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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 31 de março de 2020

Cenários para o Brasil até 2022 decorrentes da pandemia Covid-19 - Paulo Roberto de Almeida

Cenários para o Brasil até 2022 decorrentes da pandemia Covid-19

Paulo Roberto de Almeida

Respostas a consulta efetuada por Grupo de Pesquisas e Estudos Prospectivos

Brasília, 31 de março de 2020 

Recebi, recentemente, solicitação de um grupo de pesquisa e de estudos prospectivos para responder a uma consulta que estava fazendo sobre os cenários que se abrem ao Brasil, desde agora até 2022 (ou seja, o atual mandato), a partir da pandemia do Covid-19. Não encontro muita lógica nessa data de estudar, ou prospectar os “possíveis impactos econômicos e sociais para o período pós pandemia do coronavírus no Brasil até 2022”, uma vez que tanto a pandemia, quanto os impactos econômicos, sociais e políticos possuem uma dinâmica própria, que não se submetem a um período político preciso, o de um mandato conferido nas urnas. Mas entendo que essa fase é regulada por políticas públicas específicas, que dependem de um determinado governo.

Vou transcrever as minhas respostas, mas também as explicações e diretrizes da coordenação da pesquisa, pois acredito que essa consulta apresenta interesse geral, e de meu lado não tenho razões para esconder o que penso do atual governo.

 

Apresentação da consulta pelos organizadores: 

Esta segunda parte do processo terá como objetivo levantar tendências, incertezas e possíveis rupturas relacionadas a Questão Orientadora dos cenários e seus aspectos fundamentais, levantados na primeira pesquisa.

A pesquisa levará, no máximo, 10 min, e as informações coletadas serão tratadas de forma integrada e os resultados serão compartilhados com todos os respondentes.

 

Identificação

Name: Paulo Roberto de Almeida

E-mail: xxx

Formação - fornecer a última titulação: Pós-doutorado

Área de Conhecimento: Ciências Humanas

Área de atuação: Administração pública

 

Informações para auxiliar a responder a pesquisa

QUESTÃO ORIENTADORA:

Até 2022, o Brasil será bem-sucedido ao lidar com os desafios sociais e econômicos gerados pela pandemia do Coronavirus?

ASPECTOS FUNDAMENTAIS:

(1) ECONOMIA – Abrange as atividades produtivas formais e informais de empresários, trabalhadores e terceiro setor, bem como as políticas econômicas (fiscal, tributária, monetária, cambial, de crédito e de comércio exterior), de infraestrutura e de ciência, tecnologia e inovação. Destacam-se como resultados a geração de trabalho, produção e renda, além da produtividade e competitividade nacional.

(2) SOCIEDADE E DEMOGRAFIA – Abrange as questões ligadas à qualidade de vida em seus múltiplos aspectos, tais como: demografia; formas e relações de trabalho e de convívio social; habitação e mobilidade urbana; sensação de segurança e criminalidade; previdência e assistência social; desigualdades de renda e pobreza; e acesso à educação, à nutrição saudável, à cultura e lazer e aos serviços em geral, públicos e privados.

(3) SAÚDE E MEIO AMBIENTE – Abrange a redução e prevenção de riscos e agravos à saúde da população por meio das ações de vigilância sanitária e epidemiológica, promoção e proteção, com o controle das doenças transmissíveis e na promoção do envelhecimento saudável; a atenção básica, especializada, ambulatorial e hospitalar, buscando reduzir as mortes evitáveis e melhorando as condições de vida das pessoas; o desenvolvimento científico, tecnológico e da produção industrial em saúde; a formação de profissionais; e a mobilidade urbana e água, esgoto e resíduos sólidos.

(4) GEOPOLÍTICA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS – Aborda a posição do Brasil no contexto das relações geopolíticas internacionais. Engloba: cooperação internacional bilateral e papel dos organismos multilaterais; alianças e disputas geopolíticas e políticas de fronteira; relação de força entre USA e China e deles com os demais países; crescimento econômico mundial e protecionismo econômico; nacionalismo e globalização produtiva, comercial, financeira, de pessoas e de comunicação e informação.

(5) POLÍTICO-INSTITUCIONAL – Trata de questões como a relação entre os poderes da República (Legislativo, Executivo e Judiciário), seus entes federados (União, Estados e Municípios) e o Ministério Público; a organização e o funcionamento do sistema político e das instituições; a eficiência, a eficácia e a efetividade das políticas públicas; e a capacidade do planejamento nacional de longo prazo orientar a alocação de recursos e as ações de curto prazo.

 

 

Tendências

Na sua opinião, quais as principais tendências até 2022 ligadas a questão principal e aos seus aspectos fundamentais? 

Liste no máximo 5. Vamos exercitar a priorização!

TENDÊNCIAS são eventos cuja perspectiva de direção e sentido é suficientemente consolidada e visível para se admitir sua permanência no período de cenarização considerado.

Até 2022, o Brasil será bem-sucedido ao lidar com os desafios sociais e econômicos gerados pela pandemia do Coronavirus?

Aspectos fundamentais: Economia; Sociedade e demografia; Saúde e meio ambiente; Geopolítica e relações internacionais; Político-institucional 

 

Comentários de Paulo Roberto de Almeida

 

Tendência 1 

Economia: Antes da pandemia do Covid-19, o cenário para a economia brasileira era o de uma lenta recuperação, quase letárgica, em virtude da gravidade do impacto da Grande Recessão do período final do lulopetismo econômico, que eu identifico, na verdade como a Grande Destruição lulopetista da economia, um legado terrível em termos de emprego e redução de crescimento que prometia arrancar as poucas possibilidades que o Brasil tinha de lograr um mínimo de crescimento para acomodar os novos jovens ingressando no mercado de trabalho e o volume crescente de novos aposentados e pensionistas sob cuidados dos regimes previdenciários (público e geral).

Imaginava que zerar o déficit orçamentário tomaria pelo menos até 2023, que a produção de superávits primários significativos poderia ser delongada até 2029, e que o Brasil continuaria, durante todo o período, e mais além, num ritmo de crescimento medíocre. Isso era antes, até 2019. 

Agora, com o impacto da pandemia, tudo está alterado e o único cenário previsível é uma deterioração ainda maior da economia, em todos os setores possíveis – sobretudo desemprego, mas também crescimento, déficit público, maior déficit de transações correntes, possível estrangulamento cambial, desarranjos diversos no plano microeconômico e perda de qualidade das políticas econômicas. Ou seja, de agora até 2022, o cenário é o de uma deterioração grave da economia, com impactos sociais significativos.

 

Tendência 2

Sociedade e demografia. São tendências que não dependem tanto das políticas públicas, e sim de estruturas sociais de caráter impessoal e incontroláveis. A demografia, já consolidada em padrões evolutivos típicos de país avançado – ou seja, a transição demográfica já ficou para trás, e o Brasil vai acumular cada vez mais idosos em sua pirâmide demográfica –, não vai mudar muito até 2022, a não ser acentuar tendências já presentes na curva populacional e na pirâmide etária, quais sejam, menos jovens, mais idosos, maior carga sobre os orçamentos previdenciários (privados, individuais, e públicos).

A sociedade, já bastante dividida politicamente desde o início do presente século, está se tornando ainda mais dividida em função das crises políticas criadas pelo lulopetismo e agora pelo bolsonarismo, aparentemente opostos, mas profundamente similares e reciprocamente dependentes. Mas essa é uma divisão conjuntural, não estrutural. A divisão estrutural, permanente, talvez até em agravamento, na sociedade brasileira, é a profunda, iníqua, inaceitável desigualdade social, entranhada em nosso tecido social, na psicologia coletiva, nas mentalidades desde o início da formação da nação, e muito tem a ver com a base escravista da organização do trabalho, mas sobretudo com a própria constituição estamental da sociedade, e sua preservação na sociedade nacional depois da abolição. 

A responsabilidade das elites nesse quadro lamentável é patente, pois elas jamais cogitaram de estabelecer um sistema de educação pública de massas, e ainda por cima desmantelaram, sem colocar nada no lugar, o único sistema de ensino que funcionava no Brasil colonial, que era o dos jesuítas. Até praticamente os anos 1930, o Brasil nunca contou com um sistema de escolas públicas nos dois primeiros ciclos, e depois que a democratização pressionou para baixo a qualidade do sistema de ensino nas escolas publicadas criadas entre os anos 1930 e 1950, nada de mais substantivo se fez para melhorar os padrões. 

A sociedade hoje paga um preço enorme em função da baixa produtividade do trabalho no sistema produtivo. O que a pandemia do Covid-19 pode fazer, agora, é uma deterioração ainda maior do pequeno sentimento de solidariedade sociedade criado a partir da fase de grande crescimento econômico do Brasil, e não se pode excluir cenários de violência anômica por causa do agravamento das condições de emprego e renda criados no presente momento. 

Ou seja, podemos chegar a 2022 com uma sociedade fragmentada e profundamente deprimida, como nunca tivemos em fases anteriores da história da nação. A população mais pobre, ainda que tenha aceitado conformadamente a reforma da previdência, vai mais uma vez constatar que foi deixada ao relento em termos de serviços básicos do setor público (saneamento básico, escola, educação, segurança, etc.

 

Tendência 3

Saúde e meio ambiente. A CF-88 estabeleceu um Sistema Universal de Saúde perfeito no papel e na sua vocação igualitária, a exemplo do NHS britânico do pós-guerra. O problema é que o Brasil não tem uma economia suficientemente produtiva, e um Estado suficientemente organizado e eficiente para fazer do SUS uma política realmente efetiva em benefício da população mais carente, daí o desenvolvimento de consórcios de saúde privados nas últimas décadas.

O SUS não é exatamente um sistema, não é exatamente único (dada a sua fragmentação federativa) e não é bem de saúde, que deveria ser, antes de mais nada, preventiva, do que curativa. De toda forma, como no caso do sistema britânico, o ponto crucial é o da administração eficiente dos recursos disponíveis, que por uma definição elementar, nunca serão suficientes, a partir da suposta universalização do atendimento, o que gera ineficiências em todas as etapas da cadeia. Por outro lado, disposições constitucionais que visam garantir recursos constantes e garantidos, obviamente crescentes, ao sistema, atuam em detrimento de ganhos de produtividade, sem mencionar a corrupção e as disfunções “normais” existentes no Estado, nos três níveis da federação. 

O nacionalismo protecionista nas compras públicas do setor, o preconceito contra o capital e os investimentos estrangeiros e a contaminação política do sistema também são fatores profundamente deletérios para o setor como um todo. Com relação ao meio ambiente, o Brasil estava caminhando para o estabelecimento de alguns padrões razoáveis de equilíbrio entre a devastação localizada (inevitável) em áreas de biomas em perigo e a manutenção do ritmo de atividade econômica, que sempre será agressora em relação ao meio ambiente. Mas, desde os anos 1990, o Brasil vinha adotando padrões de sustentabilidade progressivamente convergentes com demandas de cientistas e pressão da opinião pública internacional. 

A chegada ao poder de “novos bárbaros”, amigos da motosserra e aliados da destruição ambiental, joga novamente o Brasil na contramão da história e da política ambientalista, por mais que existissem pressões exageradas por parte de ambientalistas não científicos, ou seja, não baseados em dados da ciência quanto à sustentabilidade econômica e natural dos recursos do meio ambiente. O Brasil caminha para chegar, em 2022, na condição de pária universal no terreno da preservação ambiental. A situação geral, que já não era adequada, ou minimamente satisfatória, tanto na parte da saúde quanto do meio ambiente (devastações urbanas, por exemplo, em acidentes naturais) tende a se agravar ainda mais.

 

Tendência 4

Geopolítica e relações internacionais. A despeito de alguns equívocos motivados por opções político-ideológicas na política externa dos governos das primeiras duas décadas deste século, o Brasil projetou, ao longo do período, uma imagem bastante positiva de seu envolvimento externo, nos grandes temas das agendas diplomáticas conectadas aos planos multilateral, regional ou bilateral. Os equívocos – motivados pelas alianças políticas do partido no poder – se concentraram mais no plano regional, uma vez que o PT tinha antigos laços afetivos e ideológicos com o castrismo e outros partidos esquerdistas, e seus líderes ainda mantinham a visão anacrônica de um mundo dividido entre países ricos hegemônicos e exploradores, e países pobres dependentes e dominados. 

Mas, excluindo esses resquícios, o restante da pauta diplomática se conformava bastante bem à ideologia “desenvolvimentista” da diplomacia brasileira, ao multilateralismo, ao terceiro-mundismo e outras manias normais numa Casa identificada com o projeto nacional de desenvolvimento. A ruptura introduzida pelo olavo-bolsonarismo na política externa é a mais grave fissura a comprometer uma política externa sóbria, identificada com os interesses nacionais, pragmática em suas diversas vertentes e sobretudo atuando com base em uma identificação técnica dos diferentes aspectos da agenda externa que mais convém ao Brasil. 

A nova diplomacia posta em marcha pelo núcleo reduzido de ideólogos que a comandam é basicamente feita com base em preconceitos, erros e equívocos de análise e de julgamento, de uma ideologia anacrônica de extrema-direita, de prevenção contra o globalismo e o multilateralismo – os dois principais esteios da atuação diplomática no século XXI – e de um retorno a um nacionalismo tosco, inculto e enviesado por obsessões anticomunistas totalmente ultrapassadas num mundo que se pauta, obviamente, pela globalização capitalista, tendo a China como um dos esteios dessa integração mundial baseada no livre comércio. 

Se não houver uma correção de rumos na trajetória alucinante traçada pelos bárbaros que ocupam atualmente o poder, o Brasil vai continuar pelo resto do mandado do inepto presidente um país marginalizado dos grandes debates internacionais, desprovido de maiores alianças políticas nos principais cenários diplomáticos, além do punhado de líderes iliberais, nacionalistas de extrema-direita que hoje são os parceiros principais do governo bolsonarista. Nunca houve, na história bissecular do Itamaraty e da diplomacia brasileira, uma política externa tão medíocre e ineficiente quanto a atual.

 

Tendência 5

Político-institucional. O sistema político brasileiro sempre foi caracterizado por alta dose de fragmentação e de difícil equilíbrio entre a maioria presidencial, emanada do voto direto dos eleitores numa personalidade política, e a maioria proporcional, e dispersa entre diferentes setores da sociedade, expressa no Congresso e nos grupos de interesse que atuam nele e através dele. Sobre isso incidem velhas deformações do patrimonialismo luso-brasileiro, que conformaram uma classe política – em todos os níveis da federação – vivendo em si e para si, um verdadeiro estamento em defesa de privilégios e prebendas, que tem em outras corporações do Estado o mais elevado índice de total descomprometimento com os interesses mais amplos da cidadania. A magistratura é, provavelmente, o mais próximo que temos da aristocracia do Antigo Regime, totalmente indiferente à situação geral do país, unicamente focada na extração de recursos em seu próprio favor. 

O Estado, de maneira geral, é um extrator de recursos de toda a sociedade, em favor dos estamentos burocráticos que o povoam, e é o principal vetor de construção de desigualdades e de concentração de renda. Não se imagina uma correção radical dessas deformações no curto prazo, uma vez que esse processo demandaria um tempo necessariamente longo de educação política, ou de educação tout court, numa sociedade que raras vezes valorizou o ensino de boa qualidade como prioridade nacional. 

Sobre essas tendências fortes, que devem continuar – num jogo contínuo de chantagens entre os três poderes, e que estão na base do famoso “presidencialismo de coalizão”, que redunda ser, no mais das vezes um presidencialismo de cooptação e de corrupção –, se acresce o atual governo de um líder inepto, inculto, autoritário, provavelmente desequilibrado, animado por aliados íntimos – em primeiro lugar sua própria família – unicamente focados na manutenção do poder, em sua expressão mais crua. 

A despeito de algum controle burocrático por parte de militares que o sustentaram na trajetória de ascensão ao poder, a tendência é a de contínua disfuncionalidade da presidência, e, portanto, de uma incapacidade manifesta de conceber e aplicar projetos racionais de reformas ou mesmo da condução de programas identificados com as necessidades básicas da sociedade (na economia, na educação, nas relações exteriores, no meio ambiente e em diversos outros setores). 

Um pequeno núcleo de ministros racionais, auxiliados por tecnocratas de boa qualidade, tenta dar sentido e direção a um governo que carece de ambos, mas os obstáculos criados pelo próprio núcleo do poder, ou seja, o presidente e seus áulicos, são uma constante ameaça à continuidade de políticas equilibradas. A tendência pode ser a deterioração progressiva e uma provável crise da governança, não sendo sequer previsível se essa tendência se manterá até 2022, ou se ocorrerá nova ruptura política na esfera do Executivo.

 

 

Incertezas

Na sua opinião, quais as principais incertezas ou rupturas até 2022 ligadas a questão principal e aos seus aspectos fundamentais? 

Liste no máximo 3. Vamos exercitar a priorização!

INCERTEZAS referem-se a eventos futuros cuja trajetória ainda é indefinida no período considerado de cenarização. Trata-se de uma pergunta sem resposta. 

Até 2022, o Brasil será bem-sucedido ao lidar com os desafios sociais e econômicos gerados pela pandemia do Coronavirus?

Aspectos fundamentais: Economia; Sociedade e demografia; Saúde e meio ambiente; Geopolítica e relações internacionais; Político-institucional 

 

Incerteza 1 

A primeira incerteza tem a ver com a capacidade dos dirigentes nacionais – tanto do Executivo quanto do Congresso – de administrar os diferentes impactos – econômicos, sociais, políticos, de relações internacionais – da atual pandemia, que vai causar um enorme stress sobre as condições já extremamente frágeis da economia. O Brasil já era, desde muito tempo, um país totalmente preparado para NÃO crescer, em razão da sua baixa capacidade de poupança e de investimento, de inovação e de produtividade, dos baixos níveis de educação formal da maioria de seu povo, sobre o que se exercia um Estado extrator, um ogro famélico que atual como despoupador líquido das riquezas criadas pelo setor privado. 

O choque atual tem tudo para: aumentar o desemprego, frear o investimento, aumentar o nível do endividamento público, criar potenciais focos inflacionários, desorganizar o sistema produtivo e aumentar o grau já elevado de elisão e de evasão fiscal, numa economia que retorna a altas taxas de informalidade e conhece até mesmo retrocessos no provimento de serviços básicos (saúde, segurança, educação, justiça). 

 

Incerteza 2

A segunda maior incerteza tem a ver com a capacidade dos homens públicos conseguirem preservar o funcionamento mínimo das instituições com um presidente altamente prejudicial ao seu bom funcionamento, justamente. O foco principal de TODAS as crises está no próprio presidente e no seu círculo íntimo e é altamente improvável que a marcha da política até 2022 o converta num administrado racional, ou pelo menos neutro. 

Existe um potencial disruptivo no seu estilo de “fazer política” altamente cumulativo, em vista das frustrações que esse próprio estilo não cessa de criar continuamente. Ou o presidente se converte num eunuco controlado por forças mais sensatas, ou as tendências à implosão são altamente prováveis. As reações irracionais aos desafios do Covid-19 são exemplos desse descontrole pessoal com a administração de crises. Não parece provável alguma melhoria no futuro previsível. 

 

Incerteza 3

No plano social, existe a possibilidade de que, numa sociedade já estressada por altos níveis de desemprego e de insatisfação com os serviços públicos – reflexo da falência progressiva dos estados e de muitos municípios –, o grau insuportável de empobrecimento geral da população trazida pela pandemia redunde em maior nível de anomia, e daí para explosões de violência ainda não conhecidos no Brasil como já o foram em outros países (na própria Argentina, por exemplo, ou no Chile), com saques a supermercados e lojas, e ataques a entes públicos. 

Ou seja, o Brasil não está imune a uma deterioração sensível da civilidade e do simples controle estatal sobre o tecido social, para impedir que o caos e a violência errática se difundam nos estratos mais baixos da sociedade. Nessas condições, as FFAA seriam chamadas a intervir, com consequências imprevisíveis no momento atual.

 

 

Rupturas

Na sua opinião, quais as principais rupturas poderão ocorrer até 2022 ligadas a questão principal e aos seus aspectos fundamentais? 

Liste no máximo 3. Vamos exercitar a priorização!

RUPTURA representa uma grande mudança causada por um novo fenômeno que pressiona o equilíbrio existente e o quebra, e que possa ocorrer no período considerado de cenarização.

Até 2022, o Brasil será bem-sucedido ao lidar com os desafios sociais e econômicos gerados pela pandemia do Coronavirus?

Aspectos fundamentais: Economia; Sociedade e demografia; Saúde e meio ambiente; Geopolítica e relações internacionais; Político-institucional 

 

Ruptura 1

As dúvidas são enormes sobre a possível evolução do cenário econômico, a principal chave do futuro do Brasil. Se o choque do Covid-19 puder ser bem absorvido pela administração da política econômica – ou seja, enormes gastos estatais, num ambiente de defesa acirrada pelas corporações e lobbies poderosos de seus interesses particularistas, contra os interesses gerais das grandes massas excluídas – pode ser que o Brasil escape da deterioração geral do sistema produtivo, aproveitando os desafios para fazer algumas reformas que tardam décadas para se realizar. As chances são, no entanto, bem reduzidas. As elites dirigentes no Brasil são medíocres, autocentradas e bastante egoístas, o que deixa antever muitas dificuldades nesse terreno. A principal ruptura seria uma crise da governança, e a abertura para dois cenários: mais populistas e demagogos, ou uma administração tutelada pelas instituições castrenses, os novos pretorianos de um regime mais autoritário do que democrático.

 

Ruptura 2

No plano social, a ruptura pode ocorrer a partir da revolta dos despossuídos contra a insensibilidade dos privilegiados, que somos todos nós, classe média-média para cima. É um cenário jamais conhecido no Brasil, salvo pequenas revoltas localizadas, muito marginais e ligados a problemas geralmente locais. Grandes crises nacionais raramente se traduziram em revolta das massas, e consequente repressão pelas forças de ordem. Talvez o Brasil não esteja imune a esta possibilidade.

 

Ruptura 3

No plano político, não existe na pauta do Congresso uma coalizão esclarecida em favor de reformas estruturais fundamentais, a não ser os remendos de ocasião, quando a pressão emerge da área econômica ou de algum estrangulamento externo. Esse descompromisso da classe política com algum programa de reformas modernizantes pode jogar o Brasil numa fase de ainda maior fragilidade política, o que representa uma porta aberta para novos demagogos e populistas, tanto de esquerda, quanto de direita. A consequência será uma possível quebra de legalidade, e a necessidade de introdução de mecanismos “corretores” estabelecidos ad hoc, sob a pressão do momento, não como resultado de algum consenso estabelecido entre as elites. Estas são muito medíocres e pobremente equipadas intelectualmente para definir e implementar um plano consensual de reformas progressivas.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 31 de março de 2020


O Brasil isolado do mundo - Paulo Roberto de Almeida

O Brasil isolado do mundo

 

Paulo Roberto de Almeida

A atitude do governo brasileiro, no mais alto escalão do executivo – que se reduz ao chefe do Estado e a um extremamente reduzido círculo íntimo –, assim como no plano de sua postura internacional, tem revelado um inacreditável isolamento em relação a certo consenso mundial em torno das melhores formas de se reduzir o impacto de calamidades naturais. Tal atitude irresponsável não vem de agora, vinculado especialmente ao fenômeno do Covid-19, mas já se manifestava desde o início do atual governo, em relação a meio ambiente, por exemplo, mas também aos direitos de minorias, assim como aos direitos humanos de maneira geral. O governo Bolsonaro se coloca voluntariamente na contramão de tendências globais, inclusive demonstradas agora no caso daquele a quem considera seu principal aliado externo, e se refugia num pequeno círculo de ideólogos supostamente antiglobalistas que só conseguem expressar preconceitos e ignorância, recusando os dados básicos da ciência e da pesquisa. Lamento profundamente o espetáculo de confusão que o Brasil oferece atualmente ao mundo."

Jamais, numa história de quase 200 anos, o Brasil e sua diplomacia tinham assistido a tal grau de isolamento internacional, jogando as elites dirigentes num descrédito nunca antes igualado, mesmo nas piores crises econômicas ou graves violações de direitos humanos, que invariavelmente atingiram populações autóctones, o povo mais pobre, crianças de rua, etc. Não creio que existam precedentes para a atual esquizofrenia de alguns membros dos círculos do poder.

 

Paulo Roberto de Almeida, embaixador, atualmente lotado na Divisão de Comunicação e Arquivo do Itamaraty, professor no Uniceub.

 


Brasília, 31 de março de 2020

 

segunda-feira, 30 de março de 2020

Os previsíveis imprevisíveis - Jeffrey Frankel, Harvard Belfer Center

 ANALYSIS & OPINIONS Project Syndicate

Foreseeable Unforeseeables

Mar. 27, 2020
Events like the COVID-19 pandemic, the US housing market crash of 2007-2009, and the terrorist attacks of September 11, 2001, are often called “black swans.” The term is meant to suggest that no one could have seen them coming. But these episodes each involved known unknowns, rather than what former US Secretary of Defense Donald Rumsfeld famously called “unknown unknowns.”
After all, in each case, knowledgeable analysts were aware not only that such a thing could happen, but also that it was likely to happen eventually. Although the precise nature and timing of these events were not predictable with high probability, the severity of the consequences was. Had policymakers considered the risks and taken more preventive steps in advance, they might have averted or mitigated disaster.
In the case of COVID-19, epidemiologists and other health experts have been warning about the danger of a viral pandemic for decades, including as recently as last year. But that has not stopped US President Donald Trump from claiming that the crisis was “unforeseen,” that it is an issue that “nobody ever thought would be a problem.” Likewise, after the attacks of September 11, 2001, President George W. Bush wrongly asserted that “There was nobody in our government, at least, and I don’t think the prior government that could envision flying airplanes into buildings on such a massive scale.”
In light of such statements, it is tempting to attribute these disasters solely to executive incompetence. But human error at the top is too facile to be a complete explanation, considering that the general public and financial markets have also often been caught by surprise. Stock markets had reached historic highs just before the 2008 financial crisis, and again before the latest crash that began in late February. In both cases, there were plenty of foreseeable tail risks that should have militated against irrational exuberance.
On these occasions, investors were not just following overly optimistic baseline forecasts. Rather, they saw essentially no risks at all. The VIX – a measure of perceived financial-market volatility (sometimes known as the “fear index”) – was near record lows in advance of both 2007-2009 and 2020.
Several factors help to explain why extreme events so often catch us by surprise. First, even technical experts can miss the big picture if they do not cast their net wide enough when analyzing the data. They sometimes look only at recent data sets, assuming that in a fast-changing world, events from 100 years ago are irrelevant. Americans often come with an additional set of blinders: an excessive focus on the United States. Giving little mind to the rest of the world is one of the perils of American exceptionalism.
​In 2006, for example, the finance whizzes who priced US mortgage-backed securities relied primarily on the recent history of US housing prices, effectively operating under the rule that housing prices never fall in nominal terms. But that rule merely reflected the fact that the analysts themselves had never witnessed housing prices falling in nominal terms simultaneously. Housing prices had indeed fallen in the US in the 1930s, and in Japan as recently as the 1990s. But those episodes did not coincide with the lived experience of US-based financial analysts.
If those analysts had only consulted a broader data set, their statistical estimates would have allowed for the probability that housing prices would eventually fall and that mortgage-backed securities would therefore crash. Financial analysts who limit their data to their own country and time period are like nineteenth-century British philosophers who concluded by induction from personal observation that all swans are white. They had never been to Australia, where black swans had been discovered in a previous century, nor had they consulted an ornithologist.
Moreover, even when experts get it right, political leaders often don’t listen. Here, the problem is that political systems tend not to respond to warnings that estimate the risk of some disaster at a seemingly low figure like 5% per year, even when the predictable costs of ignoring such probabilities are massive. The experts who had warned of a serious pandemic got the risk assessment right. So, too, did Bill Gates and many other astute observers working in sectors as far afield as public health and the movie business. But the US federal government was not prepared.
Worse, in 2018, the Trump administration eliminated the National Security Council unit that had been created by President Barack Obama to deal with the risk of pandemics; and it has regularly tried to slash the budgets of the Centers for Disease Control and Prevention and other public-health agencies. It is little wonder that America’s handling of the pandemic – the lack of testing and the dangerous shortage of critical-care equipment and facilities – has fallen so far short of other advanced economies, not least Singapore and South Korea.
But, in addition to reducing America’s capacity to respond to pandemics, the White House simply had no plan, nor recognized that it would need one, even after it had become obvious that the coronavirus outbreak in China would spread globally. Instead, the administration dithered and diverted blame, failed to ramp up testing, and thereby kept the number of confirmed cases artificially low, perhaps to support stock prices.
As for Trump’s claim that “Nobody has ever seen anything like this before,” one need only look back four years to the deadly Ebola outbreak that killed 11,000 people. But they were far away, in West Africa. The 1918-19 influenza pandemic killed 675,000 Americans (along with some 50 million worldwide), but that was 100 years ago.
Apparently, our political leaders are impressed only when a disaster has killed a large number of citizens within their own country and within living memory. If you have never seen a black swan with your own eyes, they must not exist.
The world is now learning about pandemics the hard way. Let us hope that the price in lives is not too high – and that the right lessons are learned.

Jeffrey Frankel

  • James W. Harpel Professor of Capital Formation and Growth
  • Member of the Board, Belfer Center
For more information on this publication: Belfer Communications Office
For Academic Citation: Frankel, Jeffrey.“Foreseeable Unforeseeables.” Project Syndicate, March 27, 2020.

O momento exige união, disse comandante do Exército - Ricardo Bergamini

“O momento exige união, organização e especial cuidado com nossa saúde e a daqueles que nos cercam”, afirmou o comandante. “O braço forte atuará se for necessário, e a mão amiga estará estendida mais do que nunca a nossos irmãos brasileiros”, seguiu Pujol, fazendo referência ao lema da caserna.

Ricardo Bergamini: 
Prezado Senhores

Com as palavras acima do comando do Exército, eu me orgulho do nosso Exército e de ser brasileiro.

Estou radiante de felicidades com as palavras maduras e sábias do comandante do Exército Geral Edson Leal Pujol sobre o comportamento irresponsável do presidente da república em fazer oposição ao seu próprio governo. Acredito que na história da humanidade nunca se viu algo tão irracional, estúpido e idiota.

Ninguém está contra ao direito sagrado e legitimo de qualquer pessoa se manifestar sobre tudo no Brasil, nunca esquecendo que: “somente os ignorantes têm opinião formada sobre tudo”. 

Em vista do acima exposto, cabe ao presidente da república tomar as medidas necessárias para colocar a sua tese em prática, e assumir a responsabilidade do seu ato, mas não desmoralizar os seus ministros, e consequentemente o seu governo. 

Comunico aos aliados do Bolsonaro que se ele estiver provocando uma convulsão social para justificar a implantação de uma ditadura no Brasil, o comando será de um general de quatro estrelas da ativa do Exército. 

Passado tenebroso de Bolsonaro: em 27 de outubro de 1987, Jair Bolsonaro informou à repórter Cássia Maria, da revista Veja, sobre a operação "Beco Sem Saída". Na época, Bolsonaro apoiava a melhoria do soldo e era contra a prisão do capitão Saldon Pereira Filho. A operação teria como objetivo explodir bombas de baixa potência em banheiros da Vila Militar, da Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende, e em alguns outros quartéis militares com o objetivo de protestar contra o baixo salário que os militares recebiam na época.

O trabalho silencioso do Exército para aplacar a crise do coronavírus


Nessa guerra de Bolsonaro com governadores, o Exército decidiu atuar como força silenciosa de estabilização. Enquanto o presidente cria intrigas, as tropas começaram a atuar de maneira silenciosa no front. Em todos os estados, sem discriminar inimigos do presidente.

A caserna, aliás, anda incomodada com o jogo político na gerência da crise. Consideram que o momento não é de briga, dizem que a maneira de falar de Bolsonaro desagrega e que não há espaço para confrontos.

Na terça-feira passada, dia em que o presidente atacou as ações da OMS contra o vírus, o comandante do Exército, Edson Leal Pujol, divulgou um contundente pronunciamento classificando a guerra ao coronavírus de “a missão mais importante de nossa geração”.

“O momento exige união, organização e especial cuidado com nossa saúde e a daqueles que nos cercam”, afirmou o comandante. “O braço forte atuará se for necessário, e a mão amiga estará estendida mais do que nunca a nossos irmãos brasileiros”, seguiu Pujol, fazendo referência ao lema da caserna.

O Radar já mostrou que as Forças Armadas adotaram medidas contra a crise. Para blindar a tropa de contaminação, os militares estão revezando equipes entre o trabalho  interno e externo. Até esta semana, eram menos de dez os militares e familiares isolados por coronavírus na tropa. 

Com Agências | noticias veja

Ricardo Bergamini

Entrevista do chanceler sobre a Covid-19 - Fernando Rodrigues, SBT, Poder 360


Liderança de combate à covid-19 é de países, não da OMS, diz Ernesto Araújo

Isolamento total é draconiano
Não há conflitos com a China
Ministro foi ao Poder em Foco
Poder em Foco com Fernando Rodrigues em parceria editorial do Poder 360 com o SBT, entrevista ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araujo. Sérgio Lima/Poder360 17.dez.2019

30.mar.2020 (segunda-feira) - 0h01
atualizado: 30.mar.2020 (segunda-feira) - 7h46
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Henrique Fraga Araújo, 52 anos, diz ser contra a liderança da OMS (Organização Mundial da Saúde) no combate à pandemia da covid-19 –doença causada pelo novo coronavírus.
Para o chanceler, apesar de a propagação da doença ter se estabelecido como uma crise global, “isso não significa necessariamente que a solução tenha que ser única”. O ministro defende a liderança dos países. Considera que deve ser levada em conta a especificidade demográfica e econômica de cada nação.
“A liderança disso [do combate à covid-19] tem que ser dos países, pois cada governo nacional sabe qual é a sua situação e pode avaliar, sobretudo países que têm a capacidade de ação, como nós temos, que têm serviços de saúde, que têm ao mesmo tempo uma economia com as características que a gente tem”, defende Ernesto Araújo em entrevista ao jornalista Fernando Rodrigues, apresentador do programa Poder em Foco, uma parceria editorial do SBT com o jornal digital Poder360.
“Acho importante que as pessoas vejam a OMS como algo que facilita a coordenação entre os países”, diz. Para ele, o  organismo mundial não tem condições de impor políticas globais para todos os seus membros.
Assista à entrevista gravada em 27 de março de 2020 (47min01s):
O ministro defende que os órgãos internacionais atuem somente como 1 espaço para que as nações se coordenem, compartilhem estudos e facilitem a resolução dos problemas com novas ideias. No entanto, essas entidades multilaterais não devem se “sobrepor aos países”.
“Em qualquer ramo, 1 organismo internacional [que venha a] se sobrepor aos países, aos governos nacionais, que sabem o que eles precisam, não é a melhor prática. Respeitamos muito a OMS, mas talvez parte desse problema seja oriundo dessa percepção de que aquilo que a OMS diz tenha que ser uma regra mundial”, afirma.
Ernesto Araújo afirma que a OMS é uma “organização importantíssima” e está cumprindo seu papel de “chamar a atenção para o tema”, divulgando informações relevantes diariamente. Porém, segundo ele, a entidade deve ser vista como “1 intercâmbio de ideias sobre o que os países estão fazendo” e não 1 órgão que centraliza as medidas que devem ser adotadas no mundo.
“É claro que essas organizações têm prestígio, mas esse prestígio não deve levar [ao pensamento de] que se tenha essa obrigação de se ter políticas mundiais. Acho que está claro isso, [quando se percebe] que os grandes países no mundo estão com políticas diferentes. Alguns fecharam logo as fronteiras, outros não. A própria OMS, se eu não me engano, era contra [ao fechamento das fronteiras]”, diz.

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Na entrevista, o chanceler também fala sobre como o governo se posicionou em reunião do G20 –grupo das 20 maiores economias do mundo– e como as medidas adotadas pelos países em relação ao coronavírus podem servir de exemplo ao Brasil.
Segundo Ernesto Araújo, além do Brasil, apenas 6 dos 20 países do grupo adotaram o isolamento horizontal (para toda a população). O presidente Jair Bolsonaro é contrário à medida, que foi implementada pelos governos estaduais, e defende o isolamento vertical (somente para os grupos de risco).
Ao tratar sobre o processo de repatriação dos brasileiros, o ministro afirma que até o momento houve 14.000 pedidos de assistência para retorno ao país. Já foram atendidos 7.000.
O chanceler comentou as declarações do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que culpou a China pela pandemia da covid-19. Segundo ele, a declaração do filho do presidente “não é a opinião do governo”. Indagado sobre se os chineses teriam demorado em informar ao mundo sobre a doença, o ministro disse que não adianta olhar para trás, pois o momento agora é “de evitar o colapso econômico” e se concentrar no combate ao novo coronavírus.
Ernesto Araújo afirma que a aproximação de Bolsonaro do governo dos Estados Unidos não afeta as relações comerciais com o país asiático. “Nossa aproximação dos Estados Unidos, que tem sido muito intensa e produtiva, não significa problema ou afastamento da China”, diz.
O ministro descreve ainda como é sua relação com Olavo de Carvalho e a influência que o escritor conservador brasileiro radicado nos EUA tem sobre a política externa do país. A respeito de Nicolás Maduro, afirma que o governo venezuelano tem “simbiose com o narcotráfico”.

SÓ 6 DOS 20 PAÍSES ESTÃO EM ISOLAMENTO

Ernesto Araújo diz que, além do Brasil, apenas 6 países do G20 fazem isolamento horizontal (confinamento de toda a população para conter a propagação do coronavírus): África do Sul, Argentina, Itália, Espanha, Índia e França. Os Estados Unidos e a Alemanha têm quarentena total em alguns Estados. Para o chanceler, a adoção da medida “depende da realidade de cada país”.
“Cada país sabe o que é melhor para a sua população de acordo com sua estrutura demográfica e econômica”, defende.
Ao se posicionar contra o isolamento integral no Brasil, o ministro diz que o confinamento promovido em alguns países europeus não deve ter 1 impacto econômico tão grande quanto pode haver ao realizado no Brasil em 1 mesmo período.
“Alguns países europeus em confinamento integral têm a população com a estrutura etária bem mais idosa e com todo tipo de mecanismos sociais. São países que praticamente não têm uma economia informal. Então, uma pessoa [desses países] ficar em casa 1 ou 2 meses recebendo algum tipo de subsídio é uma coisa. Outra coisa é no Brasil, com a quantidade de pessoas que são autônomas e que dependem de estar na rua, de haver uma circulação de pessoas para conseguir desempenhar sua função e conseguir renda”, argumenta.
Depois da gravação da entrevista, o ministro conversou por telefone com o Ministro de Relações Exteriores do Reino Unido, Dominic Raab, que confirmou que também adotou o isolamento compulsório total. Com isso, 7 países do G20, além do Brasil, adotam o isolamento horizontal. São eles: África do Sul, Argentina, Itália, Espanha (não faz parte do G20, mas é convidada para as reuniões do grupo), Índia, França e Reino Unido.

ISOLAMENTO TOTAL É DRACONIANO

Ernesto Araújo rebate críticas à estratégia defendida por Bolsonaro de isolar somente as pessoas que estão no grupo de risco (idosos, diabéticos, hipertensos e quem tem insuficiência cardíaca, renal ou doença respiratória crônica) da covid-19.
O posicionamento do presidente foi manifestado em pronunciamento em rede nacional de rádio e TV na última 3ª feira (24.mar.2020). Ao menos 13 governadores criticaram e lamentaram a fala do chefe do Executivo.
Para o ministro, o isolamento integral, adotado nos Estados por determinação dos governadores, é uma medida draconiana.
“De repente, começou-se a achar que todos os países começaram a determinar a quarentena integral e só o Brasil e só o presidente Jair Bolsonaro que quer uma solução diferente. Não é. A maioria dos países, dentro do G20, pelo menos, estão implementando outro tipo de medida que não essa medida tão draconiana, que digamos [que seja] a quarentena integral”, diz.
Segundo o ministro, a proposta de fazer com que a população deixe o isolamento horizontal e seja implementado o confinamento só para os mais vulneráveis à doença ainda está em estudo. “Há 1 esforço de todo o governo. Estamos fazendo 1 esforço de coordenação diária, várias reuniões por dia. Isso [o fim do isolamento horizontal] tem que ser visto”, afirma.
Na última semana, o governo lançou nas redes sociais vídeo com o slogan “O Brasil não pode parar”. O comercial reforça mensagens pregadas nos últimos dias pelo presidente Jair Bolsonaro, que critica a paralisia da economia em nome do isolamento social para prevenção à covid-19.
A Justiça mandou o Planalto suspender a campanha porque a medida propagada pelo presidente “pode violar os princípios da precaução e da prevenção”, impactando e colocando em risco “os grupos vulneráveis, notadamente os idosos e pobres”.
O governo contratou por R$ 4,8 milhões a agência iComunicação para cuidar de serviços digitais. A contratação foi classificada como “emergencial” e realizada sem licitação.
Em nota, o governo negou que a campanha fosse oficial, embora o site do próprio Planalto tenha divulgado (e depois apagado) o slogan.

domingo, 29 de março de 2020

Depois da cronologia, vem novidades pela frente... - Paulo Roberto de Almeida

Vou partir daqui, postagem que fiz há pouco: 
https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/03/uma-cronologia-diplomatica-paulo.html

Vamos ter novidades na sequência...



segunda-feira, 4 de março de 2019


Nota sobre minha exoneração como diretor do IPRI - Paulo Roberto de Almeida


Nota sobre minha exoneração como diretor do IPRI

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: esclarecimento público; finalidade: informação preliminar] 

Durante os treze anos e meio do regime lulopetista, do início de 2003 até o impeachment de meados de 2016, permaneci à margem de qualquer cargo na Secretaria de Estado, por motivos que podem ser facilmente detectáveis por todos aqueles que acompanham meus escritos e minha atividade intelectual: nunca escondi minha postura em face de uma diplomacia que eu considerava, em termos objetivos, inadequada aos interesses do Brasil. Reflexos dessa grande travessia do deserto, um ostracismo até irregular no plano administrativo, apareceram em meu livro de 2014: Nunca antes na diplomacia...: a política externa brasileira em tempos não convencionais (Appris). 
Resgatado de um exílio totalmente involuntário, que durou o dobro de meu exílio voluntário durante o regime militar, assumi, em agosto de 2016, o cargo de diretor do IPRI, Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, e tudo o que fiz nestes dois anos e meio pode ser visto em meu blog Diplomatizzando (relatório e programa de trabalho: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/relatorio-de-atividades-do-diretor-do.html). Aparentemente, esse mesmo blog, que me serviu como quilombo de resistência intelectual durante os anos do lulopetismo diplomático, abriu a justificativa, agora, para minha exoneração, pelo fato de ter postado artigos críticos à política externa atual – do ex-ministro Rubens Ricupero, e ex-chanceler e ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – juntamente com um artigo do próprio chanceler atual, e convidando a um debate sobre a diplomacia corrente. Adicionalmente, meu blog trouxe críticas a uma personalidade bizarra do momento político brasileiro, totalmente inepta em matéria de relações internacionais, mas ao que parece grande eleitor nas circunstâncias atuais.
Voltarei a fazer da Biblioteca do Itamaraty o meu escritório de trabalho, como foi o caso durante os longos anos de ostracismo sob o lulopetismo. Aproveito para anunciar meu próximo livro: Contra a Corrente: ensaios contrarianistas sobre as relações internacionais do Brasil, 2014-2018 (Appris). A vida continua...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4 de março de 2019


Aproveito para informar que depois do Contra a Corrente publiquei diversos outros livros.
Para um relatório completo sobre minhas atividades nos dois anos e meio em que me tive prazer em servir como diretor do IPRI, vejam aqui: