O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 17 de agosto de 2014

Resenha de Nunca Antes na Diplomacia - Camila Amorim Jardim

Resenha de “Nunca antes na diplomacia…: A Política Externa Brasileira em tempos não convencionais” de Paulo Roberto de Almeida, por Camila Amorim Jardim


 
 
 
 
 
 
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Paulo Roberto de Almeida é diplomata, mestre em planejamento econômico e doutor em ciências sociais. Ao longo de sua carreira, publicou quatorze livros – além de dezenas de artigos –, que contribuem criticamente para o pensamento sobre  relações internacionais desenvolvido no Brasil em suas diversas dimensões – histórica, econômica e social. Integrante do Itamaraty desde 1977, teve a oportunidade não apenas de vivenciar os bastidores da política externa brasileira, mas também de acompanhar academicamente as suas nuances.
O livro aqui resenhado  é o reflexo de anos de estudo e experiência profissional – acerca de períodos desde o império até “A era do nunca antes”, a qual compreende a política brasileira a partir de 2003, com a chegada de Lula e o Partido dos Trabalhadores (PT) à presidência.
A respeito desse período, é importante destacar um movimento acadêmico importante no sentido de identificar uma mudança na política externa brasileira que, nos anos 1990, teria com os países desenvolvidos agendas prioritárias e em alguma medida procurava implementar medidas liberalizantes impostas pelo FMI e pelo Banco Mundial, no contexto do denominado “Consenso de Washington”. A crítica acadêmica aponta que, nos anos 2000 e, especialmente, a partir do governo Lula (2003-2010), teria ocorrido uma mudança de vulto no comando estratégico da inserção internacional do Brasil, caracterizada pela busca de alianças com parceiros não tradicionais, especialmente no eixo Sul-Sul.  Almeida identifica uma segunda mudança na política externa, que passa a ser marcada por excessiva partidarização – a partir de uma análise multidimensional da mesma, tenho em vista sua história, sua base institucional e diretrizes voltadas para o principal objetivo da inserção internacional do Brasil: a busca pelo desenvolvimento econômico – o autor identifica um momento de descontinuidade a partir do governo Lula, momento no qual o país passa a sustentar uma diplomacia exótica em função do personalismo do próprio presidente Lula e das linhas programáticas do Partido dos Trabalhadores.
Por mais importante que a diplomacia presidencial possa ser para a estrutura internacional do país, como o autor aponta que ocorreu de forma exemplar durante o período Fernando Henrique Cardoso, Almeida indica que Lula teria passado em alguma medida a conduzir as relações internacionais do Brasil a partir de suas próprias impressões e das linhas gerais do PT, sem respeitar a estrutura institucional do Itamaraty.
O autor defende que o governo Lula empreendeu um grande esforço para caracterizar a política de seu antecessor como uma “herança maldita”, especialmente submissa aos interesses imperiais dos Estados Unidos. No entanto, tal caracterização não seria compatível com a realidade, tendo em vista que a abertura comercial nos anos 1990 esteve longe dos parâmetros de uma política essencialmente neoliberal e seria, de acordo com Almeida, compatível com os interesses do Brasil em prol do melhoramento de sua competitividade econômica em geral.
A diplomacia coordenada por Lula apresentou novas diretrizes que, inclusive, não teriam sido responsáveis por resultados concretos e que dificilmente seriam adotadas caso o Itamaraty mantivesse sua autonomia na formulação da política externa. Dentre elas, destacam-se os exemplos a seguir. No primeiro mandato, a integração regional era uma das prioridades, mas o Mercosul acaba por tomar uma nova dimensão, predominantemente política em detrimento de econômica – decisão que, para o autor, foi prejudicial aos interesses do Brasil – especialmente no contexto de protecionismo crescente da Argentina, com o qual o país foi conivente, contrariando seus interesses nacionais. A busca constante por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU foi outro inconveniente, que além de causar desconfortos diplomáticos na américa do sul, não é compatível com as capacidades materiais do Brasil. Houve, ainda, casos de ingerência interna em outros países do entorno, com a declaração de apoio a candidatos assumidamente de esquerda na América Latina. Pode-se citar ainda o enfoque predominantemente Sul-Sul, que, segundo o autor, não oferece grandes oportunidades de aprendizado para o Brasil e não deveria ser o foco de sua agência externa, uma vez que a torna mais limitada.
Trata-se, portanto, de uma leitura essencial para a compreensão da formulação da política externa contemporânea, inclusive levando em consideração as comparações históricas e de tipos ideais desenvolvidas pelo autor para embasar a sua análise. O livro oferece, então, importante contribuição para o pensamento crítico em relação à política externa brasileira, apresentando o outro lado do debate, que atualmente não é majoritário entre acadêmicos e que foi deixado de lado no Itamaraty especialmente entre 2003 e 2010, tornando-se fundamental para uma reflexão mais complexa e circunstanciada sobre o tema.

Referências

ALMEIDA, P. R. (2014) Nunca Antes na Diplomacia…: A Política Externa Brasileira em tempos não convencionais. Curitiba: Appris, 289p.
LEITE, P. S. (2011) O Brasil e a cooperação Sul – Sul em três momentos: os governos Jânio Quadros/João Goulart, Ernesto Geisel e Luiz Inácio Lula da Silva. Brasília: Funag, 226p.
LIMA, M. R. S. (2005)  “A política externa brasileira e os desafios da cooperação Sul-Sul.” Revista Brasileira de Política Internacional, v. 48, n.1. p. 24-59.
OLIVEIRA, H.A. (2005) Política Externa Brasileira. São Paulo: Saraiva, 292 p.
SARAIVA, M. G. (2007) “As estratégias de cooperação Sul-Sul nos marcos da política externa brasileira de 1993 a 2007”. Revista Brasileira de Política Internacional. [S.l.], v. 50, n.2. p. 42-59.
VIGEVANI, T. CEPALUNI, G. (2007) “A Política Externa de Lula da Silva: A Estratégia da Autonomia pela Diversificação.” Contexto Internacional. Rio de Janeiro, v. 29, n.2. jul./dez.. p.273-335.
VIZENTINI, P. G. F. (2005) O Brasil e o mundo, do apogeu à crise do neoliberalismo: a política externa de FHC a Lula (1995-2004). Ciências e Letras (Porto Alegre), Porto Alegre, v. 37, p. 317-332.
Camila Amorim Jardim é mestranda em Política Internacional e Comparada pela Universidade de Brasília – UnB (camila_ajardim@hotmail.com)

sábado, 16 de agosto de 2014

Bolsa Familia: o curral eleitoral do coronelismo petralha - Revista Veja

Fica dificil competir em igualdade de condicoes...
Paulo Roberto de Almeida

Bolsa-Família, o maior colégio eleitoral
Revista Veja, 16/08/2014

Em muitas cidades do Nordeste, o Bolsa Família é tão decisivo que a maior parte dos eleitores nem mesmo se preocupa em saber quem são os rivais da presidente Dilma Rousseff. Com 40 milhões de eleitores beneficiados, o programa supera, como colégio eleitoral, São Paulo, o mais populoso Estado brasileiro, com 32 milhões de pessoas aptas a ir às urnas. O site de VEJA analisou números, conversou com especialistas e ouviu eleitores em cidades da Bahia e do Maranhão para mostrar o peso que o programa federal poderá ter na corrida presidencial.

Eleições 2014

Bolsa Família, o maior colégio eleitoral do Brasil

Um eleitorado de 40 milhões de pessoas é influenciado pelo programa, que, especialmente no Nordeste, se tornou uma arma eleitoral incomparável

Gabriel Castro e Laryssa Borges
Usuários do Bolsa Família em Salvador buscam informações sobre bloqueio inexplicado do benefício em 2008
Usuários do Bolsa Família em Salvador buscam informações sobre bloqueio inexplicado do benefício em 2008 (Welton Araújo/Agência A Tarde/AE/VEJA)
“Quem de vocês aqui gosta do Bolsa Família levanta a mão?”, brada ao microfone, do alto de um palanque improvisado, o senador Lobão Filho, candidato do PMDB ao governo do Maranhão, na pequena cidade de Barra do Corda (85.000 habitantes). A plateia reagiu imediatamente com os braços estendidos. O candidato continuou: “Isso me preocupa, porque os nossos adversários estão unidos a Aécio Neves, que já disse em todos os jornais e todas as emissoras de TV que é contra o Bolsa Família".
Filho do ministro Edison Lobão (Minas e Energia), que orbita o petismo como representante de José Sarney há anos, o candidato peemedebista convive com Aécio Neves no Senado. Os dois são colegas. O peemedebista sabe que o tucano nunca se opôs ao programa – pelo contrário, é de Aécio a proposta para transformar o programa em política permanente de Estado. Mas, nos grotões do Brasil, Lobão Filho utiliza um discurso convenientemente falso. Mesmo um candidato ligado à oligarquia recorre ao discurso de que os seus concorrentes são inimigos do povo por causa de uma oposição fictícia ao programa.
Nas últimas semanas, os candidatos a presidente (especialmente Dilma Rousseff) intensificaram as viagens a São Paulo para tentar conquistar a simpatia do eleitor paulista. A razão é óbvia: o Estado tem 32 milhões de votos, o maior número de eleitores entre as unidades da federação. Mas, na disputa deste ano, também está em jogo um "colégio eleitoral" muito mais poderoso – e leal: o dos beneficiados pelo Bolsa Família. São aproximadamente 40 milhões de eleitores, espalhados pelas 14,2 milhões de famílias que recebem o benefício. Esse grupo tende a votar na candidata petista com uma fidelidade incomparável. E, claro, essa arma é utilizada à exaustão Brasil afora, especialmente longe dos holofotes.
Neste ano, a Bahia foi a que mais recebeu repasses do governo federal no programa Bolsa Família: 1,36 bilhão de reais, segundo o Portal da Transparência do governo federal. As maiores cidades do estado são as principais beneficiárias: Salvador, com 113,8 milhões de reais neste ano, Feira de Santana, com 29,2 milhões de reais, e Vitória da Conquista, com 21,9 milhões de reais. 
Há mais beneficiários do programa na Bahia do que em São Paulo, cuja população é três vezes vezes maior. Mais em Pernambuco do que em Minas Gerias. Mais no Maranhão do que no Rio de Janeiro. Isso ajuda a explicar por que o Nordeste se transformou em uma quase intransponível fortaleza eleitoral do petismo. Em 2014, até agora, o governo destinou 10,5 bilhões de reais ao programa. 
Jailza Barbosa, 33, desempregada, moradora do bairro Cajazeiras, em Salvador, tem dois filhos, de 10 e 15 anos, e recebe 134 reais por mês. “O candidato em que eu vou votar é o do partido que me ajuda por causa do Bolsa Família. Não sei o nome dele, mas já estava com isso na cabeça. O programa é muito bom porque me ajuda e é a única renda que eu tenho hoje”, diz.
O número de beneficiários só tem aumentado: em 2004, eram 6,6 milhões de famílias atendidas. A elevação desde então foi de 215%, muito acima do crescimento vegetativo na população – e se deu num período em que, segundo o governo, dezenas de milhões de pesoas deixaram a pobreza. Os números ajudam a entender o que é fácil de constatar in loco.
Na cidade Central do Maranhão, onde Dilma teve 96% dos votos em 2010, é difícil encontrar alguém que saiba quais são os adversários da presidente Dilma Rousseff. E a razão principal para o apoio incondicional à petista, seja qual for o oponente, é apresentada pelos próprios eleitores. Como o lavrador Carlos Azevedo: “Para mim, a candidata é a Dilma. A gente tem medo de tirarem o Bolsa Família”, diz ele, ao lado da mulher, a dona-de-casa Marinete Viana. Ela diz ter visto na televisão a informação de que os adversários da presidente colocariam fim ao programa.
"Não me interessa saber quem são os outros candidatos", declara Claudilene Melo, que trabalha como doméstica mas também recebe o Bolsa Família.
O cenário eleitoral deve acentuar a importância do Bolsa Família para a candidatura de Dilma Rousseff. A trágica morte do candidato Eduardo Campos e a possível entrada de Marina Silva na disputa devem acentuar, por um lado, a vantagem de Dilma no Nordeste (onde Campos era mais popular) e, por outro lado, tirar votos da petista nas grandes cidades (onde Marina tem um eleitorado mais forte). Como consequência, a tendência é que o PT se encastele ainda mais no Nordeste, onde estão 52% dos beneficiados pelo Bolsa Família (a região tem apenas 27,7% da população brasileira).
"O governo vai se fiar nesses programas de transferência de renda, porque a gerência macroeconômica é débil, a inflação é crescente, o crescimento econômicio tem sido pífio", diz o professor Carlos Pereira, da Fundação Getúlio Vargas.
O efeito do Bolsa Família nas eleições de 2006 e 2010 foi objeto da análise de pesquisadores do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB). Conclusão: havia uma forte correlação entre o voto no PT e a participação no programa do governo.
Independentemente da postura dos adversários de Dilma Rousseff, a maior parte dos eleitores que recebem o Bolsa Família não arrisca apoiar aquilo que veem como uma aposta duvidosa. Para o jogo democrático, o efeito é desastroso. Se o único critério na escolha do candidato é o Bolsa Família, o eleitor vota sem levar em conta outros temas essenciais, como as políticas para saúde, segurança e o combate à corrupção. “É como se nós tivéssemos voltando para o século XIX, com os currais eleitorais fechados”, diz o professor José Matias-Pereira, da UnB.
Como o número de beneficiários do Bolsa Famíliacresce continuamente, é cada vez maior o contingente de eleitores que escolhe seu candidato presidencial apenas com base no receio de perder o pagamento mensal. “O coronel local está sendo substituído pelo coronel federal. Mas o padrão é o mesmo: o modelo patrimonialista onde indivíduo usa os bens do estado para se beneficiar politica ou em benefício próprio”, afirma o professor da UnB.

A destruicao da Petrobras pela companheira-chefe (uma historia de horror economico e politico) - Rogerio Werneck

POLÍTICA

A reeleição e a Petrobras

Rogério Furquim Werneck
O Estado de S. Paulo, 15/08/2014

Voltas que o mundo dá. A presidente Dilma agora acha que a Petrobras deve ser preservada da campanha eleitoral. “Se tem uma coisa que tem que se preservar, porque tem que ter sentido de Estado, sentido de nação e sentido de país, é não misturar eleição com a maior empresa de petróleo do país. Não é correto, não mostra qualquer maturidade."
Quem agora diz isso é a mesma candidata que, a partir de 2009, transformou a partidarização do papel da Petrobras no pré-sal em plataforma de lançamento de sua candidatura à Presidência. É difícil que alguém já tenha se esquecido da sua campanha eleitoral em 2010, saturada por cenas em que a candidata aparecia, em sondas, plataformas e navios, com mãos lambuzadas de petróleo, envergando indefectíveis capacetes e macacões da Petrobras.
O problema é que, desde então, a Petrobras converteu-se em inesgotável poço de temas espinhosos, que a presidente preferiria não ter de tratar na campanha da reeleição. O Planalto tem boas razões para estar preocupado. O potencial de desgaste político é, de fato, grande.
Para começar, é preciso ter em mente que, por impressionantes que sejam, as perdas decorrentes das trapalhadas de Pasadena são incomparavelmente menores que as envolvidas no faraônico projeto da Refinaria Abreu e Lima, imposto pelo Planalto à Petrobras. E, como já tive oportunidade de destacar em artigo publicado neste mesmo espaço, em 4 de julho, sob o título “Desperdício em grande escala”, Dilma Rousseff é a figura chave para esclarecer como essa imposição de fato se deu, pois ocupava posições centrais em cada um dos principais elos da cadeia de comando com que o Planalto controlava os investimentos da Petrobras. Era, ao mesmo tempo, ministra-chefe da Casa Civil da Presidência, coordenadora do PAC e presidente do Conselho de Administração da Petrobras.
Mas as dificuldades com as duas refinarias são apenas parte dos espinhosos problemas que vêm aflorando na empresa. O irresponsável represamento de preços de combustíveis vem não só impondo grande desgaste ao governo, como exigindo dotes de malabarista para tentar manter um discurso que faça sentido sobre a questão. A rápida deterioração das contas da Petrobras, na esteira da “queima de caixa” decorrente desse represamento, vem reforçando expectativas de que o governo não terá como deixar de aumentar preços de combustíveis logo após as eleições. Mas, empenhado em vender a ideia de que a inflação voltará a ficar abaixo do teto de tolerância da meta no fim do ano, o governo não quer dar alento a expectativas de um “tarifaço” pós-eleitoral. É o que explica as manifestações desencontradas sobre correção de preços dos combustíveis que vêm sendo feitas pelo governo e pela Petrobras.
Em entrevista ao “Valor” de 11 de agosto, Rui Falcão, presidente do PT, preocupado com a questão, apresenta a melhor racionalização que conseguiu articular para a política de represamento de preços de gasolina: “...Você tinha que fazer uma escolha entre remuneração de acionistas e o poder aquisitivo da população. E a Petrobras, além de ter acionistas, é um patrimônio do povo brasileiro.”
A racionalização revela visão confusa e deturpada do problema. O povo brasileiro, através do Tesouro, é o acionista controlador da Petrobras. Manter preços de gasolina irrealistas é uma política pervertida que subsidia proprietários de automóveis à custa do povo brasileiro. O governo só teve de apelar para esse represamento populista de preços porque não soube conduzir a política macroeconômica. Agora, só lhe resta tentar evitar na marra que a inflação fique ainda mais alta do que já está.

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Sobram razões para o Brasil lamentar o desaparecimento prematuro de Eduardo Campos, um dos políticos mais talentosos e promissores de que o País dispunha. Como bem mostrou sua entrevista ao “Jornal Nacional”, na véspera do acidente que lhe foi fatal, o candidato do PSB à presidência tinha visão extremamente lúcida da urgência de se dar encaminhamento mais consequente às grandes questões que hoje afligem o país.

Eduardo Campos, RIP: uma perda para o pais; e agora, a ecologia - Reinaldo Azevedo

Nunca fui admirador de ecologistas neomalthusianos. Conheço vários ecologistas sérios, mas uma grande maioria não é de pesquisadores cientificos, ou racionais, como o grande Malthus. Ele estava errado, mas procedeu pelos métodos científicos da sua época, o que muitos ecologistas atuais não fazem. Eles são sonháticos, como a nova representantes da floresta. Comparada, porém, com a outra candidata, ela pelo menos sabe falar. A outra não consegue falar coisa com coisa.
Grande Eduardo Campos: ele sabia falar, e se expressava claramente, mesmo sem que precisássemos concordar com ele. Agora, com exceção do Aécio e do pastor do PSC, o resto é de uma tristeza terrível: não falam porque não pensam, e não pensam porque não conseguem.
Paulo Roberto de Almeida 
Marina Silva é uma esfinge. Sem segredos. O que ela pensa? Dizer que ninguém sabe é bobagem. Dá, sim, para saber. Não vou cair aqui na conversa mole de perguntar se Marina vai ou não realinhar as tarifas se, candidata do PSB, for eleita. É claro que vai. Qualquer que seja o eleito, o reajuste vai se impor. Contra quem? Contra ninguém. O realinhamento será uma imposição da realidade. Afinal, o Brasil não é a Venezuela. Se for presidente, Marina também vai ter de cortar gastos públicos — é o que Dilma ou Aécio terão de fazer. “Mas tirar dinheiro de onde?” De algum lugar. Ou o país vai para o vinagre. Nenhuma dessas vulgaridades me interessa. Essa gritaria só serve para gerar calor. E nenhuma luz.
A Marina que importa é outra. Sim, concordo: é quase impossível entender o que ela fala, com suas metáforas, alegorias e derivações impróprias — refiro-me à gramática mesmo! — porque, sei lá, os 340 mil verbetes contidos no “Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa” não lhe bastam… Faz sentido: pensamentos intraduzíveis pedem palavras… indizíveis. Pode não dar para entender o que ela diz, o que sempre desperta a suspeita do sublime, mas dá, sim, para saber o que ela pensa. E ela não pensa coisas boas.
Começo pela questão mais recente. Marina Silva se desgarrou do PT, como é sabido, mas não se livrou dos piores vícios da nave-mãe. Querem um exemplo? Ela foi uma das mais entusiasmadas defensoras do Decreto 8.243, o tal que atrela a administração federal a conselhos populares e institui, na prática, uma Justiça paralela. Seu “movimento”, que não é “partido”, combina com aquele estado de permanente mobilização, em que a militância atropela as instâncias da democracia representativa.
Recuemos um pouco. Como esquecer a atuação de Marina Silva durante a votação do Código Florestal? Se a sua proposta tivesse vingado, o país teria sido obrigado, atenção!, a reduzir a área destinada à agricultura e à agropecuária. O que escrevo aqui não é especulação. É apenas um fato. É demonstrável. Em 2013, a balança industrial produziu um déficit de US$ 105 bilhões, e o setor agropecuário, um superávit de US$ 82,91 bilhões. Isso para um país que teve um superávit de apenas US$ 2,5 bilhões. E olhem que foi uma trapaça contábil. De verdade, o saldo foi negativo. Ou por outra: o agronegócio salva o Brasil da bancarrota, mas Marina Silva queria diminuir a área plantada.
É o tipo de militância que seduz os descolados e os ignorantes, mas de ampla repercussão no exterior, especialmente nos países ricos que acham que devemos deixar a agricultura com eles, enquanto a gente disputa o cipó com os macacos e foge das onças-pintadas. Todos queremos preservar a natureza, é claro! Marina queria, de modo irresponsável, dar um tombo na agricultura e na pecuária. Ela quer economia sustentável? Quem não quer? A questão é saber o que entende por isso.
Pegue-se agora a questão energética. O Brasil só não passa por um apagão de fazer 2001 parecer brincadeira de criança porque cresceu 2,7% em 2011; 0,9% em 2012; 2,1% em 2013 e deve ficar em torno de 0,8% neste ano. Em 2015, projeções responsáveis apontam que não passa de 1,2%. Estivesse crescendo, como precisa, a pelo menos 4%, já estaríamos no escuro.
Mesmo assim, ainda que tente aqui e ali dizer o contrário, Marina se opôs, sim, à construção da usina de Belo Monte. Tanto é que apoiou um vídeo imbecil chamado “Gota d’Água”, que dizia uma impressionante coleção de bobagens a respeito da usina. Mais: esse empreendimento será subutilizado, sim, porque Belo Monte não terá reservatório. Será do modelo fio d’água. Pesquisem a respeito. Só se fez essa escolha errada por causa da militância ambientalista que Marina representa, já que se inunda uma área muito menor, mas se produz, em contrapartida, bem menos energia.
Em 2010, a Marina candidata foi ao programa “Roda viva” e tratou do assunto. Como fala pelos cotovelos, impede que o pensamento de seus interlocutores respire. Vejam. Volto em seguida.

Em primeiro lugar, houve, sim, os devidos cuidados ambientais. Em segundo lugar, a tese da inviabilidade econômica é de uma impressionante falácia. De fato, Belo Monte tem mais dinheiro público do que deveria, mas isso se deve ao viés esquerdizante do governo petista — que Marina não combate. O capital privado só refugou porque o preço que o governo queria pagar pela energia era incompatível com a realidade. Ou por outra: quando os petistas decidiram tabelar o lucro — prática hoje em dia vigente apenas em Cuba e na Coreia do Norte —, Marina se calou. O negócio dela era com os bagres. Sim, preservemos os bagres. Mas e a energia elétrica? Mais: se o governo tivesse dado de ombros para o ambientalismo doidivanas e construído a usina com reservatório, mais energia seria produzida. Ou por outra: Belo Monte só não vai render o que poderia por causa do espírito marineiro.
Trato aí de duas questões que hoje são essenciais ao país: balança comercial e produção energética. Nos dois casos, a possível candidata do PSB à Presidência estava do lado absolutamente errado do debate. Errado por quê? Porque as suas escolhas contribuiriam para afundar o país — e, como é sabido, em casos assim, os pobres pagam o preço primeiro.
Questão política
Não e só isso. Marina fala em nome de uma tal “nova política” que ninguém, até agora ao menos, entendeu direito o que é. É impossível governar o país sem o Congresso, a menos que se queira gerar uma crise institucional dos diabos. Em sua pregação, ela dá a entender que políticos são sempre os outros, nunca ela própria. Por quê? Porque acredita na tal da “mobilização em rede”, que vem a ser a prima rica — e com nível universitário — de movimentos como o MST ou MTST. Nem por isso menos autoritários.

Na verdade, nesse particular, ela vai até um pouco além. Por mais que queira negar, parte do mau espírito das ruas — e não do bom — de junho do ano passado a esta data contou com o seu apoio silencioso. Ela pode se tornar a única beneficiária do ódio à política que tomou as ruas. E é evidente que esse tal espírito não me agrada. A propósito: alguém leu ou ouviu alguma censura de Marina aos black blocs?
O fato de a possível candidata do PSB ter hoje “conselheiros” com uma visão, digamos, mais à direita em economia do que o petismo não me seduz absolutamente. Na verdade, do meu ponto de vista, só torna a equação ainda mais confusa porque não vejo como ela poderia incentivar com a mão esquerda o espírito militante e procurar conter com a direita o rombo nos cofres públicos. Ou por outra: o discurso ideológico de Marina atenta contra o caixa, mas ela se cerca de gurus econômicos que fazem profissão de fé na responsabilidade fiscal.
Na minha coluna de hoje na Folha, critico as patrulhas petistas — ou a seu serviço — que tentam impedir que se formule um pensamento alternativo no Brasil. Busca-se deslegitimar desde a origem qualquer crítica organizada ao governo e ao partido oficial. Aécio Neves, do PSDB, é vítima desse procedimento. Eduardo Campos também era. Será que estou a fazer o mesmo com Marina? Uma ova! Estou é criticando aqui o que conheço de sua militância e dizendo por que ela não me serve. Em muitos aspectos, Marina pode representar um perigo ainda maior do que o petismo.
Se ela se eleger presidente e puser em prática o que pensa sobre militância organizada, a relação com os Poderes instituídos, o agronegócio e o setor energético, quebra o país e o conduz a uma crise política sem precedentes. Claro! Uma Marina que conseguisse governar teria de jogar fora a Marina “sonhática”, que está muito mais para “pesadêlica”.
Texto publicado originalmente às 5h37

As grandes falcatruas economicas (petistas, claro) - Rodrigo Constantino



15/08/2014
 às 14:23 \ EconomiaHistóriaPolítica

A esquerda não sabe o que é inflação? Ou: Comparação esdrúxula entre PT e PSDB ganha a internet

Circula pela internet uma comparação entre o Brasil de hoje e aquele de 2002, herdado pelo governo do PT, que chama a atenção por uma das duas coisas, se não ambas: a ignorância econômica e/ou a incrível canalhice. Deixo ao leitor o direito inalienável de escolha. O escritor (ou crítico de cinema) Pablo Villaça, contumaz esquerdista e defensor do governo Dilma, reproduziu em sua página os dados e obteve mais de 12 mil curtidas. Qual o busílis?
Vários dados divulgados, para começo de conversa, são em reais nominais! Isso mesmo: essa turma está comparando uma coisa em moeda nominal em 2013 com outra de 2002, ignorando a inflação de mais de dez anos, em um país como o Brasil, durante um governo petista, que justamente relaxou no controle da inflação. É comparar banana com laranja. Eis a inflação no período, deliberadamente ignorada pela turma:
índice IPCA acumulado. Fonte: Bloomberg
índice IPCA acumulado. Fonte: Bloomberg
A inflação oficial nesse período foi de quase 90%. Ou seja, se o valor de alguma coisa, como o salário mínimo, dobrou de 2002 para 2013 em termos nominais, ele permaneceu praticamente inalterado em termos reais! Ter de explicar isso a alguém é realmente desanimador. O rapaz deve saber alguma coisa da língua portuguesa, mas pelo visto precisa de muita ajuda em matemática e finanças…
Mas não é “só” isso! Ele pega os dados de 2002 e finge não saber que muita coisa ruim ali contida se deve justamente ao “risco Lula”. As reservas cambiais, que o homem cita na lista de conquistas, evaporaram justamente porque houve forte fuga de capitais de investidores receosos com um eventual governo petista. Lula teve de escrever a famosa “Carta ao Povo Brasileiro” para acalmar os ânimos. Esqueceu?
Tem mais ainda: mencionar crescimento de qualquer rubrica na última década deixando de fora o fator China é realmente um espanto! Se o sujeito não achar que o PT é também o responsável pelo acelerado crescimento chinês, que tanto beneficiou o Brasil, o mínimo que a honestidade intelectual demanda é deixar claro que boa parte do avanço numérico se deu por fatores completamente alheios ao governo petista.
Para deixar isso evidente, bastaria comparar o nosso crescimento com o de outros países emergentes. O resultado seria um tanto diferente, e mostraria que o Brasil sob o PT, na verdade, é o lanterninha do grupo. Perdemos a grande oportunidade de crescer uns 5% ou mais ao ano, isso sim! O PT nos tirou essa chance com sua incompetência, seu intervencionismo, sua irresponsabilidade.
Villaça gostaria de comparar nesse período o Brasil do PT com o Peru, que fez várias reformas liberais, por exemplo? Não? Foi o que imaginei. E olha que nem disse algum país asiático qualquer, mais capitalista e com mais liberdade de mercado. Vejam o resultado:
Crescimento acumulado do PIB desde 2003 (base 100). Fonte: Bloomberg
Crescimento acumulado do PIB desde 2003 (base 100). Fonte: Bloomberg
O Peru cresceu mais de 70% no período, contra pouco mais de 40% do Brasil. Vamos comparar nosso desempenho com nossos pares globais? Que tal?
A cara de pau dessa gente, ao ignorar o relativo quando interessa, é tão grande que chega ao ponto de o IDH ser mencionado em termos absolutos, ou seja, qual a nossa nota geral, e não nosso lugar no ranking! Não é um espanto? O IDH brasileiro em 2002 estava em 73º lugar, duas posições acima da registrada no estudo anterior. O IDH em 2013 estava no 79º lugar, ou seja, perdemos seis posições, a despeito de toda a ajuda da China!
desaceleraçao
Em resumo, a estatística pode ser a arte de torturar números até que confessem qualquer coisa. Mas a esquerda defensora da era lulopetista ao menos poderia trabalhar melhor nos truques para iludir os incautos, não é mesmo? Feito assim, de forma tão grosseira, nem os mais dependentes de esmolas estatais vão acreditar que as coisas melhoraram tanto, mesmo com muita vontade de fazê-lo para justificar suas escolhas no fundo interesseiras e egoístas.
Rodrigo Constantino

Custos das crises bancarias e financeiras - Ronald Hillbrecht (via Claudio Shikida)

Meu amigo Claudio Shikida sempre trazendo bons materiais para reflexão no seu blog De Gustibus Non Est Disputandum:

Bons momentos…


Eu gosto muito desta tabela que peguei lá do livro-texto de Economia Monetária do Ronald Hillbrecht (Editora Atlas). Trata-se do custo do PROER e de planos similares em outros países. Mostra o porquê de eu reafirmar sempre que a melhor assessoria econômica é a do candidato tucano (nada contra a assessoria do falecido candidato Eduardo Campos, claro).
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Quem viveu esta época sabe bem o que foi aquilo tudo. Quem estava no berço ou achando que sabia economia porque decorava frases feitas de 147 caracteres, bem, espero que um dia aprendam.

As grandes falcatruas da politica nacional - Rodrigo Constantino

Não uma, mas duas ao mesmo tempo. É bom que fique o registro.
Paulo Roberto de Almeida 

Blogs e Colunistas


15/08/2014
 às 12:08 \ ComunismoDemocraciaPolítica

Que vergonha, senadora Kátia Abreu!

No dia 12 de agosto a senadora Kátia Abreu postou em suapágina oficial do Facebook a seguinte mensagem e foto:
A presidente Dilma Rousseff sempre manteve as portas abertas para todos os setores. Ela comprova que oferecer políticas adequadas, construídas a partir do diálogo, é fundamental para promover o crescimento do País. Por isso, o meu apoio incondicional para presidente do Brasil é para Dilma, a mulher que seguiu mudando o Brasil e agora também vai nos ajudar a transformar o nosso querido Tocantins.
Katia Abreu
Que papelão, dona Kátia! Portas abertas? Estamos falando da mesma pessoa, a presidente Dilma, aquela que é conhecida por sua arrogância e sua agressividade em reuniões? Aquela que se reúne com 30 grandes empresários e acha que isso é “escutar o mercado”? Aquela que usou o BNDES para a seleção dos “campeões nacionais” e acabou produzindo um fenômeno como Eike Batista, fazendo ainda com que os grandes empresários “investissem” em lobby em vez de produtividade?
Políticas adequadas por meio de diálogos? Só se for o “diálogo” dela com ela mesma em frente a um espelho! Que políticas adequadas foram essas, que trouxeram nossa economia à beira do abismo, com estagnação do crescimento e elevada inflação, além de setores importantes totalmente desorganizados e com rombos bilionários?
Seu apoio é “incondicional”, senadora? Quer dizer que não importa a quantidade de “malfeitos” que vêm à tona, os infindáveis escândalos, a aliança com o que há de mais nefasto na geopolítica, que Dilma poderá contar sempre com seu entusiasmado apoio?
Dilma, a mulher que mudou o país? De fato, mas para pior! Ou a senadora acha que as coisas vão bem por aqui? Quer defender o voto em Dilma para “continuar mudando”? Até chegarmos no modelo argentino ou venezuelano? É isso que o Brasil precisa?
Senadora, compreendo seu medo de Marina Silva, agora a provável candidata após a trágica e infeliz morte de Eduardo Campos. Compreendo, ainda, os limites da política partidária nesse país, e sua dificuldade em compor com o PSDB de Aécio Neves, caminho natural para alguém que sempre defendeu o que a senhora defendeu em seus discursos, artigos e mesmo prática política.
Mas não posso aceitar ou perdoar uma traição dessas! Saiba que muitos brasileiros de direita, defensores da propriedade privada, inclusive rural, que combateram sempre a ameaça socialista, os invasores do MST, as lideranças “indígenas” que colocam em risco muitas fazendas, tinham em sua pessoa uma esperança. Alguns chegavam a imaginá-la uma espécie de Thatcher tupiniquim.
Como defendê-la agora? Como explicar para essa gente toda suas palavras e ações? Como dizer que aquela Kátia Abreu, outrora uma firme combatente em nome do capitalismo e da economia de mercado, debandou-se para o lado de lá, apoiando com tanta paixão um partido golpista, do Foro de São Paulo, camarada da ditadura cubana, irmão dos invasores do MST?
Eu não consigo, confesso. Posso apenas lamentar profundamente sua guinada rumo ao que há de pior na política nacional. O Brasil continua em busca de uma estadista…
Rodrigo Constantino

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Um debate sobre o papel do cambio nos problemas brasileiros - Antonio Carlos Teixeira Alvares (e PRA)

Recebo, a propósito desta postagem, e meus comentários iniciais a ela:

Plano Real, 20 anos: seria o câmbio o principal problema do Brasil? 

o seguinte comentário de um dos autores do artigo ali transcrito:
Plano Real, 20 anos: seria o cambio o principal problema do Brasil? - Antonio Carlos Teixeira Álvares e Guilherme Renato Caldo Moreira - See more at: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/08/plano-real-20-anos-seria-o-cambio-o.html#sthash.PUFozlFC.dpuf
Plano Real, 20 anos: seria o cambio o principal problema do Brasil? - Antonio Carlos Teixeira Álvares e Guilherme Renato Caldo Moreira - See more at: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/08/plano-real-20-anos-seria-o-cambio-o.html#sthash.PUFozlFC.dpuf
 
Como um dos autores do artigo desejo inicialmente declarar que concordo plenamente que uma moeda pode se valorizar. As razões são várias e só para citar algumas temos o aumento do preço dos bens exportados (no caso do Brasil, comodities), a elevação da taxa real de juros interna ou mesmo ações governamentais de politica econômica . O artigo não discute as causas nem nega a valorização, apenas analisa suas consequências. O custo Brasil (impostos, infraestrutura, energia, etc) ataca a indústria brasileira há muito tempo. A valorização do real começa em 2007. Em 2006 o saldo comercial (exportações menos importações) da indústria de transformação brasileira foi positivo em cerca de  usd  31 bilhões. Nos últimos 12 meses, encerrado em junho de 2014, o saldo negativo indicava usd  -106 bilhões!  A causa disso é a valorização do real que favoreceu as importações e prejudicou sobremaneira as exportações da indústria de transformação. Não se pode culpar o custo Brasil por essa evolução, pois em 2006 ele já estava presente entre nós. O cambio valorizado está sim prejudicando muito a indústria nacional, como prejudicou a indústria holandesa na década de 1960. Existe claro muitas outras causas para o Brasil ir mal, mas a balança comercial da indústria de transformação é claramente explicada pelo cambio fora de lugar.
 
 Devo dizer que concordo apenas em parte com os argumentos do comentarista, por uma razão muito simples.
No cursos de toda a era de Bretton Woods, e mesmo depois, as moedas respectivas da Alemanha Federal, deutsche mark, e do Japão, iene, se valorizaram constantemente, justamente pela fortaleza de suas economias, que foi inclusive beneficiada pela importação de bens (e energia, nos dois casos) mais baratos, devido à valorização.
O deutsche mark deve ter saído de um patamar de 5 a 6 dm por US$ para chegar a 1,50 três décadas depois; o iene deve ter saido de 500 a 600 por dólar, para menos de 100 dólares no mesmo período.
Como se compensou isso: bem com importações mais baratas, justamente, e com ganhos de produtividade.
O Brasil abandonou esses dois vetores, eles são difíceis, estão fora do seu alcance?
Esses países ficaram mais ricos, com moedas valorizadas, e continuaram grandes potências exportadoras.
Ou seja, é possível fazer, mesmo sem as velhs receitas da desvalorização contínua, que tornam todos um pouco mais pobres.

Dito isto, concordo em parte que câmbio e moderadamente desvalorizado, pode ser importante para manter equilíbrio na balança comercial. Mas, existem outras balanças, também...
Paulo Roberto de Almeida

Simon Leys: o homem que desmascarou Mao Tse-tung, morre...

Lembro-me como se fosse hoje: eu, jovem estudante recém chegado na Bélgica, percorrendo as livrarias de Bruxelas, e vendo um livro que contribuiria ainda mais para aprofundar o meu ceticismo em relação às supostas virtudes humanas do socialismo chinês.
Ali estava o livro: Les Habits Neufs du Président Mao, por um certo Simon Leys.
Era o começo da transformação...
Paulo Roberto de Almeida 
Pierre Ryckmans, 78, Dies; Exposed Mao’s Hard Line
He challenged the prevailing romantic view of Mao harbored by many Western intellectuals by writing about the cruelties of the Cultural Revolution.



By MICHAEL FORSYTHEAUG. 14, 2014
Photo
Pierre Ryckmans, who used the pen name Simon Leys, first traveled to China as a student in 1955. His once romantic view of China dissipated when he learned of the Cultural Revolution.CreditWilliam West/Agence France-Presse — Getty Images

Pierre Ryckmans, a Belgian-born scholar of China who challenged a romanticized Western view of Mao Zedong in the 1960s with his early portrayal of Mao’s Cultural Revolution as chaotic and destructive, died on Monday at his home in Sydney, Australia. He was 78.
His daughter, Jeanne Ryckmans, said the cause was cancer.
Mr. Ryckmans, who was better known by his pen name, Simon Leys, fell in love with China at the age of 19 while touring the country with fellow Belgian students in 1955. One highlight was an audience with Prime Minister Zhou Enlai. The man-made famine of Mao’s Great Leap Forward and his Cultural Revolution, which began in 1966 and ended about the time of Mao’s death, in 1976, were still in the future. There was much to be admired in the new China.
Yet pursuing his studies of Chinese art, culture and literature in the People’s Republic itself was not an option for a Westerner, so he settled in Taiwan, where he met his future wife, Han-fang Chan. He also lived in Singapore and Hong Kong.
It was in Hong Kong during the late 1960s, when it was still a British colony, that Mr. Ryckmans (pronounced RICK-mans) began to follow the turmoil just across the frontier, reading accounts in the official Chinese press about the Cultural Revolution and talking to former Mao supporters who had escaped it.
He began to find that the romantic view of Mao harbored by many Western intellectuals — as a progressive if flawed champion of the masses — was completely at odds with the cruelties of the Cultural Revolution, which sought to eradicate Chinese cultural traditions and Western capitalist influences and replace it with a Maoist orthodoxy. The movement led to purges, forced internal exiles and whipsaw shifts in the political winds, and it compelled Mr. Ryckmans to step into the arena of political commentary.
“Until 1966 Chinese politics did not loom large in my preoccupations, and I confidently extended to the Maoist regime the same sympathy I felt for all things Chinese, without giving it more specific thought,” Mr. Ryckmans wrote under his pseudonym in “Chinese Shadows,” which was first published in French in 1974. “But the Cultural Revolution, which I observed from beginning to end from the vantage point of Hong Kong, forced me out of this comfortable ignorance.”
His first account, “The Chairman’s New Clothes,” was also published in French, in 1971, a year after he had settled in Australia, lured by an eminent Chinese literary scholar, Liu Cunren, to teach at Australian National University. Mr. Ryckmans wrote the book under the name Simon Leys to disguise his identity so that he would not be banned from China.
He returned to China in 1972 on a six-month assignment as a cultural attaché for the Belgian Embassy in Beijing. The wanton destruction of the city’s ancient architectural heritage shocked him.
In “Chinese Shadows,” he wrote of his frantic search for some of the most magnificent of the city’s huge gates, which he assumed had been preserved, even though he knew that the city walls had been taken apart starting in the 1950s. The gates were gone. “The destruction of the gates of Peking is, properly speaking, a sacrilege; and what makes it dramatic is not that the authorities had them pulled down but that they remain unable to understand why they pulled them down,” he wrote.
The Cultural Revolution, he found, had destroyed the beauty of Chinese culture and civilization without destroying what needed to be exorcised: the tyranny of arbitrary rule.
In a telephone interview, Kevin Rudd, a former prime minister of Australia and a former student of Mr. Ryckmans, called him “the first of the Western Sinologists of the ’60s and ’70s to expose the truth of the cultural desecration that occurred during the Cultural Revolution, ripping away the political veneer from it all and exposing it for what it was: an ugly, violent, internal political struggle within the Chinese Communist Party led by Mao.”
Mr. Rudd added, “He was excoriated at the time by Sinologists who had been captured by the romance which many felt for the Cultural Revolution in the early days.”
The irony, Mr. Rudd said, is that the Chinese leadership moved to repudiate the Cultural Revolution after Mao’s death. Many of the delights of old Beijing — the food stalls, the street dancing on a summer’s evening — did indeed return, as did an appreciation for classical art, literature and, finally, the classical scholar Confucius, who had been vilified by the Maoists. Mr. Ryckmans translated, into English, the “Analects,” the collection of sayings attributed to Confucius.
Yet he did not change with the times. “It was difficult to get Pierre to accept that real, sustainable and positive changes had occurred in the China of the period of ‘reform and opening,’ ” Mr. Rudd said.
More than a Sinologist, Mr. Ryckmans was also a formidable European man of letters, earning doctorates in law and art in Belgium, said Richard Rigby, a China scholar and Mr. Ryckmans’s brother-in-law. His lectures, he added, brought the best of both worlds together.
“He could look at a Chinese painting or maybe something by Orwell and essays by Montaigne and put them all together into a coherent whole,” Mr. Rigby said.
Mr. Ryckmans also wrote a novel, “The Death of Napoleon,” which imagines the deposed emperor escaping from exile on St. Helena and making his way back to France. First published in France in 1986 and then in English in 1992, it was hailed as “an extraordinary book” by the novelist Penelope Fitzgerald, writing in The New York Times Book Review, and adapted into a film, with Ian Holm and Hugh Bonneville, in 2002.
Mr. Ryckmans was a frequent contributor to The New York Review of Books, Le Monde and other periodicals and the recipient of several literary prizes.
He was born on Sept. 28, 1935, in Brussels. Besides his daughter, he is survived by his wife; his sons Marc, Etienne and Louis; and two grandchildren.
He also taught at the University of Sydney and spent his later years writing and sailing. A collection of his essays, “The Hall of Uselessness,” discussing topics as far-ranging as “Don Quixote” and Confucius, was published in 2011.
In “Chinese Shadows,” Mr. Ryckmans wrote that even though Mao and his acolytes would leave the scene, and there would be an inevitable relaxation of authoritarian rule, the fundamental characteristics of Communist rule would not change.
“Among various descriptions of Communist China made at different times, one may note differences,” he wrote, “yet if these descriptions have been made conscientiously and perceptively, they will show more than ephemeral journalistic truths, for modifications will be in quantity, never in quality — variations in amplitude, not changes in basic orientation.”
A version of this article appears in print on August 15, 2014, on page A21 of the New York edition with the headline: Pierre Ryckmans, 78, Dies; Exposed Mao’s Hard Line.