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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Celso Lafer: livros com seus mais importantes artigos (19/12/2018)

No final do ano passado, mais exatamente em 19 de dezembro, o último evento que organizei pelo IPRI, consistiu no lançamento de dois volumes de ensaios, artigos e entrevistas de e com Celso Lafer, cobrindo praticamente 40 anos de suas atividades profissionais, acadêmicas e diplomáticas.
Como naquela ocasião vários possíveis interessados talvez já estivessem de férias, tivessem viajado, ou estavam engajados na preparação das festas e viagens de final de ano, creio que esse lançamento possa ter passado despercebido, daí minha decisão de, passadas as férias de janeiro, postar novamente o material que eu tinha preparado na ocasião, seja para discurso do ministro de Estado, seja para minha própria apresentação do material que estava sendo disponibilizado de forma impressa, e ao mesmo tempo como arquivo digital.

Disponível na Biblioteca Digital; link: 
http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/search&search=Celso%20Lafer

Eis o que tinha sido preparado: 


A Casa de Rio Branco recebe Celso Lafer

Paulo Roberto de Almeida
Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI)
 [Objetivo: saudação em cerimônia; finalidade: digressões sobre sua obra]


No dia 19 de dezembro de 2018, num evento da série “Diálogos Internacionais” do IPRI, que provavelmente se constituiu em seu último evento do ano, do governo, e talvez do regime, o Instituto Rio Branco recebeu o ex-chanceler Celso Lafer, para o lançamento de seu livro em dois volumes: 
Celso Lafer, Relações internacionais, política externa e diplomacia brasileira: pensamento e ação (Brasília: Funag, 2018, 2 vols., 1437 p.; lo. vol., ISBN: 978-85-7631-787-6; 762 p.; 2o. vol., ISBN: 978-85-7631-788-3, 675 p.), 2o. vol., p. 1335-1347.
Presentes à cerimônia, o Secretário Geral das Relações Exteriores, embaixador Marcos Bezerra Abott Galvão, o diretor do Centro de História e Documentação Diplomática (CHDD-RJ), embaixador Gelson Fonseca Jr, o diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), a diretora do Instituto Rio Branco, Gisela Padovan, a vice-presidente do STJ, Dra. Maria Thereza de Assis Moura, o Procurador Geral, designado, da Fazenda Nacional, Prof. José Levi Mello Júnior, e o próprio homenageado, ex-chanceler Celso Lafer. O ministro de Estado tinha um compromisso no momento da abertura, mas passou mais tarde para cumprimentar. Para ocasião, alguns textos tinham sido preparados para leitura na cerimônia, mas não foram usados, para deixar mais tempo para o debate com o autor, ex-chanceler e um dos "founding fathers" das relações internacionais no Brasil.
Estão aqui reunidos, portanto, duas alocuções diferentes, mas que podem ser vistas como complementares, unidas pelo mesmo objetivo substantivo: apresentar a obra e homenagear seu autor. São transcritas para conhecimento dos interessados.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 19 de dezembro de 2018


Esta é a terceira vez, nos últimos vinte meses, em que o ex-chanceler, por duas vezes, e ex-representante brasileiro na missão em Genebra, Celso Lafer, vem a este auditório para uma atividade organizada pelo IPRI. 
A primeira vez, no âmbito deste governo – e foi realmente a primeira depois de mais de treze anos afastado de qualquer convívio com a Casa que foi a sua em dois governos anteriores a 2003 –, foi em março do ano passado, quando o IPRI organizou, em cooperação com a Casa Stefan Zweig de Petrópolis, uma homenagem ao grande escritor austríaco da primeira metade do século XX, por ocasião dos 75 anos de sua morte em Petrópolis, no Carnaval de 1942. 
Naquela oportunidade, se estava lançando o livro, A Unidade Espiritual do Mundo, da Casa Stefan Zweig, uma edição primorosa, em cinco línguas, com textos de Alberto Dines e de Celso Lafer, sob os cuidados editoriais de Israel Beloch, e que trazia a conferência que, sob esse título, Zweig fez no Rio de Janeiro, na primeira vez em que aqui esteve, em 1936, a caminho de um congresso do Pen Club Internacional, em Buenos Aires. O grande debate realizado na capital argentina, como revelado no filme de Maria Schrader, “Stefan Zweig: Adeus Europa”, estava centrado na atitude que deveriam adotar os escritores e intelectuais em face da ascensão ameaçadora dos regimes autoritários, totalitários e antissemitas, quando Stefan Zweig já se tinha antecipado à incorporação da sua Áustria natal ao império nazista de Hitler, e buscado refúgio em países democráticos, primeiro na Inglaterra, depois nos Estados Unidos, para finalmente aportar no Brasil do Estado Novo. 
Essa conferência, “A unidade espiritual do mundo”, escrita em alemão, mas pronunciada em francês, na passagem de Zweig pelo Rio de Janeiro, foi objeto de uma belíssima introdução por Celso Lafer, por ele resumida neste mesmo auditório em 21 de março de 2017, na companhia da diretora da Casa Stefan Zweig, de Petrópolis, e tradutora de várias obras de Stefan Zweig, Kristina Michahelles, e do editor da obra multilínguas, Israel Beloch, que apresentou pela primeira vez a reprodução fac-similar desse libelo de Zweig contra as guerras e os conflitos entre povos, culturas e religiões. Pouco antes dessa magnífica edição da pungente mensagem pela paz de Stefan Zweig, a Editora Versal – a mesma que publicou a obra clássica do embaixador Rubens Ricupero sobre A Diplomacia na Construção do Brasil, 1750, 2016 – havia publicado um pequeno volume contendo as crônicas de Zweig quando de sua primeira visita ao Brasil, em 1936, quando foi recebido pelo então chanceler José Carlos de Macedo Soares, assim como um outro livro, contendo a troca de correspondência, durante vários anos, entre Zweig e sua primeira mulher, Friderike, uma intelectual como ele. Alguns anos antes, Alberto Dines havia tomada a iniciativa de reunir um grupo de intelectuais, no quadro do Forum Nacional do ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso, para discutir o único livro que Stefan Zweig havia escrito sobre o Brasil, uma espécie de homenagem ao país que o acolheu, e que ele considerava um “país de futuro”. Aparentemente, continuamos a ser um país de futuro, senão do futuro...

A segunda vez que tivemos o prazer de recepcionar o embaixador e professor emérito Celso Lafer neste mesmo auditório foi em abril deste ano, para a sua palestra no âmbito da série “Percursos Diplomáticos”, disponível em vídeo, como todas as demais palestras dessa série, no site do IPRI. Foi a partir daí, justamente, que começou a germinar a ideia de se reunir os mais importantes escritos “laferianos”, ao longo de mais de meio século de atividades contínuas e constantes em torno dos grandes temas da política internacional e da política externa do Brasil, textos até aqui dispersos nos mais diferentes veículos, para publicá-los numa coletânea a cargo da Funag. 
Esta é a publicação que estamos lançando hoje, depois de vários meses de um intenso trabalho de lapidação por parte do IPRI, mas que reúne apenas uma pequena parte da gigantesca produção intelectual já acumulada por Celso Lafer ao longo das últimas décadas, quando ele se desempenhou, não apenas como o mais importante especialista brasileiro nos temas que figuram no título desta obra, “Relações internacionais, política externa e diplomacia brasileira”, mas também como chanceler, duas vezes, a primeira em 1992, depois em 2001 e 2002, e também como representante do Brasil em Genebra na fase intermediária. 
Todos nós, diplomatas de carreira, servidores ocasionais da política externa do Brasil, ou simples estudiosos nesse amplo universo da interface externa do Brasil, somos devedores de Celso Lafer, que pode ser considerado uma espécie de “founding father” da disciplina de relações internacionais no Brasil. Todos nós, os nascidos nos últimos cinquenta anos, e mesmo os nascidos antes, tivemos a oportunidade, talvez até a obrigatoriedade, de ler, ou de reler, de estudar e refletir sobre alguns dos seus muitos escritos nas três áreas que compõem o título comum destes dois volumes. Celso Lafer é coetâneo e indissociável do processo de construção, de formação e de expansão da disciplina Relações Internacionais no Brasil. Mais do que isso: ele é indispensável e incontornável na floração e na consolidação da teoria e sobretudo da prática das relações internacionais do Brasil. 
O subtítulo da obra não é menos significativo dessa dupla associação de Celso Lafer ao edifício em permanente construção: pensamento e ação. É isso que cada ensaio acadêmico, cada palestra ou entrevista concedida, cada artigo de jornal aqui reproduzido oferece agora aos leitores numa coletânea parcial de um universo bem maior: uma janela de oportunidade para se adentrar na informação, na reflexão e nas lições que podem ser oferecidas por alguém que, mais do que apenas escrever sobre as três áreas contempladas na coletânea, foi parte integrante do processo decisório de política externa, guiou na prática a diplomacia brasileira em momentos relevantes de nossa história recente e teve a chance de oferecer a sua vis directiva para a ação concreta que um país como o Brasil necessita adotar e tomar no plano externo. Temos também pequenos retratos e homenagens a atores e autores nas mesmas áreas-chave em que trabalhou o professor Celso Lafer, entre eles o embaixador Gelson Fonseca, aqui presente, amigo e colaborador em alguns dos seus escritos.
Por todas estas razões, somos gratos ao professor Celso Lafer por ter dado à nossa editora de livros diplomáticos, a Fundação Alexandre de Gusmão, a chance de publicar uma pequena parte de sua imensa obra já consagrada na história teórica e prática das relações internacionais. Depois de muito tempo dispersos em uma multiplicidade de plataformas editoriais, seus escritos, agora reunidos graças ao empenho do IPRI, são colocados à disposição da grande comunidade de estudiosos e praticantes da ação internacional do Brasil. Que este livro, como a anterior coletânea de textos do chanceler Oswaldo Aranha, publicada no ano passado em esforço similar conduzido pelo IPRI, sirva como referência de estudo, de informação histórica e d guia para a ação de nossos diplomatas e pesquisadores nesse universo. 

Caro embaixador, professor e amigo Celso Lafer: as portas do Itamaraty e do Instituto Rio Branco estão e continuarão abertos a novas incursões suas na Casa de Rio Branco, assim como os serviços editoriais da Funag e do IPRI continuarão receptivos à publicação de seus outros escritos em todos esses temas nos que exibimos, para usar a famosa expressão de Goethe, reproduzida por Max Weber, “afinidades eletivas”. Aliás, podemos dizer que essas afinidades são mais do que simplesmente eletivas; elas são impositivas, até mesmo obrigatórias, uma vez que a vida intelectual, as atividades acadêmicas e profissionais, assim como o exercício ocasional de Celso Lafer, como servidor do Estado brasileiro em diversos momentos de sua rica trajetória, estão indelevelmente ligados à própria história do Itamaraty nas últimas décadas. Não dispensaremos essa interação, em qualquer formato que seja, no futuro previsível. 

José Mindlin, o grande bibliófilo brasileiro que legou sua imensa biblioteca para deleite de paulistanos, paulistas e demais visitantes da Brasiliana Guita e José Mindlin da USP, e a quem Celso Lafer conhecia muito bem, tinha um famoso ex-libris tomado de empréstimo a um outro amigo dos livros, Montaigne. Esse ex-libris reproduzia uma frase que o célebre ensaísta tinha usado no livro II dos Ensaios, e que o sábio recluso havia feito inscrever em sua torre-refúgio: “Je ne fais rien sans gayeté”. 
De Celso Lafer se poderia dizer: “Il ne fait rien sans finesse”. De fato, o que mais caracteriza nosso homenageado de hoje é sua extrema delicadeza, sua educação exemplar, mesmo em direção de seus detratores, como constatei mais de uma vez lendo ou relendo alguns de seus artigos que me foram dados alinhar nesta coletânea exemplar, que eu já chamei de Halb Gesamtwerke. Não que ele tenha, pessoalmente, inimigos, pois uma pessoa tão finamente educada quanto Celso Lafer seria incapaz de ter adversários pessoais. E mesmo que os tivesse, ele os trataria tão educadamente quanto sempre nos tratou a todos nós, diplomatas e não diplomatas, ao longo de uma carreira exemplar de servidor público, de ministro de Estado das Relações Exteriores, duas vezes, de embaixador em Genebra, de ministro da Indústria e do Desenvolvimento. 
Nos treze anos e meio em que durou essa coisa que eu designei de lulopetismo diplomático, esses adversários foram extremamente rudes com sua gestão e a própria pessoa de Celso Lafer, não poupando-o das invectivas mais ridículas, apenas para se jactarem de um soberanismo tão falso quanto sua suposta altivez. Pois Celso Lafer sempre examinou com extrema elegância as posições equivocadas que esses detratores defendiam na política externa, avaliando em termos firmes, mas sóbrios e educados, uma diplomacia que tinha muito mais de transpiração do que de inspiração, muito mais de pirotecnia ideológica que de fundamentação nos interesses concretos do Brasil. A cada ofensiva maldosa, Celso Lafer respondia com um artigo elegante, mostrando a inconsistência das posições defendidas pelos lulopetistas, sem jamais descambar para uma palavra grosseira, ou alguma resposta mais contundente, como eu mesmo fiz, aliás.
Celso Lafer ne fait rien sans finesse, e é isso que transparece em cada uma das 1.400 páginas desta obra de referência que eu tive o imenso prazer de ajudar a compor ao longo de muitas noites de leitura agradável, até a maratona final da composição do índice onomástico, através do qual eu pude avaliar a intensidade de trocas intelectuais que este grande intelectual manteve com alguns de seus grandes amigos em espírito, e vários deles em carne e osso. Se eu passei várias noites na companhia de Celso Lafer, relendo, revisando ortograficamente e ajustando as remissões bibliográficas de uma centena e uma dúzia de ensaios e artigos redigidos no decorrer de quase meio século de intenso trabalho intelectual, pude perceber, na montagem do índice onomástico, que ele também passou noite e noites na companhia de atores e autores dos mais respeitáveis. 
Em primeiro lugar, aparece a inefável Hannah Arendt, que vem contemplada com nada menos de que uma centena de citações e remissões, em seis linhas completas do índice que consta ao final do livro. Depois vem o circunspecto Raymond Aron, que tem direito a seis dezenas de citações, nas cinco linhas que ganhou no mesmo índice. Norberto Bobbio já é um caso notório de afinidade eletiva, que eu não hesitaria em classificar de obsessiva: são mais de noventa remissões, em oito linhas cheias. Não vamos esquecer os presidentes Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso, a quem Celso Lafer serviu nas duas oportunidades em que ocupou a cadeira de Rio Branco, contemplados cada um com mais de uma dúzia e meia de remissões; vou deixar um outro presidente de lado. Tem também seu amigo e coautor Gelson Fonseca, com seu lote de citações apropriadas. Hobbes, maldosamente, deixa Hegel para trás, mas Kant supera a ambos, tranquilamente, mesmo incluindo Maquiavel nesse clube. Helio Jaguaribe ganha de Rui Barbosa, e Henry Kissinger perde de Juscelino Kubitschek, mas eles jogam em ligas diferentes. O incontornável Marx perde para o socialista Antonio Candido. Entre outros amigos, Miguel Reale ganha “por una cabeza” de Octavio Paz, mas cabe não esquecer os muitas vezes citados San Tiago Dantas, Rubens Ricupero e José Guilherme Merquior. Juca Paranhos, o barão, corre longe na dianteira do visconde, seu pai. Por fim, não podia faltar o grande Camões, citado em vários versos e estrofes, e desde a Introdução, quando Celso Lafer explica como foi feita esta obra: 

O livro é, assim, no seu conjunto, o resultado da interação entre pensamento e ação, o fruto, como diria Camões em Os Lusíadas, de “honesto estudo/com longa experiência misturado”.

A preparação editorial, a uniformização ortográfica, a complementação da informação bibliográfica com notas remissivas e outros requisitos próprios à finalização dos originais para impressão, tomaram algumas semanas de trabalho, e quero aqui registrar a importante ajuda do historiador Rogério de Souza Farias, assim como de diversos outros assistentes e estagiários do IPRI, cujos nomes comparecem na página de expediente. Devo dizer que tive especial prazer em passar essas proveitosas semanas, vários noites seguidas, na companhia de ensaios e artigos que estava relendo, ou lendo pela primeira vez, o que me permitiu refletir novamente sobre minha própria formação intelectual em temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, o que também foi o caso de muitos, senão todos os colegas de carreira, e de milhares de estudantes, em todo o Brasil que se beneficiaram, quando não fizeram copy and paste, destas dezenas de escritos de Celso Lafer. 
Dizem que Winston Churchill escreveu, ou ditou, seis milhões de palavras, ao longo de uma vida aventurosa como repórter militar, como parlamentar durante 55 anos ininterruptos, como ministro duas vezes, antes como Lorde do Almirantado, seguido de uma infeliz passagem pelo Tesouro, depois como chefe de um gabinete de coalizão e líder militar supremo na hora mais sombria da Grã-Bretanha, finalmente como grande estadista aposentado: seis milhões de palavras. Eu ainda não comecei a contar o volume de palavras já redigidas por Celso Lafer, ou decifradas por suas secretárias a partir de sua escrita de médico, mas se juntarmos tudo, em volumes alinhados um a um, o conjunto certamente ultrapassaria os 137 tomos das Obras Completas de Rui Barbosa, ou outros tantos dos Comentários à Constituição Brasileira de Pontes de Miranda. No que se refere apenas aos dois volumes que estamos publicando, eu contei 335.400 palavras, e ainda não estamos falando de uma verdadeira Gesamtwerke da produção laferiana acumulada ao longo de uma rica vida intelectual. 
Aposto como, contando tudo, chegaríamos a um Oceano Pacífico de palavras cuidadosamente redigidas no decorrer do último meio século, em face do qual estes dois volumes não representam senão um modesto Lago Tiberíades, para não ficarmos muito longe do Mar Morto, se essa aproximação pode ser feita sem problemas geopolíticos. Em todo caso, no campo das relações internacionais, da política externa do Brasil e da sua diplomacia ninguém chegou perto da quantidade e da qualidade da prolífica produção intelectual de Celso Lafer. Estes dois volumes constituem, portanto, uma pequena amostra, um aperitivo, de uma obra bem mais vasta, que ainda precisa ser compilada pelos muitos admiradores dos escritos laferianos, que agora se encontram à disposição de todos os estudantes, dos pesquisadores e dos profissionais diplomáticos, que somos nós, e dos milhares de candidatos à carreira pelo Brasil afora. Todos podem descarregar os volumes na Biblioteca Digital da Funag, ou adquirir a obra impressa, pela modesta e incômoda soma de R$ 31,00 o exemplar, mas só em dinheiro.
Montaigne ne faisait rien sans gayeté, como nos lembrou José Mindlin, por meio de seu ex-libris. Eu me permito aqui citar esta passagem do livro II, capítulo X, dos Essais, que trata justamente dos livros e das dificuldades em lê-los: 
Les difficultés, si j’en rencontre en lisant, je n’en ronge pas mes ongles : je les laisse là, après leur avoir fait une charge ou deux. Si je me plantais, je m’y perdrais, et le temps, car j’ai un esprit primesautier. Ce que je ne vois de la première charge, je le vois moins en m’y obstinant. Je ne fais rien sans gayeté.

Eu também tento fazer do IPRI a minha boutique de divertissement intellectuel, ou seja, sempre encontrar um motivo de divertimento intelectual no trabalho que faço, com todo o prazer permitido pela nossa burocracia lusitana, mas sem precisar ronger mes ongles. Quanto a Celso Lafer, eu posso afirmar novamente que ele ne fait rien sans finesse ou sans éducation. 
Parbleu,  je me plais d’être son ami !
Merci à tous!

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 8 e 14 de dezembro de 2018

3379. “A Casa de Rio Branco recebe Celso Lafer”, Brasília, 19 dezembro 2018, 8 p. Junção dos trabalhos 3375 e 3377, para postagem em substituição a eventuais pronunciamentos no lançamento de sua obra em dois volumes. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/12/a-casa-de-rio-branco-recebe-celso-lafer.html). Trechos reproduzidos em artigo de Pedro Rodrigues, no Diário do Poder (20/12/2018; link: https://diariodopoder.com.br/celso-lafer-de-volta/) e igualmente reproduzido no blog Diplomatizzando (21/12/2018; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/12/celso-lafer-de-volta-ao-itamaraty-pedro.html).

Celso Lafer, de volta
Pedro Rodrigues, Diário do Poder, 20/12/2019

Desdenhado pelos petistas que tomaram de assalto o Itamaraty, Lafer volta a ser reverenciado pela Casa

Celso Lafer, o mais competente e intelectualmente íntegro Chanceler brasileiro no que até aqui vai do século 21, esteve em Brasília na quarta-feira (19 de dezembro) para o lançamento de seu livro, em dois volumes (Relações Internacionais, Política Externa e Diplomacia Brasileira: Pensamento e Ação). Essa obra, tenho confiança, tornar-se-á leitura obrigatória dos estudiosos das relações internacionais que desejarem verdadeiramente compreender a complexa realidade externa com que o Brasil vem tendo de lidar desde o fim da Guerra Fria.
Lafer levou muita bordoada nos anos recentes, durante os quais o Partido dos Trabalhadores tentou desmontar os esteios fundamentais da Sociedade e do Estado brasileiros, para substituí-los por não se sabe o quê, pois o que deixaram como legado foi um país fraturado, mediocrizado, enchafurdado num pântano da lama fétida da imoralidade, da corrupção, da inépcia e da irresponsabilidade. O ex-chanceler foi depreciado por seu sucessor Celso Amorim e vitimado pela máquina de moer reputação do PT, lubrificada com dinheiro e intenções espúrias.
No lançamento do livro de Lafer, no Carpe Diem, encontrei-me com meu colega e amigo, o Embaixador Paulo Roberto de Almeida, que dirige o Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IPRI), afiliado à Fundação Alexandre de Gusmão, do Itamaraty.
Reproduzo, adiante, trechos da alocução do Embaixador Paulo Roberto de Almeida, editor pelo IPRI-FUNAG da obra de Lafer, proferida ontem na apresentação do livro, no Itamaraty.
“Esta é a publicação que estamos lançando hoje, depois de vários meses de um intenso trabalho de lapidação por parte do IPRI, mas que reúne apenas uma pequena parte da gigantesca produção intelectual já acumulada por Celso Lafer ao longo das últimas décadas, quando ele se desempenhou, não apenas como o mais importante especialista brasileiro nos temas que figuram no título desta obra, “Relações internacionais, política externa e diplomacia brasileira”, mas também como chanceler, duas vezes, a primeira em 1992, depois em 2001 e 2002, e também como representante do Brasil em Genebra na fase intermediária.

Todos nós, diplomatas de carreira, servidores ocasionais da política externa do Brasil, ou simples estudiosos nesse amplo universo da interface externa do Brasil, somos devedores de Celso Lafer, que pode ser considerado uma espécie de “founding father” da disciplina de relações internacionais no Brasil. Todos nós, os nascidos nos últimos cinquenta anos, e mesmo os nascidos antes, tivemos a oportunidade, talvez até a obrigatoriedade, de ler, ou de reler, de estudar e refletir sobre alguns dos seus muitos escritos nas três áreas que compõem o título comum destes dois volumes. Celso Lafer é coetâneo e indissociável do processo de construção, de formação e de expansão da disciplina Relações Internacionais no Brasil. Mais do que isso: ele é indispensável e incontornável na floração e na consolidação da teoria e sobretudo da prática das relações internacionais do Brasil.

O subtítulo da obra não é menos significativo dessa dupla associação de Celso Lafer ao edifício em permanente construção: pensamento e ação. É isso que cada ensaio acadêmico, cada palestra ou entrevista concedida, cada artigo de jornal aqui reproduzido oferece agora aos leitores numa coletânea parcial de um universo bem maior: uma janela de oportunidade para se adentrar na informação, na reflexão e nas lições que podem ser oferecidas por alguém que, mais do que apenas escrever sobre as três áreas contempladas na coletânea, foi parte integrante do processo decisório de política externa, guiou na prática a diplomacia brasileira em momentos relevantes de nossa história recente e teve a chance de oferecer a sua vis directiva para a ação concreta que um país como o Brasil necessita adotar e tomar no plano externo. Temos também pequenos retratos e homenagens a atores e autores nas mesmas áreas-chave em que trabalhou o professor Celso Lafer, entre eles o embaixador Gelson Fonseca, aqui presente, amigo e colaborador em alguns dos seus escritos.

Por todas estas razões, somos gratos ao professor Celso Lafer por ter dado à nossa editora de livros diplomáticos, a Fundação Alexandre de Gusmão, a chance de publicar uma pequena parte de sua imensa obra já consagrada na história teórica e prática das relações internacionais. Depois de muito tempo dispersos em uma multiplicidade de plataformas editoriais, seus escritos, agora reunidos graças ao empenho do IPRI, são colocados à disposição da grande comunidade de estudiosos e praticantes da ação internacional do Brasil. Que este livro, como a anterior coletânea de textos do chanceler Oswaldo Aranha, publicada no ano passado em esforço similar conduzido pelo IPRI, sirva como referência de estudo, de informação histórica e d guia para a ação de nossos diplomatas e pesquisadores nesse universo.
Caro embaixador, professor e amigo Celso Lafer: as portas do Itamaraty e do Instituto Rio Branco estão e continuarão abertos a novas incursões suas na Casa de Rio Branco, assim como os serviços editoriais da Funag e do IPRI continuarão receptivos à publicação de seus outros escritos em todos esses temas nos que exibimos, para usar a famosa expressão de Goethe, reproduzida por Max Weber, “afinidades eletivas”. Aliás, podemos dizer que essas afinidades são mais do que simplesmente eletivas; elas são impositivas, até mesmo obrigatórias, uma vez que a vida intelectual, as atividades acadêmicas e profissionais, assim como o exercício ocasional de Celso Lafer, como servidor do Estado brasileiro em diversos momentos de sua rica trajetória, estão indelevelmente ligados à própria história do Itamaraty nas últimas décadas. Não dispensaremos essa interação, em qualquer formato que seja, no futuro previsível”.

Detroit, do declinio ao renascimento: Economic and Business History Society 2019

Call for Papers
44th Annual EBHS Conference
Detroit, Michigan
June 5 to 8, 2019

The 44th Economic and Business History Society (EBHS) Annual Conference will be held in Detroit, Michigan. Our general theme is Manufacturing and the City. However, individual proposals for presentations on any aspect of economic, social or business history are welcome, as are proposals for whole panels. We welcome submissions from graduate students and non-academic affiliates.

Detroit Michigan is uniquely positioned for attendees to experience both past and present relationships between the world of commerce and the urban experience. The “Motor City” has been the long-time center of the American auto industry and earned the title of the “Arsenal of Democracy” for its industrial output in World War II. In more recent times, the City filed for the largest municipal bankruptcy in American history and is presently emerging as a revitalized city, featuring a revitalized downtown populated by some of the most innovative companies in the United States today.

The Conference will be headquartered at the historic Fort Shelby Hotel, first opened in 1917. In 2007, this famous Albert Kahn designed facility benefitted from an $80 million restoration and modernization.

Our conference social program and keynote events will focus on Detroit’s manufacturing heritage as well as its urban rebirth process. The conference optional tour will be to The Henry Ford, which feature the Henry Ford Museum and outdoor Greenfield Village. The Henry Ford’s collections include Thomas Edison’s Menlo Lab complex, Abraham Lincoln’s assassination chair, John F. Kennedy’s assassination limousine, the Rosa Parks bus, and much more.

Detroit also features a rich variety of sports, music and restaurants that will interest conference participants.

Proposals should include an abstract of no more than 500 words and contact details. The deadline for submission of proposals is February 15, 2019. The Program Chair will send a notification of acceptance of abstracts by March 1, 2019. Online registration will be available soon after at www.ebhsoc.org. Proposals may be submitted through the EBHS website at www.ebhsoc.org, by email to ebhs2019@ebhsoc.org.

If you have further questions about the meeting or organization please contact Program Chair Jeremy Land Land25.Jeremy@gmail.com or EBHS 2019 President John Moore jmoore1@walshcollege.edu.

EBHS also operates a peer-reviewed open access journal, Essays in Economic and Business History, edited by Mark Billings (University of Exeter Business School) and Dan Giedeman (Grand Valley State University). Conference papers and non-conference papers alike may be submitted to Essays for consideration. We invite you to visit our website, www.ebhsoc.org, to see our editorial board and policies, as well as back issues.

We look forward to welcoming you to Detroit and the Motor City!

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44th Annual Economic and Business History Society Conference 
Fort Shelby Hotel, Detroit, Michigan
June 5  to June 8, 2019


Elliott Abrams: tudo em nome da democracia, mesmo massacre

The massacre Trump’s envoy to Venezuela wants us to forget


“I fail to understand,” the congresswoman said at a hearing Wednesday, “why members of this committee or the American people should find any testimony that you give today to be truthful.”
The politician in question was freshman Rep. Ilhan Omar (D-Minn.). Her interlocutor was Elliott Abrams, the veteran national security official recently installed by the Trump administration as Washington’s special envoy to Venezuela. Omar, who weathered a storm of controversy this week over her tweets about the financial influence of a pro-Israel lobby group, was now heaping scrutiny on the diplomat’s checkered career.
Abrams, Omar reminded the hearing, had pleaded guilty in 1991 to two counts of withholding information from Congress — essentially lying over the Iran-contra affair in the late 1980s while serving as an official in the Reagan administration. In 1992, though, he was pardoned by President George H.W. Bush and later joined the younger Bush’s National Security Council. Out of office, he has remained a fixture in Washington’s foreign policy establishment as a senior fellow at the Council on Foreign Relations.
But Omar was not so impressed. She pushed him on an earlier chapter of his career, when, as a prominent State Department official in the Reagan administration, Abrams led the American coverup of a hideous massacre in the Salvadoran village of El Mozote. In December 1981, the U.S.-backed Salvadoran army, locked in a struggle with leftist guerrillas, slaughtered at least 800 civilians in the town as part of its brutal counterinsurgency. On Wednesday, Abrams balked at Omar’s line of questioning, deeming it “ridiculous.”
“The back-and-forth refocused a spotlight on controversies that have trailed Abrams, 71, during a half-century in public life,” wrote The Post’s Isaac Stanley-Becker. “And it revealed the moral trade-offs involved in the hawkish role that he has advanced for the United States — a global posture that Trump once purported to reject but has increasingly embraced, including by maintaining that military intervention in Venezuela is ‘an option.’ ”
As footage of the exchange went viral on social media, Beltway insiders and foreign policy veterans rallied in defense of Abrams, arguing that a dark chapter nearly four decades ago need not negate a lifetime of public service. “Elliott Abrams is a devoted public servant who has contributed much of his professional life to our country,” tweeted Nicholas Burns, a former senior State Department official. “It’s time to build bridges in America and not tear people down.”
Francisco Toro, a dissident Venezuelan writer, wheeled on Omar for focusing on the death squads of a long-defunct regime, rather than the current abuses of the one in Caracas. “Showcasing astonishing insensitivity to the victims of a human rights catastrophe that is still ongoing today, she disgraced her perch in Congress and scored an invaluable propaganda victory to the regime sponsoring the exact type of human rights abuses she imagines herself to be opposing,” Toro wrote for The Post’s Global Opinions.
Many others, though, commended Omar for raising the ghosts of the past. Abrams’s lengthy career, argued Esquire’s Charles Pierce, seemed proof that in Washington “there is no limit to the number of peasants on your butcher’s bill that would keep you from government work."
“If you are going to appoint someone who has a history of lying to Congress about human rights abuses to be the special envoy for a brewing humanitarian crisis," noted Dan Drezner in PostEverything, “it is entirely fair to question him about prior acts of bad faith.”
The massacre at El Mozote occurred just before Abrams assumed his post as assistant secretary of state for human rights and humanitarian affairs in the Reagan administration. News of the brutal killings and rapes that took place there and in surrounding hamlets — considered some of the worst atrocities in modern Latin American history — reached the United States via the front pages of the New York Times and The Washington Post.
The Post’s Alma Guillermoprieto, who reached El Mozote in January 1982, found “dozens of decomposing bodies,” left to molder for a month in the ruins of the flattened village and adjacent fields. In a central square, she entered a church where many of the village’s men had been taken and executed. “The walls of the smaller sacristy beside it also appeared to have had its adobe walls pushed in,” she wrote. “Inside, the stench was overpowering, and countless bits of bones — skulls, rib cages, femurs, a spinal column — poked out of the rubble.”
Later reports uncovered other acts of barbarism. “We could hear the women being raped on the hills,” one witness told journalist Mark Danner, author of “The Massacre at El Mozote: A Parable of the Cold War.” “And then, you know, the soldiers would pass by, coming from there, and they’d talk about it. You know, they were talking and joking, saying how much they liked the 12-year-olds.”
Men were beheaded with machetes, women raped and left to die, children had their skulls crushed in under the boots of soldiers.
At the time, Abrams worked to suppress news of the massacre, dismissing the news reports as not “credible” and enabling the propaganda of the guerrillas. “He was the point of the spear of the Reagan administration in denying a massacre had taken place at El Mozote,” Danner said in an interview with Today’s WorldView. He added that, for Abrams, human rights violations like this “were really nothing” compared with the grave danger perceived by the Reagan administration of left-wing, pro-Soviet victory in Central America.
This Cold War thinking would underlie Abrams’s actions and decision-making in Latin America through the 1980s. He called for the lifting of an arms embargo on Guatemala, supporting the regime of Efrain Rios Montt, who in 2013 was found guilty of genocide and crimes against humanity against the country’s indigenous Mayan population. In El Salvador, the full details of the massacre at El Mozote would only start to emerge a decade later, in part through the painstaking excavations of forensic scientists. It was just one episode in a hideous decade of violence, carried out largely by the Salvadoran army and right-wing death squads supported by the United States.
“It was a bloody, brutal, and dirty war,” wrote Raymond Bronner, who reported on the massacre for the New York Times, in a recent piece for the Atlantic. “More than 75,000 Salvadorans were killed in the fighting, most of them victims of the military and its death squads. Peasants were shot en masse, often while trying to flee. Student and union leaders had their thumbs tied behind their backs before being shot in the head, their bodies left on roadsides as a warning to others.”
The traumas of that era in Central America, Bronner argued, prefigured the mass exodus of asylum seekers that President Trump now insists amounts to an emergency on the U.S. southern border.
In an email to The Post’s Stanley-Becker, Abrams defended his record and angrily rejected Omar’s interrogation. “It’s a remarkable record of support for Latin democracy, of which Rep. Omar is obviously unaware and in which she is uninterested,” he said. “That was clear from her conduct, which constituted attacking rather than questioning a witness.”
But Danner pointed to the power of amnesia in Washington. "If you stay in D.C. long enough, no matter how dirty your bedsheets, they are going to be bleached clean simply by the corrosive force of forgetfulness,“ he said. That is, unless a congresswoman decides to remind everyone.
“Omar performed a public service,” Danner said.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

O velho protecionismo sempre presente - Celso Ming

"O QUE PRETENDE BOLSONARO ?
Celso Ming
O Estado de S.Paulo, 14/02/2019

O presidente foi eleito com o discurso de liberalismo econômico, mas a trajetória como deputado está atrelada ao corporativismo e ninguém sabe quais são de fato suas convicções
Celso Ming, O Estado de S.Paulo
Se o presidente Bolsonaro tem uma estratégia de política econômica ninguém sabe qual é. Ele vai operando com um conjunto nebuloso de princípios pouco coerentes entre si que mais cedo do que tarde tendem a entrar em choque.
Seu ministro da Economia, Paulo Guedes, foi escolhido por suas propostas liberais e pela defesa da economia competitiva, que dispensa as muletas dos subsídios.

Mas o presidente Bolsonaro também não esconde seu viés protecionista. Sem determinar limites claros, já mostrou contrariedade com o que entende como sinais de voracidade do capital estrangeiro (especialmente dos chineses) sobre ativos brasileiros, mais de uma vez sugeriu que a atividade produtiva deva ser blindada contra concorrências fortes e, nessas condições, deva ser menos exposta à concorrência externa. Ao mesmo tempo, nomeou como ministro das Relações Exteriores o embaixador Ernesto Araújo, que se notabilizou pelo seu discurso antiglobalista, notadamente contra movimentos de integração econômica e política entre países e blocos de países, o que sugere proposta de cunho nacionalista e não liberalizante.

Na última terça-feira, Bolsonaro tomou partido no primeiro conflito entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, na questão da importação do leite em pó. Para o ministro Paulo Guedes não faz sentido continuar protegendo a pecuária nacional contra a entrada de produtos lácteos da União Europeia e da Nova Zelândia. Por isso, baixou decreto que extinguia a tarifa alfandegária de proteção. No entanto, a ministra Tereza Cristina entende que, sem proteção, a pecuária leiteira brasileira não subsistiria e defendeu a criação de taxa alfandegária extra sobre as importações. Com o aplauso de Bolsonaro, desta vez Tereza Cristina levou a melhor e o propalado “posto Ipiranga”, supostamente a única e última palavra em política econômica, foi obrigado a recuar.

Ela também quer impedir que Paulo Guedes corte as isenções de contribuições previdenciárias aos exportadores do agronegócio. E já insistiu em que “o desmame” do setor agrícola dos subsídios se faça mais suavemente do que no ritmo proposto pelo ministro.

O Brasil é um arquipélago de interesses e até agora manteve setores altamente protegidos, como a indústria que, no entanto, não consegue se emancipar, segue pouco competitiva e vai sendo relegada ao esvaziamento progressivo se continuar pendurada nas exauridas tetas do Estado.

É normal que, diante da falta de clareza sobre o que pretende Bolsonaro, se multipliquem conflitos desse tipo a cada novo passo em direção aos ganhos de produtividade e ao saneamento das contas públicas. Em todo caso, é precipitado concluir que trombadas graves na definição de rumos sejam iminentes e, com elas, também seja inevitável que se produzam fortes estragos na economia.

No entanto, ninguém sabe quais são de fato as convicções de Bolsonaro. Seus 28 anos na Câmara dos Deputados foram mais na direção da defesa de interesses corporativos do que de política econômica consistente. O discurso eleitoral, no entanto, foi de urgência na tramitação da reforma da Previdência e de firmeza em direção à privatização. Isso é quase tudo e é pouco.
O que não pode é o ministro da Economia tomar uma decisão pela manhã e à tarde ser obrigado a voltar atrás por imposição de algum grupo de pressão."

Desindustrializacao? Argentina anda pior que o Brasil (Clarin)

Clarín, Buenos Aires – 14.2.2019
Por la recesión, la industria ya trabaja a su nivel más bajo desde julio de 2002
Las fábricas utilizaron apenas el 56,6% de la capacidad instalada, una caída de 7.4 puntos porcentuales en comparación con diciembre de 2017.
Ismael Bermúdez

De la mano del desplome de la producción, la industria trabajó en diciembre pasado “a media máquina”. Las fábricas utilizaron apenas el 56,6% de la capacidad instalada, el nivel más bajo desde julio de 2002, la anterior serie del INDEC. El número representa una caída de 7,4 puntos porcentuales en comparación con el mismo mes de 2017, según el relevamiento oficial mensual. En comparación con noviembre de 2018, el retroceso es de 6,7 puntos.
Se trata de un retroceso generalizado que muestra a una industria con casi un 45% de capacidad ociosa. En la caída se destacan el rubro textil y los autos, en parte por paradas técnicas propias de la industria, con niveles de ociosidad de más del 65%.
Los sectores que presentaron en diciembre de 2018 una menor utilización de la capacidad instalada respecto al mismo mes de 2017 fueron la industria automotriz, textiles, metalmecánica, caucho y plástico, ediciones e impresión y tabaco.
Esto pasó porque, por octavo mes consecutivo, en diciembre la industria manufacturera acentuó su retroceso y se desplomó al récord del 14,7%. y cerró el año con una caída del 5%.
Así, la industria acumula ya tres años con un mal desempeño. En 2016, cayó el 4,6%, en 2017 recuperó apenas el 2,5% y en 2018 cayó el 5 %. Representa en tres años una caída de más del 7%, con un fuerte descenso en el nivel del empleo.
El sector con menor utilización de su potencial de producción fue la industria automotriz, que registró, en diciembre de 2018, “un nivel de utilización de la capacidad instalada de 25,6%, inferior al de diciembre de 2017 (38,3%), como consecuencia de la disminución de la cantidad de unidades fabricadas por las terminales automotrices a partir de la menor demanda local y de la realización de paradas técnicas en algunas plantas productivas”, dice el Informe del INDEC.
El segundo lugar en capacidad ociosa lo ocupó el bloque de productos textiles que presentó “un nivel de utilización de la capacidad instalada de 32,3%, inferior al registrado en el mismo mes de 2017 (55,7%). El menor nivel de utilización del bloque se explica por la menor elaboración de hilados de algodón y de tejidos, tanto tejidos planos como de punto”.
El tercer puesto fue para la metalmecánica, con el 42,8% “principalmente por las caídas de los niveles de producción de aparatos de uso doméstico y maquinaria agropecuaria”.
Tampoco se salvó de la caída la fabricación de alimentos y bebidas, con un nivel de utilización de la capacidad instalada de 58,9%, inferior al 61,2% de un año antes, por “ la baja registrada en la elaboración de bebidas, a partir de la menor producción de aguas y sodas, bebidas gaseosas y cerveza”.
Con relación a un año atrás, hay sectores con retrocesos de dos dígitos. Por ejemplo textiles retrocede 23,4 puntos, caucho y plásticos -14,3 puntos  y la industria automotriz - 12,7 puntos. Por encima de los valores de noviembre de 2018 se destaca sólo refinación de petróleo que subió del 73,2 al 77,4%, pero por debajo del 86,3% de diciembre de 2017.
Junto con el indicador de la capacidad instalada de la industria, el INDEC informó también la evolución del indicador sintético deservicios públicos (ISSP) en noviembre. Este índice registró una caída de 4,6% respecto al mismo mes del año anterior. En términos desestacionalizados, el indicador presentó una contracción de 0,6% en ese mismo mes.
Según el organismo, la demanda de energía eléctrica, gas y agua tuvo una caída de 3,5%; la recolección de residuos tuvo una contracción de 1,0% y el transporte de pasajeros registró una baja interanual de 6,3%. Solo el transporte de cargas, acusó una suba del 22,7%. Porque también cayeron los vehículos pasantes pagos por peajes (-13,7%); el servicio de correo postal (-13,8%) y hasta la telefonía registró un descenso de 4,4%.

Abolir o cargo de vice-presidente? - Brian Winter (Americas Quarterly)

Americas Quarterly, Washington DC – 8.2.2019
Should Brazil Just Abolish the Vice Presidency?
Tensions between Jair Bolsonaro and Hamilton Mourão reveal a deeper battle for the new government’s soul.
Brian Winter

In 1829, Chile’s legislature named José Joaquín Vicuña as the country’s new vice president. While this may sound like the start of the world’s most boring history lesson, Vicuña was a sufficiently objectionable figure that his appointment triggered a coup - and then a two-year-long civil war that left some 2,000 people dead.
The experience was traumatic enough that Chile’s Constitution of 1833 eliminated the role of the vice presidency entirely - and the country has not had one since, leaving the interior minister first in the line of succession. Somewhat similar dynamics led Mexico to abolish the vice presidency in the wake of the Mexican Revolution, after the last person to hold the job was assassinated. These are the exceptions in today’s Latin America, but here’s one more little-known fact: As recently as the 1940s, only about a third of the region’s countries had a vice president, and they seemed to get along just fine.
I was reminded of this obscure history this week, as Jair Bolsonaro struggled to fulfill his presidential duties from a hospital bed in São Paulo. Following a traumatic, nine-hour surgery to remove a colostomy bag he had worn since an assassination attempt last September, Brazil’s president was back at work just 48 hours later, holding video conferences with ministers and signing documents from his hospital bed while shirtless and covered with medical monitors.
This appears to have been ill-advised. Over the weekend, Bolsonaro’s doctors reportedly reprimanded him for talking too much, warning it could lead excess gas to collect in his abdomen and prevent scarring. They also recommended he stop following congressional proceedings on television. Then, on Monday, a major setback: The president would be in the hospital for at least another week, and was temporarily banned from speaking at all.    
A reasonable outsider might ask: What was the big rush? Why not just let the vice president handle his duties for a few extra days, as the Constitution allows, and focus on a proper recoveryBut the answer was clear. Barely a month into his presidency, Bolsonaro has a severely strained and possibly broken relationship with his number two, retired general Hamilton Mourão. Earlier in January, when Mourão assumed presidential duties during Bolsonaro’s week-long trip to Davos, he gave multiple interviews and statements conspicuously at odds with his boss’ views on everything from loosening gun controls (pointless, he said) to moving Brazil’s embassy in Israel to Jerusalem (might not happen, he told Arab diplomats). In perhaps the ultimate diss, Mourão even took to Twitter to compliment the press - which Bolsonaro frequently rages against as “fake news” - for their “dedication, enthusiasm and professional spirit.” No wonder Bolsonaro was so hesitant to hand power back again.
On one level, Mourão’s rhetoric illustrates a very real ideological split within Bolsonaro’s government. There is the so-called anti-globalist wing, led by Foreign Minister Ernesto Araújo and Bolsonaro’s own son Eduardo, that is keen to remake Brazil’s foreign policy to bring it closer to Washington, Donald Trump and nations with “Christian values” - and take distance from China and the Arab world. Mourão represents a powerful faction made up largely of former military officials, who account for about a third of Bolsonaro’s cabinet. They are not a monolith, but they generally favor a more pragmatic approach to foreign policy, noting for example that China is Brazil’s biggest trading partner. Many couldn’t care less about the social issues - “gender ideology,” “cultural Marxism” and so on - that tend to animate Bolsonaro’s hard core base.
This has led to an unusual dynamic in which moderate-minded Brazilians are counting on the military to prevent a more radical turn. The most glaring example was when Jean Wyllys, Brazil’s most prominent LGBT congressman and longtime antagonist of Bolsonaro’s, declared last month that he was resigning his seat and fleeing the country after receiving numerous threats. Bolsonaro posted celebratory messages on Twitter (“It’s a great day!”), while Mourão somberly noted that “anyone who threatens a congressman is committing a crime against democracy.” This prompted an outpouring of I-can’t-believe-I’m-praising-Mourão messages on Twitter and elsewhere. One friend from the São Paulo academic world texted me: “It’s incredible, but this could be the man who saves Brazilian democracy.”
Perhaps, but there may also be a deeper, worrying trend at work. Since Brazil’s last dictatorship ended in 1985, three of five vice presidents have ascended to the top job - because of one fatal illness and two impeachments. That’s a stunning 60 percent, for those keeping score at home. In the most recent case, Michel Temer openly schemed against Dilma Rousseff, complaining in a letter that she had made him a “decorative vice president” - and then leading the effort to impeach her in 2016. In this context, some wonder whether Mourão is driven by genuine policy differences - or if he is already openly auditioning for his boss’ job. “He’s a traitor,” one person close to the government told me this week. The split is so public that even Steve Bannon, the American nationalist leader who is close to the Bolsonaro family, weighed in in an interview published on Wednesday, calling Mourão “not useful” and “a guy who steps outside of his lane.”
Which leads to the question of whether Brazil can handle having a vice president at all. Maybe the position itself is inherently destabilizing, especially in a country with a patchwork of several dozen political parties that forces odd and ultimately brittle coalitions. Don’t laugh - this was precisely the conclusion of a recent paper by Leiv Marsteintredet and Fredrik Uggla, two Scandinavian academics, in what they billed as the first major study of the Latin American vice presidency. They found that Latin American countries in which presidential candidates are compelled to nominate a running mate from outside their party are “almost three times as likely to suffer interruptions such as coups and impeachments” than those in which the ticket is more homogenous. The authors leave open whether the vice presidency is the cause, or a symptom, of this instability. But in the context of Brazil’s record, it sure raises a few eyebrows.
Do recent events in Brazil approach the trauma of Chile in 1829, or Mexico in 1913? Maybe not. And of course, trying to make any structural changes in the current political climate would be even more destabilizing. But it’s worth wondering if Brazil might be better served in the future by a model that provides less incentive for intrigue and rebellion. In his infamous letter to Rousseff, Temer himself complained: “I’ve always been aware of the absolute distrust you and your team have shown me … a distrust that is incompatible with what we’ve done to maintain the personal and party support for your government.” But maybe it wasn’t the Rousseff-Temer partnership that was incompatible; maybe it was the whole model.

Brian Winter is editor-in-chief of Americas Quarterly magazine and the vice president for policy at Americas Society/Council of the Americas. A best-selling author and columnist, Brian is a leading expert on Latin America and a frequent speaker for international media and events.

Conferencia sobre Oriente Proximo em Varsovia: bad news (WP)

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Cuidado com os bolsoviques - Rodrigo Constantino

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

13 de fevereiro de 2019
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A direita chegou ao poder. Mas qual direita? O bolsonarismo é um fenômeno complexo, com inúmeras variáveis. Há um fator de esgotamento do lulopetismo. Há outro ligado ao discurso da segurança pública. A presença do liberal Paulo Guedes na campanha atraiu outra gama de eleitores, mais instruídos que a média. E claro, há a vertente do conservadorismo e também de um reacionarismo que se confunde com aquele.
Por conta de ser esse saco de gatos, desde o começo tenho me esforçado para separar o joio do trigo. É fundamental, para o bem da direita brasileira no longo prazo e do próprio governo Bolsonaro, traçar uma distinção entre liberais e conservadores e essa ala mais reacionária, que parece o PT com o sinal trocado, como já disse Janaina Paschoal.
Os fanáticos autoritários, que costumam usar os mesmos métodos dos inimigos, atendem pelo carinhoso apelido de “bolsominions”. Mas outro termo, criado por uma amiga, talvez seja ainda melhor: bolsoviques. Sim, a maioria vem do marxismo, e muitos não parecem capazes de abandonar esse ranço ideológico, apesar de colocaram o marxismo cultural como maior ameaça ao mundo – com boa dose de razão.
O que os torna tão semelhantes aos seus adversários é o método de atuação. Eles não aceitam conviver com o contraditório; partem em ataques de manada a qualquer crítico, em especial aqueles dentro da própria direita; cultuam mitos e políticos; e adotam um duplo padrão extremamente seletivo. O assassinato de reputação dos críticos está em sua cartilha também, e os tiros iniciais quase sempre vêm do núcleo duro do próprio bolsonarismo.
Um sujeito com cargo no governo, por exemplo, pediu publicamente a cabeça do editor e escritor Carlos Andreazza (que, afirmo desde já, é editor dos livros que publico pela Record). Outro, por trás de um perfil falso, chegou a ameaçar a filha do escritor. Andreazza desabafou: “Não serei permissivo com quem age para assassinar reputações e difamar, de maneira concertada, aqueles, sobretudo jornalistas, que não aderem ao novo regime. Isto tem comando, cadeia. É milícia. Sei exatamente quem é quem e como funciona. Prosperam sobre a covardia”.
Paulo Cruz, colunista da Gazeta do Povo e um dos grandes intelectuais do Brasil, já foi alvo da horda também, assim como Alexandre Borges e tantos outros. Quem atua mais nos bastidores dos movimentos de direita conhece o modus operandi dessa gente. Por muito tempo, vários acharam melhor manter o silêncio: a alternativa era pior, o risco de volta do PT, o que seria a destruição total do país. Mas agora Bolsonaro é governo, a direita está no poder, e adotar uma postura de independência que trace uma clara linha divisória entre pensadores sérios e militantes fanáticos se torna questão de sobrevivência da própria direita no futuro.
Um episódio divisor de águas foi o ataque virulento e até criminoso de Olavo de Carvalho contra o vice-presidente Hamilton Mourão. Não vem ao caso se Mourão merecia ou não críticas: acho que merecia e as fiz, pois ele andou seduzido pelos holofotes e afagos da imprensa. Mas Olavo foi muito além, e acusou o general de conspirar um golpe contra Bolsonaro, hospitalizado. Trata-se de denúncia gravíssima, sem qualquer prova concreta. Não importa: os bolsoviques fecharam com o “guru” e endossaram os ataques pérfidos e levianos.
Se tudo isso não passasse de “treta” das redes sociais, nem sequer mereceria um artigo. O problema é que essa turma faz parte do governo, e contribui para manchar a reputação da direita ao abraçar uma política de guerra total, em que todo aquele que discordar uma vírgula merece ser eliminado do mapa. Não só prejudica a imagem da direita, como atrapalha o próprio governo e o andamento das reformas estruturais lideradas pela equipe de Paulo Guedes.
Ninguém menos que um dos filhos do presidente faz parte desse time. Eduardo Bolsonaro colou em Steve Bannon, um populista nacionalista que nem Trump quis manter em seu governo. Bannon é da direita “alternativa”, tribal, que se alimenta politicamente dos grupos extremistas do outro lado. Sem Antifa ou Black Lives Matter não haveria “o movimento” lançado por Bannon. Seus adeptos se enxergam como templários numa cruzada para salvar a civilização ocidental, mas não passam de coletivistas autoritários dispostos a meios condenáveis para chegar e ficar no poder.
Segundo O Antagonista, Eduardo já estaria até pensando em criar um partido novo, sob influência de Bannon. Faz todo o sentido dentro da lógica de poder deles: dobrar a aposta na narrativa revolucionária jacobina, contra tudo e todos que estão aí – inclusive o PSL, que teria “se corrompido”. Como o universo dos incorruptíveis é nulo, todos se tornam alvos em potencial desse grupo “purista” (e hipócrita), assim como foi com os seguidores fanáticos de Robespierre, ele mesmo vítima da turba que ajudou a criar.
Sempre que um liberal ou conservador de boa estirpe critica uma postura condenável desse pessoal, vem a manada bovina ou xingar de “esquerdista”, ou lembrar que há outro inimigo muito pior. Sim, ninguém nega que a esquerda radical seja a maior ameaça ao Brasil. Mas são os bolsoviques que estão no poder agora. E passar panos quentes sempre que um deles falar ou fizer uma barbaridade qualquer é o caminho mais seguro para implodir de vez não só a direita, mas nossas liberdades.
Nos bastidores da direita há muita gente cansada dessas táticas de guerrilha virtual dos bolsoviques, mas poucos têm a coragem de se manifestar publicamente. Entende-se: não é agradável ter uma legião ensandecida te perseguindo, difamando ou mesmo ameaçando, sem falar que agora esses loucos estão no poder. Mas essa é uma briga importante de se comprar. Não lutamos contra o PT para abaixar a cabeça para reacionários fanáticos. A luta é contra toda forma de coletivismo e autoritarismo. Não importa se vem da esquerda ou da “direita”.
Artigo originalmente publicado pela Gazeta do Povo.