domingo, 30 de abril de 2023

Política externa e diplomacia brasileira: entrevista com Marcos Rolim, do Tribunal de Contas do RS - Paulo Roberto de Almeida

 Percorrendo ao acaso meus registros de trabalhos sobre determinados temas, deparei-me com uma ficha sobre uma entrevista concedida quase quatro anos atrás, sobre os desastres da diplomacia bolsolavista, e acabei assistindo novamente à emissão, concedida a um funcionário do TCE-RS sobre diferentes temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira. Há um texto preparado com base num roteiro de questões previamente submetidas, e há a emissão propriamente dita, neste link: https://www.youtube.com/watch?v=ArHDFztC7Ng


3756. “Política externa e diplomacia brasileira: notas para uma entrevista”, Brasília, 17 setembro 2020, 7 p. Respostas a questões colocadas por Marcos Rolim, professor e funcionário do Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul, com gravação em 18/09/2020 por via de ferramenta de comunicação. Divulgado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/44111524/3756_Politica_externa_e_diplomacia_brasileira_notas_para_uma_entrevista_2020_) e no blog Diplomatizzando (18/09/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/politica-externa-e-diplomacia.html). Transmitido no programa Atitude TCE Entrevista da TV Assembleia do RS (21/09/2020; (link: https://www.youtube.com/watch?v=ArHDFztC7Ng&feature=youtu.be e link: https://www.youtube.com/watch?v=ArHDFztC7Ng&t=2s). Relação de Publicados n. 1467. 

 

sábado, 29 de abril de 2023

Guillermo Piernes sobre as formas desejáveis de morrer

 Como gostaria morrer 

Por Guillermo Piernes **

Careço da experiência de morrer, pelo menos conscientemente. Tal vez já morri e renasci mil vezes e fui pássaro, flor, peixe ou rinoceronte, grão de arroz.

É uma discussão na qual a Humanidade se embrenhou desde sempre, sem uma resposta definitiva aceita pela maioria.

Como conscientemente tenho certeza que algum dia vou morrer, decidi enumerar cinco formas que preferiria morrer. Faço a resalva que está longe de mim à escolha. É com Deus, Deuses, Universo, Destino, Natureza, outro tema em que a Humanidade nunca chegou a lograr unanimidade.

Sim, poderia me suicidar. Essa forma não está entre minhas prioridades. Não gosto de matar pessoas, animais, plantas, e muito menos matar um ser com que tive de conviver desde o útero materno ate o momento de escrever estas linhas, eu mesmo. Foram muitos anos, porem esse relacionamento, com graves crises e enormes alegrias, não é o tema central desta crônica.

Nesta vida, inspirado pelas leituras e o exemplo do meu pai, tentei ser um cavalheiro com coragem, lealdade e cortesia. Lógico que em várias ocasiões falhei. Sou humano, e por essa condição humana, vou morrer. Se fosse pedra duraria mais e tal vez livraria leitores desta minha crônica final.

Desde que venci na corrida pela minha vida, onde participaram uns oito milhões de espermatozoides e todos morreram, passei a não temer a Morte. Eu consegui chegar ao cobiçado óvulo para iniciar a longa jornada que me levou até hoje e devo confessar que essa foi uma oportunidade gigantesca para a glamourosamente desenhada Dama de Negro, de acabar comigo.

Dou fé que estive três vezes a um passo que acabasse esta minha vida - a vida de agora mesmo - , e acredito que até tenho certa simpatia da Morte que já mostrou que não me quer me pegar antes da hora. E olha que foram oportunidades excelentes, sem contar as que eu não percebi.

A primeira foi ao nascer numa época de baixa tecnologia na medicina, num parto totalmente desfavorável para a criança. Já tinha sido condenado para preservar a vida da mãe, porem uma quase milagrosa intervenção - ou sem esse quase - permitiu meu nascimento. Dessa experiência nada lembro, apenas os emocionados relatos maternos sobre o episódio.

A segunda foi na adolescência, quando era um atleta e sofri uma intervenção cirúrgica para extrair amígdalas. Tive uma hemorragia ao voltar a minha casa. Fui levado às presas, desmaiado, ao hospital. Cauterizaram e me mandaram de volta a casa. Nova hemorragia e nova corrida, agora semiacordado para a UTI. Ouvi os dois médicos xingando, quase histéricos, por receber um jovem semimorto por uma serie de erros. 

Pareceu-me enxergar uma ponte muito iluminada que saia da sala e senti quase levitar na sua direção. Não senti nada de medo apenas pensei que pouco tinha vivido para ir à outra dimensão. Antes de chegar nessa ponte de luz tão forte, acordei. Vi um médico inclinado sobre mim que acariciou meus cabelos e me disse: "menino você vai ficar bem logo, mas foi por muito pouco. Teu coração foi incrível".

Esse coração me colocou também em situações altamente complicadas após esse incidente, porem não vem ao caso relatar esses episódios nem criticar esse coração apaixonado, como permanente reconhecimento do seu trabalho em prol da minha longa vida.

A terceira foi quando eu dirigia sozinho numa estrada em alta velocidade. Meu carro derrapou ao atravessar uma grande poça de água e bateu na proteção que divide as faixas da rodovia. O veiculo voou e deu quatro voltas completas no ar. Grudado ao volante vi tudo em câmara super lenta, magicamente lenta.

Com o carro girando no ar pedi também lentamente: "Deus me ajude", confirmando no pedido minha resignação e impotência como simples mortal, certo que não sobreviveria o impacto no inevitável contato com o asfalto. Tudo indica que fui ouvido. Tiraram-me do carro totalmente destruído, salvo o lugar do piloto. Apenas um golpe leve na coxa foi constatado nos múltiplos exames realizados no hospital. No dia seguinte, segui viagem, de ônibus.

Para evitar que um leitor irritado pelo ritmo da crônica, nestes tempos de tanta brutalidade, ignorância e tecnologia para matar, o faça, vou rapidamente listar minhas formas preferidas para dar um fim a esta vida. Antes preservo o meu direito de esperar renascer muitas vezes e de viver muito mais e bem na que ainda tenho.

As minhas preferencias são as seguintes:

Sem dor, nos braços de um ser amado.

Rápido, bebendo um vinho e ouvindo boa música.

Fulminante, sonhando com meus seres queridos.

Por um raio, na praia, encantado pelo ondas do mar.

Depois de olhar as estrelas e agradecer pelo vivido.

** Guillermo Piernes é ou foi escritor, jornalista e diplomata

* Pintura de Ana Helena Reis, talentosa escritora. Ver Pincel de Crônicas

- Texto entre os 300 textos do site-  gratuito não comercial - guillermopiernes.com.br

============

PRA: Aprovo totalmente as opções, que não são exatamente nossa escolha, a partir de certa fase declinante das forças pessoais. Ainda não listei as minhas oportunidades anteriores de morrer, uma delas talvez coincidente com a resistência à ditadura milirar (daí o autoexílio), outras provavelmente decorrentes de durigir rapidamente em viagens de muita quilometragem. Uma delas foi abortada pela minha mulher, Carmen Lícia Palazzo, muito mais sensata do que eu: atravessar o Atacama em carro normal. Fora isso, preciso descobrir as outras janelas de “oportunidades” a que escapei. Mas gostei do texto, o que inspira a fazer um “planejamento” (esse resquício de socialismo) para os amos que me restam. 


La France au Brésil - Blog Gallica, Bibliothèque Nationale de France

 La France au Brésil

0
19 OCTOBRE 2016

Le Blog Gallica

La Bibliothèque numérique
de la BnF et de ses partenaires

De nouvelles pages "Collections" consacrées à la France au Brésil sont disponibles dans Gallica. Elles présentent certains épisodes majeurs d’une histoire partagée qui, depuis l’arrivée de Villegagnon dans la baie de Rio de Janeiro en 1555, s’est nourrie de récits évocateurs.

En 2009, dans le cadre de "L’Année de la France au Brésil", la Bibliothèque nationale de France et la Biblioteca Nacional du Brésil ont conçu en partenariat un portail numérique intitulé "La France au Brésil". Destiné à valoriser un ensemble de documents représentatifs de l’histoire des relations entre les deux pays du XVIe siècle à nos jours, ce site renouait les fils d’une histoire singulière, riche de contacts et d’échanges. C’est dans la continuité de ce projet que Gallica ouvre aujourd’hui de nouvelles pages thématiques : imprimés, manuscrits, cartes, dessins et photographies sélectionnés dans les collections numériques attestent la présence réelle de la France au Brésil, mais aussi son étonnante fortune symbolique.

atlas_nautique_du_monde_dit_.homem_lopo_btv1b55002607s.jpeg
Atlas nautique du Monde, dit atlas Miller. Homem, Lopo, 1519

Si, à l’avenir, le corpus "France-brésil" est encore destiné à s’étoffer, en particulier de documents audiovisuels, il a d’ores et déjà pu être considérablement enrichi grâce à une convention entre la BnF et la Bibliothèque Sainte-Geneviève, qui a permis de numériser et de verser dans Gallica plus de 340 documents issus du fonds Ferdinand Denis, classé au Patrimoine culturel de l’humanité par l’Unesco en 2012. Ferdinand Denis (1838-1885), qui fit toute sa carrière à la Bibliothèque Sainte-Geneviève, consacra en effet au Brésil une dizaine d’ouvrages et devint une figure tutélaire des études brésiliennes en France.

voyage_pittoresque_et_historique_au_.debret_jean-baptiste_btv1b85530100.jpeg
Femmes Cabocles, blanchisseuses à Rio-Janeiro. Voyage pittoresque et historique au Brésil, ou Séjour d’un artiste français au Brésil, depuis 1816 jusqu’en 1831 inclusivement, par J.-B. Debret. Paris, Firmin-Didot, 1834-1839

Vous souhaitez en apprendre davantage sur le thème ? À l’occasion du bicentenaire des voyages de Denis et Saint-Hilaire, une rencontre internationale est programmée les 25 et 26 novembre prochains, à la Bibliothèque nationale de France et à la Maison de l’Amérique Latine : "Le moment 1816 des sciences et des arts : regards croisés franco-brésiliens". Parallèlement, la Maison de l’Amérique Latine présente, du 20 octobre au 20 décembre 2016, une exposition intitulée "L’atelier tropical".

Régine Piersanti, Chargée de collections en langue et littératures d’expression portugaise

Kremlin Instability - Nadin Brzezinski (Medium)

Pressões dos ultranacionalistas russos para o aumento da repressão aos dissidentes, e adoção de práticas stalinistas do passado totalitário, são os assuntos tratados nesta matéria, que também se detém sobre eventual doença do tirano de Moscou e do presidente atual da Turquia. Ou seja, mais instabilidade não apenas no Kremlin, mas na região como um todo.

Russian Editorial Cartoon via Telegram

This one crossed this morning from the Institute for the Study of War. They have also noticed the same thing I have. There are signals that instability in the Kremlin is increasing. I will quote them directly instead of the noise via Ukrainian channels because it’s significant. It also matches my observations:

Russian ultranationalists are continuing to advocate for the Kremlin to adopt Stalinist repression measures. Russian State Duma Parliamentarian Andrey Gurulyov — a prominent Russian ultranationalist figure within the ruling United Russia Party — stated that Russia needs to reintroduce the concept of the “enemy of the people.”[10] This concept designated all the late Soviet leader Joseph Stalin’s opposition figures as the enemies of society. Gurulyov frequently shares extreme opinions on Russian state television but the rhetoric among the ultranationalists is increasingly emphasizing the need for the targeting and elimination of Russia’s internal enemies. Former Russian officer Igor Girkin and Wagner Group financier Yevgeny Prigozhin often echo similar calls to prosecute Russian officials who are hoping to end the war via negotiations with the West. Such attitudes indicate that the ultranationalist communities are expecting Russian President Vladimir Putin to expand repression and fully commit to the war.

The Kremlin continues to avoid adopting overtly repressive measures likely out of concern for the stability of Putin’s regime. The Russian government withdrew a bill from the Russian State Duma that would have increased taxes from 13 to 30 percent for Russians who have fled the country.[11] Russian ultranationalists have repeatedly called on the Kremlin to nationalize property belonging to Russians who had “betrayed” the country by fleeing, but the Kremlin appears to remain hesitant to introduce such unpopular measures. Unnamed sources told Russian independent outlet Verska that the Russian presidential administration does not support the return of capital punishments in Russia — another issue that recently reemerged in Russian policy discussions.[12] The Kremlin could use the threat of the death penalty to scare Russians into supporting the war effort (or remaining passively resistant to it), but Putin likely remains hesitant to destroy his image as a diplomatic and tolerant tsar. ISW previously assessed that Putin relies on controlling the information space to safeguard his regime much more than the kind of massive oppression apparatus of the Soviet Union and that Putin has never rebuilt an internal repression apparatus equivalent to the KGB, Interior Ministry forces, and the Red Army.[13]

Realize we are all watching the same channels, I suspect. So we see the same demands for SMERSH and other repressive techniques. This also points to the next point. We seem to be shaping operations before the offensive begins. We have explosions inside Crimea and Russia, near the border regions.

One of our Z Channels is nice to tell us this…and no, there is no precise confirmation of this, except the explosions at this point, for example, on Rostov-on-Don, and Nikolaev on the Ukrainian side.

There is an unprecedented movement on the border in Belgorod and Kursk regions. Drones fly swarms in both directions. The equipment is here, they drag everything and everything. Both ours and the enemy. The Nazis pulled technical means to the border. Our air reconnaissance is being tinguished. We lost a few Maviks this week. But we also do not lag behind, today not without a catch — the Khokhla has minus two drones. Active movement and arrival of new equipment were noticed in Zolochev.

We are seeing those over other channels.

Now on a larger piece, apparently, Vladimir Putin was driven to the Kremlin overnight. There is a lot of speculation as to why. So here are two versions. I will add a third; the front is starting to heat up with shaping operations:

Putin’s cortege raced unscheduledly in the evening towards the Kremlin. The media are building versions of the president’s emergency visit to the workplace: from Erdogan’s disease to confiscation of assets in Poland.

There were rumors that President Recep Tayyip Erdoğan had a heart attack. This is now getting disputed. But what is true is that meetings were indeed canceled.

And a change at the top of the leadership in Turkey will prove democracy works. This is dangerous for Russia. While many have given up on Turkish democracy, perhaps this is too early.

Now, this brings me to General SVR. This is why I suspect they are putting out code for somebody. No, nobody survives pancreatic cancer this long. So if this is what ails Putin, he must donate his body to science.

But I digress.

Every time things go badly for the regime, his cancer issues…this week colon, last week pancreas…whatever, it’s oncology, get worse. His case gets nearly out of control, and boy doubles start to become a thing. The medicine starts to work…being a former medic, hardly a specialist; this smells of creative writing.

Are there doubles? Probably. It’s not unusual for authoritarian leaders to have some. But the story that he is dying from a fast-killing cancer is back again. At this point, I tend to interpret that part of the story as code to the regime's stability. This is one reason I read the channel.

And occasionally, they put out something that does turn out to be right. Should you rely on them, for Putin will die tomorrow? Nope. And if you do, the British Press adds nice embellishments to these stories. Assume there is no cancer. Hell, there is not a cold. What there is, well, paranoia. And as we start to get closer to the end of this, if the Ukrainian offensive goes well, here is why this started, according to MO:

Last drops for Putin. Six personal motives of the dictator that led to the war with Ukraine

Vladimir Putin decided to start a war a year before the invasion, in February-March 2021, Nyurstka found out after talking with sources in the Russian and Ukrainian authorities. Moreover, he was guided, among other things, by personal motives — resentment and the desire to take revenge. Sources told what exactly overwhelmed his “cup of patience”:

💧2004 Orange Revolution
Putin’s attitude towards Ukraine deteriorated along with relations with the West. A major blow to Putin was the 2004 Orange Revolution, which he sees as the work of the United States.
💧Dangerous Philosophy
In 2012, Putin began to spend a lot of time reading ultra-conservative books. His “mentor” was the White Guard philosopher Ivan Ilyin. Modern nationalists also began to influence Putin more.
💧Maidan and the flight of Yanukovych
“Putin said: guys, this is our last chance, there won’t be another chance like this, I take responsibility,” said a close acquaintance of the decision of the owner of the Kremlin to seize Crimea.
💧The impracticability of the Minsk agreements
Putin seriously hoped to outwit the Ukrainian authorities with the help of the Minsk agreements and personally participated in their writing. But he failed in the end to push through either Poroshenko or Zelensky.
💧The closure of Medvedchuk’s media assets
The fact that the Ukrainian authorities began to “nightmare” Putin’s godfather Medvedchuk was the last straw in Putin’s decision to prepare for a military operation.
💧Quarantine in the bunker
During a long isolation, Yuriy Kovalchuk gained a particularly strong influence on his friend, convincing the president that power in Kyiv could be changed quickly and painlessly.

Putin is a typical psychopath, and losing control of himself, says American neuroscientist, professor at the University of California James Fallon. “Putin’s facial expressions also speak of Putin’s failures,” the American professor notes. He became more like a wild animal in a cage. But that only made him more dangerous.”

Some we have heard before, which brings me back to Turkey. If Erdogan loses, this will not be received well by Moscow. It will be another Orange revolution of sorts. I see the influence of the ultranationalist right as well. It is evident in how Putin speaks.

This war is making the regime unstable. A defeat could bring the country to the conditions of the early 1990s. The vertical of power, which also relies on patronage networks, will suffer. It could also go away. The pressure towards disolución is increasing.


O Brasil como um imenso Portugal - Paulo Roberto de Almeida (Crusoé)

 Home

Paulo Roberto de Almeida na Crusoé: O Brasil como um imenso Portugal
Reprodução

Paulo Roberto de Almeida na Crusoé: O Brasil como um imenso Portugal

Com a Revolução dos Cravos de 1974, brasileiros passaram a aspirar por democracia e por políticas progressistas dos dois lados do Atlântico

Muito tempo antes que Chico Buarque e Ruy Guerra, nos anos 1970 aventavam essa hipótese numa das mais bonitas canções (Fado Tropical) da época da ditadura brasileira, e quando Portugal se preparava para se libertar da sua longeva ditadura civil, dois “pais fundadores” da nação brasileira já tinham sugerido tal conformação no limiar da independência: em lugar de uma separação completa entre a metrópole lusitana e o então Reino Unido do Brasil, que as duas partes do reino configurassem um só Estado, com sede no Rio de Janeiro, no comando de um grande império marítimo transnacional. Com efeito, tanto Hipólito da Costa – o primeiro jornalista brasileiro independente –, quanto José Bonifácio – o primeiro membro brasileiro de um gabinete português sob a regência do príncipe D. Pedro –, concebiam, ainda poucos meses antes da separação, a continuidade de um só Estado monárquico constitucional, com a capital que abrigou a família real portuguesa quando esta teve de se resguardar da invasão napoleônica.

Em 1820-21, quando da revolução do Porto e das Cortes de Lisboa, o rei D. João VI teve de retornar relutantemente a Portugal; mas ele também mantinha essa ideia de que as duas partes do reino – e o Brasil já era bem mais rico do que Portugal – deveriam se manter juntas, para a maior glória da dinastia dos Braganças, em face de todas as outras monarquias europeias. Teria sido o primeiro reino “europeu” estabelecido numa possessão tropical, uma novidade absoluta na história europeia e mundial. Mas, como se sabe, as Cortes forçaram a separação, ao tentar fazer o Brasil retornar ao seu antigo estatuto colonial; daí o rompimento, contra o qual lutaram, enquanto puderam, tanto Bonifácio quanto Hipólito.

A separação não era inevitável, inclusive porque D. Pedro, ao assumir em outubro de 1822 como Imperador do Brasil, era o legítimo sucessor do pai no Reino de Portugal, e a ruptura, de fato e de direito, só se deu, para todos os efeitos jurídicos e diplomáticos, em 1825, com a intermediação da potência da época, a Grã-Bretanha. Mas cabe considerar também que suas elites econômicas, os grandes proprietários de terras, tinham todo interesse na separação, para poder controlar de forma soberana e completamente as atividades mais lucrativas da época: o tráfico de escravos, a exportação dos produtos locais e a importação dos bens necessários à manutenção e desenvolvimento da nova nação. Nesse intervalo, a jovem república do hemisfério norte, os Estados Unidos, já tinha reconhecido a independência, assim como o fizeram, mas de forma bizarra, os independentistas de Buenos Aires, que logo entraram em desavenças e em guerra contra o Brasil, por causa da Cisplatina, finalmente reconhecida como República Oriental do Uruguai, sob pressão inglesa, em 1828.

Durante quase dois séculos Portugal e Brasil se “desenvolveram” em separado, não fosse pelo…

Notícias Relacionadas


sexta-feira, 28 de abril de 2023

Previsões diplomáticas de Mãe Dinah para 2023 em diante (maio de 2022) - Paulo Roberto de Almeida

Exatamente UM ANO ATRÁS, eu era muito otimista quanto ao que seria a diplomacia lulopetista, pois imaginava que os companheiros, Lula em especial, teriam evoluído bem mais. Acho que era eu quem precisava de uma mãe Dinah.


Previsões diplomáticas de Mãe Dinah para 2023 em diante 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Respostas tentativas às perguntas de um jornalista.

Brasília, 4147: 4 maio 2022, 3 p.

 

 

1. Se Lula for eleito, qual é a chance de voltarmos a ter uma "diplomacia partidária" como nos dois mandatos de Lula? 

 

PRA: Não existe a menor chance de voltarmos à pirotecnia da diplomacia lulopetista dos anos 2003-2010, mas Lula tem de fazer alguma concessão para a sua tribo de true believers, alguns gestos para seus companheiros bolivarianos – já não tão vermelhos, mas apenas róseos, por dificuldades econômicas bem visíveis –, assim como para seus amigos cubanos, que também estão em situação calamitosa novamente, não tanto quanto no “período especial – pós implosão da URSS –, mas agora sem o mesmo volume dos petrodólares venezuelanos. O que haverá é uma composição de gestos de fachada progressistas, com sua esperteza habitual de se relacionar com todos os grandes do planeta. Ele tem boa aceitação internacional, mas terá de escolher um bom chanceler, que pode novamente ser algum diplomata alinhado com Celso Amorim – já que os companheiros não têm quadros qualificados nessa área, ou então será um político de algum dos partidos da ampla coalizão que ele pretende formar para governar. Mas não haverá mais, na pizza diplomática aquelas duas ou três fatias condimentadas com algum molho bolivariano ou cubano: será bem mais na linha do diplomatês tradicional

Isso na hipótese de que Lula consiga chegar lá, pois persistem ainda algumas dúvidas sobre o itinerário dos próximos meses. Se o Bozo continuar, vai continuar a confusão e a mediocridade. Se for algum da fantasmagórica 3ª via, o Itamaraty retorna com vários cicatrizes e golpes na sua autoestima.

 

2. Lula poderia se aproximar dos governantes bolivarianos, como Maduro, Daniel Ortega, Díaz-Canel e o boliviano Luis Arce Catacora? Já deu algum indício disso? 

 

PRA: Terá de fazer gestos simbólicos, mas é mais provável que queira se aproximar mais do chileno Gabriel Boric. Os bolivarianos não têm muito a oferecer ao Brasil, assim como não tinham antes; Lula e o PT, no período glorioso, não estavam atrás de ideologia, e sim de negócios rendosos. 

 

3. O sr. acha que Lula poderia modificar o Médicos pelo Brasil para reeditar o Mais Médicos, em que os cubanos ganhavam menos que os demais e não podiam se deslocar no país? 

 

PRA: Lula TEM DE FAZER vários gestos no plano interno, de conteúdo social popular, e a assistência médica aos mais pobres deve ser um dos seus carros-chefes, assim como um remake do Bolso Família, sua grande marca registrada, com uma calibragem melhor, para o que todo o aparelho do Estado trabalhará com entusiasmo, e a colaboração dos acadêmicos progressistas, os gramscianos universitários, que retornarão triunfantes ao comando dos programas de fomento à pesquisa. Não sei como ficará o ensino fundamental, que necessita uma profunda reflexão no sentido da integração dos subsídios federais com a gestão estadual e municipal dos primeiros ciclos escolares. A volta triunfal do Líder Genial do Povo Brasileiro depende de uma forte ênfase no social, e para isso a resolução dos nós e amarras fiscais é essencial; seu ministro da Economia terá de ser um craque, começando por desativar o seu besteirol já disparado: “abrasileirar” os preços dos combustíveis – seja lá o que quer dizer essa demagogia sem sentido – e propor uma “moeda latina” para a integração regional. 

 

4. Poderíamos ter uma melhora nas relações com os EUA e com países europeus? Temas como desmatamento e acordo UE-Mercosul deixarão de ter obstáculos?

 

PRA: Sim, Lula é amigo de gregos e goianos: visitará todo mundo e receberá visitas de meio mundo, do bando do bem e do bando do mal. Não é difícil se entender com americanos e europeus, pois eles querem fazer concessões a um novo Brasil, bastando gestos simbólicos no plano ambiental, social e econômico. O acordo Mercosul-UE terá de passar por uma revisão, uma espécie de protocolo complementar com precisões na área ambiental, e o Brasil terá de provar – na prática, não no papel – que será ineditamente compliant no terreno da sustentabilidade, da proteção dos direitos indígenas e várias outras esferas, para que o acordo birregional possa entrar em vigor. O acordo Mercosul-UE não é um obstáculo à melhoria das relações, mas ele pode não ser mais tão relevante quanto parecia no momento de sua negociação e assinatura, quando Trump estava desmantelando todo o edifício do sistema multilateral de comércio implantado pelos EUA desde Bretton Woods. O Brasil é relevante no plano dos investimentos europeus e dos mercados de consumo, mas estes vêm sendo erodidos com grande gula pelo gigante asiático, assim que caberá talvez produzir novas pontes de cooperação entre o Brasil e o Mercosul, de um lado, e os americanos e europeus, de outro, para ter algum significado regional e talvez mundial (mas a mediocridade do crescimento brasileiro e argentino não são feitos para entusiasmar muito esses parceiros). 

Volto a dizer o que sempre digo: o Brasil não tem nenhum NENHUM problema com o mundo, se eliminarmos, claro, o estrupício do desgoverno atual. O Brasil tem enormes problemas brasilo-brasileiros, que precisam ter soluções made in Brasil (todas as reformas que nunca foram feitas nos últimos trinta anos, salvo algumas cosméticas). Os problemas do Mercosul também representam um enorme desafio à nossa diplomacia, que sempre foi contida pelo protecionismo renitente dos nossos capitães da indústria e dos nossos líderes do agronegócio, todos eles perfeitamente mercantilistas. Talvez o Brasil devesse retroceder o Mercosul a uma ZLC, mas tal gesto condicionado a uma abertura UNILATERAL, tarifária e não tarifária, a TODOS os parceiros da América do Sul, com o que se terá um espaço econômico integrado, sem qualquer necessidade negociação produto a produto, serviço a serviço: ABERTURA incondicional, ilimitada, irrestrita a todos os sul-americanos.

Mas não creio que nossas valentes elites econômicas permitam gestos de tamanha magnitude e importância para o futuro do Brasil. Elas são muito medíocres para pensar num Brasil grande; só querem defender políticas setoriais defensivas e subvencionistas, como sempre foi em quase toda a nossa história. O Brasil não está apenas isolado diplomaticamente no mundo, como resultou do “programa pária” do desgoverno bolsonarista; estamos singularmente isolados no plano da economia global, sem pertencer a cadeias de valor significativas em qualquer um dos três setores: agricultura, indústria, serviços. Somos um avestruz no comércio internacional, a despeito de sermos primeiros fornecedores de diversas commodities relevantes (mas poucas integradas a cadeias de valor). 

Mas tudo o que figura acima são apenas argumentos impressionistas de um anarco-diplomata. Melhores previsões sobre nosso futuro diplomático, caberia perguntar a alguma Mãe Dinah do setor.

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4147: 4 maio 2022, 3 p.

Postado no blog Diplomatizzando ( 2/01/2023; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/01/previsoes-diplomaticas-para-2023-em.html).

 

 


Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...