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domingo, 1 de maio de 2016

O estranho caso da suspensao do Paraguai do Mercosul em 2012 - Paulo Roberto de Almeida, Ricardo Seitenfus


Como o Paraguai foi suspenso do Mercosul em 2012

Paulo Roberto de Almeida
 [Uma nota sobre um episódio diplomático ainda obscuro]

A suspensão do Paraguai do Mercosul, em junho de 2012, obtida por pressão conjunta da Argentina e do Brasil sobre o presidente José Mujica, do Uruguai (que relutava em aceitar uma decisão já tomada pelas duas presidentes), e na ausência de autoridades do Paraguai, constitui um dos episódios mais bizarros da diplomacia partidária dos companheiros no poder, que ainda cabe esclarecer, se isso for possível (pois aparentemente não existem documentos explicitando a exata sucessão de fatos).
O processo paraguaio, obviamente, está bem documentado, pois existem atas do Senado do Paraguai que registram como se deu o impeachment de Fernando Lugo, segundo disposições da Constituição do país guarani, ainda que num ritmo acelerado (mas não havia uma previsão quanto aos ritos e etapas, e o presidente teve seu direito de defesa assegurada).
Menos conhecida é como se obteve, na cúpula do Mercosul de Mendoza, em junho de 2012, essa suspensão, supostamente ao abrigo do Protocolo de Ushuaia sobre a cláusula democrática, mas de fato em total desrespeito a ela, que previa consulta com todas os Estados partes ao Tratado de Assunção. A delegação do Paraguai, seja em nível técnico, preparatório, seja em nível ministerial, seja ainda pela presença do próprio chefe de Estado, foi impedida de comparecer à reunião de cúpula, o que representa uma grave violação dos acordos existentes e uma descortesia diplomática jamais vista no bloco.
Na verdade, a decisão já estava tomada, desde antes da cúpula, como revelado pelas memórias, relativamente sinceras, do presidente do Uruguai José Mujica, publicadas depois que ele deixou o poder.
Transcrevo aqui as palavras de meu amigo Ricardo Seitenfus, historiador, que retoma trechos das “memórias autorizadas” do ex-presidente uruguaio, tal como constantes do livro publicado no ano passado:
Andrés Danza y  Ernesto Tulbovitz:
Una oveja negra al poder: confesiones e intimidades de Pepe Mujica
(Montevideo: Editora Sudamericana, 2015)

“Nas páginas 225-227, o ex-Presidente uruguaio relata de maneira surpreendentemente franca, como foi construído, sob a liderança de Dilma Rousseff, o ‘indispensável consenso’.
Sentindo-se herdeiro dos responsáveis pela destruição de uma das principais economias latino-americanas quando da Guerra da Tríplice Aliança no século XIX, Mujica se opunha à adoção de sanções que suspendessem o Paraguai do Mercosul. O episódio narrado a seguir o fará mudar de ideia. Deixemos a palavra com Pepe Mujica.
[tradução livre de Ricardo Seitefus]:

“Uma das pessoas de maior confiança de Mujica recebeu um telefonema de Marco Aurélio Garcia, braço direito de Dilma, que informa:
- Dilma quer transmitir uma mensagem muito importante ao Presidente Mujica, disse o funcionário brasileiro.
- Não há problema. Os colocamos em comunicação, respondeu o uruguaio.
- Não, não pode haver comunicação nem por telefone nem por mail, argumentou Garcia.
Um encontro tão fugaz e repentino entre Presidentes seria suspeito. Assim, o Governo brasileiro resolveu enviar um avião a Montevideo para conduzir o emissário de Mujica à residência de Dilma, em Brasília.
Na reunião o funcionário uruguaio apanhou uma caderneta para fazer anotações e Dilma o obrigou a rasgar os papéis.
- Sem anotações. Esta reunião nunca aconteceu, disse ela.
Durante a conversa, Dilma mostrou fotos, gravações e relatórios dos Serviços de Inteligência brasileiro, venezuelano (sic) e cubano (sic) que registravam como foi articulado um “golpe de Estado” contra Lugo por um grupo de “mafiosos” que a partir da queda do Presidente assumiriam o poder.
- O Brasil necessita que o Paraguai fique fora do Mercosul para que logo sejam organizadas eleições, concluiu Dilma”.
Para Pepe Mujica a lição do episódio é clara: “prevaleceram as relações pessoais. Às vezes é mais importante uma boa sintonia entre um grupo de Presidentes do que os mecanismos jurídicos que foram construídos durante anos. Isso foi o que aconteceu no Mercosul”.

Retomo (PRA):
Mujica ainda relutou, em Mendoza, na aplicação da sanção ao Paraguai, aconselhado por seu ministro das relações exteriores, quanto ao não seguimento do ritual previsto no Protocolo de Ushuaia. Cristina Kirchner e Dilma Rousseff obtiveram de Mujica que todos os chanceleres fossem afastados da reunião, e sozinhas, as duas presidentes conseguiram dobrar Mujica até que ele concordasse com a suspensão.
Este episódio precisa ser esclarecido totalmente, pois constitui uma das muitas zonas de sombras da diplomacia partidária conduzida, ao arrepio do Itamaraty, nos últimos treze anos, quando muitas iniciativas e episódios se fizeram à margem e no desconhecimento da diplomacia profissional.
Um episódio mais recente, que também pede esclarecimento, é o do levantamento da questão de eventual consideração da suspensão do próprio Brasil, ao abrigo das chamadas “cláusulas democráticas” da Unasul e do Mercosul, quando o assessor presidencial para assuntos internacionais, um apparatchik da PR (aliás o mesmo que atuou no caso do Paraguai e em diversos outros casos obscuros também), tentou fazer com que esses órgãos abordassem o caso do pedido de impeachment no Brasil. Não se sabe quais ordens foram dadas pela presidência à chancelaria brasileira, e a seu assessor presidencial, para que tal iniciativa fosse tomada.
A história da diplomacia brasileira nos anos obscuros do lulopetismo tem muitas incógnitas e episódios bizarros, como esses. Um dia eles serão esclarecidos.


Paulo Roberto de Almeida
Com meus agradecimentos a Ricardo Seitenfus
Brasília, 1ro de maio de 2016

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Depois dos emprestimos secretos, a diplomacia secreta: Acordo Mercosul-UE (El Cronista, BAires)

Sem comentários...
Ou apenas um: o lead se refere a um vice-ministro, que passa antes do chanceler...
Paulo Roberto de Almeida

Kicillof viajó de incógnito a Brasil para dilatar acuerdo con la UE
El Cronista (Argentina), 15/11/2013

Acorralada por las presiones de Brasil para avanzar en un acuerdo de libre comercio con la Unión Europea, la Argentina se habría comprometido a presentar en las próximas horas una propuesta con la lista de productos en los que está dispuesta a realizar concesiones, así como también en los reclamos que pretende por parte de Europa. Sin embargo, fuentes cercanas a la negociación relativizaron esta promesa e hicieron hincapié en que “la oferta aún está verde”.

Altos funcionarios del Gobierno viajaron el miércoles a Brasilia y se reunieron, en absoluta reserva, con sus pares locales, a quienes les garantizaron que harían esta semana una oferta. Hoy habrá una reunión a nivel técnico en Caracas, donde los referentes de los distintos países del bloque buscarán acercar posiciones. Las posturas más alejadas son las planteadas por los principales países del Mercosur, ya que Brasil quiere avanzar con el acuerdo y la Argentina buscó dilatar la negociación lo máximo que pudo. Hasta ahora, que el gobierno de Dilma Rousseff dio el ultimátum al plantear que si el país no hacía una oferta, avanzarían de igual modo. Brasil tiene una clara decisión de negociar, ya que cree que un acuerdo con la UE le resultará beneficioso en el largo plazo en términos de comercio e inversiones.

Del encuentro realizado anteayer en Brasilia, participaron los cancilleres de ambos países, Héctor Timerman y Luiz Alberto Figueiredo; el ministro de Desarrollo, Industria y Comercio de Brasil, Fernando Pimentel; el viceministro de Economía argentino, Axel Kicillof, y el secretario de Planeamiento Estratégico de la cartera de Industria, Horacio Cepeda. “Ellos –por los argentinos– nos llamaron y nos dijeron que estaban dispuestos a hablar. Entonces los invitamos a esta reunión”, dijo el jefe de la Cancillería al término del encuentro.

Desde Brasil se mostraron satisfechos con el encuentro porque habría habido “avances”, según Figueiredo, pero en el gobierno argentino insisten en recalcar que la UE pretende la apertura en el sector de bienes y servicios pero no cede en materia agrícola, rubro que defienden con fuerte proteccionismo. Los números indican que la Argentina deja de ganar u$s 12.000 millones anuales por los controles que aplica Europa.

El viejo continente tiene un alto nivel de protección, por ejemplo, en biodiesel, carne vacuna y frutas, mientras que la Argentina atraviesa un sólido proceso de industrialización, argumentan en los despachos oficiales.

Reuniones con industriales

En los últimos meses, el Gobierno mantuvo reuniones con representantes de distintos sectores industriales para sondear cuánto estaban dispuestos a conceder en materia arancelaria. Algunos pidieron ser excluidos de la negociación, como el rubro autopartista, mientras que otros avalaron la opción de avanzar hacia una desgravación arancelaria pero de forma gradual y con un plazo de 15 años.

“La Argentina va a hacer una propuesta no negociadora y cada vez se escucha más la idea de una negociación a dos velocidades: una más rápida liderada por Brasil y apoyada por Paraguay y Uruguay, y otra más lenta, de Argentina y Venezuela, que incorpore menos productos y plazos más largos de desgravación”, señaló una fuente cercana a la discusión.
Estas diferencias generarán una ruptura del Mercosur como bloque, ya que generará una perforación del Arancel Externo Común (AEC). “La Argentina está en una encrucijada entre tener un conflicto interno o con el Mercosur”, consideró un empresario del rubro automotriz.


La expectativa era que el intercambio de ofertas entre el bloque regional y Europa se realice a fin de año, pero los expertos en estas negociaciones adelantan que será difícil.