‘Argentina pode superar a crise com ajuda do Brasil’, diz pré-candidato à presidência
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
quarta-feira, 24 de maio de 2023
A Argentina precisa desesperadamente do apoio do Brasil: entrevista com o embaixador Daniel Scioli (Valor)
Política Externa: Mauro Vieira na CREDN-CD
Palavras do Ministro Mauro Vieira na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados (CREDN) – Brasília, 24/05/2023
Nesta quarta-feira (24/5), o Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, apresentou balanço da política externa brasileira à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados.
A transcrição das palavras do ministro Mauro Vieira está disponível abaixo:
Excelentíssimo Senhor Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, Deputado Paulo Alexandre Barbosa,
Excelentíssimas Senhoras Deputadas,
Excelentíssimos Senhores Deputados,
Excelentíssima Embaixadora Maria Laura da Rocha, minha colega, amiga e Secretária-Geral das Relações Exteriores,
Senhoras e Senhores,
É uma grande satisfação para mim voltar a esta Comissão e à Câmara dos Deputados.
Na minha gestão anterior, e, 2015 e 2016, tive o prazer de comparecer em mais de uma ocasião a esta Comissão, com a qual mantive sempre um diálogo transparente, respeitoso e, sobretudo, muito construtivo.
Estive, há cerca de duas semanas, na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal, quando tive a oportunidade de reiterar minha visão de que a colaboração com o Parlamento é fundamental para a condução de uma política externa democrática, que reflita os interesses reais do conjunto da sociedade brasileira. Renovo aqui o compromisso de manter as portas do Itamaraty sempre abertas ao Congresso Nacional.
Não posso, Senhor Presidente, neste momento em que inicio esta apresentação, deixar de mencionar, logo no início, o lamentável episódio a que Vossa Excelência já se referiu, do domingo, na Espanha, na cidade de Valência, no qual o jogador Vinicius Junior, do Real Madrid, foi vítima de insultos racistas. O Brasil repudia, nos mais fortes termos, esses ataques.
O governo brasileiro emitiu uma nota conjunta firmada por cinco ministérios. Estamos acompanhando de perto as primeiras medidas tomadas pelas autoridades governamentais espanholas e as autoridades esportivas, também, cujo objetivo de punir os perpetradores e, sobretudo, evitar a repetição desses atos. Seguiremos atentos ao caso e à promoção de uma política externa antirracista.
Senhor Presidente,
Esta é uma ocasião muito propícia para fazer um balanço da política externa e de nossa ação diplomática nestes quase cinco meses de governo e apresentar algumas das prioridades que temos para este ano. O Presidente da República e o conjunto do governo dedicaram os melhores esforços, nestes meses, para imprimir um ritmo intenso e um sentido pragmático à nossa ação externa, acima de efervescências ideológicas e voltada para a promoção dos interesses do Brasil.
Essa dinamização se refletiu em uma agenda alentada de contatos e encontros, bilaterais e multilaterais, com parceiros e contrapartes de todas as regiões do mundo. Desde que tomou posse, o Presidente Lula já manteve conversações com chefes de Estado e de Governo de 30 países. Eu próprio já mantive encontros com quase 90 interlocutores estrangeiros de alto nível.
Retornei hoje cedo de um périplo que começou em Hiroshima, no Japão, onde acompanhei o Presidente Lula na Cúpula do G7, com uma passagem ainda por Nova York, onde participei de debate, ontem, no Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre proteção de civis em conflitos armados.
No caso da Cúpula do G7, tratou-se da primeira participação brasileira desde 2009, nesse agrupamento. Além das discussões com os demais chefes de Estado sobre temas centrais para o futuro da economia global, o Presidente da República manteve diversas reuniões bilaterais com os líderes do Alemanha, Austrália, Canadá, Comores, que ocupa a presidência da União Africana, neste ano, França, Índia, Indonésia, Japão e Vietnã, bem como com a Diretora-Geral do FMI, com o Secretário-Geral da ONU e, também, com a Diretora-Geral da Organização Mundial do Comércio. Manteve, ainda, conversas informais nos intervalos das sessões ou em eventos atrelados à cúpula do G7 com os líderes de Coreia do Sul, EUA, Reino Unido e União Europeia, com os quais já havia se encontrado recentemente, além de outros altos funcionários e o Secretário-Geral da OCDE.
Em todos os contatos externos que tivemos nestes cinco meses de governo, temos buscado explorar, com um sentido prioritário, as potencialidades concretas com cada parceiro, sobretudo em matéria de comércio e de investimentos. Estamos muito cientes de que as transformações por que passa nossa economia, inclusive no que diz respeito à promoção de um agronegócio moderno e ao resgate e atualização da indústria nacional, são processos que não se fazem de maneira isolada e requerem investimentos, parcerias produtivas e cooperação técnica, além de mercados novos e ampliados para nossas exportações.
Por essa mesma razão, Presidente, temos buscado reforçar a dimensão empresarial à nossa iniciativa externa. Nas visitas bilaterais que o Presidente realizou a Buenos Aires, Pequim, Lisboa e Madri, foram realizados, em parceria com a ApexBrasil, eventos empresariais com participação significativa dos setores produtivos de ambos os lados. Em Pequim, o Seminário Econômico Brasil-China contou com a presença de mais de 500 lideranças empresariais brasileiras e chinesas, de diversos setores, e resultou na assinatura de mais de 20 acordos, inclusive em áreas estratégicas, como transição energética, infraestrutura, mineração, agronegócio e finanças.
Senhoras e Senhores Deputados,
Desde a campanha eleitoral, o Presidente Lula indicou seu compromisso em trabalhar pela revalorização da integração regional e pelo fortalecimento dos mecanismos de concertação e cooperação de que dispomos em nossa região. Temos a obrigação constitucional de trabalhar pela consolidação da integração econômica e política da América Latina.
Uma das primeiras medidas formais de política externa tomadas pelo novo governo foi a reincorporação plena e imediata do Brasil à Comunidade de Países Latino-Americanos e Caribenhos, a CELAC, que é o único mecanismo de diálogo e cooperação que inclui todos os 33 países da América Latina e do Caribe. O retorno do Brasil ao mecanismo foi marcado pela participação do Presidente Lula na VII Cúpula da CELAC, realizada em janeiro último, em Buenos Aires. A CELAC tem-se provado um espaço privilegiado para a concepção de iniciativas concretas de cooperação em áreas em que temos desafios comuns, como saúde, segurança, cooperação científica e tecnológica, entre tantas outras.
Com relação à América do Sul, foi também um compromisso de campanha do Presidente o regresso do Brasil ao Tratado Constitutivo da União de Nações Sul-Americanas, a UNASUL, como forma de sinalizar nossa determinação de trabalhar com nossos vizinhos sul-americanos pela revalorização da América do Sul como um espaço de diálogo, paz e cooperação. Estamos cientes de que há diferentes expectativas e visões na região em relação à integração, mas estamos também convencidos de que há denominadores comuns, a começar pelo reconhecimento da necessidade de trabalhar conjuntamente com nossos vizinhos imediatos para fazer frente aos múltiplos desafios que compartilhamos.
Com o objetivo de retomar o diálogo entre todos, o Presidente Lula convocou uma Reunião de Presidentes dos Países da América do Sul, que terá lugar aqui em Brasília, na próxima semana, dia 30 de maio. Esperamos que dessa reunião saiam iniciativas muito concretas, voltadas para resultados palpáveis em áreas como a segurança das fronteiras e ampliação da infraestrutura física – como, por exemplo, o corredor bioceânico, fundamental para o acesso do nosso agronegócio aos mercados asiáticos. Esperamos, também, poder dar início a um diálogo entre todos para que possamos voltar a contar com um mecanismo de concertação inclusivo, eficaz e permanente, que possa estar acima das orientações dos governos de turno.
Nesses poucos meses de mandato, o Presidente Lula já manteve conversações com praticamente todos os mandatários da América do Sul. Teve diversos encontros à margem da cerimônia de posse; visitou a Argentina e o Uruguai; reuniu-se em Foz do Iguaçu com o Presidente do Paraguai; e tem mantido contato telefônico regular com os homólogos da região. Nessas ocasiões, foram discutidas questões como a dinamização dos fluxos comerciais, os projetos de integração física, como a Ponte da Integração e a Ponte sobre o Rio Paraguai, a necessidade de cooperação em matéria de segurança das fronteiras, além, é claro, da necessidade de aperfeiçoamento do MERCOSUL.
Foi com esse mesmo espírito construtivo e muito pragmático que reabrimos nossa Embaixada em Caracas, em um primeiro momento no nível de Encarregado de Negócios. A retomada da agenda bilateral com a Venezuela permitirá cuidar de interesses muito concretos do Brasil, como a retomada da assistência consular direta aos cerca de 20 mil brasileiros que residem na Venezuela e a reversão de medidas que impedem o transporte pela fronteira de certos produtos brasileiros.
Esses primeiros meses de governo foram também dedicados à retomada de agendas com parceiros tradicionais no mundo desenvolvido, como Estados Unidos, Alemanha, França, Portugal, Espanha, Reino Unido, Japão e União Europeia, com os quais mantemos relações baseadas em interesses e valores compartilhados, e com os quais temos uma ampla agenda de comércio, investimentos e cooperação, inclusive em setores estratégicos para o Brasil.
A visita do Presidente Lula a Washington, no primeiro mês de governo, e o encontro mantido com o Presidente Biden sinalizaram o compromisso das duas maiores democracias do continente de voltarem a trabalhar conjuntamente em uma ampla gama de questões, como o combate ao extremismo político, o enfrentamento à mudança do clima, a luta contra a discriminação racial e a reforma da governança internacional.
Ao mesmo tempo, estamos valorizando a tradição universalista e ecumênica da nossa política externa, por meio do aprofundamento e ampliação das nossas relações com a Ásia, a África e o Oriente Médio.
No que se refere à Ásia, destaco, naturalmente, a visita de Estado à China, nosso principal parceiro comercial, principal destino de nossas exportações agrícolas e uma das principais fontes de investimentos estrangeiros diretos no Brasil. Para além de seu impacto fortemente simbólico, a visita esteve marcada pela busca de resultados concretos, como o aprofundamento da cooperação bilateral em setores estratégicos, como, por exemplo, o espacial, e a ampliação e diversificação da pauta comercial e de investimentos.
As relações com a África, continente que apresenta enorme potencial de desenvolvimento e população majoritariamente jovem, merecerão toda nossa atenção. Aliás, estamos sediando, na semana em curso, o Seminário Brasil-África, que deverá lançar luz sobre uma agenda de futuro para as relações com o continente, ao qual estamos ligados por profundos vínculos humanos, históricos e culturais. Além disso, já está prevista a visita do Presidente da República à África do Sul, no segundo semestre, para a Cúpula do BRICS, bem como visita a outros países do continente.
A propósito, a participação ativa do Brasil nos mecanismos de concertação plurilaterais, como o BRICS e o Foro IBAS, é elemento importante de nossa estratégia de inserção externa, de valorização de uma ordem multipolar e cooperativa. No caso do IBAS, foro que congrega Brasil, Índia e África do Sul, as três maiores democracias multiétnicas e multiculturais do mundo, assumimos a presidência do grupo em março passado e queremos dar impulso a uma agenda que explore as potencialidades da conexão entre o Atlântico e o Índico. Quanto ao BRICS, estamos plenamente engajados com a atual presidência de turno sul-africana. Em 2025, será a vez do Brasil de liderar o agrupamento.
Senhoras Deputadas e Senhores Deputados,
Uma dimensão central de nossa política externa tem sido a agenda de sustentabilidade, clima e meio ambiente. Ainda antes de tomar posse, o Presidente participou da COP-27 do Clima, no Egito, e deixou claro o compromisso do governo brasileiro com o desenvolvimento sustentável e o combate à mudança do clima, e apresentou a candidatura da cidade de Belém do Pará para sediar a COP-30, em 2025.
Estamos ativando, em coordenação com as demais áreas de governo e com ampla participação dos diversos setores da sociedade, uma “diplomacia para a Amazônia”, capaz de contribuir para o desenvolvimento sustentável do bioma e de atrair, de forma soberana, investimentos e financiamentos para a região, em benefício direto dos seus mais de 40 milhões de habitantes. O desbloqueio dos recursos depositados no Fundo Amazônia e os recentes anúncios de contribuições pelos Estados Unidos e Reino Unido inserem-se nesse contexto.
A Amazônia é uma região estratégica em todos os sentidos. A realização de suas potencialidades de desenvolvimento sustentável e a devida valorização de seu imenso patrimônio de biodiversidade são um passaporte para o futuro, que não podemos desperdiçar.
Foi essa, aliás, a aspiração que motivou o Presidente da República a convocar, ainda na condição de Presidente eleito, uma Cúpula da Amazônia – a IV Reunião de Presidentes dos Estados Partes no Tratado de Cooperação da Amazônia. A reunião terá lugar no próximo mês de agosto, também na capital paraense. Trata-se, certamente, de oportunidade privilegiada para posicionar o Brasil e a região amazônica na vanguarda da transição ecológica e energética global. Na semana passada, mantivemos um produtivo intercâmbio de ideias e propostas com Ministérios de várias áreas, em um seminário sobre desenvolvimento sustentável da Amazônia.
Outra vertente de nossa ação externa que tem recebido atenção detida desde os primeiros dias de governo, como não poderia deixar de ser, é a da diplomacia econômica.
Como é do conhecimento de todos, o Brasil assumirá, pela primeira vez, em 1º de dezembro próximo, a presidência de turno do G20, um dos principais foros globais de diálogo e coordenação sobre temas econômicos, sociais, de desenvolvimento e de cooperação. A presidência brasileira do G20 compreenderá mais de uma centena de reuniões em todos os níveis e culminará em uma reunião de Cúpula, no Rio de Janeiro, em novembro de 2024. Trata-se, sem dúvida, de uma oportunidade ímpar para projetarmos nossa voz e nossa visão sobre os principais desafios que enfrenta hoje a comunidade internacional.
No âmbito das negociações comerciais, seguimos comprometidos com a finalização do acordo entre o MERCOSUL e a União Europeia. Como temos deixado claro, desejamos um instrumento equilibrado, com ganhos concretos para ambos os lados, tanto em matéria de comércio como de investimentos. Ao mesmo tempo, não aceitamos que o meio ambiente – preocupação legítima e que compartilhamos – seja utilizado como pretexto para exigências despropositadas, para a adoção de medidas de viés protecionista ou, no limite, para retaliações descabidas. Espero ser possível chegar, juntamente com nossos sócios no MERCOSUL, a uma posição comum com vistas à obtenção de resultados concretos durante a presidência pro tempore brasileira do MERCOSUL, no segundo semestre deste ano.
Em paralelo, demos início a uma reflexão interna sobre o processo de ingresso na OCDE, com a qual temos uma colaboração tradicional e proveitosa. Estamos examinando atentamente essa proposta, como corresponde, à luz dos interesses nacionais e das implicações de toda a ordem para as nossas políticas públicas. E tendo presente, naturalmente, que se trata de um processo complexo, que tem seu ritmo próprio, até mesmo pela natureza das questões envolvidas. Terei a ocasião de tratar dessas e de outras questões por ocasião de minha participação na Reunião Ministerial do Conselho da OCDE, no início de junho próximo.
Outro eixo prioritário da política externa e da ação diplomática do Brasil refere-se ao tratamento das questões relativas à paz e segurança internacional, inclusive à luz do mandato que exercemos atualmente como membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Aliás, não posso deixar de mencionar que, em outubro próximo, o Brasil assumirá a presidência rotativa do Conselho, que é, como todos sabem, o principal órgão multilateral responsável pela manutenção da paz e da segurança internacionais.
Estamos, no momento, preparando a nossa presidência de turno, em outubro próximo, que será, aliás, a segunda deste mandato de dois anos, e antecipo a Vossas Excelências que o Brasil está organizando dois debates abertos, um sobre o tema “Mulheres, Paz e Segurança” – tema que, em linhas gerais, trata da contribuição muito específica das mulheres para a prevenção de conflitos e a manutenção da paz – e outro sobre a contribuição de mecanismos regionais de desarmamento, cooperação e integração para a paz e a segurança internacionais.
No que se refere ao conflito na Ucrânia, sublinho que o Brasil tem adotado uma posição de “equilíbrio construtivo”. Como todos sabem, condenamos a violação da integridade territorial da Ucrânia tanto na Assembleia Geral quanto no Conselho de Segurança, e, ao mesmo tempo, alertamos para os riscos do “cancelamento” da Rússia e das sanções unilaterais, que em nada contribuem para a construção de uma solução negociada. Pelo contrário, apenas diminuem os espaços de diálogo e estimulam uma arriscada espiral confrontacionista.
Como tem dito o Presidente Lula, o Brasil está à disposição para apoiar os esforços internacionais pela criação de espaços de negociação. Temos conversado com todos os atores, a quem manifestamos nossa prontidão para ajudar em uma aproximação possível, que leve a uma saída negociada e a uma paz sustentável. É preciso dizer que nos contatos que mantemos com interlocutores externos, notamos um claro interesse pela contribuição que o Brasil pode dar e um reconhecimento das credenciais diplomáticas de que o país dispõe.
A paralisia da comunidade internacional diante do conflito na Ucrânia demonstrou ao mundo, mais uma vez, a necessidade urgente de mobilizarmos esforços por uma ampla reforma da governança internacional, a começar pelo próprio Conselho de Segurança das Nações Unidas. Mais do que nunca, precisamos de um Conselho democratizado, com métodos atualizados e com legitimidade suficiente para propor soluções eficazes para as múltiplas crises que nos assolam.
Ao longo deste ano de 2023, buscaremos pagar tempestivamente nossas contribuições a organismos internacionais, para o que esperamos poder contar novamente com a atenção da Câmara dos Deputados. Aproveito para renovar aqui os agradecimentos pelo apoio de muitos dos Senhores à aprovação dos recursos necessários para o saldamento de dívidas acumuladas com 28 organismos e mecanismos internacionais, entre os quais destaco a Organização Mundial do Comércio, a Organização Mundial da Saúde e o Fundo de Convergência Estrutural do MERCOSUL, o FOCEM. Os parlamentares aqui presentes que são membros do Parlasul sabem da relevância do Fundo para a integração regional.
Além disso, esse amplo conjunto de iniciativas internacionais em que o Brasil está engajado e a manutenção das capacidades de nosso Serviço Exterior exigirão, naturalmente, recursos orçamentários adequados, para o que o Ministério das Relações Exteriores espera poder seguir contando com o apoio imprescindível desta Casa.
A propósito, gostaria de mencionar uma questão que tem sido objeto da atenção e cuidado desta Comissão e à qual conferimos alta prioridade, que é a assistência consular. Esta é uma das razões de ser do Itamaraty.
Para aperfeiçoar os serviços prestados aos nossos cidadãos, criamos, por orientação expressa do Senhor Presidente da República, uma Secretaria específica dentro da estrutura organizacional do Ministério das Relações Exteriores, dedicada às questões atinentes às comunidades brasileiras no exterior.
Sobre as questões relativas à diversidade e à igualdade de gênero no Serviço Exterior Brasileiro, que têm sido objeto de crescente atenção do Parlamento, gostaria de deixar registro do meu compromisso – meu e da Secretária-Geral, Embaixadora Maria Laura da Rocha – com medidas para promover uma representação adequada, em especial nas classes superiores da carreira de diplomata e nas chefias de postos no exterior. Trata-se, naturalmente, de desequilíbrios estruturais, impossíveis de corrigir em apenas alguns meses de gestão, mas que queremos superar. A indicação de número recorde de mulheres para os cargos de Secretária constitui um primeiro passo nesse sentido. O diálogo permanente com a Associação das Mulheres Diplomatas do Brasil, cujo lançamento tive a satisfação de acompanhar pessoalmente, certamente nos ajudará a fazer mais e melhor em prol da desejada equidade de gênero no Ministério.
Senhoras Deputadas e Senhores Deputados,
O Brasil é uma das maiores democracias do mundo e, como tal, encarna valores e aspirações de parcela grande da humanidade.
Posso dizer, sem sombra de dúvida, que a comunidade internacional está ao lado do Brasil e da sociedade brasileira em nossa determinação de fortalecimento da democracia e das instituições democráticas. Isso, também não tenho dúvida, é algo que interessa e mobiliza diretamente esta Casa, que é a Casa do Povo, onde está refletido o conjunto das sensibilidades, demandas e expectativas da sociedade brasileira.
É por esse motivo, volto a dizer, que valorizo muito especialmente a dimensão parlamentar de nossa política externa. Nossa ação diplomática brasileira só tem a ganhar com um trabalho realizado em estreita sintonia entre o Itamaraty e o Congresso Nacional.
Com isso, aproveito para agradecer a atenção que esta Comissão e esta Casa têm dispensado à tramitação legislativa de instrumentos de grande interesse para o Brasil, entre os quais o Acordo de Associação à Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear, relatado pelo Deputado Celso Russomano, e o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares (TPAN).
Estou convencido de que a política externa de um país democrático deve estar permanentemente conectada aos anseios, demandas e expectativas dos distintos setores da sociedade brasileira, a começar pelos mais vulneráveis, que precisam de respostas urgentes.
Como disse o grande Deputado Ulysses Guimarães, a quem não posso deixar de homenagear ao vir hoje a esta Casa, “É para o homem, na fugacidade da sua vida, que devem voltar-se as instituições da sociedade”. Esse é o compromisso do Itamaraty, como instituição de Estado: servir aos brasileiros e brasileiras, com os olhos postos em suas necessidades e suas aspirações.
Agradeço, mais uma vez, às Senhoras Deputadas e Senhores Deputados, a oportunidade de fazer este breve balanço da nossa política externa nestes primeiros meses de gestão e de poder indicar algumas de nossas prioridades para 2023. Aproveito para desejar ao Deputado Paulo Barbosa todo êxito na condução da presidência desta Comissão e a todos os parlamentares aqui presentes um excelente ano legislativo.
Fico, evidentemente, à disposição de Vossas Excelências para esclarecer dúvidas e, sobretudo, para intercambiar ideias.
Muito obrigado, Senhor Presidente.
[Nota publicada em: https://www.gov.br/mre/pt-br/canais_atendimento/imprensa/notas-a-imprensa/incendio-em-dormitorio-escolar-na-guiana]
Afonso Arinos (o primeiro) e o Sertão - Danilo Gomes
AFONSO ARINOS E O SERTÃO
Danilo Gomes
Estou duplamente honrado em estar aqui. Por me encontrar novamente na querida cidade de Arinos e porque fui convidado por Napoleão Valadares, autor do livro História de Arinos,para falar sobre o tema “AFONSO ARINOS E O SERTÃO”. É muita responsabilidade tratar de um assunto dessa magnitude!
O escritor que dá nome a esta bela cidade é uma das figuras mais importantes da literatura brasileira. E quem afirma isto são vários dos mais renomados críticos literários do nosso país. O nome de Arinos figura na geografia de Minas Gerais desde 30 de dezembro de 1962, quando o distrito se emancipou e depois se constituiu em cidade, graças a um grupo de honrados políticos, liderados por Saint-Clair Fernandes Valadares, bisavô de Napoleão Valadares.
Vamos recuar um pouco no tempo, para melhor situarmos o patrono ilustríssimo desta terra enriquecida pelo rio Urucuia.
Aquele que seria um grande prosador e estilista nasceu em 1º de maio de 1868, na cidade mineira de Paracatu. Recebeu na pia batismal o nome de Affonso Arinos de Melo Franco, filho de Virgílio de Melo Franco e de D. Ana Leopoldina de Melo Franco.
Fez o curso primário na Cidade de Goiás, então capital da Província de Goiás (é a hoje histórica cidade chamada Goiás Velho). A família morou por algum tempo em Meia-Ponte, atual Pirenópolis, a muito apreciada Piri. Aos 13 anos começou Afonso Arinos a estudar em São João del Rei. Em 1883 mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, a fim de estudar Humanidades no Ateneu Fluminense, após o que rumou para São Paulo, onde se formou em Direito,em 1889.
Tinha 21 anos o nosso biografado, quando, já bacharel em Direito, retornou a Minas Gerais, fixando-se em Ouro Preto, então capital, onde, por concurso em que obteve o 1º lugar, foi professor (ou lente, como à época se dizia) de História do Brasil. Foi dele a idéia da criação do Arquivo Público Mineiro. Tornou-se um dos fundadores da Faculdade de Direito de Minas Gerais, onde lecionou Direito Criminal. Temos hoje em Belo Horizonte a Praça Afonso Arinos, onde depois funcionou a Faculdade.
Já naquela época de sua mocidade escrevia contos e os publicava em jornais de Minas, Rio e São Paulo. Colaborou também na Revista Brasileira, de José Veríssimo, e na Revista do Brasil.
Em 1896 ele fez sua primeira viagem à Europa. No ano seguinte, passou a dirigir o jornal “Comércio de São Paulo”, e naquele mesmo ano de 1897 casou-se com Antonieta Prado, filha do conselheiro Antônio Prado (conselheiro do extinto Império de D. Pedro II).
Em 1901 foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras (presidida por Machado de Assis) na vaga de seu fraterno amigo Eduardo Prado), sendo recebido pelo também grande amigo Olavo Bilac. Em 1893 passou a integrar os quadros do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, eleito que foi sócio-correspondente.
Afonso Arinos morou em Paris, onde abriu um escritório comercial. A capital francesa ainda vivia os tempos da chamada “belle époque”, a bela época, a Paris de Marcel Proust. Vinha sempre ao Brasil, sua ardente paixão, em busca do seu sertão nativo.
Ele era um aristocrata de educação e de maneiras, um homem muito culto. De ameno convívio, tinha em torno de si uma legião de amigos e admiradores.
O gosto pelas letras madrugou nele. A isto se associava a vida no interior de Minas e de Goiás – o sertão. Ele é considerado o pioneiro das tendências regionalistas na literatura brasileira. Esse homem sofisticado e de enciclopédica cultura tinha a alma sertaneja. E ao mesmo tempo monarquista, como a do seu amigo Eduardo Prado. Com grande conhecimento da vida sertaneja e das suas características psico-sociológicas, alçou-se logo ao topo da ficção regionalista brasileira.
Em 1898, histórias sertanejas são publicadas no seu livro Pelo sertão, sua obra-prima, sua magnum opus. Ouçamos este trecho de Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa, na Enciclopédia de Literatura Brasileira:
“Na busca da temática brasileira, ao lado dos ciclos do indianismo, do sertanismo, do caboclismo, do cangaço, Afonso Arinos introduziu na ficção o ambiente inóspito e selvático do planalto central. Sua técnica foi a do Realismo, caracterizando-se pela fidelidade e verossimilhança, sem qualquer tendência a estilizar e fantasiar. Homens, costumes, paisagens do sertão, são retratados fotograficamente, com muita segurança e num estilo próprio, destacando-se ainda a reprodução da fala coloquial típica. (…) Em sua obra, é o próprio sertão, é a própria alma sertaneja, que se retratam, com a psicologia típica do homem local. Seu regionalismo é fruto de profunda vivência, acumulada na sua alma desde a infância, num contato com o meio, as matas, as serras, a paisagem, o homem, os costumes. Apesar das viagens, Afonso Arinos manteve as raízes presas ao meio sertanejo nativo, e soube ajustar as figuras humanas e as forças naturais. E assim, graças a essa base telúrica, à miragem de todo grande criador, alçou-se com sua obra de contista ao primeiro plano na ficção brasileira.”
No seu livro Prosa de ficção, Lúcia Miguel-Pereira enfatiza:
“É, entretanto, inegável que se encontra em Afonso Arinos a qualidade mestra dos regionalistas: o dom de captar a um tempo, repercutindo umas nas outras, prolongando-se mutuamente, as figuras humanas e as forças da natureza. (…) Amando a sua Minas com o amor inconscientemente exagerado de quem se sentia atraído por outras terras, Arinos resgatava como escritor as infidelidades de homem desejoso de vida mais larga e requintada. Por uma espécie de compensação psicológica, era como obrigado a reprimir as emoções que lhe despertavam as paisagens e a gente de sua terra, da terra de que o afastava tanta coisa, que por isso mesmo se lhe tornava mais cara. Mas, uma vez escritas as histórias, readquirido graças a elas o equilíbrio íntimo, não se lhe dava pressa em publicá-las.”
Mário de Alencar (o filho de José de Alencar) também analisou com argúcia o trabalho de Afonso Arinos: “Foi na inalterada constância do sentimento brasileiro de Afonso Arinos que melhor se patenteou a força do seu caráter. Viajor habitual, em idas e vindas pelo oceano, qual ave de arribação de pouso alternado, Arinos nunca deixou de ser a alma sertaneja, a pura planta dos agrestes de Paracatu. Onde quer que ele fosse, , do que quer que ele falasse, e fosse qual fosse a língua, falavam pela sua boca a alma e a voz brasileiras. Atos e idéias não tinham nele outro molde que as formas vazadas pelo ambiente da infância no subconsciente.”
Por sua vez, nosso contemporâneo crítico literário Assis Brasil, no seu O Livro de Ouro da Literatura Brasileira registrou:
“Afonso Arinos é um dos principais ficcionistas já tidos como autores regionais. Em que a linguagem literária deixa a pompa e a terminologia realista, em proveito da apreensão do coloquial, da recriação da fala. Pelo Sertão , seu livro de estréia, lançado em 1898, pode ser considerado um precursor do regionalismo modernista, embora aqui e acolá reviva um vocabulário. Ele é mineiro de Paracatu. Homem viajado, culto, mesmo escrevendo sobre as vidas miúdas, não esquece muito o tom erudito, a frase burilada. Mas soube transmitir a vida e os hábitos dos tropeiros e capatazes. A paisagem mineira está em primeiro plano em sua obra.”
***
Já me referi ao livro mais famoso do autor paracatuense: Pelo sertão. Ali estão os contos “Assombramento” , “A cadeirinha” , “Buriti perdido” , “A esteireira”, “Manuel Lúcio”, “Paisagem alpestre”, “Desamparados” , “A velhinha”, “A fuga” , “O contratador de diamantes” , “Joaquim Mironga” e “Pedro Barqueiro”. São contos excelentes, de força imagística e carga dramática. Pelo sertão é um monumento de seu gênio.
Vejamos rapidamente o conto “Joaquim Mironga” – tipo do sertão”. Nele, o autor narra disputas políticas e discorre sobre a padroeira Nossa Senhora da Abadia do Muquém. No fim da história, morre Joaquim Mironga, sob estas singelas palavras: “Lá, naquele campo azul, junto com os anjos, pastorando o gado miúdo…”
No conto “Desamparados”, temos este trecho eminentemente sertanejo:
“Foi no chapadão extenso que francha as cumiadas da grande cordilheira das Vertentes; naquele ponto dos limites entre Minas e Goiás, em que o dorso da serra parece morder as nuvens baixas e aprumar-se para abrir leito ao remansado Paranaíba.”
Outro tipo do sertão é “Pedro Barqueiro”, conto dedicado a Coelho Netto.
O que mais me encanta nesse repertório é Buriti perdido. Todos merecem as páginas das antologias, dos chamados florilégios. Li Buriti perdido numerosas vezes. Ele é de um lirismo doce e melancólico, virgiliano, uma página maravilhosa de prosa poética. Esse conto revela características de crônica; é, a meu ver, um conto-crônica. O começo já é um encanto:
“Velha palmeira solitária, testemunha sobrevivente do drama da conquista, que de majestade e de tristura não exprimes, venerável eponimo dos campos!” E, mais adiante, este trecho:
“Talvez passassem junto de ti, há dois séculos, as primeiras bandeiras invasoras; o guerreiro tupi, escravo dos de Piratininga, parou então extático diante da velha palmeira e relembrou os tempos de sua independência quando as tribos nômadas vagavam livres por esta terra. Poeta dos desertos, cantor mudo da natureza virgem dos sertões, evoé! Então, talvez, uma alma amante das lendas primevas , uma alma que tenhas movido ao amor e à poesia, não permitindo a sua destruição, fará com que figures em larga praça, como um monumento às gerações extintas, uma página sempre aberta de um poema que não foi escrito, mas que referve na mente de cada um dos filhos desta terra.”
Palavras proféticas, premonitórias, de um brasileiro que viveria apenas 48 anos, como José de Alencar. Com efeito, hoje temos em Brasília, cidade fundada pelo diamantinense Juscelino Kubitschek de Oliveira, um buriti plantado na chamada Praça do Buriti, onde se construiu o Palácio do Buriti, sede do Governo do Distrito Federal. Afonso Arinos sonhou com aquela “larga praça” para o seu buriti solitário e perdido no sertão.
Encerrando, não posso deixar de elencar os outros livros que também sustentam a glória de Afonso Arinos. São eles: Os jagunços, Notas do dia, O contratador de diamantes, A unidade da pátria, Lendas e tradições brasileiras, O mestre de campo, Histórias e paisagens. Ficou incompleto o livro intitulado Ouro! Ouro!
A Obra Completa de Afonso Arinos foi organizada sob a direção de Afrânio Coutinho para a Academia Brasileira de Letras.
Quero também pelo menos fazer o registro de um livro muito importante para a melhor visão e compreensão do legado de Afonso Arinos de Melo Franco. Refiro-me ao volume intitulado Afonso Arinos, escrito por Tristão de Athayde, que era o pseudônimo usado pelo escritor Alceu Amoroso Lima, que conviveu com o nosso escritor no Rio de Janeiro. O pai de Alceu era amigo de Afonso Arinos. Alceu nasceu no Rio de Janeiro em 1893.
Esse notável livro de Tristão de Athayde teve edições: em 1922, pelo Anuário do Brasil, em 1981 pela Editora Lisa, em convênio com o Instituto Nacional do Livro, do Rio de Janeiro. Na edição de 1981 o magnífico prefácio é assinado pelo saudoso escritor goiano Bernardo Élis . Creio que esse erudito livro de Tristão de Athayde enfocando a vida e a obra de Afonso Arinos é mais que fundamental; a meu ver, é insuperável, definitivo. É também um depoimento pessoal e sentimental de incalculável valor.
Homem afável, comunicativo, um cavalheiro leal e impecável, tinha, na legião de seus amigos e admiradores o grande poeta e cronista Olavo Bilac. Conviveram em tertúlias de camaradagem no Rio de Janeiro. Durante o governo ditatorial de Floriano Peixoto, Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac teve que deixar o seu Rio de Janeiro natal para escapar da prisão ( como tantos outros ). Foi parar em Ouro Preto, a antiga e aurífera Vila Rica do Pilar, então capital de Minas Gerais.
A história é contada no livro Crônicas e Novelas – 1893 – 1894, publicado em 2022 pela Editora Liberdade, de Ouro Preto, dirigida pelos professores universitários e escritores M. Francelina Silami Ibrahim Drummond e Arnaldo Drummond. As crônicas e novelas são de Olavo Bilac, mas o aparato editorial merece nossa admiração. Francelina escreve o prefácio, sob o título “Um clássico de Vila Rica” e a professora universitária Elinor de Oliveira Carvalho assina a “Nota da segunda edição”. Segunda edição das crônicas e novelas do ilustre Olavo Bilac.
Ouçamos a mestra Francelina Silami Ibrahim Drummond:
“Em 1893 / 1894, refugiado em Ouro Preto da perseguição de Floriano Peixoto, Olavo Bilac foi levado pelo jovem Afonso Arinos de Melo Franco ( 1868- 1916) a peregrinar in loco, conhecer igrejas e monumentos públicos, entrar nos arquivos, subir às ruínas do Morro da Queimada, revisitar a história de Marília, os poetas inconfidentes, Aleijadinho, ler ex-votos antigos em velhas sacristias.” Francelina nos lembra que, “anos mais tarde, em 1903, ao receber Arinos na Academia Brasileira de Letras, Bilac fez um discurso emocionado, retribuindo ao autor de Pelo sertão o acolhimento que lhe prestara nas montanhas de Ouro Preto (…) “
Nesse livro da Editora Liberdade, é também digno de registro o substancioso posfácio do professor da USP, Antônio Dimas, sob o título “De Ouro Preto a Vila Rica. No retorno, Belo Horizonte.”
Pois é, Afonso Arinos foi o culto cicerone de Olavo Bilac em Minas Gerais!
Prezados amigos, juro que agora vou terminar.
Mas, antes, permitam-me voltar ao meu xodó em Pelo sertão: o Buriti Perdido, aquela velha palmeira solitária; uns, dizem que situada em Paracatu; outros, como Bernardo Élis, que em Goiás, em Corumbá de Goiás. Minas e Goiás são estados-irmãos, como todos sabemos e sentimos.
O amigo escritor Silvestre Gorgulho me conta a história do plantio do buriti na Praça do Buriti, no coração de Brasília, realização do sentimento profético-poético do nosso Afonso Arinos. Silvestre Gorgulho foi secretário de Comunicação do governador José Aparecido de Oliveira, que cuidou do tombamento da emblemática palmeira no jardim externo do Palácio do Buriti. Foi no dia 30 de maio de 1985, presente à cerimônia o sobrinho de Afonso Arinos, o também grande escritor seu homônimo, Afonso Arinos de Melo Franco, membro da Academia Mineira de Letras e da Academia Brasileira de Letras. Aquele buriti que uniu o sertão à nova capital do Brasil foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN. Estava realizado, em pleno Eixo Monumental de Brasília, o sonho profético e poético de Afonso Arinos, uma das glórias da literatura brasileira. Lá está, em sua sóbria e solene beleza, o Buriti Perdido da encantadora página de Afonso Arinos.
Palestra proferida no II ENCONTRO DE ESCRITORES EM ARINOS, em Arinos, MG, em 19 – 5- 2023.
Guerra na Ucrânia: depois da batalha de Artyomovsk - Andrew Korybko (A Terra é Redonda)
Guerra na Ucrânia – depois da batalha de Artyomovsk

Análise do estado atual do teatro de guerra e o significado da batalha de Artyomovsk para russos e ucranianos
A Rússia declarou vitória na Batalha de Artyomovsk no sábado, 21 de maio, depois de 224 dias de combates. Volodymyr Zelensky previu, no início de março, que seus oponentes poderiam avançar pelo resto do Donbass se isso acontecesse, razão pela qual o líder ucraniano ordenou às suas forças que lutassem até o fim, apesar de os Estados Unidos o terem aconselhado a retirar-se dali já em janeiro. Este artigo avalia o estado atual da situação com o objetivo de obter uma melhor ideia do que poderá vir a seguir.
Artyomovsk não é uma cidade estratégica
Não há nada de especial em Artyomovsk que a distinga de outras cidades de tamanho semelhante no Donbass, embora seu controle, de uma forma ou de outra, possa facilitar o acesso ao resto das posições mais estratégicas da região.
Em vez de retirar pragmaticamente suas forças para salvar vidas e reforçar posições muito mais facilmente defensáveis em outros locais, Volodymyr Zelensky decidiu transformar Artyomovsk em outra Mariupol por razões puramente políticas relacionadas com o reforço do moral de suas tropas e com o fomento da guerra de informação anti-russa.
A Rússia virou o jogo
À medida que a Batalha de Artyomovsk se arrastava, Volodymyr Zelensky tentou justificar sua decisão de não se retirar com o falso argumento de que queria esmagar as forças de seu adversário e ganhar tempo para a contraofensiva de Kiev, mas a Rússia virou o jogo, esmagando as forças dele e ganhando tempo para preparar seus próprios planos.
O plano de Volodymyr Zelensky para reforçar o moral de sua tropa ao longo desta batalha saiu totalmente pela culatra depois que a vitória da Rússia mostrou que milhares de ucranianos morreram literalmente por nada, o que pode levar a uma crise de confiança com implicações de longo alcance para este conflito se ele não reparar rapidamente este dano.
A cisão entre o Ministério da Defesa russo e o Grupo Wagner
Apesar dos receios de que a escalada da rivalidade entre o Ministério da Defesa e o Grupo Wagner pudesse fazer com que a Rússia perdesse a Batalha de Artyomovsk, ao final, ela não se revelou fatal e parece ter sido gerida discretamente pelo presidente Vladimir Putin, como demonstrado no domingo pelo agradecimento a ambos por esta vitória.
A contraofensiva de Kiev apoiada pela OTAN parece ser iminente
Volodymyr Zelensky precisa recuperar urgentemente o moral de sua tropa e mostrar à população de seus patronos ocidentais que a ajuda militar fornecida pelos contribuintes, no valor de 165 bilhões de dólares, foi utilizada para alguma coisa, talvez até mesmo para tentar invadir o território russo antes de 2014, razão pela qual a contraofensiva de Kiev apoiada pela OTAN parece ser iminente.
A proposta de Henry Kissinger para que a Ucrânia se junte à OTAN e o artigo do Politico prevendo um conflito congelado do tipo coreano sugerem que os EUA, o Reino Unido e/ou a Polônia farão promessas de segurança a Kiev na próxima cúpula do bloco, tal como as que os EUA fizeram à Finlândia e à Suécia em maio passado ou à Coreia do Sul após o armistício.
A pressão por um cessar-fogo
A China, a Arábia Saudita, alguns países africanos e o Vaticano pressionam por um cessar-fogo, mas as perspectivas de que isso seja bem sucedido (independentemente de quem desempenha esse papel) dependerão em grande medida do resultado da próxima contraofensiva de Kiev e da próxima Cúpula da OTAN.
A menos que Kiev, apoiada pela OTAN, ou a Rússia consiga um avanço militar até o final do ano, um cessar-fogo de algum tipo parece inevitável, tornando assim seus respectivos esforços de gestão da percepção fundamentais, uma vez que terão que convencer sua população de que ganharam mesmo que não tenham atingido seus objetivos máximos.
Teorias da conspiração
Quer se trate da teoria da conspiração “xadrez 5D”, que afirma que “tudo está acontecendo de acordo com o plano”, ou da teoria da “perdição e melancolia”, que diz a todos para “abandonarem todas as esperanças”, os apoiadores de ambos os lados vão certamente deparar-se com estas falsas narrativas com mais frequência à medida que a guerra por procuração entre a OTAN e a Rússia entra na sua próxima fase.
As observações acima partilhadas sobre o estado atual deste conflito sugerem que este se intensificará em breve com o início da contraofensiva de Kiev apoiada pela OTAN, mas que não é provável qualquer avanço de ambos os lados, a menos que o comando e controle e/ou a logística entrem em colapso. Qualquer uma destas situações pode acontecer devido aos ataques do adversário e/ou a intrigas internas, mas nenhuma delas deve ser considerada um fato consolidado. Assim sendo, um cessar-fogo ao longo da linha de contato poderá começar a ser seriamente discutido no final do ano.
*Andrew Korybko é mestre em Relações Internacionais pelo Instituto Estadual de Relações Internacionais de Moscou. Autor do livro Guerras Híbridas – Das Revoluções Coloridas aos Golpes(Expressão Popular).
Tradução: Fernando Lima das Neves.
Publicado originalmente na newsletter do autor.
A China continua incrementando seu apoio à Rússia - Foreign Policy
Deep Pockets, Deep Friendship
Foreign Policy, May 24, 2023

Russian Prime Minister Mikhail Mishustin meets with Chinese President Xi Jinping in Beijing on May 24.Alexander Astafyev/Sputnik/AFP via Getty Images
Russia and China signed a series of bilateral agreements on Wednesday that strengthen the two countries’ economic ties. The deals come at a time when Moscow is increasingly looking to Beijing for economic and political support to offset the impact of Western sanctions and international isolation over the war in Ukraine.
Russian Prime Minister Mikhail Mishustin signed the agreements—which involve deepening investment in trade services, promoting Russian agricultural exports to China, and furthering sports cooperation—during a visit to Beijing, where he met with Chinese President Xi Jinping and Chinese Premier Li Qiang. It is the highest-profile trip to China by a Russian official since the beginning of Russia’s war in Ukraine, though Xi visited Russian President Vladimir Putin, whom he called his “dear friend,” in Moscow this past March. Li Hui, China’s special representative for Eurasian affairs, is set to visit Russia on Friday.
The two countries have increased trade since the start of the war. The first three months of this year saw trade between Russia and China reach $53.8 billion, a nearly 40 percent increase from the same period the year prior.
Meanwhile, a new Gallup poll found that, since the war started, Russia’s neighbors—including those traditionally favorable to it—have taken on a dimmer view of the country’s leadership. According to Gallup, “In four countries historically sympathetic to Russian leadership—Armenia, Moldova, Kazakhstan and Azerbaijan—the percentage who disapprove now exceeds the percentage who approve.” Disapproval also rose in Kyrgyzstan and Uzbekistan. Last week, China—not Russia—held a Central Asia summit, where Xi unveiled plans for development and pledged a “new blueprint” for the region.
Postagem em destaque
Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida
Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...
-
Uma preparação de longo curso e uma vida nômade Paulo Roberto de Almeida A carreira diplomática tem atraído número crescente de jovens, em ...
-
FAQ do Candidato a Diplomata por Renato Domith Godinho TEMAS: Concurso do Instituto Rio Branco, Itamaraty, Carreira Diplomática, MRE, Diplom...
-
Mercado Comum da Guerra? O Mercosul deveria ser, em princípio, uma zona de livre comércio e também uma zona de paz, entre seus próprios memb...
-
Países de Maior Acesso aos textos PRA em Academia.edu (apenas os superiores a 100 acessos) Compilação Paulo Roberto de Almeida (15/12/2025) ...
-
Reproduzo novamente uma postagem minha de 2020, quando foi publicado o livro de Dennys Xavier sobre Thomas Sowell quarta-feira, 4 de março...
-
Liberando um artigo que passou um ano no limbo: Mercosul e União Europeia: a longa marcha da cooperação à associação Recebo, em 19/12/2025,...
-
Itamaraty 'Memórias', do embaixador Marcos Azambuja, é uma aula de diplomacia Embaixador foi um grande contador de histórias, ...
-
O destino do Brasil? Uma tartarug a? Paulo Roberto de Almeida Nota sobre os desafios políticos ao desenvolvimento do Brasil Esse “destino” é...
-
Quando a desgraça é bem-vinda… Leio, tardiamente, nas notícias do dia, que o segundo chanceler virtual do bolsolavismo diplomático (2019-202...