sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Pode o Brasil acionar os EUA na Corte Internacional de Justiça por ingerência em seus assuntos internos? - Nitish Monebhurrun (The Conversation)

Pode o Brasil acionar os EUA na Corte Internacional de Justiça por ingerência em seus assuntos internos?

Nitish Monebhurrun
Professor de Direito, Centro Universitário de Brasília (CEUB)
The Conversation, 7/08/2025
https://theconversation.com/pode-o-brasil-acionar-os-eua-na-corte-internacional-de-justica-por-ingerencia-em-seus-assuntos-internos-262489

Nas mãos da nova administração dos Estados Unidos da América, as tarifas aduaneiras foram transformadas em armas de guerra comercial e de intimidação. Mais de 90 países foram atingidos pelas medidas americanas e surpreendidos por uma escalada de tensões comerciais. O Brasil não foi poupado. Um dos motivos alegados pelo Presidente Donald Trump para o aumento das tarifas teria sido pressionar o Poder Judiciário brasileiro no atual julgamento do ex-Presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal.

Assim como trombeteou o próprio Presidente Trump, o julgamento em questão seria, segundo ele, um exemplo de “perseguição, intimidação, assédio, censura e processo politicamente motivado”. Para reforçar a intimidação, sanções extraterritoriais foram adotadas contra o Ministro Alexandre de Moraes, com base em uma lei americana — a agora infame Lei Magnitsky. Tais medidas integram uma linha de atuação internacional que se aproxima do bullying diplomático, prática que o Presidente americano tem dirigido a outros Estados e chefes de Estado.

Em resposta, o vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin, declarou que o caso poderia ser levado ao Órgão de Solução de Controvérsias da Organização Mundial do Comércio, com o objetivo de contestar a legalidade das tarifas americanas. No entanto, para além do contencioso puramente comercial, levanta-se uma questão de maior densidade jurídica: seria possível também submeter a conduta americana à apreciação da Corte Internacional de Justiça (CIJ), sob a alegação de ingerência nos assuntos internos do Brasil?

Essa questão será analisada em duas partes. Primeiramente, discutirá se a CIJ teria competência para julgar o caso. Em seguida, examinar-se-á se a conduta americana viola o direito internacional.

A competência da Corte Internacional de Justiça para o caso
No direito internacional, para que um caso seja levado à apreciação da CIJ, os Estados envolvidos no litígio devem reconhecer a competência da Corte, conforme previsto no artigo 36 do seu Estatuto. Trata-se de uma particularidade do sistema jurídico internacional, e esse reconhecimento pode ocorrer de três formas principais: (i) por meio de uma declaração unilateral de aceitação da jurisdição obrigatória da Corte; (ii) por um acordo entre as partes em um caso concreto; ou (iii) por cláusulas específicas de competência inseridas em tratados internacionais entre as partes.

Nesse último caso, destaca-se o artigo 31 do Tratado Americano de Soluções Pacíficas de 1948, também conhecido como Pacto de Bogotá, cujos signatários incluem o Brasil e os Estados Unidos da América.

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Esse tratado reconhece a jurisdição compulsória da CIJ para os seguintes casos: “a) a interpretação de tratados; b) qualquer questão de Direito Internacional; c) a existência de qualquer fato que, se comprovado, configure violação de uma obrigação internacional; e d) a natureza ou extensão da reparação em virtude do desrespeito a uma obrigação internacional”.

Contudo, embora o Brasil tenha ratificado o Pacto de Bogotá, os Estados Unidos não o fizeram. Além disso, os Estados Unidos fizeram um reserva à jurisdição da CIJ. Com base nela, o país “não se compromete, no caso de conflito em que se considere parte agravada, a submeter à Corte Internacional de Justiça qualquer controvérsia que não seja considerada de competência da própria Corte”.

Trata-se de uma limitação autoimposta, mas que, em termos jurídicos, não é intransponível. Ainda que os Estados Unidos não reconheçam a jurisdição compulsória da CIJ, eles podem consentir com a jurisdição da Corte caso a caso — como já ocorreu em outras situações. Por isso, não há, em princípio, um impedimento absoluto à apreciação do caso pela Corte Internacional de Justiça. Se a CIJ se declarar competente, caberá a ela examinar o mérito da controvérsia e avaliar a legalidade da conduta americana à luz do direito internacional.

A legalidade da conduta americana
As medidas adotadas pelos Estados Unidos da América têm como objetivo declarado pressionar o Brasil e seu Poder Judiciário a modificar ou mesmo interromper o julgamento do ex-Presidente Jair Bolsonaro. Sanções e medidas comerciais foram impostas a partir de Washington com o intuito evidente de interferir na atuação das instituições judiciais brasileiras. Trata-se de uma postura de intimidação abertamente assumida pelo governo americano.

No direito internacional, tal conduta configura ingerência em assuntos internos de outro Estado, o que viola os princípios fundamentais da soberania e da independência dos poderes políticos e judiciais nacionais. O artigo 2(7) da Carta das Nações Unidas é categórico ao afirmar que nenhum Estado pode intervir “em assuntos que dependem essencialmente da jurisdição de qualquer Estado”.

Além disso, a Resolução 31/91 da Assembleia Geral da ONU, adotada em 1976, reforça esse entendimento nos parágrafos 3 e 4: “3. Denuncia qualquer forma de interferência, manifesta ou dissimulada, direta ou indireta (…) por parte de um Estado ou grupo de Estados, bem como qualquer modalidade de intervenção de natureza militar, política, econômica ou outra nos assuntos internos ou externos de outros Estados (…). 4. Condena, nesse sentido, quaisquer métodos de coerção, subversão ou difamação, sejam eles diretos, sutis ou tecnicamente sofisticados, que tenham como objetivo alterar a ordem política, social ou econômica de outros Estados, ou comprometer a estabilidade de governos que busquem maior autonomia econômica em relação a influências externas.”

As medidas norte-americanas, portanto, buscam coagir o Brasil a alterar o curso de um procedimento jurisdicional sobre o qual apenas o próprio Estado brasileiro detém de forma exclusiva e soberana — acima de tudo! — competência decisória.

A jurisprudência da própria Corte Internacional de Justiça confirma essa leitura. Em seu julgamento de 1986 no caso Atividades Militares e Paramilitares na e contra a Nicarágua, envolvendo a Nicarágua e os Estados Unidos, a Corte concluiu que o princípio da não intervenção garante a todo Estado soberano o direito de conduzir livremente os seus assuntos internos, sem ingerência externa.

Há uma intenção declarada, por parte dos Estados Unidos, de ameaçar e coagir o Brasil por meio de medidas comerciais e sancionatórias. Diante disso, o Estado brasileiro tem fundamentos jurídicos sólidos para contestar a legalidade dessas ações perante a Corte Internacional de Justiça.

Putin superou Max Weber. Trump também: o modo mafioso de exercer poder - Debate no X

 Max Weber, em sua tipologia ideal das formas de dominação —  os três “ideal typus” da dominação tradicional, carismática e racional-legal — não tinha imaginado esse modo putinesco de exercer o poder, mesmo quando ele escreveu sobre as etapas iniciais do poder bolchevique:

Paulo Roberto de Almeida 

(Seguindo um debate no X iniciado por ChrisO_wiki)

To be clear, what Vance is describing here is a Putin-style system of state capitalism. Oligarchs have to align themselves with Kremlin priorities to maintain their wealth and influence. If they challenge the state, they face bogus investigations and pressure to force them out.

JD Vance identifying himself as part of "the postliberal right" and saying, "there is no meaningful distinction between the public and the private sector in the American regime" at a May 2023 ISI event with his friends Patrick Deneen & Heritage Foundation president Kevin Roberts.

Loyal oligarchs are rewarded with access to state contracts or monopolistic opportunities, creating a symbiotic relationship between private wealth and state power. They can only operate within strict boundaries set by the state, such as the ban on "promoting LGBT".

They are kept in line by government regulations, tax policies, and selective law enforcement to discipline them and ensure their alignment with state goals. That's how Russia ensures there is "no meaningful distinction between the public and the private sector".

Needless to say, it's a system which guarantees a high level of corruption and cronyism. The government chooses who wins and loses, purely on political grounds, regardless of actual market conditions.

How this ends up is visible from what Russia is currently going through. "Raiders" supported by the Kremlin are seizing companies arbitrarily to bring them under the control of Putin's allies. It's leading to much of the economy coming under the control of a few powerful people.

Russian political system is fundamentally different. It’s an oligarchical authoritarian system with kleptocratic undertones presenting as a de facto democracy, which it isn’t. State and personal self interests are intertwined. US political system is very different. Currently.

How this ends up is visible from what Russia is currently going through. "Raiders" supported by the Kremlin are seizing companies arbitrarily to bring them under the control of Putin's allies. It's leading to much of the economy coming under the control of a few powerful people.

It won't be excessively difficult to close the gap, seeing as the US is already a substantial distance down that particular road.

PRA: A Rússia de Putin é claramente um cleptocracia orwelliana. Os EUA de Trump são uma plutocracia que o laranjão quer transformar em uma autocracia mafiosa, como é o seu estilo de trabalho de tipo mafioso.

Um Brasil minimamente comprometido com seus valores e princípios democráticos e humanistas deveria claramente se afastar de qualquer intimidade, aliança ou simples convivência com esses dois impérios nefastos à moral pública.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 8/08/2025

ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE - Fausto Godoy

Fausto Godoy se ocupa da atual fase de transição do conturbado mundo atual para algo ainda não devidamente identificado:


Fausto Godoy

ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE

Um jornalista do Jornal Nexo procurou-me hoje para conversarmos sobre a questão das tarifas de 50% que Donald Trump impôs à Índia para tentar impedir as importações daquele país de petróleo proveniente da Rússia. Juntamente com o Brasil, elas se encontram entre as maiores impostas pelos americanos a seus parceiros comerciais. Como sabemos, a razão levantada por Washington tem viés político, dentro do alegado esforço de Trump de subverter a economia da Rússia para forçar Vladimir Putin a acabar com a guerra da Ucrânia. A resposta de Nova Delhi não tardou: na tarde de ontem a Chancelaria Indiana descreveu a decisão como “injusta, injustificável e irrazoável”, acrescentando que as importações são baseadas em fatores e preços do mercado e têm por objetivo manter a segurança energética da sua população.
No mesmo “imbróglio” nos encontramos, nós brasileiros: como percebemos, o substrato de ambas as pressões tem viés político: no nosso caso o “fator Bolsonaro” e o Ministro Alexandre de Morais; no da Índia, a guerra da Ucrânia... A este último respeito, ainda que o objetivo seja numa primeira leitura, encomiável, à luz das tergiversações do presidente americano com relação à questão ucraniana (“remember” a sua entrevista desastrosa com Volodymyr Zelensky, no Salão Oval, e do vexame a que expôs o presidente Cyril Ramaphosa, da África do Sul, durante a visita deste à Casa Branca, quando fez acusações de que estaria ocorrendo uma "limpeza étnica" contra brancos na África do Sul), fica evidente o quão errática é a sua percepção de mundo...Trata-se, no nosso caso, de uma injustificável ingerência nos nossos assuntos internos (cf. Constituição do Brasil – artigo 4º.).
A conversa derivou, então, para o ímpeto dos americanos de Donald Trump em tentar moldar e subjugar as agendas dos países ao que consideram valores universais “American style”. Discutimos, por extensão, sobre as diferenças de percepção de mundo - e , por corolário, das relações - entre o Ocidente e o Oriente: este é um tema que tenho “à flor da pele”, em razão da minha vivência na região! Neste ponto, afirmei que, para mim, a primeira premissa é sabermos o quanto a nossa matriz civilizacional contemporânea - brasileira e miscigenada - atende aos valores do que eu chamaria do “Ocidente central”, e o quanto os compactuaríamos e compartilharíamos com a nossa cultura e ancestralidade: em suma, com o substrato africano e indígena da nossa matrizl, que apesar de toda a influência da cultura europeia e americana, nos tempos mais recentes, e do negacionismo de parte da nossa elite, é fundamental para nos entendermos, até em razão dos conflitos que geram.
Em seguida, mencionei o que, para mim, é o diagnóstico mais importante – e difícil de ser assimilado por muitos: a transferência do eixo da globalização do Ocidente Central para a Ásia...Para mim, este fator está-se tornando cada vez mais evidente. Senão vejamos: 1) segundo o Fundo Monetário Internacional, entre as dez maiores economias mundiais em termos de PIB nominal, três são asiáticas: China (2ª.); Japão (4ª.) e Índia (5ª.); 2) em termos de propriedade intelectual, que define o status da pesquisa tecnológica, segundo a Organização Internacional da Propriedade Intelectual (OMPI) os países que mais registraram pedidos de patentes de propriedade intelectual no ano passado, foram China, Estados Unidos, Japão, República da Coreia e Alemanha, sendo que a China lidera em vários indicadores, inclusive desenhos industriais e marcas, acompanhada do Japão e da Coreia do Sul; 3) entre os maiores exportadores mundiais estão a China (1º), o Japão e a Coreia do Sul; 4) a Índia e a China, nesta ordem, possuem as duas maiores populações do planeta - 2,8 bilhões conjuntamente – e a Índia, que possui a população mais jovem do mundo (mais da metade do seus 1,4 bilhão tem menos de 25 anos de idade), é um dos países que registraram maior crescimento nos últimos anos.
Fatos são fatos...Como lidar com esta realidade, tão longe geograficamente de nós... e tão parecida, em definitivo, em termos de valores civilizacionais?...
Na verdade, está sendo muito complexa a aceitação pelo Ocidente de que a dinâmica do mundo mudou e que é necessário conviver com paradigmas novos e distintos nas relações internacionais: o Oriente tornou-se fator decisivo na economia/política globalizada. Esta presença, crescente e irreversível, instiga sentimentos ambíguos: de um lado, respeito pelo despertar de um gigante de História muito antiga e, de outro, temor das consequências que esta presença possa causar. Mais que tudo, evidencia o despreparo para lidar com esta realidade. Acostumado a exportar seus valores e a impor seus conceitos civilizatórios como verdades absolutas e perenes sobre essa metade da massa humana, o Ocidente não tem sabido lidar com este novo fenômeno.
Estaríamos no umbral de uma nova hegemonia, compartilhada desta vez entre Estados Unidos (ainda...), China e ...Índia? Quando eu nasci, em junho de 1945, a Grã-Bretanha era (“remember...the sun never sets on the British Empire”?...) o hegemon mundial; mas já não mais: exausta no final da II Guerra ela cedia o bastão para os Estados Unidos e a União Soviética (passei grande parte da minha carreira envolto nas questões da Guerra Fria...); em 1991, desfez-se a União Soviética, e os Estados Unidos se consolidaram como o único hegemon, até que no início deste século surge a República Popular da China numa disputa compartilhada.
E as relações entre os países seguem o caminho atribulado da globalização... Então, fica a pergunta... e o repto: já está(ão)-se conformando o(s) próximo(s) hegemon(s)?... Deixo a pergunta no ar para os amigos... Acima de tudo, fica o desafio...e nós, Brasil, para onde vamos?...
To be continued...

Why Ukraine Matters to You, 2 - VIKTOR KRAVCHUK

 Why Ukraine Matters to You, 2

VIKTOR KRAVCHUK
AUG 7, 2025

This is part 2 of our three-part series called Why Ukraine Matters.

Because we’ve already been “too long” in the headlines, and this is the right time for us to remember why this country matters.

The first part was about “us,” about humanity as a whole, but this one is about you.

Why Ukraine Matters to Humanity
VIKTOR KRAVCHUK
AUG 4
Read full story:
https://diplomatizzando.blogspot.com/2025/08/why-ukraine-matters-to-us-fight-for.html

Because you’re here reading this, and it means this war reached you.

Maybe you felt something shift inside that you couldn’t name it, but you just knew it mattered.

You had the impression that something in this fight belongs to you. And you’re right, because it really does.

PART II- WHY UKRAINE MATTERS TO YOU

You don’t have to be Ukrainian to carry Ukraine in you.
But you already knew I would say that.

You carry our flag, you have the sticker, you talk about Ukraine with your friends and family, you send me those beautiful messages every day here…

Ukraine is part of your mind. Part of your life. But it didn’t come from politics or values you consciously chose.

The reason Ukraine matters to you goes deeper than you think. About who you are before you even think about what you would choose to think.

Ukraine is a reflection of you.

We are what lives most viscerally inside you.

It’s not what you “believe” is worth defending, but what your humanity indicates is the right way to go before you could even elaborate it logically.

I’m not saying that your support is merely emotional. Of course there’s a lot of emotions involved, love and hate, for example, at their extremes.

But what I’m trying to name is something that precedes your own emotions.

Something beneath belief, beneath logic. Something like a kind of “instinctual knowing,” the place inside you that reacts before thought arrives.

The part of you that would defend your child before you knew what was happening.

The part of you that doesn’t wait to decide whether it’s “worth it.”

The purest level of your nature. The one you always return to even when you don’t want to look.

I am trying to say that Ukraine does not matter to you on the grounds that you are a generous person.

You definitely are, of course.

But we are not having this talk for so long simply because you show virtuous qualities.

What moves you is that there’s something inside you that knows that standing by our side is a matter of self-preservation.

By instinct.

Just like the mothers have it to hold their children safe no matter what.

Every mother in nature, every species.

There’s nothing more sacred. Life is the reason we resist, the reason we endure.

And when you see what is happening in Ukraine, you don’t sympathize with us because we look brave.

This isn’t because you like our colors, our sunflowers, our watermelons. Not even for our courage.

You’re with us because your instinct tells you that we are the right side in this insanity.

Something inside you knows what Russia represents today.

And you don’t need to see our ruins to know they’re openly destroying the world we all need to live in.

The world where life is still something sacred.

Where we raise our children with hope and we’re allowed to imagine a future.

Where life is still worth living.

Ukraine matters to you because we are still fighting for that future.
For the only possible future.
For life.
For your life.

For a life in a world where we will be anxious to live the next day, offering the best of ourselves and our talents to the planet, not just merely survive.

For the only possible version of life, which is when love deals the cards.

You know that the only thing you will leave after you die is the love you carry today.

Just as we know that too.

Instinctively.

You don’t carry Ukraine in your heart because you decided to.

You carry it because we were already there even before you had the chance to choose.

Everything only to explain why Ukraine matters to you:

It matters because Ukraine is you.

Ukraine is your instinct to protect what still deserves to live.

Ukraine matters to you because you recognize the line between what protects life and what poisons it.

You don’t stand with us because we’re brave.

You stand with us because you are.

And if every revolution starts inside us, then we are in a good place.

People like you are the reason we still have a chance.

If there's still hope, it's thanks to people like you.

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

“Entre les deux mon coeur balance”? Pas du tout… - Paulo Roberto de Almeida

Em face de uma bifurcação em um momento decisivo da vida da nação.

A conhecida frase em francês “Entre les deux mon coeur balance” só se aplica a duas opções igualmente agradáveis ou prazeirosas.

No caso atual do Brasil se trata de uma situação problemática, pois que sua diplomacia personalista parece ter abandonado a tradicional neutralidade e imparcialidade em face dos conflitos entre grandes potências e aderido a um dos lados. 

Muito ruim isso, pois que retira a credibilidade duramente conquistada pela diplomacia profissional.

Já não é nem balançar entre duas opções inadequadas, é render-se a uma postura de consequências imprevistas para o futuro da nação.

Paulo Roberto de Almeida

Brasilia, 7/08/2025


Chegou o futuro do novo sistema multilateral de pagamentos: é digital e não passa pelo SWIFT - China desdolariza o SWIFT e leva EUA ao desespero

 O futuro do novo sistema multilateral digital de pagamentos comerciais entre países já chegou, e ele não passa mais pelo dólar e pelo SWIFT e sim pelo renmimbi digital. Trump não vai enteder, mas não vai gostar. PRA

*China desdolariza o SWIFT e leva EUA ao desespero*.                                👇🏿

O Banco Popular da China anunciou repentinamente que o sistema de liquidação transfronteiriça do RMB digital (Renminbi, Yuan chinês) será totalmente conectado aos dez países da ASEAN e seis países do Oriente Médio, o que significa que 38% do volume de comércio mundial contornará o sistema SWIFT dominado pelo dólar americano e entrará diretamente no "momento do RMB digital". Este jogo financeiro, que a revista The Economist chamou de "Batalha Avançada do Sistema Bretton Woods 2.0", está reescrevendo o código subjacente da economia global com tecnologia blockchain.

Enquanto o sistema SWIFT ainda luta com o atraso de 3-5 dias em pagamentos transfronteiriços, a ponte de moeda digital desenvolvida pela China comprimiu a velocidade de compensação para 7 segundos. No primeiro teste entre Hong Kong e Abu Dhabi, uma empresa pagou um fornecedor do Oriente Médio através do RMB digital. Os fundos não passaram mais por seis bancos intermediários, mas foram recebidos em tempo real através de um livro-razão distribuído, e a taxa de administração caiu 98%. Esta capacidade de "pagamento relâmpago" faz com que o sistema de compensação tradicional dominado pelo dólar americano pareça instantaneamente desajeitado.

O que assusta ainda mais o Ocidente é o fosso técnico da moeda digital da China. A tecnologia blockchain utilizada pelo RMB digital não apenas torna as transações rastreáveis, mas também aplica automaticamente regras contra lavagem de dinheiro. No projeto "Dois Países, Dois Parques" entre China e Indonésia, o Industrial Bank usou o RMB digital para completar o primeiro pagamento transfronteiriço, que levou apenas 8 segundos desde a confirmação do pedido até a chegada dos fundos, 100 vezes mais eficiente que os métodos tradicionais. Esta vantagem técnica levou 23 bancos centrais ao redor do mundo a participarem ativamente do teste da ponte de moeda digital, entre os quais comerciantes de energia do Oriente Médio reduziram os custos de liquidação em 75%.

O impacto profundo desta revolução tecnológica reside na reconstrução da soberania financeira. Quando os Estados Unidos tentaram sancionar o Irã com o SWIFT, a China já havia construído um circuito fechado de pagamentos em RMB no Sudeste Asiático. Os dados mostram que o volume de liquidação transfronteiriça de RMB dos países da ASEAN excedeu 5,8 trilhões de yuans em 2024, um aumento de 120% em relação a 2021. Seis países, incluindo Malásia e Cingapura, incluíram o RMB em suas reservas cambiais, e a Tailândia completou a primeira liquidação de petróleo com RMB digital. Esta onda de "desdolarização" fez o Banco de Compensações Internacionais exclamar: "A China está definindo as regras do jogo na era da moeda digital."

Mas o que realmente chocou o mundo foi o layout estratégico da China. O RMB digital não é apenas uma ferramenta de pagamento, mas também um portador técnico da estratégia "Cinturão e Rota". Em projetos como a Ferrovia China-Laos e a Ferrovia de Alta Velocidade Jacarta-Bandung, o RMB digital está profundamente integrado com a navegação Beidou e comunicação quântica para construir uma "Rota da Seda Digital". Quando empresas automobilísticas europeias usam o RMB digital para liquidar fretes através da rota do Ártico, a China está usando tecnologia blockchain para aumentar a eficiência comercial em 400%. Esta estratégia virtual-real faz a hegemonia do dólar americano sentir uma ameaça sistêmica pela primeira vez.

Hoje, 87% dos países do mundo completaram a adaptação do sistema RMB digital, e a escala de pagamentos transfronteiriços excedeu 1,2 trilhão de dólares americanos. Enquanto os Estados Unidos ainda debatem se a moeda digital ameaça o status do dólar americano, a China construiu silenciosamente uma rede de pagamento digital cobrindo 200 países. Esta revolução financeira silenciosa não é apenas sobre soberania monetária, mas também determina quem pode controlar a linha vital da economia global futura!


quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Vidas Paralelas: Rubens Ricupero e Celso Lafer nas relações internacionais do Brasil - novo livro de Paulo Roberto de Almeida (Ateliê de Humanidades)

 Oyez, oyez, citoyens, enfin prêt:


Meu livro "Vidas Paralelas: Rubens Ricupero e Celso Lafer nas relações internacionais do Brasil", cuidadosamente revisto e editado pelo André Magnelli, da Editora Ateliê de Humanidades, ficou pronto e já está rodando nesse instante. Encomendas já podem ser feitas neste link:

https://ateliedehumanidades.com/produto/vidas-paralelas-rubens-ricupero-e-celso-lafer-nas-relacoes-internacionais-do-brasil-paulo-roberto-de-almeida/

Apresentação do Ateliê de Humanidades:

O diplomata Paulo Roberto de Almeida faz uma reconstrução das "vidas paralelas" de Rubens Ricupero e Celso Lafer, enquanto protagonistas da construção das relações internacionais do Brasil. Ao apresentar esses dois "diplomatas da inteligência", este livro nos fornece uma generosa fonte de formação intelectual, que trabalha, com competência, questões de direito, filosofia, história, ciência política, economia, comércio internacional, política exterior e relações internacionais. O leitor encontrará aqui não apenas um exposição detalhada das obras e ações de Ricupero e Lafer, como também uma visão acurada da história do Brasil contemporâneo, sobretudo no que diz respeito aos desafios que, ainda e sempre, enfrentamos na busca por uma inserção internacional autônoma.



Adquira já em pré-lançamento: 

Site: https://ateliedehumanidades.com/atelie-de-humanidades-editorial/ (frete frátis para compras a partir de 200,00)

Já disponível na Amazon:

Outros livros do Ateliê de Humanidades:

*

Autor: Paulo Roberto de Almeida
Formato: Brochura comum
ISBN: 978-65-86972-43-6
Prefácio: Fernando de Mello Barreto
Orelha: Gelson Fonseca Jr.
Coleção: Biblioteca do Pensamento Político
Páginas: 364 p.
Ano: 2025

Apresentação geral do livro neste link.

Artigo PRA no portal Interesse Nacional sobre o livro.



Roberto Campos: obras, videos - Paulo Roberto de Almeida (2017)

 Reproduzindo uma relação bibliográfica de um dos grandes economistas e diplomatas do Brasil, que eu fiz em homenagem ao centenário de seu nascimento.

Uma postagem que eu fiz com as obras de Roberto Campos, para quem se interessar:

https://diplomatizzando.blogspot.com/2017/04/roberto-campos-obras-videos-paulo.html

sexta-feira, 21 de abril de 2017
Roberto Campos: obras, videos - Paulo Roberto de Almeida

Revisei a compilação das obras de Roberto Campos e acrescentei vídeos recentes na última parte, alguns deles feitos no próprio dia do seu centenário, em 17/04/2017, quando eu estava lançando o livro por mim organizado, abaixo referido.
Destaco o vídeo da sessão especial em homenagem ao Roberto Campos, mas (se me permitem) destaco apenas a seção final, com minha intervenção, pois os demais discursos achei por demais enfadonhos: https://www.youtube.com/watch?v=mAsK9F4hlbo
Paulo Roberto de Almeida



Obras de Roberto Campos

Paulo Roberto de Almeida
(www.pralmeida.org; http://diplomatizzando.blogspot.com; pralmeida@me.com)
[Compilação das obras de Roberto Campos; para o livro O Homem que Pensou o Brasil: trajetória intelectual de Roberto Campos; Appris]


1947:
Some Inferences concerning the International Aspects of Economic Fluctuations. M.A. thesis, George Washington University; Edição brasileira, em inglês: Foreword by Ernesto Lozardo. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2004, 260 p.

1950:
“Lord Keynes e a teoria da transferência de capitais”, artigo publicado na Revista Brasileira de Economia, ano 4, n. 2, junho de 1950; baseado em capítulo de sua tese de mestrado (1947), incorporado posteriormente ao livro: Economia, Planejamento e Nacionalismo. Rio de Janeiro: Apec, 1963), p. 105-123.

1952:
“Uma interpretação institucional das leis medievais da usura”, Revista Brasileira de Economia (ano 6, n. 2, junho de 1952), incorporado posteriormente ao livro: Ensaios de história econômica e sociologia. 2a. ed.; Rio de Janeiro: Apec, 1964, p. 7-34.
“Programa de estabilização monetária”, Digesto Econômico (ano 6, n. 2, junho de 1952).
“Observações sobre a teoria do desenvolvimento econômico”, conferência realizada na Escola de Guerra Naval (Rio de Janeiro), em novembro de 1952; publicada no Digesto Econômico (março de 1953); incorporada ao livro: Economia, Planejamento e Nacionalismo. Rio de Janeiro: Apec, 1963, p. 83-104.
“Planejamento do desenvolvimento econômico dos países subdesenvolvidos”, Digesto Econômico (abril de 1953); incorporado posteriormente ao livro: Economia, Planejamento e Nacionalismo. Rio de Janeiro: Apec, 1963, p. 7-51.

1953:
“O Poder Nacional: seus fundamentos econômicos”, conferência proferida na Escola Superior de Guerra, em duas sessões: 20 de março e 31 de março de 1953; incorporada ao livro: Ensaios de história econômica e sociologia. 2a. ed.; Rio de Janeiro: Apec, 1964, 1a parte: p. 35-66 e 2a parte: p. 67-81.
“A crise econômica brasileira”, trabalho apresentado na Associação Comercial do Rio de Janeiro, em 9/09/1953; publicado no Digesto Econômico (novembro de 1953); incorporado ao livro: Economia, Planejamento e Nacionalismo. Rio de Janeiro: Apec, 1963, p. 53-82.

1955:
Discurso de posse no cargo de diretor-superintendente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (14/03/1955); incorporado posteriormente ao livro: Economia, Planejamento e Nacionalismo. Rio de Janeiro: Apec, 1963, p. 157-160.
‘‘Três falácias do momento brasileiro’’, conferência proferida no Ciclo de Estudos Roberto Simonsen (São Paulo, 22 de julho de 1955); incorporada ao livro: Ensaios de história econômica e sociologia. 2a. ed.; Rio de Janeiro: Apec, 1964, p.117-142.
‘‘Pontos de Estrangulamento na Economia e seus Reflexos na Produtividade do Capital e no Desenvolvimento Econômico’’, conferência no Conselho Nacional de Economia (21 de setembro de 1955); incorporada ao livro do autor: Economia, Planejamento e Nacionalismo. Rio de Janeiro: Apec, 1963, p. 161-185.
Memorando (secreto) dirigido ao Ministro da Fazenda José Maria Whitaker sobre a reforma cambial; in: Whitaker, J. M. (ed.), O milagre de minha vida. São Paulo: Hucitec, 1972.

1956:
‘‘Considerações sobre a vocação mineira do Brasil’’, palestra proferida no Centro Moraes Rego, de São Paulo e publicada no Digesto Econômico (julho/agosto de 1956); incorporada ao livro Economia, Planejamento e Nacionalismo. Rio de Janeiro: APEC, 1963, p. 187-215.
“Reforma cambial”, Digesto Econômico (n. 130, jul.-ago. 1956, p. 75-91).

1957:
‘‘Cultura e Desenvolvimento’’, palestra proferida no Instituto Superior de Estudos Brasileiros, do Rio de Janeiro, e publicada no Digesto Econômico (março/abril de 1957); incorporada ao livro: Ensaios de História Econômica e Sociologia. 2a. ed.; Rio de Janeiro: APEC, 1964, p. 103-116.
‘‘As 4 ilusões do desenvolvimento’’, discurso pronunciado na Conferência da Cepal (La Paz, Bolívia – maio de 1957); incorporado ao livro: Ensaios de História Econômica e Sociologia. 2a. ed.; Rio de Janeiro: Apec, 1964, p. 84-101.
Discurso pronunciado na sessão de encerramento do sétimo período de sessões da comissão econômica para a América Latina (La Paz, Bolívia – 29 de maio de 1957); incorporado ao livro do autor: Economia, Planejamento e Nacionalismo (Rio de Janeiro: Apec, 1963, p. 263-269.
“Inflação e crescimento equilibrado”, trabalho apresentado em mesa redonda da Associação Econômica Internacional (Rio de Janeiro, agosto de 1957), publicado na Revista de Ciências Econômicas (n. 3, setembro de 1960); incorporado posteriormente ao livro: Economia, Planejamento e Nacionalismo. Rio de Janeiro: Apec, 1963, p. 125-155.

1959:
‘‘A questão do petróleo boliviano’’, depoimento prestado, em 17 de janeiro de 1959, pelo Ministro Roberto de Oliveira Campos, Presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico, perante a Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar as acusações formuladas pelo Presidente do Conselho Nacional do Petróleo contra a Administração da Petrobrás; incorporado ao livro do autor: Economia, Planejamento e Nacionalismo. Rio de Janeiro: Apec, 1963, p. 217-253.
Discurso proferido por ocasião da transmissão do cargo de presidente do BNDE (29/07/1959; incorporado ao livro do autor: Economia, Planejamento e Nacionalismo. Rio de Janeiro: Apec, 1963, p. 255-262.

1960:
Fundação da Editora Apec, criada por Roberto Campos e associados.
‘‘O déficit ferroviário – suas causas e suas consequências’’, conferência promovida no Clube de Engenharia (Rio de Janeiro, 24 de junho de 1960); incorporado ao livro: Economia, Planejamento e Nacionalismo. Rio de Janeiro: Apec, 1963, p. 305-324.

1961:
“Visão da paisagem nacional”, discurso no jantar da revista Visão, ao ser escolhido “Homem de Visão de 1961”; incorporado ao volume A moeda, o governo e o tempo. Rio de Janeiro: Apec, 1964, p. 182-189.
“Oportunidades de comércio para os subdesenvolvidos”, conferência proferida no Banco Pan-Americano de Café; incorporada ao volume A moeda, o governo e o tempo. Rio de Janeiro: Apec, 1964, p. 191-198.
“Controle da remessa de lucros de empresas estrangeiras”, incorporado ao livro: Economia, Planejamento e Nacionalismo. Rio de Janeiro: Apec, 1963, p. 271-303.
“Inflation and balanced growth”, in: Ellis, H. (ed.), Economic development for Latin America. Londres: McMillan, 1961; edição brasileira: Desenvolvimento Econômico para a América Latina. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura, 1964.
“Two views of inflation in Latin America”, in: Hirschman, A. (ed.). Latin American Issues. Nova York: Twentieth Century Fund, 1961.

1962:
‘‘Relações Estados Unidos-América Latina’’, palestra na conferência sobre Tensões de Desenvolvimento no Hemisfério Ocidental (Salvador, Bahia – agosto de 1962); incorporada ao livro: Ensaios de história econômica e sociologia. 2a. ed.; Rio de Janeiro: Apec, 1964, p. 143-184.
‘‘Sobre a necessidade de perspectiva histórica’’, discurso na Pan-American Society (New York, 19/12/1962); incorporado ao livro: Ensaios de história econômica e sociologia. 2a. ed.; Rio de Janeiro: Apec, 1964, p. 185-198.
Planejamento do Desenvolvimento Econômico dos Países Subdesenvolvidos. 2a. ed.: Fundação Getúlio Vargas, Escola Brasileira de Administração Pública, 1962; a 1a. ed. tinha sido publicada sem o nome de RC nos Cadernos de Administração Pública, em 1954.

1963:
Economia, Planejamento e Nacionalismo. Rio de Janeiro: Apec, 1963. Constante de ensaios, estudos e discursos produzidos nos anos 1950 e início dos 60, sobre planejamento, desenvolvimento, recursos minerais e questões de infraestrutura.
Ensaios de história econômica e sociologia. Rio de Janeiro: Apec, 1963; 2a. ed.: 1964; nova edição Apec: 1969. Constante de ensaios e estudos de caráter histórico e econômico sobre teoria e prática do desenvolvimento e do planejamento, em período relativamente similar.
“Os dilemas da ajuda externa”, discurso proferido na Conferência sobre Comércio e Mercados Mundiais, Albany, capital do estado de Nova York, em 13/11/1963; incorporada ao volume A moeda, o governo e o tempo. Rio de Janeiro: Apec, 1964, p. 209-218.
“Economic development and inflation, with special reference to Latin America”, trabalho apresentado na terceira reunião anual de diretores de institutos de treinamento econômico, patrocinado pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico, Berlim, 9-11 de setembro; publicado em versão francesa: “Développement économique et inflation en égard en particulier à l’Amérique Latine”, in: OCDE, Planification et programme de développement. Paris: Études de Développement, 1963, 1.

1964:
“Os assassinos do capitalismo”, Jornal do Brasil (23/02/1964), transcrito no volume A moeda, o governo e o tempo. Rio de Janeiro: Apec, 1964, p. 225-232.
A moeda, o governo e o tempo. Rio de Janeiro: Apec, 1964; Prefácio de Gilberto Amado, p. 7-13; artigos escritos entre 1960 e 1961, publicados no Correio da Manhã, no Jornal do Brasil e na revista Senhor; conferências e discursos.

1965:
Política econômica e mitos políticos. Rio de Janeiro: Apec, 1965. Constante de três ensaios: “Uma conversa com o Sargento Garcia”, “Alguns sofismas econômicos” e “Da necessidade de mudar o Grande Costume”, do início dos anos 1960.

1966:
A técnica e o riso. Rio de Janeiro: Apec, 1966. Constante de ensaios de natureza sociológica sobre os temas elencados: A Sociologia do Jeito; Elogio da Ineficiência; Uma Reformulação das Leis do Kafka; Elogio do Supérfluo; O Ministério da Derrota; A Teoria Animista do Subdesenvolvimento; Sobre a Imbecilidade dos Slogans; Conselhos a um Economista enquanto Jovem; Autocrítica.

1967:
“Duas opiniões sobre a inflação na América Latina”, in: Hirschman, A. (ed.), Monetarismo vs. Estruturalismo. Rio de Janeiro: Lidador, 1967.
Reflections on Latin American Development. Austin: University of Texas Press, 1967.

1968:
Ensaios contra a maré. Rio de Janeiro: Apec, 1968; 2a. ed.: 1969; prefácio de Mário Henrique Simonsen, p. 9-13.
Do outro lado da cerca: três discursos e algumas elegias. Rio de Janeiro: Apec, 1968; 3a. ed.: 1968; prefácio de Gilberto Paim: p. 11-31.

1969:
Temas e sistemas. Rio de Janeiro: Apec, s.d. [1969]; coletânea de artigos publicados em jornais brasileiros entre 1968 e 1969, sendo o primeiro em 7/10/1968 e o último em 29/07/1069, entre eles uma série de três sobre “A América Latina Revisitada” (nos dias 29/04, 6/05 e 14/05/1969), que constituem, na verdade, tradução de discurso proferido no Harvard Business School Club of New York, em 15 de abril de 1969.

1972:
“A Teoria do Colapso”, in: Ensaios Econômicos: homenagem a Octavio Gouvêa de Bulhões. Rio de Janeiro: Apec, 1972, p. 93-111; Roberto Campos foi o presidente do comitê organizador das homenagens a OGB.

1973:
O Brasil e o mundo em transformação; exposição no quadro do “Seminário sobre problemas brasileiros”, promovido pelo Congresso Nacional. [Brasília:] Instituto de Pesquisas, Estudos e Assessoria do Congresso, setembro de 1973.

1974:
A Nova Economia Brasileira, com Mário Henrique Simonsen. 2a. ed.; Rio de Janeiro: José Olympio, 1974; coleção de estudos e ensaios sobre a economia brasileira.

1975:
Formas Criativas no Desenvolvimento Brasileiro, com Mário Henrique Simonsen. Rio de Janeiro: Apec, 1975.
“Um repertório de crises”, discurso pronunciado na convenção anual do Institute of Directors, Royal Albert Hall, Londres (6/11/1975); incorporado ao livro Ensaios imprudentes. Rio de Janeiro: Record, 1987, p. 285-299.

1976:
O mundo que vejo e não desejo. Rio de Janeiro: José Olympio, 1976.
“A arte da economia”, palestra na BBC, Londres, em 23/07/1976; incorporado ao livro Além do cotidiano. 2a. ed.; Rio de Janeiro: Record, 1985, p. 133-39.

1977:
“A nova ordem econômica internacional: aspirações e realidade”, conferência proferida no Massachusetts Institute of Technology, Boston, 4/04/1977; incorporado ao livro Além do cotidiano. 2a. ed.; Rio de Janeiro: Record, 1985, p. 31-51.

1979:
“Sobre o conceito de dependência”, artigo redigido em Londres (15/02/1979); incorporado ao livro Ensaios imprudentes. Rio de Janeiro: Record, 1987, p. 201-203.
“O refluxo da onda”, artigo redigido em Londres (2/05/1979); incorporado ao livro Ensaios imprudentes. Rio de Janeiro: Record,1987, p. 309-313.
“Os novos espectros”, artigo redigido em Londres (24/05/1979); incorporado ao livro Ensaios imprudentes. Rio de Janeiro: Record, 1987, p. 129-131.
“O profeta sem cólera” (sobre os 93 anos de Eugênio Gudin); artigo redigido em Londres (25/07/1979); incorporado ao livro Ensaios imprudentes. Rio de Janeiro: Record,1987, p. 362-64.
“Notas para agenda”, In: Encontros Internacionais da UnB. Alternativas políticas, econômicas e sociais até o final do século. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1980, p. 3-12; incorporado como “Notas para uma Agenda de Fim de Século”, ao livro Ensaios imprudentes. Rio de Janeiro: Record,1987, p. 142-49.
“Aprendendo por fadiga”, Londres, 18/10/1979; incorporado ao livro Ensaios imprudentes. Rio de Janeiro: Record, 1987, p. 150-57.

1980:
“O ‘Ópio dos Intelectuais’: um tratado contra o fanatismo”, apresentação à tradução do livro de Raymond Aron, O Ópio dos Intelectuais. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1980, p. 1-8; também incorporado ao livro Ensaios Imprudentes. Rio de Janeiro: Record, 1987, p. 132-141.

1981:
“Antevisão e realidades do socialismo francês, I: Perspectivas do socialismo francês”, In: Além do cotidiano. 2a. ed.; Rio de Janeiro: Record, 1985, p. 84-94.
“Antevisão e realidades do socialismo francês, II: O socialismo europeu revisitado”, In: Além do cotidiano. 2a. ed.; Rio de Janeiro: Record, 1985, p. 95-98.

1985:
Além do cotidiano. 2a. ed.; Rio de Janeiro: Record, 1985; artigos e discursos dos anos 1970 ao início dos 80.

1987:
Ensaios imprudentes. Rio de Janeiro: Record, 1987; ensaios, artigos e discursos, do final dos anos 1960 aos 80.

1988:
Guia para os perplexos. Rio de Janeiro: Nórdica, 1988; ensaios, artigos e discursos, do final dos anos 1980.

1990:
O século esquisito: ensaios. Editora Topbooks, 1990; prefácio de Antonio Olinto, p. 11-14; artigos publicados entre julho de 1988 e setembro de 1990.

1991:
Reflexões do crepúsculo: ensaios. Rio de Janeiro: Topbooks, 1991; prefácio de Josué Montello, p. 11-13; artigos e discursos dos anos 1990 e 1991.

1992:
Depoimentos dados ao Cpdoc, em 1992-93; o Acervo do Cpdoc consigna mais de 4.500 documentos (manuscritos, entrevistas, audiovisuais, artigos diversos) sob o nome Roberto Campos, com acesso no link: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/arquivo.

1994:
A lanterna na popa: memórias. Rio de Janeiro: Topbooks, 1994; 4a. ed., revista; Rio de Janeiro: Topbooks, 2001, 2 vols.

1996:
Antologia do bom senso: ensaios. Rio de Janeiro: Topbooks, Bolsa de Mercadorias e Futuros, 1996; prefácio de Manoel Francisco Pires da Costa, presidente da Bolsa de Mercadorias e Futuros; artigos dos anos 1990 a 1995.

1997:
Discurso de posse na Academia Brasileira de Filosofia (24/03/1997); inserido na 4a. edição de A Lanterna na Popa. Rio de Janeiro: Topbooks, 2001, p. 1421-25;
“Na curva dos oitenta”; discurso por ocasião do jantar de comemoração dos seus 80 anos (Rio de Janeiro, Copacabana Palace; 17/04/1997); inserido na 4a. edição de A Lanterna na Popa. Rio de Janeiro: Topbooks, 2001, p. 1426-31.

1998:
Na virada do milênio: ensaios. Rio de Janeiro: Topbooks, 1998; prefácio de Gilberto Paim, p. 13-17.; artigos dos anos 1995 a 1998.

1999:
Discurso de despedida na Câmara dos Deputados (28/01/1999); inserido na 4a. edição de A Lanterna na Popa. Rio de Janeiro: Topbooks, 2001, p. 1432-41;
Discurso de posse na Academia Brasileira de Letras (26/10/1999); inserido na 4a. edição de A Lanterna na Popa. Rio de Janeiro: Topbooks, 2001, p. 1442-60 disponível igualmente no site da ABL, com a saudação inicial do confrade Antonio Olinto (link: http://www.academia.org.br/academicos/roberto-campos/discurso-de-posse).

2001:
A lanterna na popa: memórias. 4a. ed., revista; Rio de Janeiro: Topbooks, 2001, 2 vols.; incorporando um apêndice suplementar, contendo: (a) o discurso de posse na Academia Brasileira de Filosofia (24/03/1997), p. 1421-25; (b) o discurso por ocasião do jantar de comemoração dos seus 80 anos (Rio de Janeiro, Copacabana Palace; 17/04/1997), p. 1426-31; (c) o discurso de despedida na Câmara dos Deputados (28/01/1999), p. 1432-41; (d) o discurso de posse na Academia Brasileira de Letras (26/10/1999), p. 1442-60; disponível igualmente no site da ABL, com a saudação inicial do confrade Antonio Olinto (link: http://www.academia.org.br/academicos/roberto-campos/discurso-de-posse).

2002:
Orelhas no livro de José Osvaldo de Meira Penna. Da Moral em Economia; Rio de Janeiro: UniverCidade, 2002.
“Depoimentos sobre Mario Henrique Simonsen”, depoimentos dados ao Cpdoc, em 1992-93, coletados seletivamente no livro organizado por Alberti, Verena; Sarmento; Carlos Eduardo; Rocha, Dora (orgs.). Mario Henrique Simonsen: um homem e seu tempo. Rio de Janeiro: FGV, 2002, passim.


Vídeos:

Sessão solene do Senado Federal em homenagem a Roberto Campos, 17/04/2017
https://www.youtube.com/watch?v=mAsK9F4hlbo

Tribunal do Povo: Luis Carlos Prestes x Roberto Campos (1985);
https://www.youtube.com/watch?v=glIKTSRXXMQ
https://www.youtube.com/watch?v=7MXiYnwU9F0
https://www.youtube.com/watch?v=vBNOfKbeti8

Roda Viva; Roberto Campos (1991);
https://www.youtube.com/watch?v=IhtuR_0VvIo

Conexão Roberto D’Ávila: Roberto Campos: (1997);
https://www.youtube.com/watch?v=yuzHNpGIyFA

Roda Viva: Roberto Campos (4 de maio de 1997);
https://www.youtube.com/watch?v=OSL-POF4lIE
https:/www.youtube.com/watch?v=y7xaUHsQrc4&t=2290s
https://www.youtube.com/watch?v=hKNfGvVGhdw

TV Senado: Grandes personalidades:
https://www.youtube.com/watch?v=4QedsE_Gq4A&feature=youtu.be

100 anos de Roberto Campos: O Antagonista; 17/04/2017
https://www.youtube.com/watch?v=BW_vuoc_YfE

O Centenário de Roberto Campos: José Nivaldo Cordeiro, 17/04/2017
https://www.youtube.com/watch?v=1hG61_yjUs8

Os cem anos de Roberto Campos e a falta que ele faz: Robinson Casal, 17/04/2017
https://www.youtube.com/watch?v=Y5JETZFXNBE

Paulo Roberto de Almeida
(pralmeida@me.com)
Brasília, 21 de abril de 2017


terça-feira, 5 de agosto de 2025

Tarifaço e desdolarização: dois equívocos econômicos politicamente motivados - Paulo Roberto de Almeida

Tarifaço e desdolarização: dois equívocos econômicos politicamente motivados

Paulo Roberto de Almeida

        Colocando os pontos nos “iis”:

        O “tarifaço” é uma estupidez e uma burrice econômica exclusivamente trumpista, e se dirige ao mundo todo, não contra países específicos, ainda que a ignorância de Trump associe déficits bilaterais a uma construção deliberada de parceiros comerciais, não o resultado inevitável de dotações inevitáveis de fatores entre países e suas inevitáveis produtividades. Os EUA são deficitários em comércio e superavitários em serviços, o que o estúpido presidente não percebe.
        Já a obsessão pela desdolarização é uma outra burrice que envergonha qualquer conhecedor de como funciona um sistema multilateral de pagamentos, antes baseado na libra (até a Segunda Guerra Mundial), desde 90 anos no dólar e ainda atualmente, talvez em 20 anos esteja baseado no yuan (se não houver desvios econômicos na China).
        Duas burrices não equivalentes, pois a primeira é preeminente, a segunda apenas simplória.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 5/08/2025

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Why Ukraine Matters to Us: The fight for humanity - VIKTOR KRAVCHUK

Why Ukraine Matters to Us

The fight for humanity

Now I’d like to make something different here: this is part 1 of a three-part series called Why Ukraine Matters.

So much is happening in the world, so many conflicts, so many dangerous people rising to power in their countries, it’s natural that Ukraine falls behind in the world’s headlines and attention.

It’s understandable. Everything today is so immediate, we’ve already been “too long” in the headlines. 

But I’ll do exactly what you would do if you were in my place: writing and writing about your reality so no one forgets. Or at least, so that the forgetting happens a little slower.

This journal is my attempt. And I think after 3 years and half, this is the right time for us to revisit why Ukraine matters.

Why this country is important to the world and must be defended. 

In three dimensions. Three parts.

This time I want to elaborate why Ukraine matters to all of us.

To us, as humanity.

PART I - WHY UKRAINE MATTERS TO US


Russia is not attacking a country.

This is not an attack against Ukraine.

It is an attack on the idea that people get to live free.

An attack on the belief that a nation belongs to its people.

The right to build a future. To raise a child. To survive without fear and dignity.

This is not new for you, and if it gave you the impression of everything that reflects the most human parts of ourselves, both as society and as individuals, you were correct.

This is a war where one nation is denying another the ability to exercise their humanity.

And that’s why it is precisely a war against humanity.

Humanity, people made of flesh and bones, dreams and fears, everywhere. Here and there. Independent from borders or languages.

I am not even talking about good and bad, evil or virtuous.

I am talking about the right to be human.

Russia is denying us our right to be human enough to choose virtue or evil.

We wouldn’t choose to be evil anyway, because we have seen so much of what evil represents since Russia has chosen it throughout all their history.

But now they are denying us the chance to choose what we think right to be. What direction of humanity we would choose.

And God forbids we as a people ever choose evil someday, but we need to have the right to choose because there’s no “better” good, no “better” virtue, than the one we choose freely, knowing the evil we could have chosen but consciously decided to turn away.

The right to choose evil just to reject it. To throw in the trashcan of history the kind of nation a people could have become if they were part of a country called Russia.

Russia is not only a country embodied in evil. They want to go further. Their goal is to rewrite what it means to be human.

They want to rewrite the world. To change the basic values of our civilization.

Their objective is to make acceptable attacks to places where innocent life was hiding and places that were never supposed to be ‘strategic’ targets.

And then, they lie in an established script we have seen so many times:

They deny an attack happened, say there were ‘western weapons’ inside, call the dead “Nazis”, and, don’t be shocked, blame Ukraine for bombing itself.

This is a terrorist organization with a permanent seat at the U.N.

A century ago, another regime rose with symbols, slogans, scapegoats.

They used emotion, posters, fake history, the broadcasting possibilities of the time. Blamed minorities for everything. Offered unity through hatred, and promised peace while preparing for war.

They called it something very close to "making the nation great again."

And the slogan may sound familiar to you, but here I’m still talking about… Russia.

So curious, isn’t?

The similarities are so starking. They spread lies and wrap them in patriotism. They stage mass rallies, blame the weak... 

The foreigner.

The neighbor.

And telling their own people they are victims, at the same time they turn them into weapons.

What was done with pamphlets in the 1930’’s is now done with bots, trolls, and nuclear threats.

Russia is all in. This time it’s all or nothing for them. 

They don’t know how to exist in a world where diplomacy and rules are how nations relate to one another.

They want to submit the world to their own concepts of “understanding,” which is, of course, something that only makes sense in their sick minds.

The same minds bragging about “tradition” and “values” in the branches of the empire of lies spread across TV channels, Telegram groups, and every platform they control.

Russia wants to redefine what it means to be good.

To make domination seem logical.

To make compassion look weak.

To turn strength into cruelty, and cruelty into law.

They want to make you forget what being human ever meant.

This is why Ukraine matters to every single human being on this planet.

Again, what kind of world are we leaving to the humans of the future?

How might the world look today if enough of us, long ago, had chosen to look away from the threat that came from that certain man in Central Europe?

Now, we have another edition of that. A fight of those who are still choosing to be human.

Even under all bombs and the risk of the world getting tired of hearing from us, we are firm on that. Making our part.

For the survival of a country, and of a concept of civilization.

That choice is costing us lives, but if we don’t make it, the world they want will win.

The world of a new project of “humanity.”

Not just here. Everywhere.

And it’s simply not an option for any one of us.


As consequências econômicas de Mister Trump - Paulo Roberto de Almeida (Radar Político)

Trabalho mais recente publicado:
5008. “As consequências econômicas de Mister Trump”, Brasília, julho 2025, 3 p. Artigo para o boletim do Ranking dos Políticos, abordando a destruição da cláusula de nação mais favorecida por Trump. Publicada no Radar Político, boletim do Ranking dos Políticos (n. 229, 4/08/2025).
Vou colocar o texto abaixo e no blog Diplomatizzando:

As consequências econômicas de Mister Trump

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Artigo para o boletim do Ranking dos Políticos, abordando a destruição da cláusula de nação mais favorecida por Trump. Publicada no Radar Político (n. 229, 4/08/2025)

        As Consequências Econômicas de Mr. Churchill foi um segundo “panfleto”, que o já famoso economista Keynes publicou, em 1925, contra a decisão do então ministro do Tesouro britânico, Winston Churchill, de voltar a cotar a libra em ouro na mesma paridade que existia no período anterior à Grande Guerra, o que Keynes considerava uma decisão fundamentalmente errada, pois não levava em conta a inflação acumulada durante a guerra e no pós-guerra. O título aproveitava, é claro, o sucesso do primeiro livro, As Consequências Econômicas da Paz, publicado em 1919, contra o Tratado de Versalhes, que atribuía toda a culpa da guerra à Alemanha e lhe impunha compensações financeiras extremamente pesadas, que se estenderiam durante 40 anos, ou seja, até os anos 1960. Keynes dizia que tão severas imposições poderiam precipitar uma nova guerra mais adiante: ele foi, de certa forma, um profeta, apenas que com 20 anos de antecipação.
        Keynes também tinha razão quanto à paridade de 1925: a decisão causou uma crise tão grave no ano seguinte, que precipitou uma greve geral e a saída de Churchill do governo. O presidente Trump está em vias de precipitar uma crise nos Estados Unidos provavelmente tão grave quanto a crise e a recessão derivadas da paridade equivocada da libra britânica em 1926. A grande diferença está em que as medidas de Trump afetarão não apenas o seu país, mas praticamente o mundo inteiro, dada a enorme interface entre a economia americana com os demais 195 países contra os quais ele está impondo uma nova “paridade” para as tarifas aduaneiras até o ano passado protocoladas na OMC em nome dos EUA para regular o seu comércio com o universo completo de parceiros comerciais do país, ou seja, o mundo todo.
        Para compreender a enormidade e a gravidade das medidas totalmente mal concebidas e erraticamente aplicadas pela sua segunda administração bastaria dizer que Trump está simplesmente implodindo o sistema multilateral de comércio existente desde o final da Segunda Guerra Mundial, ao ignorar completamente a principal cláusula do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT, na sigla em inglês), a de nação mais favorecida, muito mais antiga e consolidada do que os 78 anos do GATT e os 31 anos da OMC. A cláusula NMF constitui o eixo central do moderno sistema de comércio multilateral, ao lado dos demais princípios nele integrados (tratamento nacional, reciprocidade, não discriminação e a eliminação de restrições quantitativas). Provavelmente por ignorância rudimentar em história econômica, mais provavelmente por arrogância autoritária, Trump desprezou por completo o conjunto de regras existentes, estabelecidas pelos próprios Estados Unidos e seus principais parceiros, primeiro em Bretton Woods (1944), depois em Genebra, em 1947, como forma de superar a Grande Depressão dos anos 1930, produzidas justamente pelo protecionismo dos EUA desde aquele ano, aprofundado pelas restrições cambiais e de pagamentos adotadas pelos demais países como resultado das crises bancárias em 1931. A ordem econômica global atualmente existente foi principalmente construída pelos “pais fundadores” americanos do sistema multilateral de comércio nos anos finais da Segunda Guerra Mundial e nos primeiros tempos da ONU e do GATT. Trump disparou mísseis protecionistas contra tudo isso, o que justificaria, plenamente, que todos os demais membros do sistema multilateral de comércio expulsassem os EUA do GATT e da OMC, como primeiro passo para a reconstrução de uma arquitetura absolutamente essencial para o funcionamento adequado dos intercâmbios em bens e serviços, para a prosperidade do mundo, para a previsibilidade das trocas comerciais.
        A cláusula de nação mais favorecida deita raízes em plena idade média, como uma espécie de tendência natural da Lex Mercatoria, fazendo com os estados em construção naquele período adotassem como regra prática a equalização de suas tarifas aduaneiras, para evitar conflitos em função de tratamentos diversos para os diferentes parceiros comerciais. Ela foi sendo aplicada de maneira condicional e restrita, nos acordos bilaterais de comércio e navegação, até ser adotada de maneira ilimitada, incondicional e irrestrita nos acordos contraídos ao abrigo do primeiro GATT (reformado, mas não quanto a isso, em 1994, quando se criou a OMC, o terceiro pé da ordem econômica concebido em Bretton Woods).
        Trump ignora, despreza, confronta tudo o que seus antecessores das administrações americanas das últimas oito décadas fizeram para trazer paz e prosperidade a um mundo dilacerado, primeiro pelas restrições comerciais e cambiais introduzidas desde 1930, depois pela mais terrível guerra global até então conhecida pela comunidade internacional. O chamado “tarifaço” que ele introduziu, de forma unilateral contra TODOS os parceiros comerciais dos EUA é, antes de tudo, ilegal e irracional, contrário ao próprio bem-estar dos EUA e seus habitantes, e ao Direito Internacional Econômico, penosamente construído ao longo dessas décadas. As medidas são principalmente contraditórias com o suposto objetivo declarado do presidente, introduzir reciprocidade nos tratamentos tarifários bilaterais e fazer com que os EUA reduzam o seu déficit comercial e tornem novamente o país um grande produtor próprio dos produtos atualmente importados, o que é uma missão impossível.
        A ignorância econômica de Trump se revela, em primeiro lugar, no que concerne as possibilidades de transformar os EUA, uma economia atualmente de serviços (e superavitária nesse aspecto), novamente em grande país industrial. O que Trump pretende, bizarramente, é fazer os EUA retornarem à época da segunda revolução industrial, a do carvão, a do petróleo, a do motor à explosão, um estágio da evolução econômica do seu país ultrapassado nos cem últimos anos, já disputando com a China a liderança tecnológica na quarta ou na quinta revolução industrial. O segundo equívoco é o de acreditar que tarifas aduaneiras – que são pagas exatamente pelos importadores e consumidos americanos – sejam capazes de trazer de volta indústrias nas quais os EUA não mais possuem mais vantagens comparativas, nem podem recuperar por um ato governamental de duvidosa legalidade ou utilidade para tal.             Trump está criando as condições para um surto inflacionário nos EUA, e construindo um atraso econômico jamais visto no país desde a Grande Depressão dos anos 1930.

[Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 5008, 29 julho 2025, 3 p.]

 


A difícil geopolítica do (ou para o) Brasil - Carlos Alberto Torres

Qual a única alternativa para que o Brasil possa exercer plenamente a sua soberania?

Carlos Alberto Torres

Em primeiro lugar, precisamos partir de uma premissa: não somos uma potência bélica ou nuclear.

Considerada essa premissa como um fato, precisamos nos perguntar: a emergência da China como potência econômica, bélica e nuclear acabou com o mundo unipolar sob a hegemonia dos EUA?

Se isto é verdade, passaremos a viver uma nova guerra fria entre os EUA e a China? Será reproduzida a velha guerra fria do passado entre os EUA e a URSS? Lembremos que estas não  entraram em guerra diretamente apenas porque possuíam capacidades dissuasórias suficientes para se amedrontarem mutuamente!

Se o mundo que se configura é esse – o da bipolaridade –, as nossas chances de soberania são diminutas. Os US possuem uma longa experiência de derrubar governos, democratas ou não, que tentaram se alinhar dubiamente em sua área de influência. É este o mundo que está na cabeça do Trump.

Mas existe uma outra alternativa, e apenas uma: a de que o mundo que esteja sendo formatado seja o da multipolaridade. É este o desejado pela China, por concepção histórica, necessidade (já que emerge pegando de susto o atual hegemon) e por estratégia.

Neste espaço instável, soberania significa neutralidade. Conseguiríamos formar um sistema de aliança com outros países, também neutros, que pudessem escapar, digamos assim, do fogo cruzado entre as grandes potências? Ou, na tentativa de fazer isso com uma política independente, seremos abatidos em pleno vôo?

Este é o nosso dilema. Se o governo que será eleito em 2026 continuar a ser o da bipolarização “Lula x Bolsonaro”, teremos pouca chance de soberania. Um porque será derrubado, o outro porque já nascerá vassalo!

Mas se a nossa inteligência adaptativa conseguir produzir um governo soberano de unidade nacional, ocidental e democrático teremos chance! Seremos capazes disso?

(Lido em 1/08/2025)

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