quarta-feira, 19 de novembro de 2025

A Ideologia da Política externa: sete teses idealistas (e razoavelmente provocadoras) sobre a inserção internacional do Brasil (1995, 2001) - Paulo Roberto de Almeida

Interesse Nacional e Política Externa: como vou participar de um debate sobre essa temática na próxima sexta feira, lembrei de uma das primeiras vezes que tratei dessa mesma temática conjuntamente, e foi no âmbito de um trabalho no qual que contestava algumas ideias de senso comum nas minhas atividades diplomáticas. Descubro agora, que o trabalho em questão não está disponível de modo amplo, o que faço agora ainda que de maneira improvisada. O trabalho é este aqui:

508. “A Ideologia da Política externa: sete teses idealistas (e razoavelmente provocadoras) sobre a inserção internacional do Brasil”, Porto Alegre, 28 dezembro 1995, 4 p.; revisão em Brasília: 14 janeiro 1996, 5 p. Argumentos contestadores sobre alguns princípios (ou mitos) da política externa: objetivos nacionais permanentes, independência e interesse nacionais, graduação e condição de país em desenvolvimento, integração regional e entrada em determinados foros, imagem externa e o mito da “excelência” do Itamaraty. Publicado, na versão original, sob o título de “Sete teses idealistas sobre a inserção internacional do Brasil”, no Boletim ADB (Brasília: ano III, n° 27, jan-fev-mar 1996, p. 4-6). Republicado no livro Relações internacionais e política externa do Brasil: dos descobrimentos à globalização (Porto Alegre: UFRGS, 1998). Reelaborado em 2001 sob nº 813. Relação de Publicados n° 187.

Ofereço agora o link a esta versão n. 813, que parece mais completa:

Ideologia da política externa: sete teses idealistas

Paulo Roberto de Almeida
[Publicado na revista eletrônica Espaço Acadêmico
(Maringá: UEM, Ano I, nº 5, Outubro de 2001 - ISSN: 1519.6186
Relação de Trabalhos nº 813; Publicados nº 280.


Le canon a tué le féodalisme.
L’encre à écrire va tuer la société moderne.
Napoleão

A reflexão irônica de Napoleão – já imperador, solidamente instalado no comando de seu império europeu e exercendo plenamente o poder – era dirigida, não sem ironia e desdém, contra aqueles que começavam a ser designados, segundo a expressão então cunhada por Destutt de Tracy, pelo conceito de ideólogos. Para Napoleão, esses litterati nouvelle manière – que de maneira otimista ou ingênua, acreditavam que poderiam influenciar a política dos príncipes – viviam concebendo grandes projetos de reforma da sociedade sem qualquer embasamento na realidade ou sem atender um mínimo compromisso com a coerência.
A situação não modificou-se substancialmente desde aqueles dias e a classe dos ideólogos – uma subespécie da categoria mais ampla dos trabalhadores intelectuais – proliferou de maneira extraordinária na era contemporânea. Alguns ideólogos consideram-se a si mesmos “intelectuais independentes”, muito embora vários deles sejam propensos a trocar voluntariamente essa condição pela carreira mais emocionante de “conselheiro de príncipes” (desde, é claro, que estes últimos estejam dispostos a ouvi-los e a acatar seus conselhos aparentemente sensatos e descompromissados).
De certa forma, os diplomatas constituem, no plano da política externa, os ideólogos dos estados modernos. Eles estão sempre procurando soluções inovadoras a velhos e novos problemas das relações internacionais, combinando propostas singelas de melhoria da situação mundial com a expressão mais imediata dos interesses concretos de seus países respectivos. Ao fazê-lo, ele operam um mélange de Idealpolitik com Realeconomik, o que não deixa de representar uma aplicação ponderada da tradicional receita de equilíbrio entre os requerimentos de mudança e as pressões do status quo.
Se os fundamentos da ação diplomática não estiverem contaminados pela ambigüidade ou pela incoerência, tal tipo de atuação representaria nada mais do que uma demonstração do mais puro bom senso. Mas, se é verdade também que a política externa nada mais é do que a continuidade da política interna por outros meios, é mais fácil ser ideólogo no plano nacional ou doméstico do que no das relações internacionais, inclusive porque, pelo menos desde a ruptura renascentista do monopólio papal sobre a legitimidade dos estados, não existem mais príncipes com estatura internacional. Daí porque, mesmo ideólogos da política externa como os diplomatas devem desviar muito de sua atenção para os fatores domésticos da política internacional de seus estados, o que no caso deste texto é assumido de forma explícita.
As reflexões que se seguem buscam, precisamente, discutir as raízes internas das posições internacionais assumidas pelo Brasil ou, de outra forma, recolocar no plano nacional alguns dos fundamentos da atuação externa do Brasil, que muitos julgam poder apreender apenas na interação com outros estados e no contexto exclusivamente externo. Não é esta a posição do autor, que apenas considera compreensível a política externa de um estado quando os diplomatas que a aplicam são capazes de situá-la no contexto dos interesses domésticos e da “ideologia nacional” que a sustenta.
A diplomacia brasileira, por exemplo, sempre ostentou em suas bandeiras ideológicas os princípios da independência e da soberania nacionais, o que nos parece muito sensato e compreensível. Nada nos deveria impedir, contudo, enquanto “ideólogos” da diplomacia, de contestar alguns dos fundamentos dessas idéias e de discuti-las abertamente. Ao fazê-lo confessamos candidamente que pretendemos colocar em causa algumas dessas idées reçues sobre a inserção internacional do Brasil e os requerimentos para uma eventual mudança de status. Assim, as sete teses “idealistas” relacionadas abaixo pretendem comentar, se não discutir, velhos princípios da política externa brasileira que costumam ser reafirmadas de tempos em tempos. O objetivo é confessadamente provocador.

1. Os objetivos nacionais permanentes
Nunca é demais lembrar: esses objetivos precisam ser permanentemente reafirmados, sobretudo para diplomatas, que vivem num mundo em estado de mutação permanente. Entretanto, alguém, na Casa de Rio Branco, ainda sabe quantos ou quais são eles? Tinham certamente uma presença mais vigorosa na época em que os militares ocupavam o poder político, quando a Escola Superior de Guerra, uma espécie de “Sorbonne” do pensamento estratégico nacional, convidava anualmente o ministro das relações exteriores a pronunciar conferência magistral sobre o assunto: invariavelmente, o discurso começava por retomar os fundamentos desses objetivos nacionais permanentes, como recomendavam aliás os próprios manuais da ESG, o bastião conceitual mais visível da ideologia do poder nacional.
Mas, o fato é que, hoje, o tema está visivelmente em baixa, e ninguém mais se lembra de retomar a lista para verificar se estamos ou não indo pelo bom caminho. Esses objetivos pareciam ter algo a ver com a preservação da segurança da pátria frente às ameaças externas, com a afirmação e a defesa do interesse do país, a preservação da integridade do território nacional, a projeção internacional do estado brasileiro, a consolidação de seu potencial econômico e militar e o desenvolvimento integral da nação, fazendo do Brasil uma sociedade mais justa e mais humana. Em outros termos, nada de muito démodé, ao contrário, uma agenda perfeitamente atual, compatível com programas eleitorais de centro, esquerda ou direita.
Em função desses objetivos ainda válidos, como situar o papel e a função da política externa brasileira? Ela poderia ser definida, parafraseando Clausewitz, como a continuação da política interna por outros meios. Adotando, em conseqüência, uma visão mais idealista (mas não menos “utilitarista”) da diplomacia brasileira, o objetivo precípuo da política externa não deveria ser, unicamente, o de representar o país no exterior e menos ainda o de contribuir para uma pretendida grandeza nacional, a exemplo do slogan “Brasil grande potência” típico daquele passado militar.
Se examinarmos a lista, a constatação que se poderia fazer é a de que, atualmente, nada parece afetar a integridade do território nacional, nem parece existir qualquer ameaça externa à segurança da pátria ou à consolidação de seu potencial econômico e militar, a não ser, talvez, nossa própria capacidade, domesticamente fabricada, de provocar danos ao meio ambiente nacional ou de colocar em risco a saúde e o bem estar da população. Bem mais difícil, contudo, seria apontar precisamente o que poderia constituir o chamado “interesse nacional”, pois cada grupo social ou movimento político parece ter sua própria definição do que seja um “projeto nacional” estabelecido em função dos “interesses do país”.
Se conseguirmos, entretanto, reduzir a um denominador comum as aspirações dos mais diversos setores ou partidos no que se refere ao interesse público nacional, a expressão mais frequente a ser ouvida seria, muito provavelmente, a noção de “desenvolvimento”. Este é o leit-motiv e o verdadeiro fulcro da ideologia nacional, como aliás já tinham constatado, meio século atrás, filósofos como Álvaro Vieira Pinto e sociólogos como Alberto Guerreiro Ramos. Nesse contexto, a função mais importante e fundamental da política externa deveria ser, tão simplesmente, a de coadjuvar o processo de desenvolvimento econômico e social da nação. Assim, o critério essencial pelo qual deveria pautar-se a atuação de cada diplomata brasileiro é a promoção do progresso material e cultural da sociedade brasileira, objetivo de alguma forma intangível e certamente mais fácil de ser pregado do que efetivado, ou ainda de ser opercaionalizado na prática. Em outros termos, não existe um critério unívoco de transposição de “oportunidades externas” em “possibilidades internas”, para utilizar conceitos caros a Celso Lafer. O que remete o diplomata à esfera do bom senso, ou então, à situação de ele ter capacidade de perceber e identificar, na trama por vezes complexa da agenda internacional, o que exatamente correponde ao interesse nacional e que tipo de inserção externa seria mais suscetível, preferencialmente a outras alternativas, de conduzir o Brasil no caminho do desenvolvimento sustentável. Ainda incerto quanto ao roteiro a ser seguido? Isto é compreensível, mas a solução consiste, tão simplesmente, em conhecer profundamente o Brasil e ter uma visão clara da economia política de nosso desenvolvimento social.

2. A independência nacional
No passado, esse conceito já foi equalizado ao exercício pleno da soberania, o que tanto tinha a ver com a capacidade de o estado manter abertas todas as opções possíveis para a demonstração de seu poder, como com a não dependência de qualquer fonte de abastecimento externa. Historicamente, nem o primeiro objetivo foi jamais alcançado, nem o segundo, que é não apenas ilusório como economicamente irracional, apresenta qualquer viabilidade prática ou finalidade instrumental, do ponto de vista do sistema produtivo. Em termos estritamente econômicos, o conceito pode ser traduzido pelo coeficiente de abertura externa, que representa a parte do comércio exterior na formação do produto. No Brasil, a noção assume ares de imperativo categórico, a ponto de figurar, na Carta de 1988, como um dos princípios constitucionais que guiam as relações internacionais do país, como se os líderes do país – ou, vá lá, os diplomatas – fossem capazes de colocá-la em risco.
Durante os períodos de fechamento da economia internacional, como a partir da crise de 1929 e durante a depressão dos anos 1930 e os anos de guerra, não havia mesmo outra opção senão a chamada self-reliance, ou seja, o recurso a fontes alternativas internas de suprimento e a ênfase no mercado interno. No atual contexto internacional, contudo, esse objetivo permanente deveria ser procurado não necessariamente na direção da independência econômica stricto sensu, mas sim mediante uma ativa interdependência com os grandes centros da economia mundial, quando não através de uma internacionalização cada vez mais intensa da economia brasileira. A globalização torna irrelevante qualquer diferenciação entre o mercado interno e o externo e, se alguma distinção pode haver, ela sempre resultaria em destacar a superioridade do mercado externo, tanto em termos de renda agregada como em função da demanda ampliada e do upgrade tecnológico.
A antiga concepção da independência nacional – entendida em determinadas épocas como a realização da plena autonomia decisória em matéria econômica, quase como a conformação de uma espécie de autarquia produtiva –, nunca contribuiu, de fato, para a verdadeira independência nacional, mas sim a fragilizou, a ponto de tornar o País menos propenso a responder aos desafios da competição externa. Apenas uma espécie de substrato inconsciente da antiga “prevenção contra o estrangeiro” ou a manifestação delongada de um complexo de inferioridade hoje aparentemente superado – e aos quais não são alheios certos equívocos de nossas elites políticas – têm impedido a necessária (e inevitável) internacionalização mais intensa do sistema produtivo brasileiro ou a afirmação desinibida da presença cultural no exterior.
Da mesma forma, é carente de sentido a noção de que o país necessita primeiro afirmar-se economicamente ou de que suas empresas devem capacitar-se tecnologicamente ou fortalecer-se financeiramente antes de que possam ser colocadas em prática políticas de abertura econômica e de liberalização comercial. Em outros termos: globalização sim, mas ainda não, esperemos mais um pouco para resolver problemas imediatos. Ao contrário: a multinacionalização das empresas brasileiras ocorrerá no bojo e pari-passu ao processo de internacionalização da economia brasileira. A globalização pode não ser o objetivo final, mas representar tão simplesmente um meio de alcançar determinados objetivos, que não são os da internacionalização em si, mas os do aumento da eficiência e da capacidade de competição dos agentes econômicos nacionais.

3. O interesse nacional e a cooperação internacional
A cooperação internacional costuma ser identificada com a disponibilidade de “excedentes nacionais”, isto é, o fato de um determinado país, após sua fase de “acumulação primitiva”, ter deixado de ser recipiendário de assistência financeira ou técnica externa para tornar-se, ele mesmo, provedor de ajuda ao desenvolvimento, a exemplo dos membros do Comitê de Ajuda ao Desenvolvimento da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Na verdade, o processo é mais difuso, como indica o fato de o Brasil ter aderido, em 1960, à Associação Internacional de Desenvolvimento (do Banco Mundial) na condição de contribuinte líquido, ao mesmo tempo em que recebia, para o Nordeste por exemplo, ajuda assistencial sob a forma de alimentos ou outros tipos de doações. Os dois lados da equação “cooperação internacional” se confundem por vezes, não havendo uma função de substituição que corresponde exatamente ao processo histórico mediante o qual o sistema econômico de um país passa, numa determinada etapa, de recipiedário líquido de recursos externos à condição de exportador de capitais.
O interesse nacional não deve ser concebido como uma busca egoísta de vantagens exclusivas para o país, no contexto regional ou internacional, mas como um processo de seleção de benefícios crescentes para a nação no quadro da cooperação externa, bilateral ou multilateral. A cooperação internacional, em ambos os sentidos, corresponde ao interesse nacional, tanto mais quanto ela se desdobrar em projetos de maior intensidade, que a transcendam, rumo a processos de associação política ou de integração econômica. Assim, é do interesse do Brasil o desenvolvimento harmônico do maior número possível de estados-nações, muito embora não esteja ao alcance dos representantes brasileiros, em foros internacionais ou em países estrangeiros, a realização de mudanças estruturais ou o atingimento de transformações econômicas e políticas internas nessas nações, ainda que para fins de desenvolvimento. Em todo caso, o interesse nacional confunde-se, em grande medida, com o interesse da comunidade internacional.
A cooperação externa, tanto a recebida quanto aquela generosamente prestada aos países de menor desenvolvimento relativo, é, contudo, acessória ao projeto nacional de desenvolvimento econômico e social, que passa pela auto-capacitação tecnológica e a formação interna de capital humano. Em qualquer hipótese, quanto mais ajuda o Brasil prestar a países de menor desenvolvimento relativo, maiores condições ele terá de lograr avanços para si mesmo nos campos tecnológico, financeiro e comercial.

4. A “graduação” e o status de país em desenvolvimento
O sistema de comércio internacional do pós-Segunda Guerra foi construído com base em regras de reciprocidade, ou seja, no pressuposto de um tratamento igualitário para todos os países, ricos ou pobres, agrários ou industrializados, avançados ou atrasados. Uma das lutas mais consistentes empreendidas pela diplomacia econômica brasileira nos anos 50 e 60 foi levada justamente no sentido de buscar um tratamento diferencial, ou seja, preferencial e mais favorável, para os países em desenvolvimento, o que foi obtido a partir das reformas do sistema multilateral a partir de 1964, com as reformas do GATT e a atuação inovadora da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, a UNCTAD. Desde então a não-reciprocidade assegura um certo acesso de produtos desses países aos mercados desenvolvidos – embora segundo uma relação unilateral, condicionada e assistencialista – bem como a derrogação ou redução de certas obrigações normativas. O sistema vem sendo preservado tal qual, praticamente desde essa época, com algumas modificações menores introduzidas no curso de rodadas de negociações comerciais, geralmente no sentido de ser efetuada a graduação dos mais industrializados, como o Brasil, mantendo preferências para os de menor desenvolvimento relativo.
O tratamento preferencial pode trazer algumas vantagens setoriais, mas não constitui, por si só, elemento impulsor do desenvolvimento econômico. Nessas condições, a afirmação, sempre reiterada pela diplomacia brasileira, de nosso status de “país em desenvolvimento” e a conseqüente busca, ou preservação, das vantagens inerentes a tal condição constituem, paradoxalmente, os meios mais seguros de perpetuar o Brasil nesse estado desconfortável – e, em grande medida, falso – de “país em desenvolvimento”. Em determinadas conjunturas históricas, como a que atravessou o Brasil na passagem para o século XXI, de transformação estrutural ou de transição para uma nova etapa de desenvolvimento econômico, uma mudança auto-assumida de paradigma oferece uma chance única para uma melhor inserção internacional.
A liberalização comercial unilateral dos anos 90, por exemplo – como aliás, na mesma linha, a assunção irrestrita do princípio do free trade na Inglaterra vitoriana de um século e meio atrás –, fez mais para aumentar a competitividade externa do Brasil no mercados internacionais do que o suposto tratamento favorável concedido a um certo número de produtos manufaturados por parte de alguns países desenvolvidos. Da mesma forma, o ajuste fiscal e as reformas econômicas internas fazem parte da nova inserção internacional do Brasil. A melhor forma de graduação é aquela auto-assumida, não a imposta pelos parceiros mais desenvolvidos.

5. A integração regional e o ingresso em foros restritos
A economia mundial do final do século XX e início do XXI tem sido caracterizada pelos processos de globalização e de regionalização, que não são contraditórios entre si ou apresentando-se como alternativas excludentes. De fato, o que caracteriza a economia mundial da atualidade é o extraordinário aumento da interdependência entre os países, sejam eles membros ou não de algum bloco de comércio ou sistema de aliança política. O Brasil participa de ambos os processos, tendo logrado superar pruridos nacionalistas para engajar-se resolutamente na globalização e dirigido, de forma relativamente exitosa em seus primeiros dez anos, a consolidação do Mercosul em direção de uma união aduaneira.
Os processos de integração regional, possuidores de uma racionalidade econômica stricto sensu, devem ser perseguidos como objetivos funcionais ou correlativos ao processo de desenvolvimento nacional, mas não necessariamente como um fim em si, na medida em que sua vertente política e institucional deve ser confrontada aos custos sociais (inclusive financeiros e diplomáticos) de sua realização efetiva. Da mesma forma, a busca seletiva de adesão a (ou de aceitação em) determinados clubes seletos – como podem ser o MTCR, o CSNU, a OCDE – devem ser vistos antes como o resultado do que como a causa de determinados processos estruturalmente vinculados aos objetivos nacionais permanentes.
A busca do prestígio pelo prestígio introduz custos adicionais ao esforço interno de ajuste, custos que devem ser confrontados aos benefícios esperados ou à capacidade do país em produzir excedentes líquidos para sua projeção internacional. Em princípio, é o desenvolvimento interno, econômico e social, da nação que trará o reconhecimento externo, e com ele determinados convites à assunção de responsabilidades maiores na comunidade internacional, e não o contrário. O discurso democrático e universalista da diplomacia brasileira, basicamente orientado para a ação multilateral, deve guardar coerência com sua forma de atuação nos mais diferentes foros abertos à nossa presença. O objetivo último de uma política externa “globalizada” e “integracionista” é o aumento do bem-estar da população brasileira, não o internacionalismo abstrato, a integração pela integração ou a incorporação em foros restritos apenas pelo prestígio parente que isso comporta.

6. A imagem internacional do Brasil
Ela é certamente falha, injusta, incorreta, por vezes difamatória: o Brasil geralmente aparece na imprensa internacional mais pelo lado de suas mazelas sociais e ambientais do que pelos aspectos exitosos de seu desenvolvimento ou pelas realizações materiais e artisticas de seu povo. Muitas vezes isso se dá por perversidades próprias à nossa estrutura econômica e social, outras vezes por incompetência dos agentes públicos brasileiros na apresentação de nossas realidades. O aperfeiçoamento dessa imagem não deveria contudo ser buscado pelo mero investimento nos meios, isto é, pela promoção de um retrato “mais fiel” do Brasil, mas por uma ativa política corretiva nas fontes do problema. Do incômodo de conviver com certas realidades, possivelmente vexatórias do ponto de vista internacional, nascem determinadas posições principistas que apenas eludem alguns problemas cruciais de ordem política ou social; nessa ordem de idéias pode ser colocada a visão jurisdicista que ainda anima nossa política de direitos humanos.
Um certo investimento em “imagem” vem sendo feito junto a interlocutores externos, sem que se possa medir muito bem o retorno efetivo dos recursos engajados nessas formas sutis de propaganda. Alguma satisfação, pelo menos no plano individual, pode resultar dessas ações, mas tais recursos estariam certamente melhor empregados se fossem canalizados para as tarefas de educação e de promoção da cidadania ou da preservação ambiental no próprio Brasil, em lugar de serem direcionados para o exterior.

7. Avaliação do instrumento diplomático brasileiro
Depois do “mito do Barão”, a afirmação da “excelência do Itamaraty” é certamente uma das crenças mais arraigadas em nosso estamento profissional, tendo obtido um grau razoável de aceitação pública, interna e externamente. A autocomplacência com nossas supostas boas qualidades pessoais, ótima formação acadêmica e alto desempenho profissional parece constituir uma espécie de “pecado original virtuoso”, tendo sido constantemente estimulada por uma dessas frases grandiloqüentes cuja origem é creditada ao imediato entorno regional: “El Itamaraty no improvisa” (talvez devesse fazê-lo em determinadas ocasiões, para não dar a errônea impressão de lentidão ou passividade).
De fato, a preservação das linhas básicas da política externa brasileira ao longo das décadas deve-se a seu caráter intelectualmente reflexivo, politicamente cauteloso, operacionalmente coordenado e essencialmente discreto em termos de mídia. Sem querer desmerecer a qualidade e a dedicação da burocracia diplomática, sobretudo em confronto com outras categorias profissionais servindo o Estado, caberia no entanto introduzir uma nota de caução e de advertência, no sentido de que a autosatisfação e a glorificação generosa dos atributos de qualquer tipo de casta social são, de um ponto de vista puramente antropológico, os caminhos mais seguros para uma crescente endogamia, a degenerescência precoce e o esclerosamento. Os processos de osmose, em contrapartida, costumam ser regeneradores e vivificadores para todas as células do organismo, da mesma forma como a mistura racial e a abertura à alteridade reforçam a capacidade de resposta e de adaptação de todo e qualquer corpo social.
Todos sabemos, por exemplo, que grande parte do nosso tempo é mais dedicado à busca de meios para (tentar) trabalhar – como suporte logístico, pessoal, material, comunicações, enfim, recursos e insumos de diversas categorias – do que propriamente voltado para os fins precípuos para os quais somos pagos pela comunidade: pensar e praticar a política externa brasileira. Caberia indagar, assim, se alguns procedimentos de trabalho conseguiriam passar num controle de qualidade um pouco mais severo de um auditor externo especializado em organização e métodos. Ou, então, se a continuidade da suposta excelência dos quadros do Itamaraty está vinculada à estabilidade estatutária da classe diplomática, aparentemente considerada (por “direito divino”?) um dos corpos permanentes e inamovíveis do Estado.

Eventuais respostas alternativas às perguntas acima, talvez politicamente incorretas, poderiam introduzir um pouco mais de modéstia em nossa autoavaliação e promover uma busca constante de aperfeiçoamento no modo como funciona esta instituição repleta de jovens idealistas. Como “ideólogos” da diplomacia, nos cabe uma certa dose de responsabilidade na permanente remise en cause da velha ordem em que somos chamados a atuar.

Paulo Roberto de Almeida (http://pralmeida.tripod.com)
é doutor em ciências sociais, mestre em planejamento econômico e autor de
Formação da Diplomacia Econômica no Brasil (São Paulo: Senac, 2001)
As opiniões expressas no presente texto são exclusivamente as de seu autor e não correspondem a posições ou políticas do Ministério das Relações Exteriores ou do Governo brasileiro.
[Washington, 813: 2 outubro 2001]

link: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/35899/20924 




Mensagens e mais mensagens rompendo com meu "natural reservoso", e meus agradecimentos gerais e at large - Paulo Roberto de Almeida

 A despeito de privilegiar um "natural reservoso", como o Coronel Ponciano de Azeredo Furtado, da fabulosa novela de José Candido de Carvalho, "O Coronel e o Lobisomem", acabei incorrendo no pecadilho de indicar data do natalício nestas ferramentas de comunicação social. Ocorre, assim, que, em "retaliação" a tal impensado gesto, vejo minhas caixas de entrada submergidas de mensagens de cumprimentos. Como recém retornei ao ferramental eletrônico, sequer consegui ler todas, e nem sei como vou responder a cada uma nas horas subsequentes. Aguardando a feitura de uma mensagem, provavelmente coletiva, de agradecimento, gostaria simplesmente de postar os cumprimentos de dois antigos chefes no decurso de minha carreira diplomática, o ministro Celso Lafer e o embaixador Rubens Barbosa, seguidas de minhas respostas improvisadas, teclando no celular em movimento, o que segue.

Depois retomo para o universo das interações, com algum novo texto representativo do meu labor de toda uma vida:

1) "Caríssimo Paulo Roberto
Meu afetuoso e amigo abraço de cumprimentos pelo seu aniversário celebrando a sua esclarecida pesquisa e contínua dedicação ao entendimento da política externa e as relações internacionais do Brasil.
Celso"

Minha resposta:
"Caro ministro,
Agradeço sensibilizado sua mensagem.
Toda minha vida foi dedicada primeiro aos livros, depois ao ensino, em terceiro lugar ao aprendizado sobre relações internacionais, política externa e diplomacia brasileira, inicialmente, e principalmente, por meio de suas obras e de várias outras contribuições a essa minha esfera profissional durante mais de 4 décadas.
Creio que aprendi muito, e tentei transmitir a meus alunos, e a outros colegas, esse aprendizado, assim como a experiência obtida no exercício de atividades diplomáticas, nem todas convergentes com certas orientações presidenciais personalíssimas, em face das quais não hesitei em expressar minha opinião, mesmo ao longe no momento.
Quero agradecer o munus intelectual que auferi da leitura de suas obras e o estimulo dado pelos exemplos práticos registrados." PRA

2) Embaixador Rubens Barbosa
"Parabéns pelo dia de hoje. Continue a produzir com o vigor de sempre. Abs."

PRA: "Gratissimo meu eterno chefe: tenha certeza de que vou continuar na mesma trilha que adotei desde a agora distante adolescência: ceticismo sadio e contrarianismo bem informado."

Pronto, pode servir para vários outras mensagens que ainda estão na categoria não respondida. Vamos a elas também.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 19/11/2025


Política Externa e Interesse Nacional: interações e descompassos - Paulo Roberto de Almeida (IRICE)

 Política Externa e Interesse Nacional: interações e descompassos

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Reflexões sobre uma problemática ainda carente de equacionamento no Brasil.
Preparado para seminário homônimo coordenado pelo embaixador Rubens Barbosa.
Realização: Irice, 21 de novembro de 2025, 17:00hs.

        Os conceitos de política externa e de interesse nacional são suficientemente vagos e muito pouco explícitos, para permitir qualquer interpretação objetivamente embasada sobre as conexões possíveis entre uma política setorial concreta, determinada, efetiva, como é a “política externa governamental”, e essa noção subjetiva e abstrata de “interesse nacional”. Entende-se, por esta última, que ela corresponde a toda e qualquer ação, condução, direção que levem à consecução das aspirações concretas do país, ou seja, da maioria de seu povo, em especial daqueles objetivos apontados como necessários pelas lideranças políticas e econômicas da nação. O primeiro conceito, por sua vez, o da política externa, está sendo permanentemente documentado, expresso, exposto e defendido pelo dirigente nacional – primeiro-ministro, presidente, ditador – e pela instituição oficialmente encarregada de sua operacionalização, o ministério das relações exteriores e seu corpo profissional.
(...)
Disponível na plataforma Acdemia.edu, link:
https://www.academia.edu/145030554/5105_Politica_Externa_e_Interesse_Nacional_interacoes_e_descompassos_2025_

terça-feira, 18 de novembro de 2025

Conceitos “carcereiros” na teoria social (e política) do Brasil - Paulo Roberto de Almeida

Conceitos “carcereiros” na teoria social (e política) do Brasil

Paulo Roberto de Almeida 

Durante toda a sua história, o Brasil não conseguiu escapar de certas “prisões mentais” que dificultaram seu desenvolvimento inclusivo e homogêneo. Durante mais de três séculos, talvez quatro, não conseguimos escapar do escravismo efetivo, que significou o tráfico africano e o escravismo negro (que rapidamente superou o indígena, por ser mais produtivo e “expendável”); ele foi substituído pelo escravismo mental, que perdura até hoje.

Depois veio, a grande ideologia da industrialização nacionalista que contaminou todas as políticas públicas desde o final do século XIX até hoje, compreensível pela importância das revoluções industriais que transformaram o mundo, a partir do núcleo europeu ocidental, até hoje.

Nunca fizemos uma revolução educacional, isto é, ensino básico de qualidade para todos, até hoje.

Mais recentemente, alguns novos “conceitos carcereiros” vêm aprisionando nossas políticas públicas, inclusive no terreno diplomático (que é o meu universo de trabalho acadêmico e profissional), e que insistem em moldar a agenda da teoria social, inclusive no setor governamental: deixo de lado o ridiculo molde “decolonial” que, na área acadêmica, veio tomar o lugar da teoria da dependência, outra grande ilusão metofológica. 

Na área diplomática, o BRICS e o tal de  Sul Global (antes apenas Sul-Su) são os dois novos queridinhos de acadêmicos e dirigentes da nossa diplomacia, aprisionando qualquer nova reflexão sobre uma agenda própria de desenvolvimento econômico e social.

Por que o Brasil precisaria das muletas mentais (e práticas) do BRICS e do tal do Sul Global para poder se desenvolver de maneira uniforme e independente? O Mercosul anda em baixa atualmente, sendo que foi, durante três décadas, o principal projeto estratégico da diplomacia brasileira.

As elites econômicas e políticas ainda não perceberam que ambos conceitos nos prendem a modelos e caminhos de atuação interna e externa que limitam e constrangem nossa atuação independente num mundo dominado por impérios — o que nunca fomos, nem seremos, no futuro previsível — e povoado por Estados nacionais, que possuem independência relativa?

Continuamos sem revolução educacional, mas sempre aderindo a modismos que nos aprisionam mentalmente, e que contaminam o discurso público, inclusive o diplomático.

Certas coisas demoram para passar: talvez o Brasil ainda não tenha crescido o suficiente. Como crianças pequenas, imitamos o que vem de fora  e certas modas criadas por intelectuais. BRICS e Sul Global são apenas os exemplos mais recentes dessas prisões mentais, que têm incidência direta nas políticas públicas, inclusive as diplomáticas.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 18/11/2025


Ukraine vs. Russia preferences in Slavonic studies - Dasha Nepochatova

 What I Find Very Difficult at Oxford

Dasha Nepochatova

(Via Anton Geraschenko)

I think I’ve already mentioned that when I entered the university, I did not expect that in Slavonic Studies the overwhelming majority of research would be dedicated to Russia. In fact, my dissertation will be the first one about Ukraine in this department.

Since I hadn’t even thought about this beforehand, because I had no expectations at all, I was genuinely shocked when I first encountered this reality. The world is banning Russia — in sports and many other spheres — yet here it is being studied: its cinema, literature, LGBT community, and so on. On the one hand, scholarship is scholarship, and that’s natural. But at the same time Ukraine is not being studied. That’s the problem.

This was in 2024. The war had already been going on for two and a half years.

When the shock passed, I realized that the only thing I could do was to help build Ukrainian Studies within our sub-faculty. Because it is almost impossible to counter the Russian narrative when most professors are professors on Russia and there is not a single professor on Ukraine. That was the first layer — the one I gradually adapted to.

Later another layer emerged — the narrative around the Soviet Union. Yes, the USSR is studied in other programs too, but in Slavonic Studies, for example, they study GULAG literature. And when I attended a two-day workshop on this topic, I realized that 90% of the presentations were about Russian writers, and none about Ukrainian ones. The topic of the Executed Renaissance wasn’t even mentioned, as if no one had ever heard of it. That’s when I understood that even Soviet history studies turn into studies of Russia.

This was deeply painful. Even more painful than discovering the imbalance in Slavonic Studies. That situation can still be explained somehow, but this one cannot be explained at all. And I thought that programs like this should apply an approach similar to gender quotas — like in parliaments, where at least 30% of MPs must be women. Yes, it’s artificial regulation, but I see no other way.

I eventually worked through that shock as well. I poured even more energy into creating Ukrainian Studies, understood how to build a strategy, what to say, and even drafted a large fundraising document explaining why this work is necessary.

But then a new year came, and unexpectedly I encountered another layer — an even more painful one — and I felt like there was nothing I could do about it. This term I took a course in world literature.

In one of the lectures, dedicated to Nordic literature — the sagas of the Vikings — the professor quoted different texts. In one of them (the Saga of Bjorn) it said that the Vikings set out “east into Russia to see King Vladimar.” Then another reference to ancient “Russian” literature appeared on the slide.

The next lecture, with a different professor, was on medieval literature, and of course she also spoke about “Russian literature” created in Kyiv.

I couldn’t remain silent and wrote the professor an email.

“I wanted to share a brief reflection on two details that particularly caught my attention. The use of the term “Russia” in the slide referring to King Valdimar in the Saga of Bjorn is historically inaccurate. King Valdimar corresponds to Prince Volodymyr the Great (c. 958–1015), ruler of Kyivan Rus’, a polity centred in Kyiv and established in the 9th century. Moscow was founded only in 1147, and the Muscovite state — the precursor of modern Russia — emerged several centuries later.

Kyivan Rus’ is the historical predecessor of the Ukrainian state, not the Russian one. Translating “east into Russia” or referring to that region as “Russia” therefore projects a much later political identity backwards in time and perpetuates the imperial myth of a “shared history” — a narrative that contemporary Russia actively exploits to justify its aggression against Ukraine.

Similarly, the quotation from Schlözer (1773), which places “Russian literature” among medieval traditions, reflects the 18th-century Eurocentric habit of treating all East Slavic culture as “Russian.” Acknowledging this historiographical bias and postcolonial studies could add valuable nuance to how medieval identities are discussed and contextualised.

In the present context of Russia’s full-scale war against Ukraine overlooking these distinctions risks appearing as a form of knowledge distortion, however unintended. It is particularly sensitive when presented to undergraduate students, whose critical thinking skills are still developing. I believe that we all share a responsibility to encourage intellectual curiosity, historical accuracy, and awareness of how narratives are shaped — especially those that carry deep political and cultural implications.

I understand that such terminology is often inherited from long-standing academic conventions, but within an institution like Oxford — where we have both the tools and the responsibility to approach history with precision — it seems particularly important to revisit these inherited frameworks.

I share these reflections with genuine respect for your scholarship, and with appreciation for the thought-provoking nature of your lecture, which encouraged me to raise this perspective.”

To my surprise, the professor responded quickly and very positively. He thanked me for the feedback, promised to revise the lecture, and even asked whether he should re-deliver it with the corrections.

I might not have written this post at all if today I hadn’t come across Judith Jesch’s book Women in the Viking Age. Naturally, I picked it up to look through it, and immediately stumbled on the chapter titled Russia. The term Kyivan Rus’ isn’t mentioned at all, even though the chapter discusses Princess Olha.

And so now I have a question. What do we do with all of this? Do we have scholars working on the decolonization of Kyivan Rus’ at the level of international universities? Because the professor’s reaction to my comment was constructive — he agreed with my arguments. But so much of our history has been stolen — how do we fix it? How do we communicate it? Where do we find the strength and resources? Because to me this is a falsification of knowledge. And Western institutions are participating in it.

The photos are the slide from that lecture and a page from the book.

Author: Dasha Nepochatova, President of Oxford Universtiy Ukrainian Society


domingo, 16 de novembro de 2025

Ricupero, Lafer e as relações internacionais do Brasil: Livro Vidas Paralelas, de Paulo Roberto de Almeida - Marco Aurelio Nogueira

Livros | Comentários, Slider

Ricupero, Lafer e as relações internacionais do Brasil
Marco Aurelio Nogueira blog, 16//11/2025

Livro reconstroi trajetórias e ideias de duas figuras que fizeram, ao longo da vida, uma verdadeira ode à diplomacia, à busca da paz e da harmonia no mundo

Você lê o interessantíssimo livro do diplomata Paulo Roberto de Almeida como se estivesse acompanhando uma conversa entre amigos. Há um mestre de cerimônias, o autor, que se mistura com os amigos, menciona suas biografias, qualidades e trajetórias. São todos especialistas em diplomacia, Itamaraty e política externa.

O livro transpira afinidades eletivas, como Paulo Roberto menciona algumas vezes. As afinidades o auxiliam a captar o lado humano e profissional das duas grandes figuras públicas merecedoras de sua atenção, Rubens Ricupero ( e Celso Lafer (1941) Há convergências e confluências entre eles, mas também diferenças. Paralelismo. Ricupero e Lafer são personagens de destaque da política externa brasileira. São intelectuais refinados, escritores de livros seminais e de intensa atividade pública.

Vidas paralelas: Rubens Ricupero e Celso Lafer nas relações internacionais do Brasil (RJ, Ateliê de Humanidades, 2025) tem seu mérito maior na exposição que nos faz de duas figuras que fizeram, ao longo da vida, uma verdadeira ode à diplomacia, à busca da paz e da harmonia no mundo. Viveram as guerras e atrocidades das últimas décadas, estudaram suas determinações, enveredaram pelas trilhas da pesquisa e da reflexão teórica, sempre à procura de novos conhecimentos. O foco de ambos foi localizar o lugar do Brasil no mundo e compreender sua história no terreno das relações internacionais.

Ricupero escreveu o imprescindível A diplomacia na construção do Brasil (1750 – 2022) (Versal Editores, 2024). Foi ministro da Fazenda e secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento-UNCTAD, entre 1995 e 2004, período durante o qual incentivou a pesquisa em economia criativa.

Lafer, por sua vez, foi um acadêmico atento às teorias do direito internacional, publicou importantes livros e atuou por duas vezes como Chanceler brasileiro (1992 e 2001-2002), além de ter trabalhado na área diplomática internacional. É autor de A Identidade Internacional do Brasil e a política externa brasileira (Perspectiva, 2020).

Diferentes, mas convergentes trajetórias. Interesses comuns, afinidades intelectuais (Norberto Bobbio, Hannah Arendt, Raymond Aron) e perspectivas políticas semelhantes, “um liberalismo com consciência social”. Continuam a formar uma dupla não projetada, mas que se afirmou no correr do tempo, alimentada por uma comunhão de ideais e atividades. “Diplomatas da inteligência”, como Ricupero afirmou certa vez, ao homenagear José Guilherme Merquior.

O projeto que Paulo Roberto materializou nesse livro é, no essencial, uma história intelectual. Os dois intelectuais de que ele se ocupa são figuras públicas proeminentes, que, no arco de sessenta anos, deram importante contribuição para um melhor conhecimento do Brasil pelo mundo e pelos próprios brasileiros. Com origens e trajetórias pessoais distintas, seus caminhos terminaram por se “cruzarem, se imbricarem e não mais se desligarem”. Ambos continuam a trabalhar, a manter relações de amizade e afinidade intelectual.

O livro não se propõe a ultrapassar os limites impostos pela concepção de história intelectual. Há uma recuperação pontual de traços biográficos, mas o texto sabe como incorporá-los. Do mesmo modo, Paulo Roberto estabelece com clareza que será dada “atenção apenas seletiva à ação de ambos no campo da diplomacia prática, ou da governança de maneira geral”. O foco estará sempre nas ideias, com o objetivo de “ressaltar os aspectos mais significativos de duas trajetórias intelectuais e de atuação pública”, de alcançar “uma síntese tentativa do imenso volume de conhecimento que eles colocaram à disposição do público brasileiro, e até estrangeiro”.

A ideia de traçar o paralelismo entre a vida de Ricupero e Lafer encontra apoio em pontos essenciais: “Uma mesma origem na imigração, ainda que diferente em suas raízes, uma trajetória similar de construção de vida pelo trabalho, o mesmo esforço nos estudos, uma absoluta identidade de propósitos quanto a objetivos maiores”. O que prevalece, da história narrada por Paulo Roberto de Almeida, é sua admiração pelos intelectuais estudados, unidos por dois elementos intangíveis: a cultura e a inteligência.

O livro, em resumo, nos ajuda a compreender melhor a contribuição que Rubens Ricupero e Celso Lafer deram e continuam a dar para tornar o Brasil mais conhecido e, quem sabe, mais preparado para lidar com o complexo mundo atual e enfrentar seu futuro. Uma ótima iniciativa.

Paulo Roberto de Almeida é diplomata, professor universitário e autor de diversos livros e artigos. Entre suas publicações mais recentes, incluem-se Apogeu e demolição da política externa. Itinerários da diplomacia brasileira (Curitiba, Appris, 2021) e, como organizador, Intelectuais na Diplomacia Brasileira: A cultura a serviço da nação (Rio de Janeiro: Francisco Alves; São Paulo: Unifesp, 2025).

Marco Aurélio Nogueira

Cientista político brasileiro, doutor em ciência política pela Universidade de São Paulo e Professor Titular Aposentado da Universidade Estadual Paulista-UNESP. 

Uma pequena ONU nos textos acessados em Academia.edu: Origem das buscas nesta plataforma - Paulo Roberto de Almeida

 Os textos mais acessados em minha página na plataforma Academia.edu.


5117. “Uma pequena ONU nos textos acessados em Academia.edu”, Brasília, 16 novembro 2025, 9 p. Lista, feita a partir do Analytics, contendo a origem das buscas nesta plataforma (https://unb.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida), trabalhos meus e textos de terceiros. Postada em Academia.edu (link: https://www.academia.edu/144991080/5117_Uma_pequena_ONU_nos_textos_acessados_em_Academia_edu ).

Uma pequena ONU nos textos acessados em Academia.edu
Origem das buscas nesta plataforma (trabalhos meus e textos de terceiros)

Paulo Roberto de Almeida

O Analytics da plataforma Academia.edu tem vários tipos de seleções para listagem setorial dos acessos. Uma das que mais aprecio é a que relaciona as cidades e os países de origem. Isso me permite ver, igualmente, quais textos estão sendo mais buscados em minha página; justamente, um dois mais buscados é o relatório Military Balance (2023 e 2024), um dos “externos”, mas que aparece repetidamente. Na relação abaixo, eu relacionei unicamente os acessos feitos do início do dia 15 de novembro e metade deste dia, mais exatamente até as 13:46hs do dia 16 de novembro.

13:46 Nov 16 Baghdad Iraq O Itamaraty na Cultura Brasileira...
13:38 Nov 16 Rio de Janeiro Brazil 22) Prata da Casa: os...
13:35 Nov 16 Ouricuri Brazil 2786) A globalização e o...
13:27 Nov 16 Phnom Penh Cambodia 1744) Lula’s Foreign Policy during...
(...)

Just a compilation of access and downloads established from the Academia.edu Analytics, showing the origin (city and country) and the text available in my page, either mine or third parties.

Lista completa (9 páginas) em Academia.edu (link: https://www.academia.edu/144991080/5117_Uma_pequena_ONU_nos_textos_acessados_em_Academia_edu ).


A CHEGADA DE BOLSONARO NO INFERNO - Bastião da Curiboca


A CHEGADA DE BOLSONARO NO INFERNO
Por Bastião da Curiboca

Corria um dia tranquilo
Na portaria do inferno.
A fila estava pequena
Com três caboco de terno;
Um agiota, um banqueiro,
E um pastor potoqueiro
Invocando o Pai Eterno.

O capeta da guarita
Só conferia os malfeito
Numa lista bem comprida
Ia ticando, com jeito:
Ladroagem, carteirada,
Ódio, usura, mentirada,
Consciência com defeito.

Mais atrás vinha uma quenga
E um vendedor de seguro;
Pouco depois um pinguço
Ralando o chifre no muro;
Uma dupla sertaneja,
Uma barata-de-igreja,
E um tarado de pau duro.

Tudo estava nos conformes
Naquela burocracia,
Quando se ouviu ao longe
Uma estranha tropelia.
Fazendo muita poeira,
Promovendo quebradeira,
Xingando a democracia.

Na frente, boca espumando,
Tinha um tal de Capitão.
Com a mão fazia um gesto
Imitando um três-oitão;
Riso de psicopata,
Catinga de vira-lata,
E zóio de assombração.

Ele logo foi dizendo:
“Sou presidente, tá oquei?
Tenho apoio da milícia,
Da rede globo e da lei.
Vou trocar o delegado!
Eu quero um advogado,
Daqueles que eu já comprei”.

O diabo olhou o tipo
E pensou: “Lá vem encrenca!”
O cabra não vinha só,
Vinha com ele uma renca:
Tinha milico fardado,
Fazendeiro, deputado,
E jornalista em penca.

“Trezentos mil. E daí?”
Relinchava o genocida,
E era aplaudido com força
Pela claque ensandecida.
Os quatro filhos vibravam,
Enquanto compartilhavam
Da rachadinha bandida.

Puxando o coro dos males,
O general Pazuello;
Damares, Ricardo Salles,
Parecia um pesadelo!
O chanceler Araújo
Com QI de caramujo,
Paulo Guedes num camelo.

“Eu vim para destruir!”
Gritava o quase-demente.
E chegou na portaria
Querendo passar na frente.
“Não ligo pra pandemia!
Mi-mi-mi é covardia,
De quem não votou na gente!”

Capeta coçou o rosto,
E farejou confusão.
“Esse aí parece encosto,
Vou precisar de outra ação.”
E ligou prum mais chifrudo,
Mais graduado, pançudo,
Que chegou com a guarnição.

“O que está acontecendo
Nessa repartição?
Aqui é lugar decente,
Não pode haver confusão.
Não me importa a patente,
Tem de ser obediente
Em nossa jurisdição.”

O capitão gargalhou
De um jeito alucinado.
Virou-se pra sua plateia,
Soltou um berro, alterado:
“Vamos passar a boiada!
Isso aqui não é nada,
Comparado com meu gado.”

O tinhoso, experiente,
Percebeu a desvantagem.
Era muita gente bronca
Seguindo aquela visagem.
“Vou ligar pro meu Supremo.
Briga boa eu não temo,
Mas assim é sacanagem…”

Satanás estava na mesa
Comendo um leitão assado.
Quando recebeu o zap
Caiu no chão, alarmado.
“Como é que esse bandido
Que acompanho, escondido,
Veio parar desse lado?”

Vestiu a capa vermelha,
E procurou o tridente.
Passou um pente na telha
Deu um gole de aguardente.
Arriou uma jumenta
Que tinha fogo na venta,
E foi pra linha de frente.

Chegando na portaria
Viu aquela confusão.
O povo fazendo arminha,
Gritando “É o Capitão!”
Trinta pastores na grama,
Dez generais de pijama,
e o Bonner na narração.

Seguindo aquele fascista,
Tinha de tudo um pouquinho.
Acadêmico e artista,
Sílvio, Datena e Ratinho.
Racista, neonazista,
comboio de taxista
atravancando o caminho.

O Demônio encheu o peito
Com seu bafo venenoso,
E perguntou pro sujeito:
“Cê quer o que, malcheiroso?
Não pense que me engana,
A facada foi chicana,
Recurso bem vergonhoso.”

Bolsonaro então sorri,
Lembrando a maracutaia.
“Não foi ali que morri,
Bem sabe o Rodrigo Maia.
Cheguei com apoio do Moro,
Dos tucanos de alto foro,
E também do Malafaia.”

“Mas então você me explique”,
Interrogou Belzebu:
“Por que vem fazer chilique
Com esse bando de urubu?
Pra entrar tem que ter senha,
Espero que aqui não venha
Provocar um sururu.”

“É Deus acima de todos,
Brasil acima de tudo!”
Desta forma inconsequente
Blasfemou o linguarudo.
O Demo pegou a deixa,
E transmitiu sua queixa
Para o Senhor-Pai-de-Tudo.
“Mestre Supremo, desculpe,
Nessa hora incomodar.
Mas tem um cara suspeito,
Aqui a me atazanar.
É um tal de Bolsonaro,
Se não me falha o faro,
É cabra ruim pra danar.”

Deus pôs a mão na testa,
deu um suspiro profundo.
“Belzebu, tu estás comigo
Desde o início do mundo.
Sabes que não ajo errado:
Se alguém vai pro teu lado,
É porque é vagabundo!”

“Mas, Deus, será que mereço
Um castigo tão tacanho?
O cara é sociopata,
Quem segue é um povo estranho.
Aqui temos uma ordem,
Por mais que outros discordem,
É disso que eu tiro o ganho.”
“Penso que um cabra desses,
Tão seguido de pastores
De igrejas tão diversas,
Guiadas por malfeitores,
Devia ir para o limbo
E receber um carimbo
Por proclamar tais horrores!”

O Supremo, com um sorriso,
Respondeu ao Lucifer:
“É justamente por isso
Que a situação requer
um jeitinho mais profano:
Aceite o miliciano
E seja o que Deus quiser!”

O Maligno, abismado,
Achou a declaração hostil.
“Se Deus quiser, ora essa!
Onde é que já se viu?
Agora que a coisa aperta!
Se Deus quisesse, na certa,
Tinha salvado o Brasil!”

Belzebu ficou cabreiro
Com aquela situação.
Lá fora o Bozo rosnava
Incitando a multidão.
Foi quando um diabo-raso
Preocupado com o caso,
Disse: “eu tenho a solução!”

“Lá no Brasil tem um cabra
Que todo mundo respeita.
Correu cinquenta países,
E em nenhum fez desfeita.
Cabra bom de Garanhuns,
Adorado por alguns,
Temido pela direita.”

Satanás, bem curioso,
Viu uma chance bem clara.
O diabinho, orgulhoso,
Sentiu que a fala tocara.
“É Lula, meu comandante!
Sei também que o meliante
Morre de medo do cara.”

“Quero o telefone agora
Dum homem desse quilate!”
Lucifer se apresentou,
E contou qual o embate.
Lula soltou uma risada,
E falou: “Esse é barbada.
Desafia prum debate!”

O Demonho, agradecido,

Foi direto pro portão.
Com a capetada ao lado
Anunciou a intenção:
“Vamos expor nossos planos.
Se os teus não forem insanos,
Te entrego a chave e o bastão!”

Bolsonaro ouvindo aquilo
Na hora empalideceu.
O suor correu na testa
E a garganta emudeceu.
Pra escapar da desgraça
Numa nuvem de fumaça,
Depressa se escafedeu.

A multidão, sem comando,
Aos poucos se diluiu.
Os diabos festejaram
A vitória sem fuzil.
Se alguém pergunta o destino
Do capitão asinino,
Saiba que está no Brasil.

===========

Eu (PRA) acrescento:
Um cordel arretado, cadeia prá quem merece.
Falta um prá outro cabra da peste, lá da Trumplândia.

 [Grato a Olympio Pinheiro pela postagem]

Ah, essa “relíquia bárbara” (como diria Keynes) - Paulo Roberto de Almeida

Ah, essa “relíquia bárbara” (como diria Keynes):

Uma das propostas do Projeto 2025, dos apoiadores de Trump, no campo monetário, seria um retorno ao padrão ouro, algo virtualmente impossível, nas condições atuais. Os BCs ficariam administrando toneladas de lingotes (para supostamente garantir as emissões de moeda), sem que isso se refletisse necessariamente nas demais políticas macroeconômicas e setoriais.

O fato é que a China, já maior produtora do mundo de ouro (e de muitas outras coisas mais), está acumulando toneladas de ouro, talvez para enfrentar a outra obsessão de Trump, além das tarifas: a manutenção do dólar como o padrão incontestável dos pagamentos e das cotações nos intercâmbios globais.

O outro fato é que Trump está fazendo de tudo para afundar os EUA: a China assiste impassível ao besteirol econômico trumpista.

Lula já falou diversas vezes numa provável “desdolarização” (que irá ocorrer, mas a longo prazo), com isso atraindo inutilmente os raios jupiterianos de um Zeus de araque, aquele que se crê o imperador do mundo.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 16/11/2025

sábado, 15 de novembro de 2025

HOMENAGEM AO PROFESSOR AMADO LUIZ CERVO: IN MEMORIAM: dia 21/11/2025, 19hs

HOMENAGEM AO PROFESSOR AMADO LUIZ CERVO: IN MEMORIAM

dia 21/11/2025, 19hs

Carlos Domínguez recebe Tereza Cristina Nascimento França (UFS), Albene Miriam Menezes Klemi (UnB), Günther Richter Mros (UFSM), Paulo Roberto de Almeida (MRE), Carlos Eduardo Vidigal (UnB), Raúl Bernal-Meza (UNICEN-Argentina), Lídia de Oliveira Xavier (Unieuro), Delmo Arguelhes (UFF) Homenagem ao professor Amado Luiz Cervo: in memoriam.

https://www.youtube.com/live/JYKBcLA9DBQ?si=-lNNFqaq9wieR2v2


As origens da Grande Guerra: a Europa no final do século XIX; livro de Paul Schroeder: The Origins ofthe First World War Reconsidered; review by Thomas Parker

 

H-Diplo|Jervis Forum Review 148: Parker on Schroeder, _Stealing Horses to Great Applause_

christopher ball

The Jervis Forum

H-Diplo | Robert Jervis International Security Studies Forum

Review 148

Paul Schroeder. Stealing Horses to Great Applause: The Origins ofthe First World War Reconsidered Verso, 2025. ISBN: 9781804295793.

12 November 2025 | PDF: https://issforum.org/to/R-148 | Website:rjissf.org

X: @HDiplo | BlueSky: @h-diplo.bsky.social | Mastodon: @HDiplo

Editor: Diane Labrosse
Commissioning Editor: Daniel R. Hart
Production Editor: Christopher Ball
Pre-Production Copy Editor: Mia Tellmann

Thomas Parker, George Washington University


The late Paul Schroeder, who died in 2020, was perhaps his generation’s greatest historian of nineteenth century European diplomacy. His books, The Transformation of European Politics, 1763–1848, Metternich’s Diplomacy at its Zenith 1820–1823, and Austria, Great Britain, and the Crimean War: The Destruction of the European Concert, covered the period in great breadth and depth.[1] He also wrote numerous articles on the juncture of history and political science theory in such publications as International Security.[2] He could do it all and then some.[3] For the first time, his essays on the origins of the First World War have been brought together in a single volume. The result, Stealing Horses to Great Applause: The Origins of the First World War Reconsidered, is a gem that calls into question some of the standard interpretations of the war’s origins and its outbreak. 

Schroeder shares the historical consensus that the war was caused by some combination of “imperialism, mass politics, fervent nationalism, all-out arms races, and Social Darwinism” (89).[4] He stresses that the impact of all these forces gradually undercut the period of prudent diplomacy that followed the Napoleonic Wars, which is known as the “Concert of Europe”: 

Europe had remained generally peaceful throughout the nineteenth century not by the natural workings of the balance of power, but by restraints on it—a system of rules, norms, and practices enabling actors, especially the great powers, to act on the assumption that rivalry and competition, though inescapable, would not destroy them (89-90).

During the Concert, self-restraint paid off, even if the individual parties might have foregone unilateral advantage periodically. Thus, Concert members sometimes passed up the prospect of tempting gains. Russia did not go to war with the Ottoman Turks in 1821–1823, France restrained itself in 1830–1831 when Belgium declared its independence, and France chose not to go to war in 1840 during the crisis with Egyptian ruler Mehmet Ali. International conferences solved these confrontations in a peaceful manner (321). Schroeder’s emphasis on the importance of norms and practices, not just military power, is an important contribution to this period’s historiography.[5] 

Schroeder argues that the system was also characterized by a relatively benign hegemony. Britain was most powerful nation in Western Europe, as was Russia in Eastern Europe. Yet both were distant hegemons that allowed other powers their lesser spheres of influence (37-43). 

Schroeder writes regretfully about how the Concert began its decline when these distant hegemons fought against each other in the Crimean War (1853–1856). London wanted to push back the Russian short-term threat to the Ottoman Empire and the longer-term Russian challenge to the British empire in the Middle East and Asia. For its part, Russia aimed to force Turkey into acknowledging Russian preeminence at Constantinople. The Crimean War also inadvertently weakened Austria by alienating it from all the involved parties. The Concert suffered additional blows when Prussia defeated Denmark in 1864, Austria in 1866, and France in 1870–1871, thereby making France and a united Germany permanent adversaries and Austria a satellite of Berlin. Schroeder criticizes the major European powers for not having attempted to promote settlements in any of these conflicts that might have left the defeated powers with fewer grievances, the victors with less hubris, and the entire diplomatic system more fluid and less rigid (43-53).

With the effective end of the Concert, European leadership passed to German chancellor Otto Von Bismarck, about whom Schroeder writes admiringly. Bismarck created a complicated, yet fragile, web of alliances. Until Emperor Kaiser Wilhelm II removed him from power in 1890, he succeeded in his main aim of avoiding war, particularly among Berlin, Vienna, and Saint Petersburg. Schroeder wonders, however, if even Bismarck could have managed the increasingly vulnerable European system much longer. Bismarck was replaced not by bellicose men, but by ordinary ones. If one of the tests of a stable system is that it can function under mediocre leaders, then an increasingly unstable Europe needed gifted men to keep it together. These were in short supply (62-67).

Schroeder shares the consensus view that European imperialism contributed to European instability by sharpening the continent’s rivalries (xi).[6] Yet again, he goes a step further by arguing that while these imperialist rivalries abroad did not directly cause World War I, they were characterized by a ruthless, zero-sum diplomacy that seeped back into Europe. Their destructive impact was exacerbated by the growing belief that any genuine major power had to be a world power in order to control the resources necessary for a modern economy: “World policy (Weltpolitik), [which is] often discussed as if it only or especially concerned Germany, was in fact almost universal” (70). Countries became increasingly willing to take risks to advance their perceived high-stakes agendas at the risk of war. (67-80, 160-170, 208-211)

Schroeder breaks with the majority of historians who believe that Germany’s restless, aggressive policy was perhaps the most important cause of World War I. They argue that while all the European major powers bore some responsibility for the war’s outbreak, Germany, and to a lesser extent, Austro-Hungary, deserve most of the blame.[7] 

Schroeder argues that while the Kaiser liked to strut about on the world stage, for several reasons Germany carried out a relatively cautious foreign policy right until 1914. First, while Berlin sought world power as much as any of the other major powers, it was largely excluded from colonial competition by the empires of Russia, Britain, and France, and even the United States. It was left with only the scraps from the Imperialist race, a Pacific island here, an African colony there. Schroeder chose the Spanish proverb “some men steal horses to great applause, while others are hanged for looking over the fence” for the title of an article. It is an appropriate frame for this collection. That is, while the entente powers could “steal” territory pretty much at will throughout the world, Germany was bottled up inside Europe. The proverb implies that life can be unfair; Schroeder understood that international politics are no different (159-160). 

Schroeder notes that Germany also felt, for good reason, that it was surrounded by a stronger unfriendly alliance system in Europe itself: a large Russia, whose modernization kept moving forward, France, and probably Britain. In contrast, Germany was allied with the declining Austro-Hungarian and Ottoman empires. Schroeder writes that this induced a certain prudence in Germany: 

The contrast between Germany’s uncomfortable situation, its dangerous potential, and its actual moderation in conduct shows up strikingly in Germany’s military establishment…Repeatedly, in times of crisis Germany’s military leaders showed caution, advising the government against exploiting relatively favorable chances for war in 1904–1905, 1908–1909, and 1911 and actually neglecting a badly needed expansion for the army until 1912–1913 (79). 

Schroeder argues that the prudence ended when Berlin felt that its Austro-Hungarian ally had been pushed to the wall by Serbia in July 1914 and that waiting any longer would result in a Russian-French dominated Europe. But then again prudence eluded all the parties that summer (15-16, 20).

Schroeder also breaks with the majority of historians on how best to allot the responsibility for the outbreak of the war in the summer of 1914.[8] Instead of finding Germany to have been the main culprit, he finds that Serbia was the most reckless power at that critical time: “I consider Serbia the most reckless and irresponsible, the most defiant of elemental norms of international conduct, the most hostile to the very existence of the international system” (216).

Unlike other historians of the war, Schroeder argues that Russian leaders were more reckless than their German counterparts.[9] He notes that Russia goaded Serbia to challenge Austria, mobilized before Germany, and for decades had run rampant in the polarizing imperialist race. Schroeder readily acknowledges that Germany was also reckless in 1914, as was Austro-Hungary. But as Schroeder emphasizes forcefully, the question of which power started the war (Germany and Austria-Hungary declared war first) is not the same as who caused it (216-217). In fact, Schroeder also argues that France was reckless in backing Russia too forcefully in the showdown with Austria-Hungary in the Balkans (217).

Moreover, Schroeder defends Austro-Hungary’s willingness to confront Serbia as having been understandable since Vienna was the weakest of the continent’s five major powers. All the other major powers knew that the Austro-Hungarian empire’s days were likely numbered either because of its internal ethnic tensions or because of external attack from Russia and Serbia (22-23). Here Schroeder makes an original argument: “A real balance of power policy would have required from the Entente [Russia, France, and Britain] precisely such a policy of restraint for themselves and controlled support for Austria” (23). Schroeder suggests that Britain was the only major European power that could have helped Austria to avoid collapse from external threats by providing diplomatic—but not military—support. It had a freer hand, as Russia and Serbia were adversaries of Vienna, and France was dependent on Russian support against Germany (23).

Yet London remained indifferent, even though its Foreign Minister Edward Grey “feared rather what actually happened: a preventive war launched by Germany out of fear of Russia’s growing strength and Austria’s decline” (29). This is not to say there was a British anti-Austrian plot. As Schroeder writes: “The British did not think of Austria as their enemy: they tried not to think of her at all” (30). But they should have. Schroeder stressed that the Habsburg Monarchy played a key role in European peace. With the Monarchy holding down the Danube basin, it prevented Germany and Russia from establishing mastery over Europe. If the Austro-Hungarian Empire were broken up, Germany and Russia were bound to fight over the spoils, as happened in the 1940s (32-33). 

Schroeder emphasizes that during the entire second half of the nineteenth century, the entire European international system became increasingly competitive and polarized, even cut-throat. All parties looked after their own interests exclusively as the largely peaceful days of the Concert of Europe receded into a distant past. There was little commitment to—or even understanding of—a common good. Diplomatic institutions and practices could no longer contain raw military power. He believed firmly that the decay of diplomatic institutions and practices over the second half of the nineteenth century made the First World War “highly likely, if not absolutely inevitable” (210). For Schroeder, the war’s outbreak was the coup de grace to a tottering system. Its origins, therefore, were even more important than the events of the summer of 1914. 

 

Thomas Parker teaches security courses at the George Washington University. Over the course of thirty years, he worked in the Executive Office of the President, the Office of the Secretary of Defense, the State Department’s Policy Planning Staff, the intelligence community, and the US Congress. He is the author of American Presidents in Diplomacy and War (Notre Dame University Press, 2023).


[1] Paul Schroeder, The Transformation of European Politics, 1763–1848 (Clarendon Press, 1994); Schroeder, Metternich’s Diplomacy at its Zenith 1820–1823 (University of Texas Press, 1962); and Schroeder, Austria, Great Britain, and the Crimean War: The Destruction of the European Concert (Cornell University Press, 1972).

[2] For example, Schroeder, “Historical Reality vs. Neo-Realist Theory,” International Security 19:1 (Summer 1004): 108-148.

[3] For a discussion of Schroeder’s place in the historiography of European history, see H-Diplo/RJISFF Forum, “The Importance of Paul Schroeder’s Scholarship to the Fields of International Relations and Diplomatic History,” 10 September 2021, https://issforum.org/forums/28.

[4] See Henry Kissinger, Diplomacy, (Simon & Schuster, 1994) 194; Gordon Craig, Europe, 1815–1914, (The Dryden Press, 1972) 435-436.

[5] Jack Levy, “The Importance of Paul Schroeder’s Scholarship to the Fields of International Relations and Diplomatic History,” in H-Diplo|RJISFF Forum, “The Importance of Paul Schroeder’s Scholarship to the Fields of International Relations and Diplomatic History,” 10 September 2021, 27; https://issforum.org/forums/28. Levy, “The Theoretical Foundations of Paul W. Schroeder's International System,” The International History Review 16:4 (2010): 715-744, https://doi.org/10.1080/07075332.1994.9640693.

[6] Craig, Europe, 1815–1914, 407.

[7] A.J.P. Taylor, The Struggle for Mastery in Europe, 1848–1918 (Oxford University Press, 1971), 526-527; Marc Trachtenberg, History and Strategy (Princeton University Press, 1991), 55-56; Craig, Europe, 1815–1914, 444-448.

[8] Craig, Europe, 1815–1914; Taylor, The Struggle for Mastery in Europe, 1848–1918; Trachtenberg, History and Strategy

[9] Craig, Europe, 1815–1914; Taylor, The Struggle for Mastery in Europe, 1848–1918; Trachtenberg, History and Strategy


Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...