no palácio presidencial - Martin Thomas/Reuters
Martin Thomas/Reuters
Pinochet e tropas militares no palácio presidencial
"É certo dizer que o novo governo do Chile encontrará no Brasil um poderoso aliado", escreveu, emocionado, no primeiro telegrama à junta militar, o encarregado de negócios chileno em Brasília, Rolando Stein - o embaixador de Allende no País, o jurista Raúl Rettig, que décadas depois chefiaria a comissão da verdade chilena, havia renunciado naquela manhã. Stein acertou na mosca.
Com base em arquivos brasileiros, já se sabia que o governo Médici deu amplo apoio aos conspiradores chilenos antes, durante e depois do golpe que este mês completa 40 anos. Empresários brasileiros enviaram dinheiro a grupos de direita no Chile, o embaixador em Santiago, Antonio Cândido da Camara Canto, atuou como pôde para minar o governo Allende (mais informações nesta página) e, dias após a queda dos socialistas, agentes brasileiros foram enviados ao Estádio Nacional e a outros centros de repressão para prestar "consultoria" a colegas chilenos.
Estado, porém, teve acesso a centenas de telegramas diplomáticos secretos do Chile recentemente liberados - e inéditos no Brasil - que revelam novas informações sobre o grau e as formas de participação do governo Médici na derrubada do governo da Unidade Popular (UP). Ao longo desta semana, o jornal publicará reportagens exclusivas sobre como o Brasil ajudou a empurrar o Chile para o período mais sombrio de sua história.
Uma das revelações mais impressionantes dos documentos chilenos é que, logo após chegar ao poder, o governo Allende recebeu informações precisas sobre as atividades da ditadura brasileira contra o Chile - incluindo planos para derrubar à força a UP. Segundo um telegrama "estritamente confidencial", um jornalista chileno vinculado ao ex-presidente Jorge Alessandri, de direita, alertou o embaixador de Allende em Brasília que havia sido procurado "por um general brasileiro amigo". O militar lhe propôs ajuda para "organizar no Chile um movimento de resistência armada (...), estruturado em forma de guerrilha, (...) contra o ‘perigo vermelho’."
No mês seguinte, a embaixada recebeu novas e mais detalhadas informações sobre o plano de insurgência no Chile. Desta vez, porém, o alerta partiu de um informante altamente improvável: um oficial brasileiro, "com ideias políticas de esquerda", vinculado ao serviço de inteligência do Exército.
Por meio de um intermediário, o militar fez chegar a um secretário da embaixada chilena a informação de que, dentro do Ministério do Exército, no Rio de Janeiro, funcionava uma sala de operações, com maquetes da Cordilheira dos Andes e mapas, para estudar e planejar uma guerrilha anticomunista no Chile. Brasileiros participariam apenas como instrutores e os combates seriam travados por civis chilenos. Mais: como parte dos preparativos, o Exército do Brasil teria enviado "diversos agentes secretos, que entraram no Chile como turistas".
Um cidadão chileno que viva em São Paulo "e merece toda confiança" também afirmou à missão diplomática que um "corpo do Exército nessa cidade estaria procurando voluntários chilenos para empreender uma aventura bélica" no Chile. A articulação estaria sendo feita com ajuda de integrantes da Fiducia - equivalente chilena à Tradição Família e Propriedade (TFP) - que haviam se mudado para São Paulo.
Embaixador suíço. O militar brasileiro, cuja identidade não é revelada nos documentos, passou outro recado importante ao governo Allende. Entre os 70 "subversivos" brasileiros que foram ao Chile no ano anterior, trocados pelo embaixador suíço, Giovanni Bucher, havia dois espiões do Exército brasileiro. A governo Médici havia deliberadamente atrasado a negociação para libertar os presos políticos com o objetivo de colocar os infiltrados em território chileno. Lá, eles deveriam coletar informações e se comportar como "agentes provocadores".
À época, cerca de 5 mil exilados brasileiros viviam no Chile, onde conduziam intensas atividades de denúncia à ditadura. Os documentos chilenos mostram que o embaixador do Brasil em Santiago, Antônio Cândido da Câmara Canto, várias vezes apresentou protestos formais ao governo em razão de artigos e declarações de opositores brasileiros à imprensa local. Vários brasileiros que estiveram no Chile, consultados pelo Estado, disseram que muito provavelmente eles eram monitorados por meio de espiões.
O embaixador de Allende no Brasil chama atenção para o caso de duas senhoras brasileiras, parentes de exilados, que foram presas pela Aeronáutica no Aeroporto do Galeão, no Rio, ao desembarcarem do Chile, no dia 19 de janeiro daquele ano. Elas traziam cartas de brasileiros exilados, incluindo uma mensagem de Almino Afonso, ex-ministro do governo João Goulart, ao deputado Rubens Paiva. O embaixador chileno em Brasília acreditava que elas haviam sido delatas por informantes da ditadura entre os brasileiros em Santiago. No dia seguinte ao caso no Galeão, Rubens Paiva foi preso em sua casa por agentes que se diziam da Aeronáutica.

Diplomata brasileiro tinha laços com oficiais

01 de setembro de 2013 | 2h 10
SANTIAGO - O Estado de S.Paulo
Quando o rádio comunicou a morte de Salvador Allende, quase todos os funcionários da embaixada brasileira em Santiago levantaram-se em sinal respeito. "Foi uma cena horripilante", lembra José Viegas, que servia no Chile como segundo secretário e, três décadas depois, se tornaria ministro da Defesa do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
A embaixada ficava a poucas quadras do Palácio de la Moneda. Os funcionários ouviram os estrondos do bombardeio e viram os caças sobre Santiago. A diplomacia brasileira, porém, estava longe de ser mera espectadora. "Houve muita coisa nebulosa naquela embaixada, mas o principal passou pelo SNI (Serviço Nacional de Informações), que operava um canal paralelo dentro da missão, e pelo próprio embaixador (Antônio Cândido da Câmara Canto)", diz Viegas.
Câmara Canto era colega de hipismo e tinha laços com vários dos oficiais que lideraram o golpe. O embaixador americano, Nathaniel Davis, afirmou, anos depois, que o diplomata brasileiro o convidou, em março de 1973, para organizar um golpe contra Allende.
Segundo duas fontes que estavam no Itamaraty à época, um dos últimos encontros dos chefes das quatro forças chilenas (as três armas e os carabineros) ocorreu dentro do palacete onde funcionava a embaixada brasileira. A ocasião foi a festa do 7 de Setembro - quatro dias antes do golpe. Tradicionalmente, os oficiais chilenos prestigiavam a celebração da independência na missão brasileira. Câmara Canto teria reservado uma sala para os militares - mais tarde, ele recebeu dos chilenos o carinhoso apelido de "o quinto membro da junta militar".
Na tarde do dia 13 de setembro, o embaixador surpreendeu os generais chilenos ao notificá-los de que o presidente Emílio Garrastazu Médici, em apoio ao golpe, decidira reconhecer imediatamente o novo governo. Horas depois, o encarregado de negócios chileno em Brasília, Rolando Stein, era chamado ao Itamaraty para receber a mesma informação. "Foi uma demonstração da profunda amizade do Brasil", escreveu Stein em oficio levado a Santiago por um dos adidos militares da embaixada. / R.S.