Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
quinta-feira, 3 de setembro de 2015
O Grande Salto da China maoista para a Fome e o Canibalismo - Frank Dikotter
Mao, inclusive, confrontado com as informações de que o seu Grande Salto para a Frente estava causando fome disseminada mostrou indiferença e até contrariedade com o pouco sucesso de seu programa alucinante e alucinado de modernização. Pouco sucesso é um eufemismo, pois se tratou de um gigantesco fracasso, que provocou fome e canibalismo de forma disseminada em regiões inteiras da China.
Milhões pereceram, como revela Dikotter, e ele coloca esse número na casa de 45 milhões de pessoas, o que é absolutamente fantástico e estarrecedor.
As primeiras notícias sobre essa imensa tragédia humana eu li num artigo da New York Review of Books, no início dos anos 1980 quando, por efeito das reformas empreendidas pela nova gestão Deng Xiao-ping e sua reintegração aos orgãos do multilateralismo onusiano, a China liberou dados demográficos que tinham ficado rerservados durante mais de vinte anos. Revelou-se, então, um "gap" de vários milhões de habitantes que simplesmente faltavam nas estatísticas de censo e de estimativas intermediárias entre o final dos anos 1950 e meados dos anos 1960.
Dezenas de milhões de habitantes se volatilizaram nessas estatísticas, sem que as lacunas pudessem ser explicadas por nenhuma outra causa senão os efeitos catastróficos da política maoista de coletivização agrícola e de industrialização caseira, com "siderúrgicas" de fundo de quintal, que provocaram o caos e o declínio absolutos na produção alimentar.
Mao foi sem dúvida alguma o tirano mais assassino, contra o seu próprio povo, de toda a história da humanidade.
Naquela mesma conjuntura, confirmaram-se plenamente as primeiras informações dadas a respeito do Grande Salto Para a Frente feitas por Simon Leys, em seu livro do início dos anos 1970, Les Habits Neufs du Président Mao, As Roupas Novas do President Mao, um livro devastador.
Paulo Roberto de Almeida
Today's encore selection -- from Mao's Great Famine: The History of China's Most Devastating Catastrophe, 1958-1962 by Frank Dikötter. During Chairman Mao Zedong's Great Leap Forward, which was an effort to use centralized Communist planning to vault China's economy past those of the Western European powers, China endured one of the greatest tragedies in human history -- the death of over 45 million people:
"Between 1958 and 1962, China descended into hell. Mao Zedong, Chairman of the Chinese Communist Party, threw his country into a frenzy with the Great Leap Forward, an attempt to catch up with and overtake Britain in less than fifteen years. By unleashing China's greatest asset, a labour force that was counted in the hundreds of millions, Mao thought that he could catapult his country past its competitors. Instead of following the Soviet model of development, which leaned heavily towards industry alone, China would 'walk on two legs': the peasant masses were mobilized to transform both agriculture and industry at the same time, converting a backward economy into a modern communist society of plenty for all.
"In the pursuit of a utopian paradise, everything was collectivized, as villagers were herded together in giant communes which heralded the advent of communism. People in the countryside were robbed of their work, their homes, their land, their belongings and their livelihood. Food, distributed by the spoonful in collective canteens according to merit, became a weapon to force people to follow the party's every dictate. Irrigation campaigns forced up to half the villagers to work for weeks on end on giant water-conservancy projects, often far from home, without adequate food and rest. The experiment ended in the greatest catastrophe the country had ever known, destroying tens of millions of lives. ...
"At least 45 million people died unnecessarily between 1958 and 1962. The term 'famine', or even 'Great Famine', is often used to describe these four to five years of the Maoist era, but the term fails to capture the many ways in which people died under radical collectivization. The blithe use of the term 'famine' also lends support to the widespread view that these deaths were the unintended consequence of half-baked and poorly executed economic programs. Mass killings are not usually associated with Mao and the Great Leap Forward, and China continues to benefit from a more favourable comparison with the devastation usually associated with Cambodia or the Soviet Union. But as the fresh evidence ... demonstrates, coercion, terror and systematic violence were the foundation of the Great Leap Forward.
Peasant children line up for food during the Great Chinese Famine of 1959-61
"Thanks to the often meticulous reports compiled by the party itself, we can infer that between 1958 and 1962 by a rough approximation 6 to 8 per cent of the victims were tortured to death or summarily killed -- amounting to at least 2.5 million people. Other victims were deliberately deprived of food and starved to death. Many more vanished because they were too old, weak or sick to work -- and hence unable to earn their keep. People were killed selectively because they were rich, because they dragged their feet, because they spoke out or simply because they were not liked, for whatever reason, by the man who wielded the ladle in the canteen. Countless people were killed indirectly through neglect, as local cadres were under pressure to focus on figures rather than on people, making sure they fulfilled the targets they were handed by the top planners.
"A vision of promised abundance not only motivated one of the most deadly mass killings of human history, but also inflicted unprecedented damage on agriculture, trade, industry and transportation. Pots, pans and tools were thrown into backyard furnaces to increase the country's steel output, which was seen as one of the magic markers of progress. Livestock declined precipitously, not only because animals were slaughtered for the export market but also because they succumbed en masse to disease and hunger -- despite extravagant schemes for giant piggeries that would bring meat to every table. Waste developed because raw resources and supplies were poorly allocated, and because factory bosses deliberately bent the rules to increase output. As everyone cut corners in the relentless pursuit of higher output, factories spewed out inferior goods that accumulated uncollected by railway sidings. Corruption seeped into the fabric of life, tainting everything from soy sauce to hydraulic dams. 'The transportation system creaked to a halt before collapsing altogether, unable to cope with the demands created by a command economy. Goods worth hundreds of millions of yuan accumulated in canteens, dormitories and even on the streets, a lot of the stock simply rotting or rusting away. It would have been difficult to design a more wasteful system, one in which grain was left uncollected by dusty roads in the countryside as people foraged for roots or ate mud."
Mao's Great Famine: The History of China's Most Devastating Catastrophe, 1958-1962
Author: Frank Dikötter
Publisher: Walker Books
Copyright 2010 by Frank Dikotter
Pages ix-x
A curva da Laffer e as desoneracoes tributarias- Mansueto Almeida
O SIMPLES complexo
3 de setembro de 2015 por Mansueto Almeida
Em plena turbulência de (des)ajuste fiscal e de o envio para o Congresso Nacional de uma proposta orçamentária deficitária, o governo planeja com a ajuda do Congresso ampliar o teto do faturamento para empresas ingressarem no SIMPLES.
Segundo o Jornal Valor Econômico, “a proposta dobra o limite de faturamento para que as empresas possam optar pelo Simples. O valor passará para R$ 900 mil por ano para as micro empresas, R$ 7,2 milhões para as pequenas e R$ 72 mil para o Microempreendedor Individual (MEI). Haverá ainda outra graduação para a indústria, de R$ 14,4 milhões, válida a partir de 2018.”
De acordo com a Receita Federal, os novos tetos para o SIMPLES implicam um uma perda de arrecadação de R$ 11 bilhões, valor semelhante ao que o governo espera arrecadar com o projeto de reoneração da folha que foi tão criticado pelo presidente da FIESP.
Há dois grandes problemas com a ampliação do SIMPLES. Primeiro, análises de vários acadêmicos que estão sendo reunidas em um livro organizado entre outros pelo professor Fernando Veloso (FGV-RJ) mostram que, ao contrário da percepção comum, inclusive da minha, esse regime de tributação não foi muito efetivo para a formalização e crescimento de empresas. Em uma análise rigorosa de custo-benefício parece que não há como justificar o programa.
Segundo, dados da Receita Federal para 2014 mostram que a principal renuncia de receita tributária do país é o SIMPLES, renuncia tributária de R$ 67 bilhões, em 2014 (ver tabela abaixo). Essa renuncia será ampliada ainda mais com o aumento do limite de faturamento para o enquadramento das empresas.
Em um período de ajuste fiscal não me parece correto a ampliação de um programa que já é aquele de maior renuncia tributária e que não sai bem de analises de custo-benefício.
O problema é que os acadêmicos que fizeram as avaliações não são em numero suficiente para tocar “vuvuzelas” na porta do Congresso contra a aprovação do SIMPLES e, do ponto de vista politico, é tentador reduzir carga tributária mesmo quando o governo planeja aumentar outros impostos e testa a volta a da CPMF. Para um observador de fora esses movimentos sinalizam uma falta de planejamento e de consistência de politica econômica.
E o nosso grau de investimento? Quem liga para isso? Apenas economistas neoliberais comprados pelo mercado financeiro que, paradoxalmente, querem reduzir de forma sustentável as taxas de juros, enquanto supostos defensores das pequenas empresas e do crescimento estão conseguindo com um sucesso impressionante viabilizar a perda do grau de investimento e, logo, juros mais elevados e, no futuro, aumento de impostos e/ou da inflação.
quarta-feira, 2 de setembro de 2015
Revolution Bourgeoise au Bresil: downloads ate da Etiópia!!! Uau!
Die brasilianische Diplomatie aus historischer Sicht - livro Paulo Roberto de Almeida
Disponível no site da Editora (http://www.akademikerverlag.de/) ou no desta distribuidora de livros europeia: https://www.morebooks.de/), neste link direto: https://www.morebooks.de/fr/bookprice_offer_b1c53e6395a7fa5514b53510dc62c39e70b648c7
Paulo Roberto de Almeida
- Sciences sociales, Droit, Economie
- Sciences politiques
- Science politique internationale et comparée
- Die brasilianische Diplomatie aus historischer Sicht
Die brasilianische Diplomatie aus historischer Sicht
- ISBN-13: 978-3-639-86648-3
- ISBN-10: 3639866487
- EAN: 9783639866483
- Langue du livre: Allemand
- texte du rabat:
- Sieben kritische Essays über die brasilianische Diplomatie aus historischer Sicht unter Heraushebung der jüngsten Gegenwart und ihrer zwei Regierungen: diejenige Fernando Henrique Cardosos, dessen Wirtschaftspolitik Brasilien stabiliserte und wieder in die Globalierung einbezog, und die Luis Inácio Lula da Silvas, die eine spürbare Änderung der brasilianischen Diplomatie mit sich brachte, als sie Brasilien den Linken Regierungen Lateinamerikas annäherte und seine Außenpolitik mehr auf die Süd-Süd-Beziehungen und die nichthegemonischen Schwellenländer ausrichtete. Der Verfasser ist erfahrener Berufsdiplomat mit einer soliden akademischen Laufbahn, wie seine zahlreichen Bücher, hunderte von Arbeiten und eine herausragende Tätigkeit an brasilianischen und ausländischen Hochschulen belegen.
- Maison d'édition: AV Akademikerverlag
- Site Web: http://www.akademikerverlag.de/
- de (auteur) : Paulo Roberto de Almeida
- Numéro de pages: 204
- Publié le: 02-09-2015
- Stock: Disponible
- Catégorie: Science politique internationale et comparée
- Prix: 64.90 €
- Mots-clés: Brasilien, Internationale Politik, Südamerika, Brasilianische Diplomatie, Geschichte der Außenpolitik, brasilianische Regierungen, Sudamerika
O PGR deforma o sentido da Constituicao - Reinaldo Azevedo
Júlio Marcelo de Oliveira, procurador do Ministério Público no TCU, lembrou nesta terça uma questão essencial ao debate e que expõe, jamais deixarei de frisar aqui — e fui o primeiro a tocar nesta tecla — a leitura absurda que Rodrigo Janot, procurador-geral da República, faz do Parágrafo 4º do Artigo 86 da Constituição. E, para não variar, é outra interpretação torta de Janot que colabora com Dilma Rousseff.
Em depoimento à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, afirmou Oliveira: “O governo deixou livre para execução despesas não obrigatórias, que teria que cortar [devido à queda na arrecadação]. O que ocorre em 2014 é que o governo federal aumenta programas não obrigatórios que têm forte impacto eleitoral”. E ele citou um caso escandaloso, para o qual já chamei a atenção aqui em post do dia 9 de junho.
Oliveira destacou que o governo gastou R$ 5 bilhões com o Fies, o sistema de crédito educativo, em 2013. Em 2014, esse gasto saltou para R$ 12 bilhões. Na verdade, ele foi até modesto. Os números são piores: Entre 2010 e 2013 — quatro anos —, o governo federal desembolsou R$ 14,7 bilhões com o Fies. Só em 2014, quando Dilma disputou a reeleição, foram R$ 13,75 bilhões. Ou seja: torrou em um ano o que havia gastado em quatro. E depois a gente pergunta por que o país quebrou?
O que Oliveira está evidenciando é que a lambança fiscal praticada por Dilma, incluindo as malfadadas pedaladas, tinham claramente um objetivo eleitoral. Ou por outra: o país quebrou para que ela pudesse se reeleger. Mais: Oliveira sustenta que Dilma sabia que não teria recursos para arcar com os gastos que planejava, mas que só esperou para fazer cortes depois da eleição: “Até agosto, o governo não se comportou de maneira coerente com a realidade. Viveu uma fantasia. Após a eleição, veio a realidade.”
Muito bem, leitores. Voltemos agora a Janot. O que alega o procurador-geral da República para não denunciar Dilma por crime de responsabilidade e para nem mesmo pedir um inquérito para ela? O suposto veto constitucional a tal procedimento. Está escrito no Parágrafo 4º do Artigo 86 da Constituição:
“O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.”
Alegação de Janot, que vale tanto para as sem-vergonhices na Petrobras como para as pedaladas: seriam coisas ocorridas no primeiro mandato de Dilma, logo, estranhas ao exercício de suas atuais funções.
Trata-se de um absurdo de várias maneiras, distintas e combinadas. Em primeiro lugar, jurisprudência do Supremo é clara sobre a possibilidade, sim, de um presidente ser investigado ao menos em inquérito. A dúvida, fácil de resolver, é se ele pode ou não ser denunciado.
Ora, esse dispositivo da Constituição é de 1988, anterior, portanto, à aprovação da reeleição, que se deu em 1997. Oliveira está evidenciando que Dilma fez lambança fiscal com o propósito de se reeleger. Logo, o que ela fez no seu primeiro mandato não é, obviamente, estranho à sua atual função. E, de tal sorte estranho não é, que ela deve parte desses votos àquelas malandragens fiscais.
Se Janot estivesse certo, o constituinte de 1988 teria dado a um presidente da República licença para cometer crimes com o propósito de se reeleger, sem ter de responder por isso. É claro que se trata de uma interpretação absurda da Constituição.
Mas outros entes podem fazer aquilo a que se nega a Procuradoria-Geral da República. Se o TCU recomendar mesmo a rejeição das contas, como parece que vai acontecer, e se o Congresso acatar a rejeição, está caracterizado o crime de responsabilidade, segundo a Lei 1.079. Aí será preciso apresentar a denúncia à Câmara. Caberá à Casa decidir se é licito cometer crime fiscal de olho nas urnas. Aí Janot não poderá fazer mais nada por Dilma Rousseff.
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Na semana passada veio a público um parecer de Rodrigo Janot em que o procurador-geral da República, numa atitude insólita, se negava a proceder a uma investigação por determinação do Tribunal Superior Eleitoral. Explica-se: Gilmar Mendes, vice-presidente do TSE, pediu que o Ministério Público Federal abrisse investigação para apurar se a gráfica VTPB — que recebeu R$ 23 milhões da campanha de Dilma Rousseff, não havia cometido uma série de crimes.
Janot não se contentou em dizer que não via motivos para investigação. Além de alegar que ela estaria fora do prazo, resolveu dar uma aula sobre as funções do TSE. Mandou brasa:
“É em homenagem à sua excelência [Gilmar Mendes], portanto, que aduzimos outro fundamento para o arquivamento: a inconveniência de serem, Justiça Eleitoral e Ministério Público Eleitoral, protagonistas – exagerados – do espetáculo da democracia, para os quais a Constituição Federal trouxe, como atores principais, os candidatos e os eleitores”.
Mendes reagiu de pronto e afirmou que não cabia a Janot se comportar como advogado do PT. Mas é claro que não ficou só nisso. Nesta terça, em novo despacho, o ministro esclarece:
“Não se trata aqui de reabertura do julgamento da prestação de contas. As contas apresentadas foram julgadas ‘aprovadas com ressalvas’ pela maioria deste Tribunal. Cuida-se, isto sim, de investigar indícios de irregularidades que, se comprovados, teriam o condão de atestar a ocorrência de fatos criminosos. No presente caso, não há como negar haver elementos indicativos suficientes para, ao menos, a abertura de investigação. A empresa (…) aparenta não ter capacidade operacional para entregar os bens e serviços contratados, pois, segundo consta da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2014, não possuía nenhum funcionário registrado. Se comprovada a condição de gráfica fantasma, crimes como os de falsidade ideológica, de lavagem de dinheiro, de estelionato e crimes contra a ordem tributária podem ter sido cometidos por parte de envolvidos na campanha e pela prestadora de serviço.”
Mendes vai além e lembra ao procurador-geral: “Esquece-se o Ministério Público de que é um dos legitimados pelo art. 35 da Lei dos Partidos Políticos a pedir apuração de atos do partido que violem disposição legal em matéria financeira.”
O ministro do TSE estranha o comportamento de Janot, que pediu informações sobre a tal gráfica ao ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, que era tesoureiro da campanha de Dilma, e aos próprios representantes da empresa. E se deu por satisfeito. Escreve Mendes em seu despacho:
“Ademais, entendeu que havia consistência na notícia, visto que enviou ofícios ao atual Ministro-Chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Edinho Silva, e à empresa VTPB. Em um segundo momento, tomando por verdadeira e comprovada a manifestação de ambos, arquivou o procedimento.
Não há dúvida sobre a heterodoxia de tal procedimento, visto que, de plano, se considerou verdadeira a versão de potenciais investigados. Nenhuma outra diligência parece ter sido tomada. Mesmo as diligências realizadas pelo Procurador Geral não foram trazidas ao conhecimento da Justiça Eleitoral. Acrescente-se a isso que as manifestações de Edinho Silva e VTPB parecem estar em conflito com outros elementos de prova, os quais não foram devidamente valorados.”
A que se refere o ministro? Segundo o que vazou da delação premiada de Ricardo Pessoa, dono da UTC, a VTPB era, nas palavras do ministro, “a ponta da lavanderia de recursos desviados da Petrobras.”
E prossegue o ministro:
“Repito: não oficiei ao PGR visando à reabertura do processo de prestação de contas da campanha eleitoral da Presidente da República. Apenas cumpri o meu dever funcional de remeter ao Ministério Público documentos relacionados à existência de crimes, na forma do art. 40 do Código de Processo Penal, e do próprio acórdão desta Corte que aprovou com ressalvas as contas de campanha da Presidente da República, o qual consignou expressamente que ilícitos apurados após aquele julgamento não deixariam de ser devidamente investigados.”
E Mendes encerra determinado que Janot cumpra a sua função: “Assim, reitere-se (…) ao Procurador Geral da República para que, ante estes esclarecimentos, prossiga a análise dos fatos noticiados.” Entendam: não cabe a Janot recusar a determinação.
Os demais membros do tribunal endossaram a decisão de Mendes. Dias Toffoli, presidente do TSE, afirmou que, de fato, a Justiça Eleitoral tem de pensar na pacificação social, como quer Janot, mas do seguinte modo: “O exercício dessa pacificação é em razão da sua ação e não da sua não ação. É exatamente por agir e para coibir e garantir a liberdade de voto do eleitor que a Justiça Eleitoral existe na parte jurisdicional e para administrar a organização das eleições no âmbito da gestão e da administração”.
Toffoli lembrou que a decisão de mandar investigar a gráfica não era de Mendes, mas da Corte: “Na medida em que o acórdão desta Corte determinou que as contas foram aprovadas com ressalvas, mas diante de determinados elementos que necessitariam aprofundamento nos fóruns adequados, não o eleitoral, esta determinação não é isolada do ministro Gilmar Mendes. Isso é uma determinação da Corte, daquele julgamento”.
Também se pronunciou o corregedor-geral eleitoral do tribunal, ministro João Otávio de Noronha: “Estou apenas a defender a legitimidade de atuação jurisdicional de toda a Justiça Eleitoral”.
Vá, Janot, cumprir a sua função e a determinação de um tribunal superior. Não é questão de querer. É de dever. O PT já tem um monte de advogados.
terça-feira, 1 de setembro de 2015
Capitalisme et democratie au Bresil, a trente ans de distance - Paulo Roberto de Almeida
A tese está sendo inteiramente corrigida para ser publicada como anunciado aqui, mas ainda não está pronta.
Em contrapartida, o Avant Propos está pronto, já foi corrigido, e oferece uma boa introdução à tese.
Ele pode ser descarregado na plataforma Academia.edu, como abaixo:
Research Interests:
Capitalisme et démocratie au Brésil, à trente ans de distance
084. Classes Sociales et Pouvoir Politique au Brésil: une étude sur les fondements méthodologiques et empiriques de la Révolution Bourgeoise, “Thèse présentée en vue de l'obtention du Grade de Docteur ès Sciences Sociales, Directeur: Prof. Robert Devleeshouwer” (Bruxelles: Université Libre de Bruxelles, Année Académique 1983-84, Tomes I et II, 503 pp.). Redação e datilografia: Belgrado, maio 1983/março 1984. Disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/15308281/84_Revolution_Bourgeoise_au_Bresil_t
Livros esquecidos: Oliveira Lima sobre a America Iberica e a America Inglesa - livro de um seculo atras
Mas não sabia que ele tinha sido publicado nos EUA também. Ele foi aliás escrito para o público americano, pois seu conteúdo foi preparado para as conferências que Oliveira Lima fez em universidades americanas na segunda década do século XX.
Paulo Roberto de Almeida
The Evolution of Brazil Compared with That of Spanish and Anglo-Saxon America (Classic Reprint) (Paperback)
The Economic and Social History of Brazil since 1889 - Francisco Vidal Luna eHerbert S. Klein - Book review
Já o livro da resenhista, que me interessa também, vou ter de ler em biblioteca, pois ainda está muito caro: começa em 51 dólares e vai até o preço que está indicado in fine.
Muito caro. Deve haver alguma razão, que desconheço.
Mas continuo recomendando Abebboks para todos, em qualquer parte do planeta (e possívelmente mais além, assim que der).
Paulo Roberto de Almeida
The Economic and Social History of Brazil since 1889
Published by EH.Net (September 2015)
Francisco Vidal Luna and Herbert S. Klein, The Economic and Social History of Brazil since 1889. New York: Cambridge University Press, 2014. xvi + 439 pp. $33 (paperback), ISBN: 978-1-107-61658-5.
Reviewed for EH.Net by Anne Hanley, Department of History, Northern Illinois University.
The Economic and Social History of Brazil since 1889 is a comprehensive synthesis of more than 100 years of Brazilian economic policy and its effect on social development. Written in well-paced and engaging prose, it moves the reader through 125 years of Brazilian history replete with ups, downs, leaps forward, falls backward, protectionism, liberalism, populism, authoritarianism, democratization, inflation, hyperinflation, at least four currency regimes, and more. Luna and Klein, of the University of São Paulo and Columbia University, respectively, define a trend line of economic and social gains across the century that, in spite of the apparent chaos and uneven performance, moved Brazil from a backward economy and society marked by low per capita income, low human capital, low life expectancy and deep and yawning divides between rich and poor, rural and urban, Northern and Southern, white and non-white in the late nineteenth century to a modern(izing) economy marked by rising per capita incomes, high(er) human capital, falling mortality and fertility, and socioeconomic gains for members of all colors, classes, and geographies in the early twenty-first century. Their largely positive assessment results from a macro-level perspective that successfully subdues an unwieldy narrative into broad, comprehensible trends but that delves little into the thorny problems that cause Brazil to still be one of the most unequal societies today. The gains are unquestionable, but Brazil has a long way to go.
The book is divided into four long chapters that break along the lines of major political shifts to establish the relationship between the political narrative, attendant economic policies, and resulting social changes. This structure works well, for political shifts were nearly always induced by or reflected major economic shifts, which had repercussions for the key social indicators used by Luna and Klein to evaluate continuity and change. These indicators, the components of the UN Human Development Index, are income per capita, life expectancy at birth, and education. The inputs to these components — employment, fertility and mortality, access to health services, and investments in education — comprise the social histories of each chapter.
The book opens with the Old Republic, 1889-1930, a period when export agriculture and large estates reigned and power was concentrated in the hands of the coffee planter elites and their political allies in the Southeastern region of the country. Incomes were low, concentration of wealth was high, investment in education and health was incipient, and life was short. Yet the shift from slave to immigrant wage labor in the 1880s began to expand consumer demand and entrepreneurial activity that stimulated domestic industry and induced modest social investments. Major policy prescriptions to protect coffee (and other export sector) wealth ultimately undermined planter political power as the economic crisis of 1929 made agricultural price supports too costly, and rising urban and working classes provided other political elites with an attractive alternative power base.
Chapter 2 covers the fifteen year period from 1930-45 when Getúlio Vargas ruled first as president and then as dictator, swept into office in a political coup motivated by crumbling support for coffee protectionism. The state began to insert itself directly into economic and social policy to integrate the emerging laboring and middle classes and industrial sector, creating government-controlled social welfare institutions to train, educate, empower (and contain) urban groups and regulating access to markets and currency to engineer economic outcomes that protected and promoted domestic industrialization. Social welfare improvements eluded rural dwellers, however, as there was no political will to reform the agricultural sector. This meant little modernization and continued land concentration in the hands of a few.
For Luna and Klein, the lasting power of the new urban and industrial development policies provides the through line for Chapter 3 that seamlessly integrates the failed democratic impulse of the post war era (1945-1964) with the dictatorial military regimes that ruled from 1964-1985. Ambitious development programs of the 1950s based on import substitution advanced the ad hoc economic nationalism of the 1930s and 40s, but when the populists were faced with rising inflation and social unrest unleashed by expensive investments in infrastructure and basic industry yet little reform in agricultural and informal sectors, the military stepped in and stayed in to advance domestic industrialization and grow the economy while suppressing political dissent. In return it invested in pensions, public health, and education, gains which produced improved social indicators for the middle class.
The crushing debt burden of military development programs based on international borrowing sets up the return to democracy in Chapter 4 (1985-present). Privatization, agricultural modernization, and the eventual and lasting control of inflation has produced gains for all groups. Major indicators show that Brazilians are leading longer, healthier, better educated lives in more prosperous conditions after the return to democracy. The wide gaps in prosperity and living standards between Northeast and Southern regions, between rural and urban regions, between men and women, and between whites and non-whites are diminishing and converging. The authors close the book by acknowledging a long list of very serious problems yet to be tackled, but conclude that “one can only marvel at … the extraordinary unity in which the nation finds itself as a society that feels that the future may have finally arrived” (p. 354).
This is the second optimistic book I have read about Brazil in the past year, challenging my well-honed sense of cautious pessimism about its prospects after decades of living through, studying, and teaching its turbulent history. True, Brazil’s democracy has proved to be resilient in the face of some pretty big challenges since 1988. True, as the authors point out, Brazil has all but eradicated extreme poverty and appears committed to continuing to close the gap between rich and poor. True, virtually all macroeconomic indicators point to optimistic trends for the future. But Brazil’s gains represent improvements from its own very unequal and poor past. It still ranks among the top ten in the world for inequality; has a terrible track record of investing in public services, sparking months of street protests in the lead up to the 2012 World Cup; and is wracked by ongoing cases of corruption and ineptitude that have led of late to angry calls for military intervention, a callous and dangerous whim that is ignorant of a terrible history (see Chapter 3). Readers unfamiliar with the magnitude of the challenges Brazil continues to face might erroneously conclude, “Mission accomplished” from this very good and comprehensive survey. I marvel at the changes to society, economy and polity since I first went to Brazil in the 1970s, and am heartened by the optimistic light of this interpretation of Brazil’s recent gains and better future. I guess I will keep my cautious pessimism in check and hope that these macro level trends really do translate into a more prosperous future and a more egalitarian society.
Anne Hanley is associate professor of Latin American history at Northern Illinois University. She is author of Native Capital: Financial Institutions and Economic Development in São Paulo, Brazil 1850-1920 (Stanford University Press) and is writing a book on municipal finance and the provision of public services in Brazil.
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