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segunda-feira, 2 de junho de 2014

Nostalgia monetaria: quando o dinheiro valia alguma coisa

Antigamente, muito antigamente, o dinheiro valia alguma coisa, depois passou a não valer nada...
Explico, mas primeiro vejam esta foto que fiz no Museu de Portland, Maine:

Atenção, a nota é falsa, mas verdadeira, ou seja, ela foi pintada por um artista para imitar uma verdadeira nota falsa, ou seja, uma contrafação de uma nota verdadeira de cinco dólares.
Para fazer a sua gozação, o artista aumentou o valor para dez dólares, o que faz dela uma nota falsa verdadeira, não sei se me fiz entender.
Em todo caso, não era disso que eu queria falar.
Leiam bem o que está escrito de cima abaixo; eu traduzo para facilitar:

Certificado de depósito [ou seja, não é uma nota de dinheiro, mas apenas um certificado de depósito]
Isto certifica que
foi depositado junto ao [parece que é sério, ou seja, garantem que está depositado]
Tesoureiro dos Estados Unidos
sediado em Washington, D.C.
pagável em seu escritório ao portador sob demanda [ou seja, quem se apresentar leva o que vale]
DEZ
dólares de prata [isso foi antes que os EUA aderissem ao padrão ouro, em 1895, se não estou enganado]
Série de 1880

Retomo: antes que fosse criado o Federal Reserve, em 1913, cada nota emitida por um banco autorizado deveria ter como correspondência junto ao Tesouro o equivalente em prata (muito comum nos EUA, antes da corrida ao ouro) ou em ouro. Mesmo depois da criação do Federal Reserve (que correspondeu mais ou menos à união monetária que a Europa fez entre 1999 e 2001, com a unificações dos diversos dólares em circulação naquele imenso país, alguns valendo mais do que outros...), o dinheiro emitido era, em princípio, lastreado em ouro. Digo em princípio, pois em matéria de governo, vocês sabem como são as coisas: eles dizem que fazem, mas não fazem, e acabam enganando todo mundo.
O fato é que Franklin Delano Roosevelt, em 1933, acabou com a festa, não apenas deixando de garantir a moeda lastreada em ouro, mas obrigando todos os americanos a ceder o ouro que detivessem ao governo, que passou a deter o monopólio das reservas metálicas.
Ainda assim, teoricamente, os EUA deveriam ter tanto ouro quantos dólares em circulação, o que que prometeram fazer em 1944, em Bretton Woods, onde estive neste domingo 1 de Junho de 2014 (setenta anos depois, quase, depois da famosa conferência que criou o padrão ouro-dólar, depois da derrocada completa do padrão ouro).
Bem, a festa acabou novamente em 1971.
Desde então, é cada um por si, e a anarquia monetária para todos.
Os governos emitem o que querem. Eles fingem que garantem o dinheiro emitido (não é verdade sequer que o façam) e nós fingimos que acreditamos.
Na verdade, não existe mais garantia nenhuma, e os governos produzem inflação o tempo todo e mantém esse controle monopolista sobre a emissão de dinheiro, um abuso inacreditável.
Bem, pelo menos vocês ficaram com a imagem de um dólar de antigamente, mesmo sendo um falso verdadeiro.
Paulo Roberto de Almeida

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