terça-feira, 11 de março de 2025

Holodomor: o genocídio fabricado por Stalin contra os camponeses ucranianos- BBC

 https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60348621 

Holodomor: a grande fome que matou milhões na Ucrânia durante o comunismo soviético de Stalin

Ucranianos atingidos por grande fome, o Holodomor

CRÉDITO, MUSEU HOLODOMOR

Legenda da foto, Estimativas apontam que mais de 3 milhões de ucranianos morreram de fome entre 1932-1933

Noventa anos atrás, milhões de ucranianos morreram em uma grande fome durante o regime soviético de Joseph Stalin.

E até hoje, o Holodomor, como o evento ficou conhecido, continua a dividir opiniões tanto de historiadores quanto do público.

Há os que o rotulam como genocídio e traçam paralelos com o Holocausto — o assassinato em massa de milhões de judeus, bem como homossexuais, ciganos, Testemunhas de Jeová e outras minorias, durante a 2ª Guerra Mundial, a partir de um programa de extermínio sistemático implementado pelo partido nazista de Adolf Hitler.

Outros rejeitam tal definição e consideram a comparação inadequada, apesar de reconhecerem a dimensão humana da tragédia. 

Afinal, a grande fome foi uma política de extermínio deliberadamente planejada por Stalin ou consequência da industrialização soviética?

Em meio a visões distintas, as redes sociais acabaram por acirrar ainda mais essa discussão, tornando-se plataforma de vozes exaltadas contra e favor do comunismo.

Vítima de Grande Fome na Ucrânia

CRÉDITO, DIÖZESANARCHIV WIEN/BA INNITZER

Grande Fome na Ucrânia

CRÉDITO, DIÖZESANARCHIV WIEN/BA INNITZER

O que foi o Holodomor?

O Holodomor, ou Fome-Terror, ou mesmo Grande Fome, foi uma crise generalizada de fome que atingiu a Ucrânia durante o regime comunista soviético liderado desde 1922 por Joseph Stalin (1878-1953).

O nome vem das palavras em ucraniano "holod" (fome) e "mor" (praga ou morte). 

Alguns historiadores, como Timothy Snyder, da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, que fez uma extensa pesquisa na Ucrânia, estimam o número de mortos em cerca de 3,3 milhões. Outros dizem que o número foi muito maior.

Qualquer que seja o número real, é um trauma que deixou uma ferida profunda e duradoura nessa nação de 44 milhões de habitantes.

Grande Fome na Ucrânia

CRÉDITO, DIÖZESANARCHIV WIEN/BA INNITZER

Aldeias inteiras foram dizimadas e, em algumas regiões, a taxa de mortalidade chegou a 30%. O campo ucraniano, lar da "terra negra", algumas das terras mais férteis do mundo, foi reduzido a um deserto silencioso.

Cidades e estradas ficaram repletas de cadáveres daqueles que deixaram suas aldeias em busca de comida, mas morreram ao longo da jornada. Houve relatos generalizados de canibalismo.

Em 2013, a ucraniana Nina Karpenko, então como 87 anos, contou, em entrevista à BBC, como conseguiu sobreviver.

"Um pouco de fubá barato, palha de trigo, folhas secas de urtiga e outras ervas daninhas" — essa era a essência da vida durante o terrível inverno e o início da primavera de 1932-33 na Ucrânia. 

Quando as aulas recomeçaram no outono seguinte, dois terços das carteiras estavam vazias, segundo Karpenko. Seus colegas de classe haviam morrido.

Joseph Stalin

CRÉDITO, BIBLIOTECA DO CONGRESSO DOS EUA

Legenda da foto, Joseph Stalin é acusado de deliberadamente deixar ucranianos morrer de fome

Individual x coletivo

Mas a dor do Holodomor não vem apenas do número de mortos. Muitas pessoas acreditam que suas causas foram intencionais e decorrentes da ação humana. 

E, segundo elas, o homem por trás disso tinha nome e sobrenome: o então líder soviético, Joseph Stalin.

Em outras palavras: um genocídio.

Elas alegam que Stalin queria submeter o campesinato ucraniano rebelde à fome e forçá-lo a integrar suas propriedades em fazendas de exploração coletiva.

A coletivização daria ao Estado soviético controle direto sobre os ricos recursos agrícolas da Ucrânia e lhe permitiria controlar o fornecimento de grãos para exportação. As exportações de grãos seriam, então, usadas para financiar a transformação da URSS em uma potência industrial.

A maioria dos ucranianos rurais, que eram agricultores independentes de pequena escala ou de subsistência, resistiu à coletivização. Eles foram forçados a entregar suas terras, gado e ferramentas agrícolas, e trabalhar em fazendas coletivas do governo ("kolhosps").

Houve milhares de protestos, que foram reprimidos pela polícia secreta soviética (GPU) e o Exército Vermelho. Dezenas de milhares de agricultores foram presos por participar de atividades antissoviéticas, fuzilados ou deportados para campos de trabalho forçado.

Grande Fome na Ucrânia

CRÉDITO, DIÖZESANARCHIV WIEN/BA INNITZER

Além da repressão em massa, o Kremlin passou a requisitar mais grãos do que os agricultores podiam fornecer. Quando resistiram, brigadas de ativistas do Partido Comunista varreram as aldeias e levaram tudo o que era comestível.

"As brigadas levaram todo o trigo, cevada — tudo — então não sobrou nada", disse Karpenko. "Até mesmo feijões que as pessoas tinham reservado para uma eventualidade".

"As pessoas não tinham nada a fazer a não ser morrer."

Ao passo que a fome aumentava, as autoridades soviéticas tomaram medidas extras, como fechar as fronteiras da Ucrânia, e os camponeses se viram impedidos de viajar para o exterior onde poderiam obter comida. 

Isso significou uma sentença de morte, dizem especialistas.

"O governo fez todo o possível para impedir que os camponeses entrassem em outras regiões e buscassem pão", afirmou à BBC Oleksandra Monetova, do Museu Memorial Holodomor de Kiev.

"As intenções das autoridades eram claras. Para mim é um genocídio. Não tenho dúvidas."

Mas para outros, a questão ainda está em aberto. 

A Rússia, em particular, se opõe ao rótulo de genocídio, classificando-o de "interpretação nacionalista" da fome.

Autoridades do Kremlin insistem que, embora o Holodomor tenha sido uma tragédia, não foi intencional, e outras regiões da União Soviética também sofreram na época — e isso, de fato, aconteceu. 

Grande Fome na Ucrânia

CRÉDITO, DIÖZESANARCHIV WIEN/BA INNITZER

Kiev e Moscou entraram em conflito sobre a questão no passado. 

Atualmente, além da Ucrânia, pelo menos 15 países — entre os quais Portugal e Canadá, e Argentina, Colômbia, Paraguai, Peru, Equador e México na América Latina — consideram o Holodomor um genocídio. 

O Brasil não faz parte desse grupo. 

Em 2018, o Senado dos Estados Unidos adotou uma resolução que definiu o Holodomor como genocídio. 

Grande Fome na Ucrânia

CRÉDITO, DIÖZESANARCHIV WIEN/BA INNITZER

'Holocausto comunista'?

Se ainda há intenso debate sobre se o evento pode ser considerado um genocídio, a comparação com o Holocausto também divide opiniões entre especialistas. 

Em comum, as duas tragédias resultaram em milhões de mortes.

Do ponto de vista legal, o Holocausto é considerado genocídio porque possui tanto o que a Convenção sobre Genocídio da ONU chama de "elemento mental" ("intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, enquanto tal") e "elemento físico". Este inclui cinco atos, que são:

  • Matar membros do grupo
  • Causar danos físicos ou mentais graves a membros do grupo
  • Infligir deliberadamente ao grupo condições de vida calculadas para provocar sua destruição física total ou parcial
  • Impor medidas destinadas a prevenir nascimentos dentro do grupo
  • Transferir à força crianças do grupo para outro grupo

Quem considera o Holodomor como genocídio, acredita que muitos desses atos foram praticados pelo regime stalinista contra os ucranianos.

Na visão de Eric D. Weitz, professor de História da City University de Nova York, nos Estados Unidos, o problema da definição de genocídio da ONU é que "não inclui grupos definidos por sua orientação política ou origem de classe".

Ele especula que "nas negociações da década de 1940, a União Soviética e seus aliados forçaram a exclusão dessas categorias por medo de que suas políticas para o campesinato e opositores políticos poderiam ser consideradas genocídios".

Nessa linha, alguns especialistas apontam ainda que o regime soviético tinha claras intenções de destruir a "identidade nacional ucraniana". 

"Os assassinatos na Ucrânia não foram numerosos apenas na fome de 1932-1933. O número de mortos na Ucrânia depois que os bolcheviques chegaram ao poder também foi bastante alto. Nos anos antes da fome, o regime bolchevique tentou acabar com os sentimentos nacionalistas do povo ucraniano passando por expurgos da elite intelectual, impondo língua russa e dissolução da igreja nacional", diz um artigo na revista romena de Ciências Políticas Studia Politica assinado por Alexandra Ilia.

"O fato de que os bolcheviques estavam tentando destruir a identidade nacional dos ucranianos também pode significar que a fome pode não ter sido uma tentativa fracassada de forçar a coletivização, mas uma tentativa bem-sucedida de esmagar a Ucrânia como um todo", acrescenta.

Ilia vai além e argumenta que tanto no nazismo quanto no comunismo "havia algumas razões ideológicas subjacentes à intenção de matar".

"Os perpetradores do Holocausto haviam estabelecido sua crença na falsa biologia e no antissemitismo, sob uma visão nacional-socialista do mundo. Os responsáveis pelo Holodomor, por outro lado, eram fanáticos comunistas, acreditando na falsa sociologia, procurando eliminar a classe kulak (camponeses mais prósperos) mas também trazer uma nação (Ucrânia) de joelhos para fortalecer sua influência sobre ela. Embora as razões para cometer assassinato pareçam muito diferentes, a ideologia que ocasionou isso contém alguns pontos comuns", diz.

Michael Mann, autor de The Dark Side of Democracy: Explaining Ethnic Cleansing (O Lado Negro da Democracia: Explicando a Limpeza Étnica), argumenta que no comunismo "o povo era o proletariado, e as classes opostas ao proletariado eram inimigos do povo. Os comunistas eram tentados a eliminar as classes através do assassinato. Chamo isso de classicídio".

Grande Fome na Ucrânia

CRÉDITO, DIÖZESANARCHIV WIEN/BA INNITZER

'Descomunização'

As atrocidades cometidas pelo comunismo personificado por Stalin ainda estão vivas na memória dos ucranianos.

Após a anexação da Península da Crimeia pela Rússia em 2014, o Parlamento da Ucrânia aprovou, em abril de 2015, uma ampla legislação sobre "descomunização".

Foi proibida a promoção de símbolos de regimes e propaganda comunistas. Monumentos foram removidos e milhares de ruas, renomeadas. Os três partidos comunistas foram banidos de participar de eleições. 

Pela mesma legislação, símbolos e propaganda do nacional-socialismo também foram proibidos.


Trump-Zelenski e o diálogo meliano - Rubens Barbosa O Estado de S. Paulo

Opinião:  Trump-Zelenski e o diálogo meliano

Poucas vezes a conhecida observação de que ‘a História se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa’ foi tão apropriada

Por Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo, 11/03/2025 | 03h00


O confronto entre os presidentes Donald Trump e Volodmir Zelenski na Casa Branca traz lembranças históricas e indica incertezas para o futuro.

Ocorreu-me recordar um episódio – o diálogo meliano – registrado pelo historiador grego Tucídides na sua conhecida História da Guerra do Peloponeso, retratando o conflito entre Atenas e Esparta, ocorrido em (431 a.C.-404 a.C.).

Melos, uma pequena ilha dórica no mar Egeu, optou por manter posição neutra na guerra. Atenas, visando a expandir seu império e a demonstrar seu poder, exigiu a submissão dos melianos. A negativa de Melos, baseada em princípios de justiça e na esperança de auxílio espartano, contrastava com a perspectiva implacável dos atenienses. Diante da recusa de Melos em se submeter, Atenas impôs sua vontade pela força: a cidade foi sitiada, seus homens executados e as mulheres e crianças tornadas como escravas.

Na negociação entre Atenas e Melos, em 416 a.C., os representantes atenienses afirmam que “o justo nas discussões entre os homens, só prevalece quando os interesses de ambos os lados são compatíveis e que os fortes exercem o poder e os fracos se submetem”. “Os fortes fazem o que podem e os fracos sofrem o que devem”. “A decisão é mais quanto à própria salvação, evitando oferecer resistência diante do que é muito mais forte”. “Melos não tem possibilidade de resistir e deve submeter-se para evitar sua destruição”. “Nenhum povo considera bom apenas o que lhe agrada e justo o que serve aos seus interesses”. “O interesse próprio anda lado a lado com a segurança, enquanto é perigoso cultivar a justiça e a honra”. “Meras esperanças, relativas ao futuro, são insuficientes para justificar qualquer expectativa de sucesso levando em conta os recursos disponíveis, comparados com aqueles que existem contra”. “Os que agem como convém em relação aos mais fortes procedem corretamente”. “Os desejos fazem ver o irreal como se já estivesse acontecendo”.

Por sua vez, os melianos, sustentando uma posição ética diante da opressão, argumentam que “a justiça deve prevalecer sobre a força” e que Esparta, sua aliada natural, virá em sua ajuda. Com isso, defenderam a legitimidade de sua neutralidade e a crença de que os deuses e a aliança com Esparta lhes favoreceria. “Para seus cidadãos, a amizade (com Atenas) é prova de fraqueza, o ódio (de Atenas) é uma demonstração de força”. “Ceder imediatamente é perder toda a esperança, mas a continuação da luta ainda poderá manter-nos de pé”.

O diálogo meliano é um exemplo do realismo político, em que a força e o interesse próprio prevalecem sobre a moralidade e a justiça. A crueza da afirmação “os fortes exercem seu poder e os fracos se submetem” reflete uma visão cínica das relações internacionais, que segue sendo atual na política internacional e oferece, ainda hoje, elementos para uma reflexão profunda sobre a natureza do poder e os limites dos ideais de justiça em um mundo dominado pela força e pelo interesse de autonomia dos países.

O episódio explicita o custo do uso da força e da brutalidade da guerra, bem como as limitações da justiça em um mundo dominado pelo mais forte. A negociação entre Atenas e Melos não só ilustra o realismo político já existente 400 anos antes de Cristo, mas também levanta questões universais sobre o poder, a justiça e a moralidade, temas que continuam a ser debatidos na política contemporânea.

O diálogo enfatiza a ideia de que a justiça só existe entre iguais em poder e de que a realidade das relações internacionais é marcada pela dominação dos mais poderosos. Impressiona a atualidade da postura ateniense de pragmatismo no contexto da realpolitik nos dias de hoje, com o uso da força econômica e comercial para obter vantagens políticas.

Tudo isso ficou exposto para o mundo na discussão acalorada no Salão Oval da Casa Branca, em frente às câmeras das televisões. “Você não tem cartas hoje para continuar a guerra”, “vocês vão perder o armamento que os EUA lhes fornecem”, a “Europa não tem condições de ajudar”. “Você tem de agradecer a vontade dos EUA em terminar a guerra, que vocês não têm condição de manter”, “sem os EUA você não tem nenhuma força”, foram algumas das afirmações de Trump, atualizando as frases do diálogo de Melos.

“Mostraremos claramente que é para o benefício de nosso império, e também para a salvação de vossa cidade, que estamos aqui dirigindo-vos a palavra, pois nosso desejo é manter o domínio sobre vós sem problemas para nós, e ver-vos a salvo para a vantagem de ambos os lados”, em outras palavras, parafraseando os atenienses, vociferou Trump a Zelenski.

O que aconteceu no Salão Oval – uma armadilha ao presidente ucraniano criada pelo presidente dos EUA e seu e vice – foi algo sem precedente nos 250 anos da história dos EUA. Poucas vezes a conhecida observação de que “a História se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa” foi tão apropriada para descrever um diálogo sobre como terminar uma guerra.

Se a política externa dos EUA se mantiver nos próximos anos, como explicitada no encontro – a ruptura do tratamento da Rússia como adversária dos últimos 60 anos e o distanciamento da Otan e da Europa – trará profundas transformações no cenário global e no próprio conceito de Ocidente.

 

Presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), foi embaixador do Brasil em Londres (1994-99) e em Washington (1999-2004)

 

https://www.estadao.com.br/opiniao/rubens-barbosa/trump-zelenski-e-o-dialogo-meliano/


segunda-feira, 10 de março de 2025

Interpretando uma foto altamente simbólica

Putin deve estar dizendo para si próprio:

"Nunca pensei que fosse tão fácil enganar esse idiota, e com isso consigo desativar a política externa do meu outrora inimigo."

De fato não parece muito difíl, quando se é um tirano com grandes projetos em face de um aprendiz de ditador...


Mercosul: o último tango em Washington? - Assis Moreira (Valor Econômico)

 Acordo de livre comércio Argentina-EUA? Esqueçam!

Acordo de livre comércio Mercosul-EUA? Impossível!

Acordo de livre comércio Mercosul-China? Inimaginável!

Não vai acontecer NADA, como aliás já ocorre desde o início do século. (PRA)

Mercosul: o último tango em Washington?
Assis Moreira
Valor Econômico, segunda-feira, 10 de março de 2025
Países do bloco examinam negociações em curso, enquanto Milei visa acordo com Donald Trump

A partir desta semana começam efetivamente as reuniões da presidência rotativa da Argentina no Mercosul. Será a ocasião para os parceiros tentarem identificar como o governo de Javier Milei planeja realmente atuar à frente do bloco.
Milei insiste que trabalha intensamente em um projeto de acordo comercial com os EUA, aproveitando a afinidade ideológica com Donald Trump. De seu lado, Trump disse estar aberto à possibilidade de avançar num tratado comercial com o ‘grande lider’ Milei.
Por enquanto, o que há é retórica e nada de concreto. Entre sócios do Mercosul, alguns interlocutores acreditam que Milei vai respeitar as regras do Mercosul, sob pressão de parte de seu setor privado. Outros apontam para sua imprevisibilidade e o veem capaz de colocar em risco o mercado vizinho para produtos argentinos.
Milei fala algo diferente a cada momento. Já acenou que tentaria um acordo 4+1 (Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e a Bolívia) com os EUA. Depois, se não desse, a Argentina iria fazer a negociação sozinha, o que é ilegal, viola as regras do Mercosul. O bloco estabelece que seus países membros devem negociar acordos comerciais de maneira conjunta.
No Congresso argentino, Milei disse que no caso de não poder obter flexibilização das condições para acordos, está disposto a sair do Mercosul, reclamando que o bloco ‘só beneficiou os industriais brasileiros em detrimento da economia argentina’.
Milei poderá abrir uma caixa de Pandora. Se sair do Mercosul, a situação estará clara: haverá um período de dois anos no qual a Argentina continuará sob direitos e obrigações do bloco. Depois, sofrerá tarifas dos parceiros, assim como levantará barreiras aos ex-sócios, causando destruição de riqueza nos dois lados.
Já no cenário em que a Argentina negociar com os EUA, mas querendo permanecer no Mercosul, apesar da mega perfuração das regras básicas, a reação do bloco não é automática. Será preciso que os parceiros abram procedimento para avaliar a violação argentina e os estragos previsíveis.
Certo mesmo é que o presidente da Argentina pode dar um golpe na já dificil integração econômica na América do Sul, assim como Trump vem fazendo na América do Norte na imposição de choque tarifário contra os vizinhos e sócios Canadá e México com argumentos ‘idiotas’.
No Mercosul, como no Nafta, o setor automotivo seria um dos mais afetados. Cerca de 28% das exportações argentinas para o Brasil no ano passado foram veículos em geral. Por sua vez, 22% das exportações brasileiras para a Argentina foram veículos e 9,7% partes e acessórios.
Não é para os EUA que a Argentina passaria a exportar carros que não poderia vender para o Brasil. Um acordo, modesto, poderia envolver vários produtos industriais suspensos hoje do Sistema Geral de Preferências (SGP americano), mas sem valor expressivo, na avaliação de fontes.
Esta semana, os países do bloco oficialmente passarão em revista negociações que estão realmente em andamento.
A União Europeia informou que a revisão legal do acordo com o Mercosul está quase concluída. Logo começarão as traduções dos tetos. Depois, em poucos meses poderia tentar ratificar o acordo para entrada em vigor num cenário geopolítico completamente diferente. Os europeus parecem ainda mais desesperada para implementar o acordo, que dará boa vantagem para as empresas europeias no Mercosul (tarifa menor), na competição com a China e os EUA.
Também há possibilidade de ainda na presidência argentina até julho o Mercosul concluir as negociações de acordo de livre comércio com a Associação Europeia de Livre Comércio (Efta, na sigla em inglês), formada por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein.
Para os países do Efta, o acordo é importante para assegurar pelo menos as mesmas preferências que serão obtidas pelas empresas dos países da EU. Isso e dá uma evidente vantagem competitiva nos negócios com um mercado de mais de 260 milhões de habitantes como é o caso do Mercosul. Os países do Efta são pequenos, mas muito ricos.
A China continua insistindo em ter um acordo comercial com o Mercosul. Mas o bloco reage com enorme prudência em relação aos asiáticos em geral. O setor privado considera arriscado e complicado movimento nessa direção, especialmente no contexto de política industrial. No Brasil, há segmentos que consideram que não dá para baixar a guarda para os asiáticos, ainda mais quando todo mundo está com um pé atrás em relação a abertura de mercado.

Aurélio Schommer explica como “foi feito” o povo brasileiro…

 Aurélio Schommer explica como “foi feito” o povo brasileiro, uma mistura formidável, como não existe em nenhum lugar do mundo:

“ Em termos genéticos, o Brasil é majoritariamente europeu, como, ademais, o é na cultura, a começar pelo idioma. Os dados dos estudos de marcadores genéticos de nossa população convergem para cerca de 70% de herança europeia, predominando a africana sobre a ameríndia para os 30% restantes. Os estudos são os resultados preliminares do projeto DNA do Brasil, da USP, de uma compilação de 51 pesquisas por Souza e outros, de 2019, publicados pelo Genetics and Molecular Biology Journal, e de um levantamento do laboratório Genera com 200 mil amostras de brasileiros. 

Até aí, não há muita história para contar além do que todos já sabem. Os portugueses chegaram, se miscigenaram com os nativos, em seguida trouxeram africanos. Mais tarde, vieram os alemães, italianos, poloneses etc, na grande imigração de 1870 a 1970. Porém, quando separamos as linhas paterna e materna dos cromossomos dos brasileiros, desvendamos outra história.

O y-DNA, ou seja, o patrilinear, dos brasileiros varia entre 75 e 85% de origem europeia, a depender de contar como europeus apenas os da Europa geográfica ou agregarmos berberes, judeus, turcos, sírio-libaneses, árabes e afins. Cerca de 15% de nossos pais são africanos e apenas 1% indígenas.

Já no DNA mitocondrial, também chamado mtDNA, somos um terço, um terço, um terço, partes mais ou menos iguais de mães ameríndias, africanas e indígenas. Nem mesmo a chegada de aproximadas 2 milhões de mulheres europeias no pós-Independência e o inicial alto índice de fertilidade delas teve o poder de mudar uma base que não poderia ser europeia, pois os aproximados 1 milhão de portugueses chegados antes da Independência eram quase todos homens. E assim continuaram depois, quando passaram de migrantes internos a imigrantes. No censo de 1872, apenas 17% dos portugueses encontrados eram mulheres. 

Nos primeiros trezentos anos de Brasil, o filho do português com a ameríndia era chamado mameluco. Os homens mamelucos passariam o y-DNA, patrilinear, europeu a todas as dezenas de gerações vindouras, até hoje. As mulheres mamelucas, o matrilinear, em tal medida que pelo menos 60 milhões de brasileiros do século XXI descendem diretamente delas. Não chega a um terço exato porque algumas indígenas geraram filhos com africanos e afrodescendentes ou com os 1% de pais também indígenas. Lembremo-nos de Caramuru e Catarina Paraguaçu, de João Ramalho e Bartira, de Jerônimo de Albuquerque e Maria Arcoverde, também chamada Muira Ubi. Esses casais Adão e Eva da Bahia, de São Paulo e de Pernambuco respectivamente deram origem a uma descendência vasta e relativamente privilegiada, dona da terra. No Censo de 1872, o mameluco é quase toda população identificada como branca, 38% dos brasileiros de então.

Já o filho de português com africana era o pardo. Também uma vez mestiço e homem, toda descendência dele era y-DNA europeu. Das mulheres africanas, por sua vez, descendem 70 milhões de brasileiros atuais. No Censo de 1872, o pardo é contado como pardo mesmo, outros 38% dos brasileiros de então. Para completar, 20% foram identificados como pretos, não miscigenados, 4% como caboclos, que podiam ser indígenas aculturados ou mestiços não contados como brancos. Estamos a falar de uma base composta por apenas 1 milhão e meio de africanas, pois elas representaram apenas 1/3 dos africanos da diáspora, do infame a abjeto comércio escravista, cessado em 1850. 

O quase sumiço do y-DNA dos pais indígenas não se deve necessariamente à violência, a matar ou espantar os homens e recolher as mulheres, como muitos atribuem com base em achismo. Tanto entre tupis quanto entre os guaranis e o kaingangues, para ficar nos exemplos mais numerosos e bem documentados em crônicas, os próprios moradores das aldeias, homens ou mulheres, convidavam o europeu a gerar filhos com as indígenas. Não poucos passavam até a viver como nativos, adotando seus costumes. Houve as chamadas “guerras justas”, sem dúvida, mas a maior parte da interação entre portugueses e nativos não foi assim, até porque os indígenas eram pessoas completas, capazes de negociar e contra-atacar se fosse o caso, de tomar decisões individuais ou coletivas, usando a lógica, tão dotados de razão quanto os d’além-mar. 

Mais complexa era a relação com o africano e o afrodescendente, com realidades que variaram no tempo e no espaço. A prevalência de cerca de 15% de patrilinearidade africana na população atual indica uma resistência notável, possível por uma série de fatores, entre os quais contam o isolamento em quilombos, a organização em irmandades católicas, os nascidos livres e libertos com prestígio, como os soldados e oficiais do Terço dos Henriques, e mesmo o incentivo de alguns senhores a que se formassem casais nas senzalas.

O caso do povoamento de Minas Gerais revela uma realidade demográfica aguda e de grande peso relativo na formação genética do brasileiro. Alguém se lembrou de Chica da Silva? Pois é. Ela teve 14 filhos. Ao contrário do que se insinuou dela em representações da dramaturgia, foi católica devota e esposa fiel. Quando viúva, herdou o patrimônio do esposo, um dos portugueses mais ricos de todo império, e o administrou com zelo. 

Nos primeiros 50 anos de povoamento das Minas, seis em cada sete africanos introduzidos na capitania eram homens. Entre os portugueses e mamelucos (paulistas, baianos e fluminenses), quase todos homens também. A chance de reproduzir dos homens se restringia às africanas e afrodescendentes, que eram menos de 10% da população total. Quase não havia mulheres ameríndias disponíveis, pois a povoamento indígena ali era rarefeito, tanto que hoje o estado de Minas Gerais tem a menor proporção de DNA ameríndio entre todas as unidades da federação.

Aquelas preciosas mulheres africanas, mães de Minas, podem ter sofrido violência? Infelizmente, sim, deve ter acontecido muito. Mas Chica da Silva não foi exceção. A historiografia descobriu que a maior parte dos estabelecimentos de comércio a retalho, varejista, de Minas Gerais, no final do século XVIII, pertencia a mulheres negras. 

O alto grau de miscigenação da população brasileira, possivelmente a maior do mundo, é uma dádiva a ser celebrada. Ela passou pela crueldade infame da escravatura e pela exclusão aguda da patrilinearidade indígena. Mas também por afeto genuíno e pela formação de famílias, formais ou informais, por consentimento, como nos conta a historiadora Mary Del Priore. Somos na maior parte mestiços. Ainda bem. Carregamos em nós o patrimônio genético de muitos povos, da diversidade. 

(texto para o próximo vídeo do canal Enciclopédia de História: História do Brasil Explicada pela Genética)”

Por que briga de EUA e China pela hegemonia em IA vai remodelar o mundo - Álvaro Machado Dias (FSP)

Por que briga de EUA e China pela hegemonia em IA vai remodelar o mundo

Corrida para construir a infraestrutura do futuro é a mais importante desde a era nuclear

Álvaro Machado Dias

Neurocientista, professor livre-docente da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), sócio do Instituto Locomotiva e da WeMind e colunista da Folha

Folha de S.Paulo, 9/03/2025

[RESUMO] Disputa para liderar a revolução tecnológica desencadeada pela inteligência artificial promete remodelar a geopolítica nas próximas décadas, de forma tão acentuada quanto a Guerra Fria. EUA e China protagonizam os embates, mas Europa, Coreia do Sul e Taiwan também ocupam papéis importantes no tabuleiro de acordos, embargos e transferência de tecnologia deste jogo de resultados imprevisíveis.

A evolução tecnológica acelera-se com o tempo e, com ela, a tendência a enxergar as coisas que inventamos como uma segunda natureza. Inteligências artificiais (IAs) generativas são uma etapa desse processo no domínio das criações que externalizam e automatizam a nossa inteligência. A fase seguinte envolverá robôs com sensores e sistemas motores que replicam os nossos, afinal, o mundo não se resume a telas.

Os incentivos para liderar a evolução tecnológica são tremendos e estão sendo discutidos nos grandes centros de poder sob o prisma da infraestrutura.

Tal como a internet baseia-se em cabos interoceânicos, satélites e protocolos universais de comunicação, não tardará o momento de estabelecer protocolos para que as IAs e os sistemas físicos em que são embarcadas possam interagir globalmente e multiplicar seu impacto, o que deve ser decidido em função da relevância das alternativas. Isso faz da corrida pela supremacia em IA a mais importante desde a era nuclear.

Estados Unidos e China dominam a cena, que não é mero replay da antiga Guerra Fria. Ainda que as faíscas estejam por todos os lados, os adversários são interdependentes, sem contar que estão no negócio de oferecer alternativas para o mundo livre, o que a União Soviética via com ceticismo.

Até aqui, os dois gigantes vêm adotando estratégias opostas. O incumbente ocidental opta pela defesa exaustiva de seus segredos, enquanto o desafiante aposta na pulverização do conhecimento por meio da distribuição de soluções de código livre.

A intenção é evitar que o consórcio público-privado americano consolide seu monopólio, enquanto corre para reduzir o gap tecnológico que subsiste, a despeito de os chineses contarem com ativos valiosos: alunos mais bem formados em exatas, 200% mais engenheiros de software e ética de trabalho superior.

Uma vantagem potencial de Pequim é ser mais simpática para os países em desenvolvimento, consolidando sua liderança entre o Brics, que hoje representa 40% da população mundial e 35% do PIB por paridade de compra. Enquanto Trump distribui cotoveladas, Xi Jinping, líder chinês, pensa obsessivamente em destravar a demanda reprimida das economias médias. No entanto, a missão é mais difícil do que parece.

O segredo das IAs atuais é colocar o processador (GPU) para resolver matrizes de comparação de palavras, até o ponto em que dê para assumir que uma é boa. O mesmo vale para imagens, vídeos e tudo o mais.

A mágica, portanto, não emerge somente dos algoritmos generativos, mas do hardware, onde as demandas a serem destravadas encontram embargos e outros obstáculos de natureza geopolítica, que os chineses não conseguem contrapor com seus próprios trunfos materiais, como a hegemonia no refinamento das terras raras, fundamentais para a indústria tecnológica.

A contenda sobre os segredos industriais desses hardwares é antiga e já envolveu múltiplas empresas e países. Ela começou a ganhar contornos quando William Shockley descobriu uma propriedade fascinante do germânio, utilizado na construção de radares. Dependendo da corrente aplicada, o material se torna condutor ou isolante.

Isso o remeteu a Alan Turing, que inventou o processador universal para quebrar a criptografia nazista (Enigma), abrindo as portas para uma revolução produtiva e intelectual. O problema é que a máquina de Turing dependia de técnicos, os "computadores", que faziam as operações usando switches.

A descoberta de Shockley permite a substituição desse trabalho manual pela própria eletricidade. Quando ela passa, temos o "1"; quando não, temos o "0". Assim surgiram os semicondutores e, moto-contínuo, o Vale do Silício.

O desafio decorrente nunca deixou de ser atual: como compactar mais semicondutores em um único circuito? Esse fator é crucial, já que o aumento da distância entre eles reduz o poder de processamento, de nada adiantando construir circuitos do tamanho de uma cidade.

A resposta veio do entendimento de que os próprios circuitos poderiam ser feitos de semicondutores, o que deu origem ao chip, criado por dissidentes do grupo de Shockley (fundadores da Intel) e considerado a invenção mais importante do século 20 pelos historiadores da tecnologia.

O material era caríssimo, a construção complicada e o mercado incipiente, mas em 1957 os russos lançaram o Sputnik, primeiro satélite a orbitar a Terra, levando a Nasa a procurar inovações capazes de tirar o atraso americano.

Chips prometiam reduzir substancialmente o peso dos controladores a bordo dos satélites, alterando o curso da corrida espacial e talvez até levando o homem à Lua, o que de fato aconteceu em 1969 para o espanto do mundo.

A década de 1960 foi de imensa tensão entre os Estados Unidos e a União Soviética, a qual também desenvolveu sua indústria de semicondutores, com o objetivo de se preparar para a corrida armamentista.

Na ocasião, surgiram as primeiras restrições à exportação de circuitos eletrônicos e os primeiros esquemas para burlá-las, com os soviéticos montando empresas de fachada ao redor do mundo para comprar e repassar os chips para os russos, que os replicavam em um complexo industrial perto de Moscou. Funcionou bem por uma década.

Mais de 90% dos microprocessadores fabricados na década de 1960 tinham destinação militar. A obsessão com a Terceira Guerra Mundial canalizou as verbas estatais para pesquisa e desenvolvimento, o que levou ao barateamento dos chips e, por consequência, ao fortalecimento da indústria de eletroeletrônicos, que já na década seguinte havia ultrapassado a militar e hoje produz mais de 1,5 trilhão de chips por ano. Foi exatamente aí que a natureza planificada da economia soviética cobrou o seu preço.

Entre a metade da década de 1960 e a reestruturação econômica de 1986 (Perestroika), a distância entre a qualidade dos bens produzidos no Ocidente e a do mundo soviético acentuou-se dramaticamente, justamente porque a eletrônica era incipiente.

Quem se lembra do Lada sabe do que estou falando: mecânica de tanque, experiência de carroça. A razão é a ausência de circuitos integrados nas montadoras, o que se estendia às fábricas de geladeiras, telecom, máquinas industriais e aos computadores pessoais, que ninguém tinha em casa.

Boa parte da insatisfação da população soviética advinha do conhecimento de que havia televisões coloridas e máquinas automáticas de café do outro lado da Cortina de Ferro.

Chips elevam tremendamente as experiências sensoriais e tiveram papel muito maior para a sublevação contra o comunismo soviético do que aparece nos livros de história.

Esses pequenos geradores de experiências tecnológicas também são fundamentais para a compreensão da inserção da Rússia capitalista na ordem mundial. O país atropelou os Estados Unidos e seus aliados em uma invasão em plena Europa —sendo que modelos empíricos mostram que é cerca de três vezes mais difícil invadir um país do que defendê-lo—, ao mesmo tempo que foi incapaz de registrar uma única patente relevante neste século.

O fator que fez com que os russos ficassem na poeira é o mesmo que explica a emergência da China, na esteira de outros países asiáticos: a priorização da indústria de eletroeletrônicos, composta de bilhões de consumidores, em vez da bélica, composta de um punhado. No mercado global de tecnologia, mais do que em qualquer outro, ser o melhor decide o jogo.

Foi exatamente por essa via que o primeiro grande rearranjo produtivo do pós-guerra ocorreu, durante a década de 1980, com a emergência do Japão como potência criativa e econômica da então chamada terceira revolução industrial.

Livre de embargos, os japoneses foram de importadores de semicondutores americanos para líderes incontestes no mercado civil de alta tecnologia e donos de 50% das fábricas do mundo. Nada ilustra melhor essa história do que o walkman, uma invenção do brasileiro Andreas Pavel convertida em produto de mercado em 1979, que entrou para o dicionário Oxford em 1986, por ter se tornado sinônimo da categoria.

O toca-fitas portátil, com seus quatro chips, foi o segundo produto tecnológico moderno mais importante da história, só perdendo para o iPhone (2007). Porém, no ano de sua consagração vernacular, os americanos forçaram os japoneses a assinar um acordo que limitava severamente suas exportações de chips, ao mesmo tempo que passaram a fazer transmissões maciças de tecnologia para a Coreia do Sul, cuja indústria era incipiente.

A economia do Japão tomou um tombo do qual nunca se recuperou, ao passo que a do tigre asiático cresceu sob princípios que impedem o país de se tornar um novo Japão.

Por outro lado, conseguiu embargar a exportação de tecnologias não militares de ponta para a China, arquiteta da invasão da parte Sul pela Norte (Guerra da Coreia, 1950-1953), ainda que essa restrição não fosse crítica para os americanos. Enquanto isso, no Ocidente, livros sobre inovação e livre mercado eram impressos para as massas.

A GLOBALIZAÇÃO TECNOLÓGICA

A entrada dos computadores pessoais na casa das pessoas, durante a década de 1980, levou a uma especialização dramática da cadeia produtiva de eletrônicos, mas um princípio se mantinha: os fabricantes de semicondutores tanto concebiam quanto produziam os dispositivos responsáveis pela experiência de magia.

Suas fábricas custavam bilhões, e toda vez que alguém aparecia com uma descoberta digna de um Prêmio Nobel —foram vários— iniciava-se uma guerra orçamentária para definir se valeria ou não a pena reconstruir o parque industrial para acomodá-la.

Essa é a narrativa de alguns dos "nãos" mais desastrosos da história da tecnologia, como o da Kodak, que rejeitou a criação de máquinas fotográficas digitais (1976), e o da Blackberry, que fez o mesmo em relação às telas sensíveis ao toque (2007).

Em 1987, Morris Chang, então com 55 anos (o equivalente profissional de 65 anos atuais), migrou dos Estados Unidos para Taiwan, onde colocou em prática a ideia que molda a atual geopolítica da IA: uma indústria de semicondutores exclusivamente dedicada à fabricação de chips para outras empresas, que ele batizou de TSMC.

Chips são a criação em escala mais complexa da história da humanidade. Eles são prédios microscópicos, com pavimentos de plantas gigantescas, com uma profusão de detalhes obsessivamente ordenados. O WSE-3 da Cerebras (fabricação TSMC), chip de IA mais avançado do mundo, possui 4 trilhões de transistores ao longo dos seus pavimentos.

Como se observa nesse caso e em todos os outros, os avanços produzidos são a verdadeira expressão do que a parceria científico-empresarial significa. Eles raramente acontecem sem saltos teóricos extraordinários, seguidos por invenções produtivas capazes de convertê-los em existências ordinárias.

Assim, é de se entender por que ninguém deu atenção àquilo que o ex-engenheiro da Texas Instruments se meteu a fazer, numa época em que o Japão dominava, com um modelo produtivo em que chips e produtos eram vistos como uma coisa só.

No entanto, o mundo estava errado, e Chang, certo. A partir da virada do milênio, os gigantes da tecnologia passaram a abandonar a fabricação do segredo do seu negócio para se concentrarem em seu design.

Surgia assim o conceito de "fabless", as empresas de tecnologia sem fábricas de supercondutores, que hoje se aplica à Apple, à Microsoft, à Tesla e até à Nvidia, que equipa todas as outras com chips fabricados por Morris Chang.

A relevância geopolítica da TSMC, responsável por 15% do PIB de Taiwan em 2023/2024, excede a da grande maioria dos países e faz dela a empresa mais importante do mundo. Apenas ela é capaz de fabricar os chips que estão na fronteira da virada para a IA, que caminha para se consolidar como um dos três grandes pilares da dominância global, junto com a moeda de reserva e o parque de armas, que vem se fundindo à IA.

A empresa taiwanesa exerce papel correspondente ao das grandes petroleiras na estratégia dos americanos para tentar assegurar sua hegemonia global pelo maior tempo possível.

Nos últimos cem anos, o pilar central do imperialismo americano foi o controle da distribuição do petróleo, maná do mundo moderno. Durante a Segunda Guerra, 60% do óleo do mundo era produzido pelos Estados Unidos, o que permitiu ao país endividar os aliados (Lend-Lease Act, 1941), antes mesmo de qualquer discussão sobre a reconstrução da Europa, criando as bases para acordos que consolidaram a hegemonia americana no "Oeste".

A ideia agora é abrigar, sob as asas de águia do Estado, as empresas responsáveis por tornar a IA a infraestrutura do mundo digital, robótico e militar. Esse é o prisma pelo qual o risco de uma invasão chinesa a Taiwan precisa ser visto.

O que está em jogo não é só a soberania de um protetorado ocidental no Mar da China, mas o risco de disrupção da indústria que hoje alicerça a principal estratégia para a manutenção da supremacia global dos americanos, em meio aos indicadores de declínio da unipolaridade.

A situação é séria a ponto de existirem planos para a implosão das fábricas da TSMC no caso de uma invasão chinesa. O mundo entraria em recessão, mas os chineses pagariam seu preço.

Paralelamente, os americanos correm para internalizar a cadeia produtiva da IA. Em 2022, foi promulgado o Chips & Science Act, uma lei de incentivo multibilionária para fomentar a indústria de semicondutores do país, com apoio de republicanos e democratas, da Câmara e do Senado e do governo federal.

O impulso foi um acordo com Morris Chang para a construção de unidades da TSMC nos EUA. A primeira está prestes a entrar em operação (no Arizona em 2025), mas já é certo que permanecerá distante da capacidade de fabricar em escala os chips que definirão o futuro da IA.

A razão é que a TSMC não é simplesmente a líder na criação das pecinhas mais complexas do mundo; ela é a arquiteta de uma cadeia logística sem precedentes.

No centro desta está a ASML, da Holanda, que comercializa as máquinas usadas na indústria desses chips avançados, as quais custam US$ 380 milhões cada uma e são consideradas as mais sofisticadas peças de engenharia de todos os tempos.

A empresa holandesa detém sozinha o segredo da fotolitografia por raios ultravioleta extremos (EUV), uma técnica para criar circuitos em escala atômica, usando pulsos de laser em plasma que geram raios ultravioleta a 13,5 nanômetros, direcionados pelos espelhos ultraprecisos para printar os circuitos. É bem complexo, mas lembra o mimeógrafo.

A única indústria capaz de produzir esses espelhos é a alemã Carl Zeiss. Mais de cem outros componentes do equipamento só têm um fornecedor mundial, quase todos na Europa e no Japão. A máquina de EUV tem sua venda proibida para a China desde 2019 e há um cuidadoso controle para outros países, supervisionado pelos governos holandês e americano.

Essa cadeia logística traduz o que é a globalização na atualidade. Trata-se de algo diferente do que cantou Gilberto Gil em "Parabolicamará" (1991) e pode ser sumarizado assim:

1) Ainda que Trump esteja subtraindo o protagonismo americano em boa parte das instituições globais e taxando amigos e inimigos, segue totalmente investido na blindagem da cadeia logística que verdadeiramente importará para a supremacia americana nas próximas décadas. Salvo exceções de método, o ponto é consensual nos Estados Unidos há décadas.

2) A Europa, o Japão e, claro, Taiwan têm papéis bem mais importantes na revolução da IA do que uma análise da procedência dos softwares sugere. Como se diz nesse meio, a TSCM tem o poder de paralisar o mundo, e a ASML tem o poder de paralisar a TSMC.

A corrida para estabelecer a IA como a nova infraestrutura global nem sempre passa pelas empresas que ocupam as manchetes, como a OpenAI e o Google. Aliás, ela cada vez mais tende a estar relacionada a fabricantes de armas autônomas e outros sistemas robóticos, que vêm fazendo o caminho inverso ao que nos trouxe até aqui, incorporando avanços das tecnologias civis na criação de máquinas de matar que não geram publicidade negativa em casa.

3) A despeito de todos os avanços conseguidos, a China está de três a cinco anos atrás dos americanos no que se refere à fabricação de chips de última geração, uma vez que esta emerge de uma miríade de patentes embargadas, as quais são oriundas de décadas de trabalho em centros de pesquisa espalhados pelo Ocidente e Japão.

Mesmo que os chineses tomassem as fábricas de Taiwan e passassem a produzir chips de última geração, seguiriam sem acesso continuado às máquinas de fotolitografia da ASML, necessárias para a próxima e mais crítica fase da IA.

4) Os embargos vêm obrigando a China a colocar todos os esforços na internalização da cadeia produtiva completa dos chips de IA e a fazer o mesmo na translação à produção de robôs de trabalho e armas autônomas. Os avanços são notáveis, como mostram os novos chips de IA da Huawei.

No entanto, a verdade é que eles apenas decorrem de usos mais espertos de máquinas antigas da ASML e não do domínio sobre a litografia de ponta.

Se esta for dominada, o que em algum momento deve acontecer, o padrão dólar será o último bastião da hegemonia americana, que desse modo tende a sucumbir. Alijar a China da cadeia produtiva mais importante do mundo é vantajoso para os EUA em curto prazo, mas introduz riscos altíssimos de médio e longo tempo.

TODA DISPUTA TEM UM FIM

Os chips mais avançados da atualidade são os da TSMC de 3 nm (nanômetros), sendo que um fio de cabelo tem cerca de 100.000 nm. A empresa, assim como Samsung, Intel e a startup japonesa Rapidus, tem planos de lançar uma versão de 2 nm em 2027 e seguir em direção aos angstroms (décimos de nanômetros), o tamanho dos próprios átomos.

Os incentivos são bilionários, e as consequências, planetárias, o que sugere que os empecilhos fabris serão superados. Todavia, o repto não acaba aí.

A partir de 2 nm —e, sobretudo, 1nm—, fenômenos quânticos tomam conta, fazendo com que os elétrons atravessem as barreiras estabelecidas pelos semicondutores como se esses não existissem, o que torna estéril a própria noção de design de circuito.

Soluções hipotéticas estão cobrindo sucessivas capas da revista Nature, em geral pela manipulação de outros efeitos quânticos para neutralizar os indesejáveis.

No Vale do Silício e em Shenzhen, a aposta é que haverá uma transição tecnológica, durante a primeira metade da década que vem, por meio da qual mesmo os processadores digitais serão semiquânticos.

A mecânica quântica é centenária, mas a aplicação dos seus princípios para computar é nova e radicalmente complexa. Isso significa que a conjuntura pode voltar a ser como na época em que Alan Turing bateu o Enigma pela capacidade de tratar a ciência fundamental de modo superior.

Essa é justamente a aposta em curso na China, que vem multiplicando seus investimentos, enquanto Trump e seu tecnologista-mor passam a faca no Orçamento.

https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2025/03/por-que-briga-de-eua-e-china-pela-hegemonia-em-ia-vai-remodelar-o-mundo.shtml

THE ECONOMIST: As ilusões econômicas de Donald Trump já estão prejudicando a América

 THE ECONOMIST

08mar25

 

As ilusões econômicas de Donald Trump já estão prejudicando a América

O presidente e a realidade estão se distanciando; investidores, consumidores e empresas mostram os primeiros sinais de desinteresse pela política de Trump

Por The Economist

 

Em seu discurso ao Congresso em 4 de março, o presidente Donald Trump pintou um quadro fantástico. O sonho americano, declarou ele, estava crescendo mais e melhor do que nunca. Suas tarifas preservariam empregos, tornariam os Estados Unidos ainda mais ricos e protegeriam sua própria alma. Infelizmente, no mundo real, as coisas são diferentes. Investidores, consumidores e empresas mostram os primeiros sinais de desinteresse pela visão trumpiana. Com seu protecionismo agressivo e errático, Trump está brincando com fogo.

Ao impor tarifas de 25% sobre os produtos do Canadá e do México, também no dia 4 de março, Trump estava incendiando uma das cadeias de suprimentos mais integradas do mundo. Embora ele tenha adiado, dois dias depois de implementá-las, as tarifas por um mês, muitos setores sofrerão. Ele também aumentou as tarifas sobre a China e ameaçou a União Europeia, o Japão e a Coreia do Sul. Algumas dessas tarifas também podem ser adiadas; outras podem nunca se concretizar. 

No entanto, tanto na economia quanto nas relações exteriores, está ficando claro que a política está sendo definida de acordo com os caprichos do presidente. Isso causará danos duradouros no país e no exterior.

Quando Trump ganhou a eleição em novembro, os investidores e os chefes o aplaudiram. O S&P 500 subiu quase 4% na semana após a votação, na expectativa de que o novo presidente acendesse uma fogueira de burocracia e promovesse generosos cortes de impostos. Sua retórica protecionista e anti-imigração, esperavam os investidores, não daria em nada. Uma correção no mercado de ações ou o retorno da inflação certamente refrearia seus piores instintos.

Infelizmente, essas esperanças estão virando fumaça. O Doge de Elon Musk está causando caos e ganhando as manchetes, mas ainda há poucos sinais de uma bonança desregulatória. (A ordem de Trump que proíbe a compra federal de canudos de papel fará pouco para os resultados da America Inc.). O projeto de orçamento aprovado no Congresso em fevereiro mantém os cortes de impostos de 2017, no primeiro mandato de Trump, mas não os expande − embora acrescente trilhões à dívida nacional. Enquanto isso, as promessas de tarifas de Trump retornariam o imposto médio efetivo a níveis não vistos desde a década de 1940, quando os volumes de comércio eram muito menores.

Não é de se admirar que, apesar do discurso de Trump sobre um retorno estrondoso, os mercados estejam piscando no vermelho. O S&P 500 perdeu quase todos os ganhos desde a eleição. Embora o crescimento econômico continue razoável, nas últimas semanas, o rendimento dos títulos do Tesouro de dez anos caiu, as medidas de sentimento do consumidor despencaram e a confiança das pequenas empresas diminuiu, o que sugere uma desaceleração futura. Enquanto isso, as expectativas de inflação estão aumentando, talvez porque Trump esteja falando sobre todas aquelas novas e maravilhosas tarifas.

Por trás do alarme está a percepção de que Trump é menos limitado por restrições do que os investidores esperavam. Embora os aumentos de preços tenham detonado a campanha presidencial de Kamala Harris, a perspectiva de inflação não está dissuadindo Trump, que argumenta que os danos econômicos das tarifas valem a pena. Durante seu primeiro mandato, ele se vangloriou com o longo boom do mercado de ações; desta vez, os mercados não apareceram em suas muitas postagens nas mídias sociais. Seu adiamento das tarifas sobre automóveis é muito curto para que o setor se adapte. Trump está mantendo sua crença de que as tarifas são boas para a economia.

Igualmente importante, as pessoas que cercam o presidente também parecem não ter influência. Scott Bessent, o secretário do Tesouro, e Howard Lutnick, o secretário do Comércio, são ambos financistas, mas se estão tentando controlar Trump, não estão se saindo muito bem. Em vez de serem conselheiros sábios, eles parecem fantoches, explicando por que as tarifas são essenciais e Wall Street não importa. Poucos empresários querem falar a verdade ao poder por medo de atrair a ira de Trump. Assim, o presidente e a realidade parecem estar se distanciando cada vez mais.

Isso ameaça os parceiros comerciais dos Estados Unidos. Por alguma razão, Trump reserva uma hostilidade especial para o Canadá e a União Europeia. Como sua abordagem carece de uma lógica coerente, não há como saber como evitar suas ameaças. O pior está por vir se ele cumprir sua promessa ao Congresso de impor tarifas recíprocas, que correspondem às taxas que as exportações americanas enfrentam no exterior. Isso criaria 2,3 milhões de impostos individuais, exigindo ajustes e negociações constantes, um pesadelo burocrático que os Estados Unidos abandonaram unilateralmente na década de 1920. As tarifas recíprocas seriam um golpe fatal para o sistema de comércio global, segundo o qual cada país tem uma taxa universal para cada mercadoria que não esteja em um acordo de livre comércio.

Como se isso não fosse ruim o suficiente, as tarifas também prejudicarão a economia dos Estados Unidos. O presidente diz que quer mostrar aos agricultores que os ama. Mas proteger as 1,9 milhão de fazendas americanas da concorrência inflacionará as contas de supermercado de seus quase 300 milhões de consumidores; e compensá-las por tarifas retaliatórias aumentará o déficit. 

Independentemente da opinião de Trump, o crescimento econômico será prejudicado porque as tarifas aumentarão os custos dos insumos. Se as empresas não puderem repassá-los aos consumidores, suas margens murcharão; se puderem, as famílias sofrerão o que equivale a um aumento de impostos.

As políticas de Trump preparam um confronto poderoso com o Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que ficará dividido entre manter as taxas altas para conter a inflação e reduzi-las para estimular o crescimento. Uma das instituições independentes remanescentes mais importantes dos Estados Unidos, o Fed teria de enfrentar um presidente furioso, acostumado a conseguir o que quer. Quando o governo encenou uma tomada de poder sobre as responsabilidades regulatórias do Fed, ele separou cuidadosamente a política monetária. Quanto tempo duraria essa distinção?

 

Jean Chrétien, ancien premier ministre canadien, répond à Trump et unifie tous les canadiens

 Jean Chretien is 91 today and he gave himself a birthday present. He told Donald J. Trump to piss off in the The Globe and Mail. Here's his column: 


  *   *   *


Today is my 91st birthday.


It’s an opportunity to celebrate with family and friends. To look back on the life I’ve had the privilege to lead. And to reflect on how much this country we all love so much has grown and changed over the course of the nine decades I’ve been on this Earth.


This year, I’ve also decided to give myself a birthday present. I’m going to do something in this article that I don’t do very often anymore, and sound off on a big issue affecting the state of the nation and profoundly bothering me and so many other Canadians: The totally unacceptable insults and unprecedented threats to our very sovereignty from U.S. president-elect Donald Trump.


I have two very clear and simple messages.


To Donald Trump, from one old guy to another: Give your head a shake! What could make you think that Canadians would ever give up the best country in the world – and make no mistake, that is what we are – to join the United States?


I can tell you Canadians prize our independence. We love our country. We have built something here that is the envy of the world – when it comes to compassion, understanding, tolerance and finding a way for people of different backgrounds and faiths to live together in harmony.


We’ve also built a strong social safety net – especially with public health care – that we are very proud of. It’s not perfect, but it’s based on the principle that the most vulnerable among us should be protected.


This may not be the “American Way” or “the Trump Way.” But it is the reality I have witnessed and lived my whole long life.


If you think that threatening and insulting us is going to win us over, you really don’t know a thing about us. You don’t know that when it came to fighting in two world wars for freedom, we signed up – both times – years before your country did. We fought and we sacrificed well beyond our numbers.


We also had the guts to say no to your country when it tried to drag us into a completely unjustified and destabilizing war in Iraq.


We built a nation across the most rugged, challenging geography imaginable. And we did it against the odds.


We may look easy-going. Mild-mannered. But make no mistake, we have spine and toughness.


And that leads me to my second message, to all our leaders, federal and provincial, as well as those who are aspiring to lead our country: Start showing that spine and toughness. That’s what Canadians want to see – what they need to see. It’s called leadership. You need to lead. Canadians are ready to follow.


I know the spirit is there. Ever since Mr. Trump’s attacks, every political party is speaking out in favour of Canada. In fact, it is to my great satisfaction that even the Bloc Québécois is defending Canada.


But you don’t win a hockey game by only playing defence. We all know that even when we satisfy one demand, Mr. Trump will come back with another, bigger demand. That’s not diplomacy; it’s blackmail.


We need another approach – one that will break this cycle.


Mr. Trump has accomplished one thing: He has unified Canadians more than we have been ever before! All leaders across our country have united in resolve to defend Canadian interests.


When I came into office as prime minister, Canada faced a national unity crisis. The threat of Quebec separation was very real. We took action to deal with this existential threat in a manner that made Canadians, including Quebeckers, stronger, more united and even prouder of Canadian values.


Now there is another existential threat. And we once again need to reduce our vulnerability. That is the challenge for this generation of political leaders.


And you won’t accomplish it by using the same old approaches. Just like we did 30 years ago, we need a Plan B for 2025.


Yes, telling the Americans we are their best friends and closest trading partner is good. So is lobbying hard in Washington and the state capitals, pointing out that tariffs will hurt the American economy too. So are retaliatory tariffs – when you are attacked, you have to defend yourself.


But we also have to play offence. Let’s tell Mr. Trump that we too have border issues with the United States. Canada has tough gun control legislation, but illegal guns are pouring in from the U.S. We need to tell him that we expect the United States to act to reduce the number of guns crossing into Canada.


We also want to protect the Arctic. But the United States refuses to recognize the Northwest Passage, insisting that it is an international waterway, even though it flows through the Canadian Arctic as Canadian waters. We need the United States to recognize the Northwest Passage as being Canadian waters.


We also need to reduce Canada’s vulnerability in the first place. We need to be stronger. There are more trade barriers between provinces than between Canada and the United States. Let’s launch a national project to get rid of those barriers! And let’s strengthen the ties that bind this vast nation together through projects such as real national energy grid.


We also have to understand that Mr. Trump isn’t just threatening us; he’s also targeting a growing list of other countries, as well as the European Union itself, and he is just getting started. Canada should quickly convene a meeting of the leaders of Denmark, Panama, Mexico, as well as with European Commission President Ursula von der Leyen, to formulate a plan for fighting back these threats.


Every time that Mr. Trump opens his mouth, he creates new allies for all of us. So let’s get organized! To fight back against a big, powerful bully, you need strength in numbers.


The whole point is not to wait in dread for Donald Trump’s next blow. It’s to build a country and an international community that can withstand those blows.


Canadians know me. They know I am an optimist. That I am practical. And that I always speak my mind. I made my share of mistakes over a long career, but I never for a moment doubted the decency of my fellow Canadians – or of my political opponents.


The current and future generations of political leaders should remember they are not each other’s enemies – they are opponents. Nobody ever loved the cut-and-thrust of politics more than me, but I always understood that each of us was trying to make a positive contribution to make our community or country a better place.


That spirit is more important now than ever, as we address this new challenge. Our leaders should keep that in mind.


I am 91 today and blessed with good health. I am ready at the ramparts to help defend the independence of our country as I have done all my life.


Vive le Canada! 


(Article shared by Steve Paikin)

domingo, 9 de março de 2025

Os europeus se descobrem assustadoramente sós, com três ditadores à espreita -Paulo Roberto de Almeida

Os europeus se descobrem assustadoramente sós, com três ditadores à espreita

Paulo Roberto de Almeida 

Tudo o que existe de modernidade na atualidade foi criado pelos europeus, não só criação própria, ciência e tecnologia, mas também apropriação de outros povos, via descobertas, colonização, exploração, dominação imperial, conquistas, guerras, opressão. Eles não só mataram outras culturas e civilizações, mas se mataram entre si, uns aos outros, desde o estabelecimento de reinos na própria Europa, na Idade Média, passando pelas guerras de religião e guerras nacionais, até chegarmos aos dois conflitos globais na primeira metade do século XX, que começaram ali e logo se espalharam pelo mundo, envolvendo outros povos, inclusive o império que flexionava seus músculos no início daquele século.

Sim, os europeus dominaram o mundo durante quatro séculos e criaram todos os problemas que se abateram sobre eles mesmos e o mundo a partir da Grande Guerra, abrindo espaço para a bipolaridade sugerida cem anos antes por Tocqueville. São questões estruturais, as chamadas “forças profundas” de que falava Duroselle. 

Mas existem fatores contingentes, ou seja, a ação pessoal de líderes poderosos, que podem desviar o curso “natural” do mundo — que seria integração, cooperação, globalização— e tendem a reforçar o elemento imperial de suas políticas externas. Agora temos três líderes ambiciosos que se empenham em reforçar poderios exclusivos, mas apenas a China me parece preservar uma visão global de integração econômica. Os outros dois me parecem nacionalistas canhestros.

Agora que foram traídos pelo império que parecia amigo, os europeus se descobrem sozinhos e necessitando prover sua própria segurança. Tempos duros pela frente, mas cabe fazer, pois não existem melhores alternativas.

Paulo Roberto de Almeida

Brasilia, 9/03/2025

A Rússia está ganhando a guerra? Really? - Being Liberal (Threads)

From Being Liberal (Threads):

“ Early on in Russia’s war against Ukraine, “pessimists noted that time favored Russia, the larger and richer of the two countries, and the one whose military had more experience with slow, grinding wars,” But last year, “tens of thousands, possibly hundreds of thousands, of Russians were killed or wounded, and whole mechanized divisions were lost, in exchange for territory slightly larger than...

“At that rate, Russia will control all of Ukraine in about 118 years. Keep that figure in mind when you hear President Donald Trump or Vice President J. D. Vance declare … that Ukraine is ‘not winning’ the war and that it is in ‘a very bad position.’”

https://www.theatlantic.com/international/archive/2025/03/ukraine-russia-war-position/681916/




Jornal mais antigo da América Latina: qual seria?

Abriu-se um debate para saber qual o jornal mais antigo da AL, já que o Diario de Pernambuco se manteve constante desde sua primeira aparição em novembro de 1825.

 El Peruano is the oldest newspaper in Latin America that is still in circulation. It was first published in Lima, Peru on October 22, 1825. 

  • Simón Bolívar, a Venezuelan military leader and politician, founded El Peruano. 
  • It is the primary way to publish official government documents, legal regulations, and national jurisprudence in Peru. 
  • It is a vital source of legal information and transparency for Peruvian citizens. 
Additional information about Latin American newspapers:
  • El Mercurio of Santiago is Chile's oldest and largest daily newspaper. It was founded in Valparaiso in 1827. 
  • Aguila Mexicana was a federalist newspaper in Mexico that was published from 1823 to 1828. It provided a libertarian view of the press' role and published commentary and stories about the new capital's social life.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...