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sábado, 2 de junho de 2012

O que se vê, e o que não se vê, em política... - Paulo Roberto de Almeida

O que se vê, e o que não se vê, em política...

Paulo Roberto de Almeida

Em trabalho escrito no último dia de maio deste ano de 2012, divulgado no mesmo dia em meu blog, sob o título “Existem países perfeitamente fascistas, sem que se saiba...”, eu tecia algumas considerações sobre certas derivas “culturais”, mas de perigosas consequências práticas, que se manifestavam aqui e ali – segundo minha leitura do noticiário corrente – e que poderiam indicar uma infeliz inclinação involuntária de certos países para o fascismo ordinário, levado por uma série de comportamentos perfeitamente autoritários dos que detinham o poder, mas aceitos inconscientemente pelos que suportam esse poder de mando. Nem o título, nem o trabalho, em si, traziam qualquer referência ao economista Frédéric Bastiat, um liberal do século XIX, bastante conhecido pelos seus “Ensaios de Economia Política” (disponíveis na internet em diversas versões, em francês e em inglês, segundo escolha dos interessados).
No cabeçalho do post, contudo (ver este link do Diplomatizzando: http://diplomatizzando.blogspot.de/2012/05/o-fascismo-que-se-via-e-o-fascismo-que.html), eu fazia referência ao que tornou Bastiat famoso em suas preleções econômicas, em grande medida válidas ainda hoje: o recorrente recurso, em sua argumentação, ao que se vê em economia – preços, créditos, alugueis, juros, enfim, todos os grandes fluxos econômicos, apresentados segundo dados objetivos – mas também ao que não se vê, no mesmo terreno, que são, justamente, as consequências, muitas delas involuntárias, de certas ações humanas, geralmente governamentais, que visam interferir nos fluxos e relações econômicas, supostamente para “provocar” uma melhor situação de bem-estar, mas que invariavelmente acabando trazendo maiores prejuízos à sociedade e aos agentes sociais e econômicos do que se essas ações – por exemplo, fixação política dos juros, protecionismo comercial, subsídios estatais a indivíduos ou a um grupo, limites oficiais à variação dos preços de determinados bens ou dos alugueis, etc. – não tivessem sido tomadas. Ainda pensei em Bastiat, hoje mesmo, lendo a imprensa internacional, ao constatar que, depois de tantos bilhões – em alguns casos trilhões – em recursos públicos despejados no setor financeiro (e portanto acúmulo de dívida pública), na “retomada do crescimento e do emprego”, no “estímulo econômico keynesiano”, enfim, num sem número de medidas adotadas nos principais países em crise (e até em alguns que se vangloriam de não estarem em crise), depois de todo esse ativismo governamental, a economia continua depressiva e teima em não fugir do ciclo de recessão e de baixo crescimento. Até parece que a agitação não resultou em grande coisa, ou talvez em nada, para ser mais exato.
Trata-se do típico exemplo do que Bastiat chamaria do lado que se vê – ou seja, os tais de estímulos keynesianos, ou injeção de recursos para manter uma tal de “demanda agregada” – mas que se esquece do lado que não se vê, e ele vem aqui: de onde pensam os keynesianos que sai o dinheiro para tais estímulos?; quando se diz que o governo vai “estimular o crédito”, para manter o crescimento, de onde acham, esses mesmos tecnocratas governamentais, que sai o tal “crédito”? O crédito, por acaso, nasce nas árvores, vem do ar, fica num grande cofre à disposição dos governantes? Em outros termos: quando alguém lhe disser que o governo vai fazer isso e mais aquilo para não cairmos em recessão, pergunte, com Bastiat, pelo outro lado da história: de onde sairão os recursos para tais e tais medidas? Você já pensou na conta que o governo está deixando para você pagar mais adiante? Na próxima vez, pense nisso: saque seu Bastiat do bolso e diga: “alto lá: quero ver o outro lado, o que não se vê, justamente”. Essa é a melhor maneira de defender o seu bem-estar, e o seu futuro...

Mas hoje não pretenderia falar de economia, e sim de política, na continuidade do meu texto anterior, sobre a existência de países perfeitamente fascistas sem que disso a maior parte das pessoas tome consciência. Quero aplicar a regra de Bastiat aos dizeres, aos comportamentos e às práticas políticas. Assim, quando um político lhe disser “vamos fazer isso, porque é mais democrático, porque beneficia a maioria da população”, saque o seu Bastiat e pergunte pelo outro lado. Vamos fazer o exercício?

Em política, o que mais se vê, sobretudo em épocas eleitorais, são promessas, de todos os tipos e tamanhos, de todas as cores para todos os gostos, para todos e cada um, qualquer que seja o custo financeiro das promessas feitas: saneamento, hospitais, escolas, segurança, empregos, aumento de renda, enfim, não há limite para o festival de bondades. A primeira pergunta do nosso exercício de política aplicada, à la Bastiat, seria, portanto, atinente aos meios e instrumentos para a realização dessas promessas, ou seja, começar imediatamente pelo mais simples: “olha aqui candidato: está muito bem o que você nos promete, mas de onde virão os recursos para tudo isso?”. Sim, porque as promessas são baratas, mas sua realização é muito cara. Por isso mesmo, eu tenho em alta conta um blog francês, alojado no site do Institut Montaigne, de Paris, que se chama “Chiffrages et Déchiffrages” (http://www.chiffrages-dechiffrages2012.fr/); ele fornece uma estimação a mais precisa possível sobre o custo envolvido em qualquer promessa de políticos. Já seria um grande progresso se o Brasil viesse a ter algo do gênero em permanência. Seria uma maneira de ver o outro lado, em política e em economia.
Existem outras propostas, também, que são feitas independentemente do período eleitoral, mas uma supostamente se aplica perfeitamente aos gastos de campanha: por exemplo, o tal de financiamento público de campanha política, feito por meio dos partidos políticos. Você seria ingênuo o suficiente para acreditar que o financiamento público impediria, limitaria ou evitaria o financiamento privado (geralmente por parte de empresas interessadas em contratos públicos)? Se olharmos para o outro lado, se poderia facilmente constatar que uma empresa interessada nesse tipo de negócio não pode parar de fazer o que faz, pois do contrário como ela iria garantir novos contratos a partir da posse dos seus “ajudados”? Trata-se de um dado estrutural da maneira de fazer política no Brasil que não parece perto de terminar, com lei ou sem lei de financiamento público.
Ainda nessa esfera das propostas eleitorais, o que dizer das obras públicas, justamente, ou da promessa de criar mais empregos públicos para resolver tal ou qual problema na esfera dos serviços coletivos? O outro lado, que não se vê, já teria de se apresentar logo de partida: o Estado é capaz de fazer qualquer coisa, distribuir uma aspirina que seja, sem que antes ele recolha os recursos ou os bens que pretende “distribuir” em alguma parte? E quando ocorre esse recolhimento preventivo, uma parte, geralmente de 10 ou 15% (mas que pode ser maior), fica no próprio Estado, a título de administração, organização dos serviços, gastos com os “meios”, etc.; o que normalmente ocorre é que os meios se tornam mais importantes do que os fins, pelo menos do ponto de vista da burocracia do Estado, um praga renitente, que tem sua própria razão burocrática.
Tenho um exemplo particularmente idiota, completamente imbecil, de uma ação desse tipo, mas que foi proposta por burocratas – talvez mal intencionados, desde o início, visando provavelmente garantir empregos para os militantes da causa – com o objetivo de estimular a leitura no Brasil (reconhecidamente um país que lê pouco; menos eu, que devo ler por pelo menos cem brasileiros, talvez mais). Pois bem, como esses idiotas conceberam o plano para estimular a leitura, por meio de “agentes de leitura”, a serem espalhados por escolas e bibliotecas públicas? Ora, muito fácil, para os burocratas idiotas como os que tomaram de assalto a máquina pública: bastava instituir um “pequeno imposto” sobre a cadeia do livro para financiar a fabulosa figura do “estimulador de leituras” (geralmente companheiros desempregados, claro, que podem estar precisando de um emprego público qualquer, geralmente estável e com muito pouco trabalho). Não é perfeitamente idiota? O que se apregoa é a necessidade da leitura, e é isso que se vê e se proclama; o que não se vê é que o livro, já bastante caro no Brasil, ficaria um pouco mais caro para fazer com que os brasileiros lessem mais. Não é genial?
Quando algum outro político, ou partido, dizer que pretende “democratizar os meios de comunicação”, comece a pensar no que não se vê: o controle partidário, perfeitamente totalitário, daqueles meios de comunicação que não estão de acordo com as propostas de certos políticos e que até têm a petulância de investigá-los em seus hábitos privados satisfeitos com recursos públicos. Esta é, sem dúvida alguma uma variante do fascismo econômico que já detectamos em certos países no trabalho anterior desta série.
E a mania, consagrada por supremos aplicadores da lei, de instituir cotas para minorias raciais, na suposição de que, primeiro se trata de minorias, segundo que só por essa via as minorias que não são minorias poderão enfrentar a concorrência com as verdadeiras minorias de selecionados pelo mérito? Existe algo mais contrário ao teste de Bastiat do que isso? O que se vê é a “justiça” feita aos que não tiveram oportunidades na vida, por alguma deficiência herdada do meio social, da formação educacional, enfim, das diferenças que caracterizam nossa sociedade; o que não se vê, é a injustiça feita com quem não fez nada além de estudar e se preparar para um concurso qualquer, e que de repente se vê preterido por um cota racial de algum tipo. Existe injustiça maior do que a denegação dos direitos individuais de alguém, em nome de obscuros “direitos coletivos”, que não são exatamente coletivos, já que acabam beneficiando um outro indivíduo, tão individual quanto o primeiro?

Os exemplos poderiam ser multiplicados infinitamente, mas eu termino por uma perfeita manifestação do inconsciente coletivo que pretende beneficiar concretamente determinados grupos de pessoas, mas que não vê, como prejudica a todos, igualmente. Eles existem e se multiplicam no Brasil, infelizmente. Se trata da “bondade” feita por políticos com o dinheiro privado, e que consiste em assegurar meia entrada ou entrada livre para estudantes ou idosos em várias categorias de espetáculos ou serviços, a começar por cinemas e teatros, espetáculos musicais ou esportivos, transportes coletivos e muitas outras áreas que não cabe detectar aqui. Os políticos acreditam, realmente, que estão beneficiando essas categorias? Eles são ingênuos de acreditar no que se vê? Nunca pararam para considerar o que não se vê? Que o preço das meias entradas ou das prestações gratuitas de um serviço qualquer contribui para que o preço médio pago por todos seja bem mais caro na ausência dessas políticas, ou que se acaba induzindo à sobre-utilização de determinados serviços – pode ser até no setor de saúde – que de outra forma poderiam funcionar de modo muito mais racional, e econômico, para o conjunto da população, na ausência desses “estímulos” e subsídios perfeitamente idiotas.
Existe bem mais, do lado que não se vê, do que esse custo acrescido nas prestações que todos pagam, custo incorrido até pelos que não se utilizam desses ou de outros serviços. Se trata da demanda dos empresários afetados pela redução ou gratuidade  no sentido de obter determinadas “compensações” estatais (uma suspensão fiscal, por exemplo), ou então subsídios diretos à manutenção do serviço. Existe aí, ademais do custo direto da medida em si, uma imensa porta aberta para a corrupção, as combinações obscuras, a formação de pequenos e grandes carteis, enfim, todo tipo de patifaria a partir da seleção dos fornecedores de determinados serviços. O que não se vê é geralmente maior, e muito mais prejudicial, do que o que se vê como benefício.
Quando é que os brasileiros vão começar a prestar atenção no lado que não se vê da política corrente?
Seria preciso, provavelmente, organizar um curso elementar de Bastiat aplicado a todos os candidatos a cargos públicos, e também aperfeiçoar a educação política dos brasileiros. Mas esta, evidentemente, é tributária da educação em geral, aquela que supostamente se aprende na escola e que deveria servir para a vida toda. A julgar pelo constato quando ao estado atual – e próximo futuro – da educação no Brasil, ousaria dizer que não existe a menor chance desse quadro ser modificado para melhor no futuro previsível. Tenho razões para ser otimista, ao observar o quadro lamentável de nossa educação pública – e privada, também, pois os professores não são muito diferentes, com exceção das grandes escolas para ricos – e concluir que não há nenhum risco de melhorias positivas qualquer que seja o horizonte de nossas expectativas?
Quem tiver razões de esperança, pode escrever algum ensaio para me contradizer.

Dresden, 2399: 2 Junho 2012.

sábado, 26 de maio de 2012

Mensalao: a denuncia do PGR, o relatorio para o STF

Os fatos são conhecidos de todos, e se ouso resumir seria mais ou menos isto: a maior operação criminosa jamais conduzida no sistema político brasileiro, concebida por cérebros doentios, certamente treinados por serviços de inteligência, destinada a comprar consciências, vontades e votos, de parlamentares, de bancadas completas, quando não de partidos inteiros, consistindo de roubo do dinheiro público (por diversas vias e canais manipulados pelos quadrilheiros em conluio com seus serviçais partidários e quadros do Estado a serviço do partido corrupto), de lavagem de dinheiro, de contas clandestinas e operações criminosas, todas elas orientadas a garantir o monopólio do poder por líderes de comportamento e ideologia totalitários.
Sem dúvida foi a maior fraude política que o Brasil conheceu e se distingue totalmente da corrupção normal, de estilo quase artesanal, feita pelos políticos individualmente ou por partidos ocupando nichos de poder, no sentido em que se trata de uma "operação industrial", sistêmica, construída em escala gigantesca, para roubar, fraudar, corromper, desviar recursos públicos e privados, enfim, comportamento mafioso no mais integral sentido desse conceito.
Paulo Roberto de Almeida 
Quem quiser ler o relatório do ministro encarregado do processo, pode descarregá-lo neste link: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/relatorioMensalao.pdf


Alguns trechos do relatório, apenas para confirmar a gravidade do atentado à democracia no Brasil: 



O Procurador-Geral da República narrou, na denúncia, uma “sofisticada organização criminosa, dividida em setores de atuação, que se estruturou profissionalmente para a prática de crimes como peculato, lavagem de dinheiro, corrupção ativa, gestão fraudulenta, além das mais diversas formas de fraude” (fls. 5621).
Segundo a acusação, “todos os graves delitos que serão imputados aos denunciados ao longo da presente peça têm início com a vitória eleitoral de 2002 do Partido dos Trabalhadores no plano nacional e tiveram por objetivo principal, no que concerne ao núcleo integrado por JOSÉ DIRCEU, DELÚBIO SOARES, SÍLVIO PEREIRA e JOSÉ GENOÍNO, garantir a continuidade do projeto de poder do Partido dos Trabalhadores, mediante a compra de suporte político de outros Partidos Políticos e do financiamento futuro e pretérito (pagamento de dívidas) das suas próprias campanhas eleitorais. (...) Nesse ponto, e com objetivo unicamente patrimonial, o até então obscuro empresário MARCOS VALÉRIO aproxima-se do núcleo central da organização criminosa (JOSÉ DIRCEU,
DELÚBIO SOARES, SÍLVIO PEREIRA e JOSÉ GENOÍNO) para oferecer os préstimos da sua própria quadrilha (RAMON HOLLERBACH, CRISTIANO DE MELLO PAZ, ROGÉRIO TOLENTINO, SIMONE VASCONCELOS e GEIZA DIAS DOS SANTOS) em troca de vantagens patrimoniais no Governo Federal” (5621/5622).
Além disso, teria sido necessário contar com os réus KÁTIA RABELLO, JOSÉ ROBERTO SALGADO, VINÍCIUS SAMARANE e AYANNA TENÓRIO, os quais, no comando das atividades do Banco Rural, juntamente com o Sr. José Augusto Dumont, falecido em abril de 2004, teriam criado as condições necessárias para a circulação clandestina de recursos financeiros entre o núcleo político e o núcleo publicitário, através de mecanismos de lavagem de dinheiro, que permitiriam a tais réus o pagamento de propina, sem que o dinheiro transitasse por suas contas.

De acordo com a denúncia recebida por esta Corte, o esquema teria sido arquitetado durante as eleições de 2002 e passou a ser executado em 2003. Já em dezembro de 2002, os réus do denominado “núcleo publicitário” da quadrilha – especialmente os réus MARCOS VALÉRIO, CRISTIANO PAZ e RAMON HOLLERBACH – já haviam sido apresentados para os réus do denominado “núcleo central” – formado pelos réus JOSÉ DIRCEU, JOSÉ GENOÍNO, DELÚBIO SOARES e SÍLVIO PEREIRA -, com o fim de pôr em prática o plano de corrupção de parlamentares da então frágil base aliada, com intuito de “negociar apoio político, pagar dívidas pretéritas do Partido e também custear gastos de campanha e outras despesas do PT e dos seus aliados” (fls. 5621).
O Parquet esclarece que, durante as eleições de 2002, o réu JOSÉ DIRCEU era o Presidente do Partido dos Trabalhadores e, também, Coordenador da Campanha de seu partido à Presidência da República. O Secretário de Finanças do Partido, ou Tesoureiro, era o réu DELÚBIO SOARES, subordinado ao réu JOSÉ DIRCEU. Eles, juntamente com o Secretário Nacional do Partido, o réu SÍLVIO PEREIRA – cuja conduta não será analisada neste julgamento -, e com o réu JOSÉ GENOÍNO, que assumiu a Presidência do Partido dos Trabalhadores a partir de 2003, teriam formado o que o Procurador-Geral da República denominou de núcleo central da quadrilha (denúncia, vol. 27). Em março de 2003 o réu JOSÉ DIRCEU viria a renunciar ao cargo de Presidente do Partido dos Trabalhadores, segundo o réu informou em seu interrogatório (fls. 16.638/9, v. 77).

Segundo a acusação, os réus do núcleo político ou central, com intuito de permanecerem por longos anos no Poder, teriam optado por utilizar mecanismos criminosos oferecidos pelos réus dos núcleos publicitário e financeiro, os quais, segundo o Procurador-Geral da República, já vinham sendo praticados no Estado de Minas Gerais, especialmente a partir do Governo do atual Senador EDUARDO BRANDÃO DE AZEREDO, do PSDB, cuja conduta está em análise na AP 536.

Os réus do chamado núcleo central – JOSÉ DIRCEU, JOSÉ GENOÍNO e DELÚBIO SOARES -, segundo a denúncia recebida por este Plenário, teriam sido os responsáveis por organizar a quadrilha voltada para a compra de apoio político, através dos votos dos parlamentares. Eles respondem, nestes autos, à acusação de crimes de formação de quadrilha e corrupção ativa.
Para viabilizar seu intento, teriam se aproximado dos réus dos núcleos publicitário e financeiro, supostamente dando-lhes “carta branca” para agir da forma que fosse necessário para atingir o objetivo de abastecer a quadrilha com recursos que permitiriam a prática dos crimes de corrupção.
Assim, a denúncia afirmou que “a análise das movimentações financeiras dos investigados e das operações realizadas pelas instituições financeiras envolvidas no esquema demonstra que estes, fazendo tabula rasa da legislação vigente, mantinham um intenso mecanismo de lavagem de dinheiro com a omissão dos órgãos de controle, uma vez que possuíam o apoio político, administrativo e operacional de JOSÉ DIRCEU, que integrava o Governo e a cúpula do Partido dos Trabalhadores”.
(...)
[O PGR] Afirmou que “A instrução comprovou que foi engendrado um plano criminoso voltado para a compra de votos dentro do Congresso Nacional” (fls. 45.088). [p. 51]

Para o Procurador-Geral da República, relativamente ao réu JOSÉ DIRCEU, “Provou-se que o acusado, para articular o apoio parlamentar às ações do governo, associou-se aos dirigentes do seu partido e a empresários do setor de publicidade e financeiro para corromper parlamentares. As provas coligidas no curso do inquérito e da instrução criminal comprovaram, sem sombra de dúvida, que JOSÉ DIRCEU agiu sempre no comando das ações dos demais integrantes dos núcleos político e operacional do grupo criminoso. Era, enfim, o chefe da quadrilha. (...) Nesse sentido, há vários depoimentos nos autos. MARCOS VALÉRIO (...) confirmou que JOSÉ DIRCEU comandava as operações que estavam sendo feitas para financiar os acordos políticos com os líderes partidários (...)” (fls. 45.123/45.124). 
Sustenta, ainda, que “Outros fatos podem ser referidos para comprovar
que JOSÉ DIRCEU integrava e comandava o grupo criminoso. [p/ 52]

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Creio que basta isso para enfatizar a gravidade dos atos criminosos imputados aos denunciados.
A responsabilidade agora está com a corte dita suprema...
Paulo Roberto de Almeida 

sábado, 19 de maio de 2012

China: a fachada e a realidade -- "filhos de Principe" estudam nos EUA

Esta matéria está especialmente dedicada aos antiamericanos primários, que acham que a China constitui um modelo novo, mais eficiente, de crescimento e de desenvolvimento, ou que os EUA são um país condenado à decadência, ou pelo menos ao declínio
Como resume seu autor logo no início, os líderes chineses estão sempre condenando, em público, os valores e o modo de vida americano, mas enviam seus filhos para estudar nas melhores universidades americanas. Devem ser alguns, dentre muitos, que sabem distinguir entre o que vale, e o que parece...
Pois é, inverteram o moto: "façam o que eu faço, não o que eu digo"...
Paulo Roberto de Almeida 

Chinese communist leaders denounce U.S. values but send children to U.S. colleges

By  and Maureen Fan

The Washington Post, Saturday, May 19

CAMBRIDGE, Mass. — When scholars gathered at Harvard last month to discuss the political tumult convulsing China’s ruling Communist Party, a demure female undergraduate with a direct stake in the outcome was listening intently from the top row of the lecture hall. She was the daughter of Xi Jinping, China’s vice president and heir apparent for the party’s top job.
Xi’s daughter, Xi Mingze, enrolled at Harvard University in 2010, under what people who know her there say was a fake name, joining a long line of Chinese “princelings,” as the offspring of senior party officials are known, who have come to the United States to study.
In some ways, the rush to U.S. campuses by the party’s “red nobility” simply reflects China’s national infatuation with American education. China has more students at U.S. colleges than in any other foreign country. They numbered 157,558 in the 2010-11 academic year, according to data compiled by the Institute of International Education — up nearly fourfold in 15 years.
But the kin of senior party officials are a special case: They rarely attend state schools but congregate instead at top-tier — and very expensive — private colleges, a stark rejection of the egalitarian ideals that brought the Communist Party to power in 1949. Of the nine members of the Politburo Standing Committee, the supreme decision-making body of a Communist Party steeped in anti-American rhetoric, at least five have children or grandchildren who have studied or are studying in the United States.
Helping to foster growing perceptions that the party is corrupt is a big, unanswered question raised by the foreign studies of its leaders’ children: Who pays their bills? Harvard, which costs hundreds of thousands of dollars in tuition and living expenses over four years, refuses to discuss the funding or admission of individual students.
Grandchildren of two of the party’s last three top leaders — Zhao Ziyang, who was purged and placed under house arrest for opposing the military assault on Tiananmen Square protesters in June 1989, and his successor, Jiang Zemin — studied at Harvard.
The only prominent princeling to address the question of funding publicly is Bo Guagua, a graduate student at Harvard’s Kennedy School of Government. His father is the now-disgraced former Chongqing party boss Bo Xilai, who, like Xi Jinping, is the son of an early revolutionary leader who fought alongside Mao Zedong.
Bo Guagua did not attend the seminar at Harvard’s Fairbank Center for Chinese Studies, which focused on his family’s travails. But in a statement sent a few days later to Harvard’s student-run newspaper, the Crimson, he responded to allegations of ill-
gotten wealth. He said he had never used his family name to make money and, contrary to media reports, had never driven a Ferrari. Funding for his overseas studies, he said, came entirely from unspecified “scholarships earned independently, and my mother’s generosity from the savings she earned from her years as a successful lawyer and writer.”

His mother, Gu Kailai, is in detention somewhere in China on suspicion of involvement in the death of Neil Heywood, a Briton who served as a business adviser to the Bo family. After what Chinese authorities say was a falling-out over money, Heywood was found dead, apparently poisoned, in a Chongqing hotel room in November.
Bo Guagua “is very worried about what might happen to his mother,” said Ezra F. Vogel, a Harvard professor who said he had received a visit from a “very anxious” Bo last week. Bo’s image as a wild playboy, Vogel added, is “greatly exaggerated.”
In China’s “dog-eat-dog” political culture, Harvard scholar Roderick MacFarquhar told the Fairbank Center seminar, the family is both “a wealth-generating unit” and a “form of general protection.” As a result, he added, “you have a party that is seen as deeply corrupt.”
Before his ouster, Bo Xilai had an official annual salary of less than $20,000. But his son attended Harrow School, an exclusive private academy in London with annual fees of about $48,000; then Oxford, which, for overseas students, costs more than $25,000 a year just in tuition; and the Kennedy School, which, according to its own estimates, requires about $70,000 a year to cover tuition and living expenses.
‘Top of the food chain’
“This is about haves and have-nots,” said Hong Huang, the stepdaughter of Mao’s foreign minister Qiao Guanhua and a member of an earlier generation of American-educated princelings. “China’s old-boy network . . . is no different from America’s old-boy network,” said Hong, who went to Vassar College in Poughkeepsie, N.Y., and whose mother served as Mao’s English teacher.
“There is something about elitism that says if you are born in the right family, you have to go to the right school to perpetuate the glory of the family. Going to an elite college is a natural extension of that,” said Hong, now a Beijing-based style guru and publisher. Among her ventures is iLook, an edgy fashion and lifestyle magazine that offers tips on how to enjoy what a 2010 cover story proclaimed as China’s “Gilded Age.”
Noting that the Communist Party has drifted far from its early ideological moorings, Hong said she sees no contradiction between the desire for an Ivy League education and the current principles of the ruling party and its leaders: “What part of China is communist, and what part of Harvard is against elitist authoritarianism?”
Hong’s stepfather, Qiao, was purged as foreign minister in 1976 and his ministerial post passed to Mao’s former interpreter, Huang Hua, whose son, Huang Bin, also went to Harvard. At the time, China’s education system lay in ruins, wrecked by the ­1966-76 Cultural Revolution and Mao’s vicious campaigns against intellectuals, who were reviled as the “stinking ninth category.”
Today, Chinese universities have not only recovered but become so fiercely competitive that getting into them is difficult even for well-connected princelings. Even so, top American universities still carry more cachet among many in China’s political and business elite, in part because they are so expensive. A degree from Harvard or the equivalent ranks as “the ultimate status symbol” for China’s elite, said Orville Schell, a Harvard graduate and director of the Center on U.S.-China Relations at the Asia Society in New York.
“There is such a fascination with brand names” in China that “just as they want to wear Hermes or Ermenegildo Zegna, they also want to go to Harvard. They think this puts them at the top of the food chain,” Schell said.
The attraction of a top-brand university is so strong that some princelings flaunt even tenuous affiliations with a big-name American college. Li Xiaolin, the daughter of former prime minister and ex-Politburo member Li Peng, for example, has long boasted that she attended the Massachusetts Institute of Technology as a “visiting scholar at the Sloan Business School.” MIT says the only record it has of attendance by a student with Li’s name was enrollment in a “non-degree short course” open to executives who have “intellectual curiosity” and are ready to spend $7,500 for just 15 days of classes.
Discipline case
The welfare of princelings studying abroad can become a matter for the Chinese government.
During his final year at Oxford University in England, Bo Guagua ran into trouble because of inattention to his studies. When the university initiated a disciplinary process against him, the Chinese Embassy in London sent a three-person diplomatic delegation to Oxford to discuss the matter with Bo’s tutor at Balliol College, according to an academic who was involved in the episode and who spoke on the condition of anonymity to be able to speak candidly. The embassy did not respond to a request for comment.
The embassy trio pleaded on Bo’s behalf, stressing that education is very important to the Chinese, the academic said. The tutor replied that Bo should, in that case, learn to study more and party less. The intervention by Chinese diplomats didn’t help Bo and, in December 2008, he was “rusticated” for failing to produce academic work of an adequate standard, an effective suspension that, under Oxford regulations, meant he lost his “right of access” to all university facilities. Barred from college housing, Bo moved into a pricey local hotel. He was, however, allowed to take a final examination in 2010. Despite his banishment from classes, he performed well and received a degree.
“He was a bright student,” said the Oxford academic, who knew Bo Guagua at the time. But “in Oxford, he was suddenly freer than anything he had experienced before and, like a good many young people in similar circumstances, it was like taking the cork out of a bottle of champagne.”
Most other princelings have kept a far lower profile.
On the manicured, sun-drenched grounds of Stanford University in Silicon Valley, Jasmine Li — whose grandfather, Jia Qinglin, ranks fourth in the Politburo and has made speeches denouncing “erroneous” Western ways — blends in seamlessly with fellow American undergraduates.
Photographs have appeared online showing her wearing a black-and-white Carolina Herrera gown at a Paris debutante ball in 2010, and she shares with Bo Guagua a taste for horse riding. As a freshman last year, she rode with the Stanford Equestrian team.
But her presence on campus is low-key, like that of Xi’s daughter at Harvard, whom fellow students describe as studious and discreet. Li rides a shiny red bicycle to and from classes, has an American roommate and joined a sorority, Kappa Alpha Theta. She often studies after class in the sorority house’s high-ceilinged living room alongside fellow members.
Reached at her sorority, Li declined to comment on her time in the United States or her ambitions, saying, in unaccented English, that she needed to consult first with her family in China.
‘Achilles’ heel for the party’
The stampede to American campuses has delivered a propaganda gift to critics of the Communist Party, which drapes itself in the Chinese flag and regularly denounces those who question its monopoly on power as traitorous American lackeys. A widespread perception that members of the party elite exploit their access and clout to stash their own children and also money overseas “is a big Achilles’ heel for the party,” said Harvard’s MacFarquhar.
Bitter foes of the ruling party such as the banned spiritual movement Falun Gong have reveled in spreading sometimes unfounded rumors about privileged party children. New Tang Dynasty TV, part of a media empire operated by Falun Gong, reported, for example, that 74.5 percent of the children of current and retired minister-level Chinese officials have acquired either green cards or U.S. citizenship. The rate for their grandchildren is 91 percent, said the TV station, citing an anonymous Chinese blog posting that in turn cited supposed official U.S. statistics. No government agency has issued any such statistics.
Though of dubious accuracy, the report stirred a storm of outrage on the Internet, with Twitter-like micro-blogs denouncing the hypocrisy of the party elite. Most of the comments were quickly deleted by China’s army of Internet censors. But a few survived, with one complaining that officials “curse American imperialism and capitalism all the time but their wives and children have already emigrated to the U.S. to be [American] slaves.”
Symbol of excess
Similar fury greeted photographs that showed Bo Guagua cavorting at parties with Western women at a time when his father was promoting a neo-Maoist revival in Chongqing and urging the city’s 33 million residents to reconnect with the austere values of the party’s early years.
Bo, a poster boy for princeling excess, stopped attending classes this spring and last month moved out of a serviced apartment building with a uniformed doorman near Harvard Yard. (Rents there range from $2,300 to $3,000 a month.) People who know him at Harvard say he had earlier split up with his girlfriend, fellow Harvard student Sabrina Chen, the granddaughter of Chen Yun, a powerful party baron. Before his death in 1995, Chen took a hard line against the “infiltration” of Western values and, along with Bo Guagua’s grandfather, Bo Yibo, pressed for a military crackdown against student protesters who gathered in Tiananmen Square around a plaster statute inspired by the Statute of Liberty.
The cook at a fast-food eatery near his Cambridge apartment building said Bo Guagua used to come in regularly but didn’t make much of an impression. “He just ordered the usual stuff, BLTs. Nothing special,” said the cook, who gave his name as Mustafa.
Staff at Changsho, a Chinese restaurant, however, remember a more extravagant customer. Late one evening, for example, Bo came in alone, ordered four dishes and left after barely touching the food. “He didn’t even ask for a doggie bag,” recalled a restaurant worker, appalled at the waste.

Fan and special correspondent Yawen Chen reported from Palo Alto, Calif.

terça-feira, 20 de março de 2012

Corrupcao: tem quem queira flexibilizar... (entendo)

Pois é, já que o modo de financiamento de certos partidos mudou da simples militância para ao achaque direto às empresas, rapidamente convertidas em aliadas preferenciais (de classe) dos companheiros, nada mais natural que os companheiros em questão queiram dar uma ajudazinha a quem tanto lhes faz bem...
Paulo Roberto de Almeida 

Por Caio Junqueira | De Brasília
Valor Econômico, 19/03/2012

Com apoio do governo, a Câmara dos Deputados quer aprovar a possibilidade de que o Estado possa efetuar um "acordo de leniência" com empresas acusadas de corrupção, uma espécie de delação premiada para pessoas jurídicas. O dispositivo está presente no capítulo 5 da versão final do relatório da comissão especial que discute o projeto de lei 6826 de 2010, que trata da responsabilização administrativa e civil de empresas acusadas de corrupção.

Por meio desse acordo, a empresa que colaborar com a apuração poderá se livrar de algumas das punições previstas no projeto, como a declaração de inidoneidade, a proibição de receber financiamentos e de fechar contratos com o Estado. Para tanto, deverá ser a primeira a se manifestar sobre seu interesse em cooperar, interromper seu envolvimento na infração e confessar sua participação. Ainda assim, não estará livre da multa, a ser fixada entre 0,1% e 20% do faturamento bruto do último exercício da empresa.

O relatório foi apresentado na semana passada pelo relator, Carlos Zarattini (PT-SP), e a expectativa é de que seja aprovado na comissão especial em caráter conclusivo neste semestre. De lá, seguiria diretamente ao Senado, a não ser que 10% dos deputados da Casa façam um requerimento em que peçam que ele passe pelo plenário.

O relator, contudo, contesta a ideia de que seja um dispositivo similar à delação premiada. "É uma colaboração da empresa com a investigação. Ela admite que não houve orientação dela a postura de alguns dos seus funcionários ou diretores e passa a ter algumas possibilidades de punição eliminadas. A delação dá uma ideia de que haverá anistia, o que não é o caso", disse.

O deputado também incluiu outros pontos no projeto original. Alguns deles atendendo a entidades empresariais, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que atuou para que empresas integrantes do mesmo grupo econômico, bem como sociedades controladas, controladoras, ou consorciadas serão subsidiariamente responsáveis, e não mais solidariamente responsáveis pelos atos ilícitos, como no texto original.

Também foi incluído no relatório que as pessoas físicas ligadas à empresa (dirigentes e administradores) só poderão ser responsabilizadas de acordo com sua comprovada participação nos atos ilícitos.

Por outro lado, outros dispositivos agravaram as condições para as pessoas jurídicas, como o trecho que impõe a responsabilidade objetiva sobre seus atos. O Estado, assim, não, precisará comprovar a intenção dos seu ato lesivo. Bastará apenas demonstrar a relação entre a ação e o resultado.

O governo, via Controladoria-Geral da União (CGU), aproveitou o debate para incluir um artigo com o objetivo de potencializar o Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas (CEIS). O atual cadastro possui 5.946 empresas e é regulamentado por uma portaria do órgão de 2010, mas só obriga os três Poderes em nível federal a alimentar o cadastro. Agora, Estados e municípios também terão de abastecer esse cadastro mediante o fornecimento dos nomes das empresas que sofreram sanções administrativas e judiciais.

O texto original foi encaminhado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva em fevereiro de 2010, como reação à operação da Polícia Federal intitulada Castelo de Areia. Deflagrada em março de 2009, ela investigou a construtora Camargo Corrêa por crimes financeiros e doações de campanhas irregulares aos principais partidos e políticos do país, oriundos do PT, PMDB, PPS, PSB, PDT, DEM, PP, PR, PSDB. "É um projeto bom para as empresas porque passa a ter uma regra de financiamento e contato com o poder público. Além disso, qualquer corrupção desbalanceia a competição", disse Zarattini.

quarta-feira, 14 de março de 2012

O fascismo em construcao no Brasil (7): direito de resposta

Políticos pretendem cercear o direito dos veículos de comunicação -- jornais, rádios e TVs -- de fazerem acusações a suas malversações, impondo-lhes um custo econômico, e provavelmente um custo moral, sem qualquer critério objetivo, a não ser o próprio fato de terem sido citados em alguma matéria que lhes seja desfavorável. Trata-se, obviamente, de uma chantagem inaceitável, e que não pode ser aceita pela sociedade, sob risco de que homens públicos deixem de ser públicos -- ou seja, de terem de assumir a responsabilidade pelo fato de terem escolhido ser políticos -- para se refugiar num direito à privacidade que só compete ao cidadão enquanto cidadão, não enquanto representante político.
Eles têm de arcar com o ônus de serem políticos, e portanto terem suas atividades seguidas, monitoradas e até cobradas pela imprensa, como por toda a cidadania.
Este é mais um aspecto do fascismo em construção no Brasil.
Paulo Roberto de Almeida 


Senado aprova projeto para cercear imprensa

Gabriel Castro
VEJA Online, 14/03/2012

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou, em caráter terminativo, um projeto criado para constranger os veículos de comunicação: a proposta altera a tramitação dos pedidos de direito de resposta a órgãos de imprensa e atropela o trâmite natural dos processos. O projeto do senador Roberto Requião (PMDB-PR) estabelece que as pessoas que se sentirem prejudicadas por uma reportagem poderão procurar diretamente o veículo responsável pela matéria e exigir um espaço para apresentar sua versão dos fatos. Jornais, revistas, sites noticiosos, rádios e emissoras de televisão terão de publicar o direito de resposta até sete dias depois de comunicados da queixa. Caso contrário, a suposta vítima poderá acionar a Justiça. Os maiores beneficiários da proposta são justamente os políticos, alvo frequente de denúncias da imprensa fiscalizadora.
O trâmite judicial também será modificado pela nova lei. As ações do tipo transcorrerão em rito especial, o que significa uma celeridade muito maior na apreciação dos processos. Depois de ser acionado, o juiz responsável terá 24 horas para comunicar o órgão de imprensa. Por sua vez, o veículo deverá apresentar sua contestação em até três dias. Depois disso, se o magistrado optar pelo provimento do pedido, o direito de resposta deverá ser publicado em até dez dias. ”Não se trata de cercear o direito fundamentel à informação. Não se trata de censurar a imprensa, porque a imprensa deve ser livre”, disse o relator da proposta, Pedro Taques (PDT-MT). Não é bem assim. Ao criar prazo exíguos, a medida permite que os meios de comunicação sejam pressionados por enxurradas de ações judiciais de forma orquestrada. A depender da forma como a lei for aplicada, o excesso de direitos de resposta poderá atravancar o trabalho da imprensa, que tem entre suas atribuições inalienáveis o exercício da crítica e da denúncia.
E poderia ser pior: o relator amenizou trechos insólitos da proposta original de Roberto Requião. O peemedebista queria, por exemplo, que as emissoras de rádio fossem obrigadas a dar, além do tempo proporcional do direito de resposta, dez minutos adicionais para o pronunciamento da pessoa atingida pela reportagem. No caso das emissoras de TV, seriam três minutos extras. O senador, inimigo declarado dos meios de comunicação, também previa que os veículos de imprensa simplesmente não pudessem ter direito ao efeito suspensivo em eventuais decisões da Justiça sobre direito de resposta. Pedro Taques alterou o dispositivo: o efeito suspensivo poderá ser concedido, desde que por uma decisão colegiada de magistrados.
A proposta foi aprovada por unanimidade na comissão. Se nenhum senador recorrer, o texto seguirá para a Câmara sem necessidade de aprovação em plenário.
Histórico
O senador Roberto Requião tem um longo histórico de ataques a imprensa. Quando governador do Paraná, ele usava a TV pública para veicular ataques quase diários a veículos que apontavam os problemas de sua gestão. O uso indevido da emissora levantou questionamentos do Ministério Público Estadual. No ano passado, o peemedebista deu mostras daquilo que entende por liberdade de imprensa: simplesmente arrancou um gravador das mãos de um repórter da Rádio Bandeirantes. O motivo: o parlamentar se irritara com uma pergunta a respeito da confortável aposentadoria que recebe como ex-governador. O senador também ameaçou agredir o jornalista. E só devolveu o gravador - sem o áudio da entrevista - horas depois.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Todo politico um ladrao? Nao sou eu quem digo...

É o Washington Post.
Mas no caso deles, são só uns poucos....


Sixteen members of Congress have directed federal tax dollars to companies, colleges and community groups where their relatives work as salaried employees, lobbyists or board members, according to an examination of federal disclosure forms and local public records by The Washington Post.

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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Governo da Mae-Joana? Ou governo de mae nenhuma?

Está, ao que parece, mais para filho de mãe nenhuma, bastardo enjeitado, vagabundo errante numa terra sem lei, como se dizia nos romances de antigamente, eivados da falsa moralidade de um anacrônico romantismo.
Pois é isso que parece a governança atual no Brasil, algo que nos faz tremer, ao pensar que todo o aparato do Estado, nos seus mais altos escalões, está entregue ao mais tosco prebendalismo de botequim, a decisões tomadas de afogadilho em reuniões partidárias mais parecidas com conclaves de sociedades caracterizadas pela omertà, traçadas no conluio de partidários de causas obscuras, abandonados os antigos ideais e concentrados unicamente na retenção dos despojos da máquina pública, como se esta fosse um cadáver a ser devidamente esquartejado por hienas sedentas de poder e de dinheiro (uma coisa vai com a outra, bien sûr).
Uau! Estou romântico, moi aussi, pelo menos no estilo, pois o espírito é o pior possível, ao ler matérias como essa do editorial do Estadão desta terça-feira 7 de Fevereiro de 2012. 
Como é possível que a governança no Brasil tenha descido tão baixo?
Como é possível que o Estado esteja dominado por seres amorais, dedicados única e exclusivamente a extrair benefícios pessoais e partidários de cargos que eles não hesitam em converter em fontes de rendosas transações ilegais?
Como é possível termos chegado a esse Estado de liquefação de valores -- e de princípios legais -- que nos aproximam de um Estado mafioso?
Como é possível suportar, TODOS OS DIAS, uma denúncia de um "malfeito" -- como pudicamente alguém já se referiu a atos de verdadeira ladroagem -- sem que se faça correção radical de todas essas malversações com o dinheiro público (o nosso dinheiro, vale lembrar) e sem que os bandidos sejam punidos?
Pois eu pergunto: de todos os personagens que foram denunciados PELA IMPRENSA, não pelos órgãos de controle, de corregedoria e de investigação do governo, QUANTOS foram processados? Quantos alimentam sequer o temor de ser um dia incomodados e cobrados pelo que desviaram, subtrairam, roubaram direta ou indiretamente dos cofres públicos?
Até quando os brasileiros vão aceitar passivamente pertencer a uma República Mafiosa?
Paulo Roberto de Almeida 


Addendum
Parece que ter sido prisioneiro político é prova de competência administrativa: não se pede mais CV, e sim ficha policial? Isso basta para assegurar que o trabalho seja bem feito? PRA


Pró-reitora de extensão da Universidade Federal de São Paulo, Eleonora Menicucci vai substituir Iriny Lopes no cargo. Ela foi presa política junto com a presidenta na década de 70 Leia mais


Casa da Moeda ou da mãe joana?

Editorial O Estado de S.Paulo07 de fevereiro de 2012 | 3h 07
Todos ficaram mal no bate-boca sobre a nomeação do último presidente da Casa da Moeda, Luiz Felipe Denucci Martins, demitido, há poucos dias, depois de denúncias sobre movimentação de recursos em paraísos fiscais. Investigações poderão determinar se ele cometeu algum malfeito ou se foi vítima de acusações sem fundamento. Mas o governo e seus aliados já expuseram à luz, mais uma vez, uma das maiores aberrações políticas brasileiras - o loteamento administrativo como forma rotineira e "normal" de ocupação do setor público. A aberração, neste episódio, chegou a um nível nunca atingido na série de escândalos iniciada com a divulgação das bandalheiras no Ministério dos Transportes, no ano passado.
O fio de ligação entre todas essas histórias sempre foi a partilha de postos federais como um grande butim conquistado por tropas de assalto. A novidade, agora, foi a espantosa troca de acusações entre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e a liderança de um grupo aliado, o PTB. Ninguém assume a responsabilidade pela indicação de um indivíduo para presidir nada menos que a Casa da Moeda, o departamento responsável pela impressão e pela cunhagem do dinheiro em circulação no País. Só não é exatamente uma piada pronta porque isso ultrapassa a imaginação dos melhores humoristas.
Segundo o presidente do PTB, Roberto Jefferson, o ministro da Fazenda pediu ao líder do partido na Câmara, deputado Jovair Arantes, um aval ao nome de Luiz Felipe Denucci. "Ele não é do PTB", disse Jefferson. "É do Mantega." O ministro contestou. Declarou desconhecer o possível candidato ao posto, nunca tê-lo encontrado e ter recebido seu currículo do deputado Jovair Arantes. Segundo Mantega, o currículo era adequado e Denucci até conseguiu modernizar a Casa da Moeda. Além disso, ele atribuiu ao partido as denúncias de operações irregulares no exterior.
O ministro da Fazenda disse isso cumprindo ordem da presidente Dilma Rousseff para se manifestar sobre a demissão e esclarecer a participação do PTB na história. E, segundo se informou em Brasília, a cúpula do Planalto aprovou seu desempenho. Em outras palavras, a presidente e seus conselheiros mais próximos teriam ficado satisfeitos porque o ministro se eximiu da responsabilidade pela escolha de um presidente da Casa da Moeda e a lançou sobre um partido aliado. Segundo as mesmas fontes, a presidente da República teria cobrado a nomeação de um técnico para o posto.
A presidente pode insistir na nomeação de um técnico, mas isso de nenhum modo elimina a questão básica: a quem cabe a responsabilidade pela nomeação de ministros, de dirigentes de estatais e de autarquias e, de modo geral, de ocupantes de postos de confiança? Ao jogar para o PTB a responsabilidade pela nomeação de Luiz Felipe Denucci, o ministro da Fazenda reiterou de forma inequívoca a resposta conhecida até agora: as nomeações são sujeitas a critérios de loteamento. O encarregado de assinar o ato oficial - no caso, o ministro - pode até rejeitar algum nome, mas a indicação, de toda forma, cabe a um partido, de acordo com algum critério de partilha.
Em outras condições de normalidade, um ministro julgaria humilhante assumir publicamente o papel de mero carimbador de uma nomeação para um cargo vinculado ao seu gabinete. Mas os critérios dominantes em Brasília são de outra natureza. As palavras "não conhecia, nunca tinha visto o Luiz Felipe Denucci" estão no segundo parágrafo de uma nota divulgada sexta-feira no portal do Ministério da Fazenda. Não constam de uma acusação ao ministro. São elementos - quem diria? - de sua defesa.
Mas o ministro age segundo critérios considerados normais para a gestão pública brasileira. Esses critérios foram reafirmados pela presidente, ao manter sob controle do PP o Ministério das Cidades. Partidos têm cotas no governo. Obviamente, só brigam pela conquista e pela manutenção de cotas porque esperam servir-se da administração pública. Presidencialismo de coalizão é isso, no Brasil, e a presidente nunca renegou essa concepção. Apenas a aperfeiçoou, ao aceitar que um ministro negue sua responsabilidade pela nomeação do presidente da Casa da Moeda.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Presidente condenado a dois anos de prisão: que injustiça!

Que absurdo! Imaginem vocês: a justiça condenou um ex-presidente a dois anos de prisão (ainda que com sursis, ou seja, o condenado se livra de cumprir a pena, mas fica condenado).
E ela o fez contra a vontade dos procuradores da República, que pediam, em primeiro lugar, um "non-lieu", ou seja, um abandono de todo e qualquer processo, e depois, em relação aos fatos, mais precisamente, pedia simplesmente uma absolvição geral (aquittement). 
Mesmo com tudo isso, os juízes consideraram que o acusado era plenamente responsável e, portanto, culpado de todas as acusações feitas contra ele; ele foi condenado à pena máxima neste caso (ainda que com direito a recurso), mesmo se seus assessores foram condenados a penas menores ou absolvidos.
Vejam que absurdo: ele foi condenado por práticas e fatos que neste nosso maravilhoso país seriam considerados não apenas legais, mas inteiramente permissíveis, sequer passíveis de perseguição por procuradores malévolos ou sancionáveis do ponto de vista moral ou político.
O ex-presidente em questão apenas mantinha funcionários -- ANTES de assumir a presidência, frise-se bem -- que não trabalhavam, de fato, nos cargos para os quais eles tinham sido contratados com dinheiro público, mas que eram usados para fins pessoais, mais especificamente para a campanha política do pretendente à presidência, hoje condenado.
Que absurdo: políticos mantendo funcionários pagos com dinheiro público para trabalhar em seus escritórios de campanha! Onde já se viu uma coisa dessas?
E a justiça condenando um político por esses fatos, sem que os procuradores requeiram condenação?
Onde vamos parar?
Já não se pode fazer mais como antigamente?
Mas onde isso?
Ah, bom, não foi aqui...
Paulo Roberto de Almeida 

M. Chirac condamné à deux ans de prison avec sursis

Jacques Chirac, le 5 novembre 2010.
L'ancien président a été déclaré coupable  de "détournement de fonds publics" et "abus de confiance" dans un des deux volets de l'affaire des emplois présumés fictifs de la Ville de Paris.