O farol brasileiro Sergio Leo Valor Economico, 12 de Setembro de 2011 - |
"A America foi alvo de ataque porque somos o mais brilhante farol para liberdade e oportunidade no mundo", discursava, há dez anos e um dia, em cadeia nacional de TV, um atônito George Bush, para a população dos Estados Unidos, traumatizada com o atentado terrorista que derrubou as torres do World Trade Center e matou quase três mil pessoas. O trauma e a bandeira da liberdade e democracia seriam sequestrados pelo governo Bush, em seguida, para servir a outros propósitos, como a derrubada de Saddam Hussein, no Iraque, que nada tinha a ver com o atentado às torres gêmeas. Mas há pelo menos uma importante lição de política externa para o Brasil nesse episódio.
Bush não estava apenas ensaiando uma resposta retórica. Em meio à perplexidade mundial, apelou a um importante mito de formação da sociedade americana, de contornos religiosos: a condição excepcional de farol moral para o mundo. A crença no excepcionalismo dos EUA é real, não hipocrisia em defesa de interesses inconfessáveis e bem materiais - ainda que, a pretexto da luta pela democracia, suspeitos de terrorismo tenham até sido enviados por órgãos de inteligência americanos à Líbia, para interrogatório nas masmorras de Muamar Gaddafi, como se soube após a queda do ditador africano.Mesmo o mais duro realismo geopolítico em Washington busca nesse mito positivo as justificativas para ação. Os valores morais são uma referência para a sociedade americana julgar o sucesso de sua política externa. O povo americano apoiou a guerra no Iraque não pelos lucros que traria à Halliburton ou por considerações sobre o xadrez político da região, mas pela convicção de que estaria combatendo uma ameaça à paz e democracia no mundo. No Brasil, as opções da diplomacia não consolidam apoio Implicitamente, a presidente Dilma Rousseff reconheceu a força desse argumento idealista, quando cobrou dos diplomatas, em seu governo, uma ação menos ambígua do Brasil na defesa dos direitos humanos. A tentativa de dissipar ambiguidades foi atropelada, porém, pela complexidade das questões em que o Brasil se envolveu, na busca de um papel mais importante no jogo mundial de poder. Por muito tempo, o governo brasileiro recorreu principalmente a argumentos pragmáticos quando questionado sobre sua ação internacional. O Mercosul e a aparente leniência com a hostilidade de governos vizinhos, como a Argentina protecionista, por exemplo, são defendidos com a lembrança dos crescentes saldos comerciais mantidos pelo Brasil em sua relação com os países da América do Sul. Não faz muito tempo, os mercados africanos em expansão eram apontados como uma das principais justificativas para viagens presidenciais e abertura de embaixadas na África. Esses argumentos perderam o apelo, porém, com o incômodo revelado pelos países vizinhos em relação ao expansionismo brasileiro no continente, e com a emergências de casos exemplares de desrespeitos aos direitos humanos em países como Líbia e Síria. O Brasil não consegue se eximir de cobranças pela atuação nas Nações Unidas agitando a lembrança de que há um padrão duplo na ação dos países desenvolvidos, que fecham olhos para violações de aliados como a Arábia Saudita - onde, como lembra o ditador sírio, Bashar al-Assad, as mulheres sofrem opressão não vista na Síria mais ocidentalizada. É evidente a ação do Planalto na vacilação do Itamaraty em condenar mais severamente o ditador Gaddafi, em queda. A falta de pronunciamentos mais veementes no caso líbio não se explica sem uma disposição explícita da presidente Dilma Rousseff em fixar limites, nesse caso, ao compromisso oficial com os direitos humanos. É de se imaginar, ainda, a influência de empresas brasileiras com interesses no país de Gadaffi. Na busca por um papel mais ativo nas Nações Unidas, o Brasil não é o único a contrariar potências ocidentais. A Índia, por exemplo, aparentemente interessada em reatar laços com o Irã, com quem tem fortes laços comerciais, e preocupada em não perturbar sua grande população de credo muçulmano, tem se aliado a China, Rússia, Brasil e África do Sul na resistência contra a pressão para a saída de Assad, vinda de França e Estados Unidos. Já Rússia e China não precisam conquistar apoio interno para defender Assad. O Brasil tem recorrido à tradição diplomática de respeito à soberania e à autonomia dos países. Também argumenta que a intervenção armada não garante a paz para a população; pode ser o contrário, como mostra o exemplo do Afeganistão. A solução de conflitos pela via diplomática é outro dos discursos orientadores da ação diplomática brasileira. Diferentemente da simplicidade do mito do excepcionalismo americano, porém, nenhuma dessas narrativas tem se mostrado capaz de consolidar apoio interno para a diplomacia brasileira, criticada pela falta de atitudes mais firmes em casos tão distintos quando a crise política na Síria ou as ações de países sul-americanos contrárias a interesses privados. Sergio Leo é repórter especial e escreve às segundas-feiras Fonte: Valor Econômico |
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
O farol brasileiro da liberdade? - Sergio Leo (VE)
Brasil cai 20 pontos no ranking de infraestrutura - WEF
Paulo Roberto de Almeida
Renée Pereira
Estado de S.Paulo, 11.09.2011
A qualidade da infraestrutura brasileira piorou em relação ao resto do mundo pelo segundo ano consecutivo. Desta vez, no entanto, o País despencou 20 posições no ranking global de competitividade do Fórum Econômico Mundial, de 84º para 104º lugar. Em 2010, já havia perdido três colocações por causa da lentidão do governo para tirar projetos importantes do papel.A tendência não é nada animadora.
Na avaliação de especialistas, com a paralisia verificada em algumas áreas este ano a situação tende a piorar. É o caso da malha rodoviária. No ranking mundial, elaborado com base na opinião de cerca de 200 empresários nacionais e estrangeiros, a qualidade das estradas brasileiras caiu 13 posições e está entre as 25 piores estruturas dos 142 países analisados.
A preocupação é que, depois dos escândalos de corrupção no Ministério dos Transportes, muitas obras estão paralisadas. Segundo dados do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), foram suspensos 41 editais, que estão sendo liberados de acordo com a prioridade do ministério. O órgão destaca, entretanto, que esses processos estavam em diferentes estágios, alguns na fase anterior à abertura das propostas. Apesar disso, afirma que conseguiu executar R$ 1,2 bilhão em agosto. Mas será preciso bem mais energia para melhorar a posição no ranking mundial, avalia o consultor para logística e infraestrutura da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Luiz Antonio Fayet.
Quando o bom senso vai prevalecer? Na area educacional vai demorar mais uns 20 ou 30 anos..
Não tenho nenhuma ilusão quanto à educação no Brasil: NÃO EXISTE NENHUM RISCO DE MELHORAR NOS PRÓXIMOS VINTE ANOS, se não mais.
Para melhorar, seria preciso que as pessoas -- MEC, pais, professores, pedagogas, alunos -- tomassem consciência do que está errado -- e TUDO está errado -- e começassem a corrigir agora para que dentro de 15 ou 20 anos a coisa pudesse melhorar um pouquinho, a partir da formação de uma nova carreira de professores, não influenciados pela pedagogia freireana - o que me parece impossível atualmente -- e baseados no mérito individual (e remuneração diferenciada, sem estabilidade), com o que teríamos, talvez, eventualmente, hipoteticamente, uma educação um pouquinho melhor do que o lixo que temos atualmente.
Isso não existe e não vai existir, não existe nenhum risco de que isso ocorra.
Basta ver a mentalidade debilóide desse líder de "oposição de esquerda" à UNE para saber que estamos afundando rapidamente em direção à mais completa mediocridade, e que vamos continuar afundando pelos anos à frente, até perder de vista.
Sinto muito pelos que me lêem, e que tem de confiar os seus filhos às escolas brasileiras (quaisquer, privadas ou públicas); vocês vão ter a debilidade mental constituída em sistema. Com isso não quero ofender todos os professores. Sei que existem os bons, e os que se desesperam com a situação falimentar da educação brasileira, e que até gostariam que fosse diferente, liberta das máfias sindicais e dos debilóides freirenos do MEC, mas isso não vai ocorrer.
Sinto muito mesmo. Espero que dentro de 20 anos, com muita decadência brasileira, e com base nos "profetas do apocalipse" (como este que aqui escreve), as pessoas consigam tomar consciência de que a educação brasileira é muito pior, mas muito pior do que eles conseguem imaginar, e comecem, portanto, o trabalho de reconstrução. Mas acho que vai demorar.
Sinto muito pelos contemporâneos, vocês não verão uma educação decente no Brasil nos próximos 20 anos. Lamento.
Paulo Roberto de Almeida
Unir os sotaques em luta: a juventude em movimento
Por Rodolfo Mohr *
Exatamente antes de Tokarski, apresentei o que seria o nosso único compromisso com o governo: seguir ocupando reitorias, trancando escolas e realizando passeatas por todo o Brasil. Nossa pauta: 10% do PIB para Educação para garantir as urgentes demandas das educação brasileira em todos os níveis.
Ainda disse que vamos enfrentar o governo, que novamente apresenta o orçamento da união com quase 50% dos recursos destinados para o pagamento da dívida pública, eufemismo para a bolsa-banqueiro. A educação segue com cerca de 5%. Evidentemente Dilma e os ministros Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência da República) e Fernando Haddad (Educação) não gostaram nada do que ouviram, o descontentamento estava explícito.
Antes e depois dessa reunião, mobilizações estouraram por todo o país contra o projeto educacional do governo petista. Além de insuficiente, o REUNI não foi cumprido na integralidade. De fato se consumaram as críticas de 2007, ano do decreto que instituiu a expansão, de que não se podia duplicar as vagas nas universidades públicas com apenas R$ 2 bilhões de reais.
Das capitais ao Brasil profundo: de Santa Maria-RS a Teresina
No dia seguinte a reunião, 1º de setembro, a Reitoria da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) foi ocupada pelo movimento estudantil. Melhorias para o Hospital Universitário de Santa Maria, concurso público para professores e servidores para diversos cursos, mais recursos para Assistência Estudantil – reformas das Casas de Estudante em Santa Maria e ampliação das moradias em Frederico Westphalen, o direito de 3 refeições diárias no Restaurante Universitário, além de diversas pautas específicas e gerais que retratam o descaso com a Educação Pública. Já são 8 dias de ocupação.
A ampliação promovida nas Universidades federais estava mais vinculada à produção de estatísticas para a campanha de Dilma Presidente do que com o atendimento da demanda da juventude brasileira de acesso à educação pública, gratuita e de qualidade.
Na semana seguinte a reunião com a Presidente, ocorreu uma importante rebelião estudantil e popular em Teresina no Piauí. O prefeito Elmano Férrer (PTB) propôs aumento da tarifa de ônibus de R$ 1,90 para R$ 2,10. A primeira manifestação contrária juntou 200 estudantes e foi duramente reprimida pela tropa de choque da Polícia Militar com spray de pimenta e tiros de bala de borracha. A indignação cresceu e durante cinco dias a população mobilizada, nos últimos juntos cerca de 15 mil pessoas, incendiaram ônibus e barraram o aumento. O prefeito voltou atrás e congelou o preço por 30 dias, prorrogáveis por mais 30. Essa primeira vitória, mesmo parcial, é um marco crucial. Lutas contra os aumentos das tarifas de ônibus ocorreram em todo o país. Em São Paulo, durante dez semanas consecutivas, ocorreram manifestações na Avenida Paulista, de janeiro a março. Porém, somente em Belém havia se obtido vitória como em Teresina.
Durante o mês de agosto, a UFPR protagonizou a única greve geral na federais. Técnico, professores e estudantes passaram quatro semanas mobilizados por uma série pautas semelhantes as da UFSM e do conjunto das mobilizações. Diversas assembleias e trancaços, culminaram com ocupação da Reitoria e a vitória da queda de braço com a Reitoria. Conquistaram construção de moradia estudantil nos três campi da UFPR, aumento de 20% do valor das bolsas-auxílio e 50% de aumento da quantidade de bolsas, bem como o atendimento do Restaurante Universitário todos os dias da semana, incluindo os finais de semana.
Em Niterói, a Reitoria da UFF foi ocupada duas vezes, em 15 dias, pelo movimento estudantil, encabeçados pelo DCE e pela Oposição de Esquerda da UNE. Na primeira vez foram retirados pela polícia através de uma reintegração de posse. Reocuparam dias depois, obrigando a Reitoria a negociar as pautas. Após seis dias conquistaram quase a totalidade das pautas, semelhantes as da UFSM com o acréscimo de questões específicas. A força da mobilização promoveu uma das ocupações de reitoria mais vitoriosas desde a queda de Thimothy da UnB.
15 de outubro: retomar as barracas e ocupar as praças
No Brasil real cresce a indignação com a precarização da vida, a inflação, o endividamento das famílias e as lutas por educação, transporte e moradia. Menos de 9 meses de governo foram suficientes para mostrar que a suposta “apatia” dos brasileiros está dando lugar a uma crescente mobilização. Começou em Jirau nas obras do PAC, passou pelos bombeiros do Rio e pelas lutas da passagem dos ônibus, chegando as Reitorias ocupadas. UFPR, com greve geral das 3 categorias, UFSC, UFF, UFSM, Instituto Federal de Ensino Tecnológico da Bahia. A greve dos técnico-administrativos das Universidades Federais, já com cem dias, escancarou o descaso com esta categoria. Além da escandalosa absolvição de Jaqueline Roriz, que beneficiada pelo voto secreto não foi cassada na Câmara dos Deputados, numa articulação feita pela base aliada de Dilma.
Devemos unir todas as lutas brasileiras e internacionais. Este é o chamado que fez a plataforma Democracia Real Ya da Espanha. Propuseram o dia 15 de outubro como o Dia Mundial de Acampamentos de Praças por Democracia Real. Atendemos no Brasil esta convocatória entusiasmados com a possibilidade de ocupar praças em cinco continentes. Infelizmente, não há praças a serem ocupadas na Antártida.
Democracia Real se converteu em uma pauta que congrega todas as nossas bandeiras econômicas e políticas. Chega de privilégios para os banqueiros e políticos, chega de corrupção, basta de miséria e descaso. É necessário que se ampliem os meios de participação da população em todas as decisões fundamentais do seus países. Para os espanhóis contra o bipartidarismo, para os chilenos que querem educação pública, gratuita e de qualidade e para nós brasileiros tão longe dos nossos direitos.
* Rodolfo Mohr é Diretor de Movimentos Sociais da Executiva da UNE pela oposição de esquerda. Estuda jornalismo na UFRGS e é do Juntos.
domingo, 11 de setembro de 2011
Quando a verdade vai prevalecer? dificil na atual conjuntura
O principal personagem diz que "nunca soube de nada".
Quando é que os brasileiros vão parar de serem chamados de idiotas?
Quando é que os cidadãos vão se revoltar contra a mentira deslavada?
Leio isto na imprensa:
"[Marcos] Valério já confidenciou a pessoas próximas que guarda documentos que mostrariam [o condicional é habitual na imprensa, como o tal de "suposto"; deve-se ler no sentido positivo, afirmativo] o envolvimento direto dele com o ex-presidente" [Lula].
Termina assim a matéria: "Resta saber se Lula e o PT pagarão para ver."
Pois é: quando é que vai terminar a ingenuidade da Justiça (que vai liberar quase todo mundo graúdo, podem registrar) e quando é que vai terminar a tolerância da sociedade.
O Brasil, por vezes, chega a me dar nojo...
Paulo Roberto de Almeida
Quando vai cair o proximo ministro? Parou a limpeza?
Terminou a fase da "faxina"? (um nome impróprio para o que é apenas uma dedetização)
Acho que ainda tem uns cinco ministros (por baixo) para empacotarem seus pertences e bye-be...
Paulo Roberto de Almeida
Breno Costa
Folha de S. Paulo, 11/09/2011
Esperteza chinesa - Suely Caldas (nao estou de acordo)
Os chineses são oportunistas comerciais, manipuladores cambiais?
Certamente.
Mas os problemas brasileiros não se devem à "concorrência predatória" dos chineses, como querem nos fazer acreditar as autoridades comerciais (e todas as outras) e daí atribuir os problemas brasileiras a essa concorrência desleal e, a partir daí, adotar medidas protecionistas, quando os INIMIGOS DOS EMPRESÁRIOS brasileiros não estão lá fora, e sim aqui dentro.
Basta ver a carga fiscal, as dificuldades burocráticas, as ineficiências logísticas, as miséria da infraestrutura, enfim tudo aquilo que já foi chamado de "custo Brasil", para constatar que os INIMIGOS ESTÃO AQUI DENTRO, E ELE SE CHAMA ESTADO BRASILEIRO.
Quando é que empresários e jornalistas vão tomar consciência disso.
Basta isso. O resto é conversa fiada.
Paulo Roberto de Almeida
A esperteza chinesa
Suely Caldas
O Estado de S.Paulo, 11 de setembro de 2011
Em discurso transmitido pela TV na véspera do Dia da Independência, a presidente Dilma Rousseff avisou em tom duro e afirmativo, de quem não quer deixar nenhuma dúvida: "Não vamos permitir ataques às nossas indústrias e aos nossos empregos e não vamos permitir jamais que artigos estrangeiros venham concorrer, de forma desleal, com nossos produtos". Empresários industriais aplaudiram. Em seguida ela prometeu: "Vamos ampliar e defender o mercado interno". Mais aplausos.
Divulgado dois dias antes, o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre comprovou uma desaceleração não esperada da produção industrial no País. Em compensação, as importações de bens de consumo cresceram 30,9% até agosto e os automóveis, com expansão de 44,4%, foram o item que mais pesou. Será que o aumento do consumo das famílias, detectado na pesquisa do PIB, vem sendo alimentado pelas importações? O economista Paulo Levy, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), é um dos que acreditam nisso. "O repique do segundo trimestre pode refletir um comportamento indesejado da demanda", analisou, ao observar que produtos importados estão suprindo o aumento do consumo.
O governo quer agir, impedir que se espalhe por outros setores industriais a "invasão" de importados até agora restrita. Mas sustenta que vai fazer tudo "dentro da lei", das regras permitidas pela Organização Mundial do Comércio (OMC), e não vai apelar para artifícios de barreiras comerciais, tributárias e outras práticas protecionistas. Se assim for, parece não haver risco de um retrocesso inimaginável de voltar a fechar a economia ao exterior num mundo tão globalizado. Foi o que garantiu o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Alessandro Teixeira, na última quinta-feira, ao correspondente do Estado em Genebra, Jamil Chade.
Se quer perseguir tal objetivo, a presidente precisa apontar para dois alvos: dar maior agilidade e eficiência ao funcionamento do nosso sistema de defesa comercial e, dentro dele, conceber tratamento mais duro para produtos originários da China, que aqui chegam a preços imbatíveis na concorrência com similares nacionais. O yuan desvalorizado, os baixos salários dos trabalhadores chineses e a triangulação com a Argentina para se livrar do imposto de importação são algumas das razões que tornam o produto chinês mais barato do que o nacional.
A China é, hoje, o maior parceiro comercial do Brasil. Entre janeiro e julho deste ano, nossas exportações cresceram 46% em relação ao mesmo período de 2010, somando US$ 24,436 bilhões. Embora o saldo - de US$ 6,748 bilhões - seja favorável ao Brasil, não há diversificação da pauta e 80% das nossas exportações estão concentradas em apenas três produtos: minério de ferro, petróleo e soja. São commodities que a China necessita para viver, alimentar-se, desenvolver sua indústria e gerar seus empregos. Aqui, ela não compra produtos industrializados com maior valor agregado. Mas, na direção contrária, os produtos chineses que chegam ao Brasil são manufaturas de alto padrão, como televisores, telefones e telas de LCD, de elevado valor agregado.
São anêmicos os resultados de entendimentos diplomáticos para a China passar a produzir aqui os produtos que exporta. Na visita que a presidente Dilma Rousseff fez a Pequim, em abril, ela assinou 20 acordos bilaterais e promessas de abertura de uma fábrica de soja na Bahia, outra de equipamentos de informação em Goiás e o polêmico investimento de US$ 20 bilhões da Foxconn, empresa que atua na montagem de produtos eletrônicos para as marcas Apple e Sony e que é conhecida mundialmente pelos inúmeros suicídios cometidos por seus empregados chineses. Até agora são projetos em estudo, promessas, nada de concreto.
Fragilidades. Enquanto os investimentos não chegam, as manufaturas chinesas chegam, questionadas por concorrentes nacionais que denunciam "práticas desleais" de comércio. Do total de 140 processos antidumping abertos pelo Brasil, desde 1980, 35% são contra a China. Na terça-feira passada, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) anunciou aumento, para 35%, da tarifa de importação para sete produtos, dos quais cinco originários da China, entre eles porcelanatos, pneus e bicicletas.
Apesar disso, a fragilidade do sistema de defesa comercial do Brasil impede uma reação mais eficaz contra o comércio desleal. Estudo da professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Vera Thorstensen, ex-assessora da missão do Brasil na OMC, concluiu que, enquanto a Índia "não se esquiva" de se defender, o Brasil parece ter "politizado" sua defesa contra a China, temendo ferir suscetibilidades de seu maior parceiro comercial. Queixas da indústria nacional não faltam, mas os instrumentos de defesa (direitos compensatórios, antidumping, sobretaxas), além de tímidos, tornam-se ineficazes diante do yuan desvalorizado e do real apreciado, destaca a professora Vera.
Ela cita dados do Banco Mundial para comparar: de 820 investigações abertas contra a China no mundo, entre 1980 e 2010, os EUA lideram com 157; a Índia tem 133; a União Europeia, 130; e o Brasil tem apenas 47, atrás da Argentina e do México.
Diante de uma crise com expectativa de longa estagnação econômica nos países ricos e retração do comércio mundial, a presidente Dilma Rousseff quer, agora, impor maior agressividade na defesa comercial. Terá de derrotar as resistências políticas no governo e passar a tratar a China como parceiro comercial normal, e não especial. E dar musculatura ao frágil, jovem e inexperiente sistema de defesa comercial.
Enquanto em outros países esse sistema existe desde os anos 70, no Brasil sua estrutura só começou a ser montada em 1997, e até hoje é deficiente, precária, até amadora. Exemplo: o governo brasileiro levou 15 anos para descobrir uma desgastada e comum esperteza dos importadores. Enquanto a investigação de dumping rola - e demora -, eles antecipam importações do produto investigado, estocam e, assim, se livram da sobretaxa que vier a ser decidida. Só na última terça-feira a Camex decidiu cobrar retroativamente a sobretaxa.
Para fortalecer essa estrutura, o Ministério do Desenvolvimento diz que vai contratar 120 novos investigadores e tentar encurtar de 18 meses para 10 meses o prazo de conclusão de uma investigação de dumping.
JORNALISTA, É PROFESSORA DE COMUNICAÇÃO DA PUC-RIO E-MAIL: SUCALDAS@TERRA.COM.BR
Comparing Brazilian states with countries - Economist
Comparing Brazilian states with countries
Which countries match the GDP and population of Brazil's states?
Um jornalista especialmente mentiroso: PHA
Por vezes eu também coloco ideias idiotas -- mas que sao disseminadas por professores idem -- e apenas o faço com vistas a uma vocação didática: tentando evitar que aluninhos inocentes sejam contaminados por essas ideias idiotas de professores idem.
O que vai abaixo, entretanto, não tem nada a ver com isso: trata-se simplesmente de mentiras, farsas, falcatruas, inverdades, deformações, equívocos, e tudo o mais que vocês puderem pensar de negativo. Poucas vezes eu vi um jornalista escrever tanta falsidade, tanta mentira, tantas deformações deliberadas, em cada uma e em todas as linhas do que vai abaixo.
Por que, exatamente, estou postando algo tão nojento e tão desprezível neste blog? Não sei dizer. Talvez porque eu desejasse combater tudo o que esse travesti de jornalista afirma, denunciando cada uma de suas mentiras, o que no entanto não vou conseguir fazer agora, por absoluta falta de tempo.
Mas pode surgir a oportunidade, em algum momento. Deixo, portanto, o registro, como exemplo negativo. Cada uma das linhas, afirmações, acusações desse "jornalista" (aspas triplas, na verdade um vendido) são rigorosamente falsas. Assim, que fiquem avisados os incautos e os ingênuos: tudo o que vai aqui escrito, é para ser lido ao contrário, não apenas no que diz o jornalista, mas também o conteúdo, os personagens, os fatos, totalmente deformados, em sua exposição. Interpretação para ser lida em 180 graus no sentido inverso. Pronto, encerro este post debiloide e deixo a contestação para outra oportunidade. Na verdade, já escrevi muito sobre a Alca, geralmente em artigos publicados no Meridiano 47. Se vocês entrarem no site do Meridiano 47, vocês vão encontrar vários artigos meus sobre a Alca, o Mercosul, as negociações comerciais multilaterais. Outros artigos estão no site da Revista Espaço Acadêmico, tudo provavelmente registrado em meu site pessoal, que tem um instrumento de busca incorporado.
Boa sorte, e lamento, uma vez mais, postar aqui algo tão disgusting quanto esse texto abaixo.
Paulo Roberto de Almeida
FHC E "CERRA" IAM DAR O BRASIL À ALCA (AOS EUA). AMORIM E LULA NÃO DEIXARAM
Por Paulo Henrique Amorim [PHA}
“Por insistência do Mauricio Dias, responsável pela imperdível seção “Rosa dos Ventos” na “Carta Capital”, o ansioso blogueiro [PHA] leu algumas das aulas de Celso Amorim, em “Conversas com jovens diplomatas”, editado pela “Benvirá”.
Mauricio já chamou a atenção para a mudança que Amorim fez nas prioridades do Itamaraty: passou a tratar embaixadas na África com a prioridade de embaixadas em outros pontos do planeta.
Passou a faxina, digamos assim, em alguns vestígios do Itamaraty colonizado, da época da “Diplomacia da Dependência” [FHC/PSDB/DEM/PPS].
Por falar em “Diplomacia da Dependência”, recomenda-se a conversa de Amorim de 24 de novembro de 2010, “Da maneira como estava concebida, a ALCA é História”, sobre “O Brasil e a ALCA”, na pág. 499 do livro.
Como se trata de um diplomata e, antes de tudo, um cavalheiro (características que, como sabe o Gilmar Dantas (*), não definem este blogueiro), o grande chanceler Celso Amorim não diz assim, na lata.
Mas, ficou claro para os jovens diplomatas que o Governo Cerra/Fernando Henrique montou a arapuca para o sucessor cair na rede da ALCA, vale dizer, cair na rede do interesse nacional americano.
O Governo do Farol de Alexandria deixou tudo pronto para o Brasil jogar o Mercosul na lata de lixo da História e cair nos braços de Titio Sam.
Qual o “atrativo” para aderir à ALCA, assim, de joelhos ?
Primeiro, explica Amorim, o princípio do “lock in”.
A política econômica e, por extensão, a política externa, ficariam “locked”, amarradas, presas, “in”, dentro do interesse nacional americano.
Como diz Amorim: “essas políticas econômicas estariam “locked in” –quer dizer, estariam congeladas, estabelecidas, gravadas na pedra”.
Mais ou menos como fez o México com o Tratado do NAFTA, que assinou com o Canadá e os Estados Unidos no Governo Clinton (muy amigo do FHC).
O México abdicou de uma política econômica autônoma.
Os Estados Unidos caíram no precipício em 2008, o México foi junto e lá permanece –como mostra reportagem da Carta Capital desta semana, na pág. 72.
O outro princípio da “lógica” de Cerra/FHC era obter um “selo de qualidade” –se o Brasil era tão bonzinho que podia ser aceito na ALCA, isso significaria a certificação da “qualidade” de todas as suas ações.
Muitos países da América do Sul se encantaram com a sereia da ALCA.
Especialmente a Argentina do Carlos Menem, o FHC deles.
(Ou que será que o FHC é o nosso Menem ?)
O que tiveram que fazer o Nunca Dantes e o grande chanceler Celso Amorim ?
Primeiro, enfrentar o front interno.
Como se sabe, o Tony Palocci e o Nelson Johnbim conspiraram com o embaixador americano para reverter a política externa do Governo a que serviam.
Especialmente, rever o que chamavam de “antiamericanismo”, como Johnbim qualificou a diplomacia brasileira, na conversinha com o embaixador americano.
(Por falar em conversinha com o embaixador americano, não perca a última do “agente ‘dólar furado’”) [este blog ‘democracia&política’ postará amanhã]
Depois, foi preciso salvar o Mercosul.
Porque a batalha era tão simples quanto isso: Mercosul x ALCA.
O Brasil ao lado do Mercosul.
Os Estados Unidos (e o Cerra/FHC e o Menem) ao lado da ALCA.
Amorim e Lula insistiam que só tratariam da ALCA se, primeiro, se negociassem os direitos dos produtos agrícolas brasileiros.
E os americanos arrepiaram carreira, porque, pau a pau, a agricultura brasileira fecha a agricultura americana.
(O Amorim, é obvio, não emprega essa linguagem de botequim que caracteriza o ansioso blogueiro, não é isso, Ministro Gilmar ?)
O trabalho de Amorim e Nunca Dantes prosperou.
Aos poucos, o Mercosul se impôs ao interesse dos países da América do Sul.
E perceberam que o “lock in” [com os EUA] era uma fria.
Era, como se vê agora (essa é uma observação minha, PHA), um dos últimos suspiros do Império.
A leitura da aula de Amorim dá nexo a um dos tópicos sinistros da campanha de Cerra em 2010.
Nela, o Padim Pade Cerra anunciou que ia fechar o Mercosul.
O que era a senha para dizer: vou cair nos braços da ALCA.
A propósito, amigo navegante.
Sabe quem trabalhava para a Chevron, aquela empresa petrolífera americana a quem o Cerra ia entregar, segundo o WikiLeaks, o pré-sal ?
A Condoleezza Rice, Secretária de Estado americano.
A Chevron chegou a dar o nome dela a um superpetroleiro.
(A Rice está para a Chevron assim como a Luiza Erundina para a Petrobrás, já que deu o nome a uma plataforma da Petrobrás.)
Pois é, a essa turma que o Cerra e o FHC iam entregar o Brasil, amigo navegante.
E ainda querem …”
Não fosse o PiG (*), esses tucanos não passavam de Resende.”
(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista."
Vai uma politica setorial ai? Que tal uma lei da mandioca?
Deve ser por isso que ele piora cada vez mais.
Não bastassem as leis gerais, a Constituição, o estatuto da pequena e média empresa, as legislações específicas para pequenos agricultores, para a indústria automobilística (agora para a indústria de tablets), não bastassem todas essas bondades com que os burocratas do governo nos premiam, agora começam a surgir também as políticas para produtos específicos, como essa legislação do "bambu", abaixo transcrita.
Sim, vocês leram bem: do bambu, aquela coisa que vocês encontram aqui e ali, espalhada pelos matos do nosso querido país.
Agora não mais: o bambu vai ser protegido, promovido, enaltecido, e quem se dedicar ao seu cultivo, sendo familiar (mas eu sou) e pequeno (e eu sou) vai ter direito a políticas especiais de apoio, créditos, financiamentos, estímulos, tecnologia, mercados, renda, enfim, estamos salvos. Eu também vou pegar uns pés de bambu por aí e iniciar minha plantação, certo de que agora, sim, o governo vai me apoiar.
E já que estamos falando de apoios governamentais a produtos estratégicos, por que não uma "política da mandioca"?
Claro, porque esses burocratas não pensaram nisso antes? A mandioca é muito mais estratégica, tanto porque eu só como bambu quando vou a restaurantes chineses, e mandioca eu como todo dia, com o meu feijão. Mandioca é ótima, nutritiva, suculenta, e também se adapta a agricultores pobres do Nordeste.
E que tal uma política da pipoca? Eu adoro pipoca e sempre compro quando vou ao cinema (apesar de achar os preços extorsivos, o que, aí sim, justificaria uma política pública: que a pipoca fosse incorporada ao preço do bilhete, por exemplo; e eu, que sou professor, pago metade, pagaria também a metade do preço da pipoca).
E que tal uma política do picolé, do algodão doce, do hot-dog de barraquinha? Todos produtos altamente consumidos por nossos estudantes, que como se sabe, são seres sem muita renda, tendo de se beneficiar de outras políticas sociais, como universidades gratuitas, transporte grátis, meia nos cinemas e espetáculos em geral, etc? (Não importa se o preço da meia corresponde, na verdade, ao preço de mercado, o que importa é a ilusão...).
Eu sou a favor de políticas setoriais, quanto mais melhor.
Fiquem agora com a grandiosa "política do bambu"...
Já que é para erradicar a pobreza, melhor multiplicar as políticas setoriais e por produto, assim ninguém mais será pobre no Brasil.
(Claro, para fazer a tal de política, o governo vai ter de ter recursos, e para isso vai coletar no bolso dos cidadãos e no caixa das empresas, mas o que é isso comparado com os benefícios gerais que essas políticas setoriais produzem? Quem está preocupado com esses detalhes, quando a intenção é a melhor possível: erradicar a pobreza?)
Paulo Roberto de Almeida
Governo federal aprova política nacional do bambu para erradicar pobreza
Apesar de definir apenas as diretrizes gerais da política ainda a ser regulamentada, a nova lei é considerada um avanço histórico e o primeiro passo do governo federal no sentido de regulamentar a produção da gramínea nativa e de transformá-la em ativo ambiental para desenvolvimento socioeconômico regional, de forma que efetive o aumento de renda dos agricultores familiares e funcione como um dos mecanismos para erradicação da pobreza nesse segmento social. Com a lei, o governo federal vai incentivar a transformação dos bambus brasileiros em floresta capaz de gerar emprego, renda e até créditos de carbono.
No Brasil há cerca de duzentas espécies de bambu que vão garantir essa revolução no campo. De acordo com a engenheira florestal e técnica especializada em manejo do Departamento de Florestas da Secretaria de Biodiversidade e Florestas (SBF) do Ministério do Meio Ambiente (MMA) Cristiane Pinheiro, a gramínea favorece a agricultura familiar e as políticas públicas de conservação e de preservação do meio ambiente porque é uma espécie de fácil propagação, cresce rápido, neutraliza carbono, oferece simples manuseio e, além de servir como matéria prima para a indústria moveleira e a construção civil, ela compõe também a indústria alimentícia.
A grande variedade de utilidades do bambu e suas potencialidades econômicas, sociais e ambientais foram as principais justificativas para a criação dessa política. “Acredita-se que o incentivo da cultura do bambu possa ser um instrumento importante para redução de desigualdades sociais e aumento no setor agrícola, em especial entre os agricultores familiares”, afirma Cristiane. Contudo, segundo ela, seu cultivo precisa de manejo sustentável porque, em virtude da fácil propagação, ela pode se tornar uma praga e ameaçar a vegetação natural das regiões.
O agricultor familiar que enveredar pelo cultivo e manejo sustentável do bambu poderá aumentar mais ainda a própria renda com a manufatura de sua produção. “Ele poderá não apenas plantar com o incentivo do governo, mas também produzir vários tipos de objetos e também alimentos com as varas do bambu. Desde uma cadeira, um biombo, um painel até estruturas para construção civil e brotos para a indústria alimentícia, tudo isso ele pode fabricar com essa vegetação”, explica a engenheira florestal.
De acordo com as diretrizes definidas pela nova lei, o governo vai incentivar a produção de colmos, extração de brotos e obtenção de serviços ambientais, bem como à valorização desse ativo ambiental como instrumento de promoção de desenvolvimento socioeconômico regional. Deverá também valorizar o bambu como um produto agro-silvo-cultural e beneficiamento, em especial, nas regiões de maior ocorrência de estoques naturais da espécie.
A lei determina também, dentre outras ações a ser regulamentadas por novas leis, os instrumentos da política e as competências, tais como o incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico voltados para o manejo sustentado e cultivo, bem como à garantia de crédito rural para o agricultor familiar, o oferecimento de assistência técnica, a certeza da certificação, o estabelecimento de parcerias, o estímulo ao comércio e o incentivo ao intercâmbio com instituições congêneres nacionais e internacionais.
A Lei nº 12.484/2011 aprovada nessa quinta-feira (8) pela presidente da República, Dilma Rousseff, e assinada pelos ministros do Meio Ambiente, Izabella Teixeira; da Fazenda, Guido Mantega; da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Mendes Ribeiro Filho; e pelo ministro Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence, é produto dos Projetos de Lei (PL) 326/2007 e do PL 1.180/2009 (da Câmara dos Deputados). (Fonte: Maria Borba/MMA)
A frase (idiota) de sempre: a classe media esta desparecendo...
(ou qualquer variante do gênero...)
Autor? Sou eu mesmo, ou melhor, se trata de uma frase que venho lendo, ouvindo, há décadas, senão há séculos (sim, Karl Marx já dizia algo equivalente no século XIX).
Cada vez que a ouço, ou leio, eu penso se o seu "autor", ou proferidor, não está exagerando um pouco, ou se ele acredita mesmo no que diz, mesmo não sendo idiota como a frase poderia deixar transparecer.
É evidente, desde os albores das sociedades sedentárias, que a classe média não está desaparecendo. Ela, ao contrário, se multiplica quase como uma "família" de coelhos, aumentando cada vez mais o seu número, os seus batalhões, as suas fileiras.
Vou repetir para não deixar dúvidas: a classe média não só não está desaparecendo, como está aumentando, se reforçando cada vez mais.
Sociedades tradicionais, sociedades agrárias, são sociedades desiguais: uma elite privilegiada, uma massa de camponeses ignorantes, analfabetos, e, no meio, a classe média: comerciantes, artesãos, funcionários públicos, educadores, enfim, toda e qualquer categoria que não for nem elite, nem trabalhadores não especializados, que eram a maioria nessas sociedades.
As sociedades foram se desenvolvendo, se industrializando, tornando-se economias dominadas pelos serviços, algumas até de pura inteligência, com setores agrícolas e industriais relativamente desimportantes, ou não estratégicos. O resto? Trabalhadores especializados, formados, educados, ou seja, gente de classe média.
Essa coisa de dizer que a classe média está desaparecendo, se não for de marxista esclerosado, é de quem está tendo seus rendimentos relativamente diminuídos por simples transformações sociais e tecnológicas que vão tornando certas profissões menos remuneradas, e premiando outras, na ponta da vanguarda inovadora e criadora de riquezas.
Eu, por exemplo, gostaria que uma classe de sugadores da riqueza alheia, a dos advogados, desaparecesse por completo, ou pelo menos fosse substituída por programas de computador e por sistemas online, que nos permitissem resolver os problemas criados por um Estado intrusivo, ou por conflitos proprietários entre patrões e trabalhadores, entre locadores e arrendatários, entre rentistas e tomadores de capital, de maneira automática, apenas aplicando os dispositivos corretamente e, zut, voilà, o laudo correto apareceria na tela, e as duas partes iriam para suas casas (de classe média) satisfeitas.
Eu gostaria de desaparecer com esses representantes da classe média que são os advogados, esmagá-los contra sistemas livremente disponíveis online e ainda assim ficar de consciência tranquila, tendo esmagado a classe média dos advogados, pois estaria dando emprego aos trabalhadores de classe média que vão fazer esses programas de computador que nos permitiriam aposentar de vez essa praga social que se chama "advogado".
Desculpem-me, meus queridos advogados (alguns até alunos meus), mas eu quero acabar com a profissão de vocês, que está esmagando a classe média sob o peso de tarifas extorsivas, produtos dessa reserva de mercado que se chama Ordem corporativa. A classe média é contra qualquer privilégio.
Pois é, eu sou um promotor da classe média, e pretendo fortalecê-la, impedindo que cupins e outras pragas a esmaguem...
Até a próxima frase...
Paulo Roberto de Almeida
A frase (contestavel) da semana: protecao contra concorrencia "desleal" (presidente DR)
"Meu governo não vai permitir ataque às nossas indústrias e aos nossos empregos. Não vai permitir, jamais, que artigos estrangeiros venham concorrer, de forma desleal, com nossos produtos".
Presidente Dilma Rousseff, falando em rede nacional, na véspera do 7 de Setembro de 2011.
Bem, como eu sou um contestador nato, mais exatamente um contrarianista, vou me permitir um exercício de desconstrução verbal e -- ainda que eu seja contrário a certos modismos filosóficos franceses -- vou examinar, conceito por conceito, as palavras da presidente na frase acima transcrita.
1) "Meu governo...":
PRA: Imagino que a presidente tenha sentimentos possessivos, e que considere, realmente, o governo que aí está como seu, isto é, dela. Bem, considerando que metade, ou mais, dos membros de "seu" governo -- desculpem, não contei; é que o governo tem realmente muita gente, e não podemos nos lembrar de todos os ministros, sobretudo alguns ainda desconhecidos -- foi herdada do governo anterior, ministros colocados, mantidos, solicitados pelo seu predecessor -- que a História o tenha. Nessas condicões, seria mais indicado, na verdade, uma frase deste tipo: "Metade do governo que é meu não vai permitir..." Acho que ficaria mais correto e mais conforme à natureza das coisas...
2) "...não vai permitir..."
PRA: Acho que essa expressão revela certa mentalidade autoritária, típica de alguns partidos, sobretudo aqueles de inspiração totalitária, que acham que tudo deve vir de alguma autoridade superior, que se permitem conceder (ou não) determinadas liberdades aos comuns dos mortais. Isso está mais para Gengis Khan do que para uma democracia vibrante; geralmente, nas democracias, governantes democráticos costumam dizer: "Vamos debater no parlamento (ou na sociedade), o que seria mais indicado fazer, etc e tal; depois, segundo o que desejar a maioria, vamos implementar pelas vias institucionais, legais...."
De nada, pela lição de democracia...
3) "...ataque às nossas indústrias..."
PRA: Vejamos: quem estaria interessado em atacar "nossas" indústrias"?
Antes de responder, uma dúvida, porém: "nossas" de quem, ou por que? A presidente por acaso pensa que as indústrias -- com exceção das refinarias da Petrobrás -- são "nossas", ou seja, coletivas, do povo, do Estado, da nação? Acho que ela se engana: as indústrias, em geral, são privadas, e assim, ela poderia no máximo dizer "indústrias brasileiras", o que incluiria, também (salvo no conceito de alguns nacionalistas atrasados) as estrangeiras instaladas legalmente no Brasil; ou, então, ela poderia dizer: "indústrias nacionais" (o que reduziria o universo àquelas assim discriminadas como sendo de "capital nacional", como naquilo artigo restritivo da Constituição de 1988, felizmente abolido por ser idiota e contrário ao que se faz no resto do mundo). Mas, deixemos de lado esse recaída no coletivismo, que pode querer significar apenas um conceito geográfico de "indústrias operando no Brasil" (independente de estatuto legal, do regime de propriedade ou de sua nacionalidade).
Vejamos então o conceito de "ataque".
Quem seriam os malvados interessados em "atacar" as "nossas" indústrias? Seriam alienígenas? Improvável! Seriam estrangeiros? Talvez, e acredito que o entendimento subjacente ao conceito seria esse mesmo, o que aliás combina com a noção possessiva expressa no "nossas".
E por que estrangeiros malvados desejariam "atacar" as indústrias aqui instaladas (vamos lá: tanto brasileiras, quanto estrangeiras já existentes)?
Suposta e provavelmente para "roubar-lhes" mercados, ou pelo menos nichos de mercado.
E para quê o fariam? Ora bolas, para ter mais lucros e ficarem ricos, o que provavelmente todo capitalista industrial deseja fazer. Isso é da natureza das coisas, digamos assim, e todo mundo (pelo menos aqueles que aceitam que o mundo é feito de empresas privadas legitimas) concorda com esse tipo de raciocínio elementar. Todo mundo (pelo menos os normais) deseja ficar rico, acho.
E como fariam, as empresas "atacantes", para realizar seu malévolo intento?
Obrigariam os brasileiros comuns a comprar seus produtos, mesmo contra a vontade, mesmo sendo de empresas estrangeiras "atacantes"? Será que os brasileiros ignaros, consumidores ingênuos consentiriam em ser sócios de estrangeiros malévolos que se dedicam a atacar concorrentes "nossos"?
Ou será que os brasileiros, ciosos e preocupados apenas em maximizar a sua renda -- como ensina todo manual de economia -- compram esses produtos "atacantes" porque, simplesmente, eles são mais baratos e/ou de melhor qualidade?
Eu acho, por experiência própria, que é uma combinação das duas coisas, eventualmente também o desejo de consumir uma marca de prestígio internacional, mesmo sendo mais caro. Por exemplo, queijos e vinhos franceses, em lugar dos seus equivalentes brasileiros; isso significaria um ataque à indústrias lácteas e viti-vinícolas brasileiras, ou nacionais? Minhas preferências de consumidor não valem nada? Vou ser acusado de impatriótico, de atacar as indústrias nacionais se ousar comprar equivalentes estrangeiros, mesmo mais caros? Eu não tenho direito de escolher?
Mas, e se formos às origens do "ataque" e descobrirmos que o que está, de verdade, atacando as indústrias "nossas" não são malévolos industriais estrangeiros e sim os bondosos burocratas e políticos nacionais?
E se descobrirmos que os malévolos capitalistas estrangeiros só entregam aos seus governos ingênuos e despreparados, neoliberais (digamos assim), 20% do seu faturamento bruto, sob forma de impostos, taxas, contribuições e outras prebendas generosas, ao passo que os nossos atacados capitalistas nacionais são obrigados a despejar nos cofres da Receita cerca de 40% do faturamento total (além de outras despesas que são obrigados a realizar por não disporem de externalidades "nacionais", como mão-de-obra treinada, por exemplo)?
E se descobrirmos que os verdadeiros "atacantes" fazem parte do governo, e não são, nem de longe os intrusos vindos de fora?
Como é que ficamos?
O que a presidente tem a dizer sobre isso?
Bem, se ela desejar, pode pedir a seus técnicos e burocratas qual a verdadeira origem dos ataques, e aí descobrir por que estrangeiros conseguem colocar produtos mais baratos aqui, mesmo pagando frete, tarifas de importação, gastos com representação local (obrigatória pelo Código do Consumidor), novos rótulos em Português, redes de distribuição, de marketing, de contabilidade, etc., etc., etc.?
Proponho que a presidente determine "cientificamente" a origem e a natureza dos "ataques".
4) "...ataque (...) aos nossos empregos."
PRA: Acho que muito do que foi dito acima vale também para os empregos. Por isso vou encurtar o longuíssimo comentário feito acima.
Sugiro, proponho, recomendo, que a presidente pergunte a seus técnicos qual é o custo total do "nosso" trabalhador, e quanto o capitalista estrangeiro paga pelos "seus", fora da folha de pagamento estrito senso. Ou seja, quais são os custos laborais, previdenciários e outros (ou seja, indiretos, como treinar ou formar mão-de-obra, por exemplo), que incidem sobre os "nossos" capitalistas, e quais, e quanto disso, estão a cargos dos "atacantes" estrangeiros. Acho que ela vai ter uma surpresa, se já não souber ou desconfiar do resultado.
Foram-se os tempos em que o Brasil podia vangloriar-se (se era o caso) de ter uma "mão-de-obra barata". Foram-se os tempos em que ganhávamos dos países avançados porque tínhamos custos mais baixos e os outros países em desenvolvimento ainda não tinham indústrias (estrangeiras) modernas instaladas em seus territórios.
Foram-se os tempos em que o diferencial de custo de mão-de-obra era o elemento diferenciador principal em nossas vantagens comparativas. Depois disso entraram outros elementos, como infraestrutura, mão-de-obra mais educada e, sobretudo, menores custos governamentais incidindo sobre a força de trabalho.
Acho que a presidente merece saber disso.
5) "Não vai permitir, jamais,... "
PRA: Uau! Isso vale para toda a eternidade (! ou ?). Ou seja, uma vez por todas, a presidente mandona (desculpem, mas é assim que entendo a frase, autoritária, perempetória, quase dona do pedaço) diz que o Brasil jamais faria isso ou aquilo, independente da dinâmica econômica, que está sempre mudando tudo o que é sólido, deslocando competidores, transformando vantagens comparativas.
Nunca se deve ser definitivo com frases definitivas, pois isso apenas significa que a pessoa não sabe se adaptar a circunstâncias mutáveis, a cenários que se transformam, etc.
Imaginem se algum dirigente do Brasil imperial dissesse algo do gênero:
"O nosso governo monárquico jamais vai permitir que insidiosos fabricantes de lâmpadas estrangeiras venham destruir as nossas fábricas de velas nacionais, isso nunca..."
Pois é: nunca se deve ser definitivo nessas coisas de economia e isso o economista francês Jean-Baptiste Say já tinha dito desde meados do século XIX em sua "petição dos fabricantes de velas", preocupados com a concorrência da luz solar...
6) "...que artigos estrangeiros ..."
PRA: Uau! (bis). Então o princípio do tratamento nacional, solenemente reconhecido pelo Brasil ao aceitar o GATT (Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio), desde 1947, não vale mais? Vamos passar a discriminar produtos estrangeiros agora? E como vamos explicar isso aos nossos parceiros do GATT-OMC? Eles não vão reclamar do Brasil?
Sugiro aos assessores da presidente que leiam para ela os artigos pertinentes do GATT.
Enfim, isso para não passar vergonha em Genebra depois, para que os nossos diplomatas não tenham de se explicar sobre o que seria inexplicável...
7) "...venham concorrer..."
PRA: Uau! (tris). Então concorrência ficou feio, agora? Que problema para o regime econômico e o sistema constitucional brasileiro (que asseguram que concorrência e iniciativa privada fazem parte do cenário habitual do Brasil).
Curioso que no resto do mundo, desde os albores da humanidade, aliás, não se descobriu nada melhor para estimular a inovação, a redução de preços, a satisfação do consumidor do que a concorrência, quanto mais ampliada melhor.
Regimes fechados, monopólios, cartéis e ententes de fabricantes sempre resultaram em preços altos, espoliação dos consumidores e, mais que tudo, em produtos rústicos e pouco diversificados, enfim, em diminuição do que os economistas chamam de ganhos de bem-estar. Não foi por outra razão que os regimes socialistas deram dois suspiros e desapareceram: eles nunca foram atacados pelo capitalismo, que era mantido convenientemente fora de suas fronteiras. Eles simplesmente implodiram porque não conseguiam atender aos desejos dos consumidores.
A presidente, por acaso, quer diminuir a concorrência no Brasil?
E como é que fica o seu querido "regime de metas", como fica a inflação?
Não importa que a concorrência menor se traduza em maiores preços?
Acho que ela deveria se informar melhor com os seus conselheiros, ou pelo menos com aqueles que escrevem seus discursos...
8) "...de forma desleal..."
PRA: O que significaria "de forma desleal"?
Enganando o consumidor quanto à qualidade dos produtos?
Mas o consumidor é tão ingênuo assim, ou tão néscio, que pode preferir comprar um produto mal acabado, defeituoso, apenas porque ele é mais barato que o nacional?
Concedamos que ele pode fazer isso uma vez, mas, constatado o engano, e a fraude, ele não cairia duas vezes no mesmo golpe. E os produtos "desleais" ficariam, portanto, sem compradores, e o nosso consumidor novamente, patrioticamente, voltaria a consumir os leais produtos nacionais, ou "nossos".
Ou seria "desleal" apenas por que é mais barato?
Mas aí o Brasil estaria dando um tiro no próprio pé, uma vez que os industrias brasileiros colocam seus produtos em mercados estrangeiros não porque os consumidores estrangeiros queiram fazer bondade para os capitalistas nacionais, ou porque eles acham os brasileiros simpáticos, calorosos, acolhedores, folgazões, mas apenas porque eles constataram que nossos produtos são melhores, ou iguais, aos deles, e ainda assim mais baratos. Não creio que a presidente queira fechar nossos mercados e decretar que só vale agora o mercado interno, desprezando os imensos mercados estrangeiros, que são, por definição, sempre maiores do que o interno.
Ou seria desleal por que é vendido a um custo menor do que o de fabricação?
Desconfio que é isso a que a presidente se refere, e ela está então puxando a orelha da autoridade de defesa comercial que estaria deixando entrar produtos "atacantes" a preços de dumping.
Seria isso verdade?
Pode ser, em certas circunstâncias, geralmente produtos vindos de fábricas estatais (que podem aguentar perdas porque contam com subsídios públicos, como certas indústrias siderúrgicas), mas é menos verdade de produtos de consumo amplo.
Podemos até imaginar que um industria "atacante" do estrangeiro resolva descarregar produtos em excesso a um preço abaixo do seu custo por que já realizou seu lucro no mercado interno ou em outros mercados mais sofisticados. Isso existe, e deve ser combatido.
Mas é um pouco difícil que fabricantes privados, ao visar mercados tão amplos como o brasileiro, façam isso sistematicamente, continuamente, impunemente para suas contas empresariais.
As contabilidades de empresas, sobretudo em países de grande dinamismo e concorrência como a China, são sempre obscuras e difíceis de serem interpretadas, mas parece duro de acreditar que todas as fábricas chinesas estejam fazendo dumping no Brasil, ou seja, se dando ao trabalho de exportar para um mercado tão distante, relativamente aberto, apenas apostando em conquistar esse mercado, afastar concorrentes (nacionais ou outros estrangeiros), para depois realizar lucros extraordinários "nestepaiz". Será que depois de todo esse esforço de dumping, algum outro concorrente (nacional ou estrangeiro) não virá, justamente, para aproveitar um nicho de mercado de pouca concorrência para oferecer produtos a preços igualmente imbatíveis, a partir do momento em que o "desleal" passar a aumentar os seus preços?
Alguém acredita que o mundo sempre funciona com base em teorias conspiratórias?
OK, admitamos que a FIESP pensa assim, mas será que todo mundo acredita nisso?
10) "...com nossos produtos."
PRA: Bem, mais uma vez chamo a atenção para o possessivo "nossos", o denota, sempre, esse sentimento de nacionalismo tão comum em certos políticos, que os faz levantar bandeiras patrióticas em defesa da nação, mesmo que isso signifique que vamos pagar mais caro pelo patriotismo deles.
Eu já ouvi dizer que a presidente estava encantada com os iPads -- c0mprou aqui? pagou preços brasileiros? -- e que ela queria (por que queria) que eles fossem fabricados no Brasil (desde que tivessem 80% de componentes fabricados localmente, claro).
Para isso ela até está fazendo aprovar uma legislação especial, setorial, que vai reduzir alguns impostos na importação de componentes, e no uso de insumos locais, e talvez outros impostos incidindo sobre a fabricação local -- mas, atenção!: apenas para tablets, não para outros eletrônicos -- o que pode fazer com que, graças à magnanimidade e carinho da presidente, nós, brasileiros comuns, vamos pagar só 70% a mais do preço dos tablets nos mercados estrangeiros, e não mais 100% a mais, como ocorre hoje. Não é bonito.
A presidente sabe que, ao fazer esse tipo de política ultra-setorial ela pode estar infringindo determinadas disposições constitucionais que impediriam, salvo melhor juízo, discriminação entre atividades de um mesmo ramo econômico?
E mesmo que isso tudo não fosse inconstitucional, a presidente não desconfia que, ao criar regimes especiais para isso e mais aquilo, ela está distorcendo as regras do jogo, desequilibrando as condições de concorrência entre ramos e setores da indústria, incitando os "desvalidos" a também reclamar favores especiais -- "se eles, por que não eu, também, que emprego tantos milhares de trabalhadores?" -- que isso cria uma selva de mini-legislações ad hoc, que torna o trabalho da Receita muito mais difícil - até mesmo impossível, pois é evidente que vão surgir as fraudes na classificação dos insumos "protegidos" -- e que tudo isso é muito pior do que criar condições isonômicas para todo e qualquer ramo industrial, aliás, para toda e qualquer atividade empresarial???
Bem, desculpem eu ter desmantelado criticamente a frase da semana -- selecionada por uma grande revista informativa e de opinião -- mas é que eu não consigo deixar de pensar no significado real, e nas implicações de fato, de certas frases, sobretudo aquelas ditas por nossos dirigentes, pois isso certamente tem incidência sobre a minha vida, as "nossas" vidas.
Como eu sou um incorrigível leitor e examinador de discursos, frases, escritos, não consigo deixar passar em branco uma frase dessas, que pode significar uma extorsão ainda maior na minha renda, que já anda diminuída em pelo menos 45% por obra e graça do Estado (e seria ainda maior se dependesse de certos membros desse governo).
Bem, espero não ter esgotado a paciência de vocês, e constrangido a presidente (ou pelo menos o seu fazedor de discursos), mas só posso prometer que vou continuar examinando frases e discursos para saber o que, por trás das palavras inocentes (e algumas até simpáticas a certos setores da "opinião pública"), pode vir a significar como impacto real em minha vida. Sinto muito, mas sou assim: um iconoclasta virtual...
Até a próxima frase...
Paulo Roberto de Almeida