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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 18 de março de 2019

Militares mantem o chanceler atual sob tutela - entrevista PR Almeida a El Pais

“É inaceitável para os militares essa subserviência aos Estados Unidos”

Demitido por Ernesto Araújo de um instituto do Itamaraty, o diplomata Paulo Roberto de Almeida diz que chanceler de Bolsonaro é tutelado


Paulo Roberto de Almeida, no Senado, em abril de 2017.
Paulo Roberto de Almeida, no Senado, em abril de 2017. 

O diplomata e doutor em ciências sociais Paulo Roberto de Almeida se envolveu em mais uma das dezenas de polêmicas do Governo Jair Bolsonaro (PSL). Após publicar um artigo em seu blog pessoal com críticas à política externa brasileira, ele foi exonerado pelo ministro Ernesto Araújo do cargo de presidente do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), um dos braços do Ministério das Relações Exteriores brasileiro. Sem o cargo que ocupava desde 2016, Almeida deverá trabalhar em receber. Ou seja, ocupará o fictício “departamento de escadas e corredores” do Itamaraty.
Um dos mais antigos diplomatas em atividade no país, está desde 1977 no Governo, e autor de 14 livros, Almeida critica na entrevista a seguir a ausência de diretrizes de Araújo – a quem atribuiu ideias paranoicas –, ressalta que o ministro tem sido tutelado desde que assumiu a função e que, politicamente, a visita de Jair Bolsonaro a Donald Trump, nesta semana, será a glória para o presidente brasileiro.
Pergunta. Por que o senhor foi demitido do IPRI?
Resposta. A razão aparente parece estar ligada ao fato de eu publicar em meu blog pessoal (Diplomatizzando) análises críticas sobre a política externa conduzida pelo atual chanceler. A razão real parece ter sido minhas fortes críticas ao suposto mentor intelectual desse chanceler, seu patrono na escolha para o Itamaraty, Olavo de Carvalho, a quem eu chamei de “sofista da Virgínia” e de “Rasputin de subúrbio”, o que de certa forma deixou-o desconfortável, pois costuma referir-se respeitosamente a esse bizarro personagem, a quem chama de professor. As posturas antiglobalistas defendidas por ambos constituem uma agenda impossível para qualquer serviço diplomático, na medida em que alimentam paranoias reacionárias que não encontram qualquer fundamento nas negociações internacionais nas quais se engajam os diplomatas.


Uma outra razão que pode ter motivado minha exoneração do cargo de diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais do Itamaraty foi o fato de me ter referido a “fundamentalistas trompistas”, que o atual chanceler considerou como um ataque pessoal a ele, quando eu estava na verdade visando pessoas mais influentes do que ele, entre elas um dos filhos do atual presidente, Eduardo Bolsonaro, e o atual assessor internacional da Presidência da República, Filipe Martins. O primeiro é considerado uma espécie de “chanceler paralelo”, e passeou pelos Estados Unidos exibindo um boné da campanha de “Trump 2020”, o que representa um grau de aderência totalmente inadequada em termos de política externa responsável. Ademais, teve a arrogância de declarar que o “povo brasileiro” apoiava a construção do muro pretendido pelo presidente americano na fronteira com o México, o que é uma usurpação de mandato. O segundo é um verdadeiro crente, um true believer em Olavo de Carvalho, mais conhecido como “Robespirralho”, autor do discurso julgado extremamente fraco feito pelo presidente em sua visita ao Fórum Mundial de Davos.
P. Qual a influência de Olavo de Carvalho em sua demissão?
R. Não mais que indireta. A despeito de eu me ter chocado com o “sofista da Virgínia” a propósito dessa construção metafísica chamada antiglobalismo – como se tivesse de provar a inexistência de unicórnios, o que ele pretende –, ele não teve nenhuma responsabilidade direta na exoneração, tendo esta sido decidida pelo próprio chanceler, provavelmente em conluio com Eduardo Bolsonaro e Filipe Martins. Ficaram agastados com minhas críticas a essas ideias bizarras dentro da agenda diplomática.
P. Qual a sua avaliação sobre a política externa de Ernesto Araújo?
R. Difícil fazer uma avaliação sobre o que não existe. Não dispomos, até o momento presente, de nenhuma exposição clara, completa, racional, sobre qual seria essa política externa, até aqui marcada apenas por slogans: luta contra o globalismo, contra o marxismo cultural, contra o multilateralismo, contra o climatismo, o comercialismo, coisas totalmente bizarras, com efeito. Depois, essa introdução inócua de temas religiosos na agenda diplomática, que tampouco se coaduna com a postura de um Estado secular, como parece ser o Brasil. Em terceiro, e mais importante lugar, posturas contrárias a um tratamento verdadeiramente diplomático do mais importante tema da diplomacia brasileira no momento atual, a crise terminal do governo chavista na Venezuela. Foram os militares que tiveram de reafirmar ao atual chanceler o respeito a princípios constitucionais e de Direito Internacional relativos à não intervenção nos assuntos internos de outros países, quando o chanceler estava disposto a apoiar a aventura americana de forçar uma confrontação com o governo chavista. Na última reunião do Grupo de Lima coube ao vice-presidente Hamilton Mourão liderar a delegação brasileira, e de certa forma a posição dos demais países da região, contrária a qualquer intervenção militar na Venezuela.
P. Já ouvi diferentes relatos sobre a condução da política externa desse Governo. Dizem que ela é conduzida pelo Eduardo Bolsonaro ou pelo Filipe Martins. Ou ainda que os militares tutelam o ministro Araújo por meio do vice-presidente. Concorda com alguma dessas versões ou teria uma quarta corrente?
R. No plano puramente ideológico, ou principista, todos os três personagens, o chanceler e os dois primeiros, demonstram adesão às ideias estapafúrdias de Olavo de Carvalho sobre as relações internacionais, que são manifestamente inadequadas, e prejudiciais, a uma condução racional da diplomacia brasileira. No plano prático, o chanceler teve sua escolha apoiada e decidida pelos dois olavistas brasileiros, daí sua total dependência em termos de sua legitimação no governo atual. Em consequência do desconforto do núcleo militar com tais posturas inadequadas – como a ideia inaceitável para os militares de uma base americana no Brasil, ou a subserviência às posições do presidente americano – estabeleceu-se uma espécie de cordão sanitário em torno do chanceler e do próprio Itamaraty, inclusive porque o chanceler subverteu a hierarquia de comando no ministério, algo que os militares consideram como inaceitável. Seria, como eles dizem, ter coronéis mandando em generais. Eles também estão conscientes de que o Itamaraty foi submetido a uma reforma orgânica imposta sem qualquer consulta à casa, o que também causou desconforto geral. No conjunto, existe um comitê de tutela informal exercido pelos militares sobre a política externa.

"Estabeleceu-se uma espécie de cordão sanitário em torno do chanceler e do próprio Itamaraty"

P. Pelo que o senhor acompanha, como o Araújo chegou ao topo da carreira? Procede que ele conquistou o presidente com o artigo Trump e o Ocidente?
R. Não é que ele conquistou o Bolsonaro. O Bolsonaro não leu nada. Ele [Araújo] levou o artigo para o Olavo de Carvalho. Foi levado pelo Nestor Foster, nosso ministro conselheiro em Washington, que é um olavista. Conheço o Nestor, que é um bom funcionário, e que me deu um livro do Olavo, O Jardim das Aflições. Que é uma aflição ler, porque é uma coisa caótica. O Olavo não tem método, ele tem rompantes, ideias. O Ernesto, então, publicou esse artigo em minha revista sem que eu fizesse qualquer censura. No artigo ele trata da decadência do Ocidente, que é algo debatido por vários estudiosos, mas ele mete no meio aquela ideia de Cristo, de Deus, que é uma coisa que você não consegue debater. Você consegue debater com teóricos, historiadores, sobre o Ocidente em si, não a interferência de Deus. No blog dele, o Metapolítica, ele disse que houve uma intervenção divina para unir o Olavo e o Bolsonaro. Hoje, o que ele faz comigo é me denegar um direito que ele teve no passado e ainda tem, o de debater suas ideias pessoais em um blog. Na verdade, quem o colocou lá foram o Filipe Martins e o Eduardo Bolsonaro. Sem nominá-los, em meu artigo, eu os chamei de fundamentalistas trompistas. O ministro achou que eu falava dele, mas não. Eu o considero um personagem menor nesse jogo de poder. Ele construiu um perfil que não é o dele para se elevar ao cargo de chanceler, mas é totalmente inseguro e não conseguiu construir uma política externa até hoje.
P. Pelo fato de o senhor considerá-lo menor, acredita que o ministro é manipulável?
R. Certamente que ele não vai desatender sugestões do Eduardo Bolsonaro e do Filipe Martins, que são seus promotores, nem do Olavo de Carvalho. Agora, o Olavo acaba de se desacreditar por si só com essa ordem de que todos os seus alunos abandonem o Governo. Por um lado, ele tem essa influência bolsonarista e olavista. De outro, ele está totalmente tutelado pelos militares desde 1º de janeiro. Ele tratou da base americana no Brasil, o que foi rebatido pelo Ministério da Defesa; ele defendeu o rompimento de relações militares com o governo Maduro, o que deixou os militares brasileiros irritados; e depois, com a Venezuela, em que ele aparentemente comprou a ideia da agenda americana, de imposição de uma ajuda humanitária para tentar desequilibrar o Governo chavista, o que não conseguiu. Nosso chanceler comprou essa ideia e teve de ser controlado pelos militares, quando o general Mourão foi o chefe de delegação na última reunião do Grupo de Lima e liderou a América Latina na defesa da não intervenção militar na Venezuela. É uma coisa que caberia a um diplomata. Está em nossa Constituição, nos princípios do direito internacional. Ver um diplomata atuando antidiplomaticamente é uma coisa inédita no Itamaraty.
P. Há uma submissão aos Estados Unidos?
R. É algo alucinante pensar que o chanceler não acate nossa Constituição, e isso os militares fizeram o favor de lembrar, e tome atitudes voluntaristas e de apoio à postura americana que não se coadunam com uma política externa sensata e razoável que o Brasil sempre teve. Depois, as ideias bizarras expressas pelo chanceler são algo inédita em diplomacia. Assista a aula magna que ele deu no Instituto Rio Branco. É uma coisa constrangedora. Não faz nem o sentido lexical, de frases completas.
P. Mas essa crítica, de que não se consegue completar as ideias, é algo recorrente sobre os discursos do presidente também.
R. O presidente está lá porque foi eleito, tem a sua legitimidade. O chanceler, teoricamente, deveria conduzir a política externa. Os diplomatas não têm a menor ideia do que esperar da política externa brasileira. Só vejo arroubos. Nessa palestra no Rio Branco, ele falou de comercialismo, de globalismo, contra o multilateralismo, a perda da fé e de que não vamos apenas exportar café e minério, mas também crenças. É algo inacreditável até no plano puramente operacional, primário, elementar.
P. Sem essa definição de uma política externa, o que se pode esperar das relações comerciais do Brasil? Por exemplo, a China abandona parte do mercado brasileiro para comprar dos americanos.

"É inaceitável para os militares essa subserviência aos Estados Unidos, assim como para qualquer pessoa de bom senso"

R. Exato. A gente tem as ideias aventadas pelo Paulo Guedes, de abertura econômica e liberalização comercial que agora ficaram um pouco de escanteio por causa da reforma da Previdência. Mas não vejo como será feita essa abertura econômica. Não se sabe com quem vai se debater. O Brasil não conseguiu nem resolver como fará com o Mercosul, se ele continua como está, se vai avançar para consolidar sua união aduaneira ou se vai recuar para um simples projeto de zona de livre comércio. Todas essas alternativas têm seus prós e contras na política comercial brasileira. Na nova estrutura do Governo, publicada em janeiro, diz que o Ministério da Economia tem competência para as negociações econômicas internacionais. E nas competências do Itamaraty, diz que o Itamaraty participa das negociações econômicas internacionais. Ou seja, fomos relegados a uma posição secundária, o que nunca ocorreu antes. O Ministério das Relações Exteriores sempre teve preeminência nas negociações comerciais do Brasil, ainda que a política comercial seja estabelecida pela Fazenda. Tem um lado nebuloso nessas definições de políticas setoriais que até hoje não foi resolvida. Não vi nenhuma declaração clara nem do chanceler nem do ministro da Economia de como será conduzida a política comercial.
P. O que essa viagem do Bolsonaro aos Estados Unidos pode trazer para o Brasil?
R. Aparentemente vai trazer o acordo de salvaguardas tecnológicas, que está atrasado há 20 anos. É um acordo para a utilização da base de Alcântara (no Maranhão). A boa relação dos presidentes Bill Clinton e Fernando Henrique Cardosotrouxe esse acordo que acabou sendo sabotada pelo PT, pelo próprio Bolsonaro e pelos partidos de esquerda. Houve um relatório na Câmara do então deputado Waldir Pires, que havia recusado esse acordo. Os deputados queriam ter transferência de tecnologia, mas os Estados Unidos queriam preservar essas informações, que que é absolutamente normal num mercado assimilado a construção de mísseis e balísticas. Agora, parece que esse acordo vai sair. Na aula magna deste ano para a turma do Itamaraty, o chanceler não conseguiu nem explicar o que seria feito nas visitas aos Estados Unidos, Israel e Chile. Só disse coisas banais de que se trata de relações importantes. Ele também criticou a China, várias vezes, sem dizer o nome dela. É algo alucinante o que está acontecendo.
P. E sobre os Estados Unidos, nada além do acordo de salvaguarda?
R. Algo que pode ser discutido é a dispensa de vistos de americanos que visitam o Brasil, algo que pode ser atacado pelos da esquerda, pelos nacionalistas e pelo pessoal que defende reciprocidade estrita, o que é uma imbecilidade. Não tem reciprocidade estrita nas relações internacionais, tudo é assimétrico. Nenhum país é igual ao outro. Você não imagina que você tenha milhares de americanos que queiram vir ao Brasil e se estabelecer ilegalmente. Uma família americana típica, um casal e dois filhos, se pensa em viajar ao Brasil já tem de gastar de 600 a 700 dólares só de visto. Com esse dinheiro eles já passam uma semana no Caribe. Então, o visto talvez saia para os turistas e para a facilitação dos empresários nos Estados Unidos. Não sei mais o que pode sair, de fato.
P. Politicamente para o Bolsonaro, o que representa essa visita?
R. É a glória porque ele é uma espécie de Trump brasileiro. Ele tuita, ele fala e aprova as posições do Trump. Falou que, assim como os Estados Unidos ia trocar a embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém, falou que a China compra o Brasil. Fico pensando o que a gente fez para merecer uma coisa dessa, uma indefinição completa dos interesses do Brasil. Tanto que os militares se encarregaram, mais uma vez, de cercear, de limitar, de controlar, de proibir essa transferência da embaixada – que constrangeu os exportadores de carne halal, a ministra da Agricultura teve de intervir – atacar a China é outra bobagem monumental e a questão da relação muito próxima com os Estados Unidos é uma subserviência, que nosso chanceler demonstra. É inaceitável para os militares essa subserviência aos Estados Unidos, assim como para qualquer pessoa de bom senso.
P. O senhor está sem função nenhuma no Itamaraty. Está indo só “bater o ponto”, sem trabalho algum?

"As ideias bizarras expressas pelo chanceler são algo inédita em diplomacia"

R. Vou para a biblioteca, que é o que eu fiz durante anos no lulopetismo. Aliás, tenho de agradecer ao Celso Amorim [ex-chanceler] e ao Samuel Pinheiro Guimarães [ex-secretário-geral] por terem me dado a oportunidade de escrever dois ou três livros no período em que fiquei sem função alguma. De 2006 a 2010 eu só frequentava a biblioteca. Depois tirei uma licença, fui dar aula em Paris e ocupei um cargo secundário em um consulado nos Estados Unidos. Só voltei a ter algum cargo após o impeachment da Dilma Rousseff. Agora, voltarei ao "departamento de escada e corredores".
P. Mas o senhor fará pesquisas, sem produzir diretamente para o Itamaraty ou para qualquer outro órgão do Governo, que paga o seu salário. É isso?
R. É uma irregularidade administrativa que precisa ser resolvida pelo Itamaraty. Acredito que o Tribunal de Contas da União não admite que você receba sem trabalhar. Então cabe ao Itamaraty me dar uma função. Em toda a gestão lulopetista eu sempre fui ao chefe de administração e dizer que estava disposto a trabalhar. E, apesar de promessas, não me davam nada.

Duelo Olavo de Carvalho- Augusto Heleno em Washington

O DUELO DE OLAVO DE CARVALHO E AUGUSTO HELENO EM WASHINGTON

Como foi o jantar que pareceu ser oferecido ao filósofo, e não ao presidente Jair Bolsonaro
O jantar oferecido na residência do embaixador brasileiro em Washington, Sérgio Amaral, na noite de domingo 17, colocou frente a frente expoentes das duas alas que duelam pela influência no governo Jair Bolsonaro. De um lado, o escritor Olavo de Carvalho, mentor do grupo ideológico; de outro, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, general de quatro estrelas que comanda a tropa militar que atua no Planalto. Um dia antes, o filósofo afirmara na capital americana que Bolsonaro está por militares próximos com "mentalidade golpista."
A caipirinha servida como aperitivo aos convidados não ajudou a quebrar o gelo inicial. Enquanto Olavo de Carvalho era bajulado por integrantes da comitiva, Heleno ficou de canto em conversa ao pé do ouvido com o porta-voz da Presidência Otávio do Rêgo Barros, outro general.
O clima, segundo observou um convidado à ÉPOCA, era tenso, como se os militares tivessem entrado de penetras em uma festa particular da turma ideológica. O jantar reuniu a comitiva do presidente, o escritor Olavo de Carvalho e pensadores da direita americana, como o ex-estrategista de Donald Trump Steve Bannon, o acadêmico Walter Rusell Mead, a colunista do Wall Street Journal Mary Anastasia O’Grady e o editor da revista literária The New Criterion, Roger Kimball.
Pouco antes do jantar ser servido, Heleno tomou a iniciativa de buscar a aproximação com o escritor. O chefe do GSI puxou assunto dizendo que só o conhecia pela mídia e emendou com uma tentativa de afago a Carvalho. "Certamente, nos daremos bem pessoalmente", disse Heleno. Ao melhor estilo fanfarrão que lhe dá fama no Twitter, o escritor retrucou: "Não sou o monstro que dizem que sou."
Todos riram à volta, mas a noite não era mesmo dos militares, em menor número. Quando o presidente Bolsonaro chegou à residência do embaixador todos os convidados o esperavam em um semi-círculo em que Olavo de Carvalho era o centro. Bolsonaro e os ministros cumprimentaram Steve Bannon, o ex-estrategista do presidente americano, Donald Trump. Em seguida, o presidente se dirigiu para cumprimentar rapidamente o filósofo. O porta-voz Otávio do Rêgo Barros confirmou que eles não conversaram separadamente durante todo o jantar.
Antes de ser servido o cardápio, que incluiu mousse com ovas de salmão, beef Wellington, purê de nabo e quindim, o ministro da Economia, Paulo Guedes se dedicou a falar sobre a reforma da Previdência com Mary Anastasia O'Grady, colunista do Wall Street Journal. Em outro lado do ambiente, o ministro da Justiça e Segurança, Sergio Moro, emendou uma conversa com um grupo, entre os quais estavam Matt Schlap, presidente da União Conservadora Americana, e Roger Kimball.
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, se juntou ao deputado federal, Eduardo Bolsonaro em uma conversa com Steve Bannon e Chris Buskirk, editor do site "American Greatness".
Quando todos se juntaram, Paulo Guedes puxou a sucessão de elogios a Carvalho e o classificou como "o líder da revolução".
"Você é o líder da revolução", disse Guedes, atribuindo a Carvalho um papel importante da divulgação de ideias liberais para os brasileiros, o que foi fundamental para a eleição do presidente Bolsonaro.
Sergio Moro, que já foi alvo das críticas de Carvalho e seus seguidores pela indicação da especialista Ilona Szabó como suplente no Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, seguiu a adulação ao escritor. Disse que era uma honra conhecer alguém que inspirou tanta gente, incluindo "o chefe", referindo-se ao presidente Bolsonaro. O ministro ainda mencionou que havia gostado muito do livro "O Jardim das Aflições", mas confessou que achou "muito denso".
Quando o jantar foi finalmente servido, Olavo de Carvalho se sentou à direita de Bolsonaro. Após um brinde convocado pelo embaixador, o presidente Bolsonaro fez um discurso de cerca de três minutos em que fez uma deferência especial ao escritor, a quem chamou de um de seus "grandes inspiradores".
"Em grande parte, devemos a ele a revolução que estamos vivendo", disse o presidente.
Questionado pelo embaixador Sergio Amaral sobre a atual situação política no mundo, Olavo de Carvalho citou a  eleição de Bolsonaro, de Trump, o Brexit, e o movimento coletes amarelos na França como "uma revolução popular contra as elites", mas que, para "a surpresa dos progressistas, o povo é extremamente conservador e rejeita as ideias e os valores progressistas das elites".
Em sua fala, o escritor ainda atacou a mídia, dizendo que jornais influenciam apenas a elite, "que continua numa bolha e não entende a revolução popular que ocorre diante dos olhos dela".
Todos os ministros falaram no jantar, mas a noite se encerrou com uma discussão sobre as relações com China, levantada pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Steve Bannon e o assessor internacional da Presidência, Filipe Martins, defenderam que uma política que priorize a China se voltará contra o Brasil. 
A palavra final sobre o assunto coube a Olavo de Carvalho, que disse que o instinto do presidente é "impecável" por ter defendido ao longo da campanha que era preciso "deixar a China comprar no Brasil, mas não o Brasil".
"A culpa não é dos chineses, mas dos brasileiros que não pensam estrategicamente sobre o assunto", arrematou o guru do Planalto.
Nesta terça-feira, Bolsonaro se encontra com Donald Trump na Casa Branca. O americano tenta atrair o Brasil para uma política de contenção à China, importante parceiro comercial para o mercado brasileiro. Militares e integrantes da área econômica veem com cautela o apoio aos Estados Unidos numa cruzada contra os chineses. Resta saber quem será ouvido pelo presidente Bolsonaro.

domingo, 17 de março de 2019

Chanceler do Brasil: entrevista (globalismo, nacionalismo, EUA) - Brasil Paralelo

Entrevista concedida ao Brasil Paralelo pelo chanceler atual, com uma transcrição não oficial mais abaixo. Compreende-se certa insegurança no ministro, ao buscar contestar tudo o que se fazia antes – um pouco como o PT fazia, negar qualquer crédito ao passado, e partir do zero, uma espécie de "Nunca Antes" da direita – e procurar palavras que revelem essa "novidade", daí as hesitações e repetições (que eu obviamente suprimi na transcrição abaixo), como já se tinha manifestado na sua "aula" no IRBr de 11/03/2019.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 17 de março de 2019

(ENTREVISTA) Min Ernesto Araújo denuncia o GLOBALISMO e defende o resgate do NACIONALISMO


Brasil Paralelo

Publicado em 17 de março de 2019

Nesta sexta-feira entrevistamos o Min. das Relações exteriores: Ernesto Araújo.
O Ministro contou sua posição sobre Estados Unidos, China, Globalismo, Nacionalismo, Identidade Brasileira e muito mais.
Entrevista por Lucas Ferrugem Vídeo por Filipe Valerim
Acesso: https://www.youtube.com/watch?v=2Y1Nn6ZopMQ&feature=em-uploademail 


Destaques:
Pergunta sobre o que é o "ser político brasileiro".
EA: "Durante muito tempo o brasileiro não se sentiu representado pela política. Política foi identificada com coisas ruins. (...) A política andou pouco afeita aos valores dos brasileiros. (...) O ser político brasileiro era um ser alijado de si mesmo. Era uma desidentificação com a política, com o Estado, e sobretudo essa ausência da discussão do seu destino. Hoje uma das coisas positivas que veem acontecendo com a vitória da política é que as pessoas se reconectam com a política, com a discussão sobre os destinos da polis, e isso muito especialmente com a política externa."
"Essa era a área onde esse afastamento mais se manifestava. Durante muito tempo se pensou que o brasileiro não se interessava por política externa. Antes isso não motivava as pessoas. Hoje motiva. Agora voltou-se a falar de política externa. Muitas vezes com críticas, a grande imprensa criticando o que a gente faz, mas falando-se de política externa.
"Estamos voltando a discutir a inserção da nossa comunidade histórica no mundo, isso é uma coisa fundamental, estamos voltando a discutir o futuro da polis.
"Então o ser político brasileiro está voltando a existir. Em política externa isso é muito claro. Claro que eu preferia que alguns comentários fossem mais positivos, mas isso não é o problema. O importante é a discussão."

PRA: Parece-me que foi isso que eu tentei fazer, mas não foi muito bem recebido pelo ministro, que não admite críticas à sua política.

EA: "As pessoas [antes] não se interessavam por política externa porque ela era apresentada como pouco relevante para as pessoas. A política externa entrava assim um pouco pelo lado da política comercial, numa coisa muito imediata, da questão consular, que é importante também, mas muito compartimentada. Agora se está discutindo as grandes questões, as questões de valores, a nossa inserção no mundo, onde fica o Brasil diante desse debate entre nacionalismo e globalismo.
"Então no Brasil a política voltou a ser política e a política externa voltou a ser parte disso."

Pergunta: Isso sempre foi assim, ou a partir de certo momento os brasileiros passaram a se desinteressar pela polis?
EA: "Não, não é desde sempre, não. Eu acho que naquele início de século XIX, até a independência, e um pouco depois, naquela elite letrada, havia uma discussão. Olhando os documentos dessa época, é uma coisa extraordinária, haver um debate, dentro de uma sociedade que era tão precária. Havia um debate muito intenso, e depois no final do Império também, e depois no começo da República. E depois, havia alguns momentos em que era mais intenso de discussão de política nesse sentido.
"O período do Império é um período muito pouco estudado. Eu não sou especialista, mas eu acho que sei o suficiente para ver que há ali muito mais coisas do que normalmente se estuda. Depois no período dos anos 1930, há uma discussão sobre a brasilidade. [corte na gravação]
"Nós nos acostumamos também, nesse período de deserto intelectual [??], a viver só no presente, e isso também é um enorme empobrecimento do ser humano, do ser brasileiro no caso. Nós no Itamaraty precisamos contribuir para abrir esse poço da memória, e contribuir para trazer água do fundo desse poço. Nós fazemos parte desse jogo da memória.
"Hoje é como se nós tivéssemos um romance que começa na página 360, né?; você tem que ver tudo, conhecer os personagens, as coisas ficam mais vivas, ficam mais interessantes quanto teem essa dimensão.
"Então, eu procurei trazer essa ideia da Aletheia para o Itamaraty, e também usando a ideia do Ministério do Tempo, não é?; procurei trazer essa ideia do poço. (..) Sem isso você pode fazer uma certa política externa, fazer um pouco aqui, outro ali, mas é algo muito pobre, muito pobre, e as coisas podem fazer sentido dentre de uma história, de uma certa aventura.
"Quero passar essa ideia aqui no Itamaraty: você passa a ser mais eficiente, a trabalhar com maior prazer ao ver que você faz parte de um romance, de uma grande aventura.
"Outra coisa é tentar pensar a realidade como um todo, e não a compartimentação da realidade, que é uma tendência de toda a pós-modernidade, que no fundo vem desde os anos 1960, que é a compartimentação. Que é dizer: não, isso aqui é comércio, isso aqui é política, isso aqui é tecnologia, isso aqui é direitos humanos, aquilo lá... Isso é útil, mas a realidade é um todo. Acredito muito nisso. Procurar ver as conexões, fazer as analogias, pensar filosoficamente, e sobretudo perguntar, perguntar para a realidade, e saber ouvir as respostas, não achar que a gente já sabe.
"A atitude filosófica é fundamental. Não achar que você já sabe. E se questionar a si mesmo.
E se questionar dentro desse conceito de uma realidade integral. E onde a política externa está dentro disso, e parte da vida social, claro, o Brasil está no mundo e isso é decisivo.
"Uma terceira coisa é não ter medo. Existe muito medo, As pessoas hoje estão nascendo com medo. Medo. Isso é plantado, acho que pela mídia, pela grande mídia, não pela mídia alternativa, que é tão importante por isso. Qualquer coisa que você vai dizer vão te chamar de alguma coisa, que vc está fora do mainstream, que vc é maluco. Claro, isso vai implantando medo na cabeça das pessoas.
"E o medo paralisa, o medo limita. Então eu faço muito esse esforço para que as pessoas não tenham medo de falar e de pensar.""

PRA: Pois foi exatamente o que tentei fazer, inclusive fazendo críticas ao seu modo de fazer política externa, mas o ministro não gostou que eu não tivesse medo de pensar e de falar...

Pergunta: Existe algum país que o Sr. gostaria que nós conhecêssemos a história e aprendessemos mais a sua política, a política diplomática?
EA: "Certamente. Um país que tem uma história riquíssima e que a gente conhece pouco são os Estados Unidos. Podemos enriquecer muito a nossa percepção conhecendo a história americana, que tem momentos únicos. como a guerra civil americana, por exemplo. como todo o processo dos anos 1930, e o New Deal, e depois o pós-guerra, enfim, as correntes intelectuais e políticas americanas.
"Os EUA é [sic] um país onde a história está viva. acho que diferente da percepção que se tem da Europa. Acho que na Europa a história está renascendo, mas nesses últimos trinta anos, nos países europeus, centro de civilização, a história meio que morreu. E as pessoas deixaram de pensar, política também, um pouco como no Brasil. deixaram de se conectar com o seu passado. Nos Estados Unidos isso nunca aconteceu. A pessoas vivem a história, as pessoas vivem a sua aventura nacional de uma maneira muito presente, o debate político americano é extremamente vivo e rico, as pessoas estão sempre citando exemplos do século XIX, Roosevelt, etc.
"O Brasil também pode ser isso, esse país de uma história viva, é raro você ouvir aqui [como nos EUA] alguém se referir aos anos 1920, um político do passado, e tem no século XIX um cabedal enorme que poderia ser lembrado.
"Então acho que se poderia comparar os EUA com a Europa. A Europa com toda aquela sensação de superioridade intelectual que eles têm em relação aos EUA, eles durante muito tempo estavam jogando fora todo esse patrimônio histórico e vivendo numa coisa muito encaixotada, no presente, um presente muito limitado.
"Vários países europeus estão tentando recuperar isso. O ser político europeu está renascendo também, como no Brasil. A gente vê isso, vários países europeus estão tentando recupera isso, não só no Brasil; a gente vê isso na Itália, a gente vê isso na Polônia, na Hungria, na Áustria, na Espanha, agora. E em toda a parte tem isso, mas esses são os países onde a coisa se veja mais presente.
"É interessante observar essa reconexão das pessoas com a sua realidade política, que é influenciar no seu destino. Durante muito tempo se discutiam coisas menores – taxa de juros, etc. – mas não é isso só, isso também, mas não é isso só.
"E durante muito tempo: "Não pode discutir nada!". E essa recuperação vem junto com o passado histórico, a recuperação dos heróis, a recuperação... Heróis é um conceito extraordinário que se perdeu, não é?
"Então é importante olhar isso: a Europa era um caso muito interessante de sociedades que estavam completamente adormecidas, e que estão renascendo.
[corte na gravação]
   [Pergunta?: ]
EA: Cada vez mais podem olhar para o Brasil como de certa maneira algo que espelha eles. [?] Mas, no nosso caso certamente. É um espelho que alguém quebrou, alguém resolveu quebrar num certo momento. Nós estamos recompondo esse espelho.
"Então no nosso caso, essa recuperação de uma identidade acontece, em outros países também, mas nos Estados Unidos é uma coisa especial nesse espelhamento. Então, a aproximação com eles, e a aproximação conosco são parte do mesmo fenômeno.

Pergunta: Agora há pouco, o Sr. comentou que o nacionalismo ganhou uma acepção negativa na sociedade, e também comentou que o Bolsonaro seria o primeiro presidente nacionalista nos últimos cem anos. Gostaria que explicasse por que e qual o entendimento que faz da palavra.
EA: EU acho que o nacionalismo é uma concepção de nação no seu sentido etimológico, algo de nascimento. Você tem um corpo de pessoas que estão unidas no tempo também. Tem a questão das gerações. Não são só indivíduos que estão só num espaço físico. São pessoas que estão ali, seus ancestrais viveram ali, claro que você tem migrações e tudo isso, mas você tem de ter um núcleo que faça sentido para que vc possa falar de nação.
"Nacionalismo é reconceber a sociedade como nação, e não só como uma coleção de indivíduos, e também não só como indivíduos conectados simplesmente pelo Estado.
"Porque hoje é muito isso. A concepção de um Estado pós-nacional não deve ser assim. A nacionalidade tem de vir do fundo do tempo.
"A concepção do que deve ser a sociedade, isso é o nacionalismo. As sociedades não deveriam se basear muito nas leis, como dizia o meu pai; elas devem se basear na confiança. As leis são fundamentais, mas você não pode ter lei para tudo, para dizer para as pessoas como elas devem se relacionar.
"E o que acontece com essa fragmentação social dessa pós-modernidade? A sociedade deixa de funcionar baseada na confiança. E aí vc tem de apelar para o Estado.
"As pessoas não deveriam se conectar umas às outras só baseadas na lei; elas tem de se conectar com base na confiança orgânica. Então isso é visão de nacionalismo.
"É o anseio natural das pessoas de viverem numa comunidade orgânica, e não numa coleção de indivíduos.

Pergunta: Creio que o receio com o termo [nacionalista], principalmente. veio com a forte aproximação com os regimes totalitários do século XX, Então qual a diferença que o Sr. traça desse nacionalismo para os regimes italiano, alemão e até da Rússia?
EA: Eu acho que esses regimes totalitários eles no fundo apelaram para uma força muito profunda, que é a força do sentimento nacional, para chegarem ao poder, para se manterem no poder, e distorceram esse sentimento; eles de certa forma sequestraram esse sentimento. Coisa que eu falo muito: isso é muito da esquerda, ela pega uma coisa boa, transforma, perverte e transforma numa coisa ruim: por isso que eu digo também que fascismo e nazismo são fenômenos de esquerda. E isso deu um mau nome ao nacionalismo.
E por isso o repúdio a esses regimes, as pessoas jogaram fora o nacionalismo.
Essa é a grande tragédia. Não fazer a desassociação entre a ideia de nação dos totalitarismos tão trágicos da história do século XX.
Então esse é o nosso esforço, o esforço de outros países, é o de ter um nacionalismo que é democrático, estou certo de que se pode ter, porque essa sociedade coesa, orgânica, que o nacionalismo prega, é naturalmente democrática. Porque essa democracia que ele prega não é imposta, ela vem de baixo para cima: um povo que gosta de estar junto, ele vai ser naturalmente democrático.
"Por isso que o conceito de polis, lá atrás, também tem a ver com o nascimento da democracia.
"Então é isso: é preciso recuperar o nacionalismo dessa associação perversa com os regimes totalitários."

Pergunta: Eu queria saber como o Sr. enxerga o Brasil no mundo e como o mundo enxerga o Brasil, o que o Brasil significa no mapa de todo o globo? Qual é a sua visão?
EA: Eu já devia saber, eu já intuia, mas nesse período muito intenso que estamos vivendo, eu estou me dando conta como o Brasil conta no mundo. É impressionante. Abstratamente, a gente podia imaginar, mas que muita gente já não acreditava.
"Nos contatos que eu tenho feito, eu tenho visto como há uma expectativa enorme pelo que o Brasil vai dizer, a partir de agora, pelo que o Brasil vai fazer, uma expectativa enorme de que nós coloquemos o nosso peso, por exemplo, na questão da democracia na Venezuela, em todas as áreas, por exemplo, a favor de uma revisão de uma nova OMC, por exemplo, uma reforma da maneira de atuar da OMC, em todas as áreas; na hora do Brasil, [todos perguntam], o que que o Brasil vai fazer?
"Vivemos um período em que nós não nos dávamos conta do nosso peso. não é, onde achávamos que o Brasil não tinha capacidade de influenciar, que era só copiar, fazer só uma variações nas posições globais, no máximo isso.
"Então, o mundo vê o Brasil com uma importância gigantesca, inclusive isso tem a ver com as críticas que se fazem nos países europeus ao governo Bolsonaro, mas isso tem a ver com uma percepção do peso do Brasil; porque eles estão vendo que o Brasil está colocando o seu peso a favor de coisas que eles não gostam: a favor da nação, a favor de coisas que, no caso, a esquerda europeia detesta.
"Então é por isso que o governo Bolsonaro aparece de forma tão negativa em tantos órgãos da imprensa europeia, porque eles estão assstados, o Brasil assusta, o Brasil chega lá, e fala muito mais grosso do que a gente imagina que fala.
"Ah, mas será que a gente tem condições...?
"Tem, a gente tem condições de influir. Na nossa região evidentemente, mas fora da nossa região também, também, contatos em relação ao Oriente Médio, em relação ao que está acontecendo na própria Europa, na Ásia, em toda a parte...

Pergunta: Um termo que surgiu no debate público a partir de alguns influenciadores americanos, e aqui no Brasil através do professor Olavo de Carvalho, é globalismo, a denúncia do que seria o globalismo; que basicamente se resume em agentes de representação notável, com interesses de organizar órgãos supranacionais, que intentassem um governo global. O que o Sr. entende por isso, e o Sr. concorda com isso e que agentes seriam esses?

EA: Eu acho que isso é parte do globalismo. Eu acho que essa maneira de ver o globalismo é algo limitado. Apenas a tentativa de criar organizações globais. Eu acho que o mais grave do globalismo é na mente, no pensamento. O globalismo é perigoso porque ele é sobretudo um sistema de pensamento, ou de anti-pensamento. Eu vejo globalismo sobretudo como um processo pelo qual, a ideologia marxista, a partir do começo dos anos 1990, e sobretudo a partir dos anos 2000, penetra na globalização econômica e faz dela o veículo da sua propagação. Então, justamente através da globalização começa a entrar com a sua agenda em temas como ideologia de gênero, o ambientalismo distorcido e outros, e começa sobretudo a controlar o discurso, a controlar o discurso, a dizer o que vc pode dizer e o que vc não pode dizer. E cada vez o que vc pode dizer é menos, ocupa um menor espaço.
"Então, eu vejo mais o globalismo assim, aquela ideia que... o marxismo descobriu que não precisa mais controlar os meios de produção econômica, quando ele pode controlar os meios de produção de ideias, que é o que vinha acontecendo.
"E é através desse controle das ideias que essa corrente começa a capturar instituições, e começa a partir dessas instituições, tentar se, agir para diminuir justamente as identidades nacionais e as identidades pessoais também. Porque, no fundo é isso, parte do problema só é a diminuição das identidades nacionais, o fundamental é a diminuição das identidades pessoais também, o achatamento do ser humano, que a meu ver é o projeto marxista.
"Então não é questão de dominação mundial, quer que a ONU domine, não é isso. É a utilização de todos os instrumentos para a diluição da nação e o achatamento do ser humano. Isso é o que é realmente grave do globalismo.
"Claro que o globalismo remete a esses organismos multilaterais, mas não é só isso. Isso é um instrumento. As pessoas perguntam: "onde está o globalismo?"
"Não está em nenhum lugar. Ele é um sistema de anti-pensamento, que meio que começou a replicar sozinho na cabeça das pessoas. Porque ele é tão difícil de... Se fosse uma instituição, a central mundial do globalismo, então vc vai lá e toma. Mas não é isso.
"É como se fosse um vírus de computador que se espalhou na cabeça das pessoas.
"Como eu digo, então o globalismo, eu enxergo o globalismo como o pensamento marxista capturando a globalização; então a nossa ideia é libertar a globalização dessa captura.
"A globalização é uma coisa extraordinária, que permite tanta coisa, interação super democrática entre as pessoas, isso tem que ser preservado; então o que é preciso é, eu digo assim, o que aconteceu é que o marxismo sentou na cadeira de piloto da globalização, é tirar daí, e nós vamos sentar na cadeira de piloto.
"Nós, eu digo, quem tenta representar essa linha que vê o ser humano com uma dimensão mais rica, a nação como algo que tem de ser uma comunidade orgânica, etc. Nada contra a globalização, ao contrário, é libertar a globalização, para que que ela sirva ao ser humano.
"Isso tem a ver com o Brasil, muito claramente, precisamos de uma economia liberal, precisamos da abertura econômica; a economia fechada, sufocada e sufocante foi parte de um projeto de um país sufocado, de um país que deixava de ser nação.
"Acho que isso é fundamental, a esperança para nós, para o mundo, é a conexão de um pensamento nacionalista, conservador, na base, com uma economia liberal aberta. Essa é a filosofia humanista, liberal, e que tenha lugar também para a fé, que essa filosofia, essa visão do mundo, esteja no comando da globalização, e permita que a globalização seja algo para ampliar os horizontes do ser humano. Nós temos que quebrar o amálgama marxista liberal, que é o globalismo, e transformar isso num amálgama conservador liberal. Essa é a grande tarefa.

Pergunta: É interessante ver na sociedade o desaparecimento e o surgimento de novas palavras. Nos anos 1990 foi sumindo a palavra "moral" e foi surgindo a "ética". O que está por trás dessas palavras?
EA: Essa é a grande distinção que eu faço entre o nominalismo versus realismo. O projeto globalista é um projeto nominalista, pegar as palavras e isolá-las da realidade, e transformá-las em instrumento de dominação.
O que é a tolerância? Posso tolerar alguma coisa em nome de um bem maior. Isso é o realismo. O nominalismo é pegar a palavra e transformar isso em algo absoluto.
"Parte do nosso esforço é trazer as palavras de volta ao realismo. É absolutamente essencial ter uma visão realista, que não é o absolutismo da linguagem. Hoje tem uma série de correntes que vivem num mundo de palavras, como no mundo de Wittgenstein.

(33 minutos e 32 segundos)

Vídeo original neste link:
https://www.youtube.com/watch?v=2Y1Nn6ZopMQ&feature=em-uploademail

Coragem e politica - Murillo de Aragao (IstoE)

Coragem e política

Não se faz política sem coragem. Segundo Winston Churchill, “é a primeira das qualidades do ser humano, por assegurar todas as demais”. Sem coragem não vamos à esquina, ninguém ganha eleições, não se governa. A intrepidez deve estar presente em todos os instantes. Alguns, apesar de corajosos ao lançar um projeto político, quando chegam lá se mostram inseguros para enfrentar os problemas da governabilidade ou a presença de amigos e familiares ao redor do poder. O marechal francês Pétain foi herói na I Guerra Mundial. Terminou como um covarde por se render à Alemanha na II Guerra.
Podemos indagar, contudo, se a rendição foi de fato um ato de covardia ou de coragem da parte do velho marechal. Ele sabia que não tinha como resistir à força avassaladora dos alemães e se rendeu salvando um pedaço da França. Às vezes, o que parece covardia é um ato de coragem. A questão é complexa.
John Kennedy, quando senador por Massachusetts, escreveu “Política e Coragem”, onde relatava grandes atos de oito senadores americanos em diferentes momentos da história. Adiante, pagou com a própria vida pelos desafios que enfrentou como presidente. Kennedy teve a coragem de encarar os Falcões do Pentágono na Crise dos Mísseis de Cuba, em outubro de 1962, que poderia ter jogado o mundo em uma guerra nuclear. E ainda proferiu uma das frases mais épicas de sua época: “Não pergunte o que seu país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer por seu país.” Na prática, a antítese do populismo que vigorou no Brasil por décadas.
Voltando a Churchill, “atitude é uma pequena coisa que pode fazer a diferença”. Foi demonstrando coragem e tomando atitudes firmes que Churchill enfrentou os nazistas e, contra todas as expectativas, liderou os Aliados à vitória final. Na política do dia a dia, os testes de intrepidez são imensos. E, nos dias de hoje, de intenso patrulhamento por parte da mídia e do mundo politicamente correto, ter atitudes e opiniões fortes pode parecer um contrassenso.
Ingrediente essencial, a coragem também move os movimentos subversivos e anti-establishment, assim como posicionamentos contrários ao senso comum. Algumas vezes, a bravura avança sobre os limites do aceitável e vira insanidade. Porém, nunca se ausenta dos momentos críticos de uma nação e da vida de qualquer político que se preze.
A coragem se revela não apenas nos atos que levam às vitórias. Na derrota, ela é tão ou mais importante, pois quase sempre anda sozinha. Bem diferente de sua contraparte, que costuma se mostrar coletiva.
Encarar os desafios sempre é necessário, por mais insanos que pareçam. A alternativa é a derrota, que também exige bravura

A "nova Direita" e sua maquina de mentir e de intimidar - OESP

Parece que, depois dos conceitos de esquerda "carnívora" e de esquerda "herbívora", criados pelo cientista político e ex-chanceler mexicano Carlos Castañeda, vamos ter de criar os conceitos de direita "hidrófoba" e de direita "predatória", tais são os sentimentos que animam os novos cruzados, dispostos a atacar quaisquer críticos do governo como se fossem perigosos comunistas ou sabotadores do país. 
Eu, aliás, já fui chamado de "sabotador" pelo Robespirralho, um true believer dos mais fanáticos, que estaria comandando o patíbulo da guilhotina se estivéssemos sob um Comitê du Salut Public, a despeito de ser um medíocre em relações internacionais, a ponto de ter preparado um discurso idem para o presidente estrear em Davos. Ou seja, um fracasso como assessor, um candidato a Torquemada ou a Savonarola, um dos inquisores que condenadaram Giordano Bruno à fogueira.
Essa turma é da pesada, e sua violência verbal só é superada por sua ignorância, como já deu exemplo dessa total estupidez um dos mais vistosos integrantes da tropa de choque, ao classificar a comunidade brasileira trabalhadora sem papéis nos EUA de uma "vergonha". Vergonha é quem não tem a menor ideia de como se formou essa comunidade laboriosa, que contribui para criar riqueza nos EUA, na impossibilidade de fazê-lo no próprio Brasil.
Entre ignorância e estupidez, essa tropa de templários tenta, ao controlar o Estado e o governo, dominar a sociedade. Não o conseguirão. Sempre existem resistentes contra a violência e ignorância. Como sempre, assino embaixo...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 17 de março de 2019

Rede bolsonarista “jacobina” faz linchamento virtual até de aliados

Como funciona a “máquina” de difamação operada pela ala mais radical de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais



O Estado de S. Paulo, 16/03/2019

A repórter do Estadão Constança Rezende tornou-se alvo no domingo (10/3), de um violento ataque digital. Quando se preparava para sair de casa e almoçar com a família, Constança foi informada por uma de suas fontes via WhatsApp de que um post publicado pelo canal Terça Livre, que reúne militantes bolsonaristas e pupilos do escritor e pensador Olavo de Carvalho, estava provocando uma forte reação contra ela nas redes sociais. A razão: uma suposta tentativa de “arruinar” o presidente Jair Bolsonaro com as reportagens sobre o Caso Queiroz. Constança se dedica a essa cobertura desde o princípio.
A partir da publicação do Terça Livre, com base em declarações distorcidas de Constança divulgadas por um blogueiro belgo-marroquino num site francês, a vida da jornalista virou um tormento. Ela foi xingada, ameaçada e tornou-se tema de memes nas redes. Páginas falsas dela foram criadas na internet. Pior: a certa altura, o próprio presidente compartilhou o post do Terça Livre em suas redes sociais, amplificando os ataques. O Estadão, que logo publicou uma reportagem sobre o caso em seu site, mostrando que as declarações da repórter haviam sido deturpadas, também acabou se transformando em alvo das milícias virtuais, que “subiram” a hashtag #EstadaoMentiu no Twitter, para tentar desqualificar o jornal.
O caso de Constança revela, em toda a sua extensão, o funcionamento da máquina de assassinato de reputação operada por grupos bolsonaristas e olavistas, que formam as correntes mais radicais e dogmáticas da chamada “nova direita” do País. Em razão dos ataques virtuais desferidos pela turma, várias vítimas acabam por restringir o acesso a seus perfis e silenciar sobre o tema que deu origem às agressões. Algumas pessoas simplesmente apagam suas páginas, aterrorizadas pela agressividade dos comentários.
Hegemonia Nesta reportagem especial, baseada em conversas com integrantes e ex-integrantes dessa engrenagem, o jornal mostra como ela funciona, quem são seus principais líderes e apoiadores e quais são seus tentáculos nos gabinetes palacianos e parlamentares. Conta, também, os casos de outras vítimas das milícias virtuais bolsonaristas e olavistas. Além de jornalistas, a lista inclui personalidades e influenciadores da própria direita e integrantes do governo, como o vice-presidente Hamilton Mourão, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, indicado pelo próprio Olavo de Carvalho.
O ex-secretário-geral da Presidência da República Gustavo Bebianno, que deixou o cargo em meados de fevereiro, foi chamado de “mentiroso” nas redes por Carlos Bolsonaro, um dos filhos do presidente, cujo post foi compartilhado pelo pai, por afirmar que havia conversado três vezes com o presidente sobre o uso de “laranjas” nas eleições por candidatos do PSL.
Na campanha eleitoral, a turba já havia se levantado contra qualquer um que pudesse colocar em risco a hegemonia de Bolsonaro junto ao eleitorado de centro-direita. O ex-presidenciável João Amoêdo, do partido Novo; o atual governador de São Paulo, João Doria (PSDB); o empresário Flávio Rocha, pré-candidato à Presidência pelo PRB; e até a garotada do MBL foram alvos de ataques torpes da máquina de difamação bolsonarista e olavista.
“Jacobinos” Como cruzados em luta para conquistar Jerusalém, os bolsominions e os olavetes, como eles são mais conhecidos fora de seus mundinhos, insurgem-se contra os adversários de Bolsonaro e Olavo de Carvalho e contra aliados que ousam discordar dos dois, ainda que de forma pontual. Não por acaso, receberam a alcunha de “jacobinos”, em referência ao movimento surgido na Revolução Francesa, em 1789, que defendia o extermínio da aristocracia e se tornou conhecido por impor o terror no país.
No Brasil, nos tempos do PT, também havia uma máquina implacável de destruição de reputação de adversários, em especial de jornalistas. A diferença é que, naquela época, os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff e seus parentes procuravam não se envolver diretamente, ao menos em público, na “guerra suja”. Além disso, a tropa de choque petista na internet recebia fartos recursos oficiais, para defender o governo e o partido e atacar os seus críticos.
Agora, o quadro mudou. Bolsonaro, seus filhos e alguns assessores palacianos e parlamentares envolvem-se diretamente nos ataques. E, por ora, de acordo com as informações disponíveis, sites e páginas como o Terça Livre, Isentões e Senso Incomum, que agem como se estivessem numa “guerra santa” contra infiéis, não estão recebendo recursos públicos para financiar suas atividades.
Na linha de frente dos ataques aos adversários e críticos de Bolsonaro e de Olavo figuram dois filhos do presidente – o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), responsável pela bem-sucedida campanha do pai nas redes e ainda hoje o principal administrador de suas páginas e perfis pessoais, e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o mais ideológico da família e o mais ligado a Olavo. Ao lado deles, instalados no Palácio do Planalto, destacam-se o assessor internacional da Presidência, Filipe G. Martins, e os assessores presidenciais José Matheus Sales Gomes – criador dos sites Bolsonaro Zuero e Bolsonaro Opressor 2.0 na campanha e considerado o “gênio” das redes do presidente – , e Tercio Arnaud Tomaz, ambos ex-funcionários do gabinete de Carlos, na Câmara Municipal do Rio.
Desgaste Aparentemente, Carlos é o único que tem a senha para operar as páginas e perfis pessoais de Bolsonaro, além do próprio presidente. Na semana passada, ele afirmou numa rara entrevista (ao canal da jornalista Leda Nagle no YouTube) que, às vezes, sente-se “culpado” pelo conteúdo que publica na internet e leva um “puxão de orelha” do pai. Não se sabe, porém, se ele disse isso para tentar isentar Bolsonaro de responsabilidade pelas controvertidas publicações feitas em seu nome ou para exibir sua força na gestão do conteúdo nas páginas do presidente.
Os analistas que conhecem de perto o grupo mais próximo de Bolsonaro afirmam que Filipe Martins, um pupilo fervoroso de Olavo que foi introduzido no círculo bolsonarista pelas mãos de Eduardo, é quem está por trás de muitos ataques aos adversários e críticos do “professor” e do presidente. Eles dizem reconhecer o inconfundível estilo “jacobino” de Martins em vários dos ataques desfraldados por Olavo nos últimos tempos.
Quem conhece bem a forma de atuação do grupo afirma também que Olavo está sendo “brifado” em vários de seus posts por Martins e outros olavetes que ganharam cargos oficiais no atual governo e usado por eles para desferir ataques em todas as direções. Assim, Olavo dá a sua contribuição para preservar seus discípulos do desgaste inevitável que teriam se fizessem, eles mesmos, as publicações mais agressivas.
O caso de Mourão – “detonado” diversas vezes por Olavo, que o chamou de “palpiteiro” e afirmou que o vice é “uma vergonha para as Forças Armadas”, por causa de suas posições em defesa da opção das mulheres pelo aborto, contra a relativização da posse de armas e por suas críticas contra a política externa – é emblemático. Segundo o site O Antagonista, Mourão identificou as digitais de Martins, que conversa com frequência com o escritor, nos ataques desferidos contra ele.
Comando central O diplomata Paulo Roberto de Almeida, exonerado da presidência do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri) no início de março e outro alvo dos “petardos” de Olavo, também atribuiu a Martins o seu afastamento do cargo. “Ele é um desses olavistas fanáticos, que tem a verdadeira fé”, disse em recente entrevista ao Estado.
Muitas vezes, como no caso de Almeida, Mourão e Constança, os ataques virtuais parecem seguir uma estratégia bem elaborada e as orientações de um comando central, com o apoio de influenciadores como Allan dos Santos, do Terça Livre, os youtubers Nando Moura e Bernardo Küster e o empresário Leandro Ruschel, e de propagadores com milhares de seguidores nas redes, como Bruna Luiza Becker, ex-namorada de Martins que se tornou assessora de Vélez Rodríguez, a advogada Cláudia Wild e o perfil do Twitter Tonho Drinks.
De acordo com especialistas em redes sociais, os ataques digitais têm o apoio de robôs, que funcionam como uma espécie de faísca para incendiar a massa. No WhatsApp, por exemplo, onde os grupos podem ter no máximo 250 pessoas, costuma haver sempre dois ou três perfis falsos, destinados a enviar de forma automática mensagens com ataques a fulano ou beltrano. Em seguida, elas são compartilhadas pelos demais integrantes dos grupos em suas próprias redes, provocando o “efeito manada”.
Mas, mesmo nesses casos, deve-se levar em conta que há uma adesão espontânea que torna difícil caracterizar os grupos bolsonaristas e olavistas como membros de uma rede 100% estruturada de comunicação virtual. Nas eleições de 2018, o PT até tentou implementar algo do gênero por baixo do pano, remunerando os participantes, mas a iniciativa acabou “vazando” e o partido teve de abortá-la, para abafar o caso e evitar punições pesadas da Justiça Eleitoral. Uma rede profissional de milícias virtuais, encarregada de destruir a reputação de opositores e críticos pontuais, também exigiria um caminhão de dinheiro, difícil de obter com o cerco ao caixa 2 eleitoral e à corrupção.

Jornalista: Agência Estado