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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Vacinação pode ser pontapé para conter ataques à liberdade - Paulo Gontijo (Estadão)

 Vacinação pode ser pontapé para conter ataques à liberdade

Além do coronavírus, precisamos vencer o vírus do autoritarismo, voltar a tomar as ruas

Paulo Gontijo, presidente do Livres

Estadão | 1/02/2021, 3h

O início da vacinação é o primeiro passo para o País sair da pior crise enfrentada por esta geração. Em momentos de grandes dificuldades, nossa espécie anseia por grandes líderes apontando caminhos de superação. Infelizmente, no Brasil, nós nos deparamos hoje é como gigantismo da estupidez guiando a desordem e provocando instabilidades.

Não há ação técnica coordenada entre União e Estados. Onde precisamos de um governo para preservar a vida dos brasileiros, há apenas um comitê eleitoral. No lugar de distribuir vacinas, distribuem-se palavrões em churrascarias e cenas grotescas lambuzadas de leite condensado. O preço é alto e permanecerá sendo pago em largas prestações.

Após meses de negacionismo, Jair Bolsonaro ensaiou falar o óbvio: a vacina é essencial para a retomada econômica. Mas antes que sentíssemos qualquer alívio, o presidente retomou a sua narrativa insana, defendendo a ideia de que basta ao povo coragem para voltar à normalidade e enfrentar o vírus que já vitimou mais de 220 mil brasileiros.

Há, porém, algo pior do que seus discursos irresponsáveis: o boicote à vacinação. Fruto de uma combinação entre aloprados ideológicos, generais incompetentes e a pura omissão, seja na diplomacia ou na falta de implantação de um sistema de gestão do programa de imunização. E assim seguimos patinando, com consequências graves para a vida de todos os brasileiros e também para a economia.

As piores repercussões humanitárias ainda estão a caminho. Há risco de reedições da catástrofe de Manaus. Segundo projeções do economista Daniel Duque, com o fim do auxílio emergencial e a segunda onda da doença a extrema pobreza pode atingir até 20 milhões de brasileiros e a pobreza, que antes da pandemia era a condição de menos de 25% da população, pode chegar a mais de 30%. Quando aplicadas no ano passado, políticas de transferência de renda foram consenso. Agora voltam ao centro das atenções. Interrompido sem uma transição minimamente estruturada, o auxílio emergencial acabou significando um custo fiscal muito maior em razão da desorganização, da falta de planejamento e do caos político do governo Bolsonaro.

Criar uma ampla rede de proteção com transferências diretas para os mais pobres e vulneráveis é uma política herdeira do pensamento de liberais como Thomas Paine, Stuart Mill, Friedrich Hayek e Milton Friedman. Indiscutível do ponto de vista social, essa necessidade ilumina um problema crônico e estrutural do Estado brasileiro: apesar de consumir 40% da riqueza nacional todos os anos com um orçamento trilionário, nosso poder público, engessado em despesas obrigatórias, não foi capaz de construir uma proteção minimamente robusta para os mais vulneráveis. Mudar essa realidade deveria ser o centro das preocupações políticas.

Neste momento, cabe às vozes liberais o cuidado com os mais frágeis no presente, sem lhes sacrificar o futuro. Nosso esforço de guerra contra a covid-19 não pode perder de vista o pós-guerra. A reconstrução da economia e do mundo que herdaremos será mais ágil, ampla e inclusiva na medida em que tivermos a capacidade de implementar políticas públicas que sejam fruto da urgência, mas não se contaminem pelo desespero. Não apenas é possível, como necessário, aliar sensibilidade social à responsabilidade fiscal, a reformas que aumentem a eficiência do Estado brasileiro, à proposta da Lei de Responsabilidade Social – elaborada pelo Centro de Debate de Políticas Públicas após debate surgido no movimento Livres –, que remaneja programas sociais já existentes em busca de mais efetividade.

Em direção oposta a esse esforço, porém, o que assistimos é a proposições para ampliar poderes de forma abusiva, diminuir a transparência ou simplesmente promover líderes do Executivo. São exemplos o alargamento de prazos das medidas provisórias e da Lei de Acesso à Informação, a injustificável menção a decreto de estado de defesa pelo procurador-geral da República e a ameaça aberta de insurreição antidemocrática em 2022 pelo próprio presidente, inspirado na invasão dos trumpistas ao Capitólio. Com isso, antes de avançar, é preciso assegurar que não vamos retroceder.

O alerta liberal contra excessos do poder estatal está mais pertinente do que nunca. Não à toa, nós, do Livres, ingressamos com ação civil pública para convocar Jair Bolsonaro a apresentar em juízo as provas que ele reiteradamente alega possuir sobre a suposta fraude eleitoral em 2018. Não há espaço para omissão. A credibilidade do sistema eleitoral é pilar da legitimidade da democracia liberal. Utilizar o prestígio da Presidência da República para minar as bases da democracia é um atentado à Constituição. Em meio a uma pandemia, faltam até palavras para classificar. Além do coronavírus, precisamos vencer o vírus do autoritarismo. Em ambos os casos, a vacina será o passaporte para que possamos voltar a sair de nossa casa, tomar as ruas e desfrutar, juntos, o prazer da liberdade. E, sobretudo, encarar a responsabilidade de defendê-la.

https://opiniao.estadao.com.br/noticias/espaco-aberto,vacinacao-pode-ser-pontape-para-conter-ataques-a-liberdade,70003600643

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Fim dos “supersalários” deve unir Congresso, terceiro setor e sociedade civil - InfoMoney

 Fim dos “supersalários” deve unir Congresso, terceiro setor e sociedade civil

Em tempos de pandemia, de retração na economia e da necessidade de controle dos gastos governamentais, nunca foi tão urgente cortar privilégios

InfoMoney | 14/12/2020, 10h45

O teto que estabelece o máximo que um servidor público pode ganhar no Brasil voltou a ser assunto nas últimas semanas por conta da adesão que esta pauta está ganhando no Congresso Nacional. Hoje, nenhum funcionário público pode ganhar mais do que o teto previsto na Constituição, no valor de aproximadamente R$ 39,2 mil. No entanto, o valor é ultrapassado por benefícios, auxílios e indenizações fora da conta e continuam onerando os cofres públicos com supersalários.

Em tempos de pandemia, de retração na economia e da necessidade de controle dos gastos governamentais, nunca foi tão urgente cortar privilégios enquanto o país sofre com mais de 13 milhões de brasileiros sem emprego.

Esta realidade motivou o CLP e o movimento #UnidosPeloBrasil a lançarem um abaixo-assinado pelo fim dos supersalários no funcionalismo público. A petição conta com mais de 250 mil assinaturas e foi entregue a pelo menos dez parlamentares na última quarta-feira (2), entre eles, o presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Serviço Público, o deputado federal Israel Batista (PV-DF); e o presidente da Frente Parlamentar Mista da Reforma Administrativa, o deputado federal Tiago Mitraud (Novo-MG).

O objetivo da entrega das assinaturas aos parlamentares é cobrar que a Câmara dos Deputados vote e aprove o Projeto de Lei 6.726/2016, de autoria do deputado federal Rubens Bueno (Cidadania-PR), que visa o fim das remunerações turbinadas que furam o teto constitucional. Este projeto foi proposto em 2016 e há anos está parado na casa.

É importante dizer que essa elite do funcionalismo público não representa a maioria dos funcionários públicos, que recebem salários modestos. Segundo a PNAD Contínua, cerca de 0,23% dos servidores estatutários têm rendimentos efetivos superiores ao teto do funcionalismo público geral (R$ 39.293 mensais), com um adicional médio de rendimento mensal de cerca de R$ 8.500.

De acordo com um levantamento da Inteligência Técnica do CLP, a massa de rendimentos acima do teto federal chega a R$ 2,6 bilhões por ano. Tal número seria capaz de construir 15 fábricas da nova vacina CoronaVac, estimada em R$ 160 milhões pelo Instituto Butantan. Cada unidade vai ter a capacidade de produção de 100 milhões de doses por ano.

Outro estudo realizado pelo partido Novo concluiu que os supersalários estão concentrados na magistratura. Nesta carreira, 71% da folha de vencimento estão acima do teto, contra 17% na advocacia pública, 7% no ciclo de gestão e 6% na Receita Federal e na diplomacia. Ainda segundo levantamento, a média salarial de juízes e desembargadores estaduais chega a R$ 48.666.

Ainda assim, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu manter no início de dezembro, por 9 votos a 1, uma decisão que igualou o teto de remuneração de juízes federais e estaduais que já vigorava no país desde 2007 baseada em uma liminar, com validade provisória.

A aprovação do PL 6726 trará impactos positivos para a população mais vulnerável do país, além de ser mais um marco da postura republicana do Congresso Nacional.  Mais do que isso, ele pode representar o primeiro passo para a reforma Administrativa, além de incentivar estados e municípios a seguirem o mesmo caminho. O projeto já conta com a adesão de diversas entidades e organizações, como o Ranking dos Políticos e os movimentos Livres e Acredito.

Pautar agendas responsáveis deve ser prioridade da equipe econômica do governo e do Congresso nesses últimos dias de 2020. Ao mesmo tempo, o CLP vai continuar buscando engajamento da sociedade civil para avançar com projetos que retomem o crescimento econômico do país com objetivo de gerar emprego, renda e impacto social para os brasileiros.

https://www.infomoney.com.br/colunistas/gestao-publica-em-pauta/fim-dos-supersalarios-deve-unir-congresso-terceiro-setor-e-sociedade-civil/


domingo, 11 de outubro de 2020

Roberto Campos: uma frase infeliz e os liberais brasileiros - Paulo Roberto de Almeida

Roberto Campos: uma frase infeliz e os liberais brasileiros 


 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

[Objetivocomentário sobre uma frasefinalidadeesclarecer pensamento de Roberto Campos]

 


No dia em que se comemoravam os 19 anos do falecimento do diplomata e economista Roberto Campos, o site do Livres publicou, e depois retirou, debaixo de críticas, uma frase sumamente infeliz do grande estadista brasileiro falecido em 2001, depois de uma vida profícua a serviço do Brasil, como diplomata, como economista, como ministro e como parlamentar, tendo deixado uma imensa obra absolutamente incontornável para quem precisa entender o Brasil da segunda metade do século XX. 

A frase, uma das muitas frases provocadoras com que ele enfeitava seus artigos semanais nos grandes jornais brasileiros, foi esta aqui: “Há três saídas no Brasil: o aeroporto do Galeão, Cumbica e o liberalismo”. Abaixo do nome, o Livres esclareceu: “Economista e diplomata liberal”. Nem a frase é representativa do personagem, nem a caracterização corresponde inteiramente à verdade, ou melhor, não pode ser usada para identificar toda a trajetória da vida, da obra, do pensamento do grande homem de Estado, nascido em lar humilde e que ascendeu na elite do pensamento e da governança do Brasil graças a seu próprio empenho nos estudos e nas atividades diplomáticas e como grande tecnocrata do Estado brasileiro, durante toda a fase de desenvolvimentismo (e de crises econômicas e políticas) da segunda metade do século XX. 

Mas, as reações dos “liberais” que, aparentemente, determinaram a retirada dessa postagem do site do Livres denotam uma incompreensão quanto às realidades de cada um dos momentos turbulentos da vida brasileira, quando políticos eleitos, burocratas e servidores públicos não eleitos, intelectuais independentes ou a serviço de alguma das correntes políticas em que se divide normalmente o eleitorado e a opinião pública, são levados a sustentar, apoiar e defender, ou a atacar, denegrir e até a derrubar (tarefa dos militares) os sucessivos governos que ocuparam o Estado nos últimos 70 anos de vida política. 

Os presidentes que foram eleitos e que passaram o poder a seus sucessores sob as mesmas regras políticas e eleitorais são extremamente raros, menos do que os dedos de uma única mão. Nesse longo período, servidores públicos estiveram sob o comando de dirigentes e se submeteram a políticas que foram ortodoxas, heterodoxas, liberais, intervencionistas, dirigistas, monetaristas, desenvolvimentistas, estabilizadoras, inflacionistas, alinhadas ao “Ocidente”, neutralistas (ou praticando diplomacias independentes), esquerdistas, golpistas, e toda sorte de combinações e misturas entre todas essas tendências políticas e econômicas, juntas, separadas e confundidas, não cabendo agora separar estritamente cada uma em função dos sucessivos mandatos eleitorais (vários não concluídos, por suicídio, golpe, impeachment, morte, golpe dentro do golpe ou qualquer outro evento fortuito ou fabricado). 

O que deveriam fazer os servidores públicos em face de todas essas turbulências, instabilidades e fatalidades de um sistema político-partidário tendencialmente fragmentado e esquizofrênico? Demitir-se a cada vez? Evidentemente que não: burocratas e burocracias são como as baratas, resistem até a ataques nucleares, e conseguem sobreviver às mais virulentas “surpresas” que possam surgir a partir do próprio sistema político ou, até frequentemente durante a maior parte do século XX, a partir das intervenções dos militares (supostamente, mas equivocadamente, o “poder moderador” da República, depois do Imperador sob a monarquia do século XIX). Quem não consegue compreender essas realidades da história política e econômica brasileira condena-se a repetir banalidades, ou ficar com generalidades de conceitos abstratos, como essas dicotomias alimentadas por militâncias políticas. 

Quais são essas dicotomias, frutos de maniqueísmos ideológicos mais frequentes nos grupúsculos políticos do que nas grandes agremiações pragmáticas? São as que geralmente dividem esquerda e direita a partir de absolutos conceituais, sem grande significado para a maioria dos cidadãos que se situam no meio do espectro político, da centro-direita à centro-esquerda, com alguma extensão para liberais e conservadores no primeiro bloco e para socialistas no segundo. Salvo períodos muito delimitados da nossa história, raramente o Brasil descambou para algum extremo do leque político: o Estado Novo (uma espécie de reação à tentativa de tomada violenta do poder pelos comunistas), os anos de chumbo da ditadura militar e poucos outros episódios extremamente raros nessa longa trajetória.

Bem considerado, desde a República de 1946, só tivemos um governo extremista, de fato e de direito: a Junta Militar de 1969 e os anos de vigência do AI-5. Nem o golpe de 1964 – que foi o resultado de um profunda crise político-militar –, nem o governo “esquerdista” dos anos lulopetistas e menos ainda o atual governo de extrema-direita do inepto capitão fracassado na carreira militar, e que se converteu em político extremamente medíocre, podem ser chamados de extremistas, uma vez que apoiados em diferentes forças políticas, dotados de orientações econômicas combinando diversas orientações macroeconômicas e setoriais, e combinando, portanto, os impulsos materiais – agrários, industrias, financeiros, etc. – em que se divide uma sociedade urbanizada e complexa como a brasileira. Cabe compreender essas realidades quando se contempla uma personalidade igualmente complexa como a de Campos.

Em primeiro lugar, ele não era um diplomata liberal, ao início de sua carreira, e só pode ser identificado com essa corrente já na etapa madura de sua vida, depois de ter exercido diferentes cargos a serviço do Estado desenvolvimentista que foi o que se exerceu no Brasil desde o imediato pós-guerra e que, aliás, continuou assim durante toda duração do regime militar, e mais ainda na redemocratização, com as turbulências econômicas e políticas que se conhecem nas cinco décadas em que ele foi ativo na diplomacia, na economia e na política brasileira, com uma contribuição inigualável para a história do pensamento e da ação prática em política econômica em política externa em nosso país. A despeito de ter elaborado uma dissertação de mestrado – considerada nada menos que equivalente a um doutoramento por ninguém menos do que Joseph Schumpeter – razoavelmente situada no mainstream do pensamento econômico de sua época (a segunda metade dos anos 1940, ainda não dominada inteiramente pelo keynesianismo triunfante dos anos 1950 e 60), Roberto Campos poderia ser considerado um típico burocrata da época do New Deal e da reconstrução, adepto da ação planejadora do Estado e mesmo de sua intervenção ativa nos assuntos econômicos privados, em face da imensa destruição dos anos 1930 e da Segunda Guerra. 

Oswaldo Aranha, que chefiou a Delegação do Brasil junto à ONU naqueles anos, chegou a considera-lo quase um “comunista”, em função da ênfase de Campos no papel do Estado, nas áreas do planejamento econômico para sustentar o crescimento. Depois ele participou de um exercício de “keynesianismo aplicado” – que foi a Comissão Econômica Mista Brasil-Estados Unidos – a despeito de que os governos respectivos dos dois países fossem identificados teoricamente como de direita ou de centro direita (democratas e republicanos nos EUA, de Truman a Eisenhower, e de direita ou nacionalista no Brasil, de Dutra a Vargas). O resultado da Comissão foi a criação do BNDE, a recomendação do estabelecimento de um Banco Central, e fundação da Petrobras e da Eletrobras, entre outras medidas intervencionistas. Pouco depois, Eugênio Gudin, breve ministro da Fazenda do governo Café Filho (1954-55), convidou-o para substituí-lo como professor de Economia Monetária na então Universidade do Distrito Federal, mesmo considerando-o “estatizante”, como demonstrado por sua participação no Plano de Metas, do candidato JK. 

Ao opor-se ao aventureirismo econômico do presidente JK, demitindo-se da presidência do BNDE por considerar que a política econômica confrontacionista do presidente, em relação às medidas de estabilização econômica preconizadas pelo FMI – o Brasil não conseguia honrar seus compromissos externos e começava a recrudescer no emissionismo inflacionário –, Roberto Campos passou a ser conhecido como Bob Fields, supostamente porque também preconizava, como Gudin, a aceitação do capital estrangeiro e dos investimentos diretos externos, em geral, como complemento indispensável ao processo de industrialização do Brasil. Tanto JK quanto Roberto Campos passaram a ser considerados, pela esquerda, como pertencentes ao grupo dos “entreguistas”, que supostamente estariam sufocando a emergência de um “capitalismo nacional” no país. Ainda assim, depois de algum ostracismo no setor privado – ele já não era bem visto no próprio Itamaraty, devido ao mesmo “entreguismo” que horrorizava os “nacionalistas” de centro, de direita e de esquerda do Brasil –, ele foi escolhido pelo presidente Jânio Quadros para, com pouco mais de 40 anos, servir como embaixador em Washington, em virtude de seu extenso conhecimento de economia e por seu papel como negociador da dívida externa do Brasil. 

Esses anos cruciais da profunda crise econômica e política brasileira correspondem, provavelmente, à sua conversão teórica e ideológica ao liberalismo, a despeito de servir como representante de um governo nacionalista – o de João Goulart – junto a um outro governo, o de Kennedy, declaradamente keynesiano e reformista (partidário de reformas progressistas na América Latina: agrária, educacional, administrativa, política, etc.). A despeito de já se colocar como intimamente contrário às políticas de Goulart – que inclusive dificultavam seu trabalho em Washington, como a lei de remessa de lucros e a nacionalização de subsidiárias americanas no Brasil –, continuou sustentando o governo junto ao Executivo e ao Congresso dos EUA, até onde conseguiu. Num determinado momento, porém, resolveu solicitar sua dispensa do cargo: foi em meados de 1963, na ignorância completa do que se tramava entre os futuros “golpistas” militares e civis no Brasil. O Itamaraty, provavelmente a pedido do presidente Goulart delongou uma reposta, que só veio depois do assassinato, em novembro, do presidente americano, o que o obrigou a ficar um pouco mais no posto. 

Liberado, finalmente, do pesado encargo diplomático, empreendeu uma longa viagem, de janeiro a fevereiro de 1964, por diversos países asiáticos, entre os emergentes “tigres”, que ainda não conhecia. Só retornou ao Brasil em março, mas totalmente alheio aos preparativos do golpe, que foi em parte forçado por líderes civis e pela impetuosidade de um general sem maior expressão na “política militar”. Foi só depois da escolha do general Castelo Branco como presidente “provisório”, em 9 de abril de 1964, que foi convidado para ser ministro de Estado do Planejamento, encarregado, junto com o ministro da Fazenda Otávio Gouvêa de Bulhões, de empreender um ambicioso programa de estabilização e de reformas econômicas estruturais, que veio a ser o PAEG (Programa de Ação Econômica do Governo, de estabilização gradual, e não recessiva, como recomendava o FMI). A despeito de seu liberalismo já plenamente estabelecido como filosofia política e da relativa ortodoxia das políticas monetária e fiscal, o período de 1964 a 1967 corresponde ao mais profundo processo de modernização da economia brasileira, talvez até mais amplo do que foi o Plano Real, que foi basicamente um programa de estabilização e de desindexação.

Pode ter sido uma dessas ironias da História o fato de que dois economistas identificados com um ideário amplamente liberal, Bulhões e Campos, tenham sido os agentes involuntários de uma das mais profundas intervenções do Estado na vida econômica do país, embora com intenções reformistas racionalizantes (nos aspectos tributários, monetário, fiscal, de administração pública, de modernização agrária e indústria, na política comercial, etc.) e não necessariamente estatizantes. A estatização, de fato, começou depois, a partir de 1967, com o governo novamente desenvolvimentista de Costa e Silva e do ministro Delfim Netto, quando começa a febre de criação de estatais e o furor de novos empreendimentos estatais que levaram às crises inflacionárias, de endividamento e de balanço de pagamentos dos anos 1970 e 80. “Exilado” na embaixada em Londres desde o governo Geisel – a quem ele já se tinha oposto quando o general era presidente da Petrobras –, Campos se converte, finalmente, num publicista liberal, com seus artigos vitriólicos contra a política econômica aventureira de seus sucessores, baseada numa espécie de “pau na máquina” que levaria o Brasil à longa década perdida dos anos 1980 até meados da década subsequente.

Por duas vezes, na passagem para o último governo da ditadura, o de Figueiredo, em 1979, e na eleição de Collor, em 1989, Campos foi sabotado deliberadamente pelo próprio Itamaraty (e pelos “nacionalistas epidérmicos”) nas preferência de ambos presidentes para tê-lo como chanceler de seus respectivos governos. Campos já era um liberal declarado na área econômica e um opositor também aberto da política “terceiro-mundista” do Itamaraty, sobretudo no terreno da não-proliferação nuclear e do nacionalismo substitutivo, que sempre foi a ideologia da política externa, desde a era Vargas pelo menos. Ele nunca foi um apoiador da ditadura militar, sempre se pronunciou por um transição para um governo civil, e quando ministro votou contra a cassação dos direitos políticos de Juscelino Kubitschek, a quem se tinha oposto como um dirigente irresponsável na condução da política econômica. 

Seus artigos semanais, sempre provocantes, eram objeto de ativos comentários no parlamento – onde serviu como senador por Mato Grosso, sua terra natal, e duas vezes como deputado pelo Rio, onde morou desde que ingressou no Itamaraty, em 1938 – e nos meios políticos, econômicos e intelectuais do país, despertando tanto adesão irrestrita dos seus admiradores, quanto a oposição acerba dos seus detratores. Teve a sorte, sobre seu amigo Raymond Aron, de ter assistido à derrocada do socialismo e das economias estatizantes, ainda que no ocaso de sua vida, quando foi homenageado pelos amigos e premiado com o ingresso na Academia Brasileira de Letras. Considerar algumas frases soltas em seus artigos provocadores na imprensa, ou seus poucos anos como ministro reformista, e progressista, do regime militar, como critério avaliativo de sua obra e pensamento representa um extremo reducionismo e um simplismo indigno de sua obra como economista pragmático e como defensor das liberdades políticas e do regime democrático. 

O Livres e os “liberais” puros da academia precisariam ler todas as obras de Roberto Campos, desde a fase dirigista e planejadora dos anos 1950, passando pelo reformismo ativo dos anos 1960-70, até chegar no liberalismo explícito dos anos 1980-90, sem esquecer seu monumental livro de memórias, Lanterna na Popa (1994), que serve como uma monumental história econômica do Brasil no século XX, ademais de constituir um percurso pela política, pela economia e pela diplomacia mundiais. De minha parte já preenchi meu papel intelectual de “espectador engajado” da obra e do pensamento de Roberto Campos, desde minha postura marxista juvenil, passando pelo socialismo light dos anos 1980, até meu liberalismo meio anarquista dos anos maduros. Qual atitude devem os liberais manter em relação a Roberto Campos? Creio que a mesma que ele sempre manteve em todas as etapas de sua vida: uma grande tolerância compreensiva em relação às posturas muito rígidas dos seus companheiros de jornada na vida econômica e política, um ecletismo intelectual na absorção contínua de novos ensinamentos retirados do estudo e da experiência e, finalmente, um ceticismo sadio no tocante aos grandes projetos nacionais de reformas radicais da sociedade e do Estado.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3769, 11 de outubro de 2020

Autor, organizador e colaborador das obras: 

Paulo Roberto de Almeida (org.), O Homem que Pensou o Brasil: trajetória intelectual de Roberto Campos (Curitiba: Editora Appris, 2017); Paulo Roberto de Almeida, A Constituição Contra o Brasil: ensaios de Roberto Campos sobre a Constituinte e a Constituição de 1988 (São Paulo: LVM, 2018); três capítulos no livro: Ives Gandra da Silva Martins e Paulo Rabello de Castro (orgs.), Lanterna na Proa: Roberto Campos ano 100 (São Luís, MA: Resistência Cultural Editora, 2017).

 


segunda-feira, 25 de maio de 2020

O mundo pós-pandemia: debate no Livres - Ricupero, Paulo R. Almeida e Sandra Rios


Participei, neste começo de noite de segunda-feira, 25/05/2020, 19hs, de um debate com o embaixador Rubens Ricupero e a economista Sandra Rios, organizado e animado pelo jornalista Mano Ferreira, coordenador de imprensa do LIVRES, em torno desse tema. 

O debate completo, no YouTube, figura aqui: 
https://www.youtube.com/watch?v=wLGFUPWDAoY

Vejam aqui alguns destaques: “Eu desejaria um sistema para detectar pandemias como se detecta um incêndio numa floresta”, diz Rubens Ricupero em live do Livres
       E aqui: “Somos o homem doente da América Latina”, diz Paulo Roberto de Almeida
       

Eu havia preparado, como já tinha informado neste mesmo espaço, um texto de apoio a meus principais argumentos, tal como registrei abaixo: 

3670. “O mundo pós-pandemia: contextos políticos e tendências internacionais”, Brasília, 15 maio 2020, 13 p. Ensaio sobre os desenvolvimentos econômicos e políticos do mundo atual, para apoiar participação em debate online para o Livres, na companhia do embaixador Rubens Ricupero e da economista Sandra Rios, no dia 25/05, às 19hs. Disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/43123473/O_mundo_pos-pandemia_contextos_politicos_e_tendencias_internacionais_2020_); anunciado no blog Diplomatizzando (2/05/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/05/o-mundo-pos-pandemia-contextos.html); Apresentação inserida na plataforma do Livres (link: https://www.eusoulivres.org/publicacoes/mundo-pos-pandemia-contexto-politico-e-tendencias-internacionais/).

Depois eu elaborei um pequeno resumo desse paper, mas também acrescentei novos elementos para o debate, entre eles, referências à famosa reunião ministerial de 22/04/2020, e ao debate na Brazil Conference (28/04/2020), com a participação de ex-chanceleres, como registrei abaixo: 

3680. “O mundo pós-pandemia: resumo para o programa do Livres”, Brasília, 25 maio 2020, 6 p. Nota de resumo do trabalho n. 3670 (“O mundo pós-pandemia: contextos políticos e tendências internacionais”), para apresentação no programa. Disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/43153874/O_mundo_pos-pandemia_resumo_para_o_programa_do_Livres_2020_); anunciado no blog Diplomatizzando (2/05/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/05/o-mundo-pos-pandemia-resumo-para-o.html).

Esses novos documentos podem ser recuperados aqui: 

Reunião ministerial dos palavrões: 

Parte de política externa nesse documento:

Artigo sobre a Reconstrução da Política Externa, por ex-ministros:




Um dos temas mais debatidos foi o do multilateralismo, em vista do que permito-me indicar este artigo em torno do assunto, já antigo: 

O Brasil e a construção da ordem econômica internacional contemporânea
Brazil and the making of the modern global economic order

Contexto Internacional,  vol.26 no.1 Rio de Janeiro Jan./June 2004

http://dx.doi.org/10.1590/S0102-85292004000100001 


https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-85292004000100001&script=sci_arttext

O mundo pós-pandemia | Rubens Ricúpero, Paulo Roberto de Almeida e Sandra Rios


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INSCRITO
Qual o impacto da pandemia nas relações internacionais? Como a crise do Coronavírus vai afetar a relação entre Estados Unidos e China? Como as democracias liberais devem se relacionar com as autocracias? Os valores de liberdade individual estão em risco? A globalização e o livre mercado serão substituídos por isolacionismo e protecionismo? E o Brasil em meio a isso tudo? Vamos debater tudo isso neste #LivresAoVivo desta segunda-feira, com os ilustres convidados Rubens Ricupero, Paulo Roberto de Almeida e Sandra Rios. Quem são os convidados? Rubens Ricupero é um jurista, historiador e diplomata brasileiro com proeminente atividade de economista. Ricupero é presidente honorário do think tank Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial. Foi ministro da Fazenda de 30 de março a 6 de setembro de 1994, durante o período de implantação do Plano Real. Paulo Roberto de Almeida é Doutor em Ciências Sociais, Mestre em Planejamento Econômico e diplomata de carreira. Foi professor de Sociologia Política no Instituto Rio Branco e na Universidade de Brasília. Foi Diretor do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IPRI), afiliado à Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), do Ministério das Relações Exteriores. Sandra Rios é economista, diretora do CINDES e sócia da Ecostrat Consultores. Especialista em temas relacionados a negociações comerciais internacionais e a política de comércio exterior. Foi coordenadora da Unidade de Integração Internacional da Confederação Nacional da Indústria e pesquisadora do IPEA.

sábado, 23 de maio de 2020

A cloroquina da insensatez - Sergio Bivar (Livres)

A cloroquina da insensatez

Por:
 
LIVRES, 18/05/2020

Ernesto Araujo, ministro das Relações Exteriores, ao invés de fazer diplomacia, aproveitou seu tempo ocioso para estapear Slavoj Zizek, num texto entitulado ‘Chegou o Comunavírus’.
Zizek é um controverso pensador esloveno, mestre em inverter o senso comum, ao ponto de simultaneamente abraçar a esquerda e atacar o politicamente correto.
Em meio a pandemia, Zizek, no recém publicado livreto ‘Vírus’, diz que a ocasião é oportuna para o ressurgimento de idílicos sentimentos coletivistas. Afinal, como se percebe, estamos todos na mesma tempestade, mas em barcos diferentes.
Invocar a práxis comunista é fazer operações de resgate, acolher os mais desafortunados, é ultrapassar as fronteiras nacionais, é a união de todos contra um inimigo comum (ao invés do salve-se-quem-puder anarco-capitalista).
Mas, como toda fé exige seu dízimo, esse preço é pago com a exacerbação dos aparatos de controle social, ao modo neo-orweliano chinês. Sobre esse último ponto, como bem observa Araújo, Zizek revela-se ambiguamente omisso.
De fato, não se pode perder do horizonte que a pandemia vai, mas o Estado mutante ficará. Por outro lado, é incessibilidade volver-se, nesse instante, contra sentimentos que inspiram a solidariedade.
Araújo, em seu blog, Metapolítica Brasil, deita seu fígado contra Zizek. O ataque, com pitadas de histerismo, mostra o embaixador, um homem reprimido pelo pragmatismo que a diplomacia exige, tendo que despejar em Zizek a hostilidade que gostaria de manifestar contra a China.
O desespero tem suas causas. A pandemia é um dos poucos exemplos, assim como a causa ecológica, onde as soluções puramente liberais (no sentido clássico) parecem insuficientes: Quem pode ver-se contra uma OMS, ou SUS forte? Quem pode ver-se contra um mínimo de medidas restritivas coordenadas por um agente público centralizado de vigilância sanitária? Quem pode ver-se contra medidas econômicas contra-cíclicas e a suspensão momentânea da rigidez fiscal? Além do mais, tudo o que não queremos ver no momento são expressões do egoísmo.
Se nosso momento econômico, antes, permitia a reconstrução, agora voltamos a terra arrasada, e a arrogância terá seu preço.
O presidente eleito, que teve a oportunidade de unir o país, preferiu expandir a fissura de onde brotou sua candidatura, e fazer dessa caverna um poderoso bunker, a fim de acomodar sua crescente família.
Ao invés de encarnar a solução, agora acuado, a cada dia que passa, dobra sua aposta na divisão, assim como fez o PT.
O covid-19, por contraste, acabou revelando esse outro mal, a genese problemática de um governo, agora reduzido a puro ressentimento, em estado de choque e negação profunda, limitado a enxergar apenas seu próprio drama e cego para as mortes que avançam.
Contudo, o efeito placebo da patológica fé messiânica não atuará sem limites. O vírus do comunismo não pode ser combatido com a cloroquina da sociopatia. Como bem deve saber Zizek, os movimentos dialéticos exigem a internalização dos opostos, enquanto a foraclusão é mecanismo das psicoses.
A negação e a demência não são caminhos possíveis. Assim, tampouco, a liberdade restringida hoje não pode perpetuar-se, fazendo deste estado de emergência um eterno estado de exceção.
O custo de parar essa pandemia não pode ser a servidão eterna num Estado policialesco. Nossas únicas opções não podem estar entre a rendição aos mecanismos de controle social, desejáveis dos sistemas autoritários, e a sociopatia.

quinta-feira, 21 de maio de 2020

O mundo pós-pandemia: contextos políticos e tendências internacionais - debate Livres - Paulo Roberto de Almeida

Um dos textos que sempre preparo, e não leio, para os eventos em que sou convidado; texto de apoio para mais um debate organizado pelo jornalista Mano Ferreira, do Livres, na companhia do embaixador Rubens Ricupero e da economista Sandra Polonio Rios, em torno do tema-título: 

3670. “O mundo pós-pandemia: contextos políticos e tendências internacionais”, Brasília, 15 maio 2020, 13 p. 
Ensaio sobre os desenvolvimentos econômicos e políticos do mundo atual, para apoiar participação em debate online para o Livres, na companhia do embaixador Rubens Ricupero e da economista Sandra Rios, previsto para o dia 25/05, às 19hs. 
Disponível na plataforma Academia.edu; link:

O mundo pós-pandemia: contextos políticos e tendências internacionais
  
Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: notas para programa do Livres online; finalidade: divulgação pública]
  

Sumário: 
Adivinhos, oráculos e previsões
Mudanças e continuidades, com pandemias que vão e que voltam
Contextos nacionais e forças transnacionais
Globalização micro e macro: qual avança, qual recua?
Da Guerra Fria geopolítica a Guerra Fria econômica: quem perde, quem ganha?
Como será, então, o mundo pós-pandemia: muito diferente do atual?

Adivinhos, oráculos e previsões
A primeira observação que poderia ser feita em relação ao mundo pós-pandemia é, talvez, a de que, todos nós, palestrantes e audiência destes programas online, estaremos todos fartos destes programas online, e com razão. O que estamos assistindo, e participando, desde o início da quarentena, é a uma verdadeira inflação de programas como este, um grande dilúvio, de dimensões bíblicas, do qual talvez poucos poderão sobreviver como náufragos. Ou estaremos enfastiados, enjoados, com síndrome de rejeição destes programas online, ou então, ao contrário, teremos nos acostumado de tal forma, que dispensaremos, doravante, encontros presenciais, passagens, diárias, honorários, para fazer aqueles seminários de um dia, que na verdade nos tomavam três dias, entre a viagem de ida, a de volta e a necessária preparação para encontrar o que falar de minimamente inteligente nesses encontros físicos.
A segunda observação que eu gostaria de fazer, em toda sinceridade também, é a de que nós não sabemos, de verdade, como será o mundo pós-pandemia. Não somos como aqueles astrólogos que, todo início de ano, anunciam o seu lote de catástrofes, de mortes de pessoas famosas, terminando finalmente por dizer que, independentemente dessas pequenas ou grandes misérias, o ano que se inicia será certamente melhor do que aquele que acaba de se encerrar. (...)

Ler a íntegra neste link: