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terça-feira, 13 de junho de 2017

A politica externa e a crise politica - Rubens Barbosa (OESP)

A POLÍTICA EXTERNA E A CRISE POLÍTICA
Rubens Barbosa
O Estado de S. Paulo, 13/06/2017

Apesar da crise politica ter sido agravada por denúncia contra o próprio Presidente da República, foi significativa a decisão do PSDB, do PMDB, do DEM e de outros partidos em separá-la da discussão no Congresso das reformas estruturais (trabalhista, previdenciária, tributária e política). A contaminação pela radicalização política do exame e da sua eventual aprovação seria danosa para o Brasil. Fizeram bem as lideranças desses partidos em colocar os interesses do pais acima das disputas político-partidárias, pois, caso as reformas não sejam votadas, estará em jogo a estabilidade da economia, a volta do crescimento e a redução do desemprego.
Não há dúvida de que a crise política e o temor de denúncias da Lava Jato têm afetado o funcionamento normal da Administração pública. 
Apesar disso, nos primeiros treze meses do atual governo, o apoio institucional e a nova orientação imprimida por Jose Serra e agora por Aloysio Nunes Ferreira revitalizaram o Itamaraty, fortalecendo seu papel central na formulação e execução da política externa, e retiraram o Brasil do isolamento das negociações comerciais. Os recursos recebidos permitiram que o Brasil voltasse a honrar seus compromissos financeiros nos organismos internacionais e facilitaram um planejamento mais adequado dos gastos com a manutenção da máquina administrativa no Brasil e no exterior. As correções de rumo na politica externa afastaram a influência ideológica que colocou o Brasil a reboque dos acontecimentos, sobretudo na América do Sul, e  recuperaram o tempo perdido nas negociações comerciais externas com a aceleração das negociações Mercosul-União Europeia e a abertura de conversas exploratórias com o Canadá, o Japão e a Coréia. O Itamaraty retomou, em larga medida, sua capacidade de iniciativa e voltou a defender os interesses permanentes do pais, ao contrário do que passara a acontecer no segundo mandato do governo Lula e nos tempos de Dilma Rousseff. As relações com a Argentina foram relançadas, permitindo uma reavaliação do Mercosul e a tomada de medidas para fazê-lo retornar às suas origens como instrumento para abertura de mercados e liberalização de comércio. Os entendimentos com os EUA avançam de forma pragmática, naquilo que é possível e nossas fronteiras passaram a ter uma atenção especial para controlar o contrabando de drogas e de armas. A Venezuela passou a ser um dos itens principais da agenda diplomática pelas violações à democracia, ao desrespeito dos direitos humanos e pela ameaça de um crescente número de refugiados em nosso pais; A dura nota do Itamaraty contra o comunicado conjunto emitida pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que tratou de maneira distorcida e tendenciosa a reação do governo aos lamentáveis acontecimentos ocorridos em Brasília no dia 24 de maio, com a destruição e o incêndio de prédios públicos, e de maneira capciosa menciona a violência agrária no sul do Para e as medidas da prefeitura de São Paulo contra o consumo e o tráfico de drogas. 
É lamentável que a SAE, Secretaria de Assuntos Estratégicos, ignorando a rapidez dos ajustes de rumo da política externa visando defender    os interesses permanentes do Brasil em tão curto espaço de tempo, faça crítica desfocada à diplomacia brasileira e ao Itamaraty. Ao traçar um quadro de falta de visão estratégica do Brasil, de improvisação da política externa e de ações apenas reativas, a SAE defende uma grande estratégia, que nem ela própria sabe qual é.
Qualquer que seja  o futuro do presidente Temer, a defesa do interesse nacional exige que não haja descontinuidade na agenda da atual política externa que busca retomar sua voz independente e voltar a projetar suas prioridades, em especial:
- a conclusão do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a   União Europeia
- a negociação para o ingresso na Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) depois do pedido de adesão; 
- a presença do Brasil nos esforços da comunidade internacional para conter os excessos do governo Maduro na Venezuela e permitir um avanço negociado para evitar um conflito de grande escala.
- a proposta de início das negociações com os EUA para um acordo de salvaguarda tecnológica que torne viável o aproveitamento comercial da Base de Alcântara. 
- assumir a efetiva liderança na América do Sul, com propostas concretas de maior integração, sobretudo na área de infraestrutura física.
- ampliar as medidas para a segurança das fronteiras com a cooperação dos países vizinhos  para combater a criminalidade no Brasil;
- reforço da presença do Brasil na África, com a visita do Ministro do exterior a seis países, como estão fazendo o Japão, a Índia, a Turquia, sem falar na China;
- aprofundar o relacionamento com o BRICS e com o Novo Banco de Desenvolvimento;
- reforçar a APEX, agora no Itamaraty, e a promoção comercial;
- implantar até o fim do ano o visto eletrônico para os EUA, Canadá, Japão e Austrália para estimular o turismo;
Todas essa agenda proativa, porém, poderia ficar inviabilizada se for mantido o atual contingenciamento de 43% do orçamento do Itamaraty. Sem um significativo descontingenciamento, o Itamaraty poderá deixar de cumprir seus compromissos e pagar suas contas a partir de agosto/setembro. Voltaríamos ao tempo de Dilma Rousseff de completa paralisação da máquina diplomática, calote nos postos e ameaças de cobrança judicial.
O Governo Federal terá de examinar pragmaticamente a situação     financeira do Itamaraty para evitar que seja perdido o esforço feito agora para    aumentar a projeção externa do pais, elevar seu perfil e influência regional e se reinserir plenamente nos fluxos dinâmicos da economia e do comércio   internacional.

Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE)

domingo, 4 de junho de 2017

Pagina12 (Argentina) adere à demagogia barata do "Diplomacia e Democracia"

Pagina12, que já foi um brilhante jornal de oposição ao menemismo, mas que se rendeu (ou foi rendido), e em seguida se vendeu, ao kirchnerismo, ataca o Brasil e a diplomacia brasileira da maneira mais patética e vergonhosa que existe: inventando fatos, onde esses fatos não existem, deformando todo o sentido das recentes manifestações violentas de oposição ao presente governo brasileiro, construindo uma narrativa sobre a atual crise política que é nitidamente fantasiosa, e que fantasia ainda mais ao dizer que "cem diplomatas" brasileiros rechaçam a política externa e a própria governança da administração em vigor.
A matéria é, portanto, inútil, seja no terreno dos fatos, seja no da análise, uma bobagem completa e, sobretudo, uma coleção de mentiras deliberadas com intenções claramente político-partidárias.
Mas, sob um aspecto, ela é útil: ao revelar, e confirmar, que o dito manifesto "Diplomacia e Democracia" constitui, na verdade, uma montagem político-partidária destinada justamente a dar essa impressão: a de que o atual governo de transição consegue "ter o repúdio até mesmo de diplomatas", que seriam, supostamente, os seres mais preclaros do Brasil.
Essa é, de fato, a finalidade daquela peça mal escrita, deformada, enviesada, que foi ingenuamente assinada por jovens diplomatas e por oficiais de chancelaria, que se não são petistas, são simpáticos a certas teses defendidas pelos mais corruptos militantes políticos jamais conhecidos no Brasil, apoiadores da quadrilha mafiosa (o que pode ser uma redundância, mas neste caso não) que assaltou o Brasil e os brasileiros entre 2003 e 2016 (vários ainda continuam assaltando, pois a limpeza ainda não se completou).
Por isso mesmo lamento, como já disse, que diplomatas e outros servidores ingênuos tenham aderido a essa peça viciosa, viciada, tortuosa e torturada pela mentira e pela dissimulação, pois eles estão sustentando a causa dos que afundaram o Brasil, dos que roubaram descaradamente os brasileiros, e que agora, sob cobertura dissimulada de "diálogo e pacificação", só querem escapar da cadeia, onde deveriam apodrecer por todos os crimes cometidos contra o Brasil.
Como sempre, assino embaixo do que penso, declaro, escrevo e registro.
Paulo Roberto de Almeida

Pagina12 (Argentina), 03 de junio de 2017
Más de cien representantes brasileños criticaron la represión en su país
Protesta de diplomáticos democráticos
Desde Brasilia


Policías reprimen a manifestantes en Brasilia el 24 de mayo. 
 
Luego de haber sido censurado por Naciones Unidas y la OEA debido a la represión de los participantes en una protesta que exigió su renuncia, el  presidente Michel Temer fue criticado por más de cien diplomáticos de carrera a través de una carta titulada “Diplomacia y Democracia”.
El manifiesto criticó “el uso de la fuerza para reprimir” repitiendo advertencias de la ONU y la OEA. El texto parece confirmar que la agresividad de la policía no se compadeció con la conducta inofensiva del grueso de los indignados.
Luego de haber sido censurado por Naciones Unidas y la OEA debido a la represión de los participantes en una protesta que exigió su renuncia, el  presidente Michel Temer fue criticado por más de cien diplomáticos de carrera a través de una carta titulada “Diplomacia y Democracia”.
En ese texto los cuadros del Servicio Exterior deploraron el ataque policial a los estimados en 150 mil manifestantes reunidos pacíficamente la semana pasada en Brasilia, cuyas avenidas fueron posteriormente patrulladas por las fuerzas armadas por orden del mandatario. Las pocas horas durante las cuales la Capital Federal estuvo ocupada por el Ejército y la Marina indicaron un punto de inflexión: el régimen anómalo surgido del golpe contra Dilma Rousseff el 12 de mayo de 2016 ingresó, el 24 de mayo de 2017, en una fase de militarización que puede agravarse si la indignación popular sigue creciendo en futuras movilizaciones o si los sindicatos convocan a un nueva huelga general tras la realizada en abril, que fue la primera en 21 años.
El manifiesto de la clase diplomática, criticó “el uso de la fuerza para reprimir o inhibir manifestaciones” repitiendo la advertencia divulgada hace una semana por la ONU y la OEA. “Rechazamos cualquier restricción al libre ejercicio del derecho de manifestación pacífica y democrática (...) cabe al Estado garantizar la seguridad en las manifestaciones así como la integridad del patrimonio público, tomando en cuenta la proporcionalidad del uso de las fuerzas policiales”. En esa última frase los miembros del Palacio Itamaraty parecen confirmar que la agresividad de la policía no se compadeció con la conducta inofensiva del grueso de los indignados, mientras unos pocos autodenominados Black blocs lanzaban molotovs y destruían los portones vidriados de algunos ministerios.
Las sospechas de que los activistas más exaltados no eran realmente activistas fue manifestada el lunes pasado por la senadora Gleisi Hoffmann del Partido de los Trabajadores, en entrevista con este diario. “Fue una movilización realmente muy importante que desde el gobierno quiso ser desnaturalizada con los incidentes de los supuestos Black blocs (..) , no llegué a ver  a los  supuestos Black blocs  pero todos los relatos indican que la policía fue pasiva con ellos y después enfrentó a la masa de manifestantes” dijo Hoffmann, que seguramente hoy será elegida presidenta del PT en el cierre del Sexto Congreso abierto el jueves por Luiz Inácio Lula da Silva. Ayer Hoffmann reiteró que su partido no acepta la realización de elecciones indirectas como las que impulsa el oficialismo y planteó que la salida de la crisis sólo llegará con “elecciones directas ya” en las que “pos supuesto Lula será nuestro candidato”. Esa consigna, “Directas Ya”, y “Fuera Temer”,  fueron la más repetidas en la marcha del miércoles 24 en Brasilia y el domingo pasado en el también multitudinario acto de protesta realizado en Río de Janeiro.
El documento “Diplomacia y Democracia” también refiere a la necesidad de convocar a elecciones cuando señala  “Reclamamos a la sociedad y en especial a sus líderes a renovar el compromiso democrático a través del diálogo constructivo (... a favor) de un nuevo ciclo de desarrollo legitimado por el voto popular”. Y en el pasaje más directo de la misiva los diplomáticos le recomiendan al presidente y los suyos que eviten caer en “tentaciones autoritarias”.
Reducido a la estatura de un casi tirano, el martes pasado Temer presumió, al hablar ante empresarios, de que no le temblará el pulso para movilizar a los militares cada vez que sea alterado el orden. Esa promesa fue, o intentó ser, una forma de garantizar  a inversores locales y extranjeros que permanecerá en el poder, incluso manu militare, y que serán aprobadas las reformas previsional y laboral.
En su  lectura imaginaria de la realidad Temer aún supone ser un presidente con alguna autoridad o legitimidad. Y desde esa idea falsa de su poder procura  recuperar el apoyo del capital nacional y transnacional ofreciéndoles el oro y el moro. Para eso envió a Washington al ministro de Relaciones Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, que ayer  conversó con su homólogo Rex Tillerson precisamente cuando Donald Trump enfrenta el repudio unánime de la comunidad internacional por denunciar el Tratado de Paris sobre cambios climáticos .La cita de los cancilleres de Brasil y Estados Unidos más bien fue el encuentro de dos de los representantes de dos de los gobiernos más aislados del mundo.
En 13 meses al frente del Palacio del Planalto Temer conquistó el repudio de los gobiernos progresistas de la región y la indiferencia de los conservadores de todo el mundo. Brasilia se convirtió en una de las capitales latinoamericanas menos visitadas por líderes internacionales, y las pocas delegaciones que viajaron lo hicieron con reservas, como ocurrió con la misión de la Unión Europea que vino para criticar la exportación de carne brasileña en mal estado.
Algunos de los  firmantes del texto “Diplomacia y Democracia” expresaron su preocupación ante el desprestigio internacional que significa Temer. Esos funcionarios de carrera comentaron, a condición de anonimato, que se pueden “cerrar las puertas” del mundo hacia Brasil, y lamentaron la carta agresiva que Brasilia envió a la  OEA y la ONU, en respuesta a las críticas por la represión policial.





quinta-feira, 13 de abril de 2017

Ricardo Bergamini analisa o atual impasse politico em torno da crise brasileira

O impasse institucional será inevitável

Ricardo Bergamini

Os obstáculos institucionais a um planejamento integrado e abrangente são:
A existência de subdivisões políticas autônomas.
A inadequação do mecanismo de implementação. 

Ainda que os planos sejam concebidos por técnicos, têm de ser implementados através da máquina burocrática, que no Brasil partilha de natureza de burocracia “prismática”, preocupada mais em alcançar “status” que com exibir “desempenho”, e que não se ajusta facilmente aos objetivos nacionais da chamada burocracia “Weberiana”, dos países desenvolvidos, com seu enfoque racional e estruturas especializadas.

Falta de um mecanismo político de formação de consenso
Impregnados de facciosismo e personalismo, os partidos tradicionais provaram-se incapazes do esforço de formação de consenso necessário ao estabelecimento de um compromisso político com determinados objetivos de planejamento, e posteriormente com a continuidade de implementação das metas.

A instabilidade política
Em vista da ausência de um mecanismo de formação de consenso político, representando os planos, portanto, pouco mais que um comprometimento pessoal do chefe do executivo, a instabilidade de liderança tem efeito devastador sobre o esforço de planejamento. Donde nosso ceticismo sobre a relevância de esforços de planejamento num contexto político instável, no máximo existirá enfoques mais modestos, construídos sobre “ilhas de racionalidade”.
Nas democracias políticas – e isso também se aplica aos regimes autoritários onde existe um vigoroso setor privado – mesmo os planos nacionais mais abrangentes são meramente indicativos no tocante ao setor privado, e muito mais coordenativo do que compulsórios em relação a estados e subdivisões políticas.
Isto é verdadeiro ainda que o mecanismo de implantação burocrática permaneça patentemente inadequado, enquanto que a possibilidade de obter consenso político é habitualmente confinada a objetivos gerais, sem implicar um comprometimento operacional válido dos partidos políticos.

Convirá a esta altura considerar os obstáculos maiores que se antepõem a uma formulação e implementação eficaz de planos de desenvolvimento. 
Esses obstáculos são de tríplice natureza: ideológicos, técnicos e institucionais. 
Basta um simples comentário sobre possível mudança, e já surgem defesas intransigentes de grupos de poder na luta por seus imorais privilégios. Raramente havendo espaço para o debate técnico, normalmente desqualificado por esses grupos de poderes vitalícios no Brasil. 

Ricardo Bergamini

(recebido em 13/04/2017)

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Venezuela: o novo Secretario de Estado EUA faz o que os vizinhos nao fazem, dizer a verdade


 NUEVO SECRETARIO DE ESTADO EE.UU TILLERSON:
“CALAMIDAD EN VENEZUELA ES PRODUCTO DE SU INCOMPETENTE GOBIERNO”


“Creo que estamos totalmente de acuerdo en cuanto a la calamidad que ha sucedido a Venezuela, en gran medida producto de su incompetente y disfuncional gobierno -primero bajo Hugo Chávez, y ahora bajo su sucesor designado, Nicolás Maduro. De confirmarse (mi designación como Secretario de Estado) insto a una estrecha cooperación con nuestros amigos del hemisferio, en particular con los países vecinos de Venezuela, Brasil y Colombia, así como con organismos multilaterales como la OEA, para buscar una transición negociada a un gobierno democrático en Venezuela.
Al final, se reconstruirán las instituciones políticas, encabezadas por valientes defensores de la democracia y de los derechos humanos, que allanarán el camino para el tipo de reformas necesarias para poner a Venezuela en el camino de la recuperación económica”
A su juicio, “se reconstruirían las instituciones políticas” con “valientes defensores de la democracia y los derechos humanos”, lo que “abrirá el camino para el tipo de reformas necesarias para poner a Venezuela en el camino de la recuperación económica”, de acuerdo con la Agencia EFE.
Por otra parte, Tillerson sostuvo que “buscaría revisar los detalles del reciente acuerdo de paz” en Colombia y “determinar hasta qué punto Estados Unidos debería seguir apoyándolo”.
También prometió hacer “todo lo posible” para continuar con la “estrecha cooperación” de EE.UU. con el Gobierno colombiano, para que mantengan “sus compromisos de controlar la producción y el tráfico de drogas”.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

A longa batalha da democracia contra seus detratores - Augusto de Franco

A resistência democrática continua
Um manifesto da oposição popular ao PT
Augusto de Franco
DAGOBAH
NL 0021 - 02/09/2016

Muitos nesta hora gostariam de seguir adiante e esquecer o passado, agora que Dilma não é mais presidente.

Alguns (os legalistas conservadores) pensaram em pendurar as chuteiras e terceirizar tudo para "as instituições".

Outros (os liberais de manual) até imaginaram deixar de lado os protestos de rua e abraçar candidaturas para lutar "por dentro do sistema".

Mas a impunidade de Dilma, conquistada pelo golpe Renan-Lewandowski e o seu discurso de despedida, prometendo confronto, mostram que nossos problemas não estão resolvidos.

Se Temer começar a realizar, para valer, as tarefas da transição democrática, teremos pela frente uma guerra civil fria de longa duração (que ele não poderá enfrentar sem a ajuda da cidadania).

Se Temer abrir mão de realizar tais tarefas, ficando refém de Renan e da ala mais fisiológica do seu próprio partido que negocia por baixo do pano com Lula e sua máfia (que continua organizada), teremos um governo medíocre, inepto e desmoralizado, abrindo caminho para a volta do PT em 2018.

O golpe Renan-Lewandowski não foi apenas para sagrar a impunidade de Dilma. Foi para sujeitar o governo Temer aos bandidos da sua base.

Por isso a oposição popular ao PT, que emergiu das ruas, não pode morrer. E a resistência democrática não pode ser coisa do passado. Ela deve continuar.

Ou as ruas reagem, ou tudo que foi feito em 15 de março, 12 de abril, 16 de agosto de 2015 e 13 de março de 2016 terá sido em vão.

Para que tudo não tenha sido em vão é necessário retomar os três pontos principais da pauta original desses grandes protestos de 2015-2016:

Fora Dilma,

Prisão de Lula,

Fim do PT.

Sem isso, a sociedade que se mobilizou contra o velho sistema político que apodreceu ficará na defensiva e o PT voltará (ou, na verdade, não sairá).

Sim, eles não saíram. Só as ruas poderão tirá-los.

domingo, 21 de agosto de 2016

Venezuela: Maduro corta os salarios dos deputados; Parlamento brasileiro vai se manifestar?

De um caudilho só se pode esperar coisas assim. Portanto, nem adianta discutir os gestos arbitrários do ditador chavista.
Precisamos apenas saber o que o Parlamento brasileiro vai fazer.
Vai se solidarizar, vai protestar?
Vai obrigar a chancelaria a se manifestar, mesmo arriscando a imisção nos assuntos internos de outros países?
Aliás, a cláusula democrática do Mercosul está aí justamente para esse tipo de atitude.
Ainda que ela possa provocar mais sofrimento para a população venezuelana, pelo menos temporariamente, mas algo precisa ser feito para sinalizar que atitudes como essas são inaceitáveis.
Paulo Roberto de Almeida


O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, cortou os salários dos parlamentares
A oposição ao presidente venezuelano detém atualmente a maioria no parlamento
21/08/2016

O presidente do parlamento venezuelano, onde a oposição detém a maioria, Henry Ramos Allup, disse hoje que o Governo do Presidente Nicolás Maduro suspendeu o envio de recursos para pagamento aos deputados.

"O Governo não enviou os recursos para a Assembleia Nacional (AN), para o pagamento aos deputados", afirmou Allup aos jornalistas, recordando que o Presidente Nicolás Maduro anunciou recentemente que pretendia suspender o envio de recursos económicos para o parlamento.

Henry Ramos Allup referiu também que os recursos chegam de maneira irregular e que do Escritório Nacional de Orçamento informaram que "só remeterão o dinheiro para o pagamento dos salários dos empregados e pessoal técnico".
"Ninguém nos deterá. O parlamento é a voz do povo venezuelano, no meio da crise do país", afirmou o vice-presidente do parlamento Simón Calzadilla, que sublinhou que mesmo que "os parlamentares tenham que sair à rua, com um pote para recolher dinheiro, a AN não deixará de funcionar".
No dia 3 de agosto, o Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou que pediu ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ) para analisar a pertinência da suspensão das transferências de recursos económicos para a Assembleia Nacional.
À época, Maduro disse não poder "utilizar os recursos públicos em instituições que desacatam e apelam ao desacato das leis".
O Presidente da Venezuela questionou a decisão da direção do parlamento de incorporar, em julho, três deputados da oposição que tinham sido suspensos pelo STJ por alegadas irregularidades no processo eleitoral.
"Ramos Allup [presidente do parlamento] pôs-se à margem da lei e da Constituição (...). O que fez é muito grave, desrespeitar uma sentença do STJ, desrespeitar a letra da Constituição e as leis e dizer que não acatará nenhuma sentença", disse Nicolás Maduro à televisão estatal venezuelana.
A aliança Mesa da Unidade Democrática (MUD) obteve em dezembro a primeira vitória da oposição venezuelana em 16 anos, conseguindo eleger 112 dos 167 lugares que compõem o parlamento, uma maioria de dois terços que lhe conferiu amplos poderes.
No entanto, no dia 31 de dezembro de 2015, o STJ ordenou a suspensão da proclamação de três parlamentares da oposição e um do Governo, por alegadas irregularidades na campanha eleitoral, levando a que apenas 109 deputados da oposição e 54 do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) tenham iniciado funções a dia 05 de janeiro.
Desde que a oposição passou a ser maioria a MUD tem estado a tentar realizar um referendo para revogar o mandato de Nicolás Maduro.

domingo, 10 de abril de 2016

Manifesto de brasilianistas sobre a crise politica no Brasil: meu comentario - Paulo Roberto de Almeida


meu comentário

Paulo Roberto de Almeida


Recebi, de fonte idônea, o Manifesto dos brasilianistas sobre a crise política brasileira, que já circulou amplamente, e eu mesmo devo tê-lo postado aqui ou no Facebook quando de sua divulgação. 
Mas agora disponho do texto "oficial", se se pode dizer, do manifesto em questão, que em muito se parece com um grande número de outros manifestos acadêmicos que já foram divulgados, a maior parte por iniciativa de suas respectivas diretorias, que provavelmente atuaram em petit comitê, no desconhecimento (possivelmente para evitar a oposição) de boa parte de seus membros, talvez até a maioria, pelo menos daqueles que conhecem o que efetivamente se passa no Brasil, e que não gostaria de estar em aliança com bandidos da política, os mafiosos que assaltaram o Brasil.
O dos brasilianistas provocou crise, e os meios de imprensa relataram inclusive o protesto e o desligamento do Prof. Anthony Pereira, do King's College da Universidade de Londres, que se desligou do Comitê Executivo da Brazilian Studies Association justamente em protesto pela divulgação irregular, ou seja, forçada, desse manifesto. A ele manifesto minha solidariedade e meus mais calorosos cumprimentos, pelo gesto corajoso. Eu também já me desliguei de duas ou três associações profissionais pelos mesmos motivos.
Como eu já antecipava, este manifesto, num tom aparentemente neutro, fala em corrupção, mas genericamente, assim como ele fala de políticos e partidos, mas também genericamente. 
Os autores do manifesto não têm coragem, ou pretendem deliberadamente permanecer coniventes com os corruptos e com o partido (não preciso esconder o nome, o PT) que organizou, deliberadamente, metodicamente, incessantemente, o maior assalto ao país, ao Estado, aos brasileiros, em toda a nossa história, e possivelmente em toda a história do mundo, com exceção de reinos bárbaros da antiguidade e da cleptocracia do Putin na atualidade. 
O manifesto, como já afirmei sobre similares que circularam no Brasil, um deles até em inglês, para consumo externo, é covarde, enviesado, e se coloca objetivamente do lado dos corruptos e dos fraudadores da vontade popular.
Lamento que acadêmicos em geral, brasilianistas em especial, tenham descido tão baixo na escala da desonra e da cumplicidade no crime.
Agradeço a remessa do texto oficial a quem assim procedeu, mas não hesito, mais uma vez, em denunciar essa vergonha feita em nome de estudiosos do Brasil no exterior, pois me cabe, como cidadão brasileiro, defender os direitos da cidadania em face de uma tropa de mafiosos disfarçados de políticos.
Acho que fui bastante claro, e dou divulgação a esta minha denúncia contra acadêmicos que não honram a condição, constituindo, se tanto, uma tropa da linha auxiliar de um partido mafioso.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 10 de abril de 2016

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Declaração dos brasilianistas

Since 1985, Brazil has been enjoying the longest period of democratic stability in its history, following a coup d’état in 1964 and a violent military dictatorship that lasted twenty-one years. Under the aegis of the 1988 Constitution, which guarantees a wide range of social and individual rights, Brazil has become a more democratic society, with greater political participation, broader and more inclusive notions of citizenship, and the strengthening public institutions.
In spite of these advances, corruption remains endemic. A series of scandals involving politicians of different party affiliations have outraged the public.
As a result, there have been widespread mobilizations demanding an end to illicit practices. There have also been bold actions by state institutions, such as the Federal Police, the Federal Prosecutors Service, and the Judiciary.
The combat against corruption is legitimate and necessary to improve the responsiveness of Brazilian democracy. But in the current political climate, we find a serious risk that the rhetoric of anti-corruption has been used to destabilize the current democratically-elected government, further aggravating the serious economic and political crisis that the country is facing.
Instead of retaining political neutrality and respecting due process, sectors of the Judiciary, with the support of major media interests, have become protagonists in undermining the rule of law. During their investigations, some public officials have violated basic rights of citizens, such as the presumption of innocence, the assurance of an impartial judiciary, attorney-client privilege, and the guarantee of the right to privacy.
The Lava Jato Operation, led by the federal judge Sérgio Moro, has centralized the principal corruption investigations over the last two years. These investigations have been marred by repeated excesses and unjustified measures, such as arbitrary preventive detentions, dubious and problematic plea-bargaining agreements, selective leaking of information to the media for political purposes, and the illegal wiretapping of both the current President of the Republic and the most recent former president.
All of this has taken place with the sustained support of powerful sectors of the media in an unprecedented effort to influence public opinion for specific political ends. The combat against corruption must be carried out within strict legal limits that protect the basic rights of the accused.
The violation of democratic procedure represents a serious threat to democracy. When the armed forces overthrew the government of President João Goulart in 1964, they used the combat against corruption as one of their justifications. Brazil paid a high price for twenty-one years of military rule.
The fight for a democratic country has been long and arduous. Today, all those who believe in a democratic Brazil need to speak out against these arbitrary measures that threaten to erode the progress made over the course of the last three decades.

quarta-feira, 23 de março de 2016

Comício no Palacio do Planalto: relato de uma embaixada em Brasilia - (traducao de documento reservado)


Comício no Palácio do Planalto
(relato de uma embaixada em Brasília)


[Relato de um embaixador após ter assistindo a cerimônia, no Palácio do Planalto, em 22 de março, de juristas e advogados em defesa da Presidente, com ataque ao processo de impeachment em curso no Congresso.]


[Teor de telegrama reservado de embaixada não identificada em Brasília]

Senhor Ministro,
A convite da Presidência da República, transmitido pelo Itamaraty, compareci na manhã de hoje [22/03/2016], na companhia de diversos de meus colegas em posto nesta capital, ao Palácio do Planalto, a uma cerimônia que tinha sido apresentada como de esclarecimento, por parte de eminentes juristas, sobre a situação política em curso neste país. O evento estava descrito como sendo um “encontro da Presidenta (sic) da República com juristas pela legalidade e em defesa da democracia”, mas o que se assistiu, na verdade, superou todas as expectativas negativas, para quem esperava ouvir ponderações solidamente ancoradas no direito constitucional e nos textos legais brasileiros em torno da atual crise política que vem dividindo o Brasil. Meus colegas e eu nos entreolhamos diversas vezes durante o evento, com a pergunta implícita nos olhos sobre se aquele evento configurava efetivamente uma ocasião para que representantes diplomáticos dos países com os quais o Brasil mantem relações comparecessem ao que se revelou ser, finalmente, um comício político orquestrado pela Presidência da República em defesa de suas teses políticas.
2.         Numerosas personalidades políticas estavam presentes, sobretudo dos meios jurídicos e legais, num ambiente que, desde o início, evidenciou seu caráter político. Antes mesmo de qualquer discurso dos responsáveis pelo encontro, ouviam-se gritos da audiência, “Não Vai Ter Golpe”, “Não Vai Ter Golpe”, escandido em altos brados, com punhos erguidos e disposição militante. Foi um prenúncio do que estava por vir. Estivemos submetidos, Senhor Ministro, durante mais de duas horas a cenas similares, com discursos proferidos em altos brados pelos mais altos responsáveis do país interrompidos a cada vez por gritos de uma claque manifestamente convidada expressamente para fazer o que fez nessa ocasião.
3.         Discursou em primeiro lugar o Governador do Maranhão, e ex-presidente da Associação Nacional dos Juízes Federais do Brasil, Sr. Flávio Dino, que iniciou por referências históricas a crises políticas anteriores no Brasil – a que levou ao suicídio do então presidente Getúlio Vargas, ex-ditador, em 1954, e a que determinou o afastamento do presidente Jânio Quadros, em 1961 – e logo enveredou por acusações feitas a grupos supostamente fascistas que teriam levado o Brasil, no passado, e que estariam tentando levá-lo novamente, a um desfecho “fascista” no país. Foi bastante aplaudido, sobretudo quando falou em desigualdades sociais que precisam ser combatidas, mas foi realmente ovacionado ao mencionar as “iniciativas de corte fascista”, ilegais, segundo ele, que foram reveladas pelas escutas telefônicas sobre o complicado caso do ex-presidente da República, investigado pela Justiça Federal neste momento. O impeachment foi por ele descrito como sendo “distorção e anomalia”, ou “arbitrariedade” e fruto de “abusos judiciais”, comparando o atual processo aberto no Congresso às investigações político-militares do regime de 1964, quando se “punia primeiro e depois se buscavam provas”. Foi bastante ovacionado, aos gritos, pela plateia, sobretudo quando acusou juízes de fazerem política, o que começou a constranger vários dos meus colegas (nenhum deles, aliás, levantou-se para aplaudir o governador, quando ele terminou pelo grito que tornou-se a marca do evento: “Não Vai Ter Golpe”).
4.         Tomou da palavra, em seguida, o Sr. Francisco de Queiroz Bezerra Cavalcanti, Diretor da Faculdade de Direito do Recife, ex-juiz, e que teve como aluno justamente o governador do Maranhão. Seu discurso pautou-se igualmente por argumentos bem mais políticos do que jurídicos, que por sinal estiveram singularmente ausentes de uma diatribe contra empresários e opositores do atual governo, mencionando basicamente fatos e casos locais de sua região. Mencionou, en passant, a divulgação das conversas telefônicas entre o ex-presidente e a atual incumbente, mas num tom igualmente político e não jurídico. Sobre as chamadas “pedaladas fiscais” – que foram infrações às normas orçamentárias e à Lei de Responsabilidade Fiscal (2000) – disse que se a presidente da República tivesse de ser punida por esta alegação – aliás, justamente objeto do pedido de impeachment – outros 16 governadores o teriam de ser igualmente. Seus ataques à elite econômica do país, supostamente aliada no empreendimento “golpista”, foram francamente ingênuos ou  politicamente motivados. Foi moderadamente ovacionado.
5.         Discursou na sequência o Sr. Marcelo Neves, professor titular da cadeira de Direito Público da Universidade de Brasília, centrando foco no combate à corrupção, que estaria sendo melhor cerceada pelo atual governo. Disse que se deve ser contra a parcialidade e a ilegalidade do combate à corrupção, as escutas indevidas e o que descreveu como a “absurda condução coercitiva” do ex-presidente Lula. Levantou-se contra os “arautos da ética” que estariam por trás de um “Estado policial”, cujos membros tentam flexibilizar a legislação para “práticas repressivas” ilegais. Sua mensagem básica foi a de que se estaria construindo no Brasil uma ditadura judicial e um Estado policial. Defendeu, por outro lado, “ilegalidades” ou inconstitucionalidades que não constituem “ofensas graves” à Constituição, e que portanto não merecem ser objeto de impeachment. Chegou a mencionar a falta de apoio atual da “embaixada americana” (sic) para um golpe, havendo então esse recurso a distorções legais. Foi aplaudido diversas vezes, sobretudo ao final, o que deu motivo, e oportunidade, a alguns de meus colegas para se retirarem discretamente da fileira dos embaixadores e deixar a cerimônia, sem maior alarde.
6.         Subiu ao pódio então a Juíza de Direito do DF e coordenadora do programa de direito solidário, Sra. Glaucia Fowley, representante da Associação dos Juízes pela Democracia. Seu discurso começou atacando a iniciativa do Ministério Público Federal, em torno das “Dez Medidas para Reduzir a Corrupção”, que segundo ela, a pretexto de beneficiar-se do “verniz de legitimidade popular”, representariam, na verdade, “nítido retrocesso nas conquistas constitucionais”, entre elas, como exemplo, a redução da concessão de habeas corpus, uso de prisão preventiva e a limitação do trânsito em julgado. Foi moderadamente aplaudida.
7.         O professor da Faculdade de Direito da USP, Alberto Toron, ex-conselheiro da OAB, voltou ao argumento do Estado policial para condenar um suposto “principado de Curitiba”, que estaria aplicando uma justiça de “viés fascista”, fazendo “vazamentos seletivos”, ilegais, sem respeitar o sigilo da investigação. Atacou também o Ministério Público, que pretenderia restringir o direito de habeas corpus, como se isto significasse voltar ao Estado fascista da ditadura Vargas, em meados do século XX. Apoiou-se, contudo, não em juristas, mas em dois jornalistas de um conhecido periódico simpático ao governo para acusar novamente os “golpistas” disfarçados de magistrados.
7.         Foi lido em seguida um manifesto de juízes “em defesa da Constituição e do Estado de Direito”, redigido pelos juristas que apoiam o governo em sua luta contra o impeachment. O destaque inicial repudiou o “discurso moralista” que resultaria, segunda a professora da UnB que leu o texto do manifesto, da conjunção do “capitalismo” (sic) e da corrupção, esta nunca antes combatida como nos governos do PT. O manifesto foi disponibilizado pelo Palácio do Planalto neste link: http://blog.planalto.gov.br/confira-a-integra-do-manifesto-de-juristas-lido-durante-cerimonia-no-palacio-do-planalto/.
8.         O discurso do Advogado Geral da União, ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo representou uma apoteose do militantismo político, antes que a própria presidente levantasse seus argumentos parcialmente jurídicos, mas essencialmente políticos contra o processo de impeachment. Em altos brados, e constantemente ovacionado aos gritos pela claque partidária reunida na ocasião, o ex-ministro – que foi acusado pelo Partido dos Trabalhadores de não controlar a Polícia Federal nas incursões contra dirigentes e altos funcionários do PT envolvidos na imensa rede de corrupção em torno da empresa estatal Petrobras, objeto da chamada Operação Lava Jato – foi bastante enfático na defesa da correção do governo ao respeitar a autonomia dos magistrado e da Polícia Federal. Mas ele foi muito mais enfático nas acusações contra essas mesmas entidades e contra o Congresso, ao chamar o processo de impeachment como sendo “claramente ofensivo à Constituição”, fruto de insatisfeitos com o resultado das eleições que pretenderiam agora dar um “golpe”. Foi diversas vezes aplaudido, e absolutamente ovacionado quando terminou seu discurso, em nada jurídico e totalmente político, pela famosa invectiva “Não Passarão” (que repetiu três, gritando).
9.         Poucas vezes presenciei, em minha vida diplomática, Senhor Ministro, mesmo em regimes autoritários como os há pela Ásia, cenas de tamanho ardor militante num palácio presidencial: imediatamente, não só a claque agrupada ao fundo do salão, mas os próprios juízes e professores de direito, puseram-se de pé, com punhos em riste, e passaram a gritar freneticamente o mesmo slogan do Advogado Geral. Registrei que vários outros colegas meus aproveitaram desse momento de fervor político, para se retirar eles também do recinto.
10.       Finalmente, também recebida aos gritos de apoio, discursou a Sra. Presidente Dilma Rousseff, lendo um discurso manifestamente preparado por assessores, em parte políticos, em parte legalistas, ou advogados do governo. Dispensável resumir um discurso confuso, misturando argumentos jurídicos com outros totalmente políticos, que pode ser visualizado no YouTube, https://www.youtube.com/watch?v=53q9jf9D2O0. Tentou vincular a sua luta contra o atual processo de impeachment à famosa campanha pela legalidade conduzida pelo seu ex-líder no Partido Democrático Trabalhista, Leonel Brizola, em 1961, contra os militares que tentavam evitar a posse do vice-presidente do PTB, João Goulart, no lugar do demissionário presidente Jânio Quadros. O processo, segundo ela, resultaria de uma conjuração dos mesmos derrotados nas urnas em outubro de 2014, que agora tentariam criar, pelo impeachment, um regime parlamentarista. Alegou, uma vez mais, que não existe nenhum crime qualificado que possa sustentar esse pedido, e referiu-se mais de uma vez a palavras fortes para caracterizar esse intento: crime contra a democracia, golpe, ilegalidade e outras do gênero. Quando afirmou que jamais renunciaria, em hipótese alguma, foi interrompida entusiasticamente pelos presentes, que a ovacionaram freneticamente.
11.       Poucos dos meus colegas ficaram até o final, ou saíram imediatamente após o discurso da presidente, uma vez que o ambiente se converteu nitidamente em uma quermesse política das mais ruidosas. Não tive outra opção senão retirar-me igualmente, pois já não havia mais protocolo, nem ambiente sereno para conversar com quer que fosse. Preferi abandonar imediatamente o palácio, para começar a ditar este despacho a meus assistentes, não em antes ter conversado com dois ou três interlocutores de confiança em Brasília (que tinham assistido à cerimônia pela televisão estatal), mas que preferiram (e pediram) expressar-se em off, por temerem novas revelações futuras que exponham seus nomes de maneira indevida. Respeito o sigilo, portanto, e limito-me a resumir as observações que recolhi desses interlocutores.
12.       Segundo um deles, o governo, que era implicitamente bolivariano, parece ter aderido de vez, e explicitamente, ao bolivarianismo político (ainda bem que não econômico, caso contrário a atual crise econômica, já de si bastante grave, assumiria proporções gigantescas). A cerimônia, segundo outro, foi nitidamente partidária, e não constitui um fator de fortalecimento do governo e do regime lulopetista, pois vai suscitar ainda mais reações desfavoráveis nos meios políticos, nos círculos econômicos e provavelmente entre os membros do Ministério Público e na opinião pública. Resta saber, disse-me este segundo interlocutor, como reagirá o Congresso, ou melhor, a Câmara dos Deputados, a quem incumbe agora dar prosseguimento ao processo já aberto pelo presidente da Casa, e que agora encontra-se sob exame de uma comissão eleita poucos dias antes. Conversei rapidamente com um político representativo da tendência majoritária no Parlamento, que inclina-se pela opinião de que o curso dos próximos eventos não será determinado nem pelo Palácio do Planalto (muito menos pelo PT), nem pelo próprio Congresso, mas sim pela dinâmica das investigações da Operação Lava Jato, e sobretudo pela dinâmica das ruas, dos movimentos de oposição ao governo e ao regime lulopetista, que poderão influenciar decisivamente o voto dos deputados no momento em que a decisão pelo impeachment – que certamente sairá da Comissão – for levada a plenário. O governo já não dispõe, provavelmente, dos votos de bloqueio necessários para impedir a aprovação da abertura do processo no Senado, nem este ousaria colocar tão frontalmente contra a voz das ruas, mas tentará, nos próximos dias, delongar o processo com manobras protelatórias – inclusive recorrendo de forma seguida ao STF – e “adquirir”, no sentido pleno da palavra, parlamentares do chamado “baixo clero” que admitam receber favores (ou dinheiro) em troca de seus votos.
13.       Este é o quadro, Sr. Ministro, que encontrei hoje no Brasil, um país dividido e moralmente abalado pelo que parece ser o maior caso de corrupção não só no Brasil, mas em escala mundial. Incidentalmente, meus assessores me fizeram saber, sem por enquanto me fornecer evidências comprovatórias, de circulares confusas emitidas pelo Itamaraty visando alertar a comunidade internacional contra um suposto “golpe” que estaria em curso no país. Procurarei informar-me melhor sobre essa atividade bizarra da chancelaria brasileira, em geral muito circunspecta e responsável no que respeita o regime político em vigor no Brasil atualmente, e que parece aproximar-se de um final melancólico. Manterei Vossa Excelência informado sobre próximos desenvolvimentos nessa matéria.
            [expedidor]

Pela tradução:
Paulo Roberto de Almeida

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Voto "destituinte" (recall), uma solucao 'a crise atual? - Jorio Dauster

Transcrevo, tal como recebi do Professor David Fleischer, da UnB:

Date: Monday, August 31, 2015, 10:35 PM
Repassando :De: Jorio Dauster, embaixador e ex-presidente da Vale

Amigos,
Inconformado com o debate em curso sobre as saídas para a crise política, exponho abaixo uma solução 100 por cento democrática porque respeita a legitimidade dos votos dados em outubro passado à presidente Dilma Rousseff mas devolve ao povo a decisão de mantê-la ou não até o fim do mandato.
Agradeço seus comentários e peço que, se concordarem com a ideia, a passem aos amigos. Abraços,Jorio Dauster    

Para todos nós, a palavra “recall” traz à mente o pedido público de devolução feito pelo fabricante de um produto defeituoso a fim de que possam ser sanadas falhas que podem até representar risco de morte. Poucos sabem, contudo, que o mesmo termo tem longa tradição jurídica, significando a revogação do mandato de políticos através da manifestação direta dos eleitores. Esse mecanismo de democracia participativa soma-se ao plebiscito, ao referendo e à iniciativa popular, sendo também conhecido como “voto destituinte”. Originado na Grécia, esse instrumento de manifestação da vontade popular está inscrito na constituição de alguns países (inclusive na Venezuela), mas tem sua aplicação mais intensa nos estados norte-americanos, onde já serviu para derrubar dois governadores e inúmeros ocupantes de cargos eletivos, inclusive prefeitos. Interessante observar que algumas de nossas primeiras constituições estaduais republicanas adotaram tal mecanismo, como as do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Goiás. Mais recentemente, registram-se algumas propostas de emenda constitucional no Senado que cuidam do recall além de outras matérias, em especial as PECs 80/03, 73/05 (de autoria do ex-senador petista Eduardo Suplicy), 8/2015 (senador Reguffe) e 21/2015 (senador Antonio Carlos Valadares). 

O recall político pode levar à destituição do Presidente da República assim como o impeachment, mas dele se distingue por não exigir uma acusação criminal, bastando a perda de confiança da maioria dos eleitores no mandatário diante de sua inépcia ou incapacidade de governar. Por outro lado, enquanto o impeachment é decido pelo Legislativo, no recall ocorre a plena expressão da vontade popular. O que se tem hoje no Brasil seria um caso típico de uso do recall: as pesquisas de opinião assinalam profunda rejeição do Presidente da República e do partido que a apoia; manifestações de rua reivindicam a mudança de comando inclusive por meios totalmente inaceitáveis numa democracia madura; a base de apoio parlamentar do governo se esfacela, gerando um clima de anomia institucional e potencializando a já grave crise econômica.

Em contraste, como é natural até mesmo por seu espírito combativo, a Presidente se diz disposta a resistir ás pressões e invoca sua legitimidade com base nos 54 milhões de votos que recebeu em outubro passado, enquanto o PT recorre às surradas teses da conspiração da direita mancomunada com a imprensa “monopolista”. Não obstante, enquanto o povo brasileiro aplaudiu o impeachment de Collor pela evidência da corrupção que entrara até pelos portões da Casa da Dinda, é extremamente improvável que se encontre um malfeito pessoal de Dilma Rousseff, com o que seu afastamento da presidência, eliminada a hipótese também improvável da renúncia, haveria que basear-se no crime de responsabilidade fiscal  caso o TCU rejeite suas contas.

Embora formalmente válida, tal acusação teria o grave defeito político de ser de difícil compreensão por grande parte do eleitorado, para o qual as tecnicalidades das “pedaladas” poderiam soar como meros pretextos dos donos do poder. Consequentemente, a eventual destituição de Dilma Rousseff por um impeachment fundamentado em regras de difícil entendimento, sobretudo conduzido por um Parlamento que também não conta com a aprovação de largas camadas da população, tenderia a gerar conturbações sociais e criar a figura de mártires políticos com uma sobrevida política que hoje não possuem. A solução 100% democrática para esse dilema estaria na adoção do instituto do recall mediante a aprovação em regime de urgência de uma PEC que simplificasse as propostas anteriores e se concentrasse exclusivamente na revogação dos mandatos de Presidente da República e governadores.

A realização da consulta popular poderia basear-se em decisão do Congresso Nacional, por voto qualificado de 3/5 dos senadores e deputados em dois turnos de votação (similar à da adoção de reformas constitucionais), e/ou por iniciativa popular, seguindo os preceitos do art. 13 da lei 9.709/1998 (subscrição por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles). Essa segunda via, da iniciativa popular, é de fato a mais saudável, pois poderia, inclusive, promover uma mobilização efetivamente democrática em substituição aos protestos desorganizados de rua, com altos índices de risco social e pequena eficácia política. Havendo vontade política e uma boa dose de bom senso, seria perfeitamente possível que em janeiro  de 2016, tendo a presidente completado um ano de mandato e após longo  período de reflexão nacional, os eleitores voltassem às urnas para dizer, por maioria absoluta, se querem ou não confirmar a escolha que fizeram catorze meses antes. Sem traumas e sem cheiro de golpe graças à livre manifestação da vontade popular. Ou, no linguajar futebolístico tão em voga no país, decidindo a parada no gramado e não no tapetão.
                                                                                                        
 Jorio Dauster, embaixador e ex-presidente da Vale