O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Brasil: rumo ao desenvolvimento?

Uma visão talvez otimista demais sobre o futuro do Brasil, compativel, provavelmente, com o cenário conjuntural quando a matéria foi elaborada, três meses atras. Desde então, o cenário macroeconômico se deteriorou um bocado em todo o mundo...
Paulo Roberto de Almeida

A década de ouro
Milton Gamez, Hugo Cilo e Denize Bacoccina
Istoé Dinheiro, 26.02.2010

Como e por que a economia brasileira irá crescer a um ritmo de 5% ao ano até 2020, num cenário inédito de desenvolvimento que somará US$ 1 trilhão à riqueza do País e mudará definitivamente a vida de consumidores e empresas

Oito anos atrás, o executivo brasileiro Fernando Lewis, diretor da gigante de computadores HP, fez as malas e mudou-se com a família para Miami, nos Estados Unidos. A missão: comandar os negócios da companhia na América Latina e representar o continente nas salas de reunião da empresa. "Era muito difícil vender o Brasil lá fora. Só abríamos portas a fórceps", diz Lewis. O cenário se inverteu. Hoje, ele está de volta a São Paulo por determinação da matriz e comanda um dos mercados prioritários para a HP no mundo. Não por acaso: nos últimos seis anos, o Brasil liderou absoluto o ranking de crescimento de vendas de computadores e acessórios de informática da companhia em mais de 150 países. "O Brasil surpreendeu a direção da HP até mais do que a China. A recuperação do mercado chinês não é surpresa. A nossa, sim", completa Lewis, sorrindo.

"Antes, quando reivindicávamos uma fatia maior dos investimentos globais, parecia até que eu fazia uma piada", relembra o executivo.

A HP de Lewis está começando a surfar naquela que pode ser a década de ouro da economia brasileira. Sustentado por uma inédita estabilidade política e econômica e uma feliz coincidência de eventos, o País deverá crescer anualmente, segundo cálculos do economista Octavio de Barros, cerca de 5% nos próximos dez anos. Esse salto espetacular significará um acréscimo de US$ 1 trilhão à riqueza nacional. É esse cenário que transforma a piada citada por Lewis em coisa do passado, embora não fosse injusta anos atrás. A imprevisibilidade era tanta que o "milagre econômico" nos anos 70 deu lugar à "década perdida" nos 80. Nos anos 90, veio a conquista da estabilidade econômica e tudo mudou. Pela primeira vez na história, o Brasil vive ao mesmo tempo um ambiente de democracia, crescimento econômico e inflação baixa. A força de trabalho irá superar, em número, a população que não gera renda. Se a última década foi marcada pela crise global e pela consolidação do Brasil como um porto seguro para investimentos, o que será da próxima? Não é exagero dizer que, até 2020, o País viverá uma década de ouro, rumo ao tão sonhado status de país desenvolvido. Esse cenário já está no radar de empresas como HP, Intel, Petrobras, Cyrela, JBS, BMW, Anhanguera Educacional, Bradesco e Itaú Unibanco - só para citar algumas - e certamente terá grande impacto na vida de todos os brasileiros e estrangeiros que vivem aqui.

Analistas de mercado, economistas e empresários ouvidos pela DINHEIRO são unânimes na tese de que o País tem tudo para trilhar um inédito caminho de crescimento estável e pujante nos próximos dez anos. As portas estão abertas para o País se tornar a quinta maior economia do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, da China, do Japão e da Índia. A viagem pode sofrer solavancos vindos do Exterior, como aconteceu nos últimos dois anos, mas a passagem para o futuro G5 está comprada.

Fatores como as descobertas do petróleo na camada pré-sal, a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 aumentam a visibilidade do Brasil e reforçam perspectivas otimistas de fortalecimento do mercado interno, aumento da renda per capita e progressiva diminuição das desigualdades sociais. Com isso, a taxa de crescimento do PIB na década de ouro pode chegar perto de 5% ao ano, em média, acentuando a revolução na vida dos brasileiros em proporções semelhantes à vivida nas décadas de 50 e 60, nos anos JK. Os maiores bancos privados do País já fizeram as contas e preparam- se para surfar essa nova onda de crescimento sustentado, oferecendo crédito e serviços financeiros.

Nas previsões do Itaú Unibanco, o PIB deve aumentar 4,97% em média até 2020, começando em 6% em 2010 e chegando a 4,7% no final da década (veja quadro). Se a taxa ficar em 4,8%, como prevê o Bradesco, será a maior expansão desde os anos 1970, quando a economia rodava a 8,8%. Previsões econômicas podem dar errado (e dão), mas há motivos de sobra para otimismo. "Temos um ambiente global favorável, que não precisa ser equivalente ao dos anos dourados da economia mundial, entre 2004 e 2007, quando o mundo cresceu 5% ao ano. Agora teremos uma excelente taxa de crescimento com democracia e amadurecimento institucional", disse à DINHEIRO o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros.

Se as expectativas das instituições financeiras se confirmarem, o PIB brasileiro passará de US$ 1,5 trilhão para US$ 2,5 trilhões até o final da década, em números atuais. Essa geração de riqueza adicional aproximará o Brasil dos padrões internacionais de desenvolvimento. No cenário traçado por Octavio de Barros, coautor do livro Brasil pós-crise - Agenda para a próxima década (Ed. Campus), isso implica melhor infraestrutura, juros reais menores, autonomia formal do Banco Central, sistema tributário mais simplificado e controle rigoroso do aumento dos gastos públicos. A década de ouro irá aumentar ainda mais a classe média, aprofundando a migração social de 32 milhões de pessoas nos últimos anos e fornecerá ao mundo parte do consumo antes concentrado nos Estados Unidos.

O Brasil, maior exportador mundial de café, açúcar, frango, carne e suco de laranja e um dos maiores vendedores de soja e minérios, pode virar também um gigante do petróleo, mas o que as empresas globais estão cobiçando é o provável mercado de 200 milhões de habitantes com alto poder de consumo. "Nos próximos anos teremos um bônus demográfico com a chegada à idade adulta de 100 milhões de novos consumidores. Com isso, o Brasil vai dar um salto", prevê o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi. A migração social aprofunda os impactos desse fenômeno. Agora, mais da metade da população é de classe média e a miséria deixará de existir em 2016, segundo as previsões do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgadas na terça-feira 12. A taxa de pobreza cairá de 28,8% da população, em 2008, para um percentual de 4%, semelhante ao de países como Itália e Espanha. "A emersão das classes historicamente menos favorecidas mudará completamente a fisionomia econômica do Brasil", destaca Marcio Pochmann, presidente do Ipea.

O brasileiro não somente vai comer mais e melhor como também entrará nas lojas com dinheiro no bolso e fome de consumo. Impulsionado pela equação emprego e crédito, terá a chance de comprar uma roupa nova, planejar a aquisição de um automóvel, fazer uma viagem de férias ou adquirir um computador. O Brasil se tornará nos próximos meses o terceiro maior mercado mundial de computadores e a Intel, gigante que detém 80% do mercado local de semicondutores, quer aproveitar essa onda. "Desenvolvimento econômico demanda tecnologia. O País se tornou a menina bonita do baile e tem um ambiente que seduz investimentos", disse à DINHEIRO o presidente da Intel, Oscar Clarke. Quem sabe agora surgirá a primeira fábrica local de semicondutores. "No passado, não havia qualquer possibilidade de construirmos uma fábrica aqui. Essa questão tem sido considerada frequentemente pela companhia para os próximos anos", garante Clarke.

Mais acesso a computadores se traduz em mais informação, educação e conhecimento. É nessa fórmula que as universidades brasileiras se ancoram para planejar o futuro. O Grupo Anhanguera Educacional pretende dobrar de tamanho em cinco anos. Em número de unidades, saltará de 56 para 115 e, em quantidade de alunos, passará dos atuais 250 mil para pouco mais de 1 milhão.

Para Ricardo Scavazza, vice-presidente de Operações e Relações com Investidores da empresa, a expectativa é ousada, porém realista. No final da década de 90, apenas 11% da população brasileira cursava ensino superior. Nos dias de hoje, embora esteja acima de 20%, ainda está longe do razoável. "Tinha de ser 30%, no mínimo", garante Scavazza. "Nenhum país do continente está abaixo de 30%. Na Argentina e no Chile, são mais de 40%. Por isso, estamos eufóricos com o potencial de crescimento", acrescenta.

A euforia procede. Aumentar a qualificação profissional da mão de obra é um dos maiores desafios ao crescimento do Brasil nesta década. Em algumas atividades já há pleno emprego: sobram vagas, faltam profissionais. É a realidade de profissões das áreas de contabilidade, tecnologia e química. O País tem apenas seis engenheiros para cada mil habitantes. Na China e na Índia, essa proporção é de 22 para cada mil. "É o que explica o salto da remuneração dos engenheiros. Em cinco anos, multiplicou por quatro", completa Scavazza. A educação executiva já virou um negócio milionário por aqui. "As empresas brasileiras precisam ter competitividade global", afirmou à DINHEIRO o professor de negócios internacionais da Suffolk University, Richard Torrisi, dos Estados Unidos, que veio ao País na semana passada para falar aos alunos da Business School São Paulo.

Se as perspectivas são boas para a indústria do conhecimento, melhor ainda é para o setor de consumo e alimentos. Não foi à toa que o Pão de Açúcar comprou as redes Ponto Frio e Casas Bahia no ano passado e o grupo Global Emerging Markets investirá R$ 120 mlhões na Parmalat, conforme anúncio na sexta 15. A Walmart definiu um agressivo plano de investimentos para os próximos anos. "O Brasil será um dos locais mais interessantes do mundo para viver e fazer negócios", diz o cubano Héctor Nuñes, presidente do Walmart Brasil. Neste ano, a rede varejista investirá R$ 2,2 bilhões no País, o maior aporte desde a chegada da empresa, há 14 anos.

A opinião de Nuñes é compartilhada pelo diretor da marca Mini - pertencente ao grupo BMW ?, Martin Fritsches. "O Brasil está prestes a viver uma fase de estabilidade e de inserção internacional que favorecem a divulgação da "marca Brasil", aposta o executivo. O selo product of Brazil está cada vez mais valioso e precisa ser melhor divulgado, opina Marcus Vinícius Pratini de Moraes, presidente do comitê de estratégia do frigorífico JBS, o maior do mundo, com operações em 25 países. "Temos que aproveitar a Copa e a Olimpíada para vender melhor o Brasil", defende ele.

Para consolidar o crescimento sustentado e convencer o mundo de que mudou para melhor, o Brasil precisará vencer velhos obstáculos. Novos avanços terão de ser conquistados em diversas áreas, como infraestrutura e educação (veja quadro Dez passos para o desenvolvimento).

Se vencer seus fantasmas, parte dessa vitória passará pelo setor da construção civil. O segmento tem sido uma locomotiva da economia e desponta como peça-chave no futuro. A Construtora Cyrela sabe disso. Nos próximos 24 meses, investirá R$ 1 bilhão para dobrar de tamanho. "Temos convicção no crescimento do País", diz o diretor Luis Largman.

As empresas estatais também se preparam para essa arrancada. A Petrobras se programou para dobrar a produção nos próximos dez anos, dos atuais 2,5 milhões de barris equivalentes/ dia para 5,7 milhões ao dia em 2020. O consumo deve passar de 2 milhões de barris por dia para 2,8 milhões de barris. "Estamos preparados para atender se o Brasil crescer a 5%", disse à DINHEIRO o diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa. Nos próximos cinco anos, serão inauguradas cinco novas refinarias. São passos como esses que farão o Brasil viver a década de ouro. O futuro já começou.

Dez passos para o desenvolvimento
Onde o Brasil precisa avançar para garantir o crescimento sustentado na próxima década

1 - Infraestrutura de transportes
Investimentos em estradas, ferrovias, portos e aeroportos são necessários. A Abdib prevê investimentos de R$ 160 bilhões até 2015, dos quais R$ 24 bilhões em transportes. O Programa de Aceleração do Crescimento prevê gastos de R$ 502,2 bilhões depois de 2010. O orçamento, desde 2007, é de R$ 1,14 trilhão.
2 - Energia
O País precisa garantir a energia suficiente para suprir o crescimento. O consumo de energia elétrica subirá 50% até 2020. A Petrobras estima que o consumo de gás vai triplicar e o de petróleo vai subir 40% até 2020. Para o pré-sal estão previstos US$ 111,4 bilhões.
3 - Educação
Melhorar a educação é essencial para formar a mão de obra qualificada de que as empresas precisam e preencher os novos empregos que serão criados. A proporção da população com curso superior é de apenas 10%, segundo pesquisa da OCDE, o pior índice em 36 países. O analfabetismo atinge 9,2%.
4 - Gastos públicos
Aumentar a qualidade e reduzir os gastos públicos é essencial. A reforma da Previdência é um dos desafios. Recursos devem ser usados na melhora da infraestrutura. O governo gasta 20% do PIB no custeio da máquina. Quanto mais economizar, mais os juros podem cair.
5 - Exportação
Reduzir os custos de produção e promover os produtos brasileiros são essenciais para a competitividade. O Brasil representa 1,3% do comércio mundial: US$ 152,9 bilhões. A China, que em 2009 passou a Alemanha e tornouse o maior exportador do mundo, vendeu R$ 1,2 trilhão ao exterior, mais de 9% do total.
6 - Reforma tributária
Redução da carga tributária e racionalização do sistema de impostos é essencial para estimular as empresas. Em 2009, a carga tributária ficou em 36% do PIB, com redução de um ponto percentual em relação ao ano anterior por causa das desonerações, mas ainda é superior a outros países.
7 - Inclusão social
Para criar novos consumidores e investidores, é preciso reduzir ainda mais as desigualdades de renda, investir em saneamento e infraestrutura. Nos últimos anos, 20 milhões de brasileiros ascenderam à classe média, mas 16,2% ainda estão abaixo da linha da pobreza.
8 - Ciência e tecnologia
Desenvolver tecnologias e aumentar a utilização das tecnologias conhecidas é fundamental para garantir o crescimento. Formar engenheiros e ampliar o ensino pode resultar em mais pesquisa. País teve só 4 mil de 946 mil patentes na ONU em 2006.
9 - Bancarização
Garantir o acesso de novas pessoas ao sistema financeiro é importante para crescer os mercados de crédito e consumo. O Bradesco estima que 100 milhões de brasileiros abrirão conta bancária nos próximos 15 anos. O crédito imobiliário deve triplicar, para 11,7% do PIB em 2020.
10 - Reforma política
Reformar as instituições democráticas e reduzir a corrupção é vital para diminuir o custo-Brasil. Modificar o sistema de votação, com a introdução do voto distrital, pode aproximar o político do eleitor e facilitar a cobrança. Partidos precisam ser fortalecidos.

Turistas acidentais (na Buenos Aires do bicentenario)

Vítima do cerimonial da Casa Rosada, chanceler Amorim vaga pelo centro portenho (junto, tour arquitetônico)
por Ariel Palacios
Blog Os Hermanos
Seção: Política; Turismo
26.maio.2010 16:35:09

Mapa do périplo do chanceler Amorim no centro de Buenos Aires

Em vermelho, o trajeto feito por Amorim
Em verde, o trajeto que teria que ter feito, se não fosse o descalabro da organização do evento

0 – Amorim sai da Casa Rosada
1 – Amorim é barrado na Praça de Mayo
2 – Depara-se com a banda dos Granaderos e volta para a Casa Rosada
3 – Na Casa Rosada é também barrado
4 – Passa ao lado do prédio do Banco de La Nación, obra de Alejandro Bustillo
5 – Esquina da 25 de Mayo e Bartolomé Mitre. Grupo decide caminhar pela Mitre
6 – Casal brasileiro depara-se atônito com ministro Amorim, ao vê-lo como pedestre normal
7 – Passa ao lado do prédio do Banco de La Província, um marco art-déco
8 – Esquina da Diagonal e Florida. Multidão impede passagem para ver Lula e o desfile. Monumento que retrata o presidente Sáenz Peña.
9 – Pela calle Florida, Amorim passa ao lado do prédio da Gath e Chávez
10 – É resgatado por veículo da embaixada


O chanceler Celso Amorim foi vitima ontem (terça-feira) à noite da desorganização do governo da presidente Cristina Kirchner. O ministro do país que absorve 30% das exportações argentinas teve que vagar pelo centro portenho, no meio da multidão, que festejava a data nacional e não conseguiu assistir a segunda parte das celebrações do bicentenário da Revolução de Maio de 1810.
O imbroglio começou quando Amorim, acompanhado pelo assessor de relações internacionais do presidente Lula, Marco Aurelio Garcia, e o embaixador brasileiro na Argentina, Enio Cordeiro (e três correspondentes brasileiros) saiu da Casa Rosada – o palácio presidencial – onde havia participado da cerimônia de inauguração da “sala de heróis latino-americanos” (uma sala que reúne quadros de heróis dos países da região) e foi barrado ao tentar atravessar a Praça de Maio.
O governo argentino havia indicado que os convidados especiais passariam por um corredor VIP. O corredor levava os convidados ao lugar da segunda fase das celebrações na avenida Diagonal Norte (onde os presidentes de países sul-americanos, entre eles o presidente Lula, assistiriam um espetacular desfile artístico-histórico).
Mas, Amorim, abandonado pelo cerimonial argentino, deparou-se com a extinção do corredor VIP, e foi barrado por uma policial e um operário, que impediam a passagem de qualquer pessoa.
O policial afirmava categoricamente que pessoa alguma podia passar por ali (embora dezenas de pessoas tivessem passado por ali cinco minutos antes), enquanto que o robusto operário, na grade do lado, sustentava que havia uma obra, e que ninguém passaria por esse lado.
As autoridades argentinas encarregadas da organização, nesse intervalo, haviam desaparecido dali. Ministros do próprio gabinete da presidente Cristina Kirchner também foram barrados.
O resto da praça estava ocupado por uma imensa multidão que se acotovelava para os festejos (calcula-se que 2 milhões de pessoas estavam nesse instante nas ruas do centro de Buenos Aires).
Sem alternativa, Amorim – acompanhado dos jornalistas (entre eles, vosso blogueiro) – deu meia-volta e começou a contornar a Casa Rosada, caminhando apressado pela avenida Rivadavia em direção a Puerto Madero.
Mas, quando chegou na esquina da avenida Rivadavia e da rua 25 de Mayo, na esquina do Banco de La Nación e da Side (o serviço secreto argentino), a banda dos Granaderos (guarda presidencial), subindo a avenida em formação cerrada, obrigou o chanceler a retroceder.
Amorim, estupefato, voltou em direção à Casa Rosada. Mas, nos portões do palácio presidencial, foi barrado pela segurança. Ali, permaneceu uns minutos, enquanto assessores atarefavam-se nos celulares, tentando encontrar uma saída para o insólito imbroglio. Vinte minutos já haviam transcorrido desde o início da confusão. E o resto do imbroglio levaria muito mais tempo.
Enquanto isso transcorria, o presidente Lula, sem saber do destino de seu chanceler, acomodava-se a três quarteirões dali, no palanque de honra, para assistir o desfile artístico de encerramento das celebrações do bicentenário.
Sem soluções à vista, e visivelmente exasperado, Amorim empreendeu novamente o caminho da rua 25 de Mayo, acompanhado por Garcia e o embaixador Cordeiro (e o trio de jornalistas).
- Chanceler, já que estamos aqui, o que o senhor achou das declarações de Hillary Clinton sobre o Irã? (perguntou um colega).
- Não, não vou falar de Irã agora (disse Amorim, enquanto caminhava).
Outro jornalista aproveitou a deixa e perguntou: “chanceler, e sobre as barreiras argentinas para os importados…?”
- Não vou falar de conflitos comerciais hoje, pois este é um dia de festa, é o bicentenário..
Seguiram uns minutos de silêncio enquanto o grupo de diplomatas e jornalistas barrados caminhava sem destino definido.
Para quebrar o gelo, enquanto passávamos ao lado do prédio do Banco de La Nación, comentei:
- Chanceler, esse prédio é interessante…foi construído por Alejandro Bustillo, um dos mais famosos arquitetos do país…quando tentaram dar um golpe contra Perón em 1955, ele quase veio esconder-se aqui, pois o subsolo do banco é blindado…
- Ah, aqui? Em 1955? Edifício impressionante… (pausa) …como é bonita a arquitetura do centro desta cidade (disse Amorim).
Ao chegar na esquina da Bartolomé Mitre, o grupo parou novamente.
“Vamos por esta rua, rumo à Maipú”, disse um integrante do grupo.
Amorim rempreendeu a caminhada, no meio da multidão, que abarrotava a rua e festejava a data nacional. “Estou me divertindo”, disse sorrindo em tom resignado aos jornalistas, enquanto alguns jovens passavam ao lado segurando garrafas plásticas com conteúdo que em uma rápida apreciação me parecia que era de elevada capacidade inebriante, além de exalar o característico cheiro da cannabis sativa.
Além deles, também passavam famílias com suas crianças, aposentados e turistas estrangeiros.
“Pense bem, chanceler, quando poderia caminhar assim, tranquilamente, pelo centro de Buenos Aires?”, disse um colega.
Pois é”, respondeu Amorim.
“Já passaram por coisas similares?”, inquiriu outro colega.
“Por cada coisa… já passamos por cada coisa em outros lugares!”, disse Marco Aurélio, para minimizar o descalabro da organização do governo Kirchner.
Um casal de turistas brasileiros, nesse instante, passou ao lado e surpreendeu-se ao ver o chanceler do Brasil caminhando prosaicamente no meio da multidão.
“Está perdido, ministro?”, perguntaram.
Eh…”, disse Amorim, amável, mas de forma enigmática.
O casal, ao ver que o ministro estava constrangido e aparentemente perdido, tentou animá-lo: “eh…bom… eh… um prazer conhecer o senhor!..ehhh…A gente gosta muito do senhor, viu?”
Amorim, sem parar de caminhar, acenou em sinal de agradecimento.
Nesse instante, passamos ao lado do edifício do Banco de la Província de Buenos Aires, uma joia da arquitetura art-déco portenha. Amorim estava nervoso e caminha apressado.
- Ministro, este é um marco da arquitetura da cidade (disse um dos colegas, para ver se o animava com outra coisa)
- Há uns prédios muito bonitos por aqui… É uma cidade impressionante (disse ele)
- É mesmo (completou Marco Aurélio Garcia, o integrante do governo Lula que melhor conhece a capital argentina).
No entanto, ao chegar na esquina da rua Florida e a Diagonal Norte, ao lado do edifício do Bank Boston, um exemplo sui generis (de 1928) de arquitetura plateresca espanhola com arquitetura de bancos americanos dos anos 20.
Ali, o chanceler viu milhares de pessoas que se acotovelavam e gritavam hurras (e outras frases de conteúdo indefinido). Um grupo de jovens havia ‘escalado’ o monumento do presidente Sáenz Peña (em estilo art déco), de autoria do escultor José Fioravanti, e agitava bandeiras dali de cima.
Militantes peronistas tocavam seus tradicionais bumbos com frenesi.
- Ehhh…. teríamos que passar por aqui (disse alguém do grupo)
- Por aqui eu não passo, não! (exclamou Amorim).
Marco Aurelio Garcia levantou as sobrancelhas (as duas juntas, não como o sr. Spock) e concordou com a decisão do chanceler.
O grupo vacilou uns segundos, enquanto avaliava o cenário.
Amorim fez uma pausa e afirmou categórico: “Ah, não! Eu vou pegar um táxi”.
Eu disse: “se for isso, temos que ir para lá (apontando na direção da avenida Córdoba)”
- Essa aqui é a rua Florida? (perguntou um integrante do grupo)
- Sim (disse um dos colegas jornalistas)
- Aqui tem batedor de carteira…vários batedores de carteira (disse outro colega jornalista, alertando sobre um dos problemas que ficaram frequentes na calle Florida)
- Vamos, quero pegar um táxi (disse Amorim, a ponto de transformar-se talvez no primeiro chanceler em visita à Argentina que pegaria um táxi)
Na sequência, como dezenas de milhares de brasileiros que trafegam todos os meses pela outrora rua elegante de Buenos Aires, Amorim, MAG e o embaixador Cordeiro empreenderam a caminhada por essa ‘calle’ de pedestres. Nenhum táxi passava pela área, já que as ruas estavam fechadas para o trânsito.
No meio do caminho, pelo celular, o embaixador conseguiu um veículo da embaixada do Brasil que – furando o bloqueio de guardas – pode entrar no centro da cidade.
- Que prédio é este? (disse Amorim, ao ver um monumental edifício do início do século XX)
- Foi a principal loja de departamentos, um luxo inspirado nas galerias de Paris e Londres. Era o prédio da Gath & Chávez (disse eu ao passar pela esquina da Floria e a calle Perón, antiga calle Cangallo, enquanto driblávamos um batalhão de camelôs que vendiam objetos esverdeados Made in China com psicodélicas luzinhas vermelhas).
- Muito bonito (disse Amorim sobre o prédio)
Na esquina da Florida e Sarmiento, o chanceler Amorim foi finalmente resgatado e levado rumo à embaixada do Brasil.

Culpar os outros pelos nossos fracassos não é a solucao

Fi-lo porque qui-lo
João Luiz Mauad
19 Outubro 2004

Algumas pessoas conservam o péssimo hábito de jogar a culpa pelos seus fracassos nas costas de terceiros. Essa fuga da responsabilidade é bastante acentuada na maioria da população brasileira, habituada a sentir pena de si própria. O fato de responsabilizarmos alguém pelos nossos insucessos aplaca as nossas consciências e, ao mesmo tempo, nos induz a um permanente estado letárgico, sem qualquer poder de reação.

Essa tendência à auto condescendência explica, em parte, aquela famosa máxima, oriunda das hostes esquerdistas, segundo a qual a nossa miséria estaria associada, primeiramente à expropriação colonialista e, posteriormente, a um pseudo imperialismo, exercido principalmente pelos americanos do norte. De acordo com esse despautério, a nossa pobreza seria diretamente proporcional à riqueza do primeiro mundo.

O raciocínio tortuoso de que o nossa penúria é parte do legado colonial não resiste às evidências histórias, uma vez que países hoje desenvolvidos como Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Hong-Kong e até mesmo os riquíssimos Estados Unidos foram, outrora, colônias européias, enquanto nações miseráveis como Etiópia, Libéria e Butão jamais foram colonizadas. Por outro lado, Espanha e Portugal, poderosos colonizadores do passado, não estão entre os países mais prósperos, enquanto a Alemanha, cujas aventuras colonialistas do século XX redundaram sempre em magníficos e onerosos fracassos, é hoje a nação mais opulenta da Europa.

Já a teoria imperialista, que pretende explicar as causas do nosso subdesenvolvimento através de um contínuo saque das nossas riquezas pelos ogros americanos, é de morrer de rir, pois parte do pressuposto que a riqueza do mundo é algo estático, pré-existente, que trocaria de mãos ao sabor da força ou da coação. Chega a ser patético que alguém possa defender tais teses mesmo sabendo que perto de 70% do PIB norte-americano são provenientes do setor de serviços. Além disso, se a economia deles equivale hoje a quase 20 vezes a nossa, basta um mínimo de bom senso e alguma isenção de raciocínio para verificar que não foi através da pilhagem das nossas vastíssimas reservas naturais que os ianques enriqueceram e progrediram. Desculpem a franqueza, mas parece piada achar que os caras construíram aquele PIB de trilhões de dólares à custa da exploração alheia. Ademais, é de uma presunção sem limites.

Enquanto continuarmos insistindo na confortável estratégia de jogar a culpa dos nossos reveses nos ombros alheios, definitivamente não chegaremos a parte alguma, pois permaneceremos incapazes de aprender com nossos próprios erros. É preciso entender, de uma vez por todas, que se o país é pobre, faminto e ineficiente, isto é resultado das nossas decisões e escolhas e não porque o imperialismo nos colocou nessa situação. Que eu saiba, ninguém apontou armas para a cabeça dos nossos mandatários e os obrigou a contrair dívidas imensas para pôr em prática projetos faraônicos e absolutamente sem sentido, como trans-amazônicas e outras beldades tupiniquins. Também não estou informado de qualquer algoz externo que nos tenha impelido a passar décadas emitindo moeda de forma irresponsável, gerando a hiperinflação mais duradoura de que se tem notícia, cujas conseqüências estamos colhendo até hoje. Não foi, tampouco, nenhuma mente alienígena quem produziu todos aqueles planos econômicos desenvolvimentistas mirabolantes, que marcaram o nosso passado recente de forma tão cruel.

Pelo contrário, tudo o que se fez neste país, certo ou errado, desde a sua independência, foi por moto próprio dos seus governantes e cidadãos. Culpar os outros pelo nosso fracasso é fugir das responsabilidades. Que culpa têm os ianques se conservamos o cadáver insepulto de Getúlio até hoje, mantendo inalterada uma legislação trabalhista retrógrada, cuja profusão de direitos e benefícios onera de tal maneira as contratações que acaba por desestimulá-las, no lugar de incentivá-las, como seria desejável? Por acaso foram eles que nos impuseram um sistema político e econômico caracterizado pelo gigantismo de um Estado paternalista, assistencialista, ineficiente, perdulário e insaciável, que através da sua sanha tributária inviabiliza a formação de poupança interna e, por conseqüência, os investimentos do setor produtivo?

Se, ao invés de perdermos tempo criando teorias malucas, salpicadas de despeito e inveja para explicar as nossas mazelas, focássemos a atenção no essencial, não seria difícil deduzir onde está a diferença. Comparem a nossa Constituição com a deles, por exemplo. Enquanto os malvados norte-americanos construíram a sua sociedade calcada no poder do indivíduo sobre o Estado, no mérito pessoal e no livre arbítrio, nós fizemos a opção pelo engodo demagógico do coletivismo, onde o Estado se sobrepõe ao indivíduo de forma latente e cada dia mais perversa.

Politica Nuclear do Iran (11): Tom Friedman fala de "coisa feia"...

OPINIÃO
NADA É MAIS FEIO QUE DEMOCRATAS TRAINDO OUTROS DEMOCRATAS EM PROL DE QUEM NEGA HOLOCAUSTO
THOMAS L. FRIEDMAN - DO "NEW YORK TIMES"
Folha de S.Paulo, 27 de maio de 2010

Ao dar legitimidade a Ahmadinejad, Lula envergonha o Brasil
Quem fortalece regime tirânico do Irã e acoberta sua pretensão nuclear terá de responder ao povo iraniano

Quando vi a foto de 17 de maio do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, de braços erguidos com seu colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan -depois de assinarem um acordo para neutralizar a crise em torno do programa nuclear iraniano-, tudo em que consegui pensar foi: Será que existe algo mais feio que ver democratas traindo outros democratas em benefício de um bandido iraniano que nega o Holocausto e roubou votos, simplesmente para desafiar os EUA e mostrar que também eles são capazes de jogar na mesa dos poderosos? Não, mais feio que isso é impossível.
Tanto a Turquia quanto o Brasil são democracias nascentes que superaram seus próprios históricos de governo militar. É vergonhoso que seus líderes abracem e fortaleçam um presidente que usa sua polícia para esmagar e matar democratas iranianos. "Lula é um gigante político, mas moralmente ele tem sido uma decepção profunda", disse Moisés Naím, ex-editor-chefe da revista "Foreign Policy".

CHÁVEZ E FIDEL
Lula, observou Naím, "vem apoiando a frustração da democracia na América Latina". Ele regularmente elogia Hugo Chávez e Fidel Castro -e, agora, Ahmadinejad-, ao mesmo tempo em que critica a Colômbia, uma das grandes histórias de sucesso democrático.
"Lula vem sendo ótimo para o Brasil, mas terrível para seus vizinhos democráticos", disse Naím. É claro que, se Brasil e Turquia tivessem de fato persuadido os iranianos a encerrar todo o seu suspeito programa nuclear, os EUA o teriam endossado. Mas não foi isso o que aconteceu.
Hoje o Irã possui cerca de 2.200 quilos de urânio de baixo grau de enriquecimento. Sob o acordo fechado em 17 de maio, o país concordou em enviar à Turquia cerca de 1.200 quilos de seu estoque. Mas isso ainda deixará o
Irã com um estoque de aproximadamente mil quilos de urânio, que o país ainda se recusa a submeter à inspeção internacional e está livre para aumentar e continuar a reprocessar para os níveis necessários para uma bomba.
"REVOLUÇÃO VERDE"
Portanto, o que esse acordo realmente faz é o que o Irã queria que fizesse: enfraquece a pressão global sobre o Irã para abrir suas instalações nucleares aos inspetores da ONU e legitima Ahmadinejad no aniversário de seu esmagamento do movimento democrático iraniano que exigia a recontagem dos votos das eleições iranianas maculadas de junho de 2009.
A meu ver, a "Revolução Verde" do Irã é o movimento democrático autóctone mais importante a ter surgido no Oriente Médio em décadas.
Ela foi reprimida, mas não vai desaparecer. Gastamos tempo e energia de menos alimentando essa tendência democrática e muito tempo tentando um pacto nuclear.
Como me disse Abbas Milani, especialista no Irã na Universidade Stanford: "A única solução de longo prazo ao impasse é a chegada de um regime mais democrático, responsável e transparente em Teerã". Eu preferiria que o Irã nunca conseguisse uma bomba. O mundo seria muito mais seguro sem mais armas nucleares no Oriente Médio.
Mas, se o Irã de fato se nuclearizar, fará uma diferença enorme se um regime iraniano democrático ou a atual ditadura teocrática assassina tiver o dedo no gatilho. Qualquer pessoa que trabalha para adiar isso e para fomentar a democracia real no Irã está do lado dos anjos.
Qualquer pessoa que legitima esse regime tirânico e acoberta suas pretensões nucleares terá que responder ao povo iraniano um dia.

Questão de direitos humanos no Irã é tão urgente quanto a nuclear, diz Anistia Internacional

Melhorias na linguagem diplomatica (depende do estilo adotado, claro)...

Depois de uma definição genial de um assessor presidencial, quanto à postura que o Brasil não deveria ter na cena internacional -- "ficar de cócoras" -- temos aqui mais uma contribuição do Governo brasileiro para o enriquecimento da linguagem diplomática.
----------------
Paulo Roberto de Almeida

Lula critica política do 'ou dá ou desce' ao falar de possíveis sanções ao Irã
Nathalia Passarinho Do G1, em Brasília
O Globo, 26/05/2010

Referência foi a países que rejeitam acordo intermediado por Brasil e Turquia.
'Comigo ninguém dá e todo mundo desce. Esse é meu lema', afirmou.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta quarta-feira (26) o que chamou de política do “ou dá ou desce” em relação ao programa nuclear iraniano. Segundo Lula, alguns países se recusam a aceitar o acordo com o Irã, intermediado pelo Brasil e pela Turquia, porque, em vez de negociar, querem fazer uma demonstração de “força”. O presidente discursou durante a 4ª Conferencia Nacional de Ciencia e Tecnologia, em Brasília.
“Vocês estão acompanhando pela imprensa. Nas vésperas que eu estava lá, tinha gente dizendo ‘Ah, o Lula é inocente, o Lula não sabe nada’. Porque tem gente que ao invés de sentar na mesa para negociar prefere mostrar ‘Eu tenho força, ou dá ou desce!’. Eu não sou assim. Comigo ninguém dá e todo mundo desce. Esse é o meu lema”, disse o presidente.
Vocês estão acompanhando pela imprensa. Nas vésperas que eu estava lá, tinha gente dizendo ‘Ah, o Lula é inocente, o Lula não sabe nada’. Porque tem gente que ao invés de sentar na mesa para negociar prefere mostrar ‘Eu tenho força, ou dá ou desce!’. Eu não sou assim. Comigo ninguém dá e todo mundo desce. Esse é o meu lema"

Na semana passada, Lula, o primeiro-ministro da Turquia, Tayyip Erdogan, e o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, anunciaram um acordo que prevê a entrega em território turco de urânio levemente enriquecido. Em troca o Irã receberia em até um ano combustível nuclear. O governo brasileiro classificou as negociações como uma “vitória da diplomacia”. No entanto, potências internacionais anunciaram que continuarão a discutir sanções ao país de Ahmadinejad.
O acordo foi visto com reservas pelos Estados Unidos e países europeus desde seu anúncio. Os pedidos de sanções são liderados pelos Estados Unidos e devem ser debatidos nas Nações Unidas. A secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, já se manifestou várias vezes com ceticismo sobre o acordo intermediado pelo Brasil e a Turquia.

Segundo Lula, o que faltava para conquistar um acordo com o governo iraniano era estabelecer “uma política de confiança”. No entanto, algumas potências internacionais se recusam a aceitar a proposta porque, segundo o presidente, “não sabem fazer política sem um inimigo”.
“Fomos lá humildemente, estabelecemos uma política de confiança, e quando fizemos o acordo, que eu achava que os países que queriam levar o Irã pra mesa iam ficar felizes, eis que eles não queriam. Porque no mundo tem gente que não sabe fazer política sem ter um inimigo. Primeiro é preciso criar inimigo, e o inimigo tem que ser ruim, a cara tem que ser feia e temos então que demonizá-lo”, criticou.

===============

Comentário do jornalista Políbio Braga (Porto Alegre), sobre a substância das tratativas diplomáticas das últimas semanas:

O traiçoeiro Pacto de Teerã encurralou Lula

Vale a pena prestar atenção a estes dois movimentos que ocorreram nas relações Brasil x EUA por conta da trapalhada de Lula no Irã:

1) Lula desembarcou caladíssimo no Brasil e não foi festejado como novo emissário da paz sequer por seu Partido, o PT.

2) O pito que Lula levou quando ainda estava no exterior (a crítica pública de Obama ao Acordo de Teerã), seguiu-se esta semana de dois outros magnos eventos:

a) Obama anunciou publicamente que não aceitou o convite de Lula para visitar o Brasil.

b) Na China, Hillary Clinton repeliu a entrega da cópia do Acordo de Teerã à AIEA, da ONU. Os EUA falam em seu próprio nome e no nome da China, Rússia, Alemanha, França, Inglaterra e Japão.

. Não é pouco. Lula e Ahmadinejad podem até ter pensado que ninguém perceberia que o Acordo de Teerã visou apenas dar tempo ao Irã para produzir sua bomba atômica e com ela destruir Israel e ameaçar os EUA. Embora sem as mesmas dimensões, o Acordo de Teerã lembra muito os Acordos (Pactos) de Munique e Ribentrop-Molotov. As características traiçoeiras de todos eles, são comuns. Lula faz bem em se calar e em recuar. A esta altura do campeonato, Lula faria melhor caso se calasse, colocando-se na posição de um presidente em fim de mandato. Ao recrudescer em suas bravatas, Lula apenas compromete as condições de governabilidade do próximo presidente e os interesses do Brasil.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Apple Surpasses Microsoft as Most Valuable Technology Company

Não sou acionista e não pretendo ser; não ganho nada com isso. Sou apenas um usuário, durante toda a minha vida informática, dos produtos da Apple. Estou escrevendo num MacBookPro e uso um iPhone, apenas isso. Acho que a companhia merece o título concedido agora.
Mas atenção: a estratégia perseguida pela Apple é muito arriscada: ao manter sua tecnologia proprietária, fechada à clonagem e ao licensiamento ostensivo, ela pode perder mercado para concorrentes baseados em tecnologias abertas.
Quase ocorreu isso, 14 anos atrás, na concorrência entre o sistema operacional da Apple e o Windows, que estava sendo lançado pela Microsoft. Pode ocorrer o mesmo entre o iPhone (e seus derivados) e o telephone da Google, baseado em outra plataforma, aberta a inovações de terceiros. Ver o artigo mais abaixo.
Paulo R Almeida

Apple Surpasses Microsoft as Most Valuable Technology Company

Apple, the maker of iPods, iPhones and iPads, overtook Microsoft, the computer software giant, on Wednesday to become the world's most valuable technology company.

In intraday trading in the afternoon session, Apple shares rose 1.8 percent, which gave the company a value of $227.1 billion. Shares of Microsoft declined about 1 percent, giving the company a market capitalization of $226.3 billion.

This changing of the guard caps one of the most stunning turnarounds in business history, as Apple had been given up for dead only a decade earlier. But the rapidly rising value attached to Apple by investors also heralds a cultural shift: Consumer tastes have overtaken the needs of business as the leading force shaping technology.

Read More:
http://www.nytimes.com/2010/05/27/technology/27apple.html?emc=na

Apple's Second Date with History
By HOLMAN W. JENKINS, JR.
The Wall Street Journal, Opinion, May 26, 2010

Whose phone strategy is smarter in the long run—Apple's or Google's?
Apple almost went out of business 14 years ago, and many would have blamed what seemed one of the seminal business blunders in history.

Bill Gates was chatting with students at Stanford at the time and recalled letters he'd written to Steve Jobs begging him to allow cloning of Apple hardware. Had Mr. Jobs complied, Apple's operating system might have become the de facto universal standard, the one everybody wrote software for—a role that fell to Windows instead.

If you think missing out on the riches that Microsoft created for its shareholders was an error, Mr. Jobs erred. Then again, the Web came along to take the deathly sting out of the battle of the operating systems, and Apple resurrected itself as a maker of tasty computing devices for a segment of the public that valued tastiness.

Historical analogies are one of the cheapest in the columnist's bag of tricks, and a temptation usually to be resisted. But here goes: Isn't Steve Jobs replaying the gamble that almost broke Apple?

Google may not be Microsoft, exactly: For one thing, Google is giving away its smartphone operating system, known as Android, for free. Nor will the battle yield a similar winner-take-all outcome. But otherwise the effects are likely to be the same.

Because Mr. Jobs insists on keeping software and hardware under tight control, Google's platform is the one that will benefit from competition among multiple handset makers, producing lower prices and faster innovation, including a flurry of soon-to-arrive tablets and a variety of new devices aimed at niches (say, with a focus on navigation or texting).

Likewise, because Mr. Jobs insists on vetting all applications that run on his phones via the iTunes App Store, you'll need an Android phone to capture the full benefit of openness to the Web. Soon, Android users can expect their available services and apps permanently to outstrip those available to iPhone users through the App store.

Now, as then, the full stakes are only dimly perceived even by the participants. Then, it turned out to be the PC's world-wide adoption as the indispensable productivity tool. Today the term "smartphone" is scarcely adequate to describe a future in which individuals, wherever they go, whatever they do, will always have constant, instant access to the resources of the global "cloud."

Here, another Google advantage is likely to manifest itself over time. It makes its money from advertising (and from collecting data it can sell to advertisers) and its customers reciprocate by wanting services for free, which means advertising-supported.

In contrast, Apple makes its money from hardware sales, and by strong-arming its way to a share of users' telecom subscriber fees and infotainment purchases—all of which could be ripe to be competed away in a dynamic cloudphone marketplace.

The dangers of Google's approach? With so many different Android phones floating around and with so much openness to the Web, the search giant risks delivering a crummy, fragmented, even disastrous user experience, with security leaks, viruses and customer service that fails when needed most.

For Apple, the immediate danger is overreach, undermining its ability to deliver an ineffably superior user experience that just pleases. Apple has decided it needs an advertising strategy. It will need a TV strategy, especially after Google last week announced a version of Android to bring the cloud cornucopia to the biggest, best screen yet. Apple may also find it needs a strategy to compete in search. It certainly will need a strategy to make sure its infotainment offerings through iTunes don't fall behind in price and variety what Android users can get through their browsers.

That's a plateful for a company that, until recently, could focus almost entirely on perfecting the interface between its customer and the underlying electronics. But history has dealt Apple one break the second time around. Its earlier battle with Microsoft was winner-take-all thanks to an historical accident—the failure of the Web to introduce itself a bit earlier and blow up what a Microsoft judge called the "applications barrier to entry."

Apple this time understands (we hope) that it isn't playing for all the marbles, but can build a very nice business on just those customers who crave a premium service tightly controlled by the wonderful Mr. Jobs, even if it means paying a bit more and forgoing access to a lot of Web goodies that might not work so well in favor of a smaller number that work really well.

Still, we'd rather be Google. Why? Because Google can fail at everything but as long as it keeps its search box at the center of our digital lives, the ad gusher will continue to flow.

ABC Color: um jornal paraguaio contra a democracia prostituida

O ABC Color é o mais jornal importante do Paraguay e mantem uma decidida atitude antibrasileira, em defesa de um estrito nacionalismo paraguaio. Em um editorial de 7 de outubro de 2007, publicado em sua primeira página, com o título em amarelo, o jornal condena as experiências polulistas, autocráticas (leia-se Venezuela) e antidemocráticas em curso em vários países da região.
Seu ponto básico aqui é a oposição ao ingresso da Venezuela no Mercosul, que o editorialista considera unicamente do ponto de vista da cláusula democrática (esquecendo-se completamente das demais condições econômicas e regulatórias que a Venezuela tampouco cumpre), mas parece desconhecer que o Congresso brasileiro já aprovou esse ingresso
PS.: Agradeço ao leitor anônimo que corrigiu a data da publicação original desse editorial, primeiramente considerada como sendo contemporâneo do recebimento do material de fonte confiável, quando ele vem de três anos atrás.
Paulo Roberto de Almeida

Democracia puta
ABC Color, Paraguay, 07.10.2007

En estos días actuales las democracias latinoamericanas pasan por una dura prueba, pues con los mismos mecanismos de competencia electoral libre y plural algunos líderes izquierdistas que ganan elecciones se hacen del poder legítimo y desde el día siguiente de su triunfo comienzan a ejecutar sus proyectos de acabar con el sistema político mediante los cuales accedieron su mando. La eliminación de las normas que limitan el período presidencial es su primera meta a conquistar.

Tienen la intención de eternizarse en el poder y, con ello, reventar la democracia entendida como la rotación permanente de proyectos políticos y de personas. Pretenden excluir para siempre a todo el que no esté adherido a su partido.. Construyen dictaduras con fórmulas 'democráticas' y, cuando se sienten fuertes y disponen de los medios, inician el segundo plan: la exportación de su 'revolución'.

Internamente, su primera víctima son las Fuerzas Armadas, de la cual se excluye a todo militar q ue no merezca la completa confianza del nuevo único líder.. Una purga general despoja a las Fuerzas Armadas de los jefes y oficiales institucionalistas, dejándola a cargo de 'los leales'. Después arremete contra el Poder Judicial, realizando las mismas tareas depuratorias para luego, ya con los principales resortes controlados, iniciar el proceso de desmantelamiento de la prensa no alineada y la supresión progresiva de la libertad de expresión.

El resultado final de este procedimiento es la anulación completa, si no la supresión definitiva de toda idea, doctrina, orientación partidaria o movimiento contrario a la ideología oficial de la nueva dictadura. Sucumbe la libertad en todas sus formas tradicionales y lo que resta es un pueblo indefenso sometido a sus nuevas cadenas. Se confía en que el transcurso del tiempo borrará pronto el recuerdo de la democracia anterior y el beneficio del goce de sus libertades y, entonces, un pueblo atontado, obligado a trabajar para sobrevivir y para alimentar al Partido, a reprimir sus dudas, inquietudes y oposiciones, acabará convertido en un dócil rebaño de borregos, como bien recordamos los paraguayos que vivimos la era stronista.

Este es el proceso en marcha que vemos actualmente en el panorama político de Venezuela, Bolivia y Ecuador. En particular y más claramente en la primera, donde Hugo Chávez, con ya una década de gobierno, se apresta a dar el golpe final haciéndose coronar gobernante vitalicio imponiendo en el país una nefasta dictadura de corte marxista al estilo del que triunfara y se impusiera en Rusia en 1917, desconociendo el triste final que esos sangrientos regímenes tuvieron después de seis décadas de explotar y oprimir a sus pueblos, asesinar a sus adversarios y poner en grave riesgo la paz mundial.

Hugo Chávez, un dinosaurio que surgió de las cavernas más oscuras de la historia, está a punto de convertirse en amo y señor definitivo de la suerte de su pueblo y de los cuantiosos recursos económicos de su país, excluyéndose de toda competencia real y suprimiendo todo obstáculo que pueda interponerse entre él y su proyecto de vitaliciado. Tiene, además, el dinero necesario para comprar voluntades y pagar el precio de 'lealtades', dentro y fuera de su país.

Chávez es un dictador, pero UN DICTADOR MUY RICO; dispone hoy del poder absoluto de hacer con el dinero producido por el petróleo lo que se le antoje; ya no tiene encima ninguna contraloría, nadie a quien deba rendir cuentas. Con su gruesa petrobilletera recorre ahora América Latina y financia partidos, movimientos, organizaciones sociales y campañas electorales. Lo que no puede comprar, lo alquila o neutraliza. Al gobierno argentino le compra bonos del tesoro de Kirchner que nadie quiere y así puede exhibir sus sonrisas de complicidad, aplausos y abrazos, pasear libremente por ese país pronunciando encendidos discursos llamando a la 'revolución popular' y haciendo otros teatros para exportar su dictadura. Entre los cuales figura en lugar prioritario su desesperada intención de introducirse en el Mercosur para, una vez dentro de él, agilizar su intervencionismo en la política interna de los países miembros, con los cuales ya no tiene ninguna afinidad, porque mal que bien, en Argentina, Brasil, Paraguay y Uruguay continúan rigiendo principios básicos del estado de derecho, del régimen democrático y de libertades públicas. Chávez va a pagar en efectivo por su ingreso y tiene billetes a patadas. Quiere comprarles a Brasil y Argentina lo más barato posible la legitimidad internacional que su pertenencia del Mercosur cree le va a proporcionar. La pregunta que continuaremos formulando una y otra vez es ¿para qué sirve el Protocolo deUshuaia que pretendió establecer un compromiso para todos sus estados miembros de conservar intactas las instituciones democráticas? En este documento Argentina, Bolivia, Brasil, Chile, Paraguay y Uruguay declaran que 'La plena vigen cia de las instituciones democ ráticas es esencial para el desarrollo de los procesos de integración entre los Estados Partes del presente Protocolo' (Art. 1) y se comprometen formalmente a que 'toda ruptura del orden democrático en uno de los Estados Partes del presente Protocolo dará lugar a la aplicación de los procedimientos previstos en los artículos siguientes' (Art. 3).

¿Van a admitir a Venezuela, cuyo dictador por anticipado ya se excluyó de dichas cláusulas? ¿O lo van a admitir primero para luego aplicarle la 'Cláusula Democrática'? El absurdo y el ridículo rodean a esta intención de prostituir al Mercosur, pero está en marcha y solamente los parlamentarios brasileños y paraguayos tienen en sus manos la posibilidad de impedir esta vergonzosa deserción de los principios fundamentales declarados en nuestras cartas fundamentales y tratados de integración.

A los gobernantes actuales de nuestros países, que tanto cacarean su apego a la democracia y a las libertades fundamentales, y que ciertamente gracias a ellas alcanzaron el poder, ahora les tiemblan las rodillas y se les afilan los dientes a la vista de la deslumbrante petrobilletera abierta de un rústico dictador inescrupuloso, dispuesto a todo, incluyendo el soborno de los 'demócratas'.

Si nuestros presidentes del Mercosur, aun sabiendo cuál es su obligación histórica con la defensa de los principios y valores políticos que iluminan nuestros pueblos, son capaces de venderse o de liarse en una relación adúltera con un dictador megalómano surgido de las catacumbas de un pasado siniestro, tendremos que convenir que nuestras democracias se venden como auténticas putas. No cabe ya una calificación más dura para describirlas.

Niall Ferguson on US economic policy and empire decline

Ninth Annual Niarchos Lecture
Fiscal Crises and Imperial Collapses: Historical Perspective on Current Predicaments
Niall Ferguson, Harvard University
Peterson Institute for International Economics
Washington, DC
May 13, 2010

C. Fred Bergsten: I’m delighted to welcome you this evening to our 9th Annual Niarchos Lecture. This is a lecture series that’s been sponsored throughout by the Stavros Niarchos Foundation, to whom we are very grateful for doing so.
Tonight it’s a particular pleasure that Niall Ferguson, the distinguished and rather famous historian from Harvard, will be speaking to us.

Niall Ferguson is the author of such visionary books as The Cash Nexus, Empire, War of the World, and the most recent book and television series, The Ascent of Money: A Financial History of the World. He has currently completed a biography on Siegmund Warburg and has recently begun researching the life of Henry Kissinger, which should be very, very interesting. He has been listed by Time Magazine as one of the most influential people in the world and as a renowned historian in Britain. A prolific commentator on contemporary politics and economics, Niall Ferguson is a contributing editor also for the Financial Times.
His lecture tonight will focus on the relationship between economic policy and global strategy positions of the United States, a topic on which he is certainly well informed.

Transcript here.

To view the slides accompanying Niall Ferguson’s lecture, visit
http://www.piie.com/publications/papers/ferguson201005.pdf

Rumores sobre a morte do euro - Vaclav Klaus

Bem, eu não seria tão condenatório do euro, mas acredito que o presidente da República Tcheca tem toda a razão em seus argumentos econômicos.
Um mercado comum completo, acredito, ganha muito em abolir o câmbio, pois os fatores de produção possam a circular mais livremente. Mas, uma moeda comum exige políticas comuns em vários outros campos e uma total liberdade para a circulação de fatores, o que não é o caso, ainda, da UE e muito menos da zona do euro.
Creio que ele tem razão, em apontar a "sem-razão" (no sentido cervantino da palavra) para essa aventura do euro. Ou estamos falando de uma economia unificada, ou a moeda tem uma vida atribulada.
A Europa não constitui, a despeito do que disseram alguns economistas, uma zona monetária ótima, longe disso.


When Will the Eurozone Collapse?
by Vaclav Klaus
Vaclav Klaus is president of the Czech Republic.
Cato Institute, Economic Development Bulletin
No. 14, May 26, 2010

As a long-standing critic of the concept of a single European currency, I have not rejoiced at the current problems in the eurozone that threaten the very survival of the euro. Before discussing the events surrounding the Greek debt crisis further, I must provide at least a working definition of what the word "collapse" means. In the context of the euro, there are at least two interpretations that come to mind. The first one suggests that the eurozone project or the project establishing a common European currency has collapsed already by failing to bring about positive effects that had been expected of it.

The creation of the eurozone was presented as an unambiguous economic benefit to all the countries willing to give up their own currencies that had been in existence for decades or centuries. Extensive, yet tendentious and, therefore, quasiscientific studies were published prior to the launch of the single currency. Those studies promised that the euro would help accelerate economic growth and reduce inflation and stressed, in particular, the expectation that the member states of the eurozone would be protected against all kinds of unfavorable economic disruptions or exogenous shocks.

The Euro Has Not Led to Higher Growth in the Eurozone
It is absolutely clear that nothing of that sort has happened. After the establishment of the eurozone, the economic growth of its member states slowed down compared to the previous decades, thus increasing the gap between the speed of economic growth in the eurozone countries and that in major economies such as the United States and China, smaller economies in Southeast Asia and parts of the developing world, as well as Central and Eastern European countries that are not members of the eurozone. Since the 1960s, economic growth in the eurozone countries has been slowing down and the existence of the euro has not reversed that trend. According to European Central Bank data, average annual economic growth in the eurozone countries was 3.4 percent in the 1970s, 2.4 percent in the 1980s, 2.2 percent in the 1990s and only 1.1 percent from 2001 to 2009 (the decade of the euro) (see Figure 1).1 A similar slowdown has not occurred anywhere else in the world.

The Eurozone Economies Have Not Converged
Not even the expected convergence of the inflation rates of the eurozone countries has taken place. Two distinct groups of countries have formed within the eurozone ╉ one with a low inflation rate and one (Greece, Spain, Portugal, Ireland and some other countries) with a higher inflation rate. We have also seen an increase in long-term trade imbalances. On the one hand, there are countries with a balance of trade where exports exceed imports and, on the other hand, those countries that import more than they export. It is no coincidence that the latter countries also have higher inflation rates. The establishment of the eurozone has not led to any homogenization of the member states' economies.

The global financial and economic crisis only escalated and exposed all economic problems in the eurozone ╉ it did not cause them. That did not come as a surprise to me. The eurozone, which comprises 16 European countries, is not an "optimum currency area" as the elementary economic theorems tell us it should be. The former member of the Executive Board and chief economist of the European Central Bank Otmar Issing has repeatedly pointed out (most recently in a speech in Prague in December 2009) that the establishment of the eurozone was primarily a political decision.2 That decision did not take into account the suitability of this whole group of countries for the single currency project. However, if the existing monetary area is not the optimum currency area, it is inevitable that the costs of establishing and maintaining it exceed the benefits.

My choice of the words "establishing" and "maintaining" is not accidental. Most economic commentators (not to speak of the non-economic commentators) were satisfied by the ease and apparent inexpensiveness of the first step (i.e., the establishment of the common monetary area). This has helped to form the mistaken impression that everything was fine with the European single currency project. That was a mistake that at least some of us have been pointing out since the very birth of the euro. Unfortunately, nobody has listened to us.

I have never questioned the fact that the exchange rates of the countries joining the eurozone more or less reflected the economic reality in Europe at the time when the euro was born. However, over the last decade, the economic performance of individual eurozone members diverged and the negative effects of the "straight-jacket" of a single currency over the individual member states have become visible. When "good weather" (in the economic sense) prevailed, no visible problems arose. Once the crisis or "bad weather" arrived, however, the lack of homogeneity among the eurozone members manifested itself very clearly. In that sense, I dare say that ╉ as a project that promised to be of considerable economic benefit to its members ╉ the eurozone has failed.

The Hidden Costs of the Euro
Of greater interest to non-experts and politicians (rather than economists) is the question of the collapse of the eurozone as an institution. To that question, my answer is no, it will not collapse. So much political capital had been invested in the existence of the euro and its role as a "cement" that binds the EU on its way to supra-nationality that in the foreseeable future the eurozone will surely not be abandoned. It will continue, but at an extremely high price that will be paid by the citizens of the eurozone countries (and, indirectly by those Europeans who have kept their own currencies).

The price of maintaining the euro will be low economic growth in the eurozone. Sluggish eurozone growth will result in economic losses in other European countries, like the Czech Republic, and in the rest of the world. The high price of the euro will be most visible in the volume of financial transfers that will have to be sent to eurozone countries suffering from the biggest economic and financial problems. The idea that such transfers would not be easy without the existence of a political union was known to German Chancellor Helmut Kohl back in 1991 when he said that "recent history, and not just that of Germany, teaches us that the idea of sustaining an economic and monetary union over time without political union is a fallacy."3 He seems to have forgotten it, unfortunately, as time went by.

The amount of money that Greece will receive in the foreseeable future can be divided by the number of the eurozone inhabitants and each person can easily calculate his or her own contribution. However, the "opportunity" cost arising from the loss of a potentially higher growth rate, which is much more difficult for a non-economist to contemplate, will be far more painful. Yet, I do not doubt that for political reasons this high price of the euro will be paid and that the eurozone inhabitants will never find out just how much the euro truly cost them.

To summarize, the European monetary union is not at risk of being abolished. The price of maintaining it will, however, continue to grow.

The Czech Republic has not made a mistake by avoiding membership in the eurozone so far. And we are not the only country taking that view. On April 13, 2010, the Financial Times published an article by the late Governor of the Polish Central Bank Slawomir Skrzypek ╉ a man whom I had the honor of knowing very well. Skrzypek wrote that article shortly before his tragic death in the airplane crash that carried a number of Polish dignitaries near Smolensk, Russia. In that article, Skrzypek wrote, "As a non-member of the euro, Poland has been able to profit from flexibility of the zloty exchange rate in a way that has helped growth and lowered the current account deficit without importing inflation." He added that "the decade-long story of peripheral euro members drastically losing competitiveness has been a salutary lesson."4 There is no need to add anything more.

Notes
The original Czech version of this article was published in Ekonom, a Czech weekly magazine, on April 22, 2010.
1. The European Central Bank, "Statistics Pocket Book," March 2010, http://www.ecb.int/pub/pdf/stapobo/spb201003en.pdf.
2. Otmar Issing, The Birth of the Euro (Cambridge, U.K.: Cambridge University Press, 2008).
3. Quoted in Otmar Issing, "The Euro: Does a Currency Need a State?" International Finance 11, no. 3 (2008): 303.
4. Slawomir Skrzypek, "Poland Should Not Rush to Sign Up to The Euro," Financial Times, April 13, 2010.

Download the PDF of Economic Development Bulletin no. 14 (458 KB)

Contact:
Ian Vasquez, director, Center for Global Liberty and Prosperity, (202) 789-5241, ivasquez@cato.org - Tanja Stumberger, research associate and manager of global external relations, (202) 789-5205, tstumberger@cato.org

Cato Institute • 1000 Massachusetts Ave., N.W. • Washington D.C. 20001 • (202) 842-0200 - Fax: (202) 842-3490 • www.cato.org/economicliberty/

Brasil, China e Africa: seminario do Cebri em Brasilia


No dia 9 de junho em Brasília. Suspeito que será pouco crítico em relação às políticas governamentais, mas não se pode pedir perfeição de um evento feito em colaboração com os governos...

Líder católico diz que mulher deveria morrer com seu feto

Certas coisas não têm a ver apenas com o fundamentalismo religioso, mas com a burrice, pura e simples...
Parece que o universo é infinito (...vocês sabem o resto...).
Paulo Roberto de Almeida

Aborto
Líder católico diz que mulher deveria morrer com seu feto
Opinião e Notícia, 26/05/2010

O caso está tendo ampla repercussão nos EUA

O padre da Igreja Católica e diretor de ética médica da Diocese de Phoenix, John Ehrich, fez uma afirmação que já levantou muita polêmica nos Estados Unidos. Ao falar sobre o caso de uma mulher que teve o aborto autorizado pela freira Mary Margaret McBride, o líder católico disse que a atitude da Irmã deveria ter sido outra: deixar a mulher morrer junto com o feto. Sem considerar que a mãe de quatro filhos morreria se o aborto não fosse realizado, o Reverendo foi além: excomungou a freira.

O caso está tendo ampla repercussão nos Estados Unidos e dividindo opiniões em relação ao aborto. Parte da população aponta que a diocese de Phoenix interpretou mal as diretrizes católicas, que permitiria o aborto caso a vida de uma mulher estivesse em perigo. Outros comentaram que, se a mulher tivesse morrido, não só o bebê não teria sobrevivido, mas quatro crianças estariam sem mãe. Há também quem tenha relembrado que a rapidez em excomungar a freira não se assemelhou nem um pouco à falta de atitude da Igreja em relação aos padres pedófilos descobertos nos últimos meses.

Por favor, pode martelar o meu pé, nao está doendo, em absoluto, imagine, fique a vontade...

...tem muitas outras frases mais para transcrever a indolente atitude de (bem, vocês sabem quem) em relação a essas medidas protecionistas.
E o pior é que agitar medidas retaliatórias (que sabemos não serão aplicadas, é tudo de mentirinha) constitui a pior maneira de encaminhar esse renitente problema argentino, que é um problema para o próprio país.
Eu fico me perguntando onde está a inteligência de certas pessoas.
Não é porque um vizinho faz uma enorme burrice (como estragar o seu próprio jardim, por exemplo, que é o que metaforicamente está fazendo a Argentina), que também vamos fazer igual, para demonstrar que nós também podemos fazer as mesmas besteiras...
Eu me fico perguntando...
Paulo Roberto de Almeida

Brasil vai retaliar a Argentina
Daniel Rittner, de Buenos Aires
Valor Econômico, 26/05/2010

Em teoria, o dia D para a aplicação das barreiras a alimentos importados com similares fabricados na Argentina é 1º de junho

O Ministério do Desenvolvimento já tem uma ação pronta para ser adotada como represália às barreiras da Argentina contra a entrada de alimentos importados, que deixaram caminhões brasileiros retidos na fronteira: o retardamento na liberação das licenças não automáticas de importação para produtos argentinos, respeitando o prazo máximo de 60 dias, estabelecido pela OMC.

Desde outubro, quando as licenças não automáticas estiveram no centro de uma crise comercial entre os dois países, esse sistema foi adotado para mercadorias como vinhos, lácteos e frutas. No entanto, os presidentes Lula e Cristina Kirchner se acertaram e as licenças começaram a ser expedidas em até uma semana pelo Brasil. Agora, pretende-se atrasar a liberação, para mostrar à Casa Rosada que o país não aceitará as novas restrições a alimentos. Seria uma operação tartaruga na análise das licenças.

"Em breve receberemos reclamações dos argentinos", ironizou uma fonte do governo brasileiro. O risco é provocar uma escalada na tensão comercial. Para o Ministério do Desenvolvimento e o Itamaraty, não vale a pena correr esse risco pelo volume de exportações brasileiras afetadas pelas novas barreiras, mas pela forma como a Argentina as adotou, sem comunicação prévia, conforme havia sido acordado entre Lula e Cristina.

Em teoria, o dia D para a aplicação das barreiras a alimentos importados com similares fabricados na Argentina é 1º de junho. Na prática, embora o foco principal sejam produtos europeus, mercadorias brasileiras como milho enlatado e molho de tomate já foram afetadas. Uma das empresas que sentiram o efeito das barreiras foi a Bauducco. Agindo preventivamente e por pressão do secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, que resiste em oficializar a medida, os importadores deixaram de comprar produtos do Brasil e de outros fornecedores.

Depois de forte reação dos parceiros comerciais, Moreno prometeu aos importadores analisar "caso a caso" a importação de alimentos. Na semana passada, Cristina negou a aplicação das medidas. Tudo isso causou mais confusão entre os exportadores brasileiros, mas o governo avalia que muitos deles deixaram de fechar contratos.

Duas respostas foram, a rigor, praticamente descartadas no curto prazo: levar o caso à OMC ou ao mecanismo de solução de controvérsias do Mercosul. Essa última medida está sendo sugerida pela Fiesp. Mas o governo avalia que seriam ações inócuas - até uma decisão da OMC ou do tribunal do Mercosul, com a realização de consultas bilaterais ou a formação do "júri", há um intervalo de cerca de dois anos. Lula e Cristina se encontraram ontem em Buenos Aires, nas celebrações do bicentenário da Revolução de Maio, que iniciou o processo de independência argentina. Trocaram abraços e sorrisos, mas não falaram sobre barreiras.

O poder emburrece (por sorte nao é absoluto)

Bem, não só o poder, mas outras coisas também. Por exemplo, um pouco de reflexão, um mínimo que seja de considerações racionais em torno de simples relações de causa a efeito.
Isto a propósito de um projeto do Senador -- já foi governador do DF, já foi reitor da UNB, já foi até ministro da Educação, mas o processo começou lá atrás... -- que visa tornar obrigatória a projeção de filmes nacionais nas escolas públicas do Brasil.
Quando li, pensei: "Não é possível, o Cristovam está batendo pino, querendo fazer demagogia com a educação pública, ou tentando oferecer um maná aos medíocres cineastas nacionais..."
Pois é, quando eu era criança, ainda analfabeto (pois é, nasci analfabeto, deve ter sido um defeito da minha mãe, que tampouco tinha lá seu primário completo), frequentava uma biblioteca pública infantil: ainda não lia, mas toda quinta-feira tinha sessão de cinema, e lá ia eu contente, já que minha família não tinha dinheiro para nos levar, eu e meu irmão maior, ao cinema no fim de semana.
Passavam todos aqueles filmes de Hollywood (Tarzan, Roy Rogers, Hopalong Cassidy, Zorro, o do seu amigo Tonto, Três Patetas, Gordo e Magro, Buster Keaton, Charlie Chaplin, whatever), mais aqueles histórico-marmeladas de Cinecittà: Maciste, Hércules, Sansão e Dalila, enfim o besteirol italiano dos anos 1950.
Mas passavam também, e eu apreciava particularmente, o nosso próprio besteirol: Oscarito e Grande Otelo, Mazzaropi (nunca apreciei aquele caipira de araque), Zé Trindade, e os galãs tradicionais, mas geralmente era comédia pastelão mesmo. Uma gostosura...
Sobre o projeto do nobre Senador (que não mais merece o título), pretendia escrever algo, mas não tenho tempo para tudo.
Para remediar, trancreveo aqui a crônica, sempre saborosa e extremamente cáustica, do iconoclasta Janer Cristaldo (vale uma visita ao seu blog):
Paulo Roberto de Almeida

SENADO QUER ENFIAR GOELA ABAIXO O MEDÍOCRE CINEMA NACIONAL
Janer Cristaldo
Terça-feira, Maio 25, 2010

Quando não mais indignar-me, é porque estou envelhecendo, dizia André Gide. Se assim for, o Brasil me promete eterna juventude. Nos estertores do século passado, Cristovam Buarque, ex-governador do Distrito Federal, afirmava em seu cartão de fim de ano: “O século XX criou o computador e o flanelinha, a nave espacial e o trombadinha, o robô e o pivete, o internauta e o cheira-cola”. O sofisma não só passou impune, como foi citado como um momento de brilho do governador.

Fosse eu o século XX, processava por calúnia este senhor e ainda exigiria indenização por danos morais. Pois quem criou o computador e a nave espacial não foi o século, mas os Estados Unidos. Quanto aos flanelinhas, trombadinhas e cheira-colas, estas originais instituições são coisas nossas, made in Brazil. Sofismador de mão cheia, o governador junta avanço tecnológico e miséria no mesmo saco e os atribui ao tempo.

Que me conste, a Europa vive em nosso mesmo século e lá não encontramos os flanelinhas, trombadinhas e cheira-colas, instituições que, à semelhança dos juízes classistas, reitores eleitos por bedéis e cheques pré-datados, são tupiniquins. A frase do governador é típica de patrioteiros: o Brasil é lindo e suas mazelas são decorrências do tempo que passa.

No início deste ano, comentei brilhante projeto do analfabeto agora senador, que estava prestes a ser examinado na Comissão de Educação do Senado, propondo que os estudantes brasileiros das escolas públicas e privadas assistissem no período de um mês a pelo menos duas horas de filmes nacionais.

Ora, em dezembro passado, o sedizente filho do Brasil assinou decreto fixando a cota mínima de exibição de filmes brasileiros nas salas de cinema de todo o país. Cada sala deverá exibir 28 dias de 2010 de filmes nacionais. Parece que não foi suficiente. Sua biografia, apesar dos bilhetes distribuídos com desconto para sindicatos, encalhou. Até um outro vigarista, o Chico Xavier, atraiu mais público.

Rola na rede uma tese interessante, a de que Fábio Barreto cometeu um equívoco ao pintar seu personagem como um herói impoluto. Que brasileiro não gosta de heróis impolutos. Que se Lula fosse pintado como é, malandro adepto da lei de Gérson, o filme seria mais verossímil. Existe uma massa de jovens indefesos na rede escolar? Jogue-se então Lula, o filho do Brasil, goela abaixo dessas gerações.

A medida é de caráter obrigatório. Rosalba Ciarlini, senadora do DEM, partido tão venal como o PT, deu então dois pareceres totalmente diferentes sobre o projeto. Em maio passado, defendeu sua rejeição. “Esse tipo de norma, por sua rigidez, conquanto possa servir a interesses diversos e estranhos à escola, pouco ou nada contribui para a melhoria do ensino. Ao contrário, pode diminuir a margem de autonomia e de flexibilidade dos estabelecimentos de ensino".

Em novembro, por ocasião do lançamento do hagiológio ao analfabeto-mor, a senadora só teve elogios para a proposta, sob a alegação de que a obrigatoriedade das escolas exibirem filmes nacionais "será benéfica para ambos, estudantes e indústria cinematográfica. A produção nacional, com raras exceções, tem qualidade plástica e conteudista irretorquível, diversidade temática e de público-alvo". O que a senadora propõe, no fundo, é a exibição obrigatória de uma ficção sobre o presidente mais analfabeto, mais incoerente, mais mentiroso, mais corrupto e o maior acobertador da corrupção que o Brasil jamais teve em seus dias de república.

Leio hoje na Veja on line que o Senado aprovou o projeto de lei do estúpido senador. A proposta foi apreciada em caráter terminativo na Comissão de Educação, Cultura e Esporte e agora segue para a Câmara dos Deputados, antes de ser sancionada pelo presidente. Se a lei for colocada em prática, as unidades de ensino básico do país terão que separar pelo menos duas horas por mês da grade extracurricular para exibições do cinema nacional.

As artes nacionais, de tão excelentes, vivem hoje de esmolas do poder. Tanto escritores como cineastas, artistas plásticos, atores de teatros, são humildes pedintes de verbas governamentais, que estendem o chapéu ao Planalto e vivem de caridade pública.

Segundo Buarque, o projeto estimulará a formação de público para o cinema brasileiro. Ele acredita que as crianças e os adolescentes que tiverem acesso aos filmes agora vão desenvolver o senso estético e passar a apreciar a produção cinematográfica do país, hoje feita basicamente por meio de incentivos fiscais e verba pública. "A médio e longo prazo, o público poderá de fato financiar o cinema, como acontece em outros países", afirma o desinformado senador.

Que outros países, senador? Estará Vossa Excelência se referindo aos extintos países socialistas, onde toda arte dependia da complacência do poder? Ou aos Estados Unidos, onde um Kubrick quase foi à falência para produzir Apocalipse Now, mas não recebeu um vintém do Estado? Ou à Itália, que produziu um Fellini – e tantos outros cineastas de gênio – sem jamais meter a mão no bolso do contribuinte? Ou a outros países do Ocidente, onde cinema é uma questão de indústria e não de esmola estatal?

Para a cineasta e professora do curso de Audiovisual da Universidade de Brasília, Dácia Ibiapina, a proposta será muito bem recebida entre os produtores e diretores de cinema, que convivem com um mercado exibidor restrito. "O ideal era que naturalmente os brasileiros demandassem seu cinema, mas, como a gente vive num país em que a indústria cinematográfica tem muita dificuldade de se afirmar e muitos filmes nem chegam a ser lançados, mecanismos como essa lei podem ajudar a reverter essa situação".

Claro que será muito bem recebido por produtores e diretores de cinema, estes corruptos que não conseguem fazer arte decente e dependem do Estado para vender seus peixes podres. Porque cargas d’água eu, brasileiro, tenho de ver cinema brasileiro? Vejo o cinema que me agrada, ora bolas! Os distribuidores já nos impõem o cinema ianque, os Titanics, Arcas Perdidas e Avatares da vida. Agora o Estado brasileiro passa a impor os abacaxis nacionais. Os abacaxis do Norte pelo menos têm melhor gramática.

Não bastasse o contribuinte financiar esta mediocrada que faz cinema, teatro e literatura no Brasil, agora os filhos dos contribuintes terão de engolir goela abaixo as “obras” – no sentido pejorativo do termo – dos medíocres amigos do poder. A medida é de um viés totalitário que sequer foi sonhado pelos países comunistas. Aliás, nem precisava ser imposto, já que todo cinema era estatal. Mas pelo menos não era obrigatório nas escolas.

Nestes dias em que se luta contra o ensino de religião nas escolas, urge agora lutar contra medida mais grave, o projeto do senador. O Senado já o engoliu. A Câmara certamente o aprovará. E é óbvio que o filho do Brasil o sancionará.

Você imaginou seu filho sendo obrigado a assistir odes a Lula e Chico Xavier? Mais apologias a terroristas e traficantes de drogas? Esta corrupção, com patrocínio do Legislativo, jornal algum denuncia. Os jornais são cúmplices. Suas páginas abrigam e louvam escritores, atores e artistas que são gigolôs do poder. Que nada valem por suas obras e que só são conhecidos porque impostos a um público indefeso. A União Soviética morreu há duas décadas. E o Brasil continua financiando escritores e artistas venais, como faziam os comunistas no século passado.

A meu ver, o projeto do senador Cristovam Buarque é tímido. Bem que podia ir mais longe. Mais duas horas obrigatórias de teatro nacional. Mais outras duas de Rede Globo. Mais outras tantas de Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil. Mais duas de Xuxa e Sílvio Santos. E mais duas – por que não? – de Edir Macedo e R. R. Soares.

Tudo pela cultura nacional.

Politica Nuclear do Iran (10): Russia coloca os pontos nos "iis"

Bem, é direito da Rússia defender sua política externa, mesmo mandando um assessor menor -- um sub do sub, diria alguém -- corrigir e dar lição ao presidente de um país supostamente aliado e cliente.
Mas eu só quero destacar uma frase do sub em questão, quando ele se refere à "grande Rússia", o que nos remete ao Império czarista do século 19, expansionista não apenas em direção à Sibéria e ao Pacífico, mas também em direção dos mares quentes do Sul, o que passava pela Pérsia, pelo Afeganistão, pela Turquia...

Rússia recomenda ao Irã que pare com "demagogia política"
Reuters, 26.05.2010

MOSCOU (Reuters) - O assessor chefe de política externa do Kremlin disse na quarta-feira ao presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, que deve abster-se de fazer "demagogia política", depois de Teerã ter criticado a Rússia por apoiar novas sanções contra o Irã.

O desentendimento público se deu depois de Ahmadinejad ter repreendido a Rússia por ceder à pressão dos EUA pela adoção de novas sanções contra Teerã e ter aconselhado o chefe do Kremlin, Dmitri Medvedev, a ser mais cauteloso.

Mas o assessor chefe de política externa de Medvedev, Sergei Prikhodko, fez pouco caso da crítica, dizendo que a Rússia não é nem pró-EUA nem pró-Irã e que a política de Moscou é regida pelos interesses nacionais russos.

"Nunca ninguém conseguiu preservar sua autoridade recorrendo a demagogia política", disse Prikhodko em comunicado. "Estou convencido disso. A própria história de mil anos do Irã é prova disso."

"A Federação Russa é regida por seus próprios interesses de Estado de longo prazo. Nossa posição é russa: ela reflete os interesses de todos os povos da grande Rússia e não pode ser nem pró-americana nem pró-iraniana."

Em uma repreensão clara à República Islâmica por não ter acalmado os receios suscitados por seu programa nuclear, Prikhodko disse que a Rússia não pode aceitar incoerência e falta de transparência na resolução de questões mundiais de grande importância.

"Qualquer imprevisibilidade, qualquer extremismo político, ausência de transparência ou incoerência na tomada de decisões que afetam e dizem respeito a toda a comunidade mundial é inaceitável por nós", disse ele.

"Seria bom que aqueles que hoje falam em nome do sábio povo do Irã... tomassem nota disso", afirmou Prikhodko.

(Reportagem de Denis Dyomkin)

Cuba chegou à revolução agrícola (bem, isso já tinha ocorrido dez mil anos atrás...)

Incrível certas matérias, como elas estimulam nosso conhecimento histórico, eu diria até arqueológico e, se eu me arriscasse em terreno desconhecido, até geológico...
Acho incrível como os cubanos -- socialistas, por supuesto -- estejam chegando agora na revolução agrícola, bem, uns dez mil anos depois que todo esse processo começou, ao que parece, no Crescente Fértil (aquela área do Oriente Médio, hoje meio desértica, mas que já foi um oceano de fertilidade, se me permitem a expressão; leiam Jared Diamond, Armas, Germes e Aço, se quiserem saber mais).
Estas singelas reflexões me foram despertadas pela matéria abaixo, que retiro do blog sempre certeiro do economista Klauber Cristofen Pires, de quem já tinha transcrito, dois posts abaixo, a matéria sobre protecionismo comercial.
Paulo Roberto de Almeida

Revolução Alimentar Cubana em andamento
Por Klauber Cristofen Pires
Quinta-feira, Maio 13, 2010

Às vezes me ponho a comentar sobre notícias veiculadas nos jornais cubanos. Obviamente, não se constitui isto um esforço de media watch, o que seria impossível, haja vista a recorrência com que mentem onze vezes a cada dez palavras. A graça está em ir além do que o editor cubano pretende ocultar, isto é, tentando enxergar o que está por detrás dos seus olhos...

Do site do Juventud Rebelde, a matéria de Roberto Díaz Martorell traz como título: "Renuncian campesinos de la Isla de la Juventud a productos de la canasta básica -
Lisandro Tablada Rodríguez, organizador de la ANAP en ese territorio, comentó a JR que los labriegos y sus familias entendieron la importancia de esta decisión y están dispuestos a cooperar".

Traduzindo, "Os camponeses da Ilha da Juventude renunciam aos produtos da cesta básica - Lisandro Tablada Rodriguez, organizador da ANAP neste território, comentou ao JR que os colonos e suas famílias entenderam a importância desta decisão e estão dispostos a cooperar."

A ANAP é a Associação Nacional de Pequenos Agricultores. Segundo seu organizador, cerca de 406 agricultores renunciaram ao recebimento da cesta básica, e outros 221 abdicaram da distribuição de leite, porque produzem estes bens em casa, assim atendendo ao chamado que esta ANAP fizera para incrementar a produção de alimentos, "uma tarefa estratégica que hoje constitui um assunto de segurança nacional.

A foto acima ilustra a reportagem, exaltando os méritos dos heróicos "campesinos" de quem fala. Segundo a família entrevistada, esta produz leite, feijão, suínos e caprinos, para consumo familiar e entrega ao estado. "A coisa é pegar duro no trabalho e não ter de medo da terra. Se não semeamos não comemos nós e não come o povo", sentenciaram os irmãos Gutiérrez Nápoles."

Como o leitor pode perceber, depois de cinquenta anos do regime comunista, Cuba finalmente pretende ingressar na era do...roçado! Que tal? A coisa tá feia, e os próprios agricultores já foram, digamos assim, "convidados" a renunciar à entrega da cesta básica, como forma de o governo pressioná-los a produzir um quilo de batatas. Não é mesmo algo assim...revolucionário?

Repassemos a lição: depois de dois mil anos em que o antigo Egito já sustentava todo o Império Romano de grãos; depois dos Maias e Astecas que aprenderam a desenvolver elaboradas técnicas de plantio irrigado e um arrojado calendário astronômico para a agricultura, depois que até os silvícolas da Terra de Cruz plantavam normalmente mandioca, cará, inhame, banana de São Tomé, e ananazes, agora é Cuba quem tem o que nos dizer: "é só não ter medo da terra e encará-la com o trabalho firme"!

"Venceremos" e "vila a la Revolucíon hasta siempre" são os termos mais comum nos dizeres que costumam aparecer em faixas estendidas nestes campos de trabalho coletivos. Caramba, vencer algo tão prosaico como plantar em solo verdejante de um clima tropical-temperado como o cubano deve ser mesmo um feito, não? Não é a toa que se faz disto matéria jornalística...
Publicado por Klauber Cristofen Pires às 3:26 PM

1 comentários:
Anônimo disse...
Agora só está faltando o MST ir fazer curso de técnicas agrícolas em Cuba. Que tal?

Será que o Brasil foi "atingido" por uma onda de estupidez?

Com perdão da pergunta, mas ela me veio à mente imediatamente depois de ler a chamada da matéria, sem sequer ter lido ainda a própria, o que vou fazer ao mesmo tempo que vocês. Em todo caso, eu sempre reajo instintivamente quando vejo alguma ideia maluca sendo veiculada. Que me perdõem os leitores mas eu tenho alergia à burrice e ojeriza à estupidez, e o Brasil é palco para as duas coisas, em doses cavalares, daí a contundência do título deste post.
A chamada é a seguinte (no boletim eletrônico Congresso em Foco):

Comissão de Seguridade aprova “bolsa estupro”
Medida institui compensação financeira às mulheres que optarem por ter filhos decorrentes de violência sexual. Grupos feministas criticam proposta, que desestimularia aborto.

(link para a matéria, que vou ler depois de formular minhas ideias, certamente pré-concebidas e maldosas).

Pois bem, vamos lá, o que eu teria de inteligente (se me permitem meus leitores) a dizer sobre essa chamada?

Em primeiro lugar, que o Brasil é um país certamente rico, nadando em dinheiro, estupendamente tão avançado que ele sequer sabe o que fazer de tanto dinheiro, e os legisladores saem por aí, distribuindo dinheiro a go-go, para todo mundo: bolsa-família, bolsa-gestante, bolsa-cárcere, bolsa-funeral, whatever. Você pensa e nossos geniais legisladores criam uma bolsa à sua medida e circunstância. Feliz o país que pode tratar assim tão generosamente os seus filhos varonis (só pode ser de uma mãe gentil), pois nem na Europa, reincidentemente relapsa e irresponsável, onde preferem lazer a trabalho (e deixam a segurança a cargo desses estúpidos americanos), eles conseguem imaginar todas essas formas de fazer aumentar a Felicidade Bruta do País (e bota bruta nisso).

Em segundo lugar, eu não sei quanto vai custar essa bolsa-estupro, mas meus modestos conhecimentos de economia me permitem prever (e aposto com quem quiser, toda a minha biblioteca -- my God -- que vai acontecer exatamente isso) que vai ser criado algo como um mercado paralelo de estupros: você finge que foi estuprada, vai na delegacia declarar que foi atacada assim e assim, não conhece o estuprador (um namorado da esquina, talvez até em família) e pede a bolsa-estupro...
Também não sei como vão aplicar a medida, mas provavelmente vão criar toda uma nova administração (a Estuprobras?) para cuidar das pobrezinhas estupradas...

Em terceiro lugar, eu confesso não entender a posição das "feministas brasileiras", que, segundo a chamada (atenção, estou sendo maldoso; não li a matéria ainda), "criticam proposta, que desestimularia aborto".
Uau!, que fantástico, inacreditável, impagável (estrito e lato senso).
Então, as feministas brasileiras não querem nada que desestimule o aborto? Elas pretendem que o aborto seja assim como, vejamos, fazer as unhas na manicure? Um serviço de livre disposição de qualquer cidadã que não deseje ter um filho (de estupro ou não)??? Eles são pela Abortobras? (sim, claro, tudo cai na conta do Estado, ou seja, no seu bolso).

Bem, depois de despejar todas as minhas ideias malucas, venho a ler a matéria, com vocês. Comentários inteligentes, como sempre, são bem vindos. Os outros, bem, sinceramente eu dispenso...
Paulo Roberto de Almeida

Comissão de Seguridade aprova “bolsa estupro”
Reportagens Especiais
Renata Camargo
Congresso em Foco
Quarta-Feira, 26 de Maio de 2010

Medida institui compensação financeira às mulheres que optarem por ter filhos decorrentes de violência sexual e pode comprometer avanço de pesquisas com células-tronco.
Projeto prevê indenização para mães vítimas de estupro que optem por não abortar seus filhos

Sob forte polêmica, a Comissão de Seguridade Social da Câmara aprovou na semana passada um projeto de lei que, entre outras coisas, institui um benefício econômico para mulheres vítimas de estupro, que não desejam realizar aborto. A proposta, batizada por feministas como “bolsa estupro”, prevê o pagamento de benefício para mulheres violentadas que não tenham condições financeiras para cuidar da futura criança.

A proposta segue agora para a Comissão de Finanças e Tributação, onde será analisada a viabilidade financeira da matéria. De acordo com o texto aprovado, o Estado arcará com os custos do desenvolvimento e da educação da criança até que venha a ser identificado e responsabilizado o genitor (o estuprador) ou que a criança seja adotada por terceiros. Se identificado o responsável pelo estupro, ele, além de responder criminalmente, deverá pagar pensão ao filho por período a ser determinado.

A iniciativa foi recebida com protestos por entidades feministas favoráveis à legalização do aborto. Elas alegam que ao beneficiar mulheres vítimas da violência com uma ‘bolsa’, o Estado está sendo conivente com a violência. As entidades afirmam que a proposta abre pressupostos para que estupradores reivindiquem direitos de pai e que a intenção da iniciativa é dificultar o acesso de mulheres vítimas de estupro aos procedimentos públicos de aborto legal.

“Essa bolsa é uma forma das mulheres não recorrerem ao aborto legal. É uma iniciativa muito grave, pois dá a um criminoso os direitos de pai e, além disso, institui a tortura, já que a mulher será obrigada a ficar nove meses carregando o bebê vítima de estupro. Esse projeto é retrógrado e fundamentalista”, disse a coordenadora nacional da Articulação das Mulheres do Brasil e da Frente Nacional contra a Criminalização das Mulheres e pela Legalização do Aborto, Rogéria Peixinho.

===========

Até agora são dois os comentários, felizmente inteligentes a essa matéria:

Myrian (26/05/2010 - 10h47):
Quanta à bolsa estupro, sugiro aos ilustres parlamentares que a debitem da conta corrente do estuprador, visto que o estupro não foi cometido pela totalidade dos brasileiros, muito menos pela ala feminina da população. Não auferimos prazer nenhum do ato e não vejo porque teremos que pagar por isso. Seria muito bem vinda a atitude, por parte dos parlamentares, de deixarem de enfiar a mão no bolso do povo como se fosse um saco sem fundo, porque não é. Já pagamos por inúmeras sarabandas. Queiram cobrar a conta dos responsáveis. A eleitora penhorada agradece.

Sobral (26/05/2010 - 10h42):
Difícil de entender a posição da coordenadora Rogéria Peixinho. Fica a impressão de que o ideal dos movimentos feministas é obrigar as mulheres ao aborto. Inicialmente eu entendia que estava sendo defendido o direito a escolha. Será que escolher o difícil caminho da superação, isentando a criança da punição por algo que não teve culpa (nem dolo), não é também uma escolha? Será que o Estado não pode assistir quem toma essa difícil e nobre iniciativa? Devemos então inventar uma sociedade onde as atitudes nobres devem ser ignoradas? Fico preocupado, pois se seguirmos o caminho proposto por esses movimentos, em poucos anos nada vai diferenciar os humanos dos outros animais (como esses movimentos gostam de nos classificar, simples animais).

Tentacoes protecionistas redundam apenas em pobreza

Transcrevo um post do blog Libertatum, do economista Klauber Cristofen Pires, importante na presente conjuntura em que a Argentina adota mais e mais medidas protecionistas contra o Brasil e este, equivocadamente, se preparar para retaliar com outras medidas protecionistas...
Paulo Roberto de Almeida

Tributar as importações protege a indústria nacional?
Por Klauber Cristofen Pires
Terça-feira, Maio 25, 2010

Ensina-se como cláusula pétrea em matéria de Direito Tributário que a instituição de impostos sobre o comércio exterior guarda um objetivo parafiscal, isto é, não voltado prioritariamente para a arrecadação, mas para a consecução de políticas do estado, mormente a "corrigir desvios praticados pelo mercado" e "proteger a indústria nacional". Serão, porém, estes preceitos verdadeiros? (...)

Como corolário de uma ciência que mereça o nome de Economia, analisar as consequências de um ato ou fato requer investigar não somente aos resultados imediatos, mas também os de médio e longo prazo, bem como também não desprezar os resultados apenas sobre os diretamente atingidos, mas as repercussões que recairão sobre todos os outros componentes da sociedade.

Para uma melhor compreensão do assunto, valho-me da lição de Henry Hazlitt, transcrevendo abaixo um trecho de sua obra Economia numa única lição, de brilhante lucidez e fácil entendimento, sobre uma hipotética situação em que o governo decretasse uma tarifa de importação de US$ 5 sobre suéteres estrangeiros:

Americanos seriam empregados nessa indústria, o que não ocorria anteriormente. Tudo isso é verdade. Mas não haveria aumento líquido de indústrias e de emprego no país, porque o consumidor americano teria que pagar US$5 a mais pela mesma qualidade de suéter, importância que lhe teria sobrado para comprar outra coisa. Teria que cortar, em seus gastos, a importância de US$5. A fim de que uma indústria pudesse desenvolver-se ou existir, centenas de outras teriam que retrair-se. A fim de que 50 mil pessoas pudessem ser empregadas numa indústria de suéteres, 50 mil pessoas a menos seriam empregadas em outra indústria qualquer.

Como muito bem explicado pelo autor, não haveria um crescimento da indústria nacional, mas apenas a transferência da linhas de produção de muitos empreendimentos mais eficientes para a realização de um empreendimento menos eficiente. Porém espere o leitor que nem sequer aqui se trata de um jogo de soma zero: ao inibir a produção e a produtividade das empresas mais eficientes, estamos necessariamente destruindo empregos e gerando o empobrecimento da população.

Com uma ampla tabela de alíquotas de imposto de importação, bem como cotas e/ou outras formas de gravames, o que se tem é a depressão generalizada da produção e da tecnologia domésticas. Com muito menos empresas a funcionar, os empresários passam a produzir cada vez com pior qualidade e maior preço, e dependendo da política monetarista do governo, um esquema inflacionário pode acontecer como um fogo que se alastra por uma simples fagulha em uma floresta ressecada pelo sol do verão.

Este cenário já foi vivido pelo Brasil dos anos 80 e até dos anos 90, e hoje não se encontra resolvido, mas apenas um pouco melhorado. Em um tempo em que prevalecia a política conhecida como "substituição de importações", os carros aqui fabricados eram terríveis geringonças, a ponto de lembrar-me ainda de uma desesperada capa da revista "4 Rodas" com o enfático título "Arrego!", em que denunciava a passagem de 10 anos sem absolutamente nenhum lançamento pela indústria automotiva. Porém, não eram só os carros os vilões: naquele tempo, para se comprar um mero reprodutor de video-cassete era necessário fazer um consórcio, e uma porcaria de um telefone, daqueles do tipo "trim-trim", constituía um investimento a ser declarado no Imposto de Renda.

Em um país onde a carga tributária alcança 40%, temos um cenário especial, de tal forma que poucas indústrias podem competir salvo se protegidas por direitos cobrados na Alfândega. Contudo, o problema que deslindamos neste caso é duplo, tal como a culpa dupla de um bêbado que atropela alguém. um caso não justifica o outro e ambos, juntos, consomem as forças produtivas.

Se impor restrições ao comércio fosse algo bom, a China de Mao tse-Tung teria sido um exemplo para o mundo todo, mas só o que ela produziu foi uma horda de mais de um bilhão de seres humanos extremamente miseráveis. Qualquer grau neste caminho, portanto, levará a um correspondente de empobrecimento geral.

Publicado por Klauber Cristofen Pires às 11:49 AM