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quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Custo de vida no Brasil: aumentos em serie em todos os estados e no DF; inflacao vai disparar em 2016

20 estados e DF sobem ICMS no país; veja quais impostos aumentaram

Com cofres vazios, estados e capitais elevaram alíquotas de tributos.
Governo federal elevou IPI e acabou com isenção de remessas ao exterior.

Taís Laporta*Do G1, em São Paulo
A inflação não será a única vilã do bolso dos contribuintes em 2016. Com perdas na arrecadação, o governo federal e a maior parte dos estados e capitais elevaram seus principais tributos, de acordo com levantamento realizado pelo G1.
A pesquisa considerou apenas as elevações de alíquotas – o percentual usado para calcular quanto o contribuinte vai pagar de imposto sobre o valor, em reais, de determinado produto, serviço ou bem.
Ficaram de fora altas que refletem apenas os efeitos da inflação sobre os preços de produtos ou serviços – uma tributação de 10% sobre um produto, por exemplo, que custava R$ 100 há um ano, levaria então R$ 10 aos cofres do governo. Esse mesmo produto, custando R$ 110, pagaria agora R$ 11 em impostos, sem alteração na alíquota.
No caso de impostos sobre bens, como IPVA (incidente sobre veículos) e IPTU (sobre os imóveis), em muitos casos não houve alteração nas alíquotas, mas, com a correção do valor desses bens (pela inflação ou por desvalorização), o valor final dos impostos sofreu variações.
Principais tributos
A alíquota do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), por exemplo, aumentou em 20 estados, além do Distrito Federal. O tributo, estadual, é um dos que mais pesam e incide sobre produtos e serviços considerados essenciais, como telefonia e telecomunicações, e também os supérfluos, como cosméticos, bebidas alcoólicas e cigarro.
 (Foto: Arte/G1)
Outra cobrança que ficou mais cara foi o Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). Ele subiu em 12 estados, mais a capital federal.
Já o imposto sobre herança e doações – conhecido em vários estados como ITCMD – aumentou em 10 estados e no Distrito Federal.
Grande parte dos municípios não elevou a cobrança do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), que incide sobre bens como imóveis e terrenos, mas reajustou a alíquota pelos índices de inflação de 2015, que ficaram em torno de 10%.
Enquanto isso, o governo federal conseguiu elevar o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) de bebidas e eletrônicos e acabar com a isenção do Imposto de Renda em remessas ao exterior de até R$ 20 mil este ano.
Tenta ainda recriar a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras, que ficou conhecido como "imposto do cheque") e aumentar as alíquotas do Imposto de Renda e dos tributos sobre produtos industrializados.
"Houve um aumento generalizado", avalia o presidente-executivo do IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário), João Eloi Olenike. De todos os impostos, o ICMS é um dos que terão maior impacto no bolso do brasileiro, afirma.
“O ICMS movimenta valores muito altos e é cobrado sobre tudo o que se consome e não tem como escapar. Quem paga mais é o consumidor final, e o imposto tem um efeito cascata que tributa toda a cadeia produtiva”, explica Olenike.
Para ele, todos esses aumentos serão repassados de forma indireta para o consumidor. “Vai ter impacto na inflação. As empresas vão repassar os custos nos preços de seus produtos e serviços”, diz o tributarista.
O presidente-executivo do IBPT explica que a lei obriga os estados a priorizar o aumento de impostos sobre produtos e serviços considerados mais supérfluos – como itens de luxo ou os prejudiciais à saúde. Mas em estados como Minas Gerais, houve aumento sobre a energia elétrica e serviços de telecomunicações, considerados essenciais.

Veja os impostos que subiram ou vão subir e o fim de benefícios fiscais em todo o Brasil:
FEDERAIS
Em vigor
Fim da isenção sobre remessas ao exterior
No início deste ano, deixou de valer a isenção que existia no Imposto de Renda cobrado de remessas pessoais ao exterior, como as transferências de agências de turismo para hotéis e pagamentos com educação, como intercâmbio. A alíquota passou a ser de 25%.
IPI sobre eletrônicos
No dia 1º, a presidente sancionou uma lei que suspende a isenção – concedida por dez anos – de algumas tarifas a computadores, smartphones, notebooks, tablets, modens e roteadores. O texto prevê o pagamento de alíquota cheia de PIS e Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins) para os itens de informática a partir deste mês, durante todo o ano de 2016.
IPI sobre bebidas
No dia 1º, a presidente sancionou uma lei que eleva o IPI cobrado sobre as bebidas quentes, que passará a ser calculado com uma alíquota sobre o preço de cada produto. Isso significa que uma garrafa de bebida mais cara vai pagar um imposto maior, proporcional ao seu valor. Antes da nova lei, era cobrado uma taxa fixa por determinada quantidade produzida de um tipo de bebida, independentemente do seu valor.
Para uma garrafa de 750 ml de vinho de mesa, por exemplo, era cobrada taxa fixa de R$ 0,73. Na nova regra, o imposto será de 10% do preço. Uma garrafa de vinho de R$ 80 passa a pagar imposto de R$ 8 (10% de seu valor). Esta taxa para bebidas quentes varia de 10% a 30%. Ele passa de 25% a 30% para aguardentes e de 30% para uísque e vodca.
Redução do Reintegra
Desde dezembro, o governo praticamente eliminou o benefício para exportadores concedido por meio do chamado Reintegra – programa do governo que "devolve" aos empresários uma parte do valor exportado em produtos manufaturados por meio de créditos do PIS e Cofins. A alíquota de ressarcimento foi baixada de 1% para 0,1% em 2016. A partir de 2017, a alíquota sobe para 2% e, em 2018, avança para 3%.

Em andamento
IR sobre ganho de capital
O governo propôs em setembro, dentro do pacote de medidas fiscais, criar uma alíquota progressiva do Imposto de Renda cobrado sobre o ganho de capital na venda de bens e direitos como imóveis. Atualmente, a tributação é de 15%. A proposta prevê alíquota de 15% para ganho de até R$ 1 milhão; 20% para entre R$ 1 milhão a R$ 5 milhões; 25%, de R$ 5 milhões a R$ 20 milhões; 30%, acima de R$ 20 milhões – R$ 1,1 bilhão. A MP 692 tramita na Câmara e prevê um impacto de R$ 1,8 bilhão.
Retorno da CPMF
A Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras (CPMF) foi um imposto que existiu até 2007 para cobrir gastos do governo federal com projetos de saúde. Agora, o governo propõe cobrar uma alíquota sobre todas as transações bancárias de pessoas físicas e empresas para ajudar a cobrir o rombo da Previdência Social. A proposta ainda precisa ser enviada ao Congresso Nacional para votação. O Orçamento de 2016 traz uma previsão de R$ 10,3 bilhões de arrecadação de CPMF para 2016.
IR de juros sobre capital próprio
À espera por votação no Congresso, a Medida Provisória 694 enviada pelo governo em setembro eleva de 15% para 18% a alíquota do Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) aplicado aos juros sobre o capital próprio (JSCP), distribuído entre os sócios ou acionistas de empresa que aplicaram dinheiro no negócio. A MP 694 ainda não foi analisada pela Câmara e o Senado.

ESTADUAIS E MUNICIPAIS
ACRE
Não houve aumento em 2016
Rio Branco
Não teve variação de alíquota. Mas a Unidade Fiscal do Município (UFM) – que indexa todos os tributos – sofreu correção de 10,9%. Os valores do IPTU e ITBI, no entanto, só devem ser definidos na segunda quinzena de janeiro, segundo a prefeitura da capital.

AMAZONAS
ICMS: foi elevado de 17% para 18%. O reajuste entrou em vigor no dia 6 de janeiro.
Manaus
IPTU - A alíquota não foi elevada, mas a base de cálculo dos impostos municipais, inclusive do IPTU, é regida pela Unidade Fiscal do Município (UFM), que em 2016 será de R$ 92,97, contra R$ 83,78 no ano passado. O índice de variação foi de 10,9% relativo ao INPC/IBGE de 2015.

ITBI - Não há variação, pois o imposto é calculado por um percentual fixo sobre o valor do imóvel. No caso é calculado 2% sobre o valor venal do imóvel (valor atual de mercado). Se pagar em cota única tem desconto de 10% ou o contribuinte pode parcelar em três vezes sem desconto.

ALAGOAS
ICMS: Houve um acréscimo de 1% à alíquota do tributo (que era de 17%), mas apenas para mercadorias supérfluas, as que estimulem a violência infantil e outras. O valor arrecadado com esse acréscimo será destinado ao Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza (Fecoep). A medida não altera o índice sobre produtos da cesta básica, material escolar, medicamentos, energia até 150 kW e transportes.
IPVA: Haverá aumento nas alíquotas apenas para automóveis com potência acima de 80 cavalos. Pelas novas regras, automóveis com até 80 cavalos têm alíquota fixada em 3%; de 81 a 160 cavalos, a alíquota passa para 3,5% e, para potência acima de 160 cavalos, a alíquota é definida em 4%.

Maceió
Imposto sobre a Propriedade predial e Territorial Urbana (IPTU): a alíquota permanece inalterada (1% (para imóvel predial) ou 2% (territorial, terreno não construído) sobre o valor venal). Mas os imóveis tiveram um reajuste no valor venal de 9,93% este ano. Segundo a Secretaria de Finanças do Município, o aumento é baseado no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Imposto sobre venda de Bens e Imóveis (ITBI): Não houve aumento. A alíquota do Imposto de Transmissão onerosa de Bens e Imóveis (ITBI) é sempre a mesma, de 2% ou 3% sobre o Valor Venal do Imóvel (VVI), ou sobre o valor da negociação pelo imóvel. Se o valor de compra for maior que o VVI, o ITBI incidirá sobre o valor de compra.

AMAPÁ
ICMS: houve aumentos nas alíquotas produtos como óleo diesel (25%), munições (29%) e itens de joalheria e perfumaria (29%). Não foi informado qual era o antigo percentual das alíquotas.

IPVA e ITCMD: a secretaria não informou se houve aumento.

Macapá
Não houve aumento no IPTU e ITBI.

BAHIA
ICMS: a alíquota básica do imposto passará, em março, de 17% para 18%, conforme previsto em lei estadual publicada em dezembro. A alíquota básica é aplicada a parte dos produtos, não incluindo, por exemplo, aqueles da cesta básica, beneficiados com isenções ou descontos.
Salvador
Para os impostos municipais, apenas houve atualização financeira de 10,1%, sem mudança na alíquota.

CEARÁ
ICMS: aumento de alíquota de alguns produtos a partir de março de 2016, segundo informações da Secretaria da Fazenda do Ceará (Sefaz). A alíquota do imposto passará de 17% para 28% para itens como rodas esportivas para automóveis, drones, embarcações e jet-skis. Nas bebidas alcoólicas, ultraleves, asas delta, armas de fogo, munições, fogos de artifício, fumo, cigarros e prestação de serviços de comunicação, o imposto saltou de 25% para 28%.

IPVA: houve redução média de 4,01% na alíquota do imposto.

Imposto sobre Herança e Doações: alíquota aumentou apenas para doações e passou a valer em 1º de janeiro de 2016. Até 2015, o imposto sobre doações era de 2% e 4%, de acordo com o valor da doação. Agora, as alíquotas passam a variar entre 2% a 8%, de acordo com o valor da doação.

Fortaleza
IPTU: houve correção inflacionária, ou seja, reajuste de 10,71% com base no IPCA-E
Alíquotas permanecem as mesmas.

DISTRITO FEDERAL
ICMS: alíquota subiu de 17% para 18% para todos os produtos que não têm legislação específica. Medicamentos foram excluídos do reajuste e seguem em 17%.
Algumas alíquotas diferenciadas também mudaram: TV por assinatura, de 10% para 15%;  bebidas e tabacaria, de 27% para 31%; gasolina, de 25% para 28%; e diesel, de 12% para 15%

IPVA: a alíquota subiu. Para automóveis, caminhonetes e utilitários subiu de 3% para 3,5%; para motocicletas, motonetas, quadriciclos e triciclos: de 2% para 2,5%. Veículos de carga tiveram IPVA mantido em 1%.

Imposto sobre herança e doações: o cálculo passou a ser escalonado. Até 2015, o imposto era sempre de 4%, independente do valor da herança. Agora, a alíquota de 4% vale para transmissões de até R$ 1 milhão. Entre R$ 1 milhão e R$ 2 milhões, a alíquota é de 5%.
A partir de R$ 2 milhões, a alíquota é de 6%.

IPTU: A Câmara Legislativa do Distrito Federal rejeitou o projeto de lei que corrigia em 10% a planta de valores imobiliários, que dá base para calcular o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Os reajustes na Taxa de Limpeza Pública (TLP) e na Contribuição de Iluminação Pública (CIP) também não foram aprovados pelos distritais.

ITBI: a alíquota passou de 2% para 3% do valor venal do imóvel, para transações acima de R$ 250 mil.

ESPÍRITO SANTO
Não houve aumento de alíquotas de impostos estaduais ou municipais. A prefeitura de Vitória faz a correção monetária (correção pela inflação), aplicando o Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E). No ano passado, para atualização dos valores, foi aplicado um percentual de 6,46%, utilizando o IPCA-E do ano de 2014. Nesse ano, o índice será de 10,71%.

GOIÁS
ICMS: houve alteração de alíquota apenas para gasolina, que passou de 27% para 28%. A alíquota básica de ICMS em Goiás permanece em 17%. A alíquota para operações interestaduais também continua a ser 12%.
IPVA: houve aumento apenas em uma categoria. A alíquota para motocicletas, ciclomotores, quadriciclos e automóveis de passeio com potência até 100 cavalos subiu de 2,5% para 3%. As demais categorias mantiveram o valor de 2015: 1,25% para ônibus, micro-ônibus,  caminhão e demais veículos usados para o transporte coletivo; 3,45% para utilitários; 3,75% para veículos aquáticos, aéreos, e veículos de passeio que não são de 100 cavalos.

ITCMD: em Goiás, esse tributo é chamado de Imposto Sobre Transmissão Causa Morte e Doação (ITCMD). No ano passado havia uma alíquota única de 4%. A partir deste ano, ela passou a ser escalonada de acordo com os valores a serem recebidos. Assim, para as heranças de até R$ 25 mil incidirá 2%; até R$ 200 mil será de 4%; até R$ 600 mil será 6%; e acima disso, 8%.

Goiânia
IPTU: não houve variação na alíquota do IPTU. Houve apenas a reposição inflacionária de 10,48% para 2016.

MINAS GERAIS
ICMS: teve alteração da alíquota em vários produtos e serviços: 160 produtos voltaram a ter alíquota de 18%. No ano passado, a alíquota era de 7% ou 12%. O ICMS de energia elétrica para consumo de classe Comercial, Serviços e Outras Atividades (definida pela Aneel) passou de 18% para 25% (exceto para os imóveis de entidades religiosas e beneficentes, além de hospitais públicos e privados, que continuam pagando 18%). O ICMS sobre a prestação e serviço de comunicação passa de 25% para 27%.

Os produtos que compõem o Fundo de Erradicação da Miséria (FEM) tiveram aumento de 2 pontos percentuais no ICMS:
– para 27% (até 31/12/2019) em bebida alcoólica (exceto aguardente de cana ou melaço), armas, perfumes, água de colônia, cosméticos e produtos de toucador.
– para 20% (até 31/12/2019) em cerveja sem álcool, cigarros (exceto os embalados em maço) e produtos de tabacaria, refrigerantes, bebidas isotônicas e energéticas; ração tipo pet; alimentos para atletas; celulares e smartphones; câmeras fotográficas e de filmagem e acessórios; equipamentos para pesca esportiva; som ou vídeo para uso automotivo.
Belo Horizonte
Não houve aumento nos impostos municipais.

MARANHÃO
ICMS: o governo ajustou a alíquota básica de incidência do ICMS nas operações internas, que passaram de 17% para 18%, a partir de 1º de janeiro de 2016.
IPVA: foi reduzida de 2% para 1% a alíquota de IPVA para motocicletas até R$ 10 mil e elevado de 2,5% para 3% para qualquer veículo automotor com valor venal acima de R$ 150 mil e aeronaves e embarcações.
ITCD: foram estabelecidas oito faixas de alíquotas, nas doações de quaisquer bens ou direitos e nas instituições de usufruto:
– de 1%, caso a soma dos valores venais não seja superior a R$ 100 mil
– de 1,5%, para valores venais acima de R$ 100 mil até 300 mil
– de 2% para valores acima de R$ 300 mil

Em quaisquer outras hipóteses, bem como na transmissão causa mortis:
– de 3%, caso a soma dos valores venais se estenda até R$ 300 mil.
– de 4%, caso a soma dos valores venais seja superior a R$ 300 mil e se estenda até R$ 600 mil.
– de 5%, caso a soma dos valores venais seja superior a R$ 600 mil e se estenda até R$ 900 mil.
– de 6%, caso a soma dos valores venais seja superior a R$ 900 mil e se estenda até R$ 1,2 milhão.
– de 7%, caso a soma dos valores venais exceda a R$ 1,2 milhão.

MATO GROSSO DO SUL
ICMS: com fim da redução experimental por seis meses, a alíquota do óleo diesel – que era de 12% em 31 de dezembro de 2015 – subiu para 17% em 2016. Foram reajustadas as alíquotas sobre cosméticos, perfumes e refrigerantes, de 17% para 20%, e de bebidas alcoólicas, cigarros, fumos e derivados de fumo, que subiram de 25% para 28%.

ITCD: em 2016 entrou em vigor um aumento no valor de isenção do tributo, para 780 unidades fiscais no município – o que significa que, para janeiro, passou de R$ 17,8 mil para R$ 50 mil – nas doações de bens e direitos. O mesmo limite, R$ 50 mil, também foi estabelecido para as transmissões causa mortis (herança) de bens e direitos.

Para as doações que forem acima do teto ou não se enquadrarem nos requisitos para isenção, a alíquota que era de 2% em 2015 sobe para 3% em 2016, enquanto que na transmissão de bens e direitos por causa mortis, nestas mesmas condições, o percentual sobe de 4% para 6%. Os aumentos devem vigorar até 31 de dezembro de 2019.

IPVA: alíquota passou de 2,5% para 3,5% para automóvel (carro de passeio), camionete, camioneta de uso misto e utilitário passou de 2,5% para 3,5%; para ciclomotor, motocicleta, triciclo e quadriciclo, continua em 2%; caminhões com qualquer capacidade de carga, ônibus ou micro-ônibus para transporte coletivo de passageiros tiveram as alíquotas reajustadas de 1,5% para 2%. Para automóveis de oito lugares movidos a diesel, a alíquota sobe de 3% para 4,5%.
Campo Grande
IPTU: não houve mudança de alíquota, apenas correção da inflação nos valores, 9,56%.
As alíquotas para 2016 continuam as mesmas de 2015, ou seja, variam de 1% a 3,5% sobre o valor venal dos imóveis, conforme situação (se tem construção ou não) e melhoramentos ou benefícios  onde está localizado (pavimentação, abastecimento de água, rede de esgoto e rede de energia elétrica).

MATO GROSSO
O governo de Mato Grosso informou que não houve aumento de impostos desde o início de 2015, e não há previsão de nenhum aumento no início deste ano.
Cuiabá
IPTU: Ainda não há previsão de reajuste em 2016. Continua sendo cobrado às mesmas alíquotas de 2014, sendo 0,4% no caso de Imposto Predial e 2% de Imposto Territorial.

ITBI: sem previsão de aumento. São cobradas 0,5% sobre o valor efetivamente financiado em casos de transferências de imóveis pelo Sistema Financeiro de Habitação e 2% sobre o valor restante. Nas demais transferências, a cobrança é de 2%. O percentual é o mesmo cobrado em 2015.

PARÁ
Não houve aumento das alíquotas estaduais.

Belém
Nenhum imposto foi sofreu aumento. O que ocorreu, conforme disposto na Lei 8.033/2000, é uma atualização monetária (correção pela inflação). A variação acumulada para 2016 é de 9,57%.

PARAÍBA
ICMS: a alíquota aumentou de 17% para 18%. De alguns produtos, a alteração foi maior: da gasolina, subiu de 25% para 27%; da TV por assinatura, de 10% para 15%; do cigarro, de 25% para 35%.
IPVA: subiu de 2% para 2,5% sobre o valor venal dos veículos
Imposto sobre Herança e Doações: subiu de 4% para uma alíquota progressiva que varia de 2% a 8%.

João Pessoa e Campina Grande
IPTU: aumento de 6,56% para 10,48%

PIAUÍ
ICMS: mudou para bebidas, fumo e gasolina, com aumento de 2%. Para fumos e bebidas saiu de 17% para 19%. Já a gasolina saiu de 25% para 27%. No álcool houve redução de 6%, caindo de 25% para 19%.

IPVA: a variação de alíquota atinge exclusivamente quem possui veículos com valor acima de R$ 150 mil, além de embarcações como moto aquática. A medida vale a partir de abril de 2016, quando a alíquota sobe de 2,5% para 3%.

Imposto sobre Herança e Doações (ITCMd): a variação de alíquota do ITCMD para causa mortis passa a ser de 2% (até 20 mil) a 6% (acima de R$ 500 mil), ao invés de um valor fixo em 4%. Para doações, o valor permanece em 4%.
Teresina
ITBI: Desde 2006, o valor da alíquota do ITBI do município de Teresina é de 2%. Para pagamentos à vista, há desconto de 10%. A cada ano, há reajuste de acordo com o IPCA-E, índice que mede a inflação. Este ano foi de 10,71%, contra 6,46% em 2015.

PARANÁ
ICMS: houve aumento da alíquota de 12% para 18% ou 25% em 95 mil itens de consumo popular. Aumento da alíquota de 28% para 29% na gasolina e álcool. Novas alíquotas entraram em vigor em abril de 2015.
IPVA: aumento da alíquota em 2015 de 2,5% para 3,5% do valor do veículo em vigor desde abril de 2015.
Curitiba
IPTU: sem alta na alíquota. Houve atualização monetária de 10,48% em relação ao valor de 2015, mais 4% de correção para imóveis edificados e 7% para imóveis sem edificação.

ITBI: aumento da alíquota no início de 2015 de 2,4% para 2,7% do valor do imóvel.

PERNAMBUCO
IPVA: foi aprovado pela Assembleia Legislativa aumento válido por 48 meses em várias categorias. Para aeronaves, a alíquota subiu de 1,5% para 6%; motocicletas, de 2% para 2,5% para veículo com motor de cilindrada até 300 cm³; de 3,0 % para veículo com motor de cilindrada acima de 300 cm³ até 600 cm³; e de 3,5 % para veículo com motor de cilindrada acima de 600 cm³. Para carros, passou de 2,5% para 3%, no caso de veículo com motor de potência até 180 CV; de 4 %, no caso de veículo com motor de potência acima de 180 CV
Imposto sobre Herança e Doações: a partir de 2016, passou para uma escala de zero a 8%, dependendo do valor do bem. Até R$ 200 mil, alíquota de 2%; de R$ 200 mil a R$ 300 mil, de 4%; de R$ 300 mil a 400 mil, alíquota de 6%; acima de R$ 400 mil, alíquota de 8%. A faixa de isenção aumenta de R$ 5 mil para R$ 50 mil.

ICMS: a alíquota da gasolina sobe de 27% para 29%, enquanto que a do álcool cai de 25% para 23%. Sobre serviços de telecomunicações, o ICMS sobe de 28% para 30%. Para produtos que não contam com legislação específica, a alíquota do ICMS sobe de 17% para 18%.

Recife
IPTU: o reajuste aplicado aos valores para cálculo do imposto (a atualização do valor do bem) a partir de 1º de janeiro de 2016 foi de 9,93%. As alíquotas seguem inalteradas.

ITBI: não houve aumento na alíquota de ITBI em 2015. O Programa de Parcelamento Incentivado "Em dia com a cidade", em vigor até 29/03/2016, prevê que o ITBI de transações realizadas até dezembro/2014, para as quais não tenha havido o pagamento, poderão ainda usufruir da redução de alíquota de 3% para 1,8%.

RIO DE JANEIRO
ICMS: houve aumento para algumas categorias. Para óleo diesel, subiu de 12% para 14%; diesel para transporte público, permanece em 6%; importação, aumenta de entre 13% a 15%, dependendo do local de entrada do produto, para 16% independente de local. Serviços de comunicação, aumenta de 25% para 26%.

ITD: para bens e imóveis até 400 mil UFIR, aumenta de 4% para 4,5%. Bens e imóveis acima de 400 mil UFIR, aumenta de 4% para 5%.

IPVA: para veículos flex, aumenta de 3% para 4%; para veículos GNV: aumenta de 1% para 1,5%; trator não agrícola, cai de 4% para 1%; veículos a energia elétrica: cai de 1% para 0,5%.

Rio de Janeiro (capital)
IPTU: a cada ano o IPTU é atualizado monetariamente, mas a alíquota segue inalterada. O índice que corrige o valor venal que serve ao cálculo do imposto é o IPCA-E (Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial), divulgado pelo o IBGE anualmente. O percentual para 2016 é de 10,71%.

SANTA CATARINA
IPVA: as alíquotas seguem estáveis, mas há redução de 4,2% no valor dos bens sobre os quais elas incidem, já que se baseia na tabela da Fipe.

Florianópolis
IPTU: alíquota estável, com correção de 9,3% no valor dos imóveis, baseado no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (INPC).

RIO GRANDE DO NORTE
Nenhum imposto teve alteração de alíquota ainda. A partir de fevereiro de 2016 as alíquotas serão alteradas:

ICMS: de 17% para 18%
IPVA: de 2,5% para 3% (apenas para veículos novos, adquiridos depois de fevereiro. Em 2017 a alíquota de 3% aplicar-se-á aos demais veículos, novos ou em uso).
ITCD: de 3% para um sistema progressivo, assim: 3% até 500 mil; 4% de 500 mil a 1 milhão; 5% entre 1 e 3 milhões; e 6% a partir de 3 milhões.

Natal
IPTU: em Natal era de 0,6% do valor base do imóvel para imóveis em geral, e 1% do valor base do imóvel para terrenos e imóveis comerciais em 2015. A alíquota permanece a mesma em 2016, porém o valor base dos imóveis foi reajustado em 9,57% (Ipca-e).

RIO GRANDE DO SUL
ICMS: teve aumento de 1% na alíquota. Era 17% e passou para 18%.

Imposto sobre Herança e Doações (ITCMd): antes eram aplicadas apenas duas alíquotas, de 3% e 4%. Agora foram estabelecidos índices progressivos de até 6% para a transmissão de bens (móveis, título, créditos, ações e quotas de empresas) e duas faixas, de 3% e 4%, para casos de doação.

Porto Alegre
IPTU:  alíquota estável com reajuste de 10,48% no valor dos imóveis, com base na aplicação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) dos últimos 12 meses, segundo a prefeitura.

RONDÔNIA
IPVA: as alíquotas do IPVA não sofrerão aumento e permaneceram no mesmo valor que no ano passado. Quanto ao valor venal do veículo, utilizado como base de cálculo para lançamento do imposto, conforme valores apurados em dezembro de 2015, haverá queda média de 3,6% em relação ao ano passado. Em 2015, o valor do imposto sobre o IPVA teve redução média de 2,6% em relação a 2014.
ICMS: as alíquotas de alguns produtos subiram: 17,5% para a alíquota modal; 32% para cigarros, charutos e tabacos; 35% bebidas alcoólicas, exceto cerveja.

Porto Velho
IPTU: a alíquota do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) continua em 0,5% sobre o valor do imóvel, conforme a lei municipal 199/2004.

RORAIMA
Não houve aumento no ICMS, IPVA e sobre heranças e doações.

Boa Vista
IPTU: não houve reajuste nos impostos sobre a Propriedade predial e Territorial Urbana (IPTU) e sobre venda de Bens e Imóveis (ITBI). Em relação ao IPTU só houve uma atualização pela variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) 2015, com alíquota estável.

SERGIPE
ICMS: sofreu aumento e os índices variam de 1% a 3%.  A Secretaria não informou qual era o percentual anterior, mas confirmou que essa atualização é superior aos últimos cinco anos.
IPVA: aumentou com percentual que varia de 0,5% a 1% . O último ajuste foi de 2% .
Imposto sobre Herança e Doações: o imposto era de 4% e mudou para 2%, criando níveis – foi reduzida para quem paga 3.500 Ufir; se manteve para os superiores a partir de 3.500 e até 7000 Ufirs; e aumentou 2% para a faixa de 7 mil a 14 mil Ufirs. Superior a 14 mil, o percentual passou a ser 8%.
                      
Aracaju
IPTU: o valor do imposto foi reajustado em até 30%, seja para imóvel construído ou terreno.

SÃO PAULO
ICMS: o imposto sofreu alteração (aumento e redução) para alguns produtos (cerveja e demais bebidas alcoólicas, cigarro e medicamentos genéricos). Para cerveja e demais bebidas alcoólicas, subiu de 18% para 20%; para cigarro, sobe de 25% para 30%; para medicamentos genéricos há redução na alíquota de 18% para 12%.

IPVA: o valor do imposto vai cair, em média, 3,3% porque os valores venais dos veículos estão mais baixos, mas as alíquotas do imposto não mudam.

Imposto sobre Herança e Doações: o imposto não sofreu alteração na alíquota. Segundo a Secretaria da Fazenda, o ITCMd não sofre reajuste há alguns anos e é de 4%
ITBI: a alíquota permanece a mesma do ano passado: 3%.
São Paulo (capital)
IPTU: o reajuste será de 9,5% no valor dos imóveis, mas as alíquotas do IPTU permanecem as mesmas, ou seja, 1% para imóveis residenciais e 1,5% para os demais imóveis.

TOCANTINS
ICMS: aumentou de 25% para 27% nos seguintes itens: gasolina, álcool, serviços de comunicação, perfumes, joias, cigarros, armas, cervejas e embarcações. Também subiu de 7% para 12% para produtos de agricultura e pecuária, e comércio de carnes.
Além do aumento de 25% para 27% no ICMS do estado, o governo também inseriu mais dois pontos percentuais de aumento, cujo produto da arrecadação será destinado ao Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza, deste modo, o aumento real do ICMS no Tocantins foi de 25% para 29%.

IPVA:
Alíquotas variavam entre 1% e 3%. Os aumentos foram de: 1,25% para veículos de transportes de passageiros e cargas; 2% para aéreos, aquáticos; 2,5% para automóveis de passageiros, pick-ups com motor até 100hp; 3,5% para automóveis de passageiros, pick-ups com motor acima de 100hp.

Imposto sobre Herança e Doações: 2% sobre valor superior a R$ 25 mil a R$ 100 mil; 4% sobre valor superior a R$ 100 mil a R$ 500 mil; 6% sobre valor superior a R$ 500 mil a R$ 2 milhões; 8% sobre valor superior a R$ R$ 2 milhões.

Palmas
A Prefeitura disse que não houve aumento de impostos.

domingo, 3 de janeiro de 2016

A usina de pessimas ideias economicas do governo - Alexandre Schwartsman

Espertezas

Por Alexandre Schwartsman*


…evitar o aumento de juros por meio da elevação da meta para a inflação se baseia na noção que pessoas são incapazes de entender o que está ocorrendo. Não chega a ser surpreendente, pois vem do mesmo tipo de “economista” que acredita que indivíduos têm que ser tratados como crianças, tutelados
 
Publicado originalmente na Folha de S. Paulo, Edição de 30 de dezembro de 2015
 
Normalmente deixaria para minha última coluna de 2015 alguma reflexão sobre o ano que passou, ou algo sobre o que virá, mas, como a usina de más ideias não parece —diferentemente de tantas outras— estar em férias coletivas, não tenho alternativa que não examinar mais uma bobagem em gestação. Há, segundo Fernando Rodrigues, estudos por parte da equipe econômica para elevar a meta de inflação dos atuais 4,5% para 5,5%.
O motivo não poderia ser menos nobre. O BC já havia deixado claro na ata do Copom do final de novembro (e reiterado a mensagem no Relatório Trimestral de Inflação divulgado na semana passada) que, muito embora tenha (mais uma vez) adiado a convergência da inflação para a meta para 2017, “adotará as medidas necessárias (…) [para] trazer a inflação o mais próximo possível de 4,5% em 2016, circunscrevendo-a aos limites estabelecidos pelo CMN (…)”. Em outras palavras, não quer permitir que a inflação ultrapasse novamente o limite superior do intervalo em torno da meta, 6,5%.
Dado, porém, que as expectativas para 2016 já se encontram em quase 7% (o Banco Central projeta pouco mais que 6%, mas seu histórico de previsões não sugere que devamos acreditar nisto), entre as “medidas necessárias” se encontra muito provavelmente novo ciclo de elevação da taxa de juros, a se iniciar em janeiro.
Assim, ao elevar a meta de 4,5% para 5,5%, o limite superior passaria de 6,5% para 7,5%, esperteza que, de acordo com os idealizadores da proposta, tiraria do BC o ônus de subir a taxa Selic.
Como se costuma dizer, todo problema complexo tem uma solução simples e, obviamente, errada.
A proposta implicitamente pressupõe que as expectativas dos agentes econômicos se manteriam inalteradas, mesmo após o anúncio de nova informação, isto é, que, mesmo sabendo que o BC passaria a perseguir um alvo distinto (e, para deixar claro, o alvo a que me refiro não é a meta, mas seu limite superior), as pessoas passivamente ignorariam esta valiosa informação ao negociarem seus salários ou definirem seus preços.
Posto de outra forma, a ideia de que se pode evitar o aumento de juros por meio da elevação da meta para a inflação se baseia na noção que pessoas são incapazes de entender o que está ocorrendo. Não chega a ser surpreendente, pois vem do mesmo tipo de “economista” que acredita que indivíduos têm que ser tratados como crianças, tutelados pelo “papai Estado”.
A adoção de tal medida, porém, levará justamente ao contrário do esperado pelos autores da proposta. As expectativas de inflação (e não apenas para 2016) irão subir refletindo a nova informação.
Por causa disso, salários e preços subirão mais do que fariam caso a meta tivesse sido mantida, acelerando adicionalmente a inflação e o BC será obrigado a elevar ainda mais a taxa de juros (ou a aceitar inflação mais alta). Um caso clássico de tiro que saiu pela culatra, apenas mais um entre tantos que tivemos o privilégio de testemunhar nos últimos anos.
O regime de metas para a inflação está em vigor desde 1999, tempo mais do que bastante para que o entendimento acerca de seu funcionamento já estivesse suficientemente difundido de forma a evitar que propostas como esta viessem à luz do sol. Mas não: erradicar o analfabetismo econômico é tarefa que não cessa.

• * ALEXANDRE SCHWARTSMAN – DOUTOR EM ECONOMIA PELA UNIVERSIDADE DA CALIFÓRNIA, BERKELEY, E EX-DIRETOR DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS DO BANCO CENTRAL DO BRASIL É PROFESSOR DO INSPER E SÓCIO-DIRETOR DA SCHWARTSMAN & ASSOCIADOS
(O Blog A MÃO VISÍVEL, de Alexandre Schwartsman, agora integra o Site Chumbo Gordo, no http://www.chumbogordo.com.br/categorias/a-mao-visivel/)

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Copom: enxugando gelo e enganando os incautos - Comunicado do BC

Desde 2011 que o presidente do Banco Central promete alinhar a inflação com o centro da meta para o ano seguinte, e nunca cumpriu.
Em qualquer país sério, o Congresso já teria exigido sua substituição por alguém capaz de manter suas promessas, e de tomar as medidas necessárias para que isso se faça. Aliás, um presidente que se respeita jamais teria aceito abaixar os juros por decreto, apenas por ordem da presidente, uma inepta em economia. Teria dito simplesmente: "isso é o Copom quem decide e os diretores não querem sugestões externas, eles sabem errar sozinhos, sem precisar de erros externos."
Mas parece que vamos continuar nas promessas vazias.
Alguém aí é capaz de acreditar que a inflação estará no centro da meta em 2017?
O Brasil tem por dez anos mais para ter taxas de juros normais, graças aos crimes econômicos cometidos pelo bando de keynesianos de botequim que nos destruiram nos últimos anos.
Paulo Roberto de Almeida

BRASIL - Copom: navegando as incertezas atuais
Itaú Macroeconômica, 26/11/2015

O Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (Copom) manteve a taxa Selic em 14,25% a.a.. Embora a decisão tenha sido em linha com o esperado - tanto pelos analistas como pela curva de juros - houve um dissenso dentro do Comitê. Dois (de oito) membros da diretoria votaram para uma elevação de 0,50 p.p. na taxa Selic, para 14,75%.

O comunicado que acompanhou a decisão foi lacônico e não traz maiores detalhes além da votação dividida. Abaixo o comunicado completo:

“Avaliando a conjuntura macroeconômica e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu manter a taxa Selic em 14,25% a.a., sem viés, por seis votos a favor e dois votos pela elevação da taxa Selic em 0,50 p.p.. Votaram pela manutenção da taxa Selic em 14,25% a.a. os seguintes membros do Comitê: Alexandre Antonio Tombini (Presidente), Aldo Luiz Mendes, Altamir Lopes, Anthero de Moraes Meirelles, Luiz Edson Feltrim e Otávio Ribeiro Damaso. Votaram pela elevação da taxa Selic para 14,75% a.a. os seguintes membros do Comitê: Sidnei Corrêa Marques e Tony Volpon.”

Nas últimas semanas, o Copom vinha sinalizando que adotará as medidas necessárias para trazer a inflação ao centro da meta (4,5%) ao final de 2017.   

Apesar da recente apreciação cambial (o real se valorizou em cerca de 5% frente ao dólar desde a última reunião do Copom), as incertezas políticas/fiscais seguem pressionando as expectativas de inflação e trazendo riscos para a política monetária. Desde a reunião do Copom de 21 de outubro, a mediana das projeções dos analistas para o IPCA de 2016 subiu de 6,12% para 6,64% (marcando a 16ª alta semanal consecutiva). As projeções para 2017 tambem começaram a mostrar pequena elevação, saindo de 5,00% para 5,10% na última semana. As estimativas de inflação implícita nos títulos públicos também se encontram em patamar elevado - as taxas a termo se situam entre 8-9% para intervalos de 1 a 2 anos, e entre 7,0-7,5% para prazos de 3 a 5 anos  - embora estes cálculos reflitam a existência de prêmio de risco nos ativos brasileiros. Esse aumento nas expectativas de inflação piora o balanço de riscos para a inflação, o que  poderia levar o Copom a retomar o ciclo de alta de juros. Estes fatores devem ser as razões para os votos a favor de um aumento de juros.

No entanto, a atividade permanece bastante fraca, o que ajuda a conter os efeitos secundários da depreciação cambial e dos ajustes de preços administrados. Além disto, a piora em curso nas condições do mercado de trabalho tem potenciais efeitos desinflacionários em setores mais intensivos em mão de obra (serviços). A incerteza política/fiscal atual também recomenda cautela na definição da política monetária, de forma a contribuir para a redução da volatilidade nos mercados. Estes fatores contribuem para mitigar as possibilidades de um aperto monetário no curto prazo, e provavelmente foram preponderantes na decisão do restante do colegiado (seis membros do Copom) que optaram pela manutanção da taxa Selic.

Diante de fatores relevantes para a dinâmica inflacionária atuando em direções opostas, e tendo em mente as elevadas incertezas no cenário (especialmente na parte política/fiscal), entendemos que o alongamento do prazo para convergência inflacionária ofereceu maior tranquilidade ao Copom para ajustar a politica monetária apenas no caso de a inflação se mostrar pressionada em prazos mais longos. Desta forma, acreditamos que o Copom não mudará a postura da política monetária, a menos que ocorram alterações relevantes na projeção do Copom para a inflação de 2017.

Assim, mantemos nosso cenário de Selic estável em 14,25% até o fim de 2016.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

A Tale of Two Inflations: Venezuela (highest), Peru (lowest)

Não há muito espaço para Charles Dickens, aqui, ou se houver, é apenas para relatar a miséria dos cidadãos venezuelanos, que além de suportar uma crônica falta de produtos básicos ainda precisam se confrontar a uma inflação que é, provavelmente, a maior do mundo, mas uma coisa é consequência da outra não é mesmo?
Enquanto isso, um pouco mais abaixo, o Peru conhece sua mais baixa inflação do ano, coisa que os brasileiros não podem proclamar...
Paulo Roberto de Almeida

Venezuela economía
Inflación en Venezuela habría alcanzado el 180 % anual
InfoLatam, 2/10/2015

La inflación mensual de Venezuela de septiembre habría sido la más alta en un cuarto de siglo, un 16,9 por ciento, y la tasa interanual habría alcanzado a un 179,5 por ciento, dijo el jueves un periódico opositor, citando una fuente cercana al Banco Central.

Perú economía
La inflación en Perú llegó a 0,03 % en septiembre, la más baja del año
 InfoLatam, 2/10/2015

La inflación en Perú durante septiembre pasado fue de 0,03 %, la mas baja del año, con lo que se llegó a un acumulado de 3,43 % durante el año, informó el Instituto Nacional de Estadística e Informática (INEI).

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Eleicoes 2014: vitoria de Marina afastara' a volta do PT em 2018 - Paulo Marcos (via Ricardo Setti)

Não tenho certeza de que o cenário seja assim tão favorável a uma política econômica tendencialmente liberal pós-Marina e pós-caos lulo-petralha, que virá com ela também, pois ela terá de governar com essa "direita" mencionada pelo leitor Paulo Marcos; na verdade, o que teremos, como mais provável, será a consagração do "peemedebismo" na política brasileira.
Em todo caso, concordo com o que ele não diz explicitamente: será uma contenção parcial da associação mafiosa atualmente no poder. Mas eles vão continuar perturbando, e impedindo o Brasil de avançar, se já não fosse o ecologismo-criacionismo-evangelismo que aparece no horizonte.
Paulo Roberto de Almeida 

Blog de Ricardo Setti, 27/08/2014
 às 14:00 \ Política & Cia

Post do Leitor: “Por que acho que o melhor para o Brasil é a vitória de Marina”

(Foto: Dida Sampaio/AE)
“Marina tem DNA petralha, ela e muitos ‘cumpanheiros’ da cúpula do PT são cobras do mesmo ninho e de longa data — se a bomba explodir entre eles, melhor”, opina o leitor Paulo Marcos (Foto: Dida Sampaio/AE)
Texto do leitor Paulo Marcos
Post do LeitorAo acessar a coluna do Setti, algo que faço frequentemente com muito gosto, e ler sobre a enquete em curso sobre quem os leitores acham que irá para o segundo turno da eleição presidencial, fiquei refletindo sobre o assunto e cheguei à conclusão que o melhor para o Brasil em médio prazo será a vitória da candidata Marina Silva.
Digo isso por sabermos que, inevitavelmente, o próximo governo, de quem quer que seja, terá de tomar medidas impopulares, provavelmente conviver com um período de economia recessiva, cortar gastos, extinguir ministérios (acabando com muitas boquinhas de forma direta e indireta), acabar com muitos cargos comissionados, cortar verbas para ONGs, etc.
Os preços de energia elétrica e combustíveis estão represados faz um bom tempo e terão de ser reajustados, o que possivelmente acarretará em mais inflação, aumento da taxa de juros, falta de oferta de crédito no mercado e por aí vai.
Se imaginarmos um cenário sem o PT como oposição e toda sua rede de influência , que vai desde o ambiente político, passando pelo jornalístico (a grande maioria deste meio é composto de esquerdistas) e até o  universitário (as universidades públicas são verdadeiros criadouros de zumbis da ideologia comuno-socialista), o Aécio seria a melhor escolha.
Porém, no quadro atual, com uma bomba relógio prestes a explodir nas mãos do próximo governo, creio que farão da gestão do Aécio Neves um verdadeiro inferno — as forças sindicais promoverão todo tipo de greve e entrave, os movimentos sociais promoverão todo tipo de baderna, invasões e confrontos… Em suma, o PT e seus asseclas tocarão fogo neste país! E, cá para nós, o PSDB e o Aécio não têm tido e não terão pulso firme para bater de frente com a rede petralha (…).
E sabe o que vai acontecer, com uma população em sua maioria composta de gente ignorante financeiramente falando e muito ingênua no sentido político? Vão engolir a falácia que será disseminada pela rede petralha de que o PSDB destruiu o país, que são neoliberais, privateiros, defendem interesses internacionais e bla bla bla!
Com isso corremos o grande risco de o PT voltar novamente em 2018 e enterrar de vez qualquer possibilidade de se surgir uma corrente política nova e realmente viável para o Brasil. Esse é o meu maior temor!
Sendo Marina Silva a próxima presidente, não correremos este risco, além de termos a vantagem de tirar o PT de dentro das engrenagens da máquina do Estado, desaparelhando diversos setores e ainda por cima dando um freio no cronograma bolivariano do Foro de São Paulo em curso no país.
Marina tem DNA petralha, ela e muitos ‘cumpanheiros’ da cúpula do PT são cobras do mesmo ninho e de longa data — se a bomba explodir entre eles, melhor!
Acho que será um trauma tão grande que sepultará de vez a aventura socialista/populista no Brasil e abrirá o caminho para novas correntes políticas mais à direita (coisa que praticamente não existe hoje, salvo raras exceções), que defendam, sem constrangimento, a diminuição do Estado a sua menor presença na vida do cidadão, o liberalismo econômico, os valores da família, uma reforma tributária justa, as liberdades individuais, etc.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Equador: como destruir um pais, solapando a sua moeda

Caro leitor: você está tendo o privilégio (algo duvidoso) de assistir a história em tempo real. No Equador, o presidente se prepara, pela "enésima" vez na história econômica do país, para destruir a sua moeda, que aliás não é mais a do país, e sim o dólar.
Eu estava nos EUA, em 2000, quando, assolado por uma hiperinflação, e por diversas crises políticas -- no curso das quais vários presidentes, inclusive um louco de pedra, foram caçados do poder -- e incapaz de pagar suas dívidas, o Equador foi obrigado a declarar moratória. O sistema monetário estava destruído, e como havia pouca credibilidade para instituir nova moeda, tomou-se simplesmente a decisão de abolir a moeda nacional, e passar a trabalhar com o dólar, como tinha feito alguns anos antes El Salvador. O Panamá também trabalha com o dólar, mas devido a razões históricas, a despeito de ter sua própria moeda nacional, o balboa (do nome do aventureiro espanhol que explorou o istmo).
Ter uma moeda internacional como sua pode ser um expediente de desespero, ante a recusa da sociedade em aceitar uma moeda nacional conspurcada pelo governo, que sempre é o responsável pelos processos inflacionários, ao gastar muito.
Não é a melhor solução, mas pode ser uma tábua de salvação, em face de problemas ainda maiores.
Na mesma época, a Argentina ameaçava desvalorizar de vez, em face da flutuação brasileira, o que era em parte uma bravata, mas em parte seria a consagração de uma situação de fato: a população argentina já tem o dólar como sua moeda de referência absoluta, o que nunca foi o caso no Brasil.
Pois bem, agora o Equador, que tem um presidente formado em economia nos EUA -- o que não deixa de ser uma ironia -- se prepara para lançar uma moeda virtual. Não dou dois anos para que essa moeda seja aceita igualmente para fechar determinadas operações reais do governo, o que é um pequeno passo para a hiperinflação.
A origem é sempre uma só: governos irresponsáveis gastam muito mais do que poderiam e deveriam.
Estamos assistindo ao começo do fim de mais uma etapa da alucinante história monetária do Equador.
Paulo Roberto de Almeida 

Equador deve criar moeda virtual para gasto público
Por Nathan Gill
Valor Econômico, 11/08/2014

Após penhorar a maior parte do petróleo e do ouro do Equador para financiar gastos, o presidente Rafael Correa está planejando criar um dinheiro virtual para pagar as contas do país.
No mês passado, o Congresso aprovou leis para a criação de uma moeda digital que será utilizada junto com o dólar americano, a moeda oficial no Equador. Assim que as leis forem sancionadas, já em outubro, o país começará a utilizar a moeda, que ainda não tem nome. Será estabelecida uma autoridade monetária para regulamentar o dinheiro, que será garantido por "ativos líquidos".
Menos de seis anos depois de o Equador se recusar a pagar US$ 3,2 bilhões da sua dívida denominada em dólares, as reservas de petróleo do país estão diminuindo, os déficits de conta corrente drenam dólares da economia e a necessidade de financiamento está em nível recorde. Embora usar dinheiro virtual para pagar funcionários públicos e empreiteiros do governo possa ajudar a poupar dinheiro vivo, a moeda pode estimular Correa a elevar ainda mais os gastos e solapar a capacidade do país de pagar títulos no longo prazo, diz a Landesbank Berlin Investments.
"Normalmente, este é o começo da inflação e da desvalorização", diz Lutz Röhmeyer, que ajuda a gerenciar cerca de US$ 1,1 bilhão em ativos de mercados emergentes no Landesbank Berlin e que investe no Equador há mais de 15 anos. Ele previu os dois últimos calotes do país e quer reduzir sua exposição à dívida equatoriana. O banco tem parte dos US$ 2 bilhões em títulos vendidos pelo Equador em junho.
O Ministério de Políticas Econômicas do Equador não quis fazer comentários sobre a nova moeda e indicou o Banco Central para o envio de perguntas. A assessoria de imprensa do BC também não quis se pronunciar e remeteu a uma resolução de junho assinada pelo diretor-geral da instituição, Mateo Villalba. A resolução diz que a moeda eletrônica será lastreada por ativos líquidos e não poderá ser trocada por títulos do governo.
O Equador está criando a sua própria moeda eletrônica porque moedas digitais, como o bitcoin, vêm ganhando aceitação como meios de pagamento, substituindo o dinheiro tradicional. Ao contrário dos planos do Equador, a maioria das moedas virtuais foi desenvolvida como alternativa às moedas garantidas por governos.
O Equador teve déficit de conta corrente nos últimos quatro anos, o que vem drenando dólares da economia, que em 2000 desistiu do sucre e adotou em seu lugar a moeda americana. O governo prevê um déficit público de US$ 4,5 bilhões neste ano, depois que o gasto público mais do que triplicou desde a posse de Correa, em 2007.
Em maio, para evitar que a escassez de dólares restringisse o gasto público, o governo usou mais da metade de suas reservas de ouro como garantia para obter um empréstimo de US$ 400 milhões do Goldman Sachs. No mesmo mês, fechou um acordo com a China para tomar emprestados US$ 2 bilhões em troca de produção futura de petróleo. Depois, em junho, o governo vendeu US$ 2 bilhões em dívida, oferecendo a segunda maior taxa de juros para títulos semelhantes em dólares vendidos neste ano, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Como Correa está ampliando o investimento em projetos de obras públicas e programas sociais para reduzir a pobreza, o Ministério das Finanças previu em novembro que o país teria de tomar emprestados cerca de US$ 35 bilhões até 2017.
A tentação de usar a nova moeda para pagar as contas aumentará à medida que o governo esgotar as suas atuais fontes de dólares, diz José Mieles, economista do centro de pesquisa Cordes, de Quito. Aliados de Correa no Congresso rejeitaram o pedido de associações empresariais de incluir na nova lei uma garantia que lastreasse a nova moeda com quantidade equivalente de dólares, dizendo que a medida era desnecessária.
"O problema vai ser se eles começarem a pagar credores locais" com a nova moeda, disse Mieles. "Eles poderiam utilizar esses recursos para obter liquidez imediata."
Analistas esperam para ver como o governo vai implementar o novo sistema, disse Juan Lorenzo Maldonado, economista do Credit Suisse Group. "Se eles acharem um modo de fazer uso eficiente da moeda eletrônica para certos tipos de pagamentos e tornarem alguns procedimentos mais fáceis e rápidos, e fizerem isso responsavelmente, pode ser uma coisa boa."
"Eu não gostaria ser convertido para uma nova moeda gerenciada por um banco central não testado", disse Steffen Reichold, economista da Stone Harbor Investment Partners, que gerencia US$ 65,3 bilhões em ativos de renda fixa. Criar uma moeda "não é simples, nem para um país com histórico impecável de gestão econômica bem-sucedida, e não acho que o Equador esteja nessa categoria".

sábado, 5 de julho de 2014

Inflacao: keynesianos de botequim sempre foram tolerantes

Esses economistas companheiros, seguindo os pessimos ensinamentos furtadianos, sempre acharam que um pouquinho de inflação não faria mal, desde que se garantisse crescimento e emprego. Pois bem, o crescimento tem sido medíocre e o desemprego é maior do que o índice anunciado pelo governo, sem falar do subemprego e dos mecanismos perversos sobre o mercado de trabalho do Bolsa Familia.
Em qualquer pais sério, o presidente do BC teria sido demitido, pois em 4 anos NUNCA entregou a inflação na meta, com a desculpa de que NUNCA foi ajudado pelo governo; ao contrário, este só atrapalhou. 
Paulo Roberto de Almeida 
Mais lenha na fogueira da inflação
Os consumidores de baixa renda estão mais pessimistas que o mercado financeiro em relação ao proceso inflacionário, que Dilma não consegue debelar. Editorial do Estadão:

Mais um sinal de alerta para a inflação acaba de soar no mercado. Os consumidores, principalmente os de baixa renda, estão mais pessimistas que o pessoal do mercado financeiro e das consultorias quanto à evolução dos preços até o meio do próximo ano. Segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), os consumidores projetam uma inflação de 7,4% para os 12 meses até junho de 2015. Para o mesmo período, a mediana das projeções do mercado ficou em 5,91% na pesquisa Focus do Banco Central (BC) divulgada na última segunda-feira. Essa pesquisa é realizada semanalmente com cerca de 100 economistas do mercado financeiro e de consultorias independentes. Os cálculos do BC para os 12 meses até o meio do próximo ano apontam uma alta de 5,9% para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como referência para a política monetária. Como a expectativa é considerada um fator inflacionário pelos especialistas, o ministro da Fazenda e os dirigentes do BC deveriam ficar de prontidão: os donos do julgamento final sobre a alta de preços estão prevendo dias muito ruins.
De fato, nem os dirigentes do BC, responsáveis principais pela política anti-inflacionária, se mostram muito otimistas quanto à evolução de preços e tarifas nos próximos dois anos. Segundo suas estimativas, o IPCA ainda subirá 5,7% em 2014 e 5,1% nos 12 meses até junho de 2016. O ritmo continuará, portanto, muito acima dos 4,5% fixados como meta oficial. Mas o esforço maior, por enquanto, é para impedir a superação, no ano gregoriano, do limite de tolerância, 6,5%. Esse limite, no entanto, será superado neste mês ou no próximo, segundo projeções de vários especialistas.
O risco se eleva com os novos aumentos da conta de luz. A Eletropaulo, responsável pelo abastecimento da capital paulista e de 24 municípios da região metropolitana, foi autorizada a cobrar 18,06% a mais dos consumidores residenciais e 19,93% das indústrias. Como os números de São Paulo têm grande peso na formação do IPCA, o estouro do limite de tolerância se torna quase certo.
Outras 14 distribuidoras foram também autorizadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a aumentar suas tarifas. O maior reajuste, 35,05%, foi atribuído à Copel, mas a empresa, atendendo o governo do Estado, pediu a suspensão do aumento. Sobraram três companhias com autorização para aumentos médios superiores ao da Eletropaulo: AES Sul (29,54%), RGE (22,77%) e Vale Paranapanema (19,66%).
Com esses ajustes, parte do impacto antes previsto para 2015 deve ocorrer neste ano. O efeito teria sido possivelmente menor - mais diluído no tempo - se os aumentos de tarifas tivessem ocorrido a partir do ano passado. Isso teria facilitado o repasse dos custos maiores da energia fornecida pelas centrais térmicas. Mas a presidente Dilma Rousseff preferiu congelar os preços, em mais um esforço para administrar os índices de inflação. Com esse mesmo objetivo o governo federal negociou com municípios e Estados o congelamento das tarifas de transporte público. O controle de preços de combustíveis, com grande custo financeiro para a Petrobrás, é parte da política oficial há mais tempo e foi mantido pelo atual governo.
Nenhum desses truques produz efeitos por muito tempo. Além disso, todos produzem danos importantes. Prejudicam o fluxo de caixa e a rentabilidade das companhias afetadas, derrubam o valor de suas ações, diminuem sua capacidade de investir e transmitem sinais distorcidos ao mercado - por exemplo, estimulando na hora errada o consumo de certos bens ou serviços. Além disso, a manobra resulta muitas vezes em custo para o Tesouro, como no caso das tarifas de eletricidade.
Não se combate a inflação com o controle de preços e a maquiagem dos índices. Políticas desse tipo apenas adiam as soluções necessárias e agravam os problemas. Governos sérios controlam a inflação com aumento de juros e outras medidas monetárias e também com austeridade fiscal e incentivos à produção e à expansão da oferta. Os erros cometidos pelo governo brasileiro nem sequer são originais. Nem todos aprendem com as lições da história.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Heranca maldita dos companheiros: inflacao em alta

A única coisa que segura um pouco a inflação crescente são os preços administrados, mas isso tampouco é bom para as empresas submetidas a controles políticos: veja-se o caso da Petrobras, a vaca petrolífera dos companheiros, sendo afundada pelos incompetentes e pelos corruptos que estão nela ou em volta dela, tanto pelo lado dos prejuízos de caixa, quanto pelo papel de caixa 2 que ela é levada a desempenhar para enriquecer uns e outros.
Paulo Roberto de Almeida

BRASIL - Taxa do IPCA em 12 meses pode atingir 6,5% em junho
Pesquisa macroeconômica - Itaú

Ilan Goldfajn - Economista-Chefe
18/06/2014

O IPCA-15 subiu 0,47% em junho, acima da nossa projeção (0,42%) e da mediana das expectativas de mercado (0,41%). O índice havia registrado variação de 0,58% no mês anterior e de 0,38% em junho do ano passado. Com isso, a taxa em 12 meses subiu para 6,41%, ante 6,31% até maio. O principal desvio em relação à nossa projeção veio dos preços administrados, em função de uma queda menor da taxa de água e esgoto em São Paulo e do resultado acima do esperado de telefonia fixa (havíamos considerado uma parte da queda da assinatura básica da Telefônica, mas o efeito ainda não foi incorporado). O resultado do IPCA-15 foi marcado por pressões de alguns serviços que podem estar associadas à realização da Copa do Mundo, tais como alimentação fora do domicílio, passagem aérea, excursão e hotel.
Os preços livres subiram 0,52% em junho, com a taxa em 12 meses subindo para 7,1%, enquanto os preços administrados variaram 0,32%, com a taxa em 12 meses em 4,1%. Dentre os preços livres, os bens transacionáveis subiram 0,57% (6,7% em 12 meses), enquanto os bens não transacionáveis, 0,48% (7,5% em 12 meses).
As maiores contribuições altistas no mês vieram dos grupos despesas pessoais (0,12 p.p.), transportes (0,09 p.p.) e saúde e cuidados pessoais (0,08 p.p.). No grupo despesas pessoais, destaque para a contribuição do item recreação (0,09 p.p.), tendo em vista as altas de jogos de azar, excursão e hotel. No grupo transportes, destaque para a contribuição de passagem aérea (0,09 p.p.), em função da alta de 22%, após queda de 21% no mês anterior.  No grupo saúde e cuidados pessoais, destaque para as contribuições de plano de saúde, produtos farmacêuticos e higiene pessoal. O grupo alimentação e bebidas ainda foi impactado pela alta da alimentação fora do domicílio (1,1% e contribuição de 0,09 pp.), mas já contou com alívio da alimentação no domicílio (-0,2% e impacto de -0,04 p.p.), com destaque para a queda dos alimentos in natura (-4,6% e impacto de -0,10 p.p.). Outras contribuições baixistas vieram da taxa de água e esgoto (-4% e impacto de -0,06 p.p.) - em parte refletindo o desconto nas contas da Sabesp - e dos combustíveis para veículos (-0,9% e impacto de -0,05 p.p.), diante da queda sazonal nos preços do etanol e da gasolina.
Os núcleos da inflação subiram um pouco em relação ao mês anterior. Na média das três medidas mais utilizadas (média aparada com suavização, dupla ponderação e exclusão de itens mais voláteis), a taxa atingiu 0,60% (0,58% em maio), com a variação em 12 meses subindo para 6,5%. A inflação de serviços acelerou para 0,97% (ante 0,24% em maio), com a taxa em 12 meses subindo para 9,1% (8,8% no mês anterior). Este movimento refletiu a reversão da queda nos preços da passagem aérea no mês anterior, assim como pressões adicionais de alimentação fora do domicílio e recreação. O índice de difusão - que mede a proporção de produtos com taxa de variação positiva - baixou para 66,6% (67,7% em maio). Excluindo-se o grupo alimentação, o indicador subiu para 73,5% (66,4% no mês anterior). Com ajuste sazonal, a difusão total recuou para 68,5% (68,9% em maio).
Com base nos dados do IPCA-15 e de outras informações correntes, projetamos variação de 0,38% para o IPCA do mês fechado (0,46% em maio). Com este resultado, o IPCA atingiria alta de 6,5% nos últimos 12 meses.
Em suma, o resultado do IPCA-15 veio acima da nossa projeção e da mediana das expectativas de mercado. O principal desvio em relação à nossa projeção veio dos preços administrados. O resultado do IPCA-15 foi marcado por pressões de alguns serviços que podem estar associadas à realização da Copa do Mundo. Além dos serviços, os núcleos também vieram pressionados, com alta de 0,6% no mês e 6,5% nos últimos 12 meses. O índice de difusão recuou ligeiramente, tanto no dado original quanto na série com ajuste sazonal. Com base nos dados do IPCA-15 e de outras informações correntes, projetamos variação de 0,38% para o IPCA de junho, que levaria a taxa em 12 meses para 6,5%.
Elson Teles
Economista

   
  



segunda-feira, 2 de junho de 2014

Nostalgia monetaria: quando o dinheiro valia alguma coisa

Antigamente, muito antigamente, o dinheiro valia alguma coisa, depois passou a não valer nada...
Explico, mas primeiro vejam esta foto que fiz no Museu de Portland, Maine:

Atenção, a nota é falsa, mas verdadeira, ou seja, ela foi pintada por um artista para imitar uma verdadeira nota falsa, ou seja, uma contrafação de uma nota verdadeira de cinco dólares.
Para fazer a sua gozação, o artista aumentou o valor para dez dólares, o que faz dela uma nota falsa verdadeira, não sei se me fiz entender.
Em todo caso, não era disso que eu queria falar.
Leiam bem o que está escrito de cima abaixo; eu traduzo para facilitar:

Certificado de depósito [ou seja, não é uma nota de dinheiro, mas apenas um certificado de depósito]
Isto certifica que
foi depositado junto ao [parece que é sério, ou seja, garantem que está depositado]
Tesoureiro dos Estados Unidos
sediado em Washington, D.C.
pagável em seu escritório ao portador sob demanda [ou seja, quem se apresentar leva o que vale]
DEZ
dólares de prata [isso foi antes que os EUA aderissem ao padrão ouro, em 1895, se não estou enganado]
Série de 1880

Retomo: antes que fosse criado o Federal Reserve, em 1913, cada nota emitida por um banco autorizado deveria ter como correspondência junto ao Tesouro o equivalente em prata (muito comum nos EUA, antes da corrida ao ouro) ou em ouro. Mesmo depois da criação do Federal Reserve (que correspondeu mais ou menos à união monetária que a Europa fez entre 1999 e 2001, com a unificações dos diversos dólares em circulação naquele imenso país, alguns valendo mais do que outros...), o dinheiro emitido era, em princípio, lastreado em ouro. Digo em princípio, pois em matéria de governo, vocês sabem como são as coisas: eles dizem que fazem, mas não fazem, e acabam enganando todo mundo.
O fato é que Franklin Delano Roosevelt, em 1933, acabou com a festa, não apenas deixando de garantir a moeda lastreada em ouro, mas obrigando todos os americanos a ceder o ouro que detivessem ao governo, que passou a deter o monopólio das reservas metálicas.
Ainda assim, teoricamente, os EUA deveriam ter tanto ouro quantos dólares em circulação, o que que prometeram fazer em 1944, em Bretton Woods, onde estive neste domingo 1 de Junho de 2014 (setenta anos depois, quase, depois da famosa conferência que criou o padrão ouro-dólar, depois da derrocada completa do padrão ouro).
Bem, a festa acabou novamente em 1971.
Desde então, é cada um por si, e a anarquia monetária para todos.
Os governos emitem o que querem. Eles fingem que garantem o dinheiro emitido (não é verdade sequer que o façam) e nós fingimos que acreditamos.
Na verdade, não existe mais garantia nenhuma, e os governos produzem inflação o tempo todo e mantém esse controle monopolista sobre a emissão de dinheiro, um abuso inacreditável.
Bem, pelo menos vocês ficaram com a imagem de um dólar de antigamente, mesmo sendo um falso verdadeiro.
Paulo Roberto de Almeida

quinta-feira, 6 de março de 2014

Economia brasileira: pode-se NAO ser pessimista (tudo politica de governo)

Projeções pessimistas

06 de março de 2014 | 2h 05
Editorial O Estado de S.Paulo
O Brasil continuará com inflação alta, crescimento econômico abaixo de medíocre e contas externas em mau estado, neste e no próximo ano, segundo as projeções coletadas pelo Banco Central (BC) na pesquisa Focus, realizada semanalmente com cerca de uma centena de instituições financeiras e consultorias. A última pesquisa, divulgada nesta quarta-feira, foi conduzida na sexta passada. Na véspera, dia 27, havia sido divulgada a primeira estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) de 2013. Na antevéspera o BC havia anunciado a alta dos juros básicos de 10,5% para 10,75%. A principal novidade, neste caso, havia sido um aumento menor que os seis anteriores, todos de 0,5 ponto porcentual. As duas notícias, juntas, foram insuficientes para mudar o humor do mercado e afetar seriamente as estimativas formuladas nas semanas anteriores. Os analistas continuam à espera de informações muito mais positivas para abandonar ou pelo menos atenuar o pessimismo. Isso dependerá basicamente do governo.
A pesquisa Focus apresenta projeções sobre preços, juros, dívida pública, crescimento econômico, câmbio e contas externas. As cifras publicadas são as medianas das estimativas. Os economistas do mercado, tudo indica, estão menos otimistas que os dirigentes do BC em relação à alta de preços. Para a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), foi mantida a projeção de 6%, a mesma coletada nas quatro semanas anteriores. Mas pioraram as estimativas do IGP-DI, do IGP-M e do IPC-Fipe. Só diminuíram as projeções da Selic. A taxa final prevista para o ano foi baixada de 11,25% para 11,13%. A taxa média de 2014 foi diminuída de 10,97% para 10,91%. De toda forma, foi mantida a aposta em novos aumentos de juros, porque a inflação deverá permanecer elevada e resistente.
A decisão do BC pode ter sido baseada em algum otimismo quanto à evolução dos preços. Pode ter sido motivada pela preocupação com o crescimento econômico. Pode ter resultado de uma combinação desses dois fatores. Seja como for, o pessoal das consultorias e das instituições financeiras pouco mudou suas avaliações e manteve as previsões de inflação muito longe da meta de 4,5% e de expansão econômica inferior à do ano passado. No caso do PIB, a melhora da projeção foi muito pequena, de 1,67%, na semana anterior, para 1,70%.
Mas a estimativa da produção industrial piorou, caindo de 1,87% para 1,80%. A expansão econômica mais uma vez dependerá, portanto, dos serviços e da agropecuária - e isso ainda será determinado pelos estragos da estiagem.
O pessimismo ainda se estende ao próximo ano. Para 2015, a inflação projetada continua em 5,70%, a mesma taxa estimada quatro semanas antes. O crescimento econômico deve chegar a 2%, uma taxa extraordinariamente baixa para uma economia emergente. A produção industrial poderá expandir-se 3% - resultado abaixo de pífio, depois de três anos muito ruins.
Os analistas do setor privado continuam, portanto, duvidando amplamente de qualquer melhora significativa das condições de funcionamento da economia nacional. Segundo essa avaliação, o País continuará operando com baixa produtividade e, portanto, com reduzido potencial de crescimento.
Essas dúvidas são perfeitamente compatíveis com as projeções para as contas externas. A projeção para o superávit comercial foi rebaixada de US$ 8,25 bilhões, há quatro semanas, para US$ 7,80 bilhões e, em seguida, para US$ 7 bilhões. Em quatro semanas, a previsão do saldo no próximo ano diminuiu de US$ 13 bilhões para US$ 10 bilhões. O déficit em transações correntes para este ano foi mantido em US$ 75 bilhões na pesquisa Focus da sexta-feira passada - menor que o do ano passado (US$ 81,4 bilhões), mas ainda um forte sintoma de desarranjos internos.
Um surto de investimentos produtivos poderia justificar um déficit em conta corrente dessa magnitude, mas o caso brasileiro é outro. O Brasil continua investindo menos que 20% do PIB tanto em infraestrutura quanto em meios de produção para empresas. Milagre econômico seria crescer mais com investimento tão baixo.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Real, 20 anos: uma historia do Plano aos seus 18 anos - Leandro Roque

Uma breve história do Plano Real, aos seus 18 anos
por 
Instituto Mises Brasil, sábado, 30 de junho de 2012



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Gustavo Franco, um dos principais mentores do Plano Real
Quando Itamar Franco assumiu interinamente a Presidência da República no dia 29 de dezembro de 1992, imediatamente após a renúncia de Fernando Collor, a inflação acumulada em 12 meses estava em 1.119%.  Em 1991, ela havia sido de 472%.  Em 1990, de 1.621%.  Com o país mergulhado em uma crise política e com a economia em frangalhos, não havia a menor perspectiva entre a população de que houvesse qualquer arrefecimento na inflação de preços.

Também em decorrência da recessão, a arrecadação tributária não era suficiente para cobrir as despesas.  Como consequência, o governo apenas ordenava ao Banco Central — que, na época, podia comprar títulos diretamente do Tesouro — que imprimisse o dinheiro necessário para fazer frente às despesas.  O resultado era um moto-perpétuo inflacionário. 
Eis o gráfico do singelo crescimento da base monetária — variável totalmente sob o controle do Banco Central — durante o governo Collor.  (É preciso dividir o gráfico em dois, pois um aumento de 28.380% não cabe em apenas um só gráfico).
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Gráfico 1: evolução da base monetária, março de 1990 a julho de 1991
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Gráfico 2: evolução da base monetária, julho de 1991 a dezembro de 1992
Tal prática de imprimir dinheiro para fazer frente às despesas governamentais não cobertas por impostos já era tradicional na economia brasileira; porém, no início da década de 1990, ela havia chegado ao ápice.  Em abril de 1990, por exemplo, a inflação acumulada em 12 meses foi de 6.821%, recorde até hoje absoluto em nossa história.
Após mais de uma década com inflação de preços anual acima dos 100% — a média de inflação de preços anual entre 1980 e 1992 foi de incríveis 694% —, uma solução definitiva era urgente.

O problema da hiperinflação
Além de toda a distribuição de renda às avessas que a inflação monetária gera — a qual foi a responsável pela explosão da disparidade de renda no Brasil na década de 1980 —, ela também provoca dois problemas adicionais que inviabilizam qualquer chance de crescimento econômico sustentável:
1) A inflação gera uma falsificação contábil que faz com que as empresas sobrestimem seus lucros e, consequentemente, incorram em um involuntário consumo do capital próprio.  Isto ocorre porque, durante a hiperinflação, a depreciação dos bens de capital continua sendo computada em termos de seus custos históricos e não em termos de seus reais custos de reposição (necessariamente mais altos).  Esta subestimação da depreciação gera uma superestimação dos lucros, o que consequentemente fará com que a empresa consuma um capital que não possui.
2) Adicionalmente, a hiperinflação impossibilita que os empreendedores sejam capazes de antecipar — mesmo que aproximadamente — quais serão os preços dos bens dali a alguns meses.  Logo, qualquer investimento de longo prazo se torna inviável.  Os empreendedores passam a se concentrar em projetos de curto prazo, projetos visando ao futuro mais imediato — por exemplo, no setor de serviços, nos setores de atacado e varejo, e até mesmo em empreendimentos que lidam com a especulação de vários de tipos de commodities. 
Assim, quando o processo de estimativa empreendedorial se torna incapaz de calcular com alguma exatidão quais recursos podem ser empregados lucrativamente em projetos de longo prazo, a estrutura de produção da economia é radicalmente "encurtada" e deixa de estar de acordo com as preferências dos consumidores, tanto presentes quanto futuras.  O caos calculacional impera.
Esta situação gera um círculo vicioso.  A hiperinflação contrai a estrutura de produção da economia, o que a deixa menos produtiva.  Uma economia menos produtiva significa menos produtos no mercado em relação à demanda.  Menos produtos no mercado em conjunto com um acentuado aumento da oferta monetária significam preços maiores.  Esta contínua inflação monetária exacerba a hiperinflação de preços, a qual contrai ainda mais a estrutura de produção da economia, reiniciando o ciclo. 
Daí a baixa qualidade de vida da maioria da população brasileira durante a década de 1980 e na primeira metade da de 1990.
O início
Estava claro, portanto, que esta situação não poderia perdurar.  Os velhos paliativos de trocar o nome da moeda e cortar três zeros já haviam se comprovado um redundante fracasso.  E não era necessário ser nenhum gênio monetário — tampouco seguidor da Escola Austríaca — para entender que uma hiperinflação contínua e crescente levaria à total destruição do sistema monetário, destruindo por completo a divisão do trabalho (a qual é possibilitada justamente pela existência do dinheiro) e retornando a economia ao estado do escambo.
Vários planos heterodoxos já haviam sido tentados desde meados da década de 1980:  Plano Cruzado (I e II) em 1986; Plano Bresser em 1987; Plano Verão em 1988/1989; e Plano Collor (I e II) em 1990 e 1991, respectivamente.  Todos envolviam congelamento de preços (alguns deles, cortes de zeros das moedas).  O governo congelava os preços, mas continuava imprimindo dinheiro impavidamente, o que significa que os geniais burocratas restringiam a oferta mas estimulavam a demanda.  Ao final de cada plano, a inflação de preços ressurgia com vigor redobrado.  E ninguém entendia por quê.
Em maio de 1993, partindo para o tudo ou nada, Itamar Franco nomeou Fernando Henrique Cardoso — então Ministro das Relações Exteriores — para o Ministério da Fazenda.  Naquele mês, a inflação de preços acumulada em 12 meses já estava em 1.348%. 
Por gozar de grande prestígio e por ter reconhecida capacidade intelectual, a indicação de FHC foi recebida com entusiasmo.  Vislumbrava-se pela primeira vez alguém com genuína capacidade de apresentar um plano econômico que ao menos reduzisse sensivelmente a inflação.
Embora sempre houvesse admitido não entender nada de economia, Fernando Henrique ao menos possuía bons contatos no mundo acadêmico, principalmente junto a um grupo de economistas da PUC do Rio de Janeiro.  E foi a eles que FHC delegou a tarefa de debelar em definitivo a inflação.
A equipe de economistas encarregada desta espinhosa função era composta por Gustavo Franco, Pedro Malan, André Lara Resende, Persio Arida, Edmar Bacha e Winston Fritsch.
O Plano
Embora repleto de jargões técnicos à primeira vista indecifráveis, o Plano Real na verdade era como um livro de John Grisham: uma trama aparentemente complexa encobrindo um enredo totalmente simples.  O objetivo da reforma monetária era lançar uma moeda cujo valor fosse, senão atrelado, pelo menos muito próximo ao dólar.  Na prática, o objetivo era fazer uma dolarização da economia, mas sem que houvesse uma dolarização de fato, algo que ofenderia nossos brios nacionalistas.
Como iremos ver mais abaixo, fazer uma dolarização da economia — isto é, simplesmente passar a utilizar o dólar como a moeda oficial do país (exatamente como fez o Panamá) — teria sido algo mais eficaz, muito pouco custoso e, principalmente, mais propício à liberdade do fatigado e espoliado povo brasileiro.  Porém, tanto por questões nacionalistas quanto por motivos estatais, preferiu-se o caminho mais complexo, que foi a criação e emissão de (mais uma) nova moeda.  Afinal, utilizar uma moeda estrangeira significa que o governo não mais teria capacidade de imprimir dinheiro para financiar seus déficits, passando a depender exclusivamente de impostos e empréstimos para cobrir seus gastos.  E, como sabemos, um governo só aceita vestir uma camisa-de-força se ela tiver um zíper na frente.  Logo, a opção pela criação de (mais) uma moeda foi uma esperta manobra do governo para manter intacto seu poder de imprimir dinheiro, não obstante todos os estragos que já haviam sido causados em decorrência da hiperinflação por ele gerada.
O Plano Real dependia de cinco fatores essenciais:
1) Zerar o déficit público — justamente o fator que gerava a emissão de dinheiro.  Para isso, haveria um aumento de cinco pontos percentuais em todos os impostos federais e privatizações de estatais, principalmente dos bancos estaduais;
2) Desindexar a economia — isto é, acabar com as correções automáticas de preços e salários, que eram reajustados automaticamente de acordo com a inflação passada (prática essa determinada por lei).  Em termos técnicos, isso ficou conhecido como "acabar com a inércia inflacionária";
3) Reindexar a economia de acordo com a taxa de câmbio — isto é, fazer com que preços e salários variassem de acordo com o dólar.  Na prática, o dólar se tornava o novo indexador.
4) Abrir a economia por meio da redução das tarifas de importação — tudo era válido para combater qualquer escalada preços (bons tempos);
5) Aumentar acentuadamente as reservas internacionais — isto é, o governo deveria comprar dólares continuamente, acumulando-os até o momento da introdução da nova moeda.  Quanto mais dólares o governo tivesse em suas reservas, maior seria a confiança dos investidores internacionais na seriedade e na robustez do plano, e menores seriam as chances de um ataque especulativo e de uma fuga de capitais.
Uma vez cumpridas estas cinco medidas, a nova moeda nasceria com um valor praticamente igual ao dólar.
As etapas
No dia 1º de agosto de 1993, houve a primeira medida, embora de efeito apenas cosmético: mudou-se, mais uma vez, o nome da moeda, e cortou-se três zeros.  A moeda deixava de se chamar Cruzeiro e passava a se chamar Cruzeiro Real.  A inflação de preços continuava em forte ascensão: seria de 33% só no mês de agosto e de 1.730% no acumulado de 12 meses. 
Esta ascensão inflacionária decorria do fato de que, além de imprimir dinheiro para saldar o seu déficit, o governo também imprimia para comprar dólares, algo que ele continuaria fazendo até o dia da introdução do real. 
No dia 7 de dezembro de 1993, finalmente foi apresentado o plano de estabilização especificando os cinco itens elencados acima.  Veja aqui um curto vídeo de uma reportagem do Jornal Nacional.
A mudança seguinte — e a mais importante — ocorreria só em 28 de fevereiro de 1994: a introdução da URV, Unidade Real de Valor.  (A inflação de fevereiro foi de 40,3% e a acumulada em 12 meses já estava em 3.025%).
A URV foi apenas um nome técnico tupiniquim para se evitar a palavra 'dolarização'.  Na prática, a URV nada mais era do que a cotação do dólar do dia anterior.  A taxa de câmbio do final de cada dia era estabelecida como sendo o valor da URV do dia seguinte.  Este valor serviria de indexador para todos os valores da economia.  Assim, os bens e serviços precificados em Cruzeiro Real deveriam ser divididos pela URV (taxa de câmbio determinada no dia anterior) para se encontrar os preços em Real.   
Veja aqui um exemplo aleatório: no dia 28 de março de 1994, a URV foi determinada em CR$895,03.  Isto significa que, no dia 29 de março, os preços em Cruzeiro Real deveriam ser divididos por 895,03 para se obter o preço em Real.  Este processo era repetido diariamente.  Dizia-se, assim, que a economia estava "urvizada". 
O objetivo desta indexação em URV era, paradoxalmente, o de desindexar toda a economia, apagando aquilo que era chamado de "memória inflacionária".  Todos os contratos e negociações salariais deveriam ser urvizados.  A intenção era fazer com que, no dia da transição do Cruzeiro Real para o Real (a moeda só entraria em circulação no dia 1º de julho), os preços fossem exatamente aqueles do dia anterior, de modo a não gerar sobressaltos e nem confusão.  Veja aqui uma curta reportagem do Jornal Nacional, ainda em junho, ensinando as pessoas a como fazer esta conta básica, já as preparando para o dia da transição.
Finalmente, no dia 29 de junho de 1994, uma quarta-feira, a taxa de câmbio encerrou o dia com o dólar valendo CR$2.750,00.  Portanto, no dia 30 de junho, quinta-feira, todos os valores em Cruzeiro Real deveriam ser divididos por 2.750 para se obter os valores em Real.  Todas as contas bancárias, todas as aplicações e investimentos foram automaticamente convertidos em Real.  CR$2.750 foi, portanto, a paridade estabelecida entre o Cruzeiro Real e o Real.  Morria o Cruzeiro Real e, na sexta-feira, dia 1º de julho, nascia o Real, valendo exatamente 1 dólar (pelo menos naquela sexta-feira).  Toda a base monetária foi trocada de acordo com esta paridade de CR$2.750,00 para cada R$1,00.  Quem estivesse em posse de cédulas de Cruzeiro Real deveria trocá-las nos bancos por cédulas e moedas de Real.
Em junho de 1994, a inflação de preços foi de 47,43% e a inflação acumulada em 12 meses foi de 4.922%.
Alguns gráficos
A seguir, veja o gráfico da variação da base monetária desde 1º de agosto de 1993, quando surgiu o Cruzeiro Real, até 30 de junho de 1994, quando ele morreu.  Em menos de um ano de existência, ela aumentou 3.100%.
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Gráfico 3: evolução da base monetária do Cruzeiro Real, de agosto de 1993 a junho de 1994
Este aumento foi majoritariamente para a compra de dólares para se acumular reservas internacionais.  Veja abaixo a cotação diária do dólar para este mesmo período.  Como era de se imaginar, observe a incrível desvalorização ocorrida no período, decorrente desta enorme impressão de dinheiro.
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Gráfico 4: taxa de câmbio do Cruzeiro Real, de 1º agosto de 1993 a  29 de junho de 1994.
Agora, o gráfico da variação das reservas internacionais desde janeiro de 1980.  Observe que elas começaram a crescer em definitivo a partir do final de 1991, sob a gestão de Marcílio Marques Moreira no Ministério da Fazenda, indicando que já havia um plano esboçado desde aquela data.
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Gráfico 5: evolução das reservas internacionais, janeiro de 1980 a junho de 1994
E o gráfico da taxa de inflação acumulada em 12 meses desde 1987.  A queda acentuada se deveu ao Plano Collor, que envolveu sequestro de poupança e congelamento de preços e salários.  Porém, tão logo os ativos confiscados foram sendo desbloqueados, os preços voltaram a disparar.
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Gráfico 6: IPCA acumulado em 12 meses, de janeiro de 1987 a junho de 1994
Transição sem susto
A transição do Cruzeiro Real para o Real, na sexta-feira, 1º de julho de 1994, foi sem susto e sem tumultos.  Obviamente, em um país acostumado a confiscos, congelamentos e tabelamentos, houve quem remarcasse os preços de maneira mais "abusada", justamente tentando se precaver contra estas possíveis surpresas, algo que obviamente irritou o governo.  Porém, fora estes incidentes localizados, a transição se deu de maneira suave e tranquila.  A inflação de preços, que havia sido de 47,43% em junho, passou para 6,84% em julho, 1,86% em agosto, 1,53% em setembro, 2,62% em outubro, 2,81% em novembro e 1,71% em dezembro.
Câmbio fixo?
Um dos maiores mitos que persistem até hoje é aquele que afirma que o Plano Real baseou-se um uma "âncora cambial" ou em um "câmbio fixo".  Isso é falso.  O câmbio nunca foi fixo, sequer por um dia.  Já no primeiro dia útil após a transição — segunda-feira, 4 de julho de 1994 — a taxa de câmbio passou a flutuar.  A partir daí, seu valor foi sendo determinado ora pelo mercado ora pela pura intervenção do Banco Central.  O BACEN se limitava a, diariamente, estabelecer um piso e um teto para a taxa de câmbio — algo tecnicamente chamado de 'banda cambial' —, mas estes valores aumentavam diariamente (ver gráfico 7).  E assim permaneceu até o "fim" daquilo que se convencionou chamar de "primeira fase" do Plano Real, no dia 13 de janeiro de 1999. 
Obviamente, houve períodos de intervenção intensa, principalmente no segundo semestre de 1998 e no início de 1999, quando o BACEN se esforçou — leia-se 'vendeu reservas internacionais' — para tentar manter um determinado valor para o câmbio (detalhes mais abaixo).  Mas câmbio genuinamente fixo nunca houve.  A seguir, um gráfico com as cotações diárias do câmbio, de 1º de julho de 1994 a 12 de janeiro de 1999.
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Gráfico 7: taxa de câmbio diária, de 1º de julho de 1994 a 12 de janeiro de 1999
Por que o Real foi aceito
Adeptos da teoria austríaca sabem que uma moeda só é imediatamente aceita após o seu surgimento caso ela já possua um histórico como meio de troca.  Se você criar uma moeda de papel hoje, do nada, é muito provável que ninguém irá aceitá-la.  Da mesma forma, um país que troque o seu sistema monetário, introduzindo uma nova moeda, pode até ser capaz de fazer — por meio da força, da coerção e das leis de curso forçado — com que seus cidadãos a utilizem; porém, dificilmente conseguirá fazer com que investidores estrangeiros confiem nesta moeda.  Tampouco os governos de outros países.
Por isso, caso o Brasil simplesmente trocasse o nome da sua moeda, é bastante provável que ela não fosse levada a sério pela comunidade internacional — principalmente levando-se em conta nosso histórico nada favorável de libertinagem monetária.  Logo, apenas a criação de uma nova moeda não seria capaz de fazer com que, logo em seus primeiros meses, ela se apreciasse como o Real se apreciou, indo de uma taxa de câmbio de R$1/US$ para R$0,84/US$.  Portanto, qual foi o segredo?
O segredo é aquilo que pode ser chamado de "qualidade da moeda".  A qualidade da moeda é determinada ou pelos ativos que a lastreiam ou pelos ativos pelos quais ela pode ser trocada sob demanda e sem restrição.  No caso do Real, o segredo estava justamente no tamanho das reservas internacionais em dólares.
Ao final de julho de 1994, a quantidade de reais em poder do público e em contas-correntes (ou seja, o M1) era de R$10,687 bilhões.  Já a quantidade de reservas internacionais era de US$43,09 bilhões
Isso significa que mesmo se todos os reais em circulação na economia brasileira fossem convertidos em dólares, ainda sobrariam (muitos) dólares.  Em outras palavras, na eventualidade de uma crise econômica mundial que assustasse os investidores estrangeiros e os levasse a retirar todos os seus investimentos do Brasil, eles não teriam por que se preocupar em não conseguir converter reais em dólares.  Havia dólares sobrando.  Foi justamente esta "qualidade do Real" — o fato de estar lastreado abundantemente em dólares — que garantiu a confiança dos investidores, levando à sua imediata apreciação logo após o seu surgimento.
E foi exatamente neste lastro em dólares que o Real manteve boa parte da sua credibilidade desde seu lançamento.  Enquanto as reservas internacionais fossem maiores que o M1, os investidores estrangeiros estariam seguros de que não haveria perigo de não conseguirem converter reais em dólares.  Mais ainda, eles estariam seguros de que o governo não recorreria — como já fizera várias vezes no passado — às maxidesvalorizarções cambiais para evitar que uma repentina fuga de dólares gerasse um total esgotamento das reservas internacionais. 
As reservas em dólares foram toda a base do Plano Real.  Daí a importância das compras de dólares iniciadas ainda no final de 1991.
Porém, manter estas reservas internacionais não era fácil, principalmente levando-se em conta que a balança comercial e de serviços (tecnicamente chamada de 'Transações Correntes') tornou-se negativa a partir de outubro de 1994 (e assim permaneceu até o fim da "primeira fase" do Plano Real).  Dado que havia esta saída de dólares por meio deste déficit nas transações correntes, o país tinha de manter juros elevados para atrair capital externo (via investimentos em títulos do governo, no mercado financeiro e em investimentos diretos; em terminologia contábil, diz-se que esses dólares estão entrando na conta capital e financeira) para mais do que compensar esta saída de dólares.
E esta foi justamente a "mácula" da primeira fase do Plano Real: a necessidade de manter juros altos para atrair dólares e, com isso, manter a confiança da comunidade internacional no Plano.  Não bastasse isso, o governo ainda apresentava um déficit orçamentário de aproximadamente 7% do PIB (não havia sequer superávit primário).  Tamanha necessidade de financiamento contribuía ainda mais para a elevação dos juros.
Eis um gráfico das taxas de juros determinadas pelo Banco Central para garantir este influxo contínuo de dólares via conta capital.
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Gráfico 8: taxa de juros do determinada pelo Banco Central, de 1º julho de 1994 a 31 de dezembro de 1998
Observe a disparada dos juros em outubro de 1997, em decorrência da crise asiática, que gerou uma fuga de capitais ao redor do mundo, e em meados de 1998, quando a primeira fase do Plano Real começou a desabar, pelos motivos que serão vistos logo abaixo.
A boa fase
Como explicado acima, a genuína âncora do Plano Real e da sua estabilidade era o volume de suas reservas internacionais.  Enquanto o volume de dólares fosse maior do que o M1, toda e qualquer conversão de reais em dólares estava garantida, o que trazia tranquilidade aos investidores, que assim não precisavam se preocupar com desvalorizações cambiais repentinas para impedir o esgotamento das reservas internacionais.
Enquanto esta estabilidade fosse garantida, o real desfrutaria do status de moeda forte e segura.  Justamente para garantir que o volume de reservas internacionais fosse maior que o M1, a expansão monetária era contida.  Isso trouxe uma substancial redução na inflação de preços, que caiu de 916% em 1994 para 1,65% em 1998 (o menor valor em toda a história do real).  Eis o gráfico da inflação de preços acumulada em 12 meses (a partir de julho de 1995, exatamente um ano após a introdução do real):
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Gráfico 9: IPCA acumulado em 12 meses, de julho de 1995 a dezembro de 1998
Para ajudar neste controle da inflação de preços, a economia passou por um processo de modernização.  Além da privatização de empresas estatais ineficientes, houve também a extremamente importante privatização de bancos estaduais, genuínas usinas de expansão monetária, pois eram utilizados por seus respectivos governos como fonte fácil e farta de financiamento.  Estes bancos operavam praticamente sem lei e sob ordens de seus governos estaduais, criando meios de pagamento a rodo apenas para financiar seus descalabros.  Os desvalidos de todo o resto do país pagavam a conta
Os melhores exemplos eram o Banespa e o BANERJ.  A dupla Quércia-Brizola punha fogo nessas instituições, fazendo-as conceder empréstimos para apaniguados políticos, para estatais deficitárias e, principalmente, para seus vorazes governos estaduais, ao mesmo tempo em que esses próprios bancos incorriam em déficits vultosos.  E quem socorria esses bancos era o Banco Central, que injetava dinheiro neles sempre que necessário, aumentando tanto a base monetária quanto o M1.  Não à toa, a inflação só passou a ser menor após esses bancos terem sido tirados da órbita de seus governos estaduais.
Mas a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil, o Banco Meridional, o Banco da Amazônia, o Banco do Nordeste, o os bancos estaduais de Santa Catarina, Ceará, Goiás, Pará, Alagoas, Minas Gerais, Mato Grosso, Bahia, Acre e Maranhão não ficavam atrás.  Todos aprontavam e recebiam vultosas injeções do Banco Central.  Os bancos estaduais não tinham de prestar contas a ninguém.  Sua gerência política fazia a farra com os recursos, o Banco Central imprimia o dinheiro para cobrir a farra e o resto da população sofria as consequências da libertinagem.
Toda esta depravação, felizmente, foi interrompida durante a segunda metade da década de 1990.  Sem esta medida, dificilmente a inflação de preços cairia para menos de um dígito.
Por que o Plano Real acabou
As coisas vinham aparentemente bem até o segundo semestre de 1998, quando começaram a degringolar.  E no dia 13 de janeiro de 1999, o Plano Real, ao menos como havia sido originalmente concebido, acabou.
Por quê?
O gráfico a seguir mostra a variação das reservas internacionais e a variação do M1, de julho de 1994 a janeiro de 1999.
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Gráfico 10: reservas internacionais (linha azul, eixo da direita) vs. M1 (linha vermelha, eixo da esquerda)
Observe que, enquanto as reservas internacionais (linha azul) se mantiveram acima do M1 (linha vermelha), a situação se manteve relativamente tranquila. 
Já no segundo semestre de 1997, as reservas caíram US$10 bilhões (de US$62,5 para US$52,5 bilhões) em decorrência da crise asiática.  Consequentemente, o Banco Central deu uma pancada nos juros, elevando-os de 18,75% para 46%, como mostrado no gráfico 8.  Isso não apenas estancou a fuga de capitais, como ainda foi eficaz em atrair um volume ainda maior de capital estrangeiro.  Em abril de 1998, o país atingiria um volume até então recorde de reservas internacionais: US$74,656 bilhões, com um M1 na casa dos R$ 42 bilhões.  O câmbio, como mostra o gráfico 7, estava por volta de R$ 1,13.  Ou seja, mesmo se todo o M1 fosse convertido em dólares, ainda sobraria uma enormidade de reservas internacionais.  Logo, o cenário parecia tranquilo.
Até que no dia 17 de agosto de 1998, a coisa voltou a degringolar.  A Rússia entrou em crise financeira, e o governo russo anunciou uma forte desvalorização do rublo seguida de uma moratória.  Adicionalmente, a retomada dos confrontos na Chechênia e o início de uma nova guerra entre os separatistas e o governo russo pioraram ainda mais o humor dos investidores estrangeiros, que ainda estavam abalados pela crise asiática.  Houve uma maciça fuga para o dólar.
Em julho, as reservas internacionais do Brasil estavam em US$70,2 bilhões.  Em novembro, elas já haviam despencado para US$41,2 bilhões.  E no início de janeiro de 1999, continuaram caindo para US$36 bilhões.  Simultaneamente, o M1 havia crescido de R$42 bilhões para R$49 bilhões. 
Por que as reservas internacionais despencaram assim tão maciçamente?  Porque o Banco Central queria impedir de qualquer maneira a inevitável apreciação do dólar, ainda que ela fosse apenas momentânea.  A explicação é a seguinte:
A crise asiática no segundo semestre de 1997 havia gerado fortes desvalorizações no baht tailandês, no novo dólar taiwanês, na rúpia indonésia, no ringgit malaio, no won sul-coreano, no peso filipino e no dólar cingapuriano.  O dólar de Hong Kong, que opera sob um Currency Board, conseguiu manter sua taxa de câmbio intacta.
Com a crise russa, um ano depois, Hong Kong voltou a ser atacada por especuladores.  As autoridades monetárias do país venderam, em duas semanas, US$15 bilhões de suas reservas de US$96,5 bilhões.  A âncora cambial se manteve.  Com isso, o Brasil se tornou a bola da vez.  Especuladores e investidores desconfiavam que o Banco Central não fosse capaz de manter sua política de venda de dólares a fim de manter o câmbio relativamente inalterado (na Ásia, apenas Hong Kong havia obtido sucesso).  O crescente endividamento do governo prenunciava calotes.  Temerosos quanto a este calote e quanto a uma iminente desvalorização do real, investidores estrangeiros começaram a tirar seus dólares do Brasil.  Paralelamente, os especuladores também atacaram.
Durante todo este período de grande demanda por dólares, houve obviamente uma forte tendência de valorização da moeda americana, algo que, deixada à lei da oferta e da demanda, poderia mandar o câmbio para valores "indesejados" pelo governo.  Ato contínuo, para evitar esta desvalorização do real, o Banco Central vendeu maciçamente os dólares de suas reservas internacionais, justamente para impedir essa valorização da moeda americana.  US$34 bilhões foram queimados apenas para evitar que o câmbio se alterasse mais acentuadamente (algo nada bom às vésperas de uma eleição presidencial).  Daí a redução de US$70,2 bilhões para US$36 bilhões de dólares nas reservas internacionais em menos de seis meses.  E o gráfico 7 mostra que o Banco Central obteve êxito: até o final de 1998, a trajetória de valorização do dólar se manteve exatamente dentro da tendência histórica.
Porém, tal política obviamente era insustentável.  Chegaria um momento em que as reservas internacionais estariam em um ponto crítico.  Se a tendência se mantivesse, elas poderiam ser totalmente aniquiladas.  Por outro lado, caso o BACEN nada tivesse feito, o dólar realmente se valorizaria acentuadamente.  De novo, em época eleição presidencial, isto não seria tolerável.
Até que, no dia 13 de janeiro de 1999, com as reservas na metade de onde estavam em abril de 1998, o Banco Central simplesmente desistiu de vender dólares para segurar o câmbio.  Simplesmente deixou que ele flutuasse. 
Veja o completo histórico cambial do real.
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Gráfico 11: taxa de câmbio diária, de 1º de julho de 1994 a 29 de junho de 2012
A segunda fase do real
O Plano Real original, portanto, acabou no dia 13 de janeiro de 1999.  Dali em diante, foi adotado o famoso tripé macroeconômico que conhecemos: câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário.  Nenhum destes conceitos existia no Plano Real.
Ao menos em termos de inflação de preços, é muito difícil dizer que o atual arranjo, no qual o Banco Central tem total liberdade para imprimir dinheiro, seja superior ao arranjo anterior, no qual, embora também houvesse liberdade para se imprimir dinheiro, o BACEN ao menos tinha de se preocupar com as reservas internacionais e com a taxa de câmbio.
Veja a evolução da inflação de preços acumulada em 12 meses.  Ao passo que havia uma nítida tendência de queda durante a primeira fase do real, a coisa desandou bastante na segunda fase.
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Gráfico 12: IPCA acumulado em 12 meses, de janeiro de 1996 a maio de 2012
Durante o Plano Real, a menor taxa de inflação de preços obtida foi de 1,65%.  Na segunda fase do real, foi de 3%.
Adicionalmente, o atual arranjo monetário é mais propício à formação de bolhas e ciclos econômicos, justamente pela maior liberdade do Banco Central em imprimir dinheiro e por ele poder manipular os juros sem, ao menos em teoria, ter de levar em conta qual será o efeito na taxa de câmbio.
O que poderia ter sido feito
O processo de transição para o real, com a implementação da URV, foi muito bem feito.  Somente o fato de não ter havido congelamentos, confiscos e tabelamentos já torna o Plano Real merecedor de grandes elogios.
No entanto, o inevitável desejo de se criar uma nova moeda própria subtrai muito do brilhantismo do plano.  Se, no dia 30 de junho de 1994, todas as cédulas de Cruzeiro Real, bem como todos os depósitos em conta-corrente, fossem simplesmente convertidos em dólar (e havia dólares de sobra para isso, como ilustrado no gráfico 10), de modo que a moeda americana se tornasse a moeda corrente do Brasil, a situação teria sido bastante diferente.
Para começar, não teria havido maiores confusões na precificação de bens, serviços e salários, pois os próprios valores destes nos EUA já nos serviriam de base.  Adicionalmente, não haveria motivos para reclamações sobre taxas de câmbio sobrevalorizadas.  Indústrias que quisessem exportar mais teriam apenas de reduzir seus preços.  Não haveria alternativas artificiais.  Não haveria como o governo selecionar vencedores e perdedores.  Não haveria como o setor exportador fazer lobby para manipulações na taxa de câmbio.
Do ponto de vista da inflação de preços, também certamente estaríamos, até hoje, em melhor situação.  A oferta monetária no Brasil — isto é, a oferta de dólares — iria variar de acordo com a demanda dos brasileiros por moeda.  Não haveria uma política monetária doméstica: a oferta de dólares iria variar automaticamente de acordo com as variações no balanço de pagamentos (transações correntes mais conta capital e financeira).  Se houvesse um aumento na demanda por dólares, isto faria com que empresas e famílias gastassem menos, o que reduziria a demanda por bens e serviços não monetários.  Seus preços inevitavelmente cairiam, o que tornariam suas exportações mais atraentes no mercado internacional.  Este aumento nas exportações geraria um superávit no balanço de pagamentos, trazendo mais dólares para o Brasil.  Este aumento na oferta monetária faria com que os preços voltassem a subir, restaurando o equilíbrio inicial no balanço de pagamentos.  E se houvesse uma redução na demanda por dólares, de modo que os brasileiros aumentassem seus gastos, os preços subiriam, as importações ficariam mais atraentes, dólares seriam enviados para fora, isto aumentaria a demanda por dólares e reduziria os gastos dos brasileiros, os preços voltariam a cair e o equilíbrio de antes seria restaurado.  É justamente assim que uma economia funciona também sob um padrão-ouro.
Adicionalmente, houvéssemos nós adotado o dólar, que é a moeda internacional de troca, certamente teríamos atraído muito mais investimentos estrangeiros, os quais não precisariam se preocupar com desvalorizações cambiais.  Consequentemente, os investidores não teriam de planejar fugas repentinas.  Ataques especulativos como os de 1997 e 1998 não teriam ocorrido. 
Outro fator importante é a taxa de juros: operando diretamente com dólares — e não com uma moeda dependente do dólar —, não haveria necessidade de se elevar artificialmente os juros apenas para se manter uma elevada reserva de dólares.  Sem estes juros artificialmente elevados — que restringem os investimentos —, a economia poderia ter se desenvolvido muito mais.
Os gastos do governo também seriam bem mais contidos.  Sem o poder de imprimir dinheiro para financiar seus gastos, o governo brasileiro só poderia se financiar via impostos e via empréstimos.  O primeiro método é impopular, e possui um limite natural de crescimento.  E caso recorresse majoritariamente ao segundo método, os juros se tornariam inviáveis, pois o governo simplesmente não teria como ficar pegando empréstimos ad eternum da população.  Tal esquema de endividamento contínuo só funciona bem quando o governo detém a impressora de dinheiro, pois assim ele pode imprimir dinheiro não apenas para pagar parte do serviço de sua dívida, como também para manipular os juros da sua própria dívida.  Sem essa impressora, o governo é forçado a se manter estritamente dentro de um orçamento.  Com gastos governamentais contidos, a expansão do estado é restringida.  A liberdade da população aumenta.
Sim, hoje sabemos que o dólar não mais é o que era na década de 1990.  Porém, naquela época, só havia esta opção.  Ademais, a adoção do dólar não implicaria a obrigatoriedade do seu uso; moedas paralelas deveriam também ser liberadas, sejam elas estatais (como euro, iene, franco suíço, iuane) ou privadas (que poderiam ser emitidas tendo como lastro metais preciosos, por exemplo).  A conversão para outra moeda qualquer (tanto de outros países quanto privada) ou para um padrão-ouro seria muito mais fácil neste ambiente.  O exemplo do Panamá, que utiliza o dólar como moeda corrente, que não possui Banco Central, e que por isso é o único país da América Latina que nunca passou por uma crise financeira, é uma boa mostra prática desta teoria.
Portanto, a criação do real, embora bem executada, foi uma pirotecnia desnecessária.  No final, foi apenas um estratagema que permitiu ao estado manter — agora sem o descontentamento popular gerado pela hiperinflação — sua principal fonte de financiamento, aquela instituição que garante a ininterrupta expansão do seu tamanho e do seu poder: o Banco Central.
Perdemos, em 1994, uma ótima chance de termos nos tornado muito mais livres.

Leandro Roque é o editor e tradutor do site do Instituto Ludwig von Mises Brasil.