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segunda-feira, 26 de abril de 2021

Relacoes econômicas externas e inserção econômica internacional do Brasil na longa duração: 200 anos de história (2021) - Paulo Roberto de Almeida

 Aos interessados na minha palestra, podem acessar a íntegra aqui:  

Palestra "Relações econômicas externas e inserção econômica interna...O Centro de Estudos Globais da Universidade de Brasília promoveu em 26/04/2021 palestra proferida pelo Embaixador e Professor Paulo Roberto de Almeida, sob o...youtube.com



Relacoes econômicas externas e inserção econômica internacional do Brasil na longa duração: 200 anos de história (2021) - Paulo Roberto de Almeida

Apresentação em formato pdf:

https://www.academia.edu/47748934/3888_Relacoes_economicas_externas_e_insercao_economica_internacional_do_Brasil_na_longa_duracao_200_anos_de_historia_2021_

Palestra "Relações econômicas externas e inserção econômica internacional do Brasil"

Evento online 
26 de abril de 2021, 16h>18h 

Centro de Estudos Globais da Universidade de Brasília convida para a palestra a ser proferida pelo Embaixador e Professor Paulo Roberto de Almeida, sob o tema Relações Econômicas Externas e Inserção Econômica Internacional do Brasil: 200 anos de história

O evento foi transmitido por meio da Plataforma Sympla Streaming (Zoom) no dia 26/04/2021, a partir das 16:00h. 

Tópicos da Conferência:

  • Estruturas econômicas ao final do regime colonial e ao início da independência
  • A lenta construção de uma economia nacional, preservado características históricas
  • Novas tendências no alvorecer da República: projeto industrializador nacionalista
  • Emergência do Estado promotor nas crises do entre guerras: dirigismo tecnocrático
  • O grande debate Simonsen-Gudin em 1944-45: derrota da teoria, vitória da prática
  • A industrialização substitutiva como projeto do Estado nacional: protecionismo
  • A modernização introvertida do regime militar: uma potência voltada para si mesma
  • A tímida abertura internacional da redemocratização: reformas parciais e erráticas
  • O desenvolvimentismo como obsessão nacional da política econômica externa
  • Impasses, contradições de um país industrializado para dentro: ajustes insuficientes
  • Os grandes desafios da inserção global do Brasil: projeto não partilhado pelas elites
  • A economia global, parcialmente interdependente, do século XXI e o Brasil: perspectivas

 Paulo Roberto de Almeida é diplomata de carreira e senior research fellow do Centro de Estudos Globais. Dono de uma vastíssima obra que versa sobre história da política externa e da economia brasileira e história internacional, tem dezenas de trabalhos publicados no Brasil e no exterior. É professor de Economia Política no Programa de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) em Direito do Centro Universitário de Brasília (Uniceub).

Sobre o organizador

Centro de Estudos Globais - Universidade de Brasília

O Centro de Estudos Globais é um laboratório da Universidade de Brasília que reúne grupos de pesquisa avançada dedicados ao estudo, debate e investigação de excelência sobre os temas e questões das Relações Internacionais contemporâneas.

sábado, 10 de abril de 2021

Relações econômicas externas e inserção econômica internacional do Brasil na longa duração: 200 anos de história - Palestra no IRel-UnB - Paulo Roberto de Almeida

Relações econômicas externas e inserção econômica internacional do Brasil na longa duração: 200 anos de história

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

 Apresentação para exposição e debate no Centro de Estudos Globais do IRel-UnB (26/04/2021)

Sumário da apresentação

1. Estruturas econômicas ao final do regime colonial e ao início da independência

2. A lenta construção de uma economia nacional, preservando características históricas

3. Novas tendências no alvorecer da República: projeto industrializador nacionalista

4. Emergência do Estado promotor nas crises do entre guerras: dirigismo tecnocrático

5. O grande debate Simonsen-Gudin em 1944-45: derrota da teoria, vitória da prática

6. A industrialização substitutiva como projeto do Estado nacional: protecionismo

7. A modernização introvertida do regime militar: uma potência voltada para si mesma

8. A tímida abertura internacional da redemocratização: reformas parciais e erráticas

9. O desenvolvimentismo como obsessão nacional da política econômica externa

10. Impasses, contradições de um país industrializado para dentro: ajustes insuficientes

11. Os grandes desafios da inserção global do Brasil: projeto não partilhado pelas elites

12. A economia global, parcialmente interdependente, do século XXI e o Brasil: perspectivas

Bibliografia e referências

 

Aguardem...

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Relações econômicas internacionais do Brasil, 1945-2020 - Paulo Roberto de Almeida

 Relações econômicas internacionais do Brasil, 1945-2020  

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

 

Sumário: 

Introdução: o Brasil no sistema econômico multilateral do pós-guerra

A ordem econômica internacional do pós-guerra e a economia brasileira

O multilateralismo econômico do pós-guerra e o Brasil

Brasil: cronologia sumária do multilateralismo econômico, 1944-2019

Vetores das relações econômicas internacionais do Brasil, 1944-2020

 

 

Introdução: o Brasil no sistema econômico multilateral do pós-guerra

O presente texto examina mais detidamente a diplomacia econômica do Brasil na era contemporânea, com o objetivo de preparar o terceiro volume de minha trilogia em torno da formação da diplomacia econômica no Brasil, cujo primeiro volume, dedicado ao período monárquico, foi publicado em 3ra. edição em 2017, pela Fundação Alexandre de Gusmão (disponível em sua Biblioteca Digital: Volume Ilink: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=907; e Volume II, link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=908).

Esse primeiro volume partia do período colonial, quando ainda não existia o Brasil enquanto nação independente, e se estendia, mais especificamente, a partir de 1808, quando passamos a ter relações exteriores a partir do Brasil, prolongando-se até 1889, ou seja, até o final do Império. Mas esse primeiro volume também tem, ao seu final, um longo capítulo republicano, trazendo nossas relações econômicas internacionais até o final do século XX, ou até um pouco além, pois nesta 3ra edição estendi a informação factual até cobrir nosso ingresso oficial no Clube de Paris, como país credor, em outubro de 2016, bem como nossa demanda de adesão plena à OCDE, em junho de 2017 (ainda em curso). 

O segundo volume comporta certo trabalho de sistematização no que se refere à informação estatística serial, dadas as enormes rupturas econômicas ocorridas desde o deslanchar da Grande Guerra, em 1914, no decorrer das crises do entre guerras, sobretudo a partir de 1931, mais até do que em 1929, e depois até o final da Segunda Guerra Mundial, ou até praticamente 1948, quando são instituídas as organizações primaciais da ordem econômica mundial contemporânea, as duas irmãs de Bretton Woods e o Gatt, tornado órfão com o fracasso da OIC, a primeira organização dedicada ao comércio multilateral, criada em Havana, ao final da terceira grande conferência econômica do pós-guerra. O terceiro volume trará a história de Bretton Woods aos nossos dias, e é em torno desse período que formulo meus desenvolvimentos neste ensaio, mas o faço apenas com base em notas sintéticas, sem grande suporte factual ou documental.

 (...)


Ler a íntegra neste link: 

https://www.academia.edu/44814518/3571_Relacoes_economicas_internacionais_do_Brasil_1945_2020

terça-feira, 6 de outubro de 2020

Um segundo curso que tampouco foi dado : IHEAL-Sorbonne 2010 - Paulo Roberto de Almeida

Esta foi a segunda proposta de curso apresentada ao IHEAL em 2010. Tampouco foi retido, mas muito do que está no programa foi tratado em trabalhos anteriores ou subsequentes, inclusive em livros publicados desde então.

Paulo Roberto de Almeida

Institut de Hautes Études de l’Amérique Latine

IHEAL – Université de Paris 3 – Paris

Deuxième Semestre, Année académique 2011-2012

 

 

Candidat: Paulo Roberto de Almeida, Brésil

(www.pralmeida.org; xxx@xxx.com)

Deuxième semestre, débutant Février 2012

  

Proposition de Cours 2:

L’ordre international et le progrès de la nation:

Relations économiques internationales du Brésil pendant la période républicaine

 

1. Le Sujet 

Ce cours se propose de décrire et de discuter l’intégration du Brésil dans l’économie mondiale pendant la première phase de la vie républicaine, c’est-à-dire, entre 1889 (la fin de la monarchie et le début de la République) et 1945, qui correspond à la réorganisation du système économique mondial à partir des conférences de Bretton Woods. Les domaines couverts par cette investigation comprennent : (a) commerce : accords bilatéraux, négociations « multilatérales » sous la Société des Nations, les politiques commerciales, etc. ; (b) les flux de capitaux : emprunts et financements, investissements directs étrangers ; (c) déplacements de main-d’œuvre : immigration, colonisation, politiques de ressources humaines ; (d) transactions technologiques : surtout brevets ; (e) le cadre institutionnel de la diplomatie économique au Brésil : l’organisation diplomatique et les autres agences d’État, la présence internationale, et la promotion des intérêts nationaux et de l’État.

Les grands domaines d’analyse sont ceux déjà travaillés dans un ouvrage précédent de l’auteur : Formação da diplomacia econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império (2. ed.; São Paulo/Brasília: Senac/Funag, 2005. 676 p. [1. ed.: 2001]). Certains matériaux touchant au XXème siècle avaient été incorporés dans le livre : O Brasil e o multilateralismo econômico (Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1999).

 

2. Objectifs

L’intention serait celle de discuter comment le Brésil a réagit aux intenses transformations de l’économie mondiale au cours de la première moitié du XXème siècle, caractérisé par des dislocations importantes de pouvoir politique, économique et militaire, notamment suite à la Première Guerre Mondiale et dans les années 1930. 

Il n’existe pas, dans la littérature spécialisée, traitement unifié des sujets choisis, à part des livres d’histoire économique, mais qui couvrent des aspects généraux et rarement l’action diplomatique, ou alors des questions bien précises : le café, l’immigration, les capitaux étrangers. L’historiographie brésilienne ou étrangère sur la diplomatie économique est bien rare. Du côté des Brésiliens, il y a, bien sur, Caio Prado Jr., Celso Furtado et quelques autres – mais pas un traitement systématique de l’interface économique extérieure de la République  pendant cette période. En plus, il n’y a pas d’étude sur la participation du Brésil dans des importantes rencontres de la période d’entre-guerres – comme la conférence de Gênes en 1922 sur des questions monétaires, la conférence frustrée de 1927 sur des questions commerciales, promue par la SDN, ou la conférence monétaire de Londres de 1934 – ou sur des accords bilatéraux de commerce, à part les travaux très poussés de Stanley Hilton.

 

3. Questions à discuter:

 

1) Le Brésil dans la division internationale du travail

     (transformations économiques et contexte économique mondial)

2) La diplomatie commerciale: du protectionnisme à la fermeture des marchés

     (les accords de réciprocité ; évolution de la politique commerciale)

3) Diplomatie financière : de l’hégémonie britannique à l’américaine 

     (le financement extérieur du Brésil : emprunts et investissements directs)

4) La diplomatie des investissements : diversification et nationalisme

     (ouverture et traitement national ; les nationalisations et l’étatisation) 

5) La diplomatie de la force-de-travail : montée et déclin de l’immigration

     (ouverture sélective ; le débat au Congrès ; fermeture sélective) 

6) La nationalisation de la diplomatie économique : la construction de l’outil 

     (des changements républicains : industrialisation nationale en tant qu’idéologie) 

7) Crise des relations internationales et introversion diplomatique

     (fin de la coopération, chacun pour soi ; le Brésil dans un monde hostile)

8) Entre impérialismes rivaux: l’ère des affrontements décisifs

     (l’ambivalence de la diplomatie brésilienne ; des avantages à droite et au centre)

9) Construction d’une diplomatie d’État : la conscience des intérêts nationaux  

     (la présence internationale du Brésil et la modernisation de l’État)

 

 

4. Bibliographie (indicative ; à compléter)

ALMEIDA, Paulo Roberto de. Formação da diplomacia econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império (2. ed.; São Paulo/Brasília: Senac/Funag, 2005; link: http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/80FDESenac2005.html).

———. O Brasil e o multilateralismo econômico (Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1999; link:http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/30Multilateralismo1999.html).

———. Oliveira Lima e a Diplomacia Brasileira no Início da República, Historia Actual Online (n. 19, Spring 2009, p. 97-108; ISSN: 1696-2060; link: http://www.historia-actual.com/HAO/pbhaopdf.asp?idi=ENG&pgt=2&pid=4&pbl=HAO&vol=1&iss=19&cont=8).

———. A herança portuguesa e a obra brasileira: um balanço e uma avaliação de dois séculos. Espaço da Sophia (v.1, 12, p.01-23, 2008; link: http://www.espacodasophia.com.br/colunistas/paulo_roberto_de_almeida_a_heranca_portuguesa_e_a_obra_brasileira_um_balanco_e_uma_avaliacao_de_dois.pdf;Digesto Econômico (v.62, 446, p.18-31, 2008; link: http://www.dcomercio.com.br/especiais/outros/digesto/digesto_07/02.htm).

———. O desenvolvimento econômico do Brasil no contexto mundial, de 1820 a 2006: uma análise histórica com base em indicadores de desempenho. Revista de Economia & Relações Internacionais (v.5, 10, p.5 - 29, 2007; link: http://www.faapmba.com/revista_faap/rel_internacionais/pdf/revista_economia_10.pdf

———. O Brasil e a construção da ordem econômica internacional contemporânea. Contexto Internacional (v.26, 1, p.7 - 63, 2004; link: http://publique.rdc.puc-rio.br/contextointernacional/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=77&sid=21).

———. A economia internacional no século XX; um ensaio de síntese. Revista Brasileira de Política Internacional (v.44, 1, p.112 - 136, 2001; link: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_issuetoc&pid=0034-732920010001&lng=pt&nrm=iso).

 

 

Paulo Roberto de Almeida

 


domingo, 22 de setembro de 2019

Questões sobre relações econômicas internacionais - Paulo Roberto de Almeida


Questões de relações internacionais: palestra na Univali

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: responder a perguntas feitas na Univali; finalidade: atender a dúvidas]
  
No dia 19/09, aproveitando uma viagem que fiz a Itajaí, para um curso de mestrado sobre o Direito das migrações transnacionais da Univali, em conjunto com a Università degli Studi di Perugia, fui convidado a fazer uma palestra para alunos de graduação em Relações Internacionais (e alguns outros de outros cursos também), em torno do tema que eu mesmo indiquei: “Desconstruindo Bretton Woods: a fragmentação do multilateralismo econômico pelo novo nacionalismo antiglobalista”, cujo texto-base foi disponibilizado em meu blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/09/desconstruindo-bretton-woods.html). Na sessão de perguntas e respostas, recebi, como solicitado ao início, um conjunto de perguntas, que não puderam ser respondidas completamente, razão pela qual elaboro, nos parágrafos seguintes, temas genéricos e minhas respectivas respostas, sem identificação individual dos demandantes.

1) Sobre base americana em território brasileiro e a questão da soberania nacional
Essa proposta, absolutamente sem sentido, foi formulada no próprio dia da posse do novo presidente. A ideia foi defendida pelo novo chanceler, Ernesto Araújo, na presença do Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, e até considerada pelo próprio presidente, mas imediatamente descartada pelo ministro da Defesa e outros militares associados ao governo: general Augusto Heleno, chefe do GSI, general Villas-Boas, general Santos Cruz, ainda na Presidência, e outros. Não há a mínima possibilidade de que uma proposta estapafúrdia como essa seja concretizada, mas o fato de ter sido considerada é revelador do grau de submissão aos Estados Unidos que vem sendo exibido por certos personagens do governo Bolsonaro, em especial seu filho mais novo, já cogitado como embaixador em Washington.

2) Sobre perda de soberania nacional em decorrência de bloco regional de integração
Todo e qualquer tratado ou ato internacional que envolva compromissos de adoção de determinadas políticas ou ações conjuntas, nos planos bilateral, regional ou multilateral, sempre envolve alguma perda de soberania, no sentido em que o país passa a se abster de atuar de forma unilateral no campo coberto por esse ato internacional, ou adotar políticas e medidas que contrariem o escopo ou os objetivos do novo compromisso externo. O fato é que cada governo decide soberanamente sobre o escopo e os objetivos desse compromisso, e, tradicionalmente, submete essas novas obrigações à aprovação do parlamento, segundo os ritos constitucionais em vigor. Em diversos casos, o poder legislativo brasileiro recusou aprovação, como já ocorreu nos casos do acordo de salvaguardas tecnológicas feito em 2000 com os Estados Unidos, ou os acordos bilaterais sobre proteção e promoção de investimentos estrangeiros, nenhum deles ratificado pelo Brasil. Uma vez aceito, porém, o país disporá de menos liberdade em suas políticas domésticas, em contrapartida a benefícios que se espera auferir com a implementação desse acordo.
No caso dos processos de integração, a renúncia de soberania é ainda maior, uma vez que envolve, por exemplo, adoção de uma política comercial comum – como existe no caso das uniões aduaneiras, a exemplo do Mercosul – ou até de uma moeda comum, que é o caso do euro na União Europeia. Os países renunciam a ter políticas próprias, individuais, embora sempre possam influenciar as políticas comuns, no processo de adoção de medidas concretas.
Em alguns casos, o aprofundamento do processo de integração pode confrontar a visão de novos governantes, ou os interesses da população – bem informada ou não – e se pode cogitar do abandono do bloco, como ocorre atualmente no caso do Brexit britânico. Em princípio, todos os tratados preveem dispositivos de denúncia, renúncia ou abandono dos compromissos assumidos anteriormente, com diferentes esquemas de saída. Ou seja, o país decide retomar sua soberania nos terrenos cobertos pelo acordo de integração, mas cabe ao parlamento decidir os aspectos positivos e negativos dessa decisão.

3) Sobre o alinhamento do Brasil à política dos EUA e consequências para outros países
Em muito raras ocasiões, o Brasil alinhou sua política externa à dos Estados Unidos: isso ocorreu no imediato seguimento da Segunda Guerra Mundial, no governo Dutra, ou por ocasião do golpe militar de 1964, no contexto da Guerra Fria e de supostas ameaças de “comunização” do Brasil. Mas, esses episódios foram rapidamente superados e o Brasil voltou a adotar sua tradicional postura de autonomia na formulação e implementação de uma política externa estritamente alinhada com os interesses nacionais, o que significou que, em diversas ocasiões, o governo brasileiro se chocou o confrontou demandas dos EUA – ou de qualquer outro país – em torno de determinadas questões do relacionamento bilateral ou incluídas na agenda multilateral.
Uma outra questão é o alinhamento genérico do Brasil com posturas de países em desenvolvimento, uma característica da organização dos debates na ONU em torno dos grandes blocos existentes: países desenvolvidos, bloco socialista, países em desenvolvimento e a China (tradicionalmente independente de qualquer bloco, mas sempre se dizendo como pertencente ao grupo dos países em desenvolvimento). O Brasil sempre foi um dos líderes do G77, como era conhecido o bloco dos países em desenvolvimento, mas também buscava guiar as ações desse grupo numa linha que favorecesse seus interesses nacionais. Em algumas ocasiões se colocou a adesão à OCDE como conflitante com essa postura, o que não parece ser mais o caso, inclusive porque o sistema internacional evoluiu para arranjos e coalizões de arquitetura variada; o grupo socialista, por exemplo, desapareceu completamente. Certos temas, como meio ambiente, ou agricultura, por exemplo, cobrem países pertencentes a grupos muito diversos.
No relacionamento bilateral com os EUA o Brasil pode, e deve, buscar acordos comerciais ou quaisquer outros tipos de arranjos que ampliem o leque das interações e a possibilidade de integração entre as duas economias, mas isso não pode passar por qualquer tipo de subordinação política aos interesses comerciais americanos. Existem muito mais complementaridade entre o Brasil e a China, por exemplo, do que com os EUA, que são nossos concorrentes em vastas áreas das exportações de grãos, carnes e outros produtos.

4) Sobre a China e suas vantagens competitivas no sistema de inovação
A China é um exemplo extremamente interessante na história econômica mundial, como um dos processos mais exitosos de desenvolvimento tecnológico, uma vez que o país tinha falhado, mais de dois séculos atrás, a empreender o mesmo processo de industrialização que marcou a Europa ocidental, os Estados Unidos e outros países da então periferia, como o Japão. Em consequência ela se atrasou, e foi derrotada em guerras e invasões estrangeiras. O comunismo ainda atrasou mais ainda o país, ao cercear a formidável energia produtiva de seu povo, que foi um dos mais avançados séculos atrás, em praticamente todos os campos do conhecimento e da engenhosidade humana.
Nas últimas quatro décadas, a China, mesmo com um Estado ainda excessivamente intervencionista, empreendeu um dos mais vigorosos e exitosos processos de inovação e de modernização, em todos os campos já abertos pela anterior hegemonia ocidental nos campos do conhecimento científico e da tecnologia aplicada em serviços e produção de bens. Não há limites às possibilidades de desenvolvimento da China.

5) Sobre fragmentação do multilateralismo como resposta a crises estruturais do mundo
Respondo imediatamente que não. A fragmentação do multilateralismo NÃO se deve a supostas “crises estruturais em cadeia de um sistema econômico globalizado”. Quem deu início, de forma mais contundente, ao desmantelamento do sistema multilateral de comércio foi o presidente dos EUA, Donald Trump, numa conjuntura em que a economia do país crescia de maneira sustentada, com os menores índices de desemprego em décadas. Por razões puramente ideológicas, ou de insanidade econômica, ele começou reclamando de um fantasmagórico “globalismo” – que é um conceito difuso, sem muita consistência – para em seguida aplicar golpes e mais golpes nas interações econômicas externas dos EUA. Começou denunciando o TPP, retirando os EUA desse enorme acordo de liberalização comercial – que, no entanto, foi assinado, com os onze países restantes –, seguido do abandono do NAFTA, o acordo de livre comércio com o Canadá e o México, apenas para negociar dois novos acordos separados com esses países. Reclamou do desequilíbrio bilateral comercial com a China e deu início a uma série ininterrupta de sobretaxas ilegais e arbitrárias contra exportações de produtos chineses, e demonstrou mais de uma vez ser completamente ignorante, e arbitrário, em matéria de política comercial. Atingiu inclusive parceiros comerciais tradicionais, ao introduzir restrições a comércio de aço e alumínio e muitos outros produtos. Ou seja, se trata de um desmantelador serial de acordos econômicos e um enorme retrocesso para o sistema multilateral de comércio como um todo.

6) Sobre uma suposta “financeirização” da economia mundial e medidas contra isso
Essa alegação de uma “financeirização” da economia mundial é uma “não-questão”, uma “non issue”, como dizem os americanos, pois se existe um aumento das transações financeiras na economia mundial, isso não é imposto por ninguém em particular, ou por algum Estado ou governo, ou como resultado de alguma “conspiração” de especuladores de Wall Street. Tudo isso é uma imensa bobagem. Se existe um crescimento do setor financeiro no PIB dos países, e nas transações internacionais, isso significa simplesmente que o mundo está submergido em dinheiro, tanto como resultado do crescimento normal da riqueza criada por agentes econômicos e disponível livremente para investimento produtivo ou especulativo por particulares e empresas. Essa coisa de “especulativo”, no lugar de “rentáveis”, também é uma bobagem, pois as pessoas investem naquilo que dá mais lucro, ou retorno, e isso, sim, depende de condições econômicas ambientais colocadas pela regulação dos países. Ocorre que os governos também cometem equívocos, seja emitindo dinheiro demais para cobrir os seus gastos – e criando, assim, inflação, que é uma forma de “financeirização” –, seja, emitindo muitos títulos da dívida pública, com os mesmos objetivos, a juros atraentes, o que desvia justamente investimentos produtivos em favor de títulos financeiros do governo.

7) Sobre a possibilidade de uma “pax chinesa”, ou seja, sua futura hegemonia global
Certamente a China continuará sua irresistível ascensão, tanto em termos econômicos e financeiros, quanto no plano militar. Mas não vejo possibilidade de que ela “imponha” sua hegemonia sobre o mundo no futuro previsível, por diversas razões. Ainda que o peso relativo da economia “norte-atlântica” – Europa ocidental e América do Norte – diminua em breve tempo, em favor de uma gigantesca economia do Pacífico, cabe considerar que essa economia também integra Japão, Estados Unidos, Canadá e outros países engajados nas cadeias de valor dessa região. Por outro lado, a diminuição relativa dos ocidentais, e um crescente predomínio da China em todos os setores, não diminuirá a capacidade de pesquisa científica e de inovação tecnológica do Ocidente, inclusive no terreno militar. De toda forma, mesmo uma ascensão irresistível e “prepotente” da China não se coloca contra o universo da ordem econômica de Bretton Woods, pois a China se integrou totalmente à lógica das economias de mercado, ainda que mantenha muitas empresas estatais, gigantescas por sinal, e continue sendo um sistema de governança autoritário e centralizado.

8) Sobre o agronegócio e o retorno ao protecionismo setorial e ao mercantilismo
A maior parte das commodities agrícolas, e as minerais, são “administradas” pelos mercados, ou seja, ninguém controla absolutamente as variações de preços, que são largamente determinados pelas velhas leis da oferta e da procura. Mas, isso não impede que nos alimentos processados sejam introduzidos novos critérios de admissibilidade, como vem ocorrendo, por exemplo, com OGMs, e aplicação do protecionista “princípio da precaução”. Cada vez mais normas técnicas, regulação sanitária e diferentes tipos de certificação – algumas até respondendo a critérios “politicamente corretos” – serão colocadas no cenário do comércio internacional. Por isso mesmo o Brasil deve não apenas aumentar a sua competitividade primária, ou seja, economia de escala e upgrade tecnológico ao nível dos insumos produtivos, mas deve também se preocupar muito, cada vez mais, com NORMAS, sejam elas harmonizadoras, sejam elas indisfarçavelmente protecionistas.

9) Sobre o globalismo e o antiglobalismo
Não tenho nenhuma hesitação em dizer que essa conversa é um besteirol imenso, pois é evidente que o mundo caminha para graus crescentes de globalização e, portanto, a isso que os antiglobalistas paranoicos classificam como “perda de soberania” dos Estados nacionais por efeito do “globalismo”. Como diriam os ingleses: so what? E daí? Em lugar de lutar contra moinhos de vento, é evidente que os países, os governos devem se preocupar, antes de mais nada, em tornar a globalização uma alavanca de oportunidade para todos os seus cidadãos produtivos: qualquer inovador solitário tem condições atualmente de alcançar o mundo inteiro, sendo capacitado nas tecnologias apropriadas e tendo acesso facilitado às redes mundiais. Se existe perda de soberania, eu acho isso ótimo, pois significa que algum governo introvertido não terá condições de reverter as tendências anteriores e fechar o país em colusão com empresários protecionistas. Sou um globalizador integral e completo.

10) Sistemas de compensação no pagamento das trocas comerciais: o socialismo
O ideal perfeito seria uma abertura total de todos os países, num sistema de livre comércio universal, em caráter inclusive unilateral – ou seja, dispensando completamente quaisquer acordos negociados –, o que obviamente não existe e não existirá antes de muito tempo, se algum dia existir. O “second best” é então um sistema multilateral no qual todos se relacionam com todos os demais, num sistema de pagamentos aberto, ou seja, sem limitações de inconversibilidade dos meios de pagamento. No século XIX, a libra exerceu o papel de liquidez universal, e até as primeiras décadas do século XX. Depois o dólar assumiu esse papel, ainda que outras moedas possam ocupar alguns espaços, mas em caráter regional.
Nas épocas de crise – como nos anos 1930, e no seguimento imediato da Segunda Guerra Mundial – persistiram sistemas de escambo (troca de produtos) e de compensações, ou seja, liquidação apenas do saldo bilateral, por uma moeda comum. Em tempos normais, os sistemas devem ser abertos e intercambiáveis, com um mínimo de previsibilidade (mas as volatilidades podem ser compensadas por seguros, hedge, etc.). Como o socialismo sempre foi um sistema fechado, planejado, dirigista, ele dependia de um “equilíbrio” que precisava ser imposto de forma artificial, sem referência a preços de mercado. Na época da União Soviética, existia uma espécie de “mercado comum”, o Comecon, que funcionava à base de “rublos conversíveis”, mas apenas entre os próprios países socialistas, que tinham de aceitar uma paridade estabelecida autoritariamente pelas autoridades soviéticas e que jamais dependeu das realidades do mercado. Era um sistema totalmente ineficiente, como o próprio socialismo era uma incoerência total e absoluta, e que implodiu sem qualquer interferência do capitalismo, que até financiou os países socialistas com créditos durante muito tempo.
Nenhum sistema de compensação que seja planejado por burocratas pode funcionar adequadamente, pois as dinâmicas econômicas, os imponderáveis da vida normal, não permitem manter equilíbrios de forma artificial. Na verdade, a volatilidade é um traço normal de todos os sistemas econômicos, e cabe, portanto, ser flexível o bastante para acomodar choques e mudanças nas condições externas. Portanto, livre mercado e moeda absolutamente conversível é o ideal para o avanço dos todos os países, de todos os indivíduos do mundo.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 22/09/2019