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domingo, 29 de outubro de 2017

Sobrevivendo a um ataque de abelhas - Claudio de Moura Castro

Só posso dizer que o relato é impressionante.
Paulo Roberto de Almeida


Escalada, abelhas... e quatro dias na UTI!

Claudio de Moura Castro

Era um passeiozinho menor. A estrada abandonada virou picada e logo acabou. Decidi subir o restante pelo meio do mato. Mas virou escalada. De repente, topo com uma casa de abelhas (das que moram no chão). Não havia volta. Continuei, sendo acompanhado por um séquito cada vez maior das moradoras. Logo perdem a cerimônia e começam a picar. Pouco adiante, perco as forças. Como avançavam nas pálpebras, não conseguia discar o celular. Finalmente, atendeu o gerente do Condomínio que mobilizou o socorro. Duas horas depois, fui achado. Com cordas e grande competência os bombeiros guindam-me do buraco.

Na ambulância, comecei a vomitar abelhas, enquanto me davam adrenalina e morfina. Fui para a respeitada UTI do Hospital João XXIII. Com Gilettes, as enfermeiras retiraram quase mil ferrões. Para a família, a médica informa que julgava o caso perdido. Mas parafraseando Mark Twain, as notícias da minha morte foram amplamente exageradas. Sobrevivi!

Por quatro dias fiquei, como assombração, em uma sala com uma dúzia de camas. À minha frente estava alguém que tentou assaltar um ônibus mas foi defenestrado pelos passageiros. Uma pesada corrente atava seu pé à estrutura da cama e, a porta, policiais brandiam metralhadoras.

Dia e noite, brilhavam as luzes.  Como estão quase todos entubados e parecendo mais para lá do que para cá, as dezenas de funcionários e médicos conversavam, sem qualquer esforço para moderar o volume. Alguns falavam de medicamentos, uma do biquíni novo, outra da troca de turno com a colega. Em certas horas, entravam bandos de estudantes de medicina, bebendo as doutas palavras do médico.

Cada um tinha seu serviço. À minha cama, um vinha com remédio para isso, outro com injeção para aquilo, um medir a glicemia, outro para aplicar insulina, um para fazer eletro, outro examinava os pulmões. A pressão e temperatura eram conferidos amiúde. O toxicologista aparecia de vez em quando. O otorrino, para tirar abelhas do nariz e ouvido. A endocrinologista comandava o espetáculo. Ninguém mais do que eu reconhece a competência de cada um e a capacidade do time de interagir produtivamente com os colegas. Não havia a correria nem o nervosismo dos filmes de TV. Todos numa boa, conhecendo a sua missão.

Mas neste ambiente - e na pobreza orçamentária de um hospital público - a prioridade é manter vivo o corpo. A alma e o conforto do paciente que esperem. Entrei e saí sem por os pés no chão. Não há vaso sanitário ou chuveiro. Todos só de fralda e ganhando banho de gato. Pedi uma pastilha para a garganta, a médica olhou para mim como se estivesse exigindo uma taça de Veuve Clicquot. Tampouco havia pasta e escova de dentes. As pálpebras mordiscadas pediam um banho de soro fisiológico a cada tantos minutos. Era um luxo que os atendentes relutantemente acediam.

Mais dois dias em outro hospital e voltei para casa. Um amigo perguntou-me se tentei  identificar as abelhas na Internet, contemplando as suas fotos. Selecionei meus melhores palavrões para a resposta.