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segunda-feira, 12 de abril de 2021

O balanço de uma gestão catastrófica: a Era dos Absurdos no Itamaraty - Paulo Roberto de Almeida

Como eu me havia proposto, uma análise das mentiras propagadas pelo ex-chanceler acidental em seu balanço fraudulento da pior gestão da história do Itamaraty, e dos anais da diplomacia mundial.


O balanço de uma gestão catastrófica: a Era dos Absurdos no Itamaraty

 


Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor de Economia Política no Uniceub.

(www.pralmeida.orgdiplomatizzando.blogspot.com;

https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida)

 

 

Nota introdutória: diplomatas costumam preparar textos para seus superiores, para discursos ou artigos, ou notas para entrevistas. Eu fiz isso dezenas de vezes em minha carreira e tenho um lista completa (não divulgada) de textos que fiz para presidentes (nenhum da ditadura), chanceleres ou chefes de secretarias ou departamentos do Itamaraty. Geralmente escolhemos adjetivos e qualificativos positivos, justificando de forma inteligente aquilo que os acadêmicos e jornalistas poderiam criticar como sendo pouco compatível com a realidade ou ações que nem sempre deram os resultados esperados. O tom geral, como todos sabem, é defender a verdade oficial e apresentar uma versão rósea da política externa, como sendo a melhor possível nas circunstâncias dadas. Creio ter feito rascunhos para todos os presidentes e chanceleres desde a redemocratização, menos para o ministro (duas vezes) Celso Lafer, que gostava ele mesmo de preparar seus pronunciamentos (mas me lembro de ter participado em reuniões de gabinete com Luiz Felipe Lampreia (sobre problemas da dívida externa) e com Celso Lafer (sobre questões do Mercosul). Tampouco ofereci subsídios aos patronos da diplomacia lulopetista, pois que eles dispensaram meus serviços à Casa, o que me deu o lazer de ler muito na Biblioteca do Itamaraty e até de preparar alguns livros (entre eles o de 2014, Nunca antes na diplomacia, que não deve ter feito muito sucesso entre eles). 

De volta ao trabalho, depois do impeachment de 2016, colaborei o melhor que pude como diretor do think tank do Itamaraty, o Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, tendo deixado um relatório, ao final de 2018, listando as dezenas e dezenas de encontros com acadêmicos e outros profissionais ao longo de dois anos e meio à frente do IPRI. Tão pronto conhecido o resultado das eleições de outubro daquele ano, e escolhido o chanceler, tinha certeza de que seria exonerado do cargo, e instrui meus auxiliares a buscarem “abrigo” em outros setores da Secretaria de Estado ou no exterior. Vários colegas me recomendaram que eu tratasse de conseguir um posto no exterior, mas preferi continuar à frente do IPRI enquanto fosse possível. Logo no primeiro dia da nova administração, em janeiro de 2019, fui instruído a “não fazer nada” (assim mesmo), até que as novas chefias decidissem sobre um programa de trabalho que já estava aprovado pelo Conselho da Funag desde o ano anterior. Estávamos entrando no regime da censura oficial, o que me lembrou os tempos do regime militar, quando eu fui fichado pelo SNI como “diplomata subversivo” e tive de escrever artigos sob outros nomes. Uma revista com a qual eu havia colaborado, e que tinha ficado pronta em dezembro de 2018, 200, dedicada ao bicentenário da independência, foi sequestrada pelos novos censores, antes mesmo da inauguração do novo regime, e depois ordenada sua eliminação, pura e simples (um prejuízo material de mais de R$ 70 mil, ademais da perda cultural e intelectual). Tempos duros viriam.

Fui exonerado, como previsto, e submetido à humilhação de passar à chefia de um secretário na Divisão de Comunicações e Arquivos, onde obviamente não havia exatamente uma missão para mim. Dediquei-me, como sempre faço nesses momentos de travessia do deserto, a leituras na Biblioteca e à preparação de novos livros, contemplando regularmente todos os desastres diplomáticos em curso, sob a gestão aparente do chanceler acidental, mas totalmente submisso aos ineptos que possuíam controle absoluto sobre todas as suas ações e dizeres. Tratou-se, se ouso a expressão, do primeiro capacho de que temos notícia na história bissecular de ministros de Estado das Relações Exteriores, tão desastrosa a sua gestão que sua demissão era regularmente anunciada pela imprensa e ansiada pelos diplomatas.

Agora que terminou, o capacho exemplar vem, supostamente, prestar contas de sua catastrófica gestão à frente do Itamaraty, do qual foi escorraçado por revolta senatorial, repúdio dos homens de negócio e total desprezo por parte dos colegas. A peça fantasiosa, falaciosa e mentirosa segue abaixo, mas tive o cuidado de colocar o texto na coluna da esquerda, por acaso a primeira, reservando a coluna da direita, não por isso, a meus comentários críticos e até indignados, dado o manancial de inverdades, exageros e mistificações do pior chanceler da história. Peço que desculpem minha acrimônia, mas existem duas coisas que me dão alergia e que não consigo suportar: burrice e desonestidade intelectual. Neste caso, se trata mesmo de estupidez consumada e de indignidade “subintelequitual”. Já perdi muito tempo com um sujeito que só trouxe vergonha ao Itamaraty, à diplomacia brasileira e à imagem externa do Brasil. Nesse período em que estive afastado de tarefas executivas na Secretaria de Estado escrevi quatro livros e incontáveis artigos e notas de um ciclo que não deveria ter sequer existido, não fossem minha revolta e minha indignação com o horror a que assistimos nos dois anos e três meses de um desastre completo a frente do Itamaraty. Espero não ter de voltar a esse horror!

 

 

Ernesto Araújo

Paulo Roberto de Almeida

Um Itamaraty pela liberdade e pela grandeza do Brasil: balanço de gestão

[Ernesto Araújo]

Metapolítica 17: contra o globalismo, 10/04/2021

https://www.metapoliticabrasil.com/post/um-itamaraty-pela-liberdade-e-grandeza-do-brasil-balan%C3%A7o-de-gest%C3%A3o

O Itamaraty não teve nenhuma liberdade sob a gestão do chanceler acidental e o Brasil foi reduzido a um status de pária internacional, como reconhecido pelo próprio autor de um blog “contra o globalismo” (sic).

(...)

Ler a íntegra neste link: 

https://www.academia.edu/46617441/3889_Balanco_de_uma_gestao_catastrofica_a_Era_dos_Absurdos_no_Itamaraty_2021_

(...)

Recordo-me sempre do discurso do Presidente Jair Bolsonaro na noite da vitória, em 28 de outubro de 2018, quando enunciou, entre seus objetivos de governo: "Vamos libertar o Itamaraty." Estou certo de haver tudo feito para cumprir esse objetivo, para libertar o Itamaraty das masmorras da cleptocracia e colocá-lo junto ao povo.

Ufa! Finalmente o Itamaraty se livrou de um dos cleptocratas do pensamento racional, do mais alucinado discípulo de um guru destrambelhado, que vinha conspurcando seus valores e princípios duramente construídos ao longo dos últimos dois séculos. Já não era sem tempo. Estamos livres!

Ernesto Araújo

Brasília, 10 de abril de 2021

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 11 de abril de 2021

 

 

 

Nota final: O novo chanceler, o embaixador Carlos França, no primeiro policy statement, o que inaugurou sua gestão em 6 de abril de 2021, precisou de meras três páginas e menos de 30 parágrafos substantivos para explicar a que vinha, enunciando três grandes desafios, objetivamente descritos, como as diretivas centrais para o seu trabalho, junto com a diplomacia profissional, no próximo ano e meio. 

O ex-chanceler precisou de mais de dez páginas, e aborrecidos 73 parágrafos, para desenvolver, quatro dias depois, sua defesa, canhestras justificativas nas quais revelou seu nítido desconforto com sua gestão desastrosa. Ele próprio não deve ter se dado conta de que se despede do modo mais ridículo que poderia, tendo de explicar, por vezes com detalhes insignificantes, como tentou, paradoxalmente, fazer o pior que pode para diminuir o Itamaraty, rebaixar o conceito do Brasil no exterior, prejudicar concretamente os interesse nacionais. Pelo menos não tivemos de ler, desta vez, nenhuma citação de algum filósofo obscuro, nem mesmo o astrólogo que o colocou na cadeira, para a infelicidade geral da nação e do Itamaraty em particular.

Eu tive de perder um dia inteiro para desmantelar todas as suas mentiras, falcatruas e distorções, numa tarefa realmente enfadonha, mas que não encerra tudo o que seria preciso dizer sobre a mais HORROROSA gestão de um chanceler brasileiro, desde 1821 (José Bonifácio já estava encarregado dos negócios estrangeiros desde a regência de D. Pedro). Isso no quadro do pior governo que tivemos no Brasil desde 1549, ou seja, desde o desembarque na Bahia do primeiro governador-geral, D. Tomé de Souza. Ambos se merecem na ruindade e na desgovernança. Ficou faltando destacar todas as suas não realizações, todas as suas ações e omissões que envergonharam a diplomacia profissional brasileira, mas que já tive o tremendo desconforto de tratar, de expor e criticar nos meus quatro livros de um ciclo, ao qual espero nunca mais voltar, que não deveria existir, e que não deveria ter continuidade. 

Ainda temos um Cronista Misterioso, com o nom de plume de Ereto da Brocha, que imortalizou estes tristes tempos com seus petardos irônico-acrimoniosos, um a cada semana, de quem não tenho notícias diretamente, mas que imagino talvez venha a encerrar o seu ciclo de lastimáveis críticas que também não precisavam existir.

Meus escritos, as entrevistas de embaixadores aposentados, as crônicas do nosso Batman do Itamaraty oferecem um triste testemunho de uma das fases mais deprimentes da diplomacia nacional. Ainda não superamos a ignorância e a estupidez, mas acredito que não mais recairemos no opróbio universal, pelo menos do lado diplomático. Espero poder encerrar esse desvio que tive de enfrentar nos últimos 28 meses (sim, eu comecei antes da posse do chanceler execrável), e voltar para escritos mais consistentes, aqueles trabalhos que podem ser enquadrados na categoria dos scholarly works, não na infeliz categoria das diatribes indesejadas. Vale!

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 11 de abril de 2021


terça-feira, 16 de março de 2021

Chanceler acidental terá de informar exatamente os custos e os retornos da aloprada visita para nada em Israel (UOL)

 Araújo terá de revelar emails, custos e documentos de viagem para Israel

UOL | 16/3/2021, 4h

O chanceler Ernesto Araújo recebeu um requerimento para apresentar todos os documentos, telegramas, emails e custos da viagem que ele liderou na para Israel. O pedido foi apresentado pela bancada do PSOL na Câmara dos Deputados e, entre os pedidos, o grupo solicita todos os informes científicos que basearam a missão, além do material técnico que teria servido para justificar a aproximação com os institutos israelenses.

"No início da semana passada, em plena pandemia com recordes diários de mortes, o país foi surpreendido com o anúncio de uma comitiva do governo brasileiro Israel", afirma o requerimento obtido pela coluna.

"Em um contexto de afastamento da respeitada tradição diplomática brasileira, de ataques ao multilateralismo e de um aparelhamento ideológico, acientífico e inconsequente das relações exteriores, urge que este Parlamento e a sociedade em geral tenham acesso às informações aqui solicitadas", insiste o requerimento assinado pela deputada Talíria Petrone, além de outros deputados.

A Constituição prevê que o Itamaraty é obrigado a prestar as informações, de maneira clara e objetiva, sob pena de cometimento de crime de responsabilidade. Caso a documentação seja reservada ou sigilosa, o governo precisa justificar a medida.

Os parlamentares querem saber quando e por iniciativa de quem se decidiu realizar a viagem. "Solicitam-se cópias de todos os documentos e comunicações preparatórias e da agenda de reuniões e eventos em que houve participação da comitiva", pedem.

Ciência?

Outro destaque do requerimento é a questão científica. "Houve base científica para justificar a preferência por relações de cooperação com Israel sobre possíveis tratamentos contra a Covid-19 ainda em fase incipiente de testes? Em caso afirmativo, solicita-se o detalhamento destas razões e envio de relatórios e pesquisas que as comprovem", dizem os deputados. "Se não, por que o Brasil assume esta preferência e não realiza movimentos de aproximação com outros países com pesquisas semelhantes ou mais avançadas?", questiona.

Os parlamentares ainda destacaram como o deputado federal Eduardo Bolsonaro justificou o interesse de Israel em testar no Brasil em virtude da "miscigenação" de nossa população. "Solicitam-se cópias de todos os estudos, relatórios e comunicações a respeito do referido medicamento em posse deste Ministério", pediram.

O grupo também quer saber quantos e quais cientistas, técnicos, acadêmicos e pesquisadores da área de epidemiologia e infectologia participaram da delegação.

"Solicita-se a lista exaustiva de todos os membros da referida comitiva, com a descrição de seus cargos e detalhamento de todos os eventos, reuniões e demais compromissos aos quais atenderam durante a viagem", pedem.

Gastos

Outro trecho do requerimento exige do Itamaraty explicações sobre o custo da viagem. "Considerando o agravo estágio da pandemia global de Covid-19, o que justifica a realização da viagem em questão em detrimento da realização de reuniões virtuais?", questiona.

"Qual o valor total gasto na referida viagem? Solicita-se a descrição exaustiva de todos os custos relativos a sua realização", diz o documento. Também são solicitados do Itamaraty cópias da íntegra dos instrumentos assinados com o Instituto Weizman, Hadassa e o Ichilov.

Os deputados também querem saber se tecnologias, políticas públicas ou empresas brasileiras na área de saúde foram de algum modo promovidas durante a viagem.

Constrangimento do chanceler

Os protocolos estabelecidos pelo governo de Israel também foram motivos de questionamento, assim como o "pito" que Araújo recebeu das autoridades locais por não levar a máscara.

"Quais protocolos sanitários - testes, uso de máscara, distanciamento, isolamento, dentre outros - foram adotados pelos membros da comitiva antes, durante e depois da viagem? A comitiva foi instruída por autoridades israelenses a utilizar máscaras ao chegar naquele país?", pedem.

"Qual a avaliação deste Ministério sobre o constrangimento diplomático causado pela repreensão ao ministro Ernesto Araújo por não utilizar máscara em evento durante a comitiva?", questionam.

Mas os parlamentares também pediram ao Itamaraty detalhes sobre todos os demais assuntos tratados durante a viagem. "Solicita-se uma lista exaustiva de todos os temas abordados, com identificação dos interlocutores envolvidos, descrição dos posicionamentos apresentados e detalhamento dos eventuais encaminhamentos", indicaram.

No documento, os deputados lembraram que, durante a comitiva, o ministro das relações exteriores israelense agradeceu ao Brasil por sua posição contrária à investigação pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) sobre os crimes de guerra perpetrados por Israel contra o povo palestino.

"Pergunta-se: o Brasil reconhece Israel como potência ocupante na Faixa de Gaza e Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, sujeita, portanto, às disposições da IV Convenção de Genebra? O Brasil possui posicionamentos sobre outras investigações em curso no TPI?", questionam.

"Durante a comitiva, abordou-se a discriminação imposta a palestinos e palestinas no processo de vacinação empreendido em Israel e no Território Palestino Ocupado, onde residem milhares de colonos israelenses?", completam.

https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2021/03/16/araujo-tera-de-revelar-emails-custos-e-documentos-de-viagem-para-israel.htm


segunda-feira, 8 de março de 2021

Itamaraty: o navio da morte - Mathias Alencastro (FSP)

 O autor desta matéria pergunta se os diplomatas - na verdade, o chanceler acidental e poucos auxiliares — conseguem dormir de noite, tendo participado ativamente do empreendimento macabro dirigido por Bolsovirus.

Eu também me pergunto o que deve se passar na cabeça de EA, um burocrata como outro qualquer da diplomacia profissional, sem qualquer preeminência na carreira, mas que escolheu se vender ao bando de aloprados perversos que estão destruindo o Brasil e a sua imagem internacional, com um entusiasmo digno de sua mente perturbada. Ele não deve dormir tranquilo de noite, pois deve ter perfeita consciência de que é desprezado e objeto de zombarias de seus colegas, pela gestão destrutiva que tem feito contra o infeliz Itamaraty.

Paulo Roberto de Almeida 


Itamaraty, o navio da morte

Israel vai jogar com o desespero do governo brasileiro para extrair benefícios

Mathias Alencastro

Folha de S. Paulo, 8/03/2021


Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento e doutor da governo em ciência política pela Universidade de Oxford (Inglaterra)

A diplomacia da tranqueira entre Brasil e Israel conheceu mais um episódio bizarro. Depois de prometer uma máquina que "extrai água do ar" no começo do ano passado, Jair Bolsonaro encontrou na brinquedoteca um spray que poderia curar pacientes com Covid-19 em poucos dias.

Essa fantasia medicamentosa foi demais até para o Tribunal de Contas da União, que questionou a pertinência de uma viagem para conhecer um forte candidato a nova cloroquina. Para se proteger, o Planalto corrigiu o tiro, e a comitiva descobriu na sala de embarque que, afinal, a prioridade da missão era buscar parcerias de "ciência e tecnologia".

À imagem do que aconteceu com República Tcheca e Honduras, as autoridades israelenses vão jogar com o desespero do governo brasileiro para extrair benefícios diplomáticos em troca das sobras da sua triunfal campanha de vacinação. Ernesto Araújo não hesitará em chamar esse escambo de vitória.

Como é hábito no bolsonarismo, os embustes revelam um mal profundo. Muito se especulou sobre o caráter do personagem de Werner Herzog responsável por transformar o Itamaraty no navio da morte. Mas o "caso do spray" diz algo novo sobre a sua equipagem.

Do Chile à Nigéria, passando pela Noruega, os diplomatas estão sendo tratados como heróis da pandemia, ao mesmo título que os médicos e enfermeiros, por seu papel na disputa pelos parcos estoques de imunizante no mercado global. Embaixadores de países da União Europeia rebelaram-se contra a política de aquisição de vacinas centralizada por Bruxelas e passaram a negociar em nome das suas capitais com Rússia e China.

Enquanto isso, no Brasil, o alto escalão do Itamaraty passou a última semana organizando uma viagem que tinha como único propósito alimentar o delírio negacionista. Durante esse período, morreram 10 mil brasileiros. A sociedade quer saber como esses diplomatas conseguem dormir à noite.

A transformação do Itamaraty na secretaria de comunicação do bolsonarismo terá consequências nefastas para a instituição. Manifestações como a tentativa de aquisição de vacinas por governadores e prefeitos podem ser vistas como tentativas caóticas de sobrevivência, mas também são movimentos em direção a uma federalização da política externa. Essas instituições regionais vão acabar se emancipando dos canais da diplomacia tradicional.

Uma das vocações do bolsonarismo é a vandalização das instituições. Poucas estão sendo tão atingidas como o Ministério das Relações Exteriores.

Os diplomatas são a elite do serviço público, homens e mulheres preparados com muito rigor e experientes. Mesmo nos piores momentos da história brasileira, eles souberam manifestar a sua individualidade e independência.

Seus antecessores jamais assistiriam passivamente a um chanceler normalizar a morte de milhares de brasileiros. Os diplomatas precisam, urgentemente, resgatar seu amor-próprio e encontrar uma forma de expressar seu desconforto com a promiscuidade entre o Itamaraty e a ideologia governamental.


terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Sobre a resistível ascensão de um oportunista no Itamaraty - Paulo Roberto de Almeida

 Sobre a resistível ascensão de um oportunista no Itamaraty

Paulo Roberto de Almeida 

EA se formou no ano em que Collor foi impeached, 1992. Percorreu uma carreira de aparente conformismo burocrático, sempre defendendo as políticas do momento, até com certo entusiasmo, pois é perfeitamente conhecida sua plena identificação com posturas que agora condena de forma veemente, sobretudo durante a tucanocracia e sob o lulopetismo diplomático. Há registros disso.

Parece que não aprendeu nada nos 30 anos seguintes à sua formatura, ou então desaprendeu a partir da ascensão da direita, depois das manifestações de 2013.

O que pode ter ocorrido nos anos da transição pós-lulismo, é mais oportunismo do que diplomacia. Foi oportunista na carreira e na política. Há registros...

Paixões humanas são poderosas: aguentam 30 anos de armário. 

Acho que é isso!

Mas assim como Orwell brincou com a aspiração igualitária da Esquerda — segundo a qual “todos são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros” —, na Direita também existem os mais comprometidos, até exageradamente, com certas causas: EA se comprometeu inteiramente com as causas dos novos donos do poder, por mais esquizofrênicas que elas fossem e mais contraditórias e divergentes com tudo o que “aprendeu” ou praticou (fielmente) em sua trajetória profissional diplomática.

O caráter exacerbado de sua adesão ao olavismo sofístico, ao bolsonarismo político, sua extrema submissão ao bolsolavismo diplomático comandado por seus mestres, aos quais ele se sujeita caninamente, até com certo entusiasmo, demonstram, porém, uma personalidade profundamente desequilibrada.

Indivíduos assim são muito infelizes, desconfortáveis consigo mesmos.

Mas não sou psiquiatra para estabelecer um diagnóstico preciso: sou apenas um observador da realidade. E essa realidade é profundamente insana, sendo partilhada por todos os que integram o círculo íntimo do poder; todos os demais são em geral oportunistas ou pessoas sem caráter.


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 16/02/2021

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Fracasso da diplomacia bolsolavista: Bolsonaro e o chanceler acidental perdem mais uma : TPI

Se a intenção era ter alguém para barrar qualquer investigação contra o capitão no TPI, por violação de direitos humanos – como morte de indígenas, por exemplo –, então a "recepção" pelos demais países da candidata selecionada a dedo pelo genocida de brasileiros inocentes, dada sua irresponsável postura no caso da pandemia, foi um rotundo e humilhante fracasso. 

Com a sua antipolítica externa, e uma criminosa política interna, o capitão continua isolado na cena internacional. Não chegam aos cinco dedos de uma só mão os dirigentes estrangeiros que teriam disposição para convidá-lo a uma visita, que seja de trabalho, para discutir assuntos de interesse mútuo. Não existe: o capitão está sozinho no seu labirinto, com um chanceler medíocre e tão despreparado quanto ele. Enquanto isso, o Brasil afunda no descrédito internacional.

Paulo Roberto de Almeida


 Ernesto Araújo, o competente: Brasil prestes a perder vaga em tribunal que julgará bolsonaro por genocídio 

TPI é uma das três principais cortes do sistema multilateral

Época Negócios | 23/12/2020, 13h22

Ernesto Araújo tem dado mais uma demonstração de sua reconhecida competência no comando da diplomacia brasileira.

O Brasil está prestes a perder uma vaga de juiz no Tribunal Penal Internacional. Haverá daqui a pouco mais uma rodada de votações, mas a brasileira Monica Sinfuentes deve ser derrotada.

O TPI é uma das três principais cortes do sistema multilateral, com a Corte Internacional de Justiça e o Tribunal Internacional sobre Direito do Mar.

Bolsonaro foi aconselhado a indicar juristas com experiência no tema, mas preferiu o nome da desembargadora do Tribunal Regional Federal da 1ª Região. 

Essa será a segunda derrota neste ano, dado que o candidato brasileiro ao Tribunal sobre Direito do Mar ficou em terceiro de quatro candidatos para duas vagas na América Latina, na eleição que ocorreu em agosto.

O TPI deveria preocupar o governo Bolsonaro.

A representação contra ele, de incitação ao genocídio, apresentada ao TPI por entidades de direitos humanos, pela forma como Bolsonaro conduz o combate à pandemia, não foi arquivada de pronto, como esperava o governo.

Ficou sob análise.

https://epoca.globo.com/guilherme-amado/ernesto-araujo-competente-brasil-prestes-perder-vaga-em-tribunal-que-julgara-bolsonaro-por-genocidio-1-24809381?%3Futm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=post

 

Isolado, Brasil não consegue eleger juíza para Tribunal Penal em Haia

Jamil Chade, UOL | 23/13/2020, 14h28

Em uma derrota diplomática para o governo de Jair Bolsonaro, a desembargadora Mônica Sifuentes não consegue somar votos suficientes e fica sem um assento de juíza no Tribunal Penal Internacional. Ela abandonou a corrida, depois de um desempenho fraco nas urnas e revelador do isolamento político do Itamaraty. 

A votação é interpretada como um teste da popularidade internacional do governo, justamente num momento em que é o maior devedor da corte em Haia. Além disso, o presidente é alvo de uma comunicação por parte de entidades de direitos humanos, que o acusam em Haia de incitação ao genocídio e crimes contra a humanidade no caso dos povos indígenas.

Seis vagas para juizes estavam em disputa e um total de 18 candidatos concorriam. Pelo sistema do tribunal, são os países que votam e rodadas são realizadas até que seis nomes consigam dois terços dos votos. 

Pela América Latina, foram eleitos Sergio Ugalde, da Costa Rica, e Maria del Socorro Flores, do México. Eles acumularam 87 votos cada. Foram eleitos ainda nomes do Reino Unido, Sierra Leoa e Geórgia.

Faltando três candidatos na corrida na disputa pela última e sexta vaga no Tribunal, a brasileira abandonou o processo. Ela tinha somado apenas 16 votos na última rodada. 

O processo continua, mas com apenas dois candidatos disputando uma vaga. Eles representam Trinidade e Tobago e Tunísia. Sempre distante das líderes, a brasileira viu suas chances aumentarem quando os candidatos do Uruguai, Colômbia e Equador abandonaram a corrida. A migração desses votos, portanto, poderia ser decisiva. Mas não foram suficientes para eleger a brasileira.

Bolsonaro havia ignorado uma recomendação de juristas brasileiro para a nomeação de um candidato do país para concorrer ao cargo de juiz no Tribunal Penal Internacional. O Palácio do Planalto optou por uma escolha de um nome fora da lista sugerida. 

Os nomes sugeridos eram os de Marcos Coelho Zilli e Leonardo Nemer Caldeira Brant. Zilli defendeu sua tese de doutorado sobre a questão de admissão de provas no TPI. Já Brant foi membro do corpo jurídico na Corte Internacional de Justiça e com ampla produção acadêmica sobre o direito internacional. 

Os nomes foram submetidos por Celso Lafer, Antonio Augusto Cançado Trindade, Nadia de Araújo e Eduardo Grebler, brasileiro que ocupam cargos de juizes em instâncias internacionais. No passado, o Brasil já contou com uma representante no TPI, a juíza Sylvia Steiner. 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2020/12/23/isolado-brasil-nao-consegue-eleger-juiza-para-tribunal-penal-em-haia.htm?cmpid=copiaecola&cmpid=copiaecola 

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Fundação do Itamaraty vira aparelho de guerra cultural bolsonarista - Vera Magalhães (BR político)

 Fundação do Itamaraty vira aparelho de guerra cultural bolsonarista

Vera Magalhães

BR político, 9/09/2020

https://brpolitico.com.br/noticias/fundacao-do-itamaraty-vira-aparelho-de-guerra-cultural-bolsonarista/


A Fundação Alexandre Gusmão (Funag), vinculada ao Itamaraty, está sendo usada para promover ciclos de palestras com expoentes do bolsonarismo e reforçando teses negacionistas em relação à pandemia do novo coronavírus e em defesa de pautas da extrema-direita, como pregação antiaborto e contra o chamado "globalismo".

O conjunto de eventos e publicações promovidos pela entidade, que é um órgão público, é completamente tomado pela guerra cultural bolsolavista, sem nenhum espaço para teses de outras vertentes ou para representantes do próprio Itamaraty que pensam fora da cartilha do chanceler Ernesto Araújo.

Em 27 de agosto, a Funag promoveu um seminário intitulado "Como destruir um país: a aventura socialista na Venezuela", com a presença da embaixadora da Venezuela no Brasil, designada pelo governo paralelo de Juan Guaidó, Maria Tereza Expósito, e de Lucas Ribeiro, colunista do site Brasil sem Medo, ligado a Olavo de Carvalho.

Em 21 de agosto foi a vez de uma conferência virtual do jornalista Alexandre Garcia, que desde que deixou a Rede Globo se aproximou do bolsonarismo.

As palestras sempre são divididas em uma série de vídeos, todos disponibilizados, juntamente com a versão integral, no canal da fundação do Itamaraty no YouTube e também nas plataformas de streaming.

O mesmo expediente foi feito com conferência feita pelo deputado federal e filho do presidente Eduardo Bolsonaro, cuja candidatura ao posto de embaixador do Brasil em Washington foi frustrada em 2019. Ainda assim, o 03 ministra uma conferência sobre "benefícios" do "resgate" das relações entre Brasil e Estados Unidos, numa visão unilateral e absolutamente instrumentalizada ideologicamente de relações sobre as quais diplomatas e especialistas em relações internacionais fazem inúmeras restrições, pelos prejuízos comerciais e políticos que o alinhamento automático a Donald Trump causa ao Brasil.

Não para por aí. A deputada bolsonarista Chris Tonietto (PSL-RJ) é a protagonista de outra conferência, com direito a pílulas nos canais da Funag, com o tema "o direito a vida", que novamente trata a questão da legislação para aborto sob viés ideológico da direita, sem contraponto algum. Ademais: em que esse assunto é pertinente a uma fundação que discute questões diplomáticas e de relações internacionais? Fica evidente a instrumentalização de um órgão público apenas para a guerra cultural.

Um dos mais conhecidos blogueiros bolsonaristas, Flávio Gordon também mereceu uma palestra da Fundação Alexandre Gusmão, com direito a propaganda explícita de seu livro, "A Corrupção da Inteligência". O tema da conferência não poderia ser mais talhado pelo bolsolavismo militante: Globalismo e Comunismo. De novo, o aliado da família Bolsonaro e admirador de Olavo de Carvalho recebe tratamento vip da fundação pública: dezenas de vídeos e pílulas nos canais da fundação.

Mas o puro creme do proselitismo político e do negacionismo científico, além da instrumentalização política explícita da pandemia, fica por conta do ciclo de palestras batizado de "A conjuntura internacional pós-coronavírus". A próxima edição do evento acontece nesta quinta-feira, dia 10.

Os convidados da sexta edição, realizada no último dia 3, foram o blogueiro Paulo Eneas, do site bolsonarista e propagador de desinformação Crítica Nacional, o economista Paulo Figueiredo Filho, especialista em relações internacionais, bolsonarista e trumpista, e o professor de filosofia da Universidade Federal de Pelotas Carlos Adriano Ferraz.

O tema das palestras deixa evidente o viés anticientífico e de total contrariedade às recomendações sanitárias da Organização Mundial de Saúde, base para que a maioria dos países do mundo tenha adotado medidas de enfrentamento à pandemia: "A pandemia e a agenda globalista", "A ascensão e queda da China", "A nocividade do uso de máscaras", "O uso de máscaras e o controle social", "Mecanismos de controle do Estado sobre o indivíduo", "A pandemia foi instrumentalizada para fins políticos?", "O que fazer com a OMS?" e "A questão da obrigatoriedade da vacinação".

Todos esses temas têm sido tópico de declarações negacionistas do presidente Jair Bolsonaro ao longo da pandemia, inclusive sua mais recente investida sobre a obrigatoriedade da vacinação.

Fica evidente o uso político de uma fundação que deveria fomentar o pensamento plural, ser representativa da tradição diplomática do Itamaraty e debater doutrinas, ideias e teses respaldadas em evidências e na ciência, e não pura pregação ideológica com base em teorias da conspiração, narrativas vazias e negacionismo científico.


segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Crônicas do Itamaraty bolsolavista - Um diplomata anônimo (sucesso de acessos)

Continua o sucesso do Cronista misterioso: 
(passou à frente de todos os demais trabalhos, em apenas 3 dias)




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sábado, 15 de agosto de 2020

Os sete pecados da diplomacia bolsolavista - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente trabalho publicado:


1360. “A relação Brasil-EUA e os sete pecados capitais da diplomacia bolsolavista”, jornal Zero Hora (RS; 14/08/202; link: ); e postado no blog Diplomatizzando (15/08/2020; link: ). Relação de Originais n. 3733. 

Eis o texto original: 

Sete pecados capitais da diplomacia bolsolavista

Paulo Roberto de Almeida
Diplomata de carreira, professor no Uniceub (Brasília)

A diplomacia bolsolavista, formulada em grande medida fora do Itamaraty e operada apenas formalmente por auxiliares da Casa, é feita de rupturas com respeito aos padrões históricos da política externa brasileira, que sempre foi tradicionalmente caracterizada pela busca de autonomia e comprometida, antes de mais nada, com o interesse nacional. Ela é tão bizarra no horizonte bissecular de nossa diplomacia que sequer pode ser assemelhada a uma espécie de desvio padrão numa linha de tendência da política externa nacional, pois ela se situa completamente fora do quadro. Observando-se cronologicamente seu desempenho em um ano e meio de esquisitices de inspiração bolsolavista, pode-se identificar os sete pecados capitais dessa diplomacia sui generis
1) Ignorância: não parece haver dúvidas de que os que conduzem, de fato, as relações exteriores do Brasil são profundamente ignorantes sobre as relações internacionais e sobre a própria política externa do Brasil. O filho 03 do presidente, que exerce esse papel, não tem a menor ideia de quem foi, nem nunca ouviu falar de Henry Kissinger.
2) Irrealismo: esses “decisores” começam partindo de uma fantasmagoria, o tal de globalismo – que nunca demonstram existir empiricamente – e passam daí a atacar o método por excelência da diplomacia contemporânea: o multilateralismo.
3) Arrogância: como a anterior tribo dos lulopetistas, eles acham que tudo o que existia antes deles foi errado; o chanceler acidental vive apontando distorções na política externa dos últimos 30 anos (falou até “depois de Rio Branco”), não mencionando que serviu de forma obediente todas essas distorções até com entusiasmo (existem provas disso). Ele fez uma completa reforma do Itamaraty sem jamais consultar seus colegas de carreira: por cima.
4) Servilismo: a frase símbolo desse alinhamento automático é o famoso “I love you Trump”, disparado pelo presidente a seu colega americano em setembro de 2019 na ONU. Teve início no primeiro dia de governo quando se ofereceu uma base militar americana no Brasil, prontamente rejeitada pelos ministros militares; mas tem muitos outros exemplos.
5) Miopia: já manifestada numa alegada “ameaça globalista”, tem recusado a cooperação multilateral no combate a um desconhecido, até aqui, “comunavirus”; ela se manifestou em especial na animosidade em relação à China e numa adesão unilateral ao governo de Israel, desconhecendo a complexidade dessas relações e ameaçando negócios e investimentos extremamente relevantes para o presente e o futuro do Brasil.
6) Grosseria: Ela se manifestou sobretudo em direção de líderes estrangeiros que não pensam como o presidente, com ofensas a estadistas europeus comprometidos com a defesa do meio ambiente e também a dirigentes vizinhos de outras correntes políticas.
7) Inconstitucionalidade: a primeira já está comprometida no servilismo, ou seja, a renúncia à independência nacional, para subordiná-la a um dirigente estrangeiro, mas também existe a intervenção nos assuntos internos de outros países; a mais grave é o desconhecimento do Direito Internacional, manifestado no apoio às sanções unilaterais do governo americano, o que pode concretizar-se inclusive contra o próprio Brasil, como no caso das salvaguardas abusivas (e ilegais) contra exportações brasileiras de aço e alumínio. 
Todos esses pecados se revelaram abertamente na recusa do multilateralismo, na negligência de normas consagradas do Direito Internacional, no abandono da formulação autônoma da política externa brasileira, na relativização da noção de interesse nacional, na substituição da diplomacia profissional pelos preconceitos de amadores ignorantes, assim como o desprezo pelos princípios constitucionais das relações internacionais. Dois exemplos, entre outros, da subordinação aos EUA: a aceitação do candidato americano à presidência do BID e a adesão ao veto de Trump à participação da empresa chinesa Huawei no leilão do 5G.
  
[Brasília, 3733, 12 de agosto de 2020]


Esse trabalho, na verdade, teve de limitar-se à imposição dos 2.000 caracteres com espaço, mas a intenção seria publicar um trabalho mais amplo, como reproduzido abaixo: 

As eleições americanas e a política externa bolsonarista
  
Paulo Roberto de Almeida
Diplomata de carreira, professor no Uniceub (Brasília)
  
O primeiro elemento do título é, como dizem os americanos, self-explaining: desde George Washington, que exerceu dois mandatos sucessivos numa espécie de concessão inaugural a um dos “pais fundadores” de um regime presidencialista até então inédito na história dos sistemas constitucionais modernos, os Estados Unidos têm conduzido eleições regulares a cada quatro anos para escolher, sob o formato de colégio eleitoral, os seus dirigentes executivos. A limitação a dois mandatos foi introduzida em tempos excepcionais, depois que Franklin Roosevelt venceu quatro escrutínios, em meio à crise da Grande Depressão e à Segunda Guerra Mundial. É possível que Donald Trump não consiga renovar o seu, em virtude de erros sucessivos na condução do país, não apenas por causa da pandemia.
O segundo elemento requer uma explicação, justamente porque não se refere à política externa brasileira e sim bolsonarista. Isso se deve a que, nunca antes na história do Brasil, estivemos confrontados a uma diplomacia tão distante dos padrões habituais a que estamos acostumados no Itamaraty e nas relações exteriores do país. Alguns exemplos desse caráter inédito das posturas externas do governo Bolsonaro, aliás desde antes, são ilustrativos dessa caracterização. Logo após as eleições de outubro de 2018, o filho 03, tido como chanceler real do Brasil e candidato, por um tempo, à embaixada em Washington, passeou por Washington, em contato com familiares do presidente Trump, exibindo, já naquele momento, um boné da campanha “Trump 2020”. Ele também se manifestou publicamente, no mesmo sentido da xenófoba campanha do presidente americano contra os imigrantes, sobre a presença de brasileiros ilegais nos Estados Unidos, declarando-os “uma vergonha nacional”.
Logo depois, veio ao Brasil, John Bolton, então conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, velho falcão da Guerra Fria, um dos entusiastas da invasão do Iraque por George Bush Jr, em 2003, e antigo “inimigo” do Brasil, no período anterior à aceitação do Tratado de Não Proliferação Nuclear por FHC, em 1996. Ele reuniu-se com o presidente eleito no Rio de Janeiro, já acompanhado pelo chanceler escolhido – um diplomata jovem, sem expressão reconhecida no Itamaraty –, e ali iniciou-se um grande “namoro”, depois confirmado pelo próprio presidente com um sonoro “I love you Trump”, por ocasião da abertura dos debates na Assembleia Geral da ONU, em setembro de 2019. No próprio dia da posse, na presença do Secretário de Estado Mike Pompeo, o chanceler acidental alardeou, com a aparente concordância do presidente, a instalação de uma “base americana” no Brasil, apenas para ser imediatamente desmentido, e o projeto recusado, pelos assessores militares do governo, a começar pelo ministro da Defesa e pelo ministro do GSI.
O primeiro assunto de política externa a ocupar o governo Bolsonaro foi a crise da Venezuela, e mais uma vez se revelou o alinhamento automático da diplomacia brasileira com um projeto eleitoreiro do presidente Trump no sentido de forçar a queda do regime chavista; mais uma vez, os militares, a começar pelo vice-presidente Mourão, tiveram de se mobilizar para impedir que o território brasileiro fosse usado como plataforma de uma suposta ofensiva “humanitária” de ajuda ao povo venezuelano, capaz de deslanchar uma guerra civil e provocar desestabilização nos países fronteiriços, entre eles a Colômbia. O vice-presidente Mourão teve de pessoalmente liderar uma delegação brasileira a uma reunião do Grupo de Lima para barrar a aventura militar dos americanos, apoiada pelo chanceler, e confirmar a via diplomática para alguma solução, se possível, ao problema venezuelano.
Logo no primeiro semestre de 2019, o presidente pretendia fazer designar o seu filho Eduardo, o chamado chanceler efetivo, como embaixador do Brasil em Washington, o que recebeu rejeição unânime da classe política e da opinião pública de modo geral, uma vez que o deputado não tinha a menor condição de desempenhar tal cargo. Confirmando a política de submissão da diplomacia bolsonarista aos interesses do governo americano, e ao desejos do presidente Trump em especial, o Itamaraty – mais provavelmente os verdadeiros decisores pela política externa, todos eles estranhos ao Itamaraty – emitiu notas de apoio e de adesão a várias iniciativas ou ações do governo Trump sobre temas de relevância na agenda internacional: o assassinato do general iraniano Suleimani em Bagdá; a votação na ONU em resolução sobre sanções unilaterais (quando o Brasil ficou totalmente isolado, com Israel e os próprios EUA); um desequilibrado “plano de paz” para a Palestina (que não recebeu sequer o apoio de nenhum aliado da OTAN) e diferentes propostas levantadas no Conselho de Direitos Humanos sobre temas de igualdade de gêneros e direitos das mulheres e de minorias. O mais grave defeito dessas notas de apoio é o fato de elas terem ignorado completamente o Direito Internacional e até resoluções do Conselho de Segurança sobre seus temas, ou até contrariado os interesses nacionais (como a aceitação de sanções unilaterais americanas, o que pode até voltar-se contra o próprio Brasil). 
Dois outros temas, da maior relevância para o Brasil, traduzem a compulsão do chanceler, e de seus patronos de fora do Itamaraty, de sempre alinhar a política brasileira aos interesses americanos, aliás desde antes mesmo de ser inaugurado o governo: presidente, familiares, chanceler, todos anunciaram a mais estreita aliança não apenas com os EUA, mas sobretudo com o governo Trump. Foi por causa dessa submissão total, para todos os efeitos práticos, mas também por crenças equivocadas de todos eles, que teve início antes mesmo da campanha eleitoral, esse largo exercício diplomático de servidão voluntária, começando pela animosidade demonstrada em relação à China, nosso maior parceiro comercial e o país que, sozinho, fornece praticamente um terço do saldo comercial externo. Essa hostilização, por razões puramente ideológicas, causou reações não só na China, como principalmente entre a comunidade dos homens de negócios que transacionam com a China, sobretudo no agronegócio (grãos e carnes), mas também em mineração (minérios e petróleo). Foi também pelas mesmas razões que os mesmos decisores equivocados começaram a sinalizar um veto brasileiro à participação da empresa eletrônica chinesa Huawei – já presente no Brasil há mais de uma década e grande fornecedora de equipamentos de comunicações e eletrônicos em geral – no leilão de seleção das empresas habilitadas a operar o sistema 5G no Brasil. Outras sinalizações irracionais foram manifestadas a propósito da pandemia do Covid-19, chegando o chanceler ideológico a falar de um “comunavirus” a esse respeito.
Os mais recentes escolhos nas frustrações acumuladas nas relações bilaterais com os EUA – que nunca corresponderam às demonstrações de submissão unilateral do Brasil – foram a renovada comunicação de que visitantes provenientes do Brasil não seriam admitidos nos EUA, em virtude da extensão da pandemia entre nós, assim como o anúncio, por Trump, de que poderia impor sanções a produtos brasileiros se o Brasil não reduzir as tarifas sobre o etanol americano, o que configura uma espécie de chantagem contra nossa soberania em matéria de política comercial. Registre-se que, contrariamente às normas do Gatt-OMC, a política comercial de Trump já impôs salvaguardas unilaterais e ilegais às exportações de aço e alumínio, de diversos países, não só ao Brasil, mas também a sócios dos EUA no Nafta, ou seja, Canadá e México. No plano mais geral, o governo Trump está desmantelando as instituições que os próprios EUA criaram desde Bretton Woods, em especial a OMC e seu sistema de solução de controvérsias. Nesse capítulo, a diplomacia submissa do Brasil também seguiu os EUA ao denegar o status de economia de mercado à China, um gesto considerado inamistoso pelo gigante asiático, e que talvez sirva de motivo para retaliações ponderadas. 
Não obstante todas essas demonstrações de desapreço ao Brasil – assim como a outros supostos aliados dos EUA, na OTAN ou em outras instâncias –, a diplomacia bolsonarista continua a praticar um alinhamento praticamente automático às posturas do governo Trump, uma opção absolutamente inédita nos anais da política externa brasileira, mesmo considerando os tempos da luta comum contra o comunismo, durante a Guerra Fria, quando o suposto alinhamento nunca foi automático e quando ocorreu consistia numa espécie de barganha negociada em troca de alguma vantagem ou benefício ao Brasil, geralmente de natureza econômica. A suprema ironia dos bolsonaristas é que eles recusam a caracterização de ideológica para essa diplomacia feita de ruptura de padrões históricos da política externa brasileira, tradicionalmente caracterizada pela busca de autonomia e comprometida, antes de qualquer outra coisa, com o interesse nacional. 

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 3732, 11 de agosto de 2020