Abaixo apenas o "Índice" do ensaio.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
terça-feira, 28 de fevereiro de 2017
Roberto Campos: o profeta responsavel
Abaixo apenas o "Índice" do ensaio.
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017
O Estado do Progresso e o Progresso do Estado (1986) - Paulo Roberto de Almeida
Fui buscar o trabalho em meu computador, e não achei, o que significa que ele precede a aquisição do meu primeiro computador, um MacIntosh Plus, dos primeiros modelos (sem disco rígido interno), que comprei na Suíça, meados de 1987.
O trabalho é este aqui:
Tulio me envia uma copia da primeira página da versão publicada, que transcrevo acima.
Quem tiver interesse, vai ter de aumentar o tamanho do arquivo para ler.
A mim, tenho de ir buscar na pasta de originais as folhas datilografadas do texto de 1986, e scannerizar para tê-lo na integra. Por enquanto a imagem é só da primeira parte; também estou curioso para ver o resto...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 27/02/2017
domingo, 26 de fevereiro de 2017
Seis meses de IPRI: que balanço fazer? - Paulo Roberto de Almeida
Como não houve posse formal, inclusive porque não se tratava de um cargo na Secretaria de Estado, e sim numa autarquia formalmente autônoma, ainda que não independente do Ministério das Relações Exteriores, não tive oportunidade de fazer nenhum discurso, nem de apresentar meus planos de trabalho. Mas, como sempre registro atos e fatos de minha vida, sobretudo as grandes etapas intelectuais de uma trajetória de vida toda ela dedicada aos livros, às leituras, às reflexões e escritos intermediando cada fase de um percurso rigorosamente voltado para o estudo e atividades didáticas, e como o IPRI é teoricamente um think tank (ainda que tenha pouco think e quase nenhum tank), resolvi redigir, naquele momento, minhas reflexões pessoais sobre esse "episódio", inclusive porque andava lendo as Mémoires d'outre tombe, de François-René de Chateaubriand.
Como estou ainda pensando em que tipo de balanço fazer, mas estando totalmente dedicado, no momento, à redação de um longo ensaio intelectual, resolvi postar novamente, para releitura, aquilo que eu tinha escrito no momento dessa "saída do deserto", antes de fazer propriamente um balanço, o que prometo fazer assim que possível.
Paulo Roberto de Almeida
sábado, 25 de fevereiro de 2017
E ja que falamos em Zweig: resenha de duas obras sobre o Brasil, pais de (do?) futuro - Paulo Roberto de Almeida
Paulo Roberto de Almeida
Reescrevendo a historia: o fracasso monumental da Petrossauro - Roberto Campos
Paulo Roberto de Almeida
Roberto Campos
Jornal do Comércio, 21/03/1999
Quando for escrita a história econômica do Brasil nos últimos 50 anos, várias coisas estranhas acontecerão. A política de autonomia tecnológica em informática, dos anos 70 e 80, aparecerá como uma solene estupidez, pois significou uma taxação da inteligência e uma subvenção à burrice dos nacionalistas e à safadeza de empresários cartoriais. Campanhas econômico-ideológicas como a do "o petróleo é nosso" deixarão de ser descritas como uma marcha de patriotas esclarecidos, para ser vistas como uma procissão de fetichistas anti-higiênicos, capazes de transformar um líquido fedorento num unguento sagrado. Foi uma "passeata da anti-razão" que criou sérias deformações culturais, inclusive a propensão funesta às "reservas de mercado".
A criação do monopólio estatal de 1953 foi um pecado contra a lógica econômica. Precisamente nesse momento, o ministro da Fazenda, Oswaldo Aranha, mendigava um empréstimo de US$ 300 milhões ao Eximbank, para cobertura de importações correntes (inclusive de petróleo). A ironia da situação era flagrante: de um lado, o país mendigava capitais de empréstimos que agravariam sua insolvência, de outro, pela proclamação do monopólio estatal, rejeitava capitais voluntários de risco. Ao invés de sócios complacentes (cuja fortuna dependeria do êxito do país), preferíamos credores implacáveis (que exigiriam pagamento, independentemente das crises internas). Esse absurdo ilogismo levou Eugene Black, presidente do Banco Mundial, a interromper financiamentos ao Brasil durante cerca de dez anos (com exceção do projeto hidrelétrico de Furnas, financiado em 1958). Houve outros subprodutos desfavoráveis.
Criou-se uma cultura de "reserva de mercado", hostil ao capitalismo competitivo. Surgiu uma poderosa burguesia estatal que, protegida da crítica e imune à concorrência, acumulou privilégios abusivos em termos de salários e aposentadorias. Criou-se uma falsa identificação entre interesse da empresa e interesse nacional, de sorte que a crítica de gestão e a busca de alternativas passaram a ser vistas como traição ou impatriotismo. Vistos em retrospecto, os monopólios estatais de petróleo, que se expandiram no Terceiro Mundo nas décadas de 60 e 70, longe de representarem um ativo estratégico, tornaram-se um cacoete de países subdesenvolvidos na América Latina, África e Médio Oriente. Nenhum país rico ou estrategicamente importante, nem do Grupo dos 7 nem da OCDE, mantém hoje monopólios estatais, o que significa que os monopólios não são necessários nem para a riqueza nem para a segurança estratégica.
Essas considerações me vêm à mente ao perlustrar os últimos relatórios da Petrossauro. Ao contrário de suas congêneres terceiro-mundistas, que são vacas-leiteiras dos respectivos Tesouros, a Petrossauro sempre foi mesquinha no tratamento do acionista majoritário. Tradicionalmente, a remuneração média anual do Tesouro, sob a forma de dividendos líquidos, não chegou a 1% sobre o capital aplicado. Após a extinção de jure do monopólio, em 1995 (ele continua de facto), e em virtude da crítica de gestão e da pressão do Tesouro falido, os dividendos melhoraram um pouco, ma non troppo. Muito mais generoso é o tratamento dado pela Petrossauro à Fundação Petros, que representa patrimônio privado dos funcionários.
A empresa é dessarte muito mais um instituto de previdência, que trabalha para os funcionários, do que uma indústria lucrativa, que trabalha para os acionistas. Aliás, é duvidoso que a Petrossauro seja uma empresa lucrativa. Lucro é o resultado gerado em condições competitivas. No caso de monopólios, é melhor falar em resultados. Quanto à Petrossauro, se fosse obrigada a pagar os variados tributos que pagam as multinacionais aos países hospedeiros-bônus de assinatura, royalties polpudos, participação na produção, Imposto de Renda e importação - teria que registrar prejuízos constantes, pois é alto seu custo de produção e baixa sua eficiência, quer medida em barris/dia por empregado, quer em venda anual por empregado.
Examinados os balanços de 1995 a 1998, verifica-se que o somatório dos dividendos ao Tesouro (pagos ou propostos) alcançam R$ 1,606 bilhão enquanto que as doações à Petros atingiram 2,054 bilhões.
Considerando que o Tesouro representa 160 milhões de habitantes e vários milhões de contribuintes, enquanto que a burguesia do Estado da Petrossauro é inferior a 40 mil pessoas, verifica-se que é o contribuinte que está a serviço da estatal e não vice- versa.
Nota-se hoje no Governo uma perigosa tendência de postergação das privatizações seja na área de petróleo, seja na área financeira, seja na eletricidade. É um erro grave, que põe em dúvida nosso sentido de urgência na solução da crise e nossa percepção dos remédios necessários. A privatização não é uma opção acidental nem coisa postergável, como pensam políticos irrealistas e burocratas corporativistas. É uma imposição do realismo financeiro. Há duas tarefas de saneamento imprescindíveis. A primeira consiste em deter-se o "fluxo" do endividamento (o objeto mínimo seria estabilizar-se a relação endividamento/PIB). Essa é a tarefa a ser cumprida pelo ajuste "fiscal". A segunda consiste em reduzir-se o estoque da dívida. Esse o objetivo da reforma "patrimonial", ou seja, a "privatização".
Não se deve subestimar a contribuição potencial da reforma patrimonial para a solução de nosso impasse financeiro. Tomemos um exemplo simplificado.
Apesar da crise das Bolsas, a venda do complexo Petrossauro-BR Distribuidora poderia gerar uma receita estimada em R$ 20 bilhões. Considerando-se que a rolagem da dívida está custando ao Tesouro 40% ao ano, uma redução do estoque em R$ 20 bilhões, representaria uma economia em curto prazo de R$ 8 bilhões. Isso equivale a aproximadamente 20 anos dos dividendos pagos ao Tesouro pela Petrossauro na média do período 1995-1998 (a média anual foi de R$ 401,7 milhões).
Se aplicarmos o mesmo raciocínio à privatização de bancos estatais e empresas de eletricidade, verificaremos que a solvência brasileira dificilmente será restaurada pela simples reforma fiscal. Terá que ser complementada pela reforma patrimonial. É perigosa complacência a atitude governamental de que a reforma fiscal é urgente e a reforma patrimonial postergável. É dessas complacências e meias medidas que se compõe nossa lamentável, repetitiva e humilhante crise existencial.
Casa Stefan Zweig, Retratos do passado: Hubert Studenic/Hugo Simon
Paulo Roberto de Almeida
http://www.casastefanzweig.org.br/agenda_en/s26.html
A guerra no Pacifico poderia ter sido evitada? Diplomatas tentaram... - Book review
Diplomatas costumam ser obedientes, e só em casos raros eles vão contra instruções recebidas, ou desobedecem deliberada e conscientemente ordens da capital.
Mas, eles possuem uma vantagem sobre líderes nacionais (civis ou militares): vivendo no exterior, convivendo com amigos e "inimigos", eles possuem uma percepção mais clara, mais realista, dos fatores em jogo, quando políticos ou militares no próprio país possuem uma visão deformada dessa realidade, quando não são completamente ignorantes do que é o mundo real.
Essa é a tragédia da profissão: atuar no exterior, tendo de receber instruções, muitas vezes, de ignaros nacionais...
Paulo Roberto de Almeida
H-Diplo Article Review 682 on The Desperate Diplomat: Saburo Kurusu’s Memoir of the Weeks before Pearl Harbor
by George Fujii
H-Diplo
Article Review
No. 682
24 February 2017
Article Review Editors: Thomas Maddux and Diane Labrosse
Web and Production Editor: George Fujii
J. Garry Clifford and Masako R. Okura. The Desperate Diplomat: Saburo Kurusu’s Memoir of the Weeks before Pearl Harbor. Columbia: University of Missouri Press, 2016. ISBN: 978-0-8262-2037-0 (hardcover, $35.00).
URL: http://tiny.cc/AR682
Review by Justus D. Doenecke, New College of Florida, Emeritus
The reputation of Saburō Kurusu has not been good. As special envoy of the Japanese government in the final three months before the Pearl Harbor attack, Kurusu met with American leaders in a last-ditch effort to prevent Japan and the United States from engaging in a bloody conflict. In a famous encounter that took place at 2:20 P.M. on the afternoon of December 7, the Japanese diplomat—along with Ambassador Kichisaburō Nomura—met with Cordell Hull, who had already been informed of the attack on Pearl Harbor. The Secretary of State, his hand shaking, accused them of “fabrication and falsehood.”[1] In his memoirs, Hull accused Kurusu of seeking “to lull us with talk until the moment Japan got ready to strike.” [2]
Hull was not alone. Undersecretary of State Sumner Welles found the “oily” diplomat acting as the “goat tethered as bait for the tiger.” On Pearl Harbor day, Eleanor Roosevelt complained about that “nasty little Jap sitting there talking to my husband while Japanese planes were attacking Honolulu and Manila.” (9) Though no specialist has accepted this indictment, Kurusu’s popular image has been one of duplicity.
Thanks to the efforts of the late J. Garry Clifford and Masako R. Okura, a far more sympathetic—and accurate—picture of Kurusu has emerged. The two scholars have supervised the publication of an English translation of Kurusu’s memoir, published in Japanese in 1952 and deposited in the National Diet Library in 2007. The diplomat had died in 1954, before he could publish the English version. Okura, a political scientist conducting research in Tokyo in 2001, came upon the manuscript by accident and immediately recognized its importance. Okura and Clifford, her mentor at the University of Connecticut, have produced a beautifully edited document, whose introduction and elaborate endnotes reveal a superb knowledge of Japanese decision-making and the most recent scholarly literature. Manuscript sources include the papers of Kurusu, President Franklin Roosevelt, British Ambassador Halifax, Herbert Hoover, financier Bernard Baruch, diplomat Sumner Welles, Secretary of War Henry L. Stimson, and the U.S. State Department. This reviewer finds one slight error: “pace” should be “peace.” (12)
Kurusu had long been a major diplomatic figure, having served in posts as varied as Hankou, Honolulu, New York, Santiago, Rome, Athens, Lima, Hamburg, and Brussels. He was Ambassador to Germany when, in September 1940, Foreign Minister Yosuke Matsuoka negotiated the Tripartite Pact. In his unpublished memoir Kurusu claimed he unsuccessfully sought to resign in protest of the accord.
Early in November 1941, Foreign Minister Shigenori Tōgō, realizing that relations with the U.S. were at a dangerous impasse, sent Kurusu to Washington as special envoy. Ambassador Kichisaburō Nomura, a former admiral, was well liked by the Roosevelt administration. However, Nomura, whose command of English was poor, found himself out of his depth. Hence, that summer he asked his foreign office for Kurusu’s aid. Before he left Tokyo, Kurusu met with Hideki Tōjō, who held the offices of Prime Minister and War Minister and was a full general. Tōjō stressed the necessity of concluding negotiations by the end of the month, although he did not reveal that war preparations were to be completed by early December. (Two days later, Japanese leaders fixed the date of December 7 for an attack on Pearl Harbor). Tōjō saw the negotiations having only thirty percent chance of success, but promised that despite powerful internal opposition he would keep any agreement.
Most of the memoir covers Kurusu’s negotiations with the Americans. During his first meeting with Roosevelt and Hull on November 17, the President suggested direct negotiations between Japan and China. There was, however, no follow through. Within a week, American decoders mistranslated significant Tokyo instructions to Kurusu. The U.S. thought that Japan would be obligated to act ‘automatically’ if Germany invoked the Tripartite Pact of September 1940. In reality the foreign office told Kurusu Japan would act ‘independently.’ When Nomura and Kurusu sought to assure Hull that their nation was under no obligation to assist Germany, the Secretary believed that the diplomats were deliberately lying.
The varied propositions of the American and Japanese representatives (Proposals A and B, Hull’s ten points of November 26) resemble a form of diplomatic ping pong. Because of deadlock over such matters as continued American support for China, the U.S. suggested a three-month modus vivendi: Japan would withdraw 50,000 troops from southern Indochina in return for which the United States would resume moderate sales of oil. Once China objected, Hull decided to “kick the whole thing over” (14). Hull’s ten points were the ultimate ‘nonstarter,’ as they included withdrawal of all Japanese forces from China and Indochina and support only for Chiang Kai-shek’s (Jiang Jieshi’s) government. War appeared inevitable.
By and large historians have overlooked the fact, so clearly brought out in the Kurusu memoir, that even after November 26 the Japanese diplomats actively continued their peace efforts. Due to the efforts of Herbert Hoover, Kurusu met with international lawyer Raoul Desvernine, an attorney on trade matters for Japan’s embassy. Desvernine in turn put him in touch with financier Bernard Baruch, who convinced Roosevelt to reconsider the modus vivendi. Meanwhile, the Methodist missionary E. Stanley Jones suggested that Roosevelt communicate with Emperor Hirohito directly and immediately. By the evening of December 6, however, when the president cabled the emperor, it was too late.
In their perceptive introduction to the memoir, Clifford and Okura indicate that the Pacific War might have been avoided. They write, “Without rekindling conspiracy theories about who fired the first shot in 1941, we are nonetheless struck by the pervasive atmosphere of fatalism and diplomatic passivity in the final days prior to war” (12). American fatigue played an obvious role. Hull, who suffered from tuberculosis, had put in sixteen-hour days. The Japanese envoys noted that Roosevelt, too, appeared “very tired” (22). The President had undergone blood transfusions that spring and summer and may well have been suffering aftereffects in late fall. The two historians speculate that had Roosevelt contacted Hirohito shortly after Hull’s ten-point note, the diplomatic process might have been continued. Conscious that the U.S. was committed to a ‘Europe first’ strategy, American military officials were pressing Roosevelt and Hull for more time, so as to deliver B-17 bombers to the Pacific.
Thanks to the labors of Clifford and Okura, it will be difficult to look again at the last three weeks of peace in quite the same way.
Justus Doenecke is emeritus professor of history at New College of Florida with a Ph.D. from Princeton (1966). He has written twelve books, including Storm on the Horizon: The Challenge to American Intervention, 1939-1941 (Lanham, MD: Rowman & Littlefield, 2000), and in 2015 came out with the 4th edition, with John E. Wilz, of From Isolation to War, 1931-1941 (Malden: Wiley Blackwell, 2015). He is writing a sequel to Nothing Less Than War: A New History of America’s Entry into World War I (Lexington: University Press of Kentucky, 2011). The volume will cover the politics and diplomacy of U.S. as a full-scale belligerent, the period from April 6, 1917- November 11, 1918.