O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Faz bem consultar o dicionario: palavra "idiota" desta vez...

Nesta data, 1 de fevereiro de 2011, na abertura do Congresso (mas a tortura deve continuar pelos dias seguintes), imagens, matérias e reportagens foram dominadas por três ou quatro personagens bizarros que tomavam posse na Câmara dos Deputados.
Eles eram, ou são, supostamente (como os jornalistas dizem, frequentemente) famosos: um palhaço analfabeto, um jogador de futebol preguiçoso e de hábitos pelo menos suspeitos, um lutador de boxe e um outro indivíduo sobre o qual não tenho a menor informação quem seja, mas que também deve ser famoso, pois também foi assediado pela imprensa, filmado, questionado, enquadrado pela mídia, como dizem muitos...
Eu fiquei me perguntando se, pelo nível geral das respostas que eles balbuciaram frente aos microfones e câmeras, eles eram idiotas mesmo. Tudo leva a crer que sim, mas como eles vão ganhar sem trabalhar nos próximos quatro anos, ou seja, vão viver às nossas custas, de modo muito folgado, cheguei à conclusão que não são eles os idiotas.
Idiotas são todos aqueles que os elegeram, e o bando de repórteres estúpidos que os cercaram, procurando extrair algumas frases, já não digo inteligentes, mas qualquer frase deles.
Esses são os verdadeiros idiotas.
Para me certificar fui consultar o dicionário.
Encontrei isto:

idiota

n adjetivo e substantivo de dois gêneros
1 diz-se de ou pessoa que carece de inteligência, de discernimento; tolo, ignorante, estúpido
2 diz-se de ou pessoa pretensiosa, vaidosa, tola
3 (1873)Rubrica: psiquiatria.
diz-se de ou pessoa afetada por idiotia
n adjetivo
4 que denota falta de inteligência, de discernimento; parado, estúpido, imbecilizado
Ex.: no seu rosto, havia uma expressão i.
5 que não tem valor, sem interesse, sem sentido
Ex.:


Assim é se lhe parece...
Paulo Roberto de Almeida

Faz bem ler economistas sensatos...

Num mundo (e no Brasil) onde tantos economistas malucos se disfarçam em conselheiros do príncipe -- e recorrem a velhos truques que nunca deram certo no passado em lugar nenhum (controles de preços, restrições a movimentos de capitais, manipulações cambiais, protecionismo, etc. -- sempre é bom ler economistas que simplesmente dizem as coisas como as coisas são.
Este, por exemplo:

A volta do dragão
Ilan Goldfajn
O Estado de S.Paulo, 01 de fevereiro de 2011

Cidadãos do mundo, preparem seus bolsos. A inflação está voltando. Ela vem a reboque do tsunami de aumentos de preços de commodities globais em economias emergentes já aquecidas. Os antigos remédios para combatê-la - política monetária (juros) e flutuação cambial (deixar apreciar) - estão sob suspeita. Novos remédios experimentais - medidas "macroprudenciais" - estão em uso intenso, sem sabermos ao certo quão eficazes e quais seus efeitos colaterais. O risco de uma parada mais brusca na atividade futura para combater a inflação aumentou.

O fenômeno é global. Os preços das commodities subiram por várias razões. No começo, pelos juros baixos no mundo (EUA, Europa, Ásia) e pela depreciação do dólar, que induziram a compra de ativos "reais". Recentemente, os preços estão subindo pelo crescimento econômico e pelos problemas climáticos globais. Há poucos meses a preocupação era com a volta da recessão nos EUA, chamada de mergulho duplo (double dip). Não só a recessão foi evitada, como o crescimento nos EUA no último trimestre do ano foi muito forte. O mundo parece que estava despreparado para a volta do crescimento simultâneo das economias maduras (EUA, etc.) e das emergentes (que crescem fortemente e demandam mais commodities para a urbanização crescente da sua população).

A inflação, quando é global, costuma ser de ninguém. Não se identificam os responsáveis individuais pelo excesso de demanda global. Cada país percebe a inflação como um choque externo. O viés é deixar o outro combatê-la. No caso da inflação de commodities, esse comportamento é institucionalizado: faz parte das regras dos bancos centrais retirá-lo do índice de inflação e combater a inflação do que sobrou (o núcleo). Como se toda a inflação de commodities fosse temporária, resultante de choques de oferta.

O problema de inflação é mais agudo nas economias emergentes. Enquanto o risco nas economias maduras era de falta de crescimento, as emergentes deram-se ao luxo de sobreaquecer sua economia, estimulando-a para além da resposta à crise de 2008. O sobreaquecimento era incentivado. As economias maduras precisavam de estímulos externos para a sua retomada. Mas agora a retomada é global. As economias emergentes enfrentam choques inflacionários globais em economias já vulneráveis à inflação doméstica (serviços, por exemplo), precisando desaquecer.

O risco atual nas emergentes é a inflação subir em excesso. E para evitar corroer o poder de compra da população as autoridades econômicas precisarão desacelerar suas economias além do previsto. Nesse processo de desaquecimento, podem até errar a mão (desaquecer demais ou de menos). O risco é maior desta vez. Novos instrumentos estão sendo adotados, com resultados menos estudados. São medidas administrativas, como a elevação dos compulsórios, exigências regulatórias que encarecem o crédito e/ou reduzem o prazo do financiamento.

Essas novas medidas são denominadas macroprudenciais porque foram idealizadas para prevenir crises financeiras futuras, como a que culminou com a quebra do Lehman Brothers. Hoje seu uso está se deslocando para políticas anticíclicas, de reação ao sobreaquecimento, não prevenção. Com medidas anticíclicas é difícil estimar precisamente seu efeito sobre a economia, há muita incerteza.

O uso crescente de medidas administrativas (macroprudenciais) ocorre também como consequência da crise financeira e da reação dos EUA. Na saída da crise, com a redução dos juros básicos a zero, restou a política monetária do Federal Reserve (Fed) de estimular a economia via expansão monetária, cujo último objetivo era estimular a economia via redução das taxas de juros mais longas também (a taxa de dez anos caiu para quase 2% no auge do efeito). Com a queda dos juros americanos houve uma força para sair dos ativos americanos em direção a ativos no mundo, o que ajudou a depreciar o dólar e apreciar as moedas nos outros países. As economias emergentes resistiram (e têm resistido) à apreciação cambial via intervenção (compra de reservas, além de outras medidas), numa batalha que foi denominada "guerra cambial".

O problema dessa "guerra cambial" é que ela induz a políticas que podem potencializar o problema da inflação. A manutenção do câmbio num patamar fixo, independente do mérito dessa política por outras razões, impede o câmbio de absorver parte da subida das commodities no mundo via apreciação e permite que a inflação de commodities se transfira integralmente para os preços domésticos. Além disso, como a preocupação é com os fluxos de capital, subidas de juros são evitadas para não atrair mais capital. Portanto, a política monetária fica viesada para adotar mais medidas administrativas e menos subidas de juros.

Mas a adoção de medidas administrativas não é de graça. No passado, essas medidas haviam sido preteridas pelos instrumentos de preço, como a taxa de juros, porque eram menos gerais (afetavam determinados setores) e induziam distorções na economia (geradas pelas tentativas de burlar as políticas).

Interessante, os juros americanos voltaram a subir (juros de dez anos perto de 3,5%) e os motivos iniciais para evitar os instrumentos tradicionais perderam força. Há menos incentivo para a saída de capital dos EUA. Não há razão para os juros não voltarem a ser o instrumento principal das emergentes, como antes. Mas, ao estilo de dom Quixote, a batalha continua. Países como a Turquia chegam ao limite de reduzir juros para combater a inflação, justificando o ato com medidas administrativas compensatórias.

Em suma, as crises têm sempre seus legados. O pêndulo às vezes atinge o outro extremo. Desta vez, temos mais inflação e o uso excessivo de medidas macroprudenciais. Mais adiante, o risco é uma parada mais brusca da atividade do que o planejado nas economias emergentes.

ECONOMISTA-CHEFE DO ITAÚ UNIBANCO E SÓCIO DO ITAÚ BBA

A frase do momento (a proposito do Egito, claro)...

The worst thing you can say about a revolutionary situation is, "Things couldn't possibly get worse." Things can always get worse. If you have trouble imagining how, just wait for the revolution to unfold. Events will usually oblige you: see France in 1789, Russia in 1917, Germany in 1933, China in 1949, or Iran in 1979. I hope Egyptian policies improve when Mubarak goes, but I'm not optimistic.

Bryan Caplan

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A Guerra Fria Economica - Mundorama, Paulo R. de Almeida

Esta é a versão em Portuguës, ligeiramente modificada, de um ensaio publicado originalmente em Inglês, como referido in fine:

A Guerra Fria Econômica: um cenário de transição?
Mundorama (01/02/2011)
link: http://mundorama.net/2011/02/01/a-guerra-fria-economica-um-cenario-de-transicao-por-paulo-roberto-de-almeida/#more-7197
Relação de Originais n. 2241; Publicados n. 1020.


A Guerra Fria Econômica: um cenário de transição?
Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, Professor de Economia Política Internacional no Uniceub; (www.pralmeida.org)
Mundorama (01/02/2011)

Velhas Realidades
A Guerra Fria geopolítica está encerrada definitivamente, ao que parece. A despeito de tensões políticas “normais” e fricções comerciais entre as grandes potências, não existem mais concepções totalmente opostas sobre como organizar o mundo, economicamente ou politicamente. Ninguém mais está dizendo algo semelhante a “nós vamos enterrar vocês”, como ocorreu no passado com um líder soviético. Daniel Bell, recentemente falecido, já tinha antecipado, desde meados dos anos 1950, o “fim das ideologias”, julgamento de certa medida confirmado por Francis Fukuyama. Mas, no que depender de gente como Eric Hobsbawm, e de inocentes úteis desse tipo, as ideologias ainda têm um brilhante futuro pela frente...
O que estamos assistindo agora, na verdade, é uma Guerra Fria econômica, ou algo próximo disso. De fato, não parece haver nada capaz de provocar uma confrontação em grande escala entre as maiores potências. O que temos, na presente conjuntura, são fricções comerciais e desalinhamentos monetários, num cenário de ajustes pós-crise. Existem disputas políticas sobre como as políticas econômicas nacionais devem levar em consideração seus impactos sobre a situação econômica de outros países. Como Mark Twain poderia ter argumentado, os rumores sobre uma guerra cambial global são grandemente exagerados. É certo que ainda não superamos totalmente a presente crise financeira; mas ela é apenas uma, dentre muitas outras, que afetam mercados dinâmicos de forma recorrente desde o começo do capitalismo. Profetas da crise final do capitalismo e outros utopistas do gênero vão novamente se sentir frustrados dentro de alguns meses (sem reconhecer o fato, claro).
Existem muitas concepções errôneas sobre as origens e o desenvolvimento da crise atual, várias delas propagadas pelos mesmos utopistas conhecidos. Não é exatamente verdade que esta crise tenha sido provocada pela desregulação dos mercados financeiros, ainda que a regulação flexível, ou mal implementada, possa ter facilitado a expansão de várias bolhas nos mercados. O maior responsável pela bolha que provocou o desastre, porém, foram as baixas taxas de juros definidas pelos bancos centrais, a começar pelo Federal Reserve, durante um período muito longo. Da mesma maneira, mas talvez por meios e instrumentos um pouco diferentes, que os velhos Lords of Finance dos anos 1920 criaram as condições que levaram à crise de 1929 e à depressão dos anos 1930, pela sua ação ou inação, a presente crise é o resultado de políticas inadequadas dos novos Lords of Finance (ver o livro de Liaquat Ahamed, Lords of Finance: the Bankers who Broke the World; New York: Penguin, 2009.)
Tampouco é verdade que a crise atual, ou as crises – já que são várias, interconectadas – são suficientemente severas para justificar o programa, que muitos recomendam, de um novo Bretton Woods, ou seja, um redesenho completo das relações econômicas mundiais, com a restruturação das organizações existentes. Menções a uma nova arquitetura financeira internacional, ou mesmo de redistribuição do poder econômico mundial, estão em contradição com as realidades mais prosaicas dos nossos dias. Comentaristas superficiais gostam de recorrer a grandes analogias históricas – que em geral são falsas – para falar dos eventos correntes, mas o fato é que não estamos vivenciando nenhum grande ajuste posterior a alguma crise de proporções monumentais, como gostariam alguns. Vivemos, é certo, uma transição, mas não uma revolução, qualquer que seja o sentido que possamos dar a esses conceitos. Vejamos os precedentes.
Não estamos em face de um reordenamento radical e completo da ordem mundial, após algum evento cataclísmico, afetando todos e cada um dos grandes atores da cena internacional, ou mesmo regional. Não estamos em Vesfália, em 1648; não estamos em Viena em 1815; tampouco estamos em Paris ou Versalhes, em 1919, sequer em Bretton Woods em 1944, e muito menos em São Francisco, em 1945. Definitivamente, não estamos em nenhum momento de refundação fundamental da ordem política e econômica internacional. Simplesmente estamos, atualmente, no meio de algo semelhante aos anos 1930, tentando administrar uma grande crise por meio de respostas nacionais, cada uma delas adaptada a circunstâncias específicas de cada país, e desvinculada dos maiores desastres afetando os demais e cada um dos países envolvidos no processo.
Para ser mais preciso, estamos em algum ponto entre 1931 e 1933, ainda no meio de uma recessão, mas não numa depressão. O nível de desemprego não é tão alto quanto em 1933, e está provavelmente alinhado com os padrões dos nossos dias. Os fluxos comerciais e financeiros não foram tão desestruturados quanto nos anos 1930, ainda que a liberalização econômica tenha regredido: apenas revertemos a uma versão light do protecionismo comercial dos velhos tempos, mas sem cotas ou restrições quantitativas ao velho estilo.
Esta nova Guerra Fria Econômica emerge a partir de mudanças estruturais na economia mundial, já em curso desde os anos 1980, quando a China começou a flexionar os seus músculos novamente. Ao mesmo tempo, os países em desenvolvimento deixaram de implementar projetos nacionais, introvertidos, de desenvolvimento nacional e abriram-se aos investimentos estrangeiros. Desde então, o a economia mundial foi transformada irreversivelmente, embora gradualmente.
Mas nem tudo, obviamente, mudou. As principais instituições de tomada de decisões ainda continuam a ser o que sempre foram, com a mesma distribuição dos direitos de voto. O FMI e o Banco Mundial estão no meio de seus labores para definir uma nova repartição de votos, tendo já operado algumas acomodações. Os votos coletivos da China, da Índia e do Brasil é 20% menor do que os da Bélgica, dos Países Baixos e da Itália, a despeito do fato que o PIB conjunto do primeiros países é quatro vezes maior do que aquele de seus contrapartes europeus; eles têm uma população 29 vezes maior. Estas são algumas das razões para uma nova Guerra Fria econômica.
Como administrar estas novas realidades no terreno econômico, dispondo das mesmas alavancas políticas e das mesmas velhas estruturas de tomada de decisão como nos processos do passado? Esta é uma questão complicada, sem uma resposta clara ao dilema. Administrar a economia mundial é uma pretensão que mesmo o velho G7 nunca conseguiu alcançar nos seus tempos gloriosos. Os países desenvolvidos controlavam então uma grande proporção do PIB mundial e dos fluxos comerciais e financeiros. Mas eles nunca foram capazes de coordenar suas políticas macroeconômicas entre eles mesmos; menos ainda se poderia esperar que eles estabelecessem regras e metas para o resto do mundo.
Atualmente, com uma penosa queda nas economias avançadas, parece difícil visualizar o que poderia ser feito para restaurar o crescimento a partir de níveis próximos da estagnação em várias economias europeias. Além dos problemas cíclicos afetando as grandes economias (com as exceções da China, da Índia e de alguns outros países), existem vários desafios globais à frente, entre eles o da pobreza nos países menos avançados, e grandes decisões a serem tomadas em relação a questões ambientais, a violações dos direitos humanos em países não democráticos, e vários outros temas relevantes.
Uma estratégia singular poderia ser a definição de apenas uma grande meta global para a comunidade mundial: teria de ser a promoção do desenvolvimento global, não exatamente através da assistência (ou a tradicional Ajuda Oficial ao Desenvolvimento), mas prioritariamente através de uma real liberalização comercial, especialmente no setor agrícola, a única possibilidade efetiva para que os países menos avançados possam ser integrados à economia mundial. Os Estados Unidos e a União Europeia possuem, evidentemente, a maior responsabilidade nesse terreno.
É altamente improvável que propostas consensuais relativas ao desenvolvimento global possam emergir de um fórum tão amplo quanto o G20 financeiro, muito heterogêneo para ser capaz de alcançar posições comuns. Talvez fosse mais indicado lograr uma evolução informal do atual G8 para um novo G13, interrompendo o ciclo do atual G20 (o que talvez já seja difícil de se obter). Isso representaria agregar aos atuais membros do G8 outras cinco grandes economias, nomeadamente Brasil, China, Índia, África do Sul, e ou Indonésia ou México. A experiência demonstra que pequenos grupos informais estão mais próximos de se entenderam sobre ações concretas do que grandes órgãos institucionalizados que acabam dominados pela lerdeza burocrática e desentendimentos políticos.

Novas Perspectivas?
O que deve ser feito? O maior problema nessa modalidade organizacional de se ter um G20 diminuído seria o de como adquirir a legitimidade implícita ao ato de falar para toda a comunidade mundial partindo de um fórum de apenas 13 países. Para resolver essa limitação se necessitaria de um grau de confiança política entre os líderes desses 13 países, definindo um terreno de entendimentos recíprocos entre eles que teria de ser compatível com a função de representação mais ampla que eles pretenderiam assumir em nome de toda a comunidade de nações.
Encontrar terrenos comuns é uma tarefa dura de ser alcançada no estado atual das relações internacionais, caracterizada, como já se sublinhou, por uma guerra fria econômica típica das fases de transição. Parece ser bastante difícil de se lograr uma coordenação perfeita das agendas dos grandes países avançados e das economias emergentes e, mais ainda, entre eles todos e os demais membros das organizações internacionais que eles pretenderiam “substituir”. O mundo não é, simplesmente, tão globalizado como se requereria para alcançar esse tipo de interação. Disparidades de interesses, diferenças entre níveis de desenvolvimento, desequilíbrios entre os países, vários fatores se combinam para tornar praticamente impossível um exercício de coordenação desse tipo.
Uma proposta mais modesta poderia ser se obter uma interação mais frequente – uma vez ao ano – entre os líderes desse novo G13. Sherpas especialmente designados, encontrando-se duas vezes ao ano, poderiam ser mobiliados para discutir questões comerciais, assuntos ambientais, a proteção dos direitos humanos em países apresentando conflitos, missões de peace-keeping das Nações Unidas e outros temas do gênero, dotados de mandatos específicos de seus líderes políticos. Mas não se deve esperar pela ONU para organizar esse tipo de agenda. Já é difícil implementar qualquer coisa através da ONU, um órgão muito burocrático e passavelmente caótico. Melhor realizar a coordenação de agendas através das três mais importantes agências para a globalização contemporânea: o FMI, o Banco Mundial e a OMC.
A tarefa principal dos “novos sherpas” seria a de assegurar a coordenação econômica internacional em torno dos temas mais relevantes para a comunidade global. Uma sugestão possível seria tentar estabelecer um “global new deal”, um novo pacto mundial, intercambiando uma proteção extensiva aos investimentos e à riqueza proprietária (patentes e coisas do gênero), assim como outras condições apropriadas para o desenvolvimento da atividade produtiva no plano microeconômico, do lado dos países em desenvolvimento (ou recebedores de IDE), contra práticas de licenciamento extensivo e investimentos efetivos e liberalização comercial da parte dos países ricos e dos investidores privados. Esse tipo de pacto, ao ampliar os direitos proprietários para os ricos, poderia resultar no fortalecimento dos fluxos de investimentos financeiros e de comércio para os pobres, dando um grande impulso à globalização.
A assistência tradicional ao desenvolvimento, por ineficiente, deveria ser substituída, essencialmente, por um novo foco nas melhorias educacionais graduais, ou seja, um extenso programa para a qualificação de recursos humanos. A assistência, enquanto tal, deveria ser as limitada à implementação de um programa consistente de erradicação da maior parte das doenças infecciosas nos países africanos e em vários outras nações em desenvolvimento. A maior razão para a persistência da pobreza nesses países não é exatamente a falta de recursos, mas a ausência de governança e sua não-integração à economia mundial através de vínculos comerciais.
Considerando que questões de governança democrática e de proteção dos direitos humanos podem ser um desafio para países como a China, ou mesmo, talvez, para a Rússia, o alvo principal da agenda de um novo G13 poderia ser a adoção de altos padrões de governança pública na acepção técnica desta expressão. Na atual fase de guerra fria econômica pode ser precoce a tentativa de se fazer da governança democrática e do respeito pelos direitos humanos o critério decisivo para a cooperação bilateral ou multilateral. Mas estes devem ser os fins últimos de qualquer tipo governança global. Em última instância, a agenda de Fukuyama permanece atual e absolutamente necessária. Remeto, a propósito, ao meu artigo: “O Fim da História, de Fukuyama, vinte anos depois: o que ficou?” (Meridiano 47, n. 114, janeiro 2010, p. 8-17; link: http://meridiano47.files.wordpress.com/2010/05/v11n1a03.pdf). Esse programa não tem nada a ver com o fim da história, e sim com o fim dos regimes autoritários e fechados economicamente. Se existe algum determinismo na História, este parece ser o único aceitável.

Paulo Roberto de Almeida
[Brasília, 31 Janeiro 2011]

1015. “Now, an Economic Cold War: Old Realities, New Prospects”, FRA, Revista de Ciencias y Humanidades de la Fundación Ramón Areces; Monográfico: “Mas Allá de la Crisis: El Futuro del Sistema Multilateral (Madrid: Fundación Ramón Areces, Diciembre 2010, p. 116-120). Postado no blog Diplomatizzando (23/01/2011). Relação de Originais n. 2202.

Declinio americano: de volta a uma velha fabula...

Por vezes, fábulas se realizam... talvez não da forma esperada, ou no momento esperado, mas um dia a "coisa" chega...

Think Again: American Decline
This time it's for real.
BY GIDEON RACHMAN
Foreign Policy, JANUARY/FEBRUARY 2011

"We've Heard All This About American Decline Before."
This time it's different. It's certainly true that America has been through cycles of declinism in the past. Campaigning for the presidency in 1960, John F. Kennedy complained, "American strength relative to that of the Soviet Union has been slipping, and communism has been advancing steadily in every area of the world." Ezra Vogel's Japan as Number One was published in 1979, heralding a decade of steadily rising paranoia about Japanese manufacturing techniques and trade policies.

In the end, of course, the Soviet and Japanese threats to American supremacy proved chimerical. So Americans can be forgiven if they greet talk of a new challenge from China as just another case of the boy who cried wolf. But a frequently overlooked fact about that fable is that the boy was eventually proved right. The wolf did arrive -- and China is the wolf.

The Chinese challenge to the United States is more serious for both economic and demographic reasons. The Soviet Union collapsed because its economic system was highly inefficient, a fatal flaw that was disguised for a long time because the USSR never attempted to compete on world markets. China, by contrast, has proved its economic prowess on the global stage. Its economy has been growing at 9 to 10 percent a year, on average, for roughly three decades. It is now the world's leading exporter and its biggest manufacturer, and it is sitting on more than $2.5 trillion of foreign reserves. Chinese goods compete all over the world. This is no Soviet-style economic basket case.

Japan, of course, also experienced many years of rapid economic growth and is still an export powerhouse. But it was never a plausible candidate to be No. 1. The Japanese population is less than half that of the United States, which means that the average Japanese person would have to be more than twice as rich as the average American before Japan's economy surpassed America's. That was never going to happen. By contrast, China's population is more than four times that of the United States. The famous projection by Goldman Sachs that China's economy will be bigger than that of the United States by 2027 was made before the 2008 economic crash. At the current pace, China could be No. 1 well before then.

China's economic prowess is already allowing Beijing to challenge American influence all over the world. The Chinese are the preferred partners of many African governments and the biggest trading partner of other emerging powers, such as Brazil and South Africa. China is also stepping in to buy the bonds of financially strapped members of the eurozone, such as Greece and Portugal.

And China is only the largest part of a bigger story about the rise of new economic and political players. America's traditional allies in Europe -- Britain, France, Italy, even Germany -- are slipping down the economic ranks. New powers are on the rise: India, Brazil, Turkey. They each have their own foreign-policy preferences, which collectively constrain America's ability to shape the world. Think of how India and Brazil sided with China at the global climate-change talks. Or the votes by Turkey and Brazil against America at the United Nations on sanctions against Iran. That is just a taste of things to come.

"China Will Implode Sooner or Later."
Don't count on it. It is certainly true that when Americans are worrying about national decline, they tend to overlook the weaknesses of their scariest-looking rival. The flaws in the Soviet and Japanese systems became obvious only in retrospect. Those who are confident that American hegemony will be extended long into the future point to the potential liabilities of the Chinese system. In a recent interview with the Times of London, former U.S. President George W. Bush suggested that China's internal problems mean that its economy will be unlikely to rival America's in the foreseeable future. "Do I still think America will remain the sole superpower?" he asked. "I do."

But predictions of the imminent demise of the Chinese miracle have been a regular feature of Western analysis ever since it got rolling in the late 1970s. In 1989, the Communist Party seemed to be staggering after the Tiananmen Square massacre. In the 1990s, economy watchers regularly pointed to the parlous state of Chinese banks and state-owned enterprises. Yet the Chinese economy has kept growing, doubling in size roughly every seven years.

Of course, it would be absurd to pretend that China does not face major challenges. In the short term, there is plenty of evidence that a property bubble is building in big cities like Shanghai, and inflation is on the rise. Over the long term, China has alarming political and economic transitions to navigate. The Communist Party is unlikely to be able to maintain its monopoly on political power forever. And the country's traditional dependence on exports and an undervalued currency are coming under increasing criticism from the United States and other international actors demanding a "rebalancing" of China's export-driven economy. The country also faces major demographic and environmental challenges: The population is aging rapidly as a result of the one-child policy, and China is threatened by water shortages and pollution.

Yet even if you factor in considerable future economic and political turbulence, it would be a big mistake to assume that the Chinese challenge to U.S. power will simply disappear. Once countries get the hang of economic growth, it takes a great deal to throw them off course. The analogy to the rise of Germany from the mid-19th century onward is instructive. Germany went through two catastrophic military defeats, hyperinflation, the Great Depression, the collapse of democracy, and the destruction of its major cities and infrastructure by Allied bombs. And yet by the end of the 1950s, West Germany was once again one of the world's leading economies, albeit shorn of its imperial ambitions.

In a nuclear age, China is unlikely to get sucked into a world war, so it will not face turbulence and disorder on remotely the scale Germany did in the 20th century. And whatever economic and political difficulties it does experience will not be enough to stop the country's rise to great-power status. Sheer size and economic momentum mean that the Chinese juggernaut will keep rolling forward, no matter what obstacles lie in its path.

"America Still Leads Across the Board."
For now. As things stand, America has the world's largest economy, the world's leading universities, and many of its biggest companies. The U.S. military is also incomparably more powerful than any rival. The United States spends almost as much on its military as the rest of the world put together. And let's also add in America's intangible assets. The country's combination of entrepreneurial flair and technological prowess has allowed it to lead the technological revolution. Talented immigrants still flock to U.S. shores. And now that Barack Obama is in the White House, the country's soft power has received a big boost. For all his troubles, polls show Obama is still the most charismatic leader in the world; Hu Jintao doesn't even come close. America also boasts the global allure of its creative industries (Hollywood and all that), its values, the increasing universality of the English language, and the attractiveness of the American Dream.

All true -- but all more vulnerable than you might think. American universities remain a formidable asset. But if the U.S. economy is not generating jobs, then those bright Asian graduate students who fill up the engineering and computer-science departments at Stanford University and MIT will return home in larger numbers. Fortune's latest ranking of the world's largest companies has only two American firms in the top 10 -- Walmart at No. 1 and ExxonMobil at No. 3. There are already three Chinese firms in the top 10: Sinopec, State Grid, and China National Petroleum. America's appeal might also diminish if the country is no longer so closely associated with opportunity, prosperity, and success. And though many foreigners are deeply attracted to the American Dream, there is also a deep well of anti-American sentiment in the world that al Qaeda and others have skillfully exploited, Obama or no Obama.

As for the U.S. military, the lesson of the Iraq and Afghan wars is that America's martial prowess is less useful than former Defense Secretary Donald Rumsfeld and others imagined. U.S. troops, planes, and missiles can overthrow a government on the other side of the world in weeks, but pacifying and stabilizing a conquered country is another matter. Years after apparent victory, America is still bogged down by an apparently endless insurgency in Afghanistan.

Not only are Americans losing their appetite for foreign adventures, but the U.S. military budget is clearly going to come under pressure in this new age of austerity. The present paralysis in Washington offers little hope that the United States will deal with its budgetary problems swiftly or efficiently. The U.S. government's continuing reliance on foreign lending makes the country vulnerable, as Secretary of State Hillary Clinton's humbling 2009 request to the Chinese to keep buying U.S. Treasury bills revealed. America is funding its military supremacy through deficit spending, meaning the war in Afghanistan is effectively being paid for with a Chinese credit card. Little wonder that Adm. Mike Mullen, chairman of the Joint Chiefs of Staff, has identified the burgeoning national debt as the single largest threat to U.S. national security.

Meanwhile, China's spending on its military continues to grow rapidly. The country will soon announce the construction of its first aircraft carrier and is aiming to build five or six in total. Perhaps more seriously, China's development of new missile and anti-satellite technology threatens the command of the sea and skies on which the United States bases its Pacific supremacy. In a nuclear age, the U.S. and Chinese militaries are unlikely to clash. A common Chinese view is that the United States will instead eventually find it can no longer afford its military position in the Pacific. U.S. allies in the region -- Japan, South Korea, and increasingly India -- may partner more with Washington to try to counter rising Chinese power. But if the United States has to scale back its presence in the Pacific for budgetary reasons, its allies will start to accommodate themselves to a rising China. Beijing's influence will expand, and the Asia-Pacific region -- the emerging center of the global economy -- will become China's backyard.

"Globalization Is Bending the World the Way of the West."
Not really. One reason why the United States was relaxed about China's rise in the years after the end of the Cold War was the deeply ingrained belief that globalization was spreading Western values. Some even thought that globalization and Americanization were virtually synonymous.

Pundit Fareed Zakaria was prescient when he wrote that the "rise of the rest" (i.e., non-American powers) would be one of the major features of a "post-American world." But even Zakaria argued that this trend was essentially beneficial to the United States: "The power shift … is good for America, if approached properly. The world is going America's way. Countries are becoming more open, market-friendly, and democratic."

Both George W. Bush and Bill Clinton took a similar view that globalization and free trade would serve as a vehicle for the export of American values. In 1999, two years before China's accession to the World Trade Organization, Bush argued, "Economic freedom creates habits of liberty. And habits of liberty create expectations of democracy.… Trade freely with China, and time is on our side."

There were two important misunderstandings buried in this theorizing. The first was that economic growth would inevitably -- and fairly swiftly -- lead to democratization. The second was that new democracies would inevitably be more friendly and helpful toward the United States. Neither assumption is working out.

In 1989, after the Tiananmen Square massacre, few Western analysts would have believed that 20 years later China would still be a one-party state -- and that its economy would also still be growing at phenomenal rates. The common (and comforting) Western assumption was that China would have to choose between political liberalization and economic failure. Surely a tightly controlled one-party state could not succeed in the era of cell phones and the World Wide Web? As Clinton put it during a visit to China in 1998, "In this global information age, when economic success is built on ideas, personal freedom is … essential to the greatness of any modern nation."

In fact, China managed to combine censorship and one-party rule with continuing economic success over the following decade. The confrontation between the Chinese government and Google in 2010 was instructive. Google, that icon of the digital era, threatened to withdraw from China in protest at censorship, but it eventually backed down in return for token concessions. It is now entirely conceivable that when China becomes the world's largest economy -- let us say in 2027 -- it will still be a one-party state run by the Communist Party.

And even if China does democratize, there is absolutely no guarantee that this will make life easier for the United States, let alone prolong America's global hegemony. The idea that democracies are liable to agree on the big global issues is now being undermined on a regular basis. India does not agree with the United States on climate change or the Doha round of trade talks. Brazil does not agree with the United States on how to handle Venezuela or Iran. A more democratic Turkey is today also a more Islamist Turkey, which is now refusing to take the American line on either Israel or Iran. In a similar vein, a more democratic China might also be a more prickly China, if the popularity of nationalist books and Internet sites in the Middle Kingdom is any guide.

"Globalization Is Not a Zero-Sum Game."
Don't be too sure. Successive U.S. presidents, from the first Bush to Obama, have explicitly welcomed China's rise. Just before his first visit to China, Obama summarized the traditional approach when he said, "Power does not need to be a zero-sum game, and nations need not fear the success of another.… We welcome China's efforts to play a greater role on the world stage."

But whatever they say in formal speeches, America's leaders are clearly beginning to have their doubts, and rightly so. It is a central tenet of modern economics that trade is mutually beneficial for both partners, a win-win rather than a zero-sum. But that implies the rules of the game aren't rigged. Speaking before the 2010 World Economic Forum, Larry Summers, then Obama's chief economic advisor, remarked pointedly that the normal rules about the mutual benefits of trade do not necessarily apply when one trading partner is practicing mercantilist or protectionist policies. The U.S. government clearly thinks that China's undervaluation of its currency is a form of protectionism that has led to global economic imbalances and job losses in the United States. Leading economists, such as New York Times columnist Paul Krugman and the Peterson Institute's C. Fred Bergsten, have taken a similar line, arguing that tariffs or other retaliatory measures would be a legitimate response. So much for the win-win world.

And when it comes to the broader geopolitical picture, the world of the future looks even more like a zero-sum game, despite the gauzy rhetoric of globalization that comforted the last generation of American politicians. For the United States has been acting as if the mutual interests created by globalization have repealed one of the oldest laws of international politics: the notion that rising players eventually clash with established powers.

In fact, rivalry between a rising China and a weakened America is now apparent across a whole range of issues, from territorial disputes in Asia to human rights. It is mercifully unlikely that the United States and China would ever actually go to war, but that is because both sides have nuclear weapons, not because globalization has magically dissolved their differences.

At the G-20 summit in November, the U.S. drive to deal with "global economic imbalances" was essentially thwarted by China's obdurate refusal to change its currency policy. The 2009 climate-change talks in Copenhagen ended in disarray after another U.S.-China standoff. Growing Chinese economic and military clout clearly poses a long-term threat to American hegemony in the Pacific. The Chinese reluctantly agreed to a new package of U.N. sanctions on Iran, but the cost of securing Chinese agreement was a weak deal that is unlikely to derail the Iranian nuclear program. Both sides have taken part in the talks with North Korea, but a barely submerged rivalry prevents truly effective Sino-American cooperation. China does not like Kim Jong Il's regime, but it is also very wary of a reunified Korea on its borders, particularly if the new Korea still played host to U.S. troops. China is also competing fiercely for access to resources, in particular oil, which is driving up global prices.

American leaders are right to reject zero-sum logic in public. To do anything else would needlessly antagonize the Chinese. But that shouldn't obscure this unavoidable fact: As economic and political power moves from West to East, new international rivalries are inevitably emerging.

The United States still has formidable strengths. Its economy will eventually recover. Its military has a global presence and a technological edge that no other country can yet match. But America will never again experience the global dominance it enjoyed in the 17 years between the Soviet Union's collapse in 1991 and the financial crisis of 2008. Those days are over.

Delfim Netto: o grande "inversor" da historia economica...

Inacreditável Delfim Netto: ele consegue involuir economicamente e historicamente.
O artigo que ele publica hoje, no jornal Valor Econômico, sobre o processo de desenvolvimento ("O desenvolvimento é mais embaixo", p. A2), constitui a mais notavel inversão de fatores causais já registrada nos últimos 130 mil anos, ou se o ex-deputado quiser, nos últimos 300 anos, relativamente aos fatores de indução ou de aceleração desse processo.
Ao "explicar" essa "história de mercado", que só funcionaria adequadamente se fosse bem organizado pelo Estado, o articulista se refere ao caso da Inglaterra e da Holanda, mas diz que no caso da China, supostamente bem dotada em fatores de produção, a elevação da produtividade só se deu quando se teve:
"um Estado indutor" que:
1) respeitasse e dignificasse a atividade do setor privado;
2) libertasse o 'espírito animal' dos empresários...
3) garantisse que cada um poderia apropriar-se dos benefícios de sua iniciativa."

Inacreditável essa descoberta da pólvora ao contrário do ex-deputado, pois o que ele está dizendo é que a China só começou a se desenvolver quando o Estado chinês garantiu -- ou talvez "criou", na concepção -- tudo isso.
Não lhe ocorre que a história pode E DEVE ser lida completamente ao contrário: se o Estado (comunista) chinês não tivesse proibido tudo isso, o processo de desenvolvimento na China poderia ter vindo muito antes, sem esses ENTRAVES criados pelo Estado.
Em resumo, as três condições do ex-deputado devem ser lidas completamente ao contrário: "se um Estado 'normal' (não indutor), não tivesse proibido as atividades do setor privado, se ele não tivesse extirpado os capitalistas do país, se ele não tivesse proibido a propriedade privada...", toda a história teria sido diferente.

Certos articulistas precisam parar para pensar no que estão escrevendo...

Paulo Roberto de Almeida

G20 comercial e G20 financeiro: a confusao continua...

Jornalistas se enganam, claro, como qualquer ser humano. Mas eles raramente se dispõem a retificar uma informação equivocada frente a seus leitores. Eu havia alertado, neste meu post, sobre a confusão entre G20 comercial (que não deveria ter esse nome, pois nunca teve um número fixo de membros, pois variou entre 18 e 23 ao longo do tempo e nem se sabe, atualmente, quantos efetivamente participam de algo muito informal), e o G20 financeiro, este sim formalizado, com reuniões de cúpula e todo esse balé diplomático.
Vamos aguardar uma matéria para desfazer a confusão, pois os esclarecimentos ainda não foram muito explícitos.
Paulo Roberto de Almeida

Os G-20
Merval Pereira
O Globo, 1/02/2010

O economista Nouriel Roubini, professor de economia na Universidade de Nova York, que ganhou notoriedade por ter sido talvez o único a antecipar a crise financeira que abalou os mercados mundiais nos últimos anos, tem uma visão pessimista da atuação do G-20, o grupo que reúne as maiores economias do mundo, afirmando que há “um completo desentendimento” no que chama de G-Zero.

No Fórum Econômico Mundial de Davos, Roubini lamentou que não existam hoje no mundo lideranças que possam organizar a ação internacional para enfrentar a crise, que ainda está presente.

Essa, porém, não é a opinião predominante entre os principais executivos e autoridades que andaram na semana passada pelo Fórum de Davos.

O papel do G-20 de coordenar uma resposta efetiva à crise financeira global que estourou em 2008 foi considerado exitoso pela maioria dos presentes que, ao contrário, consideram que o organismo internacional ganhou corpo para enfrentar uma tarefa mais complexa, que representa um desafio até maior: assegurar a estabilidade e uma recuperação econômica sustentável.

Para isso, o G-20 terá que tomar medidas que previnam uma próxima crise sistêmica. Essa foi a conclusão genérica de um painel realizado no Fórum Econômico Mundial em Davos, coordenado pelo jornalista Michael J. Elliott, editor da revista “Time” e que teve a presença, entre outros, de Tony Clement, ministro da Indústria do Canadá; Cui Tiankai, vice-ministro Relações Exteriores da China; e Mari Elka Pangestu, ministro do Comércio da Indonésia.

O desafio mais sensível é a regulação dos mercados financeiros internacionais, uma prioridade já anunciada pelo presidente francês Nicolas Sarkozy, que preside o grupo este ano.

Houve um consenso na mesa de debates: os líderes do G-20 terão que ser cautelosos em relação à regulação dos mercados financeiros, pesando bem os custos dessa regulação e o potencial destrutivo de suas consequências. Tão importante quanto a regulação deve ser a criação de mecanismos que façam com que o sistema seja resistente a futuras crises, como uma rede de proteção para países vulneráveis a choques externos e fuga de capitais.

Há um entendimento generalizado, contrariando a visão de Roubini, apelidado de “Mr. Catástrofe” por seu pessimismo, de que o G-20 representa um passo gigantesco em termos de governança e cooperação internacionais, embora haja críticas quanto à sua representatividade.

Em particular, há a sensação de que a África deveria estar mais representada no grupo, enquanto a Europa está super-representada.

Também as economias emergentes precisam ter papéis mais afirmativos no FMI e no Banco Mundial, a partir de suas presenças no G-20.

Acima de tudo, diz um resumo do debate no Fórum Econômico Mundial, o G-20 tem que evitar ser um “ clube exclusivo”, encarando os problemas globais que interessem a todos os países, e não apenas aos interesses específicos de seus membros.

De qualquer maneira, o G-20 transformou-se em pouco tempo em um organismo importante e teve um papel fundamental de prevenção na crise financeira de 2008, restaurando um mínimo de senso de estabilidade coordenando uma expansão fiscal sem precedentes de cerca de US$5 trilhões.

O G-20 que reúne as maiores economias do mundo, na definição do embaixador Roberto Abdenur, é mais relevante “e agora se ergue, no complicado esforço de administrar a crise e tentar proceder de maneira consensual a um rearranjo do poder decisório sobre a economia internacional”. Na avaliação de Abdenur, porém, o G-20 comercial surgido há vários anos no seio da OMC, no contexto das negociações da Rodada de Doha para o Desenvolvimento, teve sua importância.

Iniciativa de Brasil e Índia, reuniu 20 países em desenvolvimento, irmanados num objetivo comum: a luta contra os subsídios agrícolas praticados pela UE, EUA e muitos outros países desenvolvidos.

Para além disso, congregava o grupo o sentimento de que a agenda agrícola não poderia ser jogada de lado, como havia ocorrido na Rodada Uruguai.

O G-20 se dividiu quando da apresentação, em meados de 2008, de um pacote de conciliação. O Brasil aceitou a iniciativa, Índia e China se opuseram fortemente, pois, ao contrário do Brasil, têm postura defensiva no que se refere a acesso a seus mercados agrícolas, o que resultou no fracasso das negociações.

Embora volta e meia seja anunciada a retomada das negociações da Rodada Doha, e este ano em Davos não foi diferente, Abdenur diz ironicamente que ela está “em estado de coma meio criogênico, à maneira da tripulação da nave do Avatar. Talvez algum dia volte ao planeta Terra, e se reanime. Mas isso, nas presentes circunstâncias, ainda vai demorar”.

O outro G-20 é aquele que agora reúne o G-7/8 — que sobrevive, dedicado agora a questões da paz e segurança internacionais — e outros 12 países, todos eles emergentes, entre os quais China e Índia, os mesmos que discordaram do Brasil na rodada do G-20 comercial de 2008.

Agora, esses mesmos países estarão discutindo a agenda do presidente francês Nicolas Sarkozy, que prioriza a regulamentação dos mercados financeiros internacionais e também o mercado de commodities, inclusive o de alimentos, e provavelmente estarão unidos novamente para defender seus interesses específicos.

Esse G-20 já existia há alguns anos, reunindo-se, no nível de ministros das Finanças, à sombra do FMI/Banco Mundial. O embaixador Roberto Abdenur localiza na sua origem uma ideia do então influente ministro canadense, Paul Martin.

Abdenur considera que a “revolução”, em termos do reordenamento do sistema decisório, foi a elevação, ainda na Presidência de George W. Bush, do G-20 ao nível de chefes de governo, como uma maneira de encarar os problemas internacionais que estiveram na origem da crise global desatada em fins de 2008.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Alemanha quer colocar ordem na integracao europeia (faz muito bem...)

An Economic Government for the Euro Zone?
PETER MÜLLER, RALF NEUKIRCH, CHRISTIAN REIERMANN, MICHAEL SAUGA, CHRISTOPH SCHULT, ANNE SEITH
Der Spiegel online, 31/01/2011

Merkel's Plan Could Transform the European Union

German Chancellor Angela Merkel wants to stabilize the euro through a "pact for competitiveness" that would force EU members to coordinate their national policies on issues like tax, wages and retirement ages. The plan would transform the EU if it becomes reality, but resistance will be fierce -- including from within Merkel's own governing coalition. By SPIEGEL Staff

It was intended to be a pleasant evening. At their meeting in the German government's guesthouse in Meseberg near Berlin last Tuesday, German Chancellor Angela Merkel and European Commission President José Manuel Barroso had set aside plenty of time to resolve their dispute on how to save the euro. The comfortable fireplace room had been prepared, with sparkling wine and beer ready to be served. Only their closest advisers were allowed to attend.

Barroso began with a correction. The Portuguese politician said reports that he disagreed with the chancellor on the euro rescue fund had been incorrect. He said that he had been misunderstood. Although Merkel had a different impression, she let the matter rest.

She was interested in a productive atmosphere for talks because she wanted to win over Barroso for a far greater plan. It is a plan that has evolved slowly -- Merkel had to warm up to the idea herself -- and she knows that it won't appeal to the head of the Commission. Dubbed the "pact for competitiveness," the plan that Merkel has in mind could permanently change the structure of the European Union.

The idea, which the chancellor conveyed to her guest in English, calls for closer cooperation among the member states of the euro zone. It would entail more closely harmonizing their financial, economic and social policies. Merkel hopes that this would prevent the economies of the euro countries from diverging as much as they have over the past few years. If fully adopted, it would take European cooperation to a whole new level.

A New Merkel

Above all, it would mark the emergence of a new German chancellor. Up until now, Merkel has shown herself to be exceedingly hesitant in dealing with the euro crisis. After all, she has never been a fully committed supporter of the European project. During her early life in communist East Germany, before the fall of the Berlin Wall, Merkel was mainly interested in West Germany and the US, which she regarded with a sense of longing. Yet she didn't lend nearly as much attention to the region that lay between these two countries.

As chancellor, Merkel saw it as her duty to protect Germany's coffers. When the financial crisis erupted in September 2008, she said, during a flight to St. Petersburg, that the Germans would not bail out ailing Irish banks. That set the tone for her approach to crisis management at the time, and also during the current euro crisis. She has had reservations about aid for Greece and hesitations with regard to the European euro rescue fund. When it comes to safeguarding the European common currency, Merkel has always seemed like a politician who reacts, not one who acts.

But now she intends to fundamentally change things. With her plan, the chancellor wants to do more than just go on the offensive politically. She has also set out to rectify the weakness that the former long-serving Commission President Jacques Delors considers a basic "design flaw" in the monetary union: Although there is a common currency in Europe, there is no corresponding common economic policy.

The Merkel pact aims to remedy this shortcoming, at least in part. According to the plan, the euro-zone countries would coordinate their economic policies far more closely in the future, thus playing a leadership role within the entire EU. What Merkel has in mind is essentially nothing other than the "two-speed Europe" that her finance minister, Wolfgang Schäuble, similarly proposed many years ago.

Political U-Turn

Merkel has made a political U-turn that is virtually as dramatic as the change in course made by her predecessor in office, Gerhard Schröder, when he introduced his radical -- and hugely unpopular -- "Agenda 2010" reforms of the labor market and welfare system. Just as Schröder, a member of the center-left Social Democratic Party (SPD), abandoned what he saw as the outmoded social policy positions of the SPD, Merkel has discarded a number of her fundamental convictions about Europe.

Until recently, the chancellor had strictly opposed any closer cooperation among the 17 countries in the euro zone. She wanted to include all 27 EU member states. Her concern was that this would otherwise lead to a union within the Union. Her fear was that countries that are not members of the euro club, such as Poland, could be sidelined.

As recently as May 2009, Merkel said in a speech given at the Humboldt University in Berlin that she would oppose any "divisions in Europe." She went on to say that she was also against "often ill-conceived demands for more intensive coordination of economic policies" in the euro zone.

Now it's a different story altogether. Now Merkel wants to make the center of the current crisis, the euro zone, into the focus of efforts to combat the common currency's woes. That notwithstanding, the pact is intended to be open to all EU countries, not just the members of the euro zone. That's something which is important for Merkel.

Her plan is ready, but there is still discussion about how to make it reality. Barroso told Merkel during last week's meeting in Meseberg that the European Commission wants to direct the process. Merkel, on the other hand, claims this role for herself and the other heads of state and government. There was reportedly a heated discussion concerning this point. "I will not allow the European Commission to be sidelined," Barroso told his aides afterwards. At least Merkel assured him in Meseberg that the Commission would oversee progress toward the plan's goals in the individual countries. She also said that he could attend meetings when the leaders of the euro-zone countries convene in the future.

Plan to Be Presented to EU Leaders This Week
The schedule for the chancellor's plan is as follows: Merkel and French President Nicolas Sarkozy will present the rough outlines of the plan at the EU summit in Brussels this Friday. The proposal is not on the official agenda. The 27 heads of state and government will confidentially and informally discuss the issue over lunch. Then it will primarily be up to Germany and France to hammer out the details of the plan. But other governments will also participate in the process. The plan is to be discussed in detail at the next regularly scheduled EU summit in late March. The chancellor, however, is also considering calling a special summit before then. Sarkozy is Merkel's most important partner on this issue.

The French president has long advocated intensifying cooperation among euro countries. Although he has failed to push through his pet idea of a central bank that would be independent of political control, the so-called competitiveness pact contains many elements of the "economic government" that France has wanted for so long.

In addition to being aimed at EU players, the plan is designed to send a signal to the financial markets. Interest rates for debt-ridden euro countries have been rising for months because investors don't believe that Europe can agree to a joint economic policy. Now this document, which was prepared by the Europe experts in the Chancellery and sent by e-mail to the Foreign, Finance and Economics Ministries (marked high priority), promises a fundamental improvement. According to the paper, the besieged countries have little chance of paying back their debts over the long term if they "do not improve their competitiveness and achieve a higher rate of growth."

To overcome investor mistrust, the authors write that, as well as a stricter stability and growth pact, "financial, economic and social policies need to be more closely coordinated at a national level." Each country has to "adhere to the respective best practices to improve the overall performance of the euro zone."

The improvements made by member countries in these respects are to be assessed using "objective targets" based on verifiable indicators. If all goes well, this will allow the euro countries to ensure that their wage costs do not diverge too strongly in the future, that funding for pension systems remains stable in the long term and that sufficient investments are made for the future. According to the paper, the important thing is to have goals that have "a close objective connection to the issues of competitiveness, growth and sound fiscal policy."

Fast-Tracking Measures

In order to achieve these objectives as quickly as possible, Merkel is seeking support for an immediate program "that will be implemented on the national level within 12 months" (see graphic). This would entail the member countries adapting "the retirement age to demographic trends" and introducing financial policy rules that are modeled after Germany's so-called debt brake (an amendment to Germany's constitution that requires the government to virtually eliminate the structural deficit by 2016). Furthermore, within one year the countries would have to mutually recognize each other's educational and professional qualifications, as well as introducing a standardized means of assessing corporate tax to avoid so-called tax dumping (i.e. when countries try to attract companies by having an artificially low tax rate).

The report goes on to say that the euro countries should commit to goals that are "more ambitious and more binding" than those already agreed upon among the 27 EU members. And to ensure that the member countries deliver on their pledges, sanctions will not be ruled out.

On this point, however, the paper remains rather vague. Nonetheless, the issue of sanctions is key to the whole endeavor. After all, the competitiveness pact is not the first attempt to harmonize economic and financial policies on the continent. Ever since European leaders agreed nearly 20 years ago to create a common currency, they have been trying to coordinate their economic policies. So far, their efforts have been in vain.

Nothing demonstrates this as clearly as the Stability and Growth Pact, which the EU countries agreed to in the mid-1990s. The agreement was designed to ensure that national governments did not amass too many debts. But when Berlin and Paris violated the deficit criteria in 2003, they did not submit to the agreed-upon sanctions. Instead, the two most powerful countries in the EU managed to have the Stability Pact suspended. Thanks to their efforts, it was subsequently watered down.

The story of the so-called Lisbon Strategy was just as disappointing. In 2000, EU leaders meeting in the Portuguese capital resolved to make Europe the world's most competitive economic region. The lofty intention was never implemented, however, because the member states were unwilling to introduce the required reforms.

Sanctions Unclear

Now Merkel is making a new attempt to coordinate the policies of the member states. The pact is designed to complement the so-called "European semester," which the 27 EU leaders already agreed on last September. The process requires that all draft budgets by EU countries be approved by Brussels in the future.

But this alone is not enough to effectively stabilize the euro, at least according to Merkel's analysis of the situation. There is also a need for coordinated tax, wage and social policies that the national states must agree to.

If the chancellor manages to push through her plan, it would send a strong signal that the Europeans are really prepared to pursue a common approach, each in their own area of responsibility. The Commission would ensure that national governments keep their finances in order. The Eurogroup would see to it that its members remain competitive on the global level.

That's the theory. The problem is that Merkel and her strategists face numerous problems in practice. When the experts in the European capitals examine the proposals from Berlin during the coming days, they will raise the questions that often plague European visions: Are the proposals capable of winning majority support? How binding are the agreements? And last but not least: Who will ensure that they are adhered to?

Wishful Thinking
It is primarily the answer to the last question that remains totally unclear. Sources in the German government argue that EU leaders would adhere to the agreed objectives to avoid losing face in front of their colleagues. The experts say that peer pressure would ensure that the pact is a success.

That, to put it bluntly, is wishful thinking. If push comes to shove, national leaders would rather keep their own voters happy than gratify their colleagues in Europe. On the domestic front, it won't be easy to push through the proposals included in the pact.

Even getting EU member states to mutually recognize each others' professional qualifications within the stated timeframe of 12 months would be a significant challenge. But the goal of raising the retirement age within the same period appears totally unrealistic. The heated debates on raising the retirement age in Germany and other countries demonstrated that such a move is hardly possible without political turmoil.

Overly Broad Targets

Things don't look any better on other fronts. Merkel's plan to prevent tax dumping is aimed at countries like Ireland, where the corporate tax rate is a mere 12.5 percent. The question is where legitimate tax competition ends and dumping begins.

According to sources in the German government, these difficulties mean that, on most of the issues involved, no concrete targets will be agreed upon. Instead, there will be a target range for countries to aim at. Since all countries have to agree on these goals, there is a danger that these target ranges will be extremely broad, which would render them virtually ineffective. There are already proposals for how to proceed should the euro-zone countries be unable to agree on common standards. In this case, according to French Finance Minister Christine Lagarde, there would have to be an arbitration process within the euro zone.

Merkel's plan totally fails to address another problem: There is no strategy for how to bolster Europe's shaky banks. Yet it is precisely in this area that the European Commission feels that member states have a responsibility to act. "Wherever necessary, the member states will have to recapitalize, restructure or liquidate banks," reads a strategy paper.

Nevertheless, the chancellor has a good chance of pushing through her plan in Brussels. After all, she has a bargaining chip. Germany will only agree to additional guarantees for the euro rescue fund -- as the Commission and other parties have called for -- if its partners approve its competitiveness pact. The Chancellery estimates that 23 EU countries will go along with it. Denmark and Sweden are said to be on the fence, while the UK and the Czech Republic are reportedly reluctant.

Resistance in Berlin

There may actually be greater resistance to the plan in Berlin than in Brussels. Merkel, who heads the conservative Christian Democratic Union (CDU), still has to win support for her proposals from her coalition partner, the pro-business Free Democratic Party (FDP). Last Wednesday, the chancellor discussed the plan with Finance Minister Wolfgang Schäuble (CDU), Vice Chancellor Guido Westerwelle (FDP) and Economy Minister Rainer Brüderle (FDP). The two FDP politicians appeared reserved.

In principle, they have nothing against closer cooperation within the euro zone, but the campaign against tax dumping is problematic for the FDP. After all, they have been singing the praises of low corporate taxes for years. It certainly wouldn't be easy for Westerwelle to explain to his already disappointed supporters that he now intends to oppose low tax rates for companies. As it is, there is already growing euroskepticism within the FDP's parliamentary group. The week before last, FDP parliamentarians agreed to take a tough stance on the euro rescue fund. The liberals are not prepared to approve further amendments to the fund.

The issue of economic government is just as unpopular. "The FDP doesn't want an economic government, and it won't approve it in the Bundestag," says the party's spokesman on financial issues in the German parliament, Frank Schäffler. "It would not be acceptable for us to be liable (for other countries) and yet have no influence on (those countries') spending," says Volker Wissing, an FDP politician who is the chairman of the Bundestag's finance committee.

Since a deep sense of euroskepticism is shared by many people in the FDP, Merkel is primarily pinning her hopes on there being other opinions within the ranks of the liberals, for example, among FDP representatives in the European Parliament. An internal paper reads that the euro requires "greater harmonization and coordination of national economic and financial policies."

FDP euroskeptics are also under pressure because German industry supports the Merkel plan. "There is no question that we need closer cooperation in the economic sector," says Deutsche Bank CEO Josef Ackermann. "Everything that leads to better coordination makes sense," says Paul Achleitner, who is chief financial officer at the insurance giant Allianz, while Nikolaus von Bomhard, CEO of leading reinsurance company Munich Re, argues that one shouldn't allow oneself to be deterred by "shock words" like economic government.

Power Struggle with France

It remains to be seen, however, whether the competitiveness pact will actually lead to better coordination. It is also very possible that the Germans are about to enter into a prolonged conflict with France. Merkel's plan touches on more than just the economic health of the euro-zone countries. It also concerns the issue of how power is divided between Paris and Berlin.

On a number of occasions, Sarkozy has already tried to create structures within the EU that increase France's political weight. For instance, two-and-a-half years ago he campaigned to establish a "Mediterranean Union" -- an organization with its own institutions, where France would have assumed the leading role. The plan was thwarted thanks to Merkel's veto.

To foil France's ambitions, Merkel long opposed a special role for the euro zone within the broader European Union. But since the onset of the financial crisis, Germany's resistance has been crumbling. At first, Berlin was generally opposed to special summits for the euro-zone countries. Later, the German government agreed to meetings of national leaders in the event of particularly sensitive issues.

Now such summits will be held on a regular basis. Just how often this will occur is something that Merkel and Sarkozy will have to agree to over the coming months. The French president would prefer to have the euro-zone leaders reach agreements ahead of each EU summit. Then the 27 members of the broader EU would, in principle, merely rubber stamp what the 17 euro-zone members had already decided.

Getting a Bigger Say

That would appeal to Sarkozy, as France would have more influence within this small group. EU member states like Poland, the UK and Sweden, which are more closely aligned with Germany on important economic and financial policy questions, would be excluded, as they don't have the euro.

Working within the smaller group would also make it easier for the French to address issues where their views have differed from the Germans for many years, for example, on topics such as trade and industrial policy.

But these are issues that actually concern every member of the EU. Indeed, Merkel has been pushing for every EU member to be allowed to attend the euro summits. She also wants to prevent these events from being held too often. Ideally, she would like the euro meetings to take place after the regular EU summits. Then the euro-zone countries could not make any pre-arrangements that would affect the entire Union.

The European Commission also has its objections. Although the Eurocrats in Brussels are pleased with Merkel's promise to allow them to oversee the decisions of the Eurogroup, they are afraid that they could lose influence over economic policy in the future voting process. "The Commission has the best expertise to guarantee economic and fiscal surveillance," says Marco Buti, the European Commission's director-general for economic and financial affairs. "Moving it to an inter-governmental level would be a mistake."

'We Will Defend the Euro'

But Merkel is not about to let such objections put the brakes on her plan. At the World Economic Forum in Davos last Friday, she made a plug for her plan in front of top business and political leaders from around the world. In order to protect the euro, new approaches must be adopted, she said. Merkel added that nothing less than Europe's position in the world is at stake.

The often hesitant chancellor appeared highly determined. She said the euro was "the embodiment of Europe today." Then she even allowed herself an uncharacteristic touch of pathos. "We will defend the euro," she said. "There can be no doubt about it."

Translated from the German by Paul Cohen

Mercosul vs dragao chines (tem quem espere S.Jorge...)

Interessante este artigo, mas discordo do embaixador Ricupero quando este diz que "a China ocupa mercados destinados em princípio à indústria dos parceiros do Mercosul".
Não existem mercados reservados, num regime aberto como o do GATT, nem parcerias por direito divino. No mundo do comércio, e dos negócios, portanto, vale competitividade, ou seja, preços e qualidade. Ninguém faz caridade com ninguém, ou pelo menos nenhum empresário é maluco ao ponto de atender ao pedido do ex-presidente Lula que recomendava comprar produtos dos países vizinhos mesmo que eles fossem mais caros do que de fornecedores externos. Caridade não existe no mundo dos negócios.
O Mercosul e a indústria dos países membros vai sobreviver na medida em que for competitiva, e o "estrago" chinês se deve, antes de mais nada, a distorções internas, ou seja, tributação excessiva nos processos produtivos domésticos.
Antes de reclamar da China, os países membros deveriam cuidar do próprio quintal.
Paulo Roberto de Almeida

Manipulação da China ameaça os objetivos do Mercosul
Rubens Ricupero
Folha de S.Paulo, segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A visita de Dilma Rousseff à Argentina não será a ocasião para relançar a integração porque mais uma vez não coincidem os ciclos políticos e econômicos dos países.

Do lado brasileiro, o governo começa, enquanto, do outro lado, termina. As políticas econômicas e os resultados em inflação, deficit orçamentário, câmbio e proteção à indústria são contrastantes e difíceis de harmonizar.

Não obstante, o encontro pode ser a oportunidade de reflexão sobre os dilemas do Mercosul, que enfrenta ameaças de fora e de dentro.

De fora, afastado o perigo da Alca, que teria dissolvido o bloco na geleia da integração subordinada aos EUA, o risco provém da China.

A diferença é que, graças à opacidade que lhes permite manipular câmbio, empréstimos e favores tributários para estimular exportações, os chineses não precisam negociar acordos para passar por baixo de qualquer barreira.

O resultado é que a China ocupa mercados destinados em princípio à indústria dos parceiros do Mercosul. A China põe assim em risco o próprio pressuposto da integração: viabilizar a industrialização de cada país graças aos ganhos de escala derivados da soma dos membros.

Sem manufaturas competitivas para exportar, o que resta aos latinos é acentuar o aspecto das economias em que são concorrentes, não complementares: o de exportadores de commodities minerais e agropecuárias.

Na medida em que a China se torna o motor do avanço das exportações para todos, desaparece outro objetivo da integração, que é aumentar o comércio dentro da zona.

A ameaça de dentro se origina da frustração com projeto que estancou.

Após atingir o pico em 1997-98 (17%), o comércio intrazona caiu. As vendas dos parceiros a terceiros se expandem muito mais rápido do que dentro do bloco. Nem o grupo nem o mercado brasileiro se revelaram capazes de proporcionar aos sócios demanda que lhes possibilitasse diversificar e desenvolver as economias.

Diante disso, a Argentina optou pelo unilateralismo: protege seus interesses sem ligar para regras. A resposta do Brasil é contemporizar.

Falta iniciativa para pôr fim aos casuísmos e renovar o conceito da integração.

Será preciso partir de realidade inexistente na fundação do bloco: a China e a acentuação da dependência de Brasil e Argentina das commodities.

Integrar concorrentes na exportação de commodities não faz sentido.A fim de sair do dilema, os dois países terão de, finalmente, enfrentar o desafio da sua persistente falta de competitividade.

Politica fiscal brasileira: construindo a deterioracao...

Dois artigos selecionados pelo economista José Roberto Afonso, especialista na área, um pouco antigos (do final do ano passado), mas ainda plenamente válidos (e como):

Gasto & Pacto (Mansueto Almeida)
Sex, 10 de Dezembro de 2010
Gasto fiscal no Brasil de 1991 a 2009 e o novo pacto social, texto de Mansueto Almeida. Em seu blog, Mansueto comenta que entre 1991 e 2009, o gasto primário do Governo Central (inclusive transferências a estados e municípios) aumentou 13,7% para 22,6% do PIB no Brasil e que de 1970 a 1992, a carga tributária no Brasil flutuava em torno de 25% do PIB e essa carga subiu para cerca de 36% do PIB no período recente. O gasto público em uma sociedade e, consequentemente, o tamanho da carga tributária são decisões políticas que refletem a escolha social do modelo de desenvolvimento de uma determinada economia.
Link: http://bit.ly/htQ391

Regras do Jogo (Jorge Salto)
Sex, 12 de Novembro de 2010
Onde foram parar as regras do jogo fiscal? artigo de Felipe Salto da Tendências Consultoria. Felipe comenta que "Não há, no horizonte para o primeiro ano do próximo governo mudanças na qualidade do gasto público...A manutenção do atual padrão fiscal será, em última análise, a manutenção de um entrave evidente à expansão do potencial de crescimento...Hoje, o que tem ocorrido, com a piora do primário, via aumentos artificiais da receita, autorizações de abatimentos de gastos da meta oficial e elevações do endividamento bruto para conceder crédito a instituições oficiais, contornando o orçamento, é uma deterioração ou, pelo menos, uma mudança de rumos evidente. Ver PDF anexo.
Artigo_fiscal_F.Salto_Tendências_12.11.pdf 116 Kb 7/12/2010

Mercosul perde espaco no comercio dos paises membros

Mercosul perde fatia no comércio dos países sócios
VERENA FORNETTI
Folha de S.Paulo, 31/01/2011

SÃO PAULO - "A realidade mudou, e nós com ela." A frase de Dilma Rousseff, dita ao lançar a candidatura à Presidência, vale para o comércio no Mercosul. Ao longo da década, embora as trocas intrabloco tenha crescido em dólares, acompanhando o dinamismo recente dos sócios, elas perderam participação.

Os parceiros no grupo, que em 1998 compravam 17,36% de tudo o que o Brasil vendia ao exterior, em 2000 adquiriram 14,04% e, no ano passado, 11,19%, segundo o Ministério de Desenvolvimento.

Os números consideram os quatro membros mais antigos. A adesão da Venezuela depende da chancela do Parlamento paraguaio.

As importações brasileiras vindas do grupo também perderam peso. O Mercosul detinha 16,32% das compras do país em 1998, 13,98% em 2000 e 9% no ano passado.

Editoria de Arte/Folhapress


Importações de Argentina, Uruguai e Paraguai dos outros membros da união aduaneira também ficaram menos relevantes no período.

Já as exportações de Uruguai e Argentina para o bloco cresceram, ao passo que as do Paraguai despencaram de 63,44% do total em 2000 para 49,09% no ano passado, até o terceiro trimestre.

O avanço da relação do Mercosul com a Ásia é uma das principais explicações para a perda de participação do comércio intrabloco.

Em estudo publicado no mês passado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, Fernando Ribeiro, da Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior), destaca que as importações vindas do bloco não voltarão a ter papel tão importante para os membros quanto tiveram no passado.

Ele diz que, na Argentina, houve substituição de produtos do Mercosul por itens chineses. No Paraguai, há igual processo. Nos dois casos, equipamentos brasileiros então entre os mais afetados.

La gira de Obama por America Latina - Carlos Malamud

Estados Unidos y América Latina: a propósito de la gira de Obama
CARLOS MALAMUD
INFOLATAM, 31/01/2011

El anuncio de Barack Obama de visitar Brasil, Chile y El Salvador, en marzo próximo, ha levantado demasiada polvareda en América Latina como para no analizar sus repercusiones, al producirse reacciones de distinto tipo. Todo gran amor siempre es conflictivo, o como dice Joaquín Sabina, “yo no quiero contigo ni sin ti”. En América Latina algunos quieren contigo, con EEUU, y otros sin ti, sin ellos, pero todos son enfáticos en sus pronunciamientos. Como ocurre en otras partes del mundo, la visita, o la no visita, según corresponda, fue utilizada internamente para respaldar o atacar al gobierno, según sea la ubicación de cada cual en la escena política de su país.

El primer tipo de reacciones, de satisfacción y alegría, correspondió a aquellos países seleccionados, ya que les permite alardear de su relación privilegiada con EEUU o de su condición de líder regional, caso de Brasil. Esta reacción fue reforzada tras las manifestaciones de destacados portavoces oficiales en Washington que resaltaban las virtudes de los países elegidos, señalados como “aliados previsibles” frente a otros más imprevisibles o díscolos, lo que implicaba una cierta descalificación para quienes habían sido postergados.

La segunda reacción afectó a aquellos países, como Colombia o Perú, con importantes relaciones bilaterales con Estados Unidos, pero que no fueron tocados por su varita mágica. Aquí hubo una doble explicación. Para Perú, y Guatemala, se argumentó que Obama prefiere no inmiscuirse en las elecciones presidenciales de este año. Para Colombia se dijo que el presidente norteamericano viajará a Cartagena de Indias en abril de 2012 a la Cumbre de las Américas, ocasión oportuna para una visita de estado. México podría estar en este grupo, aunque sus relaciones con su vecino del norte son particulares y estrechas, como prueba el reciente encuentro entre el presidente Felipe Calderón y la secretaria de Estado Hillary Clinton.

En el grupo de las terceras reacciones la fingida ignorancia frente al anuncio y un cierto y aparente alivio por la exclusión fueron la nota oficial, especialmente visible en los países del ALBA, que no contemplan un acercamiento significativo a EEUU en las actuales circunstancias y menos como para merecer una visita oficial presidencial. Sin embargo, la más interesante es la cuarta reacción, ejemplificada por el despecho del gobierno argentino, que en declaraciones privadas y algunas oficiales, como las del ministro de Exteriores, Héctor Timerman, mostraron la herida abierta y sangrante.


Lord Palmerston se dirige a la Camara de los Comunes
De una manera categórica el canciller argentino descubrió que EEUU “tiene intereses pero no tienen amigos”: “Con lo de EEUU, algunos se hacen un festín, pero quiero recordar que hubo un presidente radical que fue recibido en la Casa Blanca, le daban préstamos, todo lo que quería. Era Fernando de la Rúa y era muy bien recibido. EEUU tiene intereses, más que amistades”. A mediados del siglo XIX Lord Palmerston ya dijo que “Gran Bretaña no tiene amigos permanentes ni enemigos permanentes, tiene intereses permanentes”, una idea que a comienzos de la segunda década del siglo XXI fue redescubierta en el Río de la Plata.

Pero Timerman fue más allá al rechazar algunas especulaciones que apuntaban como candidato presidencial favorito de la administración Obama al gobernador de la provincia de Buenos Aires, Daniel Scioli, un teórico aliado de Cristina Kirchner pero con vocación de ser el próximo presidente. Timerman concluyó que es imposible que EEUU tenga injerencia electoral en Argentina: “EEUU no tiene ninguna posibilidad de imponer ninguna agenda en la Argentina”. Resulta curioso que un ministro utilice esos argumentos. Sería penoso que ocurriera lo contrario y el hecho de que no ocurra, algo relacionado con la normalidad democrática, no debería enorgullecer a nadie.

En los últimos años hemos oído numerosas voces insistiendo en la idea del abandono de América Latina por EEUU y en una creciente presencia de ciertos actores extrarregionales, comenzando por China y siguiendo por Rusia e Irán, aunque ellos no agoten las opciones en danza. Si bien China tiene un papel importante que cumplir en la región, las reacciones latinoamericanas frente al anuncio de Obama demuestran que la presencia de EEUU en América Latina (política, económica, financiera y también cultural) sigue contando.

China está actuando en América Latina con mucha cautela y procurando no enfrentarse con EEUU por cuanto allí ocurra. Para el gobierno chino y sus empresas las materias primas latinoamericanas son importantes, lo mismo que el mercado regional para sus exportaciones. Pero tanto para su economía como para su presencia en el mundo globalizado EEUU es mucho más importante, y por eso los chinos priorizan claramente sus intereses. Porque, glosando al canciller Timerman, China “tiene intereses pero no tiene amigos”. Y en cuestión de intereses, para los latinoamericanos sigue claro que EEUU sigue contando. Y mucho. Otra cosa es que lo quieran reconocer.

CARLOS MALAMUD
Catedrático de Historia de América de la Universidad Nacional de Educación a Distancia (UNED), de España e Investigador Principal para América Latina y la Comunidad Iberoamericana del Real Instituto Elcano de Estudios Internacionales y Estratégicos. Ha sido investigador visitante en el Saint Antony´s College de la Universidad de Oxford y en la Universidad Torcuato Di Tella de Buenos Aires y ha estado en posesión de la Cátedra Corona de la Universidad de los Andes, de Bogotá. Entre 1986 y 2002 ha dirigido el programa de América Latina del Instituto Universitario Ortega y Gasset, del que ha sido su subdirector. Actualmente compatibiliza su trabajo de historiador con el de analista político y de relaciones internacionales de América Latina. Ha escrito numerosos libros y artículos de historia latinoamericana. Colabora frecuentemente en prensa escrita, radio y TV y es responsable de la sección de América Latina de la Revista de Libros.

Diplomacia brasileira: revisao com consulta as bases...

Nada mais natural essa metodologia, que já foi aliás seguida em administrações passadas. Apenas pessoas auto-suficientes, o que não quer dizer alto-suficientes, são capazes de seguir determinações cegas de um partido, impondo essas diretrizes externas à Casa aos subordinados internos, considerados simples piões de um jogo pré-determinado.
Paulo Roberto de Almeida

Itamaraty consulta diplomatas sobre nova política
Jamil Chade
O Estado de S.Paulo, 31 de janeiro de 2011

Ministro Antônio Patriota encaminhou a embaixadores pedido de reavaliação das relações do Brasil com EUA, Irã e regimes autoritários

Por ordem do ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, os principais departamentos do Itamaraty, as embaixadas e a missão do Brasil na Organização das Nações Unidas preparam uma reavaliação da política externa brasileira. Esse trabalho, com conclusão prevista para março, tratará de temas como os direitos humanos em países de regimes autoritários, o papel do Brasil nas questões relacionadas ao Irã e o relacionamento com os Estados Unidos.

O Estado obteve informações sobre o despacho confidencial enviado por Patriota aos diplomatas brasileiros com representantes do País na Europa e no Oriente Médio. Essa ordem teria partido depois de uma conversa entre o ministro e a presidente Dilma Rousseff, que já fez declarações na contramão de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, em relação à condenação da iraniana Sakineh Ashtiani. Para Dilma, os direitos humanos não são negociáveis.

Com esse levantamento, avaliam os diplomatas ouvidos pela reportagem, a política externa brasileira daria mais relevância a princípios e valores defendidos domesticamente no Brasil que teriam sido deixados de lado nos últimos anos, além de repensar a relação bilateral com uma série de países.

A gestão do ex-chanceler Celso Amorim no Itamaraty promoveu uma aproximação inédita com o Oriente Médio e a África. Se, por um lado, essa política trouxe benefícios comerciais - como a multiplicação por dez nas trocas do Brasil com o Egito ou o movimento de US$ 2 bilhões anuais com o Irã -, por outro não faltaram críticas à posição do País de não reprovar publicamente violações de direitos humanos cometidos por regimes autoritários.

Uma das críticas mais duras ao Brasil - que cobiça um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU - veio da Anistia Internacional. "O problema é que, nesse caminho, o Brasil parece ter se esquecido de seus próprios valores internos, do fato de ser uma democracia e de ter lutado contra uma ditadura", afirmou a entidade em nota.

No despacho confidencial, Patriota pediu avaliação completa sobre o status da relação do Brasil com o Irã e quais pontos devem passar por alguma modificação. O País deve manter sua posição de que os emergentes têm direito a desenvolver tecnologia nuclear, mas tende a admitir que o processo negociador com os iranianos não tem surtido o resultado esperado. Nesse cenário também estão em discussão questões relacionadas a violações de direitos humanos no regime dos aiatolás.

Estados Unidos. Para completar, a revisão da política externa tocará em outro tema delicado: a imagem de que haveria um sentimento antiamericano permeando a diplomacia brasileira. anos. Telegramas da embaixada dos Estados Unidos em Brasília revelados pela organização WikiLeaks demonstraram preocupação por parte dos diplomatas americanos nesse sentido.

Ex-embaixador do Brasil em Washington, Patriota vê com mais otimismo uma maior cooperação entre a Casa Branca e o Palácio do Planalto. Em março, o presidente dos EUA, Barack Obama viajará para o Brasil e o ministro já gostaria de dar sinais dessa reavaliação da diplomacia do País nessa viagem.

O QUE DEVE MUDAR
Regimes autoritários
Depois de fazer vista grossa para violações de direitos humanos, o País deve adotar tom crítico em relação a governos não democráticos, principalmente na África e no Oriente Médio.

Armas nucleares
O Brasil manterá a posição de que países emergentes têm o direito de desenvolver programas de tecnologia nuclear, mas tende a reavaliar a opção de buscar apenas o caminho da negociação com o Irã para evitar o desenvolvimento de bombas.

Relações com os EUA
Nos últimos anos, Brasil e Estados Unidos divergiram em diversos temas no cenário internacional. A tendência agora é de mais diálogo e alinhamento da política externa dos dois países.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Apostasia no Islam: um crime passivel de morte

Como (hipoteticamente) católico, protestante, evangélico, enfim, cristão, tenho plena liberdade para trocar de religião, ou até para abjurar e ofender Deus (ou deus, como quiserem). Posso ser um iconoclasta, um ateu convicto e militante, ou um simples irreligioso, indiferente às religiões, a qualquer religião, oficial ou não. Nada disso me causa perigo de morte na maior parte dos países. Posso proclamar isso abertamente, sem temer pela minha vida.
Não, porém, se eu fosse muçulmano e vivesse num país islâmico que faz da lei corânica a base do sistema judiciário. No Afeganistão, na Arábia Saudita, no Irã, três países completamente diferentes em matéria de seitas religiosas, eu poderia ser condenado à morte por apostasia, impiedade, por simplesmente renunciar à religião muçulmana.
Este não é um direito de alguém que "nasceu" muçulmano (uma óbvia falsidade, mas vale simplesmente a religião dos pais, preferencialmente a do pai, pois mesmo uma não muçulmana deve educar seus filhos como muçulmanos, se o pai o for), pois ele JAMAIS teria o direito ou a faculdade de mudar de religião, mesmo se fosse para uma das grandes religões monoteistas que o Islã reconhece, o judaísmo e o cristianismo. Menos ainda o direito de abandonar simplesmente a religião, já não digo virar ateu, mas simplesmente laico, irreligioso. Isso não existe.
Trata-se de ofensa grave, punível com a morte.
Não é preciso lembrar aqui a fatwa que até hoje, depois de proclamada contra o escritor indiano (ex-muçulmano) Salman Rushdie pelo Aiatollah Ruholla Khomeiny, vigora e está sempre sustentando qualquer muçulmano piedoso que se disponho a matá-lo por seu livro "Versos Satânicos" (no qual se faz uma alegoria com as mulheres do profeta Maomé).
Esta mulher, entrevistada por Thais Oyama nas Páginas Amarelas da Veja desta semana arrisca-se ser simplesmente assassinada por um devoto muçulmano, que seria distinguido e homenageado em seu país de origem por cometer um ato de "respeito a Allah".
Não é alucinante? Mas esta é a realidade...
Paulo Roberto de Almeida

Páginas Amarelas
"Eu renunciei ao Islã"
Entrevista: Mina Ahadi
Revista Veja, edição 2202, ano 44, n. 5, 2 de fevereiro de 2011


A iraniana Mina Ahadi mora há catorze anos na Alemanha, mas pouquíssimos amigos sabem exatamente onde. Desde que ela criou o Conselho de Ex-Muçulmanos, entidade de apoio a pessoas que abdicaram da fé islâmica, passou a receber ameaças de morte que a obrigam a viver quase reclusa. Renunciar ao Islã é considerado entre muçulmanos uma ofensa grave, punível com pena de morte em países como o Irã, que Mina foi obrigada a deixar depois que os aiatolás tomaram o poder, em 1979. Então uma líder estudantil, ela foi perseguida pela Guarda Revolucionária, teve o marido executado e sua cabeça posta a prêmio. Conseguiu asilo político na Áustria e depois se mudou para a Alemanha, onde hoje chefia os Comitês contra a Execução e o Apedrejamento. Mina Ahadi falou a VEJA em um hotel em Colônia.

A senhora foi uma das pessoas que mais lutaram para que Sakineh Ashtiani - acusada de adultério e, mais tarde, de participação na morte do marido - não fosse executada por apedrejamento. Como se sentiu ao ouvi-la dizer em entrevista à televisão estatal: “Mina Ahadi, afaste-se de mim, não é da sua conta se eu sou uma pecadora”?
Sei que Sakineh está sob pressão e foi forçada a dizer isso para se salvar. Isso não me incomoda. Também seu filho foi obrigado a declarar diante das câmeras que acredita na culpa da mãe. Mas eu penso que Ahmadinejad (o ditador iraniano Mahmoud Ahmadinejad) vai precisar de outra vítima para demonstrar a sua força. Sakineh já está salva. Por quê? Graças à repercussão que o caso alcançou, o regime não pode mais executá-la - nem pública nem clandestinamente. O governo já está convencido disso. Apenas busca achar um meio de não sair desmoralizado do episódio. Todo esse processo, no fim, foi bom para o Irã. Chamou a atenção do mundo para a barbárie do regime. Antes do caso Sakineh, a preocupação dos países em relação ao Irã se limitava à questão nuclear.

(…)
Execuções públicas são freqüentes em Teerã?
Não. Fazia muito tempo que isso não ocorria. Trata-se, claramente, de uma nova tática do regime para infundir o terror na população. As prisões estão lotadas. Há, inclusive, crianças e adolescentes aguardando fazer 18 anos para ser executados. Praticamente todos os dias eu recebo chamadas de condenados me pedindo ajuda.
(…)
A senhora pode descrever uma execução por apedrejamento?
Ela acontece em geral ao amanhecer. A pessoa condenada tem as mãos amarradas nas costas e é envolta em uma mortalha branca. Fica totalmente embrulhada nesse pano, o rosto também. Então, é colocada de pé num buraco fundo e coberta de terra até o peito, no caso das mulheres, e até a cintura, no caso dos homens. Dependendo da condenação, é o juiz quem atira a primeira pedra. Mas pode ser também uma das testemunhas. Se a vítima é uma mulher sentenciada por adultério, por exemplo, tanto o seu marido quanto a família dele podem lançar as primeiras pedras. A lei diz que elas têm de ser grandes o suficiente para machucar a vítima, mas não para matá-la no primeiro ou segundo golpe.
(…)
A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, posicionou-se publicamente contra a prática do apedrejamento, que classificou de barbárie. Qual a expectativa que a senhora tem desse novo governo?
O que eu espero da presidente Dilma é que ela faca o que seu antecessor não fez: que condene a situação dos direitos humanos no Irã e se recuse a manter relações diplomáticas com um regime assassino como o de Ahmadinejad, a quem Lula chamava de “amigo”.
(…)
Aqui, na Alemanha, a senhora criou um comitê para muçulmanos que renunciaram à fé islâmica, o que lhe rende ameaças de morte até hoje. O que a motivou a fazer isso?
Acredito que, como eu, muitos imigrantes de países muçulmanos vieram para cá em busca de uma vida melhor, o que inclui mais liberdade. E essas pessoas não precisam estar fadadas a viver em uma sociedade paralela, em que as crianças não podem ter amigos de outro sexo ou freqüentar aulas de natação por causa de uma religião na qual, eventualmente, elas não acreditam mais. O que nós queremos é romper esse tabu, é apoiar as pessoas na decisão de libertar-se desse Islã que se voltou contra os muçulmanos.

A senhora se considera uma ex-muçulmana?
Sim, desde os 15 anos, quando deixei de fazer minhas preces. Nas últimas décadas, em muitos lugares, o islamismo tornou-se uma ferramenta de manipulação política, e não uma religião restrita à esfera privada. Há muito tempo esse Islã deixou de fazer sentido. Hoje, para mim, ele significa apenas barbárie e crueldade.