O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Petrobras: sorry acionistas, voces perderam todo o seu dinheiro...

Quem comprou na alta, digamos em torno de 40 reais a ação -- que é onde ela estava em 2009 --, esperando ver esse valor subir até 60 ou mesmo mais, em pouco tempo, foi roubado, digo, assaltado, extorquido, pelos mesmos meliantes que tungaram bilhões, digo BILHÕES, de reais, e de dólares, da Petrobras, pelos mais diversos expedientes, por quadrilhas diferentes e variadas, mas todas elas deixadas operar tranquilamente pelos mafiosos que comandam outros cargos na nação.
Quando é que a ação da Petrobras vai recuperar-se desse patamar inferior a 13 reais?
Eu não sei, mas a experiência ensina que isso pode demorar anos.
Ou seja, quem retirou seu FGTS ou sua poupança para comprar ações da companhia deles, e esperava se aposentar com algum rendimento apetitoso, pode refazer seus planos, pois perdeu tudo e só vai recuperar num espaço de 15 a 20. Digo recuperar nominalmente, pois a perda-oportunidade (ou seja, o que se deixou de ganhar, e o que se perdeu nesse período) já é concreta e estimável.
Seus ativos perderam mais de um terço do valor, senão mais
Paulo Roberto de Almeida

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Estatal vive um dos piores momentos de sua história (Reprodução/Internet)
Acumulando prejuízos

Petrobras perde R$ 28 bilhões em valor de mercado

As ações da estatal na Bovespa acumulam 15% de queda em sete pregões consecutivos e papéis preferenciais atingiram a menor cotação desde 2005

fonte | A A A
Os escândalos de corrupção envolvendo e a queda no preço do petróleo estão fazendo a Petrobras viver um dos piores momentos da sua história.
Leia mais: Vale anuncia redução de investimentos em 2015
Leia mais: O sofá na Petrobras
Leia mais: Brasil tem preço da gasolina e do diesel mais caro que outros países
Na última terça-feira, 2, as ações da empresa na Bovespa fecharam em baixa, acumulando 15% de queda em sete pregões consecutivos e uma perda de R$ 28 bilhões em valor de mercado. As ações preferenciais da estatal atingiram nesta quarta-feira, 3, a menor cotação desde 2005, vendidas a R$ 12,13.
Para Julio Hegedus, economista chefe da agência de consultoria Lopes Filho, a queda nas ações da Petrobras não teve relação direta com a acareação entre os ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró, ocorrida na terça-feira na CPI Mista do Congresso.
“Nada de novo foi revelado. O que mais pesou para puxar o mercado foi a desconfiança quanto ao que será decidido para o futuro da política econômica e o consenso de que o Banco Central vai apertar os juros, o que acaba tirando atratividade da Bolsa e migrando-a para a renda fixa”, disse o economista.

IBRI: 60 anos + RBPI: 56 anos - Amado Luiz Cervo (Mundorama)

Meus cumprimentos ao professor Amado Luiz Cervo pelo seu artigo em torno dos 60 anos do IBRI, que tem como principal empreendimento a Revista Brasileira de Política Internacional, a mais antiga e mais prestigiosa revista dessa área no Brasil.
Estou preparando um artigo (longo) e um outro mais curto sobre os dois instrumentos. Já está pronto, mas sob revisão, para divulgação dentro de poucos dias.
Paulo Roberto de Almeida

Instituto Brasileiro de Relações Internacionais: sessenta anos com o mesmo empreendimento 
Amado Luiz Cervo
Boletim Mundorama, 3/12/2014

Em 1954, sessenta anos atrás, um grupo de intelectuais brasileiros fundou o Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, movido pela necessidade e pela intenção de promover estudos sobre a inserção internacional do Brasil. Em 1958, o grupo lançava o primeiro número da Revista Brasileira de Política Internacional-RBPI, publicação que mantém sua regularidade até o presente.

O nascimento do IBRI ocorria no momento em que o desenvolvimentismo da era Juscelino Kubitschek requeria maturidade de pensamento para instruir a decisão em política externa e influir sobre a qualidade da inserção internacional do país. Esse espírito governava as mentes dos fundadores, José Honório Rodrigues, Oswaldo Trigueiros, Henrique Valle e Cleantho de Paiva Leite. Se estivessem entre nós, em 2014, por certo orgulhar-se-iam de contemplar o ponto de chegada de seu projeto editorial, que se apresenta como a mais antiga e a maior coletânea de estudos sobre relações internacionais existente no país.

A oportunidade do lançamento da RBPI pelo IBRI nos anos cinquenta do século XX resulta principalmente da inexistência na Universidade brasileira de então, ainda jovem, de qualquer núcleo de pensadores sobre relações internacionais. E da conveniência de pensar, debater e avaliar a escolha de estratégias externas adequadas à promoção da maturidade da nação.

Quantos dilemas, com efeito, enfrentará o Brasil, dos anos 1950 ao século XXI! As divisões de pensamento e de opções consequentes escandem a formação nacional, desde então, entre dirigentes e na sociedade. Entreguistas e nacionalistas, liberais e protecionistas, industrialistas e primaristas, americanistas e universalistas, isolacionistas e globalistas, pacifistas e confrontacionistas. Não convinha e não convém, pois, pensar a inserção internacional? Qual o rumo da formação nacional? Sem pensamento forte, uma nação não se põe em marcha rumo à maturidade. A História que o diga!

As contradições do pensamento internacionalista brasileiro desembocaram, com o tempo e a reflexão, em admirável harmonia. Harmonia que, se não foi suficiente para orientar o país ao patamar desejável de sua cultura e de seu desenvolvimento, salvou-o, por certo de radicalismos presentes em outras experiências de formação nacional, que a ninguém fazem inveja.

Os grandes desígnios da evolução brasileira amarraram o interno ao externo, como se percebe lendo as análises da RBPI, dos anos 1950 ao presente. O Brasil moderno nasceu conectado ao mundo, universalista, cultor de vocação globalista. Aborreceu-lhe o isolacionismo; se pendeu para o ocidentalismo ou o latino-americanismo, fê-lo para lançar raízes na vizinhança e ir além, como se aqueles fossem instrumentos do desígnio universalista.

A modernização do país foi concebida antes da fundação do IBRI como derivada da industrialização. Esta, porém, não convinha que fosse dependente apenas desta ou daquela nação avançada, que aportaria insumos externos ao desenvolvimento interno por meio de capitais, empreendimentos e tecnologias. Nascia, destarte, a ideia de cooperação externa necessária, que a RBPI cultivou. Assim como estimulou projetos voltados à autonomia do processo de desenvolvimento, ou seja, formação de capital, criação de empresas e inovação tecnológica nacionais. Uma complementação entre interno e externo.

A necessária convivência de diferenças sugerida pela heterogeneidade da identidade brasileira inspirou entre pensadores o conceito do universalismo sem restrições e do pacifismo. Inspirou como traço da política exterior a boa convivência entre nações, mesmo distintas por cultura, etnia ou civilização. Sucumbiram no tempo proselitismos políticos e diplomáticos, tais como amarrar o país ao ocidentalismo, ao liberalismo radical, ao anticomunismo, a ideologias excludentes. Cresceu uma nação tolerante, cooperativa, pacifista, internacionalista como pensavam os fundadores da RBPI: um liberalismo cunhado na identidade, uma experiência nacional quase única no mundo pela sua envergadura.

Em 1993, após a morte de Cleantho de Paiva Leite no ano anterior, IBRI e RBPI transferiram-se do Rio de Janeiro para Brasília. Tanto em sua origem quanto por ocasião dessa transferência, diplomatas e professores universitários uniram-se para dar início ou continuidade ao empreendimento. Porém, uma nova fase inaugurava-se junto à Universidade de Brasília, cujo Instituto de Relações Internacionais abrigou IBRI e RBPI desde então.

Naquela década proliferaram no Brasil cursos de graduação e depois de pós-graduação em relações internacionais. Grupos de pensamento, pesquisa, ensino e publicação nessa área foram surgindo. A sociedade amadurecia para os estudos, novas revistas e publicações voltavam-se ao tema, enfim, não estava mais o Itamaraty isolado da sociedade ao ocupar-se com a inserção internacional do país, tampouco a UnB ao estimular seus programas de ensino e pesquisa. Entretanto, com seu curso pioneiro de relações internacionais, implantado em 1974, a Universidade de Brasília assumiu as responsabilidades mantidas nos anos anteriores por Cleantho de Paiva Leite, Diretor do IBRI e Editor da RBPI. É fácil entender, nessas circunstâncias, a nova fase da Revista Brasileira de Política internacional.

Além de manter ininterruptamente a publicação da revista, o IBRI irá atuar como organizador de seminários e editora.  Em coedição ou isoladamente, publicou dezenas de obras sobre relações internacionais em si ou sobre a inserção internacional do país. Transformou-se em pesquisador e provedor de conhecimento especializado tanto para segmentos da sociedade que dele se serviam com a finalidade de ampliar o espectro das relações exterior do pais, quanto para subsidiar o ensino de relações internacionais nas Universidades. Contudo, o grande projeto permaneceu sendo a revista, cuja coletânea atual vai além de uma centena de volumes.

Desde a década de 1990, sem descolar-se dos diplomatas, os professores da Universidade de Brasília que assumiram a direção do IBRI e a edição da RBPI vincularam tais empreendimentos à sociedade, especialmente às Universidades. A revista aprimorou sua qualidade com essa agregação de inteligência, evitou publicar documentos oficiais e concentrou-se em estudos avançados sobre as relações internacionais. Tornou-se indispensável à comunidade acadêmica, à diplomacia e a outros segmentos da sociedade envolvidos com aquilo que era seu objeto específico de estudo.

A RBPI espelhou o grande debate dos anos 1990, entre neoliberais, desenvolvimentistas e neodesenvolvimentistas, até que a nação definisse e consolidasse seu novo paradigma logístico de inserção internacional no século XXI, a era da interdependência global. Contribuiu, destarte, com conceitos elaborados no Brasil para implantação pela nação de modelo próprio de inserção internacional, feito de cooperação entre Estado e sociedade, ao imbricar condução política com participação de atores não governamentais.

Por haver-se refugiado na academia, e no maior centro de estudos de relações internacionais do país, a RBPI se faria atenta aos requisitos de publicações universitárias congêneres de todo o mundo, as quais aspiram situar-se entre as classificadas no topo das escalas. Por isso goza de prestígio como periódico científico nos países onde existem centros de estudo de relações internacionais e ocupa atualmente classificação elevada das entidades que estabelecem as posições das revistas pela qualidade editorial.

Ao completar sessenta anos de atividades, o Instituto Brasileiro de Relações Internacionais pode orgulhar-se de seu maior empreendimento. A Revista Brasileira de Política Internacional segue cumprindo sua missão original: rastrear o pensamento brasileiro e instruir decisões de que depende o curso do país rumo a sua maturidade sistêmica.

Amado Luiz Cervo é Professor Emérito da Universidade de Brasília e Presidente de Honra do Conselho Editorial da Revista Brasileira de Política Internacional - RBPI

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Presidencialismo de mensalao: entre a dignidade e a desonra, adivinhe o que eles escolherao?

Winton Churchill foi extremamente cruel com Chamberlain, quando este se rendeu a Hitler, em Munique, ao supostamente rejeitar a guerra e preferir a paz, entregando ao ditador nazista a Tchecoslováquia -- na verdade, um pedaço desta, a Boemia e a Morávia, que depois se converteu em todo o paós -- como preço para não precipitar o seu país num conflito com a Alemanha. O então isolado político conservador disse que entre a guerra e a desonra, Chamberlain tinha escolhido a desonra; ele não teria paz, ou melhor, ele escreveu que Chmaberlain teria a desonra, e a guerra.
Parece que os parlamentares brasileiros vão escolher a desonra, e terão a crise, de qualquer forma, e uma confusão dos diabos no plano constitucional e das contas públicas.
Paulo Roberto de Almeida

Reinaldo Azevedo, 02/12/2014
às 6:51

Quanto custa para comprar um deputado ou um senador? Dilma está pagando R$ 748 mil por cabeça! Ou: Lembrando como Karl Marx interpreta Dilma Rousseff

Pois é… No dia 26, escrevi aqui um post em que perguntava quem chantageia quem na relação entre o governo e o Congresso: são os deputados e senadores que exigem benesses para dar seu voto, ou é o Planalto que só concede a benesse se tiver o voto? Não se trata de um enigma do tipo “quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?” Sabem por que não? É a Presidência que dispõe da caneta que abre o caixa. Pois bem: desta feita, a relação quase sempre perversa entre o Executivo e o Legislativo assumiu ares de chantagem explícita. Ou, vá lá, talvez o nome não seja bem esse: a presidente Dilma Rousseff e seus sábios decidiram mesmo ir às compras. Botaram R$ 444,7 milhões na bolsa e foram ao mercado da Câmara e do Senado para encher o carrinho de deputados e senadores.
Vocês sabem a que me refiro (ler post desta segunda). Na sexta-feira, o governo editou um decreto ampliando em R$ 10,032 bilhões os gastos de toda a máquina pública. Nesse total, estão R$ 444,7 milhões para emendas individuais dos parlamentares — um naco novo de R$ 748 mil para cada um dos 513 deputados e 81 senadores. Com esse aporte novo, cada um deles fechará o ano com R$ 11,6 milhões para emendas individuais.
Até aí, vá lá… Nesta terça, o governo tentará votar mais uma vez o projeto de lei que altera a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) e que, na prática, elimina qualquer meta fiscal do governo. Reitero: o texto, na forma como o quer o Planalto, permite que se chegue a qualquer resultado, pouco importando se é déficit ou superávit. A sessão conjunta de votação do Congresso, reunindo Câmara e Senado, está marcada para as 18h. Trata-se de um projeto inconstitucional porque viola o Artigo 165 da Carta.
Muito bem! Já seria indecoroso se, na véspera da votação, um governo acenasse com a liberação de verba para emendas individuais. Parece que já ficaria caracterizada uma relação de troca. Ocorre que o governo não quis saber de ambiguidades: o decreto de Dilma que amplia a verba destinada a deputados e senadores tem uma condição: a aprovação do projeto de lei que altera a LDO.
Vocês entenderam tudo direitinho: se os senhores parlamentares aprovarem o projeto e permitirem que o Planalto estupre a LDO e a Constituição, então receberão os recursos; se, no entanto, o governo for derrotado, nada de grana. E por que os parlamentares querem o dinheiro das emendas? Para que possam aplicá-lo em suas respectivas bases, mantendo cativo o eleitorado.
Ao ridicularizar Luís Bonaparte (o sobrinho que seria a farsa de Napoleão, o tio), Marx — que era um ótimo frasista e podia ser genial às vezes, apesar de suas ideias malignas — faz uma ironia que cito com certa frequência. Transcrevo: “Na sua qualidade de fatalista, ele [Luís Bonaparte] vivia e vive ainda imbuído da convicção de que existem certas forças superiores às quais o homem, e especialmente o soldado, não pode resistir. Entre essas forças estão, antes e acima de tudo, os charutos e o champanhe, as fatias de peru e as salsichas feitas com alho”. Marx resume com essa imagem o que considerava a farsa bonapartista de Luís — ou “Napoleão III de França”, criando o emblema de um tempo.
Adapto. Na sua qualidade de fatalista, Dilma vive imbuída da convicção de que existem certas forças superiores às quais o homem, e especialmente o deputado e o senador, não pode resistir. Entre essas forças estão alguns carguinhos em estatais, a nomeação de apaniguados e R$ 748 mil.
Eis aí um governo que reivindica a autoridade moral para conduzir uma reforma política. Vamos ver se deputados e senadores reagirão de pé ou ficarão de joelhos, com o chapéu na mão.
Por Reinaldo Azevedo

Politica economica: de Chicago para Joaquim Levy - Rubem de Freitas Novaes

Acho que tudo está dito, mas se me permite, talvez eu complete um pouco:
Caro Joaquim Levy,
Pense em sua biografia e em sua responsabilidade para com o povo brasileiro. Não participe de uma farsa ou da montagem de um espetáculo que pode respingar sobre sua própria reputação, de homem comprometido com o bem-estar da população e com o progresso do país, de economista coerente com certos princípios, que você aprendeu em Chicago, justamente.
Paulo Roberto de Almeida

De: CHICAGO     Para: JOAQUIM LEVY 
 Rubem de Freitas Novaes*
Caro Levy,
A você demos o título de Ph.D. em Economia e isto lhe impõe certas responsabilidades. Como bem sabe, nestes 45 anos que se passaram desde a criação do Prêmio Nobel para economistas, nada menos que 30 professores laureados eram de alguma forma associados à Universidade de Chicago. Milton Friedman e Friedrich Von Hayek, ex professores nossos, só ficam atrás de Karl Marx, Adam Smith e John Maynard Keynes nas citações na literatura, o que os coloca entre os 5 economistas mais influentes da História. Milton Friedman, seu mestre, é considerado por muitos, inclusive pelo keynesiano Gregory Mankiw, de Harvard, como “o economista do século XX”. Influenciamos sobremaneira a revolução liberal da segunda metade do século passado, ajudando a moldar a política econômica de Reagan e Thatcher e dando as bases para o processo de globalização que viria atingir inclusive a China. Aí, na sua América Latina, colegas seus, orientados por nossos professores, transformaram o Chile, de um país apenas mediano na década de 70, na economia mais rica da região em termos per capita e no país menos corrupto, já que a redução com simplificação do Estado é a melhor receita para o combate da corrupção. Nada impede que o mesmo processo saneador possa ocorrer no Brasil,
Ficamos satisfeitos em ver que, num momento de quase desespero, diante de tantos problemas acumulados por imperícia da atual equipe econômica, o nome de um típico “Chicago-boy” foi lembrado para correções de rumo e para evitar a perda do grau de investimento do Brasil. Entretanto, como você está bem ciente, a situação chegou a um ponto crítico onde não restam graus de liberdade para os gestores da economia. Seja na inflação, no crescimento, nas contas correntes, nas contas públicas, na confiança empresarial, para onde quer que olhemos, o quadro é preocupante. Até nas reservas externas passamos a correr riscos, caso não se altere a percepção das agências de “rating” em relação ao Brasil.
Pois bem, diante de um quadro dramático como este, um só Ministro ciente do que precisa ser feito não basta para a obtenção de resultados consistentes. É obra para todo um governo que precisa estar imbuído dos mesmos convencimentos sobre a natureza dos problemas e sobre as melhores medidas a serem implementadas. É aqui que começam nossas preocupações. A Presidente não acredita no nosso receituário e pode ser tida como adversária de nosso ideário liberal. Tememos que esteja usando o prestígio de um novo ministro perante o mercado apenas para evitar crises iminentes. Ao anunciar a sua escolha oficialmente, não se deu ao trabalho de prestigiá-lo comparecendo à entrevista. Seu companheiro de Ministério fez questão de lembrar a todos que você, Levy, seria Ministro de um governo reeleito pelo voto popular, sinal portanto de continuidade. Em lugar de uma posse com todas as pompas de praxe, onde comparece usualmente metade do PIB para o beija-mão e se faz a apresentação de uma equipe ministerial consistente, foi-lhe oferecida uma salinha de transição no terceiro andar do Palácio, onde você ficará dependente dos préstimos de ministros veteranos que, diga-se de passagem, não lhe dedicam qualquer apreço. Parece que você está sendo devidamente “enquadrado” num sistema pré-existente e tratado simplesmente como um assessor da “Presidenta” para assuntos de cortes orçamentários. Para quem imaginava que você chegaria com espírito de curador interventor, com total liberdade e autonomia para gerir a economia, foi uma decepção.
Caso se confirme um quadro de limitações e impedimentos para a adoção de uma administração nos moldes Palocci/Meirelles, sua gestão não terá êxito e os resultados negativos serão debitados a você e a seu liberalismo ortodoxo. Portanto, daqui de Hyde Park, Chicago, desejamos que você consiga contornar as dificuldades e honrar a tradição de coerência e sucesso no trato da economia que carrega em seus ombros. E que nunca abandone seus princípios!

*O autor é Ph.D. pela Universidade de Chicago
http://www.institutoliberal.org.br/blog/de-chicago-para-joaquim-levy/

Estado Benfeitor da UE: sempre avancando sobre o seu dinheiro...

Como já disse alguém, socialismo bom é aquele que é feito com o dinheiro dos outros.
Acho que ninguém disse isto, e sou eu que estou inventando a partir de uma frase ligeiramente similar: o socialismo acaba quando acaba o dinheiro dos outros (talvez tenha sido Margaret Thatcher, mas não tenho certeza).
Não importa: nem toda a Europa, ou nem toda a União Europeia é socialista, mas a Comissão Europeia é, sim, formada por burocratas que passam o dia pensando como vão fazer para arrumar um pouco mais de dinheiro para montar o seu gigantesco Estado de Bem-Estar Social, que do jeito que vai acaba virando um Estado de Mal-Estar Social.
Tinha lido algo a respeito da matéria abaixo, mas sequer prestei muita atenção, pois pensava que não seria afetado, mas eis que o Kindle Publishing me avisa: a partir de 1 de janeiro, a tributação sobre o valor agregado (TVA ou IVA) passa da fonte ofertante, para a fonte vendedora, ou seja, nos dois casos quem paga é o comprador, ou a parte pagadora, devidamente tosquiada nos dois casos.
Mas isso muda para praticamente tudo, pois a maravilha da integração europeia não unificou a parte fiscal e cada país tem uma bela maneira de tosquiar seus consumidores, e até os alheios.
Tenho uns dois ou três livros impressos na Europa, e mais uns três ou quatro Kindle, e são eles que me avisam dessas mudanças.
Por elas eu fico sabendo que os ingleses são inimigos da leitura, pois cobra, 20% de TVA (no caso deles VAT) sobre os livros digitais: bandidos, querem impedir seus jovens de lerem livros...
Enfim, que for tributarista talvez tenha interesse em ler tudo o que o site do Kindle me explica (e eu não li; quem ler me avisa depois se tem algo interessante...).
Paulo Roberto de Almeida

Em 1 de janeiro de 2015, as leis tributárias relacionadas à tributação de produtos digitais da União Europeia (UE) (incluindo livros digitais (eBooks) vão mudar: antes, o Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) era aplicado com base no país do vendedor. A partir de 1 de janeiro, ele será aplicado com base no país do comprador. Como resultado, a partir de 1 de janeiro, os autores de KDP deverão definir a lista de preços incluindo o IVA.  Nós também faremos um ajuste único para os livros existentes publicados pelo KDP para que sejam movidos da lista de preços sem IVA para a lista de preços com IVA. Essas mudanças entrarão em vigor a partir de 1 de janeiro. Você sempre pode alterar os seus preços a qualquer momento, mas não precisa fazer nada, a menos que queira fazê-lo.

Ajuste único para obras existentes do KDP
A partir de 1 de janeiro, nós faremos um ajuste único para converter os preços que recebermos sem IVA em preços com IVA para todas as obras já publicadas no KDP.  Sujeito a limites mínimos e máximos, nós adicionaremos o IVA aplicável à lista de preços de tabela fornecida sem IVA com base no país principal do mercado.  Por exemplo, se um autor já tiver definido 5,00 £ como o preço de tabela sem IVA para amazon.com.br, o novo preço de tabela com IVA será 6,00 £, porque a taxa de IVA aplicável no Reino Unido é de 20%. Observe que se um autor tiver definido um preço de tabela consistente sem IVA para todas as lojas do Kindle com base em euros, os preços agora serão diferentes, devido à variação das taxas de IVA para o país principal de cada loja Kindle.  Por exemplo, se um autor tiver fornecido primeiro um preço sem IVA de € 6.00 para as lojas Kindle amazon.de, amazon.fr, amazon.es e amazon.it, os preços de tabela com o IVA serão € 7,14 (19% IVA), € 6,33 (5,5% IVA), € 7,26 (21% IVA) e € 7,32 (22% IVA) respectivamente.

Os preços mínimos e máximos para os planos de royalties de 35% e 70% agora também incluirão IVA. Para livros publicados antes de 1 de janeiro que não estão dentro dos novos limites após a inclusão do IVA, ajustaremos o preço de tabela para garantir que o livro continue no mesmo plano de royalties previamente selecionado. 

Saiba mais sobre os preços mínimos e máximos de KDP na União Europeia:
https://kdp.amazon.com/help?topicId=ANRML55B0BWBK

Os royalties continuarão sendo calculados com base nos preços de tabela sem IVA. O valor do IVA aplicado depende do país onde o cliente se encontra. Imagine um livro que custe 6,00 £ com o IVA no site da Amazon.co.uk, para vendas para clientes no Reino Unido, nós aplicaríamos a taxa de IVA de 20% do Reino Unido e o preço que usamos para calcular o royalty seria 5,00 £. A taxa de IVA de 23% da Irlanda será aplicada a compras feitas na Irlanda. Portanto, um cliente que comprar na Irlanda ainda veria 6,00 £, mas, aplicando o IVA de 23%, nós calcularíamos os royalties com base no preço de tabela sem IVA que seria 4,88 £.

Saiba mais sobre como os preços da União Europeia afetam os pagamentos de royalties:
https://kdp.amazon.com/help?topicId=A30XCAGX3E5QDC

Os livros digitais (eBooks) que estiverem no plano de royalty de 35% precisam atender aos novos requisitos de preços de tabela mínimos
No momento, você tem um ou mais livros no plano de royalties de 35% que não atendem os novos requisitos de preços de tabela mínimos. Para ter certeza de que seus livros ainda correspondem ao preço de tabela mínimo exigido para o plano de royalties de 35% após 1 de janeiro, nós ajustaremos o novo preço de tabela que inclui o IVA, para atingir o mínimo de royalties de 35%.
Para livros digitais (eBooks) que tiverem 3 megabytes ou menos, os novos requisitos de preços de tabela mínimos são 0,99 £ e 0,99 €.
Para livros digitais (eBooks) que tiverem entre 3 e 10 megabytes, os novos requisitos de preços de tabela mínimos são 1,49 £ e 1,99 €
Para livros digitais (eBooks) que tiverem 10 megabytes ou mais, os novos requisitos de preços de tabela mínimos são 1,99 £ e 2,99 €.

Livros digitais (eBooks) disponíveis para pré-pedido, com lançamento programado para depois de 1 de janeiro de 2015
Para pré-encomendas feitas antes de 1 de janeiro de 2015 de livros que serão lançados depois dessa data, nós pagaremos o seu royalty como se o IVA ainda fosse somente 3%.

Livros digitais (eBooks) programados para uma Kindle Countdown Deal
Se você tiver no momento um ou mais livros programados para uma Kindle Countdown Deal durante ou após 1 de janeiro de 2015, o seu livro ainda será elegível para concluir essa promoção, mesmo que o preço de tabela não cumpra as novas exigências de preços entre 1,99 e 15,99 £, incluindo o IVA.

Definição de preços de tabela para lojas Kindle da União Europeia
A partir de 1 de janeiro, para facilitar a definição de preços de tabela bons para os clientes sem ter que calcular o IVA para cada país, os autores definirão os preços de tabela dos mercados da União Europeia que incluem o IVA.  Para acomodar isso, a tabela de preços do KDP será atualizada para aceitar os preços de tabela com o IVA. Anteriormente, se um autor quisesse fornecer um preço de tabela sugerido de “1,99 £”, ele teria que definir “1,93 £” como o preço sem IVA, para contar com o IVA de 3% que nós já aplicamos. Agora, os autores só precisam digitar "1,99 £", e nós deduziremos o IVA aplicável para calcular royalties. Na página de preços, os autores também verão o seu preço sugerido sem IVA exibido para o país principal do mercado para ajudá-los a entender como os royalties serão calculados para vendas a clientes daquele país principal.

Para os autores que estabelecerem os preços do mercado da União Europeia automaticamente de acordo com os preços dos Estados Unidos, nós converteremos o preço dos Estados Unidos para a moeda local, e esse será o preço de tabela com o IVA. Por exemplo, se um autor definir o preço de tabela dos EUA como $ 10,00, nós converteremos esse preço para Euros para o mercado alemão e, supondo que a taxa de câmbio seja de 0,8, o preço de tabela no site Amazon.de com o IVA será € 8,00. Para compras na Alemanha, deduziríamos 19% de IVA e calcularíamos os royalties sobre o preço de tabela sem IVA de € 6,72.

Saiba mais sobre a definição de preços de tabela para lojas Kindle da União Europeia:
https://kdp.amazon.com/help?topicId=A30464Q6OVH578
Como sempre, se um autor listar livros com um preço de tabela inferior em outros sites, nós poderemos ajustar os valores dos livros para os preços mais baixos. Nós recomendados que os autores revisem os preços que terão o novo IVA em 1 de janeiro, quando essas mudanças entram em vigor, para determinar se querem fazer atualizações.

Nós acreditamos que respeitar os preços de tabela sem IVA e manter os livros nos seus planos de royalties escolhidos oferece a melhor experiência para os autores. Se você quiser que os seus livros sejam tratados de forma diferente, entre em contato conosco com o seu comentário:
https://kdp.amazon.com/contact-us?topicId=euvat

Atenciosamente,
Equipe do Kindle Direct Publishing

Nunca Antes na Diplomacia, Paulo Roberto de Almeida: resenha no Meridiano 47

O número mais recente do boletim Meridiano 47, hoje recebido, traz uma resenha de meu mais recente livro (não o último, mas o mais recentemente publicado por editora comercial):

Boletim Meridiano 47 (Vol. 15, n. 145)
Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (1954-2014, 60 anos)
Meridiano47@ibri-rbpi.org

Boletim Meridiano 47
Vol 15, No 145 (2014): Setembro-Outubro
Table of Contents
http://periodicos.unb.br/index.php/MED/issue/view/967

Reviews of Books
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Nunca antes na diplomacia …: A política externa brasileira em tempos não
convencionais
(44-45)
    Priscilla de Almeida Nogueira da Gama

ler neste link: http://periodicos.unb.br/index.php/MED/article/view/11824/8687


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Janer Cristaldo, eu, e a miseria academica brasileira (grato Gil Rikardo)

Um amigo leitor deste modesto blog, Gil Rikardo, de Joinville, tinha me dito, algum tempo atrás, que o Janer Cristaldo, um dos mais brilhantes cronistas da humanidade (sim, da humanidade), infelizmente falecido nesta primavera (brasileira), tinha mencionado meu blog numa de suas postagens, e que apenas por isso tinha começado a ler o Diplomatizzando. E nunca mais parou. Grato, meu caro.
Eu nunca soube dessa menção, a despeito de visitar, ocasionalmente -- quando lia sucessivamente muitas postagens ao mesmo tempo -- o saboroso blog do Janer Cristaldo, um dos mais inteligentes que possam ter jamais existido nestes espaços brasileiros. Ele encontra-se interrompido, mas ainda disponível, neste link: http://cristaldo.blogspot.com/
Hoje, finalmente, o Gil Rikardo encontrou a postagem do Janer que menciona o meu blog, e me faz alguns elogios. Ela está reproduzida abaixo. Infelizmente, o blog do Janer, não possui instrumento de busca, nem os arquivos estão completos, razão pela qual não pude acessar eu mesmo esta postagem, "Um Leitor Especial", já que as postagens de setembro de 2011 são interrompidas no dia 16 desse mês, e não há jeito de recuperar o material (a menos que alguém da família tenha acesso ao computador e aos arquivos originais do Janer, o que desconheço como fazer).

Eis a mensagem do Gil Rikardo, seguida da transcrição da postagem do Janer. Ao final, transcrevo o que poderia ser a postagem minha que ele leu, sem ter certeza disso, já que não consegui acessar a integridade de suas postagens, neste link: http://cristaldo.blogspot.com/2011_09_01_archive.html.
Também convido os leitores a percorrer algumas das melhores crônicas do Janer Cristaldo, no link que leva aos seus ebooks: http://tinyurl.com/o6b5jmp.
No mais, é sempre um prazer ler coisas inteligentes.
Paulo Roberto de Almeida 

Nome: Gil Rikardo
Cidade: Joinville
Estado: SC
Mensagem: Caro professor, encontrei o texto em que Janer o mencionava. Foi a partir dai que tornei-me assiduo de seu diplomatizzando.
Gil Rikardo


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Janer Cristaldo, quinta-feira, setembro 01, 2011

UM LEITOR ESPECIAL

Se escrevesses mais crônicas como essa, terias mil vezes mais leitores – escreve-me alguém de uma lista de amigos. Referia-se à crônica “Azaléias de agosto”, que republico a cada aniversário da morte de minha mulher. Não sei se ele notou a crueldade do que disse. Está pedindo que morram mais Baixinhas em minha vida. Para começar, só existiu uma. Continuando, se foi duro enfrentar a passagem de uma, imagine o leitor como seria enfrentar a morte de várias. Crônica como aquela, espero jamais ter de escrever de novo.

Mas isto é o de menos. E sim o mil vezes mais leitores. Meu blog está se aproximando aos poucos de um milhão de acessos. Claro que isso não significa um milhão de leitores. Mas é um número significativo para um blog individual, que não é escorado por nenhum portal. Em verdade, mesmo que pudesse individualizar meus leitores, impossível ter uma idéia de quantos são na Internet. Minhas crônicas são replicadas por outros blogs e enviadas por mail a outro tantos leitores. Qualquer estimativa é inviável.

Mas digamos que, para efeitos de raciocínio, eu tivesse cem leitores. Es un suponer. Mil vezes mais significaria cem mil. Ora, no dia em que eu estiver sendo lido por cem mil leitores, vou parar, olhar-me no espelho e perguntar-me que ando escrevendo de errado. Prefiro cem. Escrevo para comunicar o que penso, não para cativar leitores. Alguns, eu os cativo e isso me faz bem ao ego. Outros, eu os irrito, e isto também me faz bem ao ego. Diria até mesmo que o número dos que irrito é bem maior do que o número dos que cativo. Paciência. Não peço para ser lido. Se sou, muito obrigado, seja lá quem for que me lê.

Confesso ficar em dúvida se gosto mais dos leitores que me elogiam ou dos que insultam. Recebo centenas de mails insultuosos – e esta é uma das razões pelas quais meu blog não é aberto a debates. Discordar, tudo bem, e seguidamente publico leitores que de mim discordam. Mas não vou dar espaço a insultos. Seja como for, eles me divertem. É a reação irracional do leitor que se sente machucado e não tem argumentos. Estes leitores não demonstram muita inteligência. Se soubessem o prazer que me dão, me subtrairiam este prazer.

Não tenho vocação para best-seller. Aliás, abomino best-seller. Se um livro vendeu de repente um milhão de exemplares, este é um de meus critérios para não comprá-lo. Não existe tanta gente inteligente no mundo. Não existe um único best-seller em minha biblioteca. Aliás, quando saio atrás de um título, tenho de trotar entre uma livraria e outra, pois trata-se de livro geralmente pouco divulgado. Diga-se o mesmo de filmes.

Ora, direis, mas a Bíblia ou o Quixote não são best-sellers? Claro que são, mas por outras razões. A Bíblia, além de ter três mil anos, é um livro religioso e atende a um público que não está interessado em razões estéticas. Eu a leio não por fé – quem me lê sabe que desde meus verdes anos sou ateu. Aliás, como todo mundo, nasci ateu. Deus é fruto do Estado, da família, da educação. Leio a Bíblia, por um lado, por razões estéticas, nela há livros de extraordinária beleza, como o Cântico dos Cânticos e o Eclesiastes. Por outro lado, para entender este mundo em que vivo. Ninguém entenderá o Ocidente sem ler o Livro.

Quanto ao Quixote, que consta ser o segundo livro mais vendido depois da Bíblia, é best-seller ao longo de quatro séculos. Não é best-seller do dia para a noite, como os Paulos Coelhos da vida. Ainda há pouco, eu dizia que não leio ficcionistas contemporâneos, é como se estivesse ouvindo mais uma vez as histórias que ouço em meu boteco. Cervantes é diferente. Me leva a um país que adoro, a uma outra geografia que não a minha e rumo a quatrocentos anos atrás. Em suma, me transporta ao anecúmeno. Isso sem falar na ironia de Cervantes, que perpassa a obra toda. Best-sellers que resistem aos séculos, eu os leio com muito prazer.

Mas falava de meus cem hipotéticos leitores. Que certamente serão mais, bem mais. São de modo geral pessoas cultas, que gostam de viagens, boa leitura, bona-xira. Me sinto bem quando toco a sensibilidade de um leitor culto. Nestes dias, fiz uma descoberta daquelas que, por um lado, mostra que não escrevo rumo ao inútil. Por outro, me compromete a escrever exigindo cada vez mais de meus textos.

Andava eu pelo Google em busca de mim mesmo, quando caí no blog Diplomatizzando, do escritor e diplomata Paulo Roberto de Almeida, homem vivido, viajado e de pensamento. Já havia passado por ele, onde tive a honra de ver algumas de minhas crônicas reproduzidas. Mas agora li texto que me fez ganhar meu dia. Segue abaixo. Se o leitor que quiser ter bons momentos de leitura, voilà o link: http://diplomatizzando.blogspot.com.

Suas palavras me honram, professor. (Só faria uma ressalva. Não me pretendo um anarquista. Um terrorista de idéias, talvez). Ao mesmo tempo, implicam um baita compromisso. Fico, daqui pra frente, proibido de escrever qualquer coisa que mesmo de longe roce o medíocre. Farei o que for possível.

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Transcrevo agora minha postagem de 15 de maio de 2011, que suponho tenha motivado, pelas minhas palavras iniciais sobre o "anarquista" Janer Cristaldo, suas palavras finais me corrigindo. De fato, ele é um terrorista das ideias, no bom sentido claro, o que eu também admito ser. Implodimos ideias que nos parecem perniciosas, mas nisso não vai nenhum fundamentalismo ou prejuizo para a humanidade. Nunca matamos ninguém, apenas não repugnamos um bom debate de ideias. Que vençam as melhores, nesta justa luta pela elevação espiritual da humanidade. Chega de mediocridade, acadêmica ou qualquer outra.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 30/11/2014

A mediocrizacao academica - eu e Janer Cristaldo (com razao)
A mediocrizacao academica - eu e Janer Cristaldo (com razao) - See more at: http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/05/mediocrizacao-academica-eu-e-janer.html#sthash.fkKyjYsq.dpuf

domingo, 15 de maio de 2011

A mediocrizacao academica - eu e Janer Cristaldo (com razao)

- See more at: http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/05/mediocrizacao-academica-eu-e-janer.html#sthash.fkKyjYsq.dpuf

Sou um acadêmico, eu sei, vocês sabem, ademais de ser também funcionário público federal da carreira do Serviço Exterior Brasileiro, mais exatamente diplomata, como se diz comumente.
Não sei em qual profissão eu me divirto mais, sou mais anarquista, ou ganho mais. Não importa. Olho as duas com olhar crítico. E acho que mereço os dois salários que ganho, pois como todos sabem, eu trabalho, produzo (supostamente coisas úteis à sociedade), mostro o que produzo, e me submeto a avaliações (dos chefes, dos alunos, dos pares, da sociedade, todos podem ler, ou não, o que escrevo, comprar meus livros publicados, enfim, me julgar de modo aberto, alguns até anonimamente, aqui mesmo neste blog até agora gratuito).
Não é de hoje que eu digo que a universidade vai para o brejo, que ela está decadente, que o ensino é medíocre, enfim, o que constato, visualmente, diretamente.
Claro, não pretendo ofender os colegas, chamando-os de medíocres ou preguiçosos, tanto porque escolho me relacionar com pessoas produtivas, inteligentes, dedicadas e honestas intelectualmente. Sinto muito, mas não consigo me relacionar com "maus-caráteres", desonestos, fraudadores. Esses eu simplesmente deixo de lado. Mas eu os encontro, aqui e ali: numa palestra (ou numa arenga), num artigo entregue para revisão e publicação (e quando chega para meu parecer sou apenas rigoroso), pelo que leio por aí, nesses jornalecos medíocres, nesses blogs alimentados com o dinheiro público.
Pois bem, o Janer Cristaldo é um provocador (como eu), embora ele seja muito mais anarquista do que eu. Ele não tem nenhum respeito pelos poderes constituídos (nem eu, mas preciso manter as aparências, por enquanto).
Ele não só critica as universidades (em geral, e as brasileiras em particular), no que acho que ele faz muito bem, mas ele critica a instituição do doutoramento. Concordo em grande medida com ele: tem muito teatro nessa coisa e muita embromação. Mas não ouso criticar sem oferecer uma solução alternativa. Não tenho ainda um substituto. Mas concordo em que as universidades estão defasadas e precisam se reformar, se modernizar, se transformar completamente...
Seguem três posts do Janer sobre um dos muitos motivos da decadência acadêmica
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 15 de maio de 2011 

A ARMADILHA DOS DOUTORADOS
Janer Cristaldo
Blog do Janer, Quarta-feira, Maio 11, 2011

Em 2005, a Capes previa investir R$ 3,26 bilhões para aumentar o número de doutores por ano no Brasil. O Plano Nacional de Pós-Graduação apresentado ao então ministro da Educação, Tarso Genro, propunha a aplicação nos seis anos seguintes de R$ 1,66 bilhão a mais em bolsas e fomento de pós-graduação, o que permitiria passar dos 8.000 doutores titulados por ano para 16 mil em 2010. O plano “será acolhido integralmente", disse Genro na ocasião.

Se foi acolhido integralmente, não sei. Na época, falei da desmoralização do título de Doutor que, entre nós, se deve à universidade brasileira, ao distribuir doutorados a torto e a direito, como quem joga milho aos porcos. Não faltou quem protestasse. Que quem jogava milho aos porcos era a universidade francesa, com seus diversos doutorados, o Dr. Ingénieur, o Doctorat d’Université, o Doctorat de IIIe Cycle e o famigerado Doctorat d’État. Pode ser.

O missivista considerava que o único doutorado francês válido seria o Doctorat d’État. “Um doutorado na França é conhecido por doctorat d’Estat (sic!) e esse sim é equivalente o doutorado no Brasil. Lá existem vários tipos de doutorado, a maioria pode ser realizada em no máximo dois anos, à exceção do doctorat d’Estat (resic!), cuja duração é equivalente aos dos outros países – uns cinco anos. Quase todos os nossos intelectuais de esquerda fizeram um curso Troisiéme Cycle na França e se dizem doutores".

O ilustre especialista em doutorados – que escreveu sob pseudônimo – sequer sabia redigir corretamente a designação do título. Também ignorava que o Doctorat de IIIe Cycle se faz em quatro – eventualmente cinco – anos e que o famigerado doctorat d’Estat, como ele grafava , era feito em dez ou mais anos. O Doctorat de IIIe Cycle sempre foi reconhecido como doutorado em todos os países europeus. O d’État era tido como mais uma bizarrice dos galos.

Distorção da universidade francesa, servia como placebo ao desemprego, ao mesmo tempo que mantinha o doutorando afastado por uma boa década do mercado de trabalho. O candidato ao título desenvolvia teses monumentais, às vezes de quatro ou cinco volumes, que nem mesmo a banca julgadora lia na totalidade. Tais calhamaços ficavam entregues às traças e à poeira nas bibliotecas e a universidade francesa sequer percebia que delas poderia tirar algum lucro. Exportando para a Holanda, por exemplo, para fazer diques. O governo Mitterrand tomou consciência desta perversão acadêmica e a extinguiu. Agora existe apenas Doctorat, tout court.

Há horas venho afirmando que os doutorados são uma solene inutilidade. Ou melhor, uma armadilha acadêmica. Você faz um curso universitário e desemboca no desemprego. Para capear a adversidade, você se inscreve em mestrado. Mais quatro anos afastado do mercado de trabalho. Conclui o mestrado e de novo vê o breu pela frente. Seu professor, que precisa de doutorandos para cumprir sua carga horária enquanto folga em casa ou no Exterior, o convida para um doutorado. Você aceita, afinal está desempregado e a bolsa não é de se jogar fora. Mais quatro ou cinco anos fora do mercado.

Quando você vai ver, tem mais de trinta anos e nunca teve carteira de trabalho assinada. Em um país onde se tende a considerar que uma pessoa com 35 anos já é idosa, ou você tem pistolão na guilda e entra no magistério – para que a poleia sem fim dos doutorados continue rodando – ou vai talvez dirigir um táxi ou ser corretor de imóveis. Afinal, comer é preciso.

Isso sem falar no que chamei de mestrandos carecas. Entre as muitas anomalias da universidade brasileira estão os mestrandos quarentões. Aquela iniciação à pesquisa, pela qual o candidato deveria optar tão logo terminasse o curso superior, é adiada para uma idade em que do acadêmico já se espera obra consolidada. Pior mesmo, só os doutorados de terceira idade. Marmanjos de cinqüenta e mais anos, em idade de aposentar-se, postulando um título que só vai servir para pendurar junto com as chuteiras.

Mestrado não é para carecas. Já um doutorando, este deveria defender sua tese no máximo aos trinta e poucos, para que sua experiência em pesquisa possa ser útil ao ensino e à sociedade. Que mais não seja, é patético ver um homem já maduro humilhando-se, ao tentar iniciar-se em metodologias que devia desde jovem dominar. Isso sem falar em métodos que não passam de masturbação acadêmica, como ocorre na área das ditas Humanas. Na universidade brasileira, o doutorado nem sempre é visto como início de uma carreira, mas como louro a coroar a calva do acadêmico quando este está prestes a usar pijamas. Quem paga tais vaidades senis? Como sempre, o contribuinte.

Pelo jeito, os acadêmicos começam a se dar conta desta catástrofe. Acabo de receber artigo de Mark C. Taylor, presidente do departamento de religião da Universidade de Columbia em Nova York e autor de Crise no Campus: um plano arrojado para reforma das nossas Faculdades e Universidades (Knopf, 2010). Em seu ensaio, o professor considera que o sistema de doutorado nos Estados Unidos e em muitos outros países é insustentável e precisa de ser remodelado. Em muitos campos, ele cria apenas uma fantasia cruel de um futuro emprego, que promove o auto-interesse dos membros do corpo docente, em detrimento dos estudantes. A realidade é que existem poucos empregos para as pessoas que gastaram até doze anos em sua formação.

“A maioria dos programas de educação-doutoramento está em conformidade com um modelo definido nas universidades européias durante a Idade Média, em que a educação era um processo de clonagem, que treinava os estudantes para fazer o que os seus mentores faziam. Os clones já ultrapassam o número de seus mentores. O mercado de trabalho acadêmico entrou em colapso em 1970 e as universidades ainda não se ajustaram as suas políticas de admissão, porque precisam de estudantes de pós-graduação para trabalhar nos laboratórios e como assistentes de ensino. Mas uma vez que os alunos terminam o ensino, não existem trabalhos acadêmicos para eles.

Para o professor Taylor, só há duas saídas: reformar radicalmente os programas de doutoramento ou fechá-los. “A especialização levou a áreas de investigação tão estreitas que são de interesse apenas para outras pessoas que trabalham nos mesmos domínios, subcampos ou sub-subcampos. Muitos pesquisadores lutam para conversar com colegas do mesmo departamento, e comunicação entre departamentos e disciplinas podem ser impossíveis".

A bicicleta precisa continuar rodando. Milhões de teses no mundo todo, que já não cabem nas bibliotecas oficiais, precisam de anexos para serem guardadas. Guardadas para quê? Para juntar pó. Uma tese é algo que sai caro ao Estado. É preciso subsidiar os graduandos e os professores que os orientam. Deveria ter retorno aos contribuintes que, no fundo, são quem as financiam. Você já viu alguma tese publicada? Às vezes encontramos alguma, mas precisamos pagar por ela. O doutor recebe para redigi-la e depois cobra de novo para que seja lida.

Se o Brasil eliminasse hoje seus cursos de doutorado, não me parece que perderíamos grande coisa. (Vou mais longe: cursos de Letras, Filosofia ou Sociologia não fazem falta alguma). Os professores americanos parecem estar despertando para o problema. Como o Brasil adora importar modas ianques, seria salutar que esta postura chegasse até nós.

Mas não vai chegar. O Brasil prefere importar rock, blockbusters e outras mediocridades do Primeiro Mundo. Do melhor que acontece lá, Pindorama só quer distância.

PS – O artigo do professor Mark Taylor pode ser lido na íntegra em http://www.nature.com/news/2011/110420/full/472261a.html

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AINDA OS DOUTORADOS
Janer Cristaldo, 13 de maio de 2011

De uma boa amiga que está concluindo seu doutorado em Letras na USP, recebo:

Oi, Janer
Lendo seu texto, concordo com a avaliação feita. Os alunos são enviados por inércia ao doutorado por não enxergarem muitas perspectivas (no caso das ciências humanas) no mercado de trabalho, principalmente o acadêmico. E, para sobreviver, aceitam passar mais quatro anos na vida de bolsista. Ocorre que desde 2007 vige uma portaria da CAPES a respeito da publicação de teses e dissertações que obriga o ex-aluno a disponibilizar integralmente o conteúdo de seu trabalho na internet, no banco de dados das universidades brasileiras. Portanto, qualquer pessoa pode ter acesso em um clique. Eu só me pergunto sobre os direitos autorais nesse caso. Existem? - na medida em que o autor é obrigado a cumprir tal medida - embora na lei de 1998 exista um artigo a respeito de que trabalhos financiados pelo Estado não pertencem a ele por conseqüência. Qual sua opinião?

Bom, Aninha,

essa portaria de 2007 é uma boa notícia. Mas tem gente que não vai gostar. Em Florianópolis, nos anos 70, houve um incêndio numa sala da Reitoria, justo aquela em que estavam depositadas as teses. Alguns professores me confessaram que adoraram o incêndio, pois tinham vergonha do próprio trabalho. Quanto a direitos autorais, acho que o autor deveria renunciar a eles. Afinal, foi pago pelo contribuinte. Que devolva, então, gratuitamente, o que lhe foi financiado.

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Esta do Janer é mais forte:

SOBRE TESES E PAPEL HIGIÊNICO
Janer Cristaldo, Sexta-feira, Maio 13, 2011

Do Vanderlei Vaselesk, meu fiel leitor, recebo uma resposta a meu artigo sobre os doutorados, postada em algum fórum da Internet.

Gente,
Esse cara é ultraconservador no pior dos sentidos. O cara propõe praticamente o fechamento dos doutorados e a extinção de determinados saberes tais como Letras, Filosofia e Sociologia. Acho que ele deve ter nascido de chocadeira últra-moderna com a idade que ele tem, pois creio que não deve ter tido um(a) professor(a) de língua portuguesa ou, então, deve ter sido reprovado em Estudos Sociais e OSPB. É possível que a capacidade intelectual dele de raciocinar tenha sido comprometida pela falta de abstração filosófica. De qualquer forma, nem de longe entende que a universidade abre portas e cria possibilidades de se romper com determinadas restrições socio-culturais e econômicas, viabilizando a construção da cidadania e de pessoas efetivamente críticas.

O cara alega que os doutorados são inúteis e custosos. É claro que são custosos e ainda falta investimento! A universidade precisa ser democratizada (algo que não depende só dela para que isso ocorra), mas, agora, associar à inutilidade foi demais! A gente sabe que as universidades têm problemas mil, que ultrapassam questões estritamente pedagógicas ou administrativas, mas a miopia ultra-neoliberal-conservadora do cara é de enojar. Tese e papel higiênico para ele é a mesma coisa. Para ele, as pessoas mais velhas que entram na universidade são praticamente um desperdício de dinheiro público, porque, fica subtendido, são figuras pateticamente anacrônicas. Não vê os professores mais velhos como pessoas que tem algo a contribuir com seu conhecimento e experiencia.

Fico só lembrando também dos meus alunos e alunas com mais de 45 anos que estão fazendo a faculdade pela primeira vez, buscando não somente melhorar de vida ou simplesmente conhecer e explicar o mundo em vivemos a fim de ajudar a mudá-lo. O cara nem está a par do mercado editorial virtual ou não! Para mim, o que está em jogo é um discurso ou uma atitude perigosamente conservadora de um recalcado que só justifica os investimentos válidos se forem direcionados para os cursos da moda, especialmente os relacionados à economia capitalista e à alta tecnologia. Ah, ele diz que é jornalista, escritor e ensaista! Outra coisa: acho que ele não fez o mestrado e doutorado! Ah, entendi!


[Retoma o Janer:]
Vamos por partes. Tese e papel higiênico não são para mim a mesma coisa. Jamais afirmaria tal heresia. Papel higiênico é um dos grandes avanços da humanidade. Tanto que sempre faltou nos países mais atrasados do mundo, os socialistas. Tese nem como papel higiênico serve. Não vou negar que cá e lá – falo da área humanística - encontramos alguma tese que constitui uma contribuição à cultura. Mas são raríssimas. Tanto que a maioria quase absoluta delas fica relegada ao pó das bibliotecas. Tese, no fundo, só serve para manter as mordomias dos PhDeuses orientadores e aumentar salários dos acadêmicos. Também é muito conveniente para fazer turismo às margens do Sena, Tâmisa ou Spree.

Que velhos façam a universidade pela primeira vez, nada contra. Mas estas pessoas já avançadas em idade nunca procuram os cursos realmente úteis à sociedade, como enfermagem, odonto, medicina ou engenharia. Geralmente buscam aqueles cursos de vestibular fácil, isto é, as tais de Humanas. Como lazer de terceira idade é uma opção interessante. Melhor que ficar espichado no sofá vendo novelas. Daí que isto traga alguma contribuição ao país vai uma longa distância. Mas minha restrição não é a quem busca universidade em idade provecta. E sim aos mestrandos e doutorandos carecas. Terceira idade não é idade para se fazer mestrado, muito menos doutorado.

Se um ancião quiser fazer doutorado, para seu prazer espiritual, pagando de seu próprio bolso, que esteja a gosto. O que é obsceno é ver macróbios subsidiados pelo contribuinte para satisfazer uma vaidade. Ou para aumentar a aposentadoria. Tanto o mestre como o doutor devem formar-se ainda jovens, para que possam prestar bom tempo de serviço ao ensino. Tenho visto gente que começa doutorado lá pelos cinqüenta. Quando obtém o título, está em idade de aposentar-se. Isto é uma perversão típica da universidade brasileira.

Professor mais velho é outra coisa. Nada a ver com mestrandos carecas. Um professor mais velho acumulou experiência e saber durante todo seu magistério. Desde que não tenha começado a aprender quando já era velho. Neste caso, é muito curto seu período de aprendizado.

Em seu arrazoado precário, o missivista apela ao argumento ad hominem: “acho que ele não fez o mestrado e doutorado”. De fato, mestrado não fiz. Quando ia inscrever-me em curso de mestrado na Université de la Sorbonne Nouvelle – Paris III – encontrei numa fila M. Raymond Cantel, doyen da antiga Sorbonne, que não mais existe. Considerou que era uma perda de tempo matricular-me em mestrado. Eu tinha publicações suficientes para postular um doutorado. Naquele breve diálogo, meu mestrado se transformou em doutorado.

Mas ninguém pense que um dia almejei tal título. Quando terminei minhas universidades – Filosofia e Direito – prometi a mim mesmo que jamais voltaria a pôr os pés nesses templos do saber. Enveredei pelo jornalismo. Acontece que sempre gostei de viajar. Bolsa é uma boa chance de viajar, os acadêmicos tupiniquins que o digam. A França oferecia bolsas. Candidatei-me a uma delas, na área de Literatura Comparada. Certo dia, encontrei na rua o cônsul francês em Porto Alegre. “Tu és o nosso candidato. Mas não podes trocar de área? Em literatura é difícil. Não pode ser Direito?”

Poder, podia. Mas nada mais queria com Direito. Ao terminar meu curso, em gesto simbólico, joguei meus códigos e tratados no Guaíba. Tive uma extraordinária sensação de libertação. Insisti em Literatura e fui contemplado com a bolsa.

Ora, eu nem sabia o que era doutorado e muito menos Literatura Comparada. O que eu queria, lá no fundo, era Paris, sua estética, seus cafés, seus queijos e vinhos. E também suas mulheres. Se o preço era redigir uma tese, eu o pagava com prazer.

Paguei. Comprei vários ensaios na área, estudei a disciplina e redigi minha tese. Menção? Très Bien. Isso após uma defesa tumultuada. Fiz um ensaio absolutamente antiacadêmico, sem citar nenhum teórico. O que constitui heresia no universo dos PhDeuses. Método é um freio mental que a banca impõe ao thèsard. Você não pode pensar com seu próprio intelecto. Seria o caos.

Tant pis pour moi. Eu não buscava nenhum título e não tinha compromisso com universidade alguma. Minha tese, fosse aprovada ou não, não mudava nada em meus propósitos. Havia escrito um ensaio útil e, mais importante, legível. Fiquei surpreso quando, ao final do doutorado, soube que uma tese servia para lecionar. Foi assim que caí no magistério de Letras, os quatro anos mais inúteis de minha vida.

A defesa, peça teatral que dura em geral uma hora, se estendeu por quatro horas. Uma doutora da banca não admitia tese sem metodologia. “Où est votre méthode?” – questionou-me. Respondi que não havia ido à França para pensar com a cabeça de terceiros. Pensava com a minha. “Ma méthode, c’est la cristaldesque”.

Após longos e tensos debates entre os membros do júri, a tese foi aceita. Atribuo um pouco esta concessão à platéia. Na salle Bourjac, da Sorbonne, havia entre cinqüenta e sessenta mulheres, e um único rapaz. Não só a banca, como eu e minha mulher, estávamos perplexos. “Trabalhaste duro neste tempo todo” – me disse a Baixinha. Bom, confesso que tinha me esforçado. No fundo, penso que devo àquelas meninas minha aprovação. Seria uma grosseria rejeitar meu trabalho ante platéia tão florida.

Sou doutor por diletantismo, não por projeto. Me candidatei a outro doutorado na Espanha, queria curtir Madri. Ganhei a bolsa, curti Madri, mas me recusei a redigir a tese. Era picaretagem. Exigiam a redação de uma tese em seis meses. Ora, nenhuma tese séria pode ser redigida em seis meses, ainda mais com uma carga horária de cinco horas de aula por dia. Escrevi uma carta a meu orientador. Cito de memória.

“Dr! Quando se recebe uma bolsa para doutorado, os doutorados são dois. Um deles resulta numa tese que fica mofando nas bibliotecas. O outro é aquele que defendemos nos bares e restaurantes, lendo a imprensa e a literatura do país, conhecendo suas cidades. Esta eu a defendi com brilho e com ela me contento. Salud y felicidad a los suyos”. (Esta era a fórmula burocrática com a qual se terminava um pedido de estada à polícia).

Doutor por acaso, não tenho maior respeito por doutores. Sim, existirão os que merecem consideração por seus trabalhos. Mas estes são muito raros. O que vejo, o mais das vezes, são pavões que se apóiam em teorias sem pés nem cabeça e vivem da antiga fórmula francesa, “louons-nous les uns les autres”.

Antes que me esqueça: até hoje não peguei meu diploma de doutorado. Quando fui apanhá-lo na secretária da Sorbonne Nouvelle, uma velhota burocrata me atalhou: “C’est pas comme ça, Monsieur!” Meu diploma estava ali, do outro lado do balcão. Mas eu precisava enviar uma carta à universidade e esperá-lo em casa. Ora, eu já estava de pé no estribo, entregando as chaves do apartamento. Desisti. Não fui a Paris buscar um papelucho.

Last but not least, quem está propondo o fim dos doutorados não sou apenas eu. Mas também o professor Mark C. Taylor, presidente do departamento de religião da Universidade de Columbia em Nova York.

Papel higiênico, meu caro, é muito mais necessário que uma tese acadêmica. A humanidade consegue viver sem teses. Sem papel higiênico já é mais complicado.
Janer Cristaldo
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Bem ficamos por aqui, e esperemos os próximos rolos de papel higiênico.... quero dizer, teses acadêmicas...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 15 de maio de 2011

domingo, 30 de novembro de 2014

Miséria do Capital no Século 21 - Paulo Roberto de Almeida



Miséria do Capital no Século 21
Breve refutação não estatística de novas formas de criação da miséria

Paulo Roberto de Almeida


Economistas são seres simplistas, por definição. Eles costumam basear suas equações sobre a criação de renda e riqueza a partir de três fatores produtivos básicos: trabalho, capital e recursos naturais. Muitos outros economistas já tentaram introduzir nessas equações um outro fator produtivo: o capital humano. Mas, por diversos motivos, este acréscimo ainda não se tornou de uso comum na ciência econômica. Em todo caso, a riqueza das pessoas (Ps) costuma ser medida sob duas formas: em fluxos reais de renda, que é aquela que deriva de seu trabalho (RT), e em estoque da riqueza acumulada do trabalho, que costuma ser chamada de patrimônio (RP), esta podendo ser imobilizada (imóveis, iates, carros, etc.), ou ser utilizada para a criação de novas riquezas, sob a forma de ativos líquidos, e que podem ser chamadas de rendas do capital (RC).
É muito importante distinguir a dinâmica populacional – uma vez que criação de renda e riqueza depende das pessoas – dos níveis de renda (fluxos) e riqueza (estoques), que variam muito de um país a outro. A despeito de que o capital (bastante) e as pessoas (menos) possam viajar pelo mundo, não existe uma autoridade global e uma única fonte de regulação dos fluxos e dos estoques em posse das pessoas, e sim Estados nacionais (ENs) com jurisdições próprias. As filosofias em vigor na história do mundo moderno podem ser divididas, grosso modo, entre o liberalismo econômico, que acha que a criação de renda e riqueza deve ficar sob a competência das próprias pessoas (Ps), com um mínimo de interferência dos ENs, e o marxismo, que acha que ENs devem regular a RT e RP em benefício de todos, transferindo fluxos de renda e estoques de patrimônio entre as Ps, segundo critérios determinados por políticos e burocratas desses ENs.
 Existem neste mundo êmulos de Marx, em todas as partes, para todos os gostos e para todas as finalidades, alguns deles até mais espertos do que a maioria dos crentes, aproveitando-se da adesão de muitos nas teorias do capital (e do capitalismo) para aumentar o seu próprio capital às custas dos muito crentes nas antigas teorias do capital, que diziam que o capital só podia aumentar às custas do trabalho dos que dependiam apenas do seu trabalho individual. Esta separação absoluta dos partidários da teoria do capital – que na verdade é uma teoria do valor trabalho, a única coisa errada aceita por um liberal clássico como Adam Smith – não leva em conta o chamado capital humano, que os próprios economistas penam a integrar em suas equações. Em todo caso, eles sabem medir bem o crescimento da renda e riqueza dos ENs, usando para isso níveis monetários de valor agregado (ou PIB). Esse PIB se distribui entre as Ps, segundo uma dinâmica populacional e econômica, e para isso se mede o PIB per capita. Os êmulos de Marx acham que os ENs deveriam taxar mais RP-RC para distribuir entre os que possuem apenas RT, de maneira a tornar o mundo mais igualitário, ou menos desigual.
O problema todo é que essa recomendação marxista não deriva de nenhuma análise econômica sobre a criação de renda e riqueza, sendo apenas e tão somente uma recomendação política, baseada numa filosofia do igualitarismo, que é a mesma que vê no capital a fonte de todos os problemas humanos, e que considera que a criação de riqueza só se dá pela via do “valor-trabalho”. Essa filosofia orienta os ENs a avançarem sobre RP-RC, ou seja sobre o estoque de riqueza das poucas Ps muito ricas (que por definição são sempre em menor número), para distribuí-la entre as Ps que só dispõem da RT, ou seja dos fluxos de pagamentos derivados de seu trabalho. Ela tem tido sucesso ao redor do mundo, uma vez que pessoas dispondo de RT são sempre em maior número, formando a larga maioria dos cidadãos votantes nas modernas democracias de mercado.
O problema desse tipo de recomendação é que ela se aproxima do modelo de sociedade recomendada pelos marxistas, que é aquela na qual não existiria renda do capital, e nenhuma riqueza acumulada (RP), na qual todas as rendas do trabalho (RT) seriam igualitária e equitativamente divididas pelo EN. Não é preciso aqui grandes digressões, com base em equações econômicas ou em séries estatísticas históricas de renda e de riqueza, para constatar que esse tipo de sociedade não funcionou, e que os únicos exemplos reais na história – o socialismo de tipo soviético e seus êmulos ao redor do mundo – foram notórios fracassos econômicos na criação de renda e riqueza, só conseguindo se manter à custa de enorme repressão política, que produziu grande infelicidade humana (total falta de liberdade, e até mesmo alguns milhões de mortos).
Um modelo mais “ameno” desse tipo de igualitarismo radical – mas falso, uma vez que os que controlam o EN se apropriam de uma parte importante das rendas do “valor-trabalho” – é o socialismo moderado dos regimes de tipo socialdemocrata, em vigor em diversas democracias modernas de mercado, basicamente na Europa, com contrafações disso no resto do mundo (inclusive nos Estados Unidos e em diversos países da América Latina, com alguns poucos exemplos na Ásia). Uma consulta às estatísticas correntes mais frequentes relativas à criação de renda e riqueza nas últimas décadas (dados da OCDE, por exemplo) demonstra que o crescimento de todas as formas de renda e riqueza (RT, RP e RC) foi maior naqueles países onde foi menor a apropriação de fluxos e estoques dessas formas de renda e riqueza pelos próprios ENs. Não se trata aqui de opinião ou filosofia política, mas uma constatação simples, e direta, a partir de uma correlação entre níveis de carga fiscal dos países e suas respectivas taxas de crescimento do PIB (e do PIB per capita, e isso independentemente da distribuição social dessas formas de riqueza). Maior taxação, menor crescimento, simples assim.
Responda sinceramente: você é a favor de um sistema que permita maior e mais rápida criação de renda e riqueza – independentemente de como esses fluxos e estoques são distribuídos – ou prefere um que pretende distribuir renda, riqueza e patrimônio de forma igualitária, por políticos e burocratas que pretendem saber mais do que você qual a melhor forma de distribuição social dessas rendas? Observe que os países mais livres economicamente, que por acaso são mais desiguais, são aqueles que também crescem mais – e que portanto aumentam todas as formas de riqueza – e que os mais estagnados econômica e socialmente foram e são aqueles que mais tenderam ao modelo marxista de organização social. Mais uma vez, não se trata aqui de opinião ou de filosofia política, mas apenas uma constatação direta dos dados da realidade (e a ex-URSS, e as atuais Cuba e Coreia do Norte estão aí para provar isso mesmo). Na vertente mais moderada do modelo marxista, a Europa ocidental nos prova como é possível crescer menos – e portanto distribuir ou acumular menos – com base em políticas de tipo distributiva inspiradas no igualitarismo filosófico da “teoria do valor-trabalho”.
Isso nos traz de volta ao “capital do século 21”, proposto por um economista que acaba de provar que a desigualdade vem aumentando no mundo, baseada nos fluxos e estoques de rendimentos obtidos pelo capital (RP e RC) sobre os simples rendimentos do trabalho (RT). Ele acha que governos devem taxar mais a RP e a RC dos muito ricos, pois o problema, para ele, é a existência de poucas pessoas muito ricas – e que tendem a enriquecer cada vez mais –, não a existência de um imenso contingente de pobres, ou de pessoas moderadamente ricas (no caso da classe média). Ele prefere empobrecer os ricos, em lugar de utilizar sua imensa capacidade analítica para descobrir formas de enriquecer os pobres. Pela experiência visual que já tivemos no século 20 em torno desse tipo de empreendimento, acredito que será mais um desastre econômico e social à espreita, do que propriamente uma forma de criar o verdadeiro capital do século 21.

Hartford, 30 de novembro de  2014.

sábado, 29 de novembro de 2014

This Day in History: Palestine partition 1947 - Oswaldo Aranha (NYT)

S

On This Day: November 29, 1947


On Nov. 29, 1947, the U.N. General Assembly passed a resolution calling for Palestine to be partitioned between Arabs and Jews.

Front Page Image


ASSEMBLY VOTES PALESTINE PARTITION; MARGIN IS 33 TO 13; ARABS WALK OUT; ARANHA HAILS WORK AS SESSION ENDS



U.N. REJECTS DELAY


Proposal Driven Through by U.S. and Soviet Will Set Up Two Sates


COMMISSION IS APPOINTED


Britain Holds Out Hand to It - Arabs Fail in Last-Minute Resort to Federal Plan

By THOMAS J. HAMILTON

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The United Nations General Assembly approved yesterday a proposal to partition Palestine into two states, one Arab and the other Jewish, that are to become fully independent by Oct.1. The vote was 33 to 13 with two abstentions and one delegation, the Siamese, absent.

The decision was primarily a result of the fact that the delegations of the United States and the Soviet Union, which were at loggerheads on every other important issue before the Assembly, stood together on partition. Andrei A. Gromyko and Herschel V. Johnson both urged the Assembly yesterday not to agree to further delay but to vote for partition at once.

The Assembly disregarded last minute Arab efforts to effect a compromise. Although the votes of a dozen or more delegations see-sawed to the last, supporters of partition had two votes more than the required two-thirds majority, or a margin of three.

How Members Voted

The roll-call vote was as follows: For (33) - Australia, Belgium, Bolivia, Brazil, Canada, Costa Rica, Czechoslovakia, Denmark, Dominican Republic, Ecuador, France, Guatemala, Haiti, Iceland, Liberia, Luxembourg, the Netherlands, New Zealand, Nicaragua, Norway, Panama, Paraguay, Peru Philippines, Poland, Sweden, Ukraine, South Africa, Uruguay, the Soviet Union, the United States, Venezuela, White Russia.

Against (13) - Afghanistan, Cuba, Egypt, Greece, India, Iran, Iraq, Lebanon, Pakistan, Saudi Arabia, Syria, Turkey, Yemen.

Abstentions (10) - Argentina, Chile, China, Colombia, El Salvador, Ethiopia, Honduras, Mexico, United Kingdom, Yugoslavia.

Absent (1) - Siam.

All other questions before the Assembly were disposed of a week ago, and it ended its second regular session at 6:57 P.M. after farewell speeches by Dr. Oswaldo Aranha, its President, and Trygve Lie, the Secretary General. The Assembly's third regular session is to open in a European capital on Sept. 21.

The vote on partition was taken at 5:35 P. M. Representatives of Iraq, Saudi Arabia, Syria, and Yemen, four of the six Arab member states, announced that they would not be bound by the Assembly's decision and walked determinedly out of the Assembly Hall at Flushing Meadow. The Egyptian and Lebanese delegates were silent but walked out, too.

Briton Seeks Contact

Sir Alexander Cadogan, representative of Britain, which is to terminate the League of Nations mandate over Palestine and withdraw all British troops by Aug. 1, made a brief statement after the vote. He requested the United Nations Palestine Commission to establish contact with the British Government about the date of its arrival in Palestine and the coordination of its plans with the withdrawal of British troops.

The United Nations commission which will be responsible to the Security Council in the event that the Arabs carry out their threats to fight rather than agree to partition, will be composed of representatives of Bolivia, Czechoslovakia, Denmark, Panama and the Philippines.

This state, which is understood to have the backing of the United States, was proposed by Dr. Aranha and approved without opposition after the Arab delegates had walked out.

The commission, as proposed by the partition subcommittee, of the Assembly's Ad Hoc Committee on Palestine, was to have been composed of Denmark, Guatemala, Iceland, Poland, and Uruguay, but the question was left to the Assembly because of United States opposition.

The Assembly, without discussion, also approved an appropriation of $2,000,000 for the expenses of the commission, which will take over authority in Palestine after the British terminate the mandate and will then transfer it to the "shadow governments" of the two states.

The walkout of the Arab delegates was taken as a clear indication that the Palestinian Arabs would have nothing to do with the Assembly's decision. The British have emphasized repeatedly that British troops could not be used to impose a settlement not acceptable to both Jews and Arabs, and the partition plan does not provide outside military force to keep order.

Instead, it provides for the establishment of armed militia by the two nascent states to keep internal order and that any threats to peace by the neighboring Arab states are to be referred to the Security Council.

The Assembly decided Friday to take a recess of twenty-four hours to give the Arabs time to submit a comprise proposal, but this turned out to be what Mr. Johnson called a mere resurrection of the proposal for a federal Palestine, which had been recommended by a minority of the United Nations Special Committee on Palestine.

The resolution to return the entire question to the Ad Hoc Committee on Palestine, introduced by Mostafa Adl, the representative of Iran, would furthermore have directed the committee to take into account the last-minute Arab proposal.

A simple procedural resolution returning the question to the committee would have had precedence over the partition proposal, but Dr. Aranha, after considerable reflection, ruled that the extraneous provisions barred it from being treated as a procedural motion and that it could not be voted on until after the Assembly's decision on partition.

Vote on Principles Sought

Camille Chamoun, the Lebanese representative, tried to meet Dr. Aranha's ruling by demanding that the committee vote first on the eleven principles on the future government of Palestine, which had been approved unanimously by the Special Committee on Palestine last summer.

Mr. Chamoun remarked that the resolution before the Assembly did not mention these principles, but Dr. Aranha replied that they were covered by the plan substituted by the Palestine committee, to which the Assembly's resolution will give effect, and rejected the final Arab attempt to postpone a decision.

Dr. Alfonso Lopez, the Colombian representative, who on Friday had submitted a complicated proposal that, among other things, would have returned the question to the committee, had arranged with another delegate to make a simple proposal to recommit. However, the delegate, sensing the mood of the Assembly, remained silent and Dr. Aranha called for the decisive vote.

U.S. Efforts Praised

The United States delegation played its part in persuading the delegate in question not to present the motion for recommittal, and supporters of partition agreed that, after long hesitation, it had sincerely done its best to obtain Assembly approval of partition.

It was still difficult to account for the fact that Greece, which otherwise followed United States leadership throughout the long Assembly, voted against partition and that some Latin American countries abstained.

Britain, which brought the Palestine question before the Assembly last March, abstained on all votes in the Palestine committee and in poling on the issue in the Assembly.

It was expected that had the Assembly failed to reach a decision the United States would have asked Britain to stay on in Palestine. Sir Alexander's statement after the decision was taken was welcomed as being more cooperative than previous ones. It was generally expected that the United States and Britain would now agree on a working arrangement to facilitate the commission's work.

The Arab delegates, particularly after the vote, referred bitterly to the "heavy pressure" exerted on other delegations. Other delegates interpreted these complaints as attacks on the United States.

The Syrian representatives led this attack. Faris el-Khoury, in a statement before the vote, charged that the proportion of Jews to the rest of the population in the United States was 1 to 30. Jews were trying to "intimidate the United Nations ... and hiss the speakers here," which, he said was "proof that they are dominating here."

This assertion drew hisses from the gallery, and Dr. Aranha pounded his gavel for order.

A few minutes before the Assembly convened Arab spokesmen announced that they had drawn up a new six-point program in twenty-four hours of conferences. The program involved this formula:

(1) A federal independent state of Palestine shall be created not later than Aug. 1, 1949.

(2) The Government of Palestine shall be constituted on a federal basis and shall include a federal government and governments for Arab and Jewish countries.

(3) Boundaries of the cantons will be fixed so as to include a federal basis and shall include a federal government and governments for Arab and Jewish countries.

(4) The population of Palestine shall elect by universal, direct suffrage a Constituent Assembly, which shall draft the Constitution of the future federated state of Palestine. The Constituent Assembly shall be composed of all elements of the population in proportion to the number of their respective citizens.

(5) The Constituent Assembly, in defining the attributes of the federated government of Palestine as well as of its legislative and judiciary organs and the attributes of the governments of the cantons and of the relation of the governments of these cantons with the federal government, shall draw its inspiration chiefly from the principles of the Constitution of the United States as well as from the organization of laws in the states of the United States.

(6) The Constitution will provide, among other things, for protection of the holy places, liberty of access to visit the holy places and freedom of religion as well as safeguarding of the rights of religious establishments of all nationalities in Palestine.