Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
Sempre recebo, quase diariamente (daily@delanceyplace.com), extratos selecionados de livros recentemente publicados através do site Delancey Place, que todo mundo pode assinar (www.delanceyplace.com).
Pois bem, o livro selecionado nesta quarta-feira, 9 de Abril de 2014, é um sobre o surgimento da linguagem e sobre como esse fator nos permitiu, melhor dito, permitiu a certos hominídeos, nos distinguir dos demais espécies de primatas superiores, adquirindo uma alavanca e uma ferramenta poderosa para estabelecer a cooperação entre membros da mesma espécie, para defesa conjunta contra predadores e, portanto, conquista do meio ambiente e seleção natural em direção de um futuro de sobrevivência e progresso.
Eu disse progresso?
Sim, mas esta é uma palavra iluminista que não precisa ser dominante o tempo todo.
Em alguns casos pode haver retrocesso, ou involução, como observado no recente caso de uma prova de colégio em Brasília, onde um professor, que não honra seu nome de família (de um ex-presidente, o que justamente construiu Brasília, aliás contra o orçamento, e sem orçamento), propôs como questão algo relacionada ao caráter de grande pensadora do Brasil, quem sabe da Humanidade, certa representante da espécie que deve sua sobrevivência na selva atual de predadores de mercado mais a certos atributos físicos do que propriamente a sua capacidade cognitiva ou dons de linguagem. Acho que me fiz entender.
Mas, o que mais me choca não é a "popozuda" em questão, ou mesmo o professor primário que colocou uma questão indecente, e incompreensível para primatas superiores, a alunos inocentes da mesma espécie.
O que me chocou, sobremaneira, foi o "debate" que se seguiu, inclusive televisionado ou rádio-difundido. O que ouvi, ou li, de representantes de uma outra espécie superior, a de supostos acadêmicos do terceiro ciclo (ou o que passa por isso), foi a defesa feita desse professor primata por universitários primatas, que tampouco parecem dominar adequadamente os dons da linguagem adquiridos por nossos ancestrais 200 ou 300 mil anos atrás.
Foi a confirmação definitiva de que eu necessitava para continuar assegurando que a educação brasileira não corre nenhum risco de melhorar, e que ela só pode continuar alegremente seu caminho para o brejo.
Como diria alguém, que país é este?
Que futuro pode ter um país que tem primatas não superiores no ensino superior?
Paulo Roberto de Almeida
This Fleeting World David Christian
Today's selection -- from This Fleeting World by David Christian. We have always grasped to define what characteristic it is, if anything, that distinguishes humans so markedly from other species. Attempted answers to this question have included our use of tools, our brain size, our bipedalism, but as our study of other species has become more sophisticated, those answers have proven inadequate. Our current answer is our use of symbolic language. The first evidence of this characteristic is from 200,000 to 300,000 years ago -- which may be the point at which the species of humans as we know them began to emerge:
"At the moment, the most powerful marker, the feature that distinguishes our species most decisively from closely related species, appears to be symbolic language. Many animals can communicate with each other and share information in rudimentary ways. But humans are the only creatures who can communicate using symbolic language: a system of arbitrary symbols that can be linked by formal grammars to create a nearly limitless variety of precise utterances. Symbolic language greatly enhanced the precision of human communication and the range of ideas that humans can exchange. Symbolic language allowed people for the first time to talk about entities that were not immediately present (including experiences and events in the past and future) as well as entities whose existence was not certain (such as souls, demons, and dreams).
"The result of this sudden increase in the precision, efficiency, and range of human communication systems was that people could share much more of what they learned with others; thus, knowledge began to accumulate more rapidly than it was lost. Instead of dying with each person or generation, the insights of individuals could be preserved for future generations.
"As a result, each generation inherited the accumulated knowledge of previous generations, and, as this store of knowledge grew, later generations could use it to adapt to their environment in new ways. Unlike all other living species on Earth, whose behaviors change in significant ways only when the genetic makeup of the entire species changes, humans can change their behaviors significantly without waiting for their genes to change. This cumulative process of 'collective learning' explains the exceptional ability of humans to adapt to changing environments and changing circumstances. It also explains the unique dynamism of human history. In human history culture has overtaken natural selection as the primary motor of change.
The 'Florisbad Skull' classified as Homo helmei
"These conclusions suggest that we should seek the beginnings of human history not only in the anatomical details of early human remains, but also in any evidence that hints at the presence of symbolic language and the accumulation of technical skills. [Archeological] findings ... link the earliest evidence of symbolic activity (including hints of the grinding of pigments for use in body painting) and of significant changes in stone tool technologies with the appearance of a new species known as 'Homo helmei,' The remains of this species are so close to those of modern women and men that we may eventually have to classify them with our own species, Homo sapiens. The earliest anatomical, technological, and cultural evidence for these changes appears in Africa between 200,000 and 300,000 years ago."
Desde abril de 2013 o BC elevou a taxa Selic de 7,25% para 10,75% ao ano, mas a inflação permanece alta e há receio que possa, inclusive, ultrapassar o máximo permitido (6,5%) ao final deste ano. Em face disto há quem se pergunte se teria havido algum enfraquecimento recente dos mecanismos de transmissão de política monetária, pois no passado uma variação semelhante da Selic foi efetiva para reduzir a inflação.
Neste sentido, o artigo de Yoshiaki Nakano (“Juro alto não derruba a inflação”, Valor Econômico, 18/03/2014) se revela uma contribuição inestimável. Não, é bom deixar claro, por resolver o problema, mas porque é difícil conceber uma coluna que cometa tantos equívocos em tão pouco espaço. São estas atrocidades que, por seu caráter didático, nos permitem iluminar algumas das dificuldades hoje enfrentadas pelo BC.
A principal atrocidade é sua afirmação sobre a ineficácia da política monetária. Segundo Nakano, a causa da desinflação observada entre 2004 e 2006 teria sido apenas a apreciação cambial.
Por outro lado defende que o único critério de verdade é a correspondência da teoria com a realidade, o que nos oferece uma oportunidade reveladora de ver como a teoria que ele critica se comporta na prática.
Assim sendo, o convido a examinar o gráfico aqui exposto, que mostra forte relação negativa entre a taxa real de juros e a inflação, com defasagem de 18 meses. Em linguagem de gente, taxas de juros mais altas estão associadas a inflação futura mais baixa e vice-versa.
Vale notar que usamos o “núcleo” de inflação, ou seja, uma medida não afetada por preços de alimentos ou pelos preços administrados (muito embora a relação permaneça válida caso usemos a inflação “cheia”). A vantagem desta medida é retirar, a priori, possíveis fontes dos “choques de oferta” que tanto o preocupam (exceto, é claro, quando o governo reduz tarifas de energia ou ônibus e controla os preços dos combustíveis, mascarando a verdadeira inflação).
Esta evidência sobrevive também a testes mais sofisticados, sugerindo que as “versões enviesadas” da teoria que Nakano menciona parecem se corresponder com a realidade muito melhor do que ele imagina. Tão bem, aliás, que oferecem uma pista valiosa para a solução da aparente ineficácia recente.
Com efeito, diz a teoria (e a evidência) que o nívelda inflação depende donível da taxa real de juros. Não há, pois, razão para esperar que um aumento da taxa de juros de 2% para 5% a.a. tenha o mesmo efeito sobre a inflação que a elevação de, digamos, 5% para 8% a.a., ainda que a variação (3 pontos percentuais) seja a mesma, fenômeno devidamente esquecido pelo articulista. Simplesmente a inflação que decorre de juro real de 5% a.a. é mais alta do que a resultante de juro real de 8% a.a.
Deve também ter sido por esquecimento (ou desconhecimento de como operava nosso regime de metas) que Nakano apresenta como “novidade” a ideia de basear as decisões de taxa de juros nas projeções de inflação e não na inflação passada. Como se o BC não fizesse menção às suas previsões de inflação a cada ata, nem publicasse trimestralmente seus valores numéricos (e intervalos de confiança!), projeções que, em outros tempos, eram o principal norte da política monetária.
Já a proposta de ter como meta apenas a inflação de preços livres, descartando os administrados, parece ignorar que os primeiros têm superado os últimos desde 2010. Caso seguisse a sugestão de Nakano, a política monetária teria que ser mais apertada do que foi, certamente não o que ele tinha em mente ao formular a proposta.
Chega a ser surpreendente que, num debate importante como o que hoje se trava, haja intervenções que se revelam primárias no entendimento tanto da teoria como dos fatos que circundam a operação do regime de metas no país. Nada contra palpiteiros, mas um tanto de estudo antes me parece absolutamente essencial.
Eu já estive em Brazil, uma vez, e fiz um desvio de algumas dezenas de milhas, entre Indianapolis e Chicago, apenas para conhecer essa cidadezinha, que se atravessa em menos de 5 mns de carro.
Não sabia que um outro sindicalista mafioso tinha nascido ali.
Agora sei: mafiosos podem nascer em qualquer lugar, no Brazil, no Brasil, wherever...
Cada vez mais, o ex-presidente Lula parece querer passar à história não como o líder operário que chegou à presidência da República do seu país, mas como uma figura infinitamente menor e maculada pelo que existe de pior na vida pública, do qual o melhor exemplo está na figura de James Riddle "Jimmy" Hoffa, sindicalista americano arrivista e corrupto, envolvido com a máfia, cujo sonho maior era chegar à Casa Branca.
Como ex-presidente do Sindicato Nacional dos Motoristas de Caminhão dos Estados Unidos, Jimmy Hoffa foi um dos mais poderosos e polêmicos líderes sindicais daquele país. Sua gestão no sindicato, que contava com cerca de dois milhões de integrantes, entre 1957 e 1971, foi marcada por denúncias de corrupção e práticas de intimidações. Em 1967 foi condenado a 13 anos de prisão sob acusação de suborno, estelionato e malversação de fundos de aposentadoria do sindicato.
Em 30 de julho de 1975, Hoffa desapareceu depois de almoçar com três pessoas ligadas à máfia, em um restaurante no subúrbio de Detroit. Seu corpo nunca foi encontrado, e em 1982 foi declarado legalmente morto.
Voltando à Lula; um ex-presidente se envolver abertamente em movimentos tentando impedir a investigação de um colossal esquema de corrupção, a exemplo do que já havia feito durante o mensalão, é se reduzir historicamente e se colocar no mesmo nível de um Jimmy Hoffa. Com a diferença que o povo brasileiro, aparentemente, não corre o menor risco de ver Lula desaparecer misteriosamente, a exemplo do sindicalista americano.
Curiosidade: James Riddle "Jimmy" Hoffa nasceu em 1913 em uma cidade chamada Brazil, no Estado americano de Indiana, e mudou-se aos sete anos, após a morte do pai, para Detroit, polo industrial e automobilístico americano, tendo abandonado a escola aos quatorze anos.
Luiz Inácio "Lula" da Silva nasceu em 1945, em Garanhuns, no Estado brasileiro de Pernambuco, e mudou-se aos sete anos, após o sumiço do pai, para São Paulo, polo industrial e automobilístico brasileiro, tendo abandonando a escola aos quatorze anos.
Qualquer semelhança pode ser mera coincidência. Ou não.
Não é possível ignorar o caos instalado no país em março de 1964
A lembrança dos 50 anos da queda de João Goulart ocupou amplo espaço na imprensa. Nenhum outro acontecimento da história do Brasil foi tão debatido meio século depois do ocorrido. Para um otimista, isto poderia representar um bom sinal. Afinal, o nosso país tem uma estranha característica de esquecer o que ocorreu ontem. Porém, a reflexão e o debate sobre 1964 e o regime militar acabaram sendo dominados justamente por aqueles que conduziram o país à crise da república populista e que negaram os valores democráticos nos anos 1960-1970.
A tendência à hagiografia mais uma vez esteve presente. João Goulart foi transformado em um presidente reformista, defensor dos valores democráticos e administrador capaz. Curiosamente, quando esta narrativa é cotejada com relatos de assessores, como o ministro Celso Furtado, ou de um amigo, como o jornalista Samuel Wainer, cai por terra. Furtado, em entrevista à revista “Playboy” (abril, 1999) disse que Jango “era um primitivo, um pobre de caráter”. Wainer relatou que “uma vez por mês, ou a cada dois meses, eu visitava os empreiteiros e recolhia suas doações, juntando montes de cédulas que encaminhava às mãos de João Goulart. (…) Eu poderia ter ficado multimilionário entre 1962 e 1964. Não fiquei.” (“Minha razão de viver”, p. 238).
Não é possível ignorar o caos instalado no país em março de 1964. A quebra da hierarquia militar incentivada pelo presidente da República é sabidamente conhecida. A gravidade da crise econômica e a inépcia governamental em encontrar um caminho que retomasse o crescimento eram mais que evidentes. O desinteresse de Jango de buscar uma solução negociada para o impasse não pode ser contestado: é fato. O apego às vazias palavras de ordem como um meio de ocultar a incompetência político-administrativa era conhecido. Conta o senador Amaral Peixoto, presidente do Partido Social Democrático, que em conversa com Doutel de Andrade, um janguista de carteirinha, este, quando perguntado sobre o projeto de reforma agrária, riu e respondeu: “Mas o senhor acredita na reforma agrária do Jango? No dia em que ele fizer a reforma agrária, o que vai fazer depois?” (“Artes da política”, p.455)
Também causa estranheza a mea culpa de alguns órgãos de imprensa sobre a posição tomada em 1964. A queda de Jango deve ser entendida como mais um momento na história de um país com tradição (infeliz) de intervenções militares para solucionar crises políticas. Nos 40 anos anteriores, o Brasil tinha passado por diversas movimentações e golpes civis-militares. Basta recordar 1922, 1924, Coluna Prestes, 1930, 1932, 1935, 1937, 1938, 1945, 1954, 1955 — tivemos três presidentes da República e dois golpes no mês de novembro – e 1961.
Jogar a cartada militar fazia parte da política. E nunca tinha ocorrido uma intervenção militar de longa duração. Esperava-se um governo de transição que garantisse as eleições de 3 de outubro de 1965 e a posse do eleito em 31 de janeiro de 1966. Esta leitura foi feita por JK — e também por Carlos Lacerda. Os dois principais antagonistas da eleição que não houve imaginavam que Castello Branco cumpriria o compromisso assumido quando de sua posse: terminar o mandato presidencial iniciado a 31 de janeiro de 1961.
JK imaginou que Castello Branco era o marechal Lott e que 1964 era a repetição — um pouco mais agudizada — da crise de 1955. Errou feio. Mas não foi o único. Daí a necessidade de separar 1964 do restante do regime militar. Muitos que foram favoráveis à substituição de Jango logo se afastaram quando ficou patente a violação do acordado com a cúpula militar. Associar o apoio ao que se imaginava como um breve interregno militar com os desmandos do regime que durou duas décadas é pura hipocrisia.
Ainda no terreno das falácias, a rememoração da luta armada como instrumento de combate e vitória contra o regime foi patética. Nada mais falso. Nenhum daqueles grupos — alguns com duas dúzias de militantes — defendeu em momento algum o regime democrático. Todos — sem exceção — eram adeptos da ditadura do proletariado. A única divergência é se o Brasil seguiria o modelo cubano ou chinês. Não há qualquer referência às liberdades democráticas — isto, evidentemente, não justifica o terrorismo de Estado.
A ação destes grupos os aproximaram dos militares. Ambos entendiam a política como guerra — portanto, não era política. O convencimento, o respeito à diversidade, a alternância no governo eram considerados meras bijuterias. O poder era produto do fuzil e não das urnas. O que valia era a ação, a força, a violência, e não o discurso, o debate. Garrastazu Médici era, politicamente falando, irmão xifópago de Carlos Marighella. Os extremos tinham o mesmo desprezo pelo voto popular. Quando ouviam falar em democracia, tinham vontade de sacar os revólveres ou acionar os aparelhos de tortura.
Em mais de um mês não li ou ouvi qualquer pedido de desculpas públicas por parte de ex-militantes da luta armada. Pelo contrário, se autoproclamaram os responsáveis pelo fim do regime militar. Ou seja, foram derrotados e acabaram vencedores. Os policiais da verdade querem a todo custo apagar o papel heroico da resistência democrática. Ignoraram os valorosos parlamentares do MDB. Alguém falou em Lysâneas Maciel? Foi ao menos citado o senador Paulo Brossard? E a Igreja Católica? E os intelectuais, jornalistas e artistas? E o movimento estudantil? E os sindicatos?
Em um país com uma terrível herança autoritária, perdemos mais uma vez a oportunidade de discutir a importância dos valores democráticos.
Descobriram a pólvora os acadêmicos: parece que os nossos militares foram uns bonecos nas mãos dos agentes americanos. Quanto bobagem disfarçada de pesquisa histórica...
Parece que se não fosse pelos americanos, o governo Goulart continuaria feliz e bem sucedido, no seu itinerário de reformas progressistas, alta inflação, caos administrativo, quebra de hierarquia nas FFAA, deterioração das instituições (com Brizola recomendando fechar o Congresso), enfim, sem os americanos, tudo teria dado certo no Brasil, e teríamos aderido gentilmente ao socialismo, se não fossem esses malditos americanos.
Parece que vamos ter de continuar com a mistificação histórica durante muito tempo mais.
Paulo Roberto de Almeida
Documentos secretos recém-revelados confirmam protagonismo dos Estados Unidos na instauração da ditadura militar no Brasil. A investigação é tema de documentário.
O então presidente do Brasil João Goulart (à esq.) e o embaixador norte-americano Lincoln Gordon (à dir.) em 1961. Gordon foi figura-chave no planejamento do golpe que depôs Jango em 1964. (foto: TV Brasil – EBC/ Flickr – CC BY-NC-SA 2.0)
Não é exatamente uma novidade. Rezam as más línguas que a ditadura militar brasileira foi arquitetada pelos Estados Unidos. Para alguns, é um fato histórico inquestionável. Para outros, no entanto, isso é mera teoria da conspiração.
O tema é sensível. Mas, de acordo com documentos históricos recém-revelados, não resta dúvida: o golpe militar de 1964 foi, de fato, uma tramoia dos ianques.
Os dados indicam que os norte-americanos tramaram e executaram, meticulosamente, cada passo que culminaria, em abril de 1964, na deposição do presidente João Goulart
Essa história sempre foi mal contada. Agora, um instigante documentário – O dia que durou 21 anos – apresenta fatos e dados de difícil refutação. São documentos oficiais e gravações em áudio que mostram conversas de embaixadores e políticos norte-americanos tanto nos Estados Unidos como no Brasil. Esses dados indicam que os norte-americanos tramaram e executaram, meticulosamente, cada passo que culminaria, em abril de 1964, na deposição do presidente João Goulart e na instauração de um dos períodos mais sombrios de nossa história política.
E é claro que, para o sucesso do plano, foi fundamental a cumplicidade de alguns conhecidos barões de imprensa. Em tempo: o regime militar alavancou a ascensão de um império midiático ainda hoje influente no país – assunto que, é claro, não poderia ficar de fora do documentário.
Vale a pena assistir. Dirigido por Camilo Tavares, o documentário foi lançado em março de 2013. E a dica vem em boa hora. Pois em 2014 memoramos – ou lamentamos – os 50 anos do início da ditadura militar no Brasil.
Veja abaixo a primeira parte do documentário O dia que durou 21 anos
Em narrativa bem estruturada, o diretor apresenta documentos e gravações outrora secretos que provam a intervenção estadunidense em nosso país. Historiadores brasileiros e norte-americanos são entrevistados, além de militares da velha guarda – que, em discursos ora cínicos, ora realistas, expõem as contradições do regime que, em nome de uma suposta democracia, impôs uma ditadura.
Figura-chave é o embaixador norte-americano Lincoln Gordon. A mando dos presidentes John F. Kennedy e Lyndon Johnson, ele dedicava-se com afinco ao planejamento de estratégias de intervenção.
Ciência e subversão
A ciência brasileira foi particularmente afetada pelo regime ditatorial – que durou de 1964 a 1985. Quem nos dá um relato vivaz a esse respeito é o patologista Luiz Hildebrando Pereira da Silva, atualmente diretor do Instituto de Pesquisa em Patologias Tropicais de Rondônia. Ele publicou, em 2012, o livro Crônicas subversivas de um cientista (resenhado na CH 294, disponível para assinantes em nosso acervo digital).
No Brasil, houve uma verdadeira diáspora de cientistas
Hildebrando relata os percalços de sua carreira científica – e da de seus colegas – durante as décadas em que a academia estava subjugada aos caprichos dos militares. E dá exemplos contundentes de que, no Brasil, houve uma verdadeira diáspora de cientistas, que, sob acusações descabidas de subversão, exilaram-se ou rumaram em definitivo para outras terras.
Foi assim que, segundo Hildebrando, o país atrasou em pelo menos duas décadas seu progresso científico e tecnológico.
Parece que o Mansueto, como naquela história do banqueiro central, é o cara que, no auge da festa, chega para colocar água no choppe e diminuir o volume do som.
Em todo caso, eu só o contesto numa coisa: economista deve sim falar sobre as consequências de um salário mínimo alto, aliás de qualquer salário mínimo, já que ele provoca desemprego e déficit público.
(1) O otimismo dos ortodoxos na ANPEC 2011: Escrevei isso depois da mesa de conjuntura da ANPEC em 11 de dezembro de 2011 (clique aqui para o ler o post completo):
“.....Mas uma coisa para mim ficou clara, o debate morno que assisti na ANPEC não vai ajudar em nada ao governo na sua difícil tarefa de salvar a indústria, não mostrou de que forma o governo poderá aumentar substancialmente o investimento público e ainda entregar a meta de primário cheia no próximo ano e ninguém comentou que o “fabuloso” superávit primário deste ano vem de uma combinação de fatores que não deve ser repetir: (1) reajustes real do salario mínimo zero; (2) queda nominal na execução do investimento público; e (3) crescimento de receita à uma taxa de 20%, mais do que o dobro do crescimento do PIB.......Alguém acha que a receita continuará crescendo a uma taxa que é o dobro do crescimento do PIB nominal? Eu acredito que não e, portanto, o meu cenário está longe de ser tão cor de rosa e, na falta de espaço fiscal para o governo salvar a indústria, a salvação virá com maior proteção de mercado, o que significa produtos maios caros para nós consumidores.”
(2) O que queremos do BNDES? Em agosto de 2010 publiquei um artigo na pagina 2 do Estado de São Paulo com o título: o que queremos do BNDES? (clique aqui). Neste artigo destacava quatro perguntas técnicas e relevantes para o debate, referente, por exemplo, ao custo dos empréstimos entre outras coisas. Terminava o artigo com a seguinte provocação:
“Chegou a hora de a sociedade decidir o que quer do BNDES. Deve ser um banco voltado principalmente para o financiamento de projetos de infraestrutura? Que tipo de projetos? Qualquer projeto ou de preferência aqueles em que o retorno social seja maior que o privado? Que volume de recursos o banco deverá pôr à disposição para financiar as exportações e os investimentos de longo prazo? O BNDES deve financiar a internacionalização de empresas? Que tipo de empresas, em que condições e qual o volume de recursos alocados para essa finalidade? O BNDES deve financiar operações de fusões e aquisições? Em que setores e por quê?..... O mais interessante nesse debate é que os que se autodenominam "defensores do investimento" não querem debater como podemos fortalecer o BNDES que não seja pelo aumento da dívida pública”.
O debate hoje é exatamente o mesmo. Depois de quase quatro anos e das minhas provocações desde 2009, ainda não sei as repostas para as minhas dúvidas neste debate e, hoje, os empréstimos do Tesouro para os bancos públicos já chegam a quase 10% do PIB.
(3) Desindustrialização: Em 16 de novembro de 2010, publiquei aqui um post com o titulo - Sobre a Desindustrialização: o que fazer? (clique aqui). Neste post mostrava como seria difícil ter um equilíbrio macroeconômico que levasse a uma forte recuperação da indústria na participação do PIB e alertava que o governo flertaria com controle à entrada de capital externo e maior proteção comercial, o que de fato aconteceu. Eu pensava até que haveria um aumento da tributação sobre as commodities minerais, o que não ocorreu porque o novo Código de Mineração ficou parado no Congresso. Lá atrás falei o seguinte:
“É claro que a maior parte dos economistas de fora do governo acredita que a única forma de combater a valorização do real é por meio de um maior controle no crescimento dos gastos públicos, que reduziria a pressão de demanda, permitindo ao BACEN trabalhar com juros menores para atingir a meta de inflação. Adicionalmente, um aumento da poupança pública (economia do governo) significaria uma menor necessidade de poupança externa e, logo, saldo em conta corrente menos deficitário devido à queda da demanda.”
Em 2012, o BACEN reduziu a Selic para 7,25% aa, mas foi uma redução temporária aproveitando o excesso de liquidez no mercado internacional que não se sustentou. A taxa hoje voltou para 11% ao ano e a situação fiscal piorou. Assim, como precisaremos continuar arrecadando muito para pagar as contas, a indústria no Brasil vai continuar sofrendo com o peso dos impostos.
(4) Corte das despesas em 2011 e contingenciamento. Em 2011, logo no início do governo quando mercado estava super otimista com a suposta “forte redução das despesas de custeio” e manutenção do investimento, eu alertei em dois posts que isso seria impossível: “O Improvável Corte do Custeio em R$ 50 bilhões” (clique aqui) e “Redução das Despesas: Algumas considerações” (clique aqui).
Depois de quatro anos voltamos ao ponto de partida neste debate. A tendência de crescimento da despesa no Brasil é maior que a tendência do crescimento da receita puxada pelo crescimento do PIB e, assim, precisaremos de um quebra estrutural. Do lado da receita (aumento da carga tributária) e/ou do lado da despesa (um ajuste fiscal com o controle do crescimento da despesa, inclusive, social).
Algumas pessoas acham que gosto de mostrar o que não está dando certo. De maneira alguma. Eu como todos vocês torço para o Brasil dá certo, mas acho que cada um de nós deve contribuir da melhor forma possível para a conscientização e solução dos problemas. O que fazer é decisão política negociada com o Congresso Nacional. Eu não vou dizer nunca qual deverá ser a política de salario mínimo ou qual deverá ser o controle no gasto fiscal. Isso é decisão política e não de economistas.
O que não quero é ser vendedor de ilusões como alguns “intelectuais” que falam que é possível atender imediatamente todos os anseios da sociedade com boa vontade e não abordam a questão do financiamento. Eu adoraria estar errado em tudo que escrevo de finanças públicas e de defender aumento do gasto com redução da carga tributária. Não o faço porque não vejo como.a
In 1844, Karl Marx published his essay “On the Jewish Question.” This wasn’t an engagement with Judaism, or with Jewish history, or even with the sociology of German Jews. Its occasion was the contemporary debate about Jewish emancipation, but its real purpose was to call for the overthrow of the capitalist order. The call was expressed in a language that is probably not surprising to readers today and that was entirely familiar to readers in the nineteenth century. Still, it is a very strange language. Capitalism is identified by Marx with Judaism, and so the overthrow of capitalism will be, he writes, “the emancipation of mankind from Judaism.” The argument is worth quoting, at least briefly:
The Jew has already emancipated himself in a Jewish way…not only insofar as he has acquired financial power, but also insofar as, through him and without him, moneyhas risen to world power and the practical Jewish spirit has become the practical spirit of the Christian peoples. The Jews have emancipated themselves to the extent that the Christians have become Jews.
“Through [the Jew] and without [the Jew]”—mostly without him: as Marx certainly knew, Jews made up a very small part of the moneyed elite of England, the most advanced capitalist country, and an even smaller part of the “rising” German bourgeoisie. His own father had converted to Protestantism in order to facilitate his entry into bourgeois society, where Jews were not welcome in the early nineteenth century.
What Marx is doing here, David Nirenberg argues in his brilliant, fascinating, and deeply depressing book Anti-Judaism, is exactly what many other writers have done in the long history of Western civilization. His essay is a “strategic appropriation of the most powerful language of opprobrium available to any critic of the powers and institutions of this world.” That sentence comes from Nirenberg’s discussion of Martin Luther, but it applies equally well to Marx. Still, we should be more surprised by Marx’s use of this language than by Luther’s, not only because of Marx’s Jewish origins but also because of his claim to be a radical critic of the ideology of his own time. He might, Nirenberg says, have questioned the association of Judaism and capitalism and written a critical history aimed at making his readers more reflective about that association. Instead, he chose to exploit “old ideas and fears about Jewishness.”
Consider another famous use of this language of opprobrium, this time not in support of but in fierce opposition to revolutionary politics. In his Reflections on the Revolution in France, published in 1790, Edmund Burke compared what was going on in France to previous revolutions (like England’s in 1688) that were led by noblemen “of great civil, and great military talents.” By contrast, he wrote, the revolutionary government in Paris is led by “Jew brokers contending with each other who could best remedy with fraudulent circulation and depreciated paper the wretchedness and ruin brought on their country by their degenerate councils.”
In Burke’s case, the choice of this language was probably not “strategic.” The choice was structural—anti-Judaism was a feature of the worldview with which Burke was able to recognize what Marxists later described as a “bourgeois” revolution. “Given the complete absence of Jews from the actual leadership, whether political, pecuniary, or philosophical, of the French Revolution,” Nirenberg writes, the line about “Jew brokers” (and also Burke’s proposal to help the revolutionaries by sending English Jews to France “to please your new Hebrew brethren”) may, again, seem very strange. In fact, it is utterly common; only Burke’s ferocious eloquence is uncommon.
Friendly writers have worked hard to exonerate Burke of anti-Semitism. Nirenberg says only that they miss the point. Burke certainly knew that Danton, Robespierre, Saint-Just, and their friends and enemies among the revolutionaries were, all of them, Catholics and lapsed Catholics (plus a few Protestants). They were only figurative Jews, imaginary Jews, who came to Burke’s mind, and to many other minds,
because the revolution forced him…to confront basic questions about the ways in which humans relate to one another in society. These were questions that two millennia of pedagogy had taught Europe to ask in terms of “Judaism,” and Burke had learnt the lesson well.
2.
Nirenberg’s book is about those two millennia and their pedagogy. It isn’t a book about anti-Semitism; it isn’t a history of the Jewish experience of discrimination, persecution, and genocide; it isn’t an example of what the historian Salo Baron called the “lachrymose” account of Jewish life in exile; nor is it an indictment of contemporary anti-Zionism or a defense of the state of Israel. The book is not about Jews at all or, at least, not about real Jews; it deals extensively and almost exclusively with imaginary Jews.
What Nirenberg has written is an intellectual history of Western civilization, seen from a peculiar but frighteningly revealing perspective. It is focused on the role of anti-Judaism as a constitutive idea and an explanatory force in Christian and post-Christian thought—though it starts with Egyptian arguments against the Jews and includes a discussion of early Islam, whose writers echo, and apparently learned from, Christian polemics. Nirenberg comments intermittently about the effects of anti-Judaism on the life chances of actual Jews, but dealing with those effects in any sufficient way would require another, and a very different, book.
Anti-Judaism is an extraordinary scholarly achievement. Nirenberg tells us that he has left a lot out (I will come at the end to a few things that are missing), but he seems to know everything. He deals only with literature that he can read in the original language, but this isn’t much of a limitation. Fortunately, the chapter on Egypt doesn’t require knowledge of hieroglyphics; Greek, Hebrew, and Latin are enough. Perhaps it makes things easier that the arguments in all the different languages are remarkably similar and endlessly reiterated.
A certain view of Judaism—mainly negative—gets established early on, chiefly in Christian polemics, and then becomes a common tool in many different intellectual efforts to understand the world and to denounce opposing understandings. Marx may have thought himself insightful and his announcement original: the “worldly God” of the Jews was “money”! But the identification of Judaism with materialism, with the things of this world, predates the appearance of capitalism in Europe by at least 1,500 years.
Since I want mostly to describe Nirenberg’s argument (and, though without the authority of his erudition, to endorse it), let me note quickly one bit of oddness in it. One could also write—it would be much shorter—a history of philo-Judaism. It might begin with those near-Jews, the “God-fearers” of ancient Rome, whom Nirenberg doesn’t mention. But the prime example would be the work of the Christian, mostly Protestant, Hebraists of the late sixteenth and seventeenth centuries, who searched in biblical and rabbinic texts for God’s constitution and produced books with titles like The Hebrew Commonwealth. Many of these writers studied with Jewish scholars, chiefly from the Netherlands, but (with some notable exceptions) remained in most of their references to contemporary Jews conventionally anti-Semitic.
Nirenberg writes about these Christian Hebraists with his usual learning, but they don’t fit neatly into his book. They were looking for an ancient, biblical Judaism (with the rabbis of the talmudic age as helpful interpreters) that they could learn from, even imitate. Nirenberg’s proper subject is a hostile understanding of Judaism, early and late, reiterated by writers of very different sorts, with which the social-political-theological-philosophical world is constructed, enemies are identified, and positions fortified. Philo-Judaism is aspirational; anti-Judaism claims to be explanatory.
What is being explained is the social world; the explanatory tools are certain supposed features of Judaism; and the enemies are mostly not Jews but “Judaizing” non-Jews who take on these features and are denounced for doing so. I will deal with only a few of Judaism’s negative characteristics: its hyperintellectualism; its predilection for tyranny; its equal and opposite predilection for subversive radicalism; and its this-worldly materialism, invoked, as we’ve seen, by both Burke and Marx. None of this is actually descriptive; there certainly are examples of hyper-intellectual, tyrannical, subversive, and materialist Jews (and of dumb, powerless, conformist, and idealistic Jews), but Nirenberg insists, rightly, that real Jews have remarkably little to do with anti-Judaism.
3.
Speaking to German students in May 1933, a few months after the Nazis took power, Joseph Goebbels proclaimed that “the age of rampant Jewish intellectualism is now at an end.” Goebbels was a third-rate German intellectual (the word is unavoidable: he had a Ph.D.; he wrote articles; Nirenberg suggests that we think of him as an apostate intellectual). But he was making an argument that had been made by many less infamous, indeed, more worthy, figures. It begins in the Gospels, with the earliest attacks on the Judaism of the Pharisees. Christian supersessionist arguments—i.e., arguments about what aspects of Judaism had been superseded by Christianity—were based on a set of oppositions: law superseded by love, the letter by the spirit, the flesh (the material world, the commandments of the Torah, the literal text) by the soul. “I bless you father…,” writes Luke, “for hiding these things from the learned and the clever and revealing them to little children.”
The Pharisees were indeed learned and clever, as were their rabbinic successors; the discussions and disputations of the Talmud are a particularly revealing display of learning and cleverness. By comparison (it’s a self-description), the early Christians were naive and innocent children to whom God spoke directly, evoking the faith that brought salvation (which law and learning couldn’t do).
The difficulty here is that the Christians very quickly produced immensely learned, clever, and disputatious theologians of their own, who were then accused, and who accused each other, of Judaizing—thinking or acting like Jews. The earliest Christian writers, Paul most importantly, were engaged with actual Jews, in some mix of coexistence and competition that scholars are still trying to figure out. Nirenberg writes about Paul with subtlety and some sympathy, though he is the writer who sets the terms for much that comes later.
By the time of writers like Eusebius, Ambrose, and Augustine, the Jews had been, as Nirenberg says, “a twice-defeated people”—first militarily by the Romans and then religiously by the imperial establishment of Christianity. And yet the threat of Judaism grew greater and greater as the actual Jews grew weaker and weaker. According to their triumphant opponents, the Jews never gave up their hostility to Jesus and his followers (indeed, they didn’t convert). They were endlessly clever, ever-active hypocrites and tricksters, who mixed truth with falsehood to entice innocent Christians—in the same way that those who prepare lethal drugs “smear the lip of the cup with honey to make the harmful potion easy to drink.”
That last charge is from Saint John Chrysostom, who was such a violent opponent of “the Jews” that earnest scholars have assumed that Judaism must have posed a clear and present danger to Christianity in his time. In fact, Nirenberg tells us, there was no such danger; the people mixing the poison were Christian heretics. If Saint John feared the Jews, “it was because his theology had taught him to view other dangers in Jewish terms.”
The critique of Jewish cleverness is fairly continuous over time, but it appears with special force among German idealist philosophers of the eighteenth and nineteenth centuries, who repeat many of the supersessionist arguments of the early Christians. Kant understood the heteronomy he sought to overcome—action according to moral law externally imposed rather than freely accepted by the agent—in Jewish terms, but he was himself considered too Jewish by the philosophers who came next, most importantly by Hegel. Kantianism, Hegel claimed, was simply a new version of “the Jewish principle of opposing thought to reality, reason to sense; this principle involves the rending of life and a lifeless connection between God and the world.” According to Hegel, Abraham had made a fateful choice: his rejection of the world in favor of a sublime God had alienated the Jews forever from the beauty of nature and made them the prisoners of law, incapable of love. (Needless to say, Schopenhauer, in the next generation, thought that the academic Hegelians of his time were “Jews” and followers of “the Jewish God,” but I shall stop with Hegel himself.)
It isn’t Nirenberg’s claim that any of these philosophers were anti-Semites. Indeed, Hegel defended the rights of Jews in German universities and thought that anti-Semitic German nationalism was not “German-ness” but “German-stupid-ness.” Nor is Nirenberg arguing for any kind of intellectual determinism. He doesn’t believe that Goebbels’s attack on Jewish intellectualism was the necessary outcome of the German philosophical identification of Judaism with lifeless reason—any more than German idealism was the necessary outcome of Christian claims to supersede Pharasaic Judaism or of Lutheran claims to supersede the Judaizing Catholics. In all these cases, there were other possible outcomes. But philosophers like Hegel used the language of anti-Judaism to resolve “the ancient tension between the ideal and the real,” and their resolutions were enormously influential. The idea of Judaism as the enemy of “life” had a future.
4.
Judaism’s associations with worldly power and subversive rebellion are closely linked, for what is rebellion but an effort to seize power? So Jewish bankers can rule the world and Jewish Bolsheviks can aspire to overthrow and replace the bankers. In some alcoves of the Western imagination, the two groups can almost appear as co-conspirators. The populist anti-Semitism of the nineteenth and twentieth centuries (what August Bebel called “the socialism of fools”) has a long history. One very early example is Saint Ambrose’s response to the emperor Maximus, who punished the leaders of a Christian mob that burned a synagogue in the Mesopotamian city of Callinicum: “That king,” Ambrose said, “has become a Jew.” What made Maximus a “Jew” was not that he defended the Callinicum Jews but that he ranked enforcement of the law over the demands of the spirit (and the religious enthusiasm of the mob).
Often in the Middle Ages, Christian rulers were accused of Judaizing by populist rebels; the accusations had a curious doubleness. Tyranny was, first of all, imagined as a feature of Judaism, both when there were Jews at court (as physicians, advisers, tax collectors, and money-lenders) and when there were no Jews at court. The Jewish “seduction” of princes was one common way of understanding tyranny. Of course, Jewish seduction was often princely exploitation: the Jews were allowed to collect interest on loans to the king’s Christian subjects so that he could then “expropriate a considerable share of the proceeds.” It was a kind of indirect taxation, at a time when the royal power to tax was radically constrained. The indirectly taxed subjects resented the Jewish money-lenders, but, Nirenberg stresses, the resentment was politically acted out, again and again, in many times and places, though Jews rarely predominated in royal financial affairs “and then only for short periods of time.”
Anti-Judaism also had a second and rather different political usefulness. Jews were imagined not only as tyrants or the allies of tyrants but at the same time, and more realistically, as oppressed and powerless. Given their rejection of Jesus Christ and their complicity in his death, the oppression of the Jews was justified; but when a tyrannical ruler oppressed his Christian subjects, he could be accused of trying “to make a Jewry” out of them, which obviously wasn’t justified. “We would rather die than be made similar to Jews.” That last line is from a petition of the city council of Valencia to King Peter in 1378. So tyranny was twice understood in Jewish terms: a Judaizing prince treated his subjects like Jews.
Populist rebels obviously did not think of themselves as Jews; the construction of subversion and rebellion as “Jewish” was, and is, the work of conservative and reactionary writers. Among modern revolutionaries, the Puritans actually were Judaizers (focused far more on the Old than the New Testament), though with their own supersessionist theology. The use of the tropes of philo- and anti-Judaism during the English civil war made some sense, even though there were no Jews in England in the 1640s. The French revolutionaries were neither Jews nor Judaizers, though Burke and others understood them by invoking the “old ideas and fears.” But it was the Bolsheviks who, more than any other group of rebels, were widely understood as “Jewish.” It is true that many of them were Jews, though of the sort that Isaac Deutscher called “non-Jewish Jews.” Judaism had nothing at all to do with Bolshevism and yet, if Nirenberg is right, the Bolsheviks would have been explained in the language of anti-Judaism even if there had never been a Trotsky, a Kamenev, or a Radek among them.
5.
The identification of Jews with merchants, money-lenders, royal financiers, and predatory capitalists is constant in Nirenberg’s history. I will focus on one moment in that history, Shakespeare’s England and TheMerchant of Venice, which will give me a chance to illustrate the difference between his anti-Judaism and the anti-Semitism that is the subject of more conventional, but equally depressing, histories. Anthony Julius’s Trials ofthe Diaspora: A History of Anti-Semitism in Englandincludes a long and very intelligent discussion of Shakespeare’s play.1 Julius callsThe Merchantof Venice an anti-Semitic drama that is also a dramatization of anti-Semitism and the beginning of its literary investigation. Shakespeare, as always, writes from opposing perspectives, but he clearly leans toward Shylock’s enemies.
Shylock himself is the classic Jew: he hates Christians and desires to tyrannize over them; he loves money, more than his own daughter; he is a creature of law rather than of love. He isn’t, indeed, a clever Jew; in his attempt to use the law against his Christian enemy, he is unintelligent and inept. (A modern commentator, Kenneth Gross, asks: “What could [he] have been thinking?”) But in every other way, he is stereotypical, and so he merits the defeat and humiliation he receives—which are meant to delight the Elizabethan audience.
Julius doesn’t ask Nirenberg’s question: What put so many Jews (like Shylock or Marlowe’s Jew of Malta) on the new London stage, in “a city that had sheltered fewer ‘real Jews’ than perhaps any other major one in Europe”? His answer—I can’t reproduce his long and nuanced discussion—is that London was becoming a city of merchants, hence a “Jewish” city, and Shakespeare’s play is a creative response to that development, an effort to address the allegedly Judaizing features of all commercial relationships, and then to save the Christian merchants by distinguishing them from an extreme version of the Jew. But the distinction is open to question, and so the point of the play is best summed up when Portia asks, “Which is the merchant here, and which the Jew?” The play is about law and property, contracts, oaths, pledges, and promises. Shylock is the Jew of the gospels: “I stand here for law.” But he is defeated by a better lawyer and a more literal reading of the law: Portia out-Jews the Jew—which is surely an ironical version of Christian supersession.
So Shakespeare understands the arrival of modern commerce with the help of Judaism, though he knew no Jews and had never read a page of the Talmud. He knew the Bible, though, as Shylock’s speech about Jacob multiplying Laban’s sheep (Act 1, scene 3; Genesis 30) makes clear. And Paul and the gospels were a central part of his intellectual inheritance. Shylock emerges from those latter texts, much like, though the lineage is more complicated, Burke’s “Jew brokers” and Marx’s “emancipated Jews.” The line is continuous.
6.
Nirenberg’s epilogue addresses one major theorist’s denial of that continuity. In the preface to The Origins of Totalitarianism, Hannah Arendt mocks what she calls the doctrine of “eternal antisemitism” (this could serve, Nirenberg writes, “as an ironic title for my own book”) and insists that the “specifically Jewish functions” (banking and finance) in the capitalist economy made the Jews partly “responsible” (her word) for the hatred they evoked.2 This is much like Marx’s claim that “the Jews have eagerly contributed” to the triumph of their “worldly cult,” “Haggling,” and their “worldly God,” “Money.”
Arendt actually draws on the statistical work of Walter Frank, a Nazi economist, who headed an Institute for the History of the New Germany, to support her account of the role of the Jews in the German bourgeoisie. It can’t be the case, she argues, that the Nazis, who had “to persuade and mobilize people,” could have chosen their victims arbitrarily. There has to be a concrete answer, a local socioeconomic answer, to the question: Why the Jews?
Nirenberg agrees that the choice of the Jews was not arbitrary; nor does he find Arendt’s argument surprising—though he rejects all the usual hostile explanations: her assimilationist childhood, her long relationship with Heidegger, and so on. He does think it remarkable that Arendt “clung” to her argument about Jewish responsibility “even after the full extent and fantastic projective power of Nazi anti-Semitism (including its vast exaggeration of the Jews’ economic importance) became clear.” But his whole book is a kind of explanation for why she found it so easy to connect Jews and finance: the connection was one of “the a priori ideological commitments that structured her selection and interpretation of ‘facts’ about the Jews.”
The disagreement with Arendt nicely sums up Nirenberg’s book. His argument is that a certain view of Judaism lies deep in the structure of Western civilization and has helped its intellectuals and polemicists explain Christian heresies, political tyrannies, medieval plagues, capitalist crises, and revolutionary movements. Anti-Judaism is and has long been one of the most powerful theoretical systems “for making sense of the world.” No doubt, Jews sometimes act out the roles that anti-Judaism assigns them—but so do the members of all the other national and religious groups, and in much greater numbers. The theory does not depend on the behavior of “real” Jews.
Nirenberg’s history of anti-Judaism is powerful and persuasive, but it is also unfinished. It never gets to the United States, for example, where anti-Judaism seems to have been less prevalent and less useful (less used in making sense of society and economy) than it was and is in the Old World—and where philo-Judaism seems to have a much larger presence. The modern state of Israel also makes no appearance in Nirenberg’s book, except for one sentence on the next-to-last page:
We live in an age in which millions of people are exposed daily to some variant of the argument that the challenges of the world they live in are best explained in terms of “Israel.”
So we have a partial discontinuity (the US) and an unexplored continuity (contemporary Israel) with Nirenberg’s history. There is still work to be done. But here, in this book, anti-Judaism has at last found its radical critic.
Parece incrível, mas isso combina com as mentalidades fascistas que existem, no Estado em geral, e no partido totalitário em particular.
Um órgão de proteção da criança, com poderes meramente consultivos no que se refere à regulação de bens ou serviços destinados ao público infantil ou adolescente, resolveu se tomar por guardião de todas as crianças do Brasil, e atuando autoritariamente resolveu simplesmente proibir qualquer publicidade comercial dirigida às crianças.
Eu já havia denunciado esse fascismo deliberado neste post colocado alguns dias atrás, dirigido aos país que compram MacLanche Feliz para os seus petizes (será que a geração atual vai compreender essa palavra?), servindo do mesmo alerta que tinha sido antecipado por meu colega blogueiro Klauber Pires, neste link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/04/alo-pais-acabou-o-maclanche-feliz-os.html
Agora, o órgão que reúne os publicitários do Brasil reagiu, sensatamente, sem xingar ninguém de fascista (mas eu xingo), apenas lembrando que compete ao Congresso legislar sobre publicidade. Educadamente, eles colocam o Conanda no seu devido lugar.
Devo novamente a meu colega Klauber Pires a presteza em postar o comunicado:
Mas não é só no Brasil que esse tipo de fascismo acontece. Vejam este post:
sábado, 9 de fevereiro de 2013
O fascismo em acao: a desinformacao como arma
- See more at: http://diplomatizzando.blogspot.com/2013/02/o-fascismo-em-acao-desinformacao-como.html#sthash.uPR3RkvK.dpuf
Temos ainda um longo caminho pela frente para o que o Brasil se converta em um país normal, no qual os pais não sejam considerados idiotas, e no qual os fascistas sejam colocados no seu devido lugar.
Paulo Roberto de Almeida