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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Escutas telefonicas de ministros do STF: o Brasil a caminho de um Estado nazista? - Consultor Juridico

Notícias

maio
2013

ESCUTAS TELEFÔNICAS

Tuma Jr. conta como ministros do STF foram grampeados

Por 

Gilmar Mendes não foi o único ministro do Supremo Tribunal Federal que teve escutas instaladas em seus telefones e no seu computador. Quando o episódio veio a público, em 2007, as apurações da Polícia Federal não conseguiram constatar que todos os ministros do STF estavam com seus telefones grampeados ou com escutas ambientais instaladas em seus computadores. E isso tudo feito por delegados da Polícia Federal.

As informações estão no livro Assassinato de reputações: um crime de Estado, um depoimento do ex-delegado de classe especial da Polícia Civil de São Paulo Romeu Tuma Jr. ao jornalista Claudio Júlio Tognolli. O livro é uma coleção de memórias de Tuma Jr., ex-secretário de Segurança Nacional do Ministério da Justiça, a respeito de relações suas e de seu pai, o senador Romeu Tuma, morto em 2010, com o governo petista. O lançamento do livro é previsto para as próximas semanas.

O grampo ao ministro Gilmar Mendes foi o único que de fato chegou a vazar e ficar comprovado. Mas, já em 2008, informações a respeito de escutas feitas aos outros juízes do Supremo rondavam as apurações e chegaram à imprensa. Em setembro daquele ano, uma comitiva de ministros do Supremo foi até ao gabinete do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclamar do uso indiscriminado das escutas ilegais, cobrando que a Presidência da República desse uma resposta enérgica ao que estava se tornando costume.

A primeira informação de grampo ao ministro Gilmar Mendes foi vazada em agosto de 2007. Policiais federais disseram que haviam interceptado uma ligação que comprovava que o então presidente do STF havia recebido “mimos” da construtora Gautama, investigada pela operação navalha, da PF. As informações, à época, eram que a Agência Brasileira de Inteligência, a Abin, era quem estava comandando as escutas e as operações de grampo. O episódio custou o cargo do então diretor da Abin, Paulo Lacerda.

Mas o que Tuma Jr. contou a Tognolli é que eram delegados e agentes da Polícia Federal que estavam no comando das operações. Ele cita, por exemplo, Protógenes Queiroz, então delegado e responsável por grandes operações, e o agente Idalberto Matias de Araújo, o Dadá. “Protógenes, Dadá e seus gansos e agentes fizeram uso dessa maleta para grampear todos os ministros do STF e o Lacerda pagou o pato”, resume o livro.

A carta
Tuma Jr. contou a Tognolli em seu livro que soube do grampo indiscriminado a ministros do Supremo por meio de uma carta enviada a ele pelo amigo Edson Oliveira, ex-diretor da Interpol no Brasil, no dia 2 de maio de 2011. Na carta, Oliveira diz que ficou sabendo do caso sem querer, numa conversa informal com o então presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Rio de Janeiro, Telmo Correia, no fim de 2008. Eles trabalhavam juntos no aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro.

O ex-presidente do Sindicato da PF no Rio contou que um amigo delegado da PF o procurou logo depois de a imprensa divulgar a descoberta de escutas telefônicas no STF, que tinham como alvo principal o ministro Gilmar Mendes. Seu amigo estava desesperado, pois tinha a certeza de que a história chegaria a ele a qualquer momento — e quando chegasse, não saberia o que fazer.

Edson Oliveira, então, passa a narrar que, preocupado com o teor da revelação, foi apurar o ocorrido. A partir de um cruzamento de dados, feito por ele e pelo agente da PF Alexandre Fraga, segundo a carta, chegou-se a um agente Távora, reputado como autor dos grampos aos ministros do STF. Na época, ele trabalhava na Delegacia Fazendária da PF no Rio. Era um policial com pouco tempo de casa, segundo Oliveira, “mas muito experiente em análise financeira e documental”.

“Távora participou de operações em Brasília, recebendo diárias, tendo passado vários meses naquela cidade, convocado para participar da equipe do delegado Protógenes [Queiroz, hoje deputado federal pelo PC do B]”, diz a carta. “Durante o levantamento feito, ficou evidente que a escuta realizada no STF foi feita com a utilização de equipamentos de gravação digital sem fio, de origem francesa, produto de um acordo feito entre o governo da França e o do Brasil.”

Aqui cabe uma explicação, contida no livro. Esse equipamento de grampo funciona dentro de uma maleta com se fosse uma estação de recepção e emissão de sinal de telefonia. Ela fica apontada à direção de onde está o telefone que será grampeado e a tela do equipamento mostra todos os números naquele raio de distância.

De acordo com Tognolli e Tuma Jr. no livro, essa “mala francesa”, como é chamada, entra no lugar da operadora de telefonia, funcionando como uma substituta. Dessa forma, o operador do grampo tem acesso a todas as operações feitas com o telefone e pode controlá-las. Ele pode, por exemplo, apagar o registro de uma ligação, ou fazer uma ligação a partir da máquina.

Segundo o depoimento de Tuma Jr., esse equipamento foi usado pelos arapongas da Polícia Federal no caso das escutas no Supremo. “Não só Gilmar Mendes foi grampeado como também todos os outros ministros do STF”, diz o livro. O ex-delegado relata ainda que, após fazer essa denúncia, Edson Oliveira foi alvo de perseguições na Polícia Federal.

Leia abaixo a carta de Edson Oliveira a Romeu Tuma Jr:

“Rio, 2 de maio de 2011
Caro Romeu: recebi uma informação no final de 2008 por volta do mês de outubro, dando conta de que a escuta telefônica feita no Supremo Tribunal Federal teria sido feita por um agente federal lotado na Superintendência do DPF no Rio de Janeiro, o qual, na ocasião da realização do grampo, estaria cumprindo missão em Brasília. Essa informação me foi passada pelo presidente do Sindicato dos Policiais Federais no Rio de Janeiro, o agente Telmo Correia.

Segundo Telmo, após a publicação da notícia da descoberta da realização da escuta no STF, o agente o procurou na condição de presidente do Sindicato dos Policiais Federais no Rio de Janeiro para pedir aconselhamento, alegando que havia feito a escuta e que estava apavorado e preocupado, sem saber o que dizer caso fosse descoberto.

Para melhor compreensão, Telmo era um dos agentes que compunha uma das equipes que trabalhava comigo no aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, e deixou escapar essa informação durante uma conversa informal, quando falávamos da existência de inúmeros valores nos quadros da PF e Telmo procurava exaltar as qualidades de um dos seus amigos, com o qual já trabalhara na Delegacia Fazendária e que o procurara recentemente para expressar sua preocupação e pedir apoio e aconselhamento.

Insisti com Telmo para que me fornecesse o nome do agente, entretanto este se recusou, alegando que recebia inúmeras pessoas em sua sala como presidente do Sindicato, e que esse caso era somente mais um. Alertei a Telmo para o fato de que ele não era padre para ouvir confissão e guardar segredo mas sim, antes de tudo, um agente federal e que como tal tinha o dever de informar oficialmente o conhecimento de um crime e de sua autoria. Disse ainda que levaria o caso ao conhecimento da autoridade que presidia inquérito e que, fatalmente ele, Telmo, seria convocado a depor. Telmo, na ocasião, me disse que, caso fosse realmente chamado, negaria tudo.

Investigando o assunto juntamente com o agente federal Alexandre Fraga, outro componente de uma das equipes de plantão naquele aeroporto, chegamos ao autor do delito, através do cruzamento de vários dados que foram vazados por Telmo durante inconfidências que fazia ao longo do dia durante os seus plantões. A investigação nos conduziu ao agente federal Távora, na época lotado na Delegacia Fazendária da PF do Rio de Janeiro.

Távora participou de operações em Brasília, recebendo diárias, tendo passado vários meses naquela cidade, convocado para participar da equipe do delegado Protógenes. Segundo os levantamentos feitos, Távora é um agente federal com pouco tempo de polícia mas muito experiente em análise financeira e documental, pois foi analista de empresas de consultoria por muito tempo antes de ingressar na PF.

Ao iniciar a investigação, no início de novembro de 2008, entrei em contato através do agente Fraga com o delegado William, presidente do inquérito policial que apurava o crime.

Dias após, o agente Fraga recebeu uma ordem de missão para comparecer em Brasília, onde se reuniu com o delegado e o informou que o levantamento estava sendo feito, tendo recebido sinal verde para continuar a operação.

Nessa mesma época, comuniquei pessoalmente ao então superintendente da PF no RJ, delegado Angelo Gioia, a respeito da investigação que realizava com o conhecimento da direção geral.

Posteriormente prestei declarações dos autos do inquérito, tendo inclusive passado por acareação com o presidente do Sindicato, agente Telmo, o qual na ocasião negou o fato e alegou que eu estava mentindo.

Não bastasse esse fato, Telmo, imediatamente após ter sido informado por mim de que o assunto estava sendo levado oficialmente às esferas superiores, convocou o delegado Protógenes para alertá-lo a respeito. Protógenes veio ao Rio de Janeiro e se reuniu com Telmo na sede do Sindicato dos Policiais Federais.

No início de janeiro de 2009, toda a equipe de policiais lotados no aeroporto Santos Dumont, inclusive esse delegado, foi dispensada e transferida para diferentes setores da PF do RJ.

Durante o levantamento feito, ficou evidente que a escuta realizada no STF foi feita com a utilização de equipamentos de gravação digital sem fio, de origem francesa, produto de um acordo feito entre o governo da França e o do Brasil.

Além disso, a maior parte dos componentes da equipe que trabalhou nessa escuta e em outras, legais ou não, fez curso de especialização nessa área na França.

Surpreendentemente, já em outubro de 2009 o mesmo agente Fraga recebeu um e-mail que o informava do cancelamento da viagem que havia realizado a Brasília por determinação da Direx/DPF, alegando que o motivo do cancelamento é que havia se tratado apenas de uma simulação.

Conversei hoje com o agente federa Fraga, o qual não se opôs a que o nome dele fosse citado, bem como se colocou à disposição para fornecer mais detalhes sobre esse caso e outros que tem conhecimento. Estou à disposição para qualquer outra informação.

Um grande abraço, Edson Oliveira”

Pedro Canário é repórter da revista Consultor Jurídico.

Revista Consultor Jurídico, 3 de maio de 2013

Meira Penna: o mais longevo liberal brasileiro - Podcast do Instituto Mises Brasil

PODCAST 101 - J. O. DE MEIRA PENNA

Nascido num país onde a liberdade nunca foi um dado cultural e justamente no ano da revolução bolchevique em 1917, José Osvaldo de Meira Penna se transformou num ícone das ideias da liberdade no Brasil. Diplomata de carreira, Meira Penna construiu uma vida intelectual brilhante com livros fundamentais para entender o Brasil, como Em Berço Esplêndido - Ensaios de psicologia coletiva brasileira, Opção Preferencial Pela Riqueza, O Brasil na Idade da Razão e O Dinossauro. Aos 96 anos, Meira Penna talvez seja o mais longevo liberal brasileiro.

Lúcido e ativo, Meira Penna concedeu esta entrevista histórica ao Podcast do Instituto Mises Brasil para contar uma parte de sua vida e ideias, que também são parte da história do liberalismo no Brasil. Nesta conversa, realizada graças à ajuda valiosa de Bráulio Porto de Matos, Luiz Jardim e Daniel Marchi, o embaixador aposentado conta por que se tornou um liberal, quais foram os primeiros autores que leu, o encontro com Hayek no Brasil e o ingresso na, e as reuniões da, Mont Pelerin Society.

Ele também explicou a concepção psicológica do brasileiro, elaborada a partir das teses de C. G. Jung, a influência do positivismo na política nacional, e a ausência, desde a colonização, de um ambiente favorável à livre iniciativa devido à ausência de capitalismo, resistências burocráticas, patrimonialismo, escravidão, nacionalismo míope e ressentido, elementos que ajudam a explicar a relação de dependência e servidão de parte da sociedade brasileira em relação ao governo e a própria atuação das instituições políticas.

É uma honra para este Podcast compartilhar a entrevista com os ouvintes.


Com vocês, J. O. de Meira Penna

Ciencia-salame: de volta ao velho problema do fatiamento das pesquisas para publicacao

Eu escrevo e publico muito, eu sei, e os membros do meu programa de mestrado e doutorado do Uniceub também sabem, por isso continuo no programa, mesmo afastado temporariamente para trabalhar no exterior.
Mas, essa prática da ciência-salame, objeto dos dois artigos abaixo, não me concerne exatamente, já que não tenho nenhuma grande inovação para fatiar e publicar aos pedaços. Todos os meus artigos tratam de questões específicas, e são publicados em revistas diferentes, com objetivos e resultados diferentes, como uma simples consulta às listas de trabalhos originais de meu site pode comprovar.
Em todo caso, essa questão permanece como relevante, para fins de mensuração da produtividade dos nossos pesquisadores, o que justifica a republicação de materiais antigos mas ainda de atualidade.
Paulo Roberto de Almeida

Ciência brasileira adere ao ‘padrão salame’ de produção e avaliação científica
Blog de Herton Escobar, Estadão, 29/04/2013

Faz tempo que quero escrever algo sobre essa cultura da “ciência salame” e sobre o debate da “quantidade x qualidade” na avaliação da produção científica e da qualidade científica de pesquisadores no Brasil. Não preciso mais … o biólogo Fernando Reinach (colunista do Estadão e um dos pioneiros da biotecnologia no Brasil) já fez isso por mim, com muito competência do que eu seria capaz de fazer, devo dizer.
Copio abaixo o artigo publicado por ele na edição de sábado do jornal, que já tem mais de 10 mil compartilhamentos no Facebook, mas que merece ter muito mais ainda.
Abaixo do artigo do Reinach, copio também um artigo publicado em junho do ano passado na revista Trends in Ecology and Evolution, em que os autores discutem a “obsessão da academia com quantidade”. Ele faz parte de um fórum de discussão lançada pela revista em março deste ano para debater o tema “Que tipo de ciência queremos?“, que inclui um comentário de biólogos brasileiros da Universidade Federal de Goiás.
Publicar muita porcaria ou publicar pouca coisa boa? Eis a questão. (não só na ciência, mas no jornalismo também)

Darwin e a prática da ‘Salami Science’
Fernando Reinach / O Estado de S.Paulo

Em 1985, ouvi pela primeira vez no Laboratório de Biologia Molecular a expressão “Salami Science”. Um de nós estava com uma pilha de trabalhos científicos quando Max Perutz se aproximou. Um jovem disse que estava lendo trabalhos de um famoso cientista dos EUA. Perutz olhou a pilha e murmurou: “Salami Science, espero que não chegue aqui”. Mas a praga se espalhou pelo mundo e agora assola a comunidade científica brasileira.
“Salami Science” é a prática de fatiar uma única descoberta, como um salame, para publicá-la no maior número possível de artigos científicos. O cientista aumenta seu currículo e cria a impressão de que é muito produtivo. O leitor é forçado a juntar as fatias para entender o todo. As revistas ficam abarrotadas. E avaliar um cientista fica mais difícil. Apesar disso, a “Salami Science” se espalhou, induzido pela busca obsessiva de um método quantitativo capaz de avaliar a produção acadêmica.
No Laboratório de Biologia Molecular, nossos ídolos eram os cinco prêmios Nobel do prédio. Publicar muitos artigos indicava falta de rigor intelectual. Eles valorizavam a capacidade de criar uma maneira engenhosa para destrinchar um problema importante. Aprendíamos que o objetivo era desvendar os mistérios da natureza. Publicar um artigo era consequência de um trabalho financiado com dinheiro público, servia para comunicar a nova descoberta. O trabalho deveria ser simples, claro e didático. O exemplo a ser seguido eram as duas páginas em que Watson e Crick descreveram a estrutura do DNA. Você se tornaria um cientista de respeito se o esforço de uma vida pudesse ser resumido em uma frase: Ele descobriu… Os três pontinhos teriam de ser uma ou duas palavras: a estrutura do DNA (Watson e Crick), a estrutura das proteínas (Max Perutz), a teoria da Relatividade (Einstein). Sabíamos que poucos chegariam lá, mas o importante era ter certeza de que havíamos gasto a vida atrás de algo importante.
Hoje, nas melhores universidade do Brasil, a conversa entre pós-graduandos e cientistas é outra. A maioria está preocupada com quantos trabalhos publicou no último ano – e onde. Querem saber como serão classificados. “Fulano agora é pesquisador 1B no CNPq. Com 8 trabalhos em revistas de alto impacto no ano passado, não poderia ser diferente.” “O departamento de beltrano foi rebaixado para 4 pela Capes. Também, com poucas teses no ano passado e só duas publicações em revistas de baixo impacto…” Não que os olhos dessas pessoas não brilhem quando discutem suas pesquisas, mas o relato de como alguém emplacou um trabalho na Nature causa mais alvoroço que o de uma nova maneira de abordar um problema dito insolúvel.
Essa mudança de cultura ocorreu porque agora os cientistas e suas instituições são avaliados a partir de fórmulas matemáticas que levam em conta três ingredientes, combinados ao gosto do freguês: número de trabalhos publicados, quantas vezes esses trabalhos foram citados na literatura e qualidade das revistas (medida pela quantidade de citações a trabalhos publicados na revista). Você estranhou a ausência de palavras como qualidade, criatividade e originalidade? Se conversar com um burocrata da ciência, ele tentará te explicar como esses índices englobam de maneira objetiva conceitos tão subjetivos. E não adianta argumentar que Einstein, Crick e Perutz teriam sido excluídos por esses critérios. No fundo, essas pessoas acreditam que cientistas desse calibre não podem surgir no Brasil. O resultado é que em algumas pós-graduações da USP o credenciamento de orientadores depende unicamente do total de trabalhos publicados, em outras o pré-requisito para uma tese ser defendida é que um ou mais trabalhos tenham sido aceitos para publicação.
Não há dúvida de que métodos quantitativos são úteis para avaliar um cientista, mas usá-los de modo exclusivo, abdicando da capacidade subjetiva de identificar pessoas talentosas, criativas ou simplesmente geniais, é caminho seguro para excluir da carreira científica as poucas pessoas que realmente podem fazer descobertas importantes. Essa atitude isenta os responsáveis de tomar e defender decisões. É a covardia intelectual escondida por trás de algoritmos matemáticos.
Mas o que Darwin tem a ver com isso? Foi ele que mostrou que uma das características que facilitam a sobrevivência é a capacidade de se adaptar aos ambientes. E os cientistas são animais como qualquer outro ser humano. Se a regra exige aumentar o número de trabalhos publicados, vou praticar “Salami Science”. É necessário ser muito citado? Sem problema, minhas fatias de salame vão citar umas às outras e vou pedir a amigos que me citem. Em troca, garanto que vou citá-los. As revistas precisam de muitas citações? Basta pedir aos autores que citem artigos da própria revista. E, aos poucos, o objetivo da ciência deixa de ser entender a natureza e passa a ser publicar e ser citado. Se o trabalho é medíocre ou genial, pouco importa. Mas a ciência brasileira vai bem, o número de mestres aumenta, o de trabalhos cresce, assim como as citações. E a cada dia ficamos mais longe de ter cientistas que possam ser descritos em uma única frase: Ele descobriu…
……

Adademia’s obsession with quantity
Joern Fischer1, Euan G. Ritchie2 and Jan Hanspach1
1 Faculty of Sustainability, Leuphana University Lueneburg, Scharnhorststrasse 1, 21335 Lueneburg, Germany
2 Deakin University, School of Life and Environmental Sciences, 221 Burwood Hwy, Burwood, VIC 3125, Australia

We live in the era of rankings. Universities are being ranked, journals are being ranked, and researchers are being ranked. In this era of rankings, the value of researchers is measured in the number of their papers published, the citations they received, and the volume of grant income earned. Academia today is governed by one simple rule: more is better.
The idea to reward those who are productive seems fine at face value, but that idea has become ideology. Metrics of quantity once were the means to assess the performance of researchers, but now they have become an end in their own right. Ironically, once individuals actively pursue certain indicators of performance, those indicators are no longer useful as independent yardsticks of what they were once meant to measure.
Only a few years ago, a researcher publishing ten papers a year was considered highly productive. Now, leading researchers in ecology and evolution publish 20, 30, or, in some cases, over 40 papers a year, with a tendency for further increases. This volume of papers is attained via large laboratory groups and research consortia, which in turn require massive amounts of funding. Given that successful fundraising is a trusted performance indicator in its own right, funding keeps going to some of the biggest groups, keeping them big or growing them even further. However, a bigger group of researchers does not necessarily produce better science, just more of it. Thus, some research themes of solid (but not necessarily exceptional) quality can dominate the literature, just because they produce many papers. The type of work that ecologists produce is also different compared with just a decade or two ago: papers are shorter; reviews are increasingly quantitative not qualitative; the scope of papers has shifted from local to global; modeling papers are replacing field-based papers; and more papers focus on black-versus-white analyses because there is no journal (or mental) space for nuanced discussions. A recent high-profile example is the polarized debate on whether policy should encourage land sparing or land sharing.
The picture we paint is, of course, stylized. We acknowledge that there are exceptions among the most productive academics, the largest research groups, and the highest impact journals. However, despite exceptions, the overall trend is deeply concerning. Academics are increasingly busy with more papers, more grants, and more emails to keep the machinery going. The modern mantra of quantity is taking a heavy toll on two prerequisites for generating wisdom: creativity and reflection.
Creativity greatly benefits from an environment that is supportive, collaborative, and facilitates trialing new approaches, but suffers from working under excessive pressure. Similarly, reflection is vital for questioning assumptions and learning from experience. The gradual loss of creativity and reflection necessarily will affect our science. Many past landmark papers were full of good ideas, but were speculative and discursive. Would such papers be published today and, if they were, who would read them in depth? Is it possible to obtain and communicate deep insights via ‘twitteresque’ research sound bites?
Beyond the science itself, the quantity mantra is taking a toll on the quality of human interactions and relationships. Supervisors are increasingly too busy to discuss ideas at length with their research students. Academics work long hours, a supposed requirement for success, as if insight, motivation, and wisdom could not also arise from more balanced and family-friendly lives. The stressful environment of academia leads to many talented young people opting out of academia, and can lead to burnout in those who stay.
Along with political and spiritual leaders, academic leaders have a responsibility to help society move towards a better future, where we understand the world better, and use that understanding to live a ‘good life’. However, how can we do this if our professional rat race just mirrors the ills of society at large? Starting with our own university departments (but not stopping there), it is time to take stock of what we are doing. We must recreate spaces for reflection, personal relationships, and depth. More does not equal better.

A lenta, mas segura, deterioracao da economia brasileira - Rolf Kuntz e Editorial Estadao

Mistura tóxica: inflação, estagnação e crise fiscal
Rolf Kuntz*
O Estado de S.Paulo, 07 de dezembro de 2013

Ninguém vai jogar a toalha. A inflação já estourou a meta, com 4,95% até novembro. A economia encolheu 0,5% no terceiro trimestre e cresceu apenas 2,3% em 12 meses. Mas a presidente Dilma Rousseff ainda poderá falar em vitória se o ano terminar com alta de preços inferior a 5,84%, resultado final de 2012, e expansão do produto em torno de 2,5%. Nessa altura, poucos lembrarão a maior parte dos micos de 2013, incluída a entrevista ao jornal El País, quando ela anunciou a revisão do crescimento do ano passado para 1,5%. Houve revisão, sim, mas de 0,9% para 1%, como informou nesta semana o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Talvez numa próxima correção apareça a taxa de 1,5%, mas quem se importará, além da presidente?

Em qualquer país governado por gente comum, a mistura de crescimento econômico em torno de 2,5% com inflação acima de 5% seria considerada um desastre. Neste Brasil de governantes incomuns, as autoridades torcem por esse resultado. Que mais poderiam ambicionar, neste momento? Além disso, cantam vantagem, apontando países com crescimento menor, mas, curiosamente, em posição bem melhor na escala de risco de crédito. Agências de classificação cometeram erros notáveis nos últimos 20 anos, mas seus critérios, de modo geral, fazem sentido e suas avaliações são levadas a sério no setor financeiro.
No mercado, todo mundo sabe do risco de rebaixamento da nota do Brasil. O ministro da Fazenda até já se mostrou preocupado com essa possibilidade. Mas nem por isso decidiu cuidar seriamente das contas públicas, admitir os problemas e pôr de lado a contabilidade criativa e a política de remendos fiscais. Há poucos dias o ministro desistiu de mais uma operação para maquiar as contas federais - uma jogada com participação da Caixa e da Eletrobrás. Mas só mudou de ideia quando uma reportagem do Valor escancarou a manobra e toda a imprensa foi atrás da história. A armação de um lance desse tipo havia sido mencionada algum tempo antes na cobertura do Estado.
Segundo o plano, a Caixa financiaria, com garantia do Tesouro, pagamentos devidos por subsidiárias do setor de energia a um fundo setorial. Isso pouparia ao Tesouro uma transferência de R$ 2,6 bilhões. Assim ficaria um pouco mais fácil obter o superávit primário de R$ 73 bilhões prometido pelo ministro. Se o governo alcançar esse resultado, será principalmente graças a manobras e a receitas extraordinárias, como os bônus de concessões de infraestrutura e as parcelas do programa de refinanciamento de dívidas tributárias, o Refis. Este programa deverá render uns R$ 20 bilhões. Só a Vale deverá entrar com uns R$ 6 bilhões nessa coleta. E só o bônus do leilão do campo de Libra, no pré-sal, deverá proporcionar R$ 15 bilhões. A soma desses valores garantirá quase metade do resultado primário fixado para o governo central.
O desarranjo das contas públicas tem sido apontado como um dos principais fatores da inflação. A alta de preços está obviamente vinculada ao descompasso entre a demanda e a oferta interna, reconhecido por boa parte dos analistas e de novo mencionado na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom/BC). O presidente do BC, Alexandre Tombini, citou num discurso, nesta semana, o recuo das taxas acumuladas de inflação, mas é necessário muito otimismo para festejar os números conhecidos.
A inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), chegou a 4,95% no ano e a 5,77% em 12 meses. A variação mensal ficou em 0,54%, ligeiramente abaixo da observada em outubro (0,57%). Cinco dos nove grupos de despesas encareceram mais que no mês anterior. O índice de difusão - parcela de itens com aumento de preços - passou de 67,7% em outubro para 68,2%, confirmando, mais uma vez, a ampla disseminação das pressões inflacionárias. Não há como sustentar - nem havia antes - a tese oficial de uma inflação derivada da alta dos alimentos ou da valorização internacional das commodities. O custo da alimentação tem subido menos, assim como os preços das matérias-primas, como confirma a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Entre outubro e novembro a alta dos preços no atacado passou de 0,71% para 0,12%, enquanto a dos preços ao consumidor acelerou de 0,55% para 0,68%.
Nem um resultado final abaixo dos 5,84% do ano passado está garantido, porque o IPCA de dezembro vai registrar os aumentos de preços de combustíveis, cigarros, eletricidade, água e esgoto, como observou o economista Fernando Parmagnani, da consultoria Rosenberg & Associados. Além disso, um ligeiro recuo da inflação neste ano - por enquanto, só uma hipótese - de nenhum modo garante uma nova redução do acumulado em 2014, advertiu Salomão Quadros, da FGV. Houve "coisas atípicas" neste ano, disse ele, lembrando a interferência política nos preços administrados.
Inflação alta e contas públicas em baixa combinam de forma desastrosa com a indústria emperrada. A produção industrial cresceu 0,6% de setembro para outubro - uma bela notícia, depois do fiasco do terceiro trimestre. Mas a comemoração pode ter sido exagerada.
É bom examinar as médias móveis trimestrais de dois anos. Como a indústria foi mal em 2011, a evolução em 24 meses ficou abaixo de pífia. Nos três meses terminados em outubro, o índice de produção praticamente repetiu o de igual período de 2011, no caso da indústria geral. O indicador do segmento de bens de capital (máquinas e equipamentos), 17,6% superior ao da média de agosto a outubro do ano passado, parece espetacular. Mas o aumento em dois anos ficou em 6,03%. Isso combina com uma taxa geral de investimento - público e privado - na altura decepcionante de 19% do PIB. Não haverá crescimento muito maior com esse investimento.

*Jornalista
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Inflação, entranhas e profecias
Editorial O Estado de S.Paulo, 08 de dezembro de 2013

A inflação continua elevada e é preciso manter a vigilância, segundo a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), responsável número um pelo combate à alta de preços. Não é hora de olhar para outro lado, porque o perigo permanece, e pelo menos este recado é inequívoco. Mas sobrou uma polêmica no mercado financeiro: como ficarão os juros no próximo ano? A busca da resposta evocou, mais uma vez, um velhíssimo ritual. Sacerdotes antigos tentavam ler o futuro nas entranhas de animais sacrificados. Exercício muito semelhante - e igualmente sujeito a erro - fazem hoje os analistas do mercado, quando examinam as entranhas das Atas do Comitê de Política Monetária (Copom).

Segundo algumas leituras, a taxa básica, a Selic, será elevada de 10% para 10,25% na próxima reunião do Comitê, em janeiro, e com isso será encerrado o ciclo de alta. Outros ainda apostaram em uma elevação para 10,5%. Muitos classificaram a ata como "dovish", adjetivo derivado de "dove", "pombo", apontando no documento sinais de moderação.
Houve, enfim, quem descrevesse o documento como ambíguo. A ambiguidade teria sido proposital, para deixar espaço a qualquer decisão quando os oito membros do Comitê, todos diretores do Banco Central (BC), se reunirem de novo, em 14 e 15 de janeiro, para examinar as condições da economia e decidir os próximos lances da política monetária. Alguns palpites e interrogações surgiram até antes da publicação da ata. Estarão os diretores do BC dispostos a continuar aumentando os juros - supostamente contra o interesse da presidente da República - num ano de eleição?
No momento, esses diretores, incluído o presidente do BC, Alexandre Tombini, parecem mais preocupados com a própria imagem e com a respeitabilidade de sua política.
O cenário básico das projeções apresentadas no documento justifica pouco ou nenhum otimismo quanto à evolução dos preços nos próximos dois anos. Taxa de câmbio de R$ 2,30 por dólar e juros básicos de 9,50% "em todo o horizonte relevante" foram incluídos nas hipóteses. Resultado: ligeiro recuo da inflação projetada para 2013, manutenção da taxa anteriormente estimada para 2014 e alta de preços acumulada ainda acima da meta anual de 4,5% no terceiro trimestre de 2015.
Esta avaliação sem dúvida justificou a elevação da Selic para 10% na reunião de 27 de novembro. Mas justificará novos aumentos da taxa?
Os efeitos da alta de juros iniciada em abril só serão completamente observados nos próximos meses, segundo a ata. Essa defasagem é um dado conhecido. Falta saber se os membros do Comitê usarão esse argumento, na próxima reunião ou na seguinte, para interromper o aperto da política monetária. Neste momento, parece precipitado prever uma data para a interrupção das medidas de combate à alta geral de preços.
São citados só dois fatores para justificar algum otimismo. Segundo a ata, o quadro fiscal poderá avançar para a neutralidade no "horizonte relevante". Em português corrente: o desarranjo das contas públicas ficará menos grave e deixará de contribuir para a alta de preços. Em segundo lugar, o documento menciona "evidências de acomodação dos preços das commodities nos mercados internacionais". Com base nos dados do dia a dia, é muito difícil, no entanto, apostar em melhora significativa das contas federais, especialmente em ano de eleição. Quanto aos preços das commodities, podem ter muito menos peso do que os autores da ata parecem sugerir. Depois de um recuo temporário, a inflação mensal voltou a subir, neste ano, mesmo com a queda das cotações de produtos básicos.
Em contrapartida, a ata aponta um número muito maior de fatores de risco. O descompasso entre a demanda e a oferta internas, salários subindo mais que a produtividade, as possíveis pressões cambiais, a indexação e a desconfiança de consumidores e produtores tendem a alimentar a inflação. Daí a necessidade, reconhecida pelo Comitê, de manter a política monetária "especialmente vigilante". Diante disso, difícil, mesmo, será explicar um afrouxamento do combate à inflação.

A generosidade de Lula (com o nosso dinheiro) para ditadoresbilionarios - Percival Puggina

Cotas Raciais no Comércio Exterior
Percival Puggina
8/12/2013

Se existe uma parte do planeta onde bate com mais vigor o generoso coração de Lula e Dilma, esse lugar é a África Negra. Imagino ser por isso que existam cotas raciais para o comércio exterior brasileiro. Volta e meia - às vezes nem meia volta se completa - e lá estão nossos presidentes petistas na África Subsaariana, cada um a seu turno, perdoando dívidas milionárias que aqueles países têm para com o Brasil. A conta já passa de US$ 2 bilhões. Não por acaso são, em parte, débitos de governos ditatoriais, sanguinários, genocidas, que lidam com as finanças locais em regime de partilha. Vai um pouco para o interesse público e o restante para contas familiares em bancos estrangeiros.
            Um deles, o senhor Omar al-Bashir, já leva 24 anos no cargo de presidente do Sudão. Tem dois mandados internacionais de prisão e, segundo um promotor do Tribunal Penal Internacional, acumula US$ 9 bilhões de recursos próprios em paraísos fiscais. Outro, o senhor Teodoro Obiang, que comanda a Guiné-Equatorial, adquiriu em 2010 um apartamento na Av. Vieira Souto, no Rio de Janeiro, naquela que foi até então a maior transação da história da cidade envolvendo um imóvel residencial. O pequeno refúgio carioca do ditador é um tríplex com 2 mil metros quadrados. O patrimônio pessoal do bilionário ditador do Congo-Brazaville, Denis Sassou Nguesco, proprietário de algumas dezenas de imóveis na França é superior à dívida do país perdoada pelo Brasil (US$ 352 milhões). E por aí vai. Em maio deste ano, numa única tacada, a presidente Dilma anunciou perdões, abatimentos e novos parcelamentos para dívidas de uma dúzia redonda de nações africanas.
            Alega o governo que esse procedimento está alinhado com as orientações do Clube de Paris, que o recomendam como forma de estimular a contratação de novos financiamentos e promover o desenvolvimento daqueles povos. Faria sentido se não estivéssemos tratando, em alguns casos, de povos cuja miséria aumenta na proporção direta em que a elite governante amplia sua riqueza pessoal. Faria sentido se não houvesse, na lista de beneficiados, governos ditatoriais que só perdem em longevidade e truculência para a dinastia cubana dos Castro Ruíz.
            É uma pena que a benevolência dos governos petistas em relação aos seus cotistas raciais no comércio exterior não encontre simetria de tratamento com as dívidas dos produtores rurais brasileiros quando suas lavouras são assoladas por estiagens e secas. É uma pena que essa mesma prontidão não apareça na hora de atender os brasileiros vítimas de cheias, cujos bens são arrastados pelas águas.
            É uma pena, também, que não se respeite o preceito bíblico de que a mão esquerda não saiba o que a direita faz em favor do próximo. De fato, enquanto a generosidade nacional é proporcionada pela dadivosa mão direita, a esquerda encaminha novos recursos para obras de empreiteiras brasileiras nesses países. Quem garante que a virtude da probidade e a adimplência tenham desabrochado em meio aos maus pagadores e prevaricadores de ontem? Continuaremos financiando empreiteiras e cancelando os débitos? E é uma pena, por fim, que, junto com a bonomia das cotas raciais de nosso comércio exterior, não venha junto uma transparência maior sobre as comissões pagas pelos novos negócios que estão sendo contratados lá com as empreiteiras daqui. Tenho um palpite, mero palpite, de que iríamos encontrar, beneficiado por tais valores, um conhecido lobista que mantém relação de intimidade paternal com as decisões de governo.
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Percival Puggina (68) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, membro do grupo Pensar+

domingo, 8 de dezembro de 2013

Cuba-Venezuela: a invasao consentida, ou a subordinacao programada - Moises Naim

Minha resposta à questão colocada ao final é muito simples: comunistas fieis ao ideario do bolchevismo, do leninismo, do castrismo, enfim, do stalinismo, chegaram ao poder, e por vias disfarçadas começam a construir o Estado totalitário. Não, eles não pretendem construir o socialismo, pois já sabem que o socialismo é um desastre completo. Eles apenas pretendem controlar o poder, para se enriquecer pessoalmente, extorquindo o capitalismo, mas mantendo uma aparência de políticas sociais e de benefícios para a maioria. Se trata de uma ditadura populista, demagógica, mentirosa e totalitária, mas por outras vias que não os desastres socialistas do passado.
O mesmo processo já começa a ocorrer no Brasil, com os milhares de médicos cubanos. Não ocorrerá o mesmo com as FFAA, por certo, mas os efeitos políticos da presença de cubanos no Brasil, para fins eleitorais, já podem ser sentidos.
Este é um projeto cubano, com o consentimento e a total colaboração dos companheiros.
Paulo Roberto de Almeida 

La invasión consentida

Vejam o video em: efectonaim.ntn24.com

Es el gran misterio de la geopolítica mundial. ¿Cómo la pequeña isla de Cuba ha podido adueñarse de una potencia petrolera como Venezuela?

O Mercosul existe? Parece que nao: Brasil caminha sozinho, sem Argentina e Venezuela

Inacreditável, mas verdadeiro: o "membro pleno" que é a Venezuela sequer participa das negociações com a UE, a Argentina, membro original, fundador, vai ver se pode aderir depois, ou seja, o Mercosul é uma obra de ficção.
Paulo Roberto de Almeida 

Brasil tenta driblar o Mercosul para fechar um acordo com a UE

El País, 23/11/2013

Cristina Fernandez De Kirchner com Dilma Rousseff. / Blog do Planalto

O Brasil parece decidido a romper com as amarras do Mercosul para acertar, de uma vez por todas, um acordo de livre comércio com a União Europeia, à altura da importância da sua economia. Depois da frustrada tentativa de fechar este acordo em 2004, o Governo brasileiro, com apoio da iniciativa privada local, deve propor um ritmo de redução tarifária para até 90% dos itens comercializados entre o país e o bloco europeu, mais célere que o dos seus sócios. Ou seja, o Brasil poderá ter prazos diferentes para a diminuição de tarifas do que o Uruguai, Paraguai e Argentina – a Venezuela, que entrou no Mercosul no ano passado, não participa desta negociação, cuja próxima reunião está marcada para o mês que vem.
O anúncio, em fevereiro deste ano, de que a União Europeia e os Estados Unidos deram início a conversações para estabelecer uma zona de livre comércio, tornou mais evidente a inanição brasileira em sua política externa, enquanto outros países correm para demarcar seus territórios e acelerar suas trocas comerciais. Mais próximo ainda, o bloco Aliança do Pacífico, formado há dois anos por Peru, Chile, México e Colômbia, começa a ser apontado como modelo de parceria bem-sucedida no continente. Com um PIB de 2 trilhões de dólares, ou 35% do total da América Latina, o bloco avança a passos largos, tentando estreitar as relações com os países europeus e os Estados Unidos. Além disso, conta com economias mais estáveis aos olhos dos investidores.
Embora o PIB dos quatro países do Mercosul represente um total de US$ 2,8 trilhões, superando o bloco do Pacífico, a instabilidade da Argentina, com os arroubos da sua presidente, Cristina Fernandez, em nome do protecionismo, despertam dúvidas sobre o avanço das negociações com a Europa. O país vizinho tem sido comparado a uma bola de ferro presa à canela do Mercosul, que não consegue avançar sem a sua anuência. “Amargamos praticamente uma prisão dentro do Mercosul”, reclama o senador do PSDB Aécio Neves, virtual candidato de oposição à presidência da República, para as eleições do ano que vem.
Em 2004, depois de cinco anos de conversação entre os dois blocos, os argentinos dificultaram o acordo por questões menores, lembra o ex-ministro do Desenvolvimento e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, durante o governo Lula. “Os europeus queriam acesso de uma cota de 50.000 carros de alta cilindrada para vender ao Mercosul. Nós pedimos menos, e chegamos a 38.000, mas não víamos riscos, pois nossas montadoras não fabricavam esse modelo”, lembra Furlan. “Na ocasião, eu e o Antonio Palocci (ex-ministro da Fazenda) ligamos para o Roberto Lavagna (ex-ministro da Economia da Argentina) para convencê-lo a aceitar a proposta, mas eles estavam preocupados em renegociar sua dívida externa, e um acordo com a UE tornou-se secundário".
Se as negociações tivessem sido fechadas uma década atrás, o acordo entre os dois blocos seria o maior do mundo, e o Brasil lograria avançar mais rápido na internacionalização das suas empresas, na ampliação das exportações e teria acelerado algumas reformas internas. Olhar para trás, no entanto, não altera o resultado atual. Mas, ajuda a mudar a postura brasileira na mesa de negociações.
De 2004 para cá, várias mudanças varreram o mundo. A União Europeia congrega hoje 27 países, e nao mais 15, como em 2004, um acordo entre os dois blocos perdeu o ineditismo no cenário global, e a China ganhou uma importância decisiva para o comércio exterior. Tudo isso conspira para que o Governo brasileiro seja mais preciso na busca por saídas para driblar a necessidade de negociar em conjunto com seus demais sócios no bloco. “O Brasil não exclui nenhuma solução que possa facilitar o cumprimento da oferta para a integração”, diz Daniel Godinho, secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento. “Mas, o exercício, no momento, é de consolidação de propostas entre os membros do grupo”, completa.
A proposta brasileira já está pronta desde outubro, e será confrontada com a dos demais sócios nas próximas semanas. Até o final de dezembro, representantes dos dois blocos devem apresentar seus respectivos documentos finais, com vista a aparar arestas em temas mais sensíveis, numa reunião  que pode ser realizada em Bruxelas, no máximo até o dia 20 de dezembro. O presidente uruguaio, José Mujica, já se posicionou publicamente a favor das propostas brasileiras. “É sábio e previdente não depender de um único mercado”, disse Mujica, referindo-se ao papel preponderante da China no continente – os chineses são os principais importadores dos produtos brasileiros, por exemplo.
A necessidade de encontrar alternativas para chegar a um acordo de livre comércio com a Europa é praticamente um consenso dentro e fora do governo. “Há mais disposição do lado empresarial, e acredito que o governo está mais alerta para a necesidade de essa agenda andar”, diz Pedro Passos, presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), e sócio da indústria de cosméticos Natura, que está presente em oito países. “As condições atuais são melhores do que antes”, completa Passos.
Furlan avalia que não há espaço para recuos.“Perdemos uma grande oportunidade no passado, mas agora o Brasil tem de ir adiante, com ou sem o apoio da Argentina”, diz. Godinho, do Ministério do Desenvolvimento, no entanto, avalia que o fracasso no passado nao pode ser atribuído à Argentina. “Nós tínhamos uma oferta muito boa, mas não houve correspondência da oferta europeia”, afirma.
Seja como for, além dos ajustes entre os sócios do Mercosul, o Brasil enfrenta desafios complexos. Um deles é a redução do comércio com a Europa. De janeiro a outubro deste ano, o país exportou 2,06% a menos para o bloco europeu, num total de 40,3 bilhões de dólares, e importou 42,7 bilhões, ou 7,9% a mais que no ano passado. Desta forma, acumula um déficit de 2,38 bilhões de dólares na balança, o primeiro saldo negativo com os europeus desde 1999.
Os representantes da iniciativa privada, no entanto, estão confiantes, pois a classe política está mais consciente da necessidade de mudar de postura. “Todos os candidatos à presidência da República para as eleições do ano que vem falam em fechar acordos bilaterais, por exemplo”, diz Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura no governo Lula. “Isso é fundamental, pois 40% de comércio mundial é feito por essa via”, justifica. Hoje o Brasil só tem acordos do gênero com Israel, Egito e com a Palestina. “Precisamos correr, pois no comércio ou você ganha ou você morre”, afirma Rodrigues. Para o senador Neves, o acordo com a União Europeia é a última tábua de salvação do Brasil contra o isolamento. “Caso contrário, estaremos excluídos, definitivamente, das cadeias globais de comércio exterior”, conclui.

Brasil dos companheiros: o Estado nazista em construcao - Dossie RomeuTuma Jr (Veja)

Na VEJA desta semana

Tuma Junior revela em livro segredos sórdidos do poder

Entre os assuntos abordados está a conta do mensalão nas Ilhas Cayman

APARELHO CLANDESTINO - Romeu Tuma Junior: "Recebi ordens para produzir e esquentar dossiês contra uma lista inteira de adversários do governo"
APARELHO CLANDESTINO - Romeu Tuma Junior: "Recebi ordens para produzir e esquentar dossiês contra uma lista inteira de adversários do governo" (Paulo Vitale)

A Secretaria Nacional de Justiça é um posto estratégico no organograma de poder em Brasília. Os arquivos do órgão guardam informações confidenciais de outros países, listas de contas bancárias de investigados e documentos protegidos por rigorosos acordos internacionais. Cercado por poderosos interesses, esse universo de informações confere ao seu controlador acesso aos mais restritos gabinetes de ministros e a responsabilidade sobre assuntos caros ao próprio presidente da República. Durante três anos, o delegado de polícia Romeu Tuma Junior conviveu diariamente com as pressões de comandar essa estrutura, cuja mais delicada tarefa era coordenar as equipes para rastrear e recuperar no exterior dinheiro desviado por políticos e empresários corruptos. Pela natureza de suas atividades, Tuma ouviu confidências e teve contato com alguns dos segredos mais bem guardados do país, mas também experimentou um outro lado do poder — um lado sem escrúpulos, sem lei, no qual o governo é usado para proteger os amigos e triturar aqueles que são considerados inimigos. Entre 2007 e 2010, período em que comandou a secretaria, o delegado testemunhou o funcionamento desse aparelho clandestino que usava as engrenagens oficiais do Estado para fustigar os adversários.
As revelações de Tuma sobre esse lado escuro do governo estão reunidas no livroAssassinato de Reputações — Um Crime de Estado (Topbooks; 557 páginas; 69,90 reais), que chega às livrarias nesta semana. Idealizado inicialmente para desconstruir a campanha de difamação de que o autor foi vítima (Tuma foi demitido do governo sob a acusação de manter relações com contrabandistas), o livro, escrito em parceria com o jornalista Claudio Tognolli, professor de duas universidades em São Paulo, pescou mais fundo das memórias do autor: “Entrevistei Tuma Junior seis dias por semana durante dois anos. Ele queria uma obra baseada na revelação de fatos, queria que a publicação do livro o levasse ao Congresso para depor nas comissões, onde ele poderia mostrar documentos que não tiveram lugar no livro na sua inteireza”. Fica a sugestão.  
O senhor diz no livro que descobriu a conta do mensalão no exterior
Eu descobri a conta do mensalão nas Ilhas Cayman, mas o governo e a Polícia Federal não quiseram investigar. Quando entrei no DRCI, encontrei engavetado um pedido de cooperação internacional do governo brasileiro às Ilhas Cayman para apurar a existência de uma conta do José Dirceu no Caribe. Nesse pedido, o governo solicitava informações sobre a conta não para investigar o mensalão, mas para provar que o Dirceu tinha sido vítima de calúnia, porque a VEJA tinha publicado uma lista do Daniel Dantas com contas dos petistas no exterior. O que o governo não esperava é que Cayman respondesse confirmando a possibilidade de existência da conta. Quer dizer: a autoridade de Cayman fala que está disposta a cooperar e aí o governo brasileiro recua? É um absurdo.

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VEJA: Romeu Tuma Junior detona PT em Livro Bomba


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tuma livro
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Como diria um filósofo, as consequências sempre vêem depois:

Lula na Comissão Nacional da Verdade
Para: Ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República
Excelentíssima Sra.Ministra Maria do Rosário, 

Em função das graves denúncias publicadas pela Revista Veja que dão conta da atuação do Senhor Luís Inácio Lula da Silva como informante do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) durante o período do Regime Militar, nós, cidadãos brasileiros, solicitamos à vossa excelência a inclusão de seu nome como testemunha a ser ouvida pela Comissão Nacional da Verdade a fim de que fique claro qual foi sua atuação naquela época tão polêmica da nossa história política. 

Atenciosamente, 

Cidadãos Brasileiros.

Italia: uma decadencia grandiosa, como seu passado, e por sua propriaculpa - Walter Mayr

Países, como as pessoas, podem estagnar, ou até recuar. A China recuou durante dois séculos pelo menos, antes que o maoismo delirante terminasse de afundá-la um pouco mais.
A Argentina, aqui ao nosso lado, é outro caso exemplar de decadência espetacular: fazem pelo menos 80 anos que ela recua, e ainda não terminou.
Mesmo o Brasil, que aparentemente avança (pouco) materialmente, recua estrondosamente no plano intelectual e moral, para nada dizer do atraso mental de nossas elites empresariais, políticas e acadêmicas (ou seja, todo mundo).
Ninguém está ao abrigo desses saltos para trás, ou de uma lenta, quase imperceptível, decadência.
Não chorem pela Itália, ou pela Argentina. Olhem para dentro. E vejam os mesmos, ou outros, sinais da nossa própria estagnação, ou até retrocesso. Basta olhar, aliás, para nossa "elite" política...
Paulo Roberto de Almeida 

Ícone da riqueza italiana, Milão se afunda na crise

WALTER MAYR / DER SPIEGEL
O Estado de S.Paulo, 08 de dezembro de 2013

Além das empresas de moda, já nas mãos de investidores externos, cidade acompanhou venda do Inter e da sede do 'Corriere della Sera'

Os dias em que Milão se considerava uma fortaleza, símbolo de crescimento e progresso, aparentemente se foram. Enquanto com a crise aumenta o número dos pobres, a elite da classe empresarial da cidade procura atrair investidores e ao mesmo tempo trava uma batalha com os tribunais em várias ações legais.
Beppe Severgnini é conhecido pela descrição peculiar que ele costuma fazer da Itália em seus best-sellers e por seus títulos inusitados, como: "Como sobreviver na Itália sem casar, sem atropelar ninguém ou ir para a cadeia".
Severgnini é uma figura bastante conhecida, e não apenas na Itália. A BBC e a The Economist apreciam este bizarro colunista, que, há 12 anos, recebeu da Rainha Elizabeth II o prêmio oficial do Império Britânico. Entrevistado em Milão, num dia de novembro, o escritor afirmou balançando a cabeça que já não compreende o mundo. "Em um único dia, eles venderam o meu clube de futebol e a sede do meu jornal."
O Corriere della Sera, que publica as colunas de Severgnini, era o orgulho e a alegria de Milão desde 1876. O clube, ao qual Severgnini dedicou três livros e entregou seu coração, é o F.C. Internazionale Milano, mais conhecido como Inter. Fundado em 1908, o Inter venceu inúmeras Copas Europeias e é o único clube italiano que jamais saiu da primeira divisão.
O Inter e o Corriere della Sera são - ou eram - parte de Milão quanto o teatro Alla Scala e o Duomo, a catedral.
Em novembro, o Corriere noticiou que 70% do Inter, que por 105 anos pertenceu a proprietários italianos, estava sendo vendido a um investidor indonésio. Depois de injetar 1,2 bilhão no clube, seu proprietário e presidente Massimo Moratti, um magnata das refinarias de petróleo, filho de uma das melhores famílias de Milão, concluiu que já não aguentava mais.
A notícia divulgada no site do Inter estava acompanhada pelo anúncio de que o Corriere estava vendendo sua sede em Via Solferino. A investidora financeira Blackstone, dos Estados Unidos, compraria o histórico palácio da editora, com seus 30 mil metros quadrados, 120 milhões. Os atuais donos poderiam permanecer por algum tempo no imóvel como inquilinos. A equipe editorial ficou revoltada com a venda.
"Os americanos podem comprar muitas coisas, mas não a história", comentou amargurado Severgnini. "E esta (sede) é história. Todo mundo já escreveu neste edifício: Pasolini, Pirandello, Sciascia e Moravia. Aqui nós caminhamos sobre as pegadas desses gigantes."
Imponência. Foi um desses gigantes, Indro Montanelli, que certa vez afirmou que Milão era "a verdadeira capital do país", porque o que começa em Milão, capital da região da Lombardia, em geral se difunde imediatamente por toda a Itália. Foi o caso do fascismo de Mussolini, que começou em 1919, e do berlusconismo, 75 anos mais tarde. Isto também se aplica ao milagre econômico depois da Segunda Guerra Mundial e ao desmoronamento do panorama político nos anos 1990.
Será agora mais que uma brincadeira do destino o fato de duas das mais importantes instituições de Milão, o Inter e o Corriere, estarem sendo parcialmente vendidas? Será que outras liquidações de marcas italianas se seguirão a estas? Tradicionais empresas do mundo da moda, Gucci, Fendi, Bulgari, Valentino e Loro Piana, já passaram para mãos estrangeiras. Atualmente, Versace tem planos para vender uma parcela minoritária da companhia.
"É muito provável que os canadenses logo mais comprem o Duomo também", gracejou em setembro o Corriere, "e que os paquistaneses comprem a Nutella".
Dificilmente outros países da União Europeia viram poucos investimentos externos diretos como a Itália nos últimos anos. Talvez seja esta uma das razões da crescente pressão para que empresas pertencentes a tradicionais famílias italianas se abram mais ao capital global.
Isto porém está suscitando também muita ansiedade. "Os anões da McKinsey querem nos transformar em uma nação de veneráveis garçons, violonistas, violinistas e enfermeiros geriátricos", retrucou com raiva Giulia Sapelli, que leciona administração de empresas em Milão.
O Corriere della Sera é o mais antigo jornal da Itália, e também o de maior circulação. A lista de acionistas do Corriere é um resumo elite industrial e financeira local. Quase todo mundo que se considera pertencente ao topo do topo da sociedade de Milão quer ter uma participação no Corriere. Entre seus acionistas estão Fiat, Pirelli, Mediobanco, Tod's e Benetton.
"Todo o establishment italiano estava no nosso conselho de diretores; hoje, estes não passam de líderes econômicos enfraquecidos", afirma Ferruccio de Bortoli, o diretor responsável. Sentado diante da primeira edição emoldurada do Corriere, de 5 de março de 1876, ele luta com a decisão de comprometer a lenda do Corriere por dinheiro, atestando o seu declínio.
Independência. Se necessário, De Bortoli pretende continuar publicando artigos nada lisonjeiros sobre os acionistas do jornal. Ele diz que não sente obrigado a tratar com luvas de pelica a Fiat e outros acionistas com vendas de bilhões de euros, "porque, afinal, o Corriere existe há mais tempo do que seus acionistas". Além disso, acrescenta, ultimamente eles vêm fornecendo material suficiente para manchetes negativas.
O presidente da indústria de pneus Pirelli, Mario Tronchetti Provera, por exemplo, o executivo mais bem pago da Itália em 2011, com um salário anual de 14,5 milhões, foi condenado em julho a 20 meses de cadeia por espionagem econômica.
O bilionário Salvatore Ligresti se encontra em prisão domiciliar por corrupção e fraudes contábeis. A Mediobanca, instituição bancária de proa da antiga Itália dos negócios, está sendo submetida a investigações.
Além disso, no último dia 1º de agosto, mais uma notícia negativa abateu a reputação de Milão: o Supremo Tribunal italiano manteve a condenação por fraudes fiscais do por quatro vezes primeiro ministro e magnata das comunicações de Milão, Silvio Berlusconi.
 TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

Brasileiros amam o Estado - Pesquisa DataFolha







Nada divide tanto os brasileiros como a concepção do papel que o Estado deve ter em suas vidas. É o que mostra a mais completa pesquisa do Datafolha sobre as inclinações ideológicas do país.
Confrontados com afirmações antagônicas sobre vários temas, as pessoas se dividiram simetricamente ao falar de suas relações com o Estado.
Para 47%, quanto mais benefícios receber do governo, melhor. Para outros 47%, quanto menos a pessoa depender do governo, melhor.
No Nordeste, a região mais pobre do país, e entre pessoas que recebem até dois salários mínimos, estrato mais baixo de renda, a preferência pela ajuda do governo atinge 53%.
Outra questão que divide bastante a população tem a ver com a elevada carga tributária do país e a qualidade dos serviços que o governo oferece. Para 49%, seria preferível pagar menos tributos e contratar serviços particulares de saúde e educação.
É o que pensam 60% das pessoas que ganham mais de dez salários mínimos. A formulação alternativa, pagar mais impostos e ter saúde e educação gratuitas, é preferida por 43% da população.
O Datafolha faz pesquisas sobre as preferências ideológicas da população desde setembro de 2012, mas esta foi a primeira vez em que os assuntos econômicos foram incorporados ao questionário. Foram realizadas 4.557 entrevistas em 194 municípios, nos dias 28 e 29 de novembro.
Os resultados mostram que o brasileiro médio preza valores comportamentais de direita, mas manifesta acentuadas tendências de esquerda no campo econômico.
Em todo o país, 41% identificam-se mais com ideias de esquerda ou centro-esquerda. Outros 39% são mais simpáticos aos valores de direita ou centro-direita.
A pesquisa deixa evidente a simpatia que os brasileiros têm pela ação do Estado. Quase 70% acham que o governo deveria ser o principal responsável pelo crescimento econômico do país, e não as empresas privadas.
Além disso, 58% entendem que as instituições governamentais precisam atuar com força na economia para evitar abusos das empresas.
Um contingente de 57% diz que o governo tem obrigação de salvar as empresas nacionais em apuros quando elas enfrentam risco de falência. E 54% associam leis trabalhistas mais à defesa dos trabalhadores do que à ideia de empecilho às empresas.
Nas questões de comportamento, os resultados da pesquisa foram semelhantes aos de levantamentos anteriores produzidos pelo Datafolha. Quando o assunto é religião ou drogas, há quase uma unanimidade nacional. Quase 90% acham que acreditar em Deus torna alguém melhor. E 83% continuam a favor da proibição das drogas. (RICARDO MENDONÇA)
Editoria de Arte/Folhapress
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