domingo, 20 de dezembro de 2009

1580) Bjorn Lomborg: Entrevista na Veja


"Não sou um cético da ciência,
sou um cético das políticas
de combate ao aquecimento global"

Entrevista: Bjorn Lomborg
Podemos fazer melhor
Veja, edição 2144 - 23 de dezembro de 2009

O principal representante dos céticos diz que o combate ao aquecimento global tem de se basear em tecnologia, e não em mudanças no consumo

O cientista político dinamarquês Bjorn Lomborg, de 44 anos, não tem carro. Usa bicicleta ou metrô para se deslocar em Copenhague. Lomborg é um dos mais respeitados entre os pesquisadores céticos em relação aos efeitos catastróficos do aquecimento global. Seus livros e artigos provocam a ira de ambientalistas, mas seus argumentos afiados também são ouvidos com atenção pelos cientistas. Sua descrença se dá em torno da histeria criada acerca do assunto e do que se pretende fazer para solucionar o problema da elevação da temperatura. "Não sou um crítico da ciência que prova o aquecimento. Sou um crítico da política de combate ao aquecimento." Ele concedeu a seguinte entrevista a VEJA na sede da COP15, em Copenhague.

Qual foi o estrago do "climagate", o escândalo do vazamento de e-mails em que cientistas confessam a manipulação de dados para reforçar a tese do aquecimento global?
O que está claro é que havia uma inclinação evidente para não compartilhar dados com pesquisadores cujos trabalhos não reforçariam a teoria do aquecimento global. Possivelmente, os dados foram mascarados, o que não significa exatamente uma falsificação.

Sim, mas mascarar dados não é suficiente para invalidar toda a pesquisa?
Não. É um erro achar que esse escândalo invalida todo o trabalho que os cientistas do clima produziram nas duas últimas décadas. O aquecimento global está aí. É um desafio.

Então, o senhor aconselha a esquecer o episódio e continuar levando seus autores a sério?
Não é isso. O escândalo não pode ser considerado apenas uma tempestade em copo d’água. O que eles fizeram é muito sério e perturbador. Tem implicações muito maiores. Esses cientistas formam uma máfia que se apossou da questão do clima. Tive muitos problemas com essa máfia do clima. Quando estava escrevendo meu livro, tentei me corresponder com alguns daqueles pesquisadores que detinham dados pelos quais eu tinha interesse. Recebi de volta algumas mensagens em cujo campo de destinatário eu fui incluído por engano. Foram mensagens reveladoras. Elas diziam: "Esse homem é perigoso. Não forneçam nenhum dado a ele. Devemos ter cuidado em não deixar que nossas informações apareçam em pesquisas públicas".

Por que o senhor é cético em relação às previsões sobre o aquecimento global?
Discordo da forma como as discussões sobre esse tema são colocadas. Existe a tendência de considerar sempre o pior cenário – o que aconteceria nos próximos 100 anos se o nível dos mares se elevar e ninguém fizer nada. Isso é irreal, porque é óbvio que as pessoas vão mudar, vão construir defesas contra a elevação dos mares. No entanto, isso é só uma parte do que tenho dito. Sou cético em relação a algumas previsões, sim. Mas sou cético principalmente em relação às políticas de combate ao aquecimento global. O problema principal não é a ciência. Precisamos dos cientistas. A questão é que tipo de política seguir. E isso é um aspecto econômico, porque implica uma decisão de gastar bilhões de dólares de fundos sociais. Em outras palavras, não sou um cético da ciência do clima, mas um cético da política do clima. Basicamente, digo que não estamos adotando as melhores políticas porque não estamos pensando onde gastar o dinheiro para produzir os maiores benefícios.

"ONGs verdes querem mudar a natureza humana, dizendo que não se deve querer ter ou gastar mais. É muito difícil. Prefiro ter tecnologia e fazer o que quiser, mesmo emitindo CO2"

O relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU) diz que a humanidade é "provavelmente" responsável pelo aquecimento. O que significa esse "provavelmente"?

Os cientistas estão dizendo que têm 90% de certeza. Que há fortes evidências de que somos responsáveis em pelo menos 50% pela elevação da temperatura. É a partir daí que temos de elaborar as políticas. Se a maior parte dos cientistas diz que algo provavelmente vai acontecer, temos de agir de acordo com essa informação. O que não significa que não se deva garantir financiamento às pessoas que trabalham para descobrir erros nessa proposição. Deveríamos gastar dinheiro com as pesquisas dos céticos justamente para aperfeiçoar a informação que tem dominado os debates.

Com que cenários é razoável trabalhar quando se fala da elevação do nível dos oceanos?
Quando perguntamos aos cientistas do IPCC qual seria o resultado mais provável do aquecimento sobre o mar, eles disseram que o nível das águas subiria entre 18 e 59 centímetros. Esse é o parâmetro mais aceitável. Não faz sentido trabalhar com cenários de até 6 metros, como quer o Al Gore, ex-vice-presidente americano. Porque é tão improvável que isso aconteça quanto que não haja elevação alguma. As pessoas que fazem projeções catastróficas acreditam que fazer mais alarde estimula a população a agir. Mas vale lembrar: análises e argumentos baseados no pior dos piores cenários induzem ao pânico, e o pânico não é a melhor forma de fazer um bom julgamento. Esse foi o mesmo argumento que George W. Bush usou quando invadiu o Iraque. Ele disse que estava absolutamente certo sobre a localização das armas de destruição em massa, e o resultado foi o que se viu. Por isso prefiro trabalhar com os impactos mais prováveis.

Quais são esses impactos?
Costumamos esquecer que a maioria dos lugares ricos no mundo conseguirá lidar com o aquecimento global. Sabemos disso porque é o que os holandeses vêm fazendo desde o século XVII. A Holanda tem 60% de sua população vivendo abaixo do nível do mar. O principal aeroporto de Amsterdã fica 3 metros e meio abaixo do nível do mar. É simplesmente uma questão de tecnologia. Ninguém que vai à Holanda fica pensando: "Ai, meu Deus, estou abaixo do nível do mar". Não que isso não seja problemático ou custoso. Mas é um custo que chega a 0,5% ou no máximo 1% do PIB. Então, é bom enfatizar, o Rio de Janeiro nunca vai submergir, tampouco Nova York. Nos últimos 150 anos, o nível do mar subiu 30 centímetros. Pergunte a uma pessoa muito idosa quais as coisas mais importantes que aconteceram no século XX. Ela vai mencionar as guerras mundiais, ou talvez a revolução tecnológica. Sua resposta não vai ser que o nível do mar subiu.

"Tive problemas com a máfia do clima. Quando escrevi meu livro, recebi por engano, de pessoas a quem pedi informações, mensagens que diziam: ‘Esse homem é perigoso, não lhe forneça nenhum dado’"

Fala-se muito do impacto causado pela forma como as pessoas desperdiçam produtos e energia. Como o senhor faz no seu dia a dia?
Há muita confusão em torno desse debate sobre consumo ético, como se a questão toda se resumisse ao que a pessoa faz. É uma visão torta porque, no fim das contas, o que nós fazemos está profundamente regulado pela forma como a sociedade funciona. Posso pegar um ônibus em vez de um carro na Dinamarca (eu nunca tive carro). Mas não poderia fazer isso nos Estados Unidos. Por isso, acho que reduzir tudo à ideia de que você deve fazer algo sobre seu consumo não é o melhor caminho. Para dar uma noção de proporção, se todos no mundo ocidental trocassem suas lâmpadas atuais por um modelo mais econômico, ao final de um ano as emissões se reduziriam apenas o equivalente à quantidade de CO2 que a China joga na atmosfera em um dia. Acho inútil adotar o argumento de que não se deve agir desta ou daquela maneira porque é imoral. Resumindo: organizações verdes querem mudar a natureza humana, dizendo que não se deve querer ter ou gastar mais. É muito difícil mudar a natureza humana. Prefiro mudar a tecnologia. Assim, poderemos fazer o que quisermos, mesmo emitindo CO2.

As empresas estão fazendo sua parte?
A maioria das coisas que se veem por aí é marketing. É o chamado banho verde. Estão fazendo economia de energia como sempre fizeram, desde o início do século XIX, de quando datam as estatísticas. Todas as empresas, em todos os lugares, inclusive nos Estados Unidos e na Europa, vêm reduzindo o desperdício de energia. Ou usando cada vez menos energia para cada dólar que produzem. O que é uma das maneiras de manter a liderança no mundo dos negócios. Cada vez que conseguem essa redução, anunciam que estão economizando CO2. Mas é óbvio que o que estão economizando são dólares. Não há nada de errado nisso. Só não devemos achar que elas estão salvando o planeta.

Por que o crescimento populacional não é levado em consideração nas discussões sobre clima?
Se fosse possível limitar substancialmente o crescimento da população mundial, provavelmente as emissões não aumentariam tanto. Mas você só consegue alterar essa variável dramaticamente num regime autoritário como o da China, onde o governo determina que os casais só podem ter um filho. Não acho que se vá reduzir a taxa de natalidade com informação. As pesquisas mostram que as pessoas agem de forma muito racional sobre o número de filhos que têm. Para os pobres, crianças são fonte de renda. Para os ricos, representam despesa. Então você pode interferir no tamanho da prole tornando as pessoas mais ricas. Independentemente disso, é preciso lembrar que a principal razão para os nascimentos até 2050 não é que muitas pessoas têm muitos filhos, mas porque há muitos jovens que ainda não têm filhos e querem ter. Até lá teremos provavelmente mais 2,5 bilhões de pessoas. Há muito pouco que se possa fazer sobre isso.

Se o senhor tivesse filhos, estaria preocupado com o futuro?
Tenho primos que têm filhos, e alguns dos meus melhores amigos também têm. Claro que desejo que eles tenham uma vida boa. E eles terão. Vão ficar bem, serão ricos. Porque todos os filhos geneticamente gerados que conheço são brancos. Não é com eles que temos de ficar mais preocupados. É com os outros três quartos das pessoas deste planeta, a quem não sou intimamente ligado, que não são brancas, são pobres e vivem hoje uma situação difícil. O paradoxo é que a ONU espera que todos enriqueçam. Os filhos dos meus primos estarão entre quatro e oito vezes mais ricos no fim do século. As pessoas nos países em desenvolvimento estarão 35 vezes mais ricas. A média das pessoas em Bangladesh não será pobre em 2100, mas classe média alta. Ou seja, estamos pensando em ajudar pessoas que serão ricas daqui a 100 anos, mas deixando de ajudar as pessoas pobres que estão aqui agora, hoje. Esse é, para mim, o grande dilema ético: nós nos importarmos tanto com os ricos do futuro e tão pouco com os pobres do presente.

O senhor pode dar um exemplo?
O caso dos países insulares é claro. Se você olhar para Tuvalu, que tem 12 000 habitantes e pode desaparecer, verá que as pessoas de lá não vão sumir. Elas terão de se mudar, o que será triste. Mas é curioso lembrar que a cada sete horas e meia um número equivalente de pessoas morre no mundo em decorrência de doenças infecciosas facilmente curáveis. São cerca de 15 milhões de pessoas que morrem desta maneira todo ano no mundo. As pessoas de Tuvalu terão apenas de se mudar. Para mim, é muito curioso que estejamos gastando tanto dinheiro para ajudar as pessoas de Tuvalu e fazendo tão pouco pelas 12 000 que morreram nas últimas sete horas e meia. Fala-se muito em aquecimento global. Mas as pessoas de verdade têm problemas mais urgentes. A maioria das pessoas nos países em desenvolvimento, ou três quartos da população mundial, quer saber como vão sobreviver até a semana que vem.

O que se pode esperar das decisões tomadas na conferência?
Quando 120 líderes se reúnem, eles não podem não fazer um acordo, em torno de números que soam agradáveis. O problema é que não conseguiremos cumpri-lo. Faremos um lindo documento, todos vão brindar com champanhe, depois vão para casa, e nada vai acontecer. Vem sendo assim nos últimos dezoito anos. Não cumprimos o que foi acertado no Rio de Janeiro em 1992. Em Kioto, houve um compromisso legalmente assumido, no qual se prometeu cortar ainda mais, e ainda nada foi feito. Acreditar que Copenhague será diferente me parece uma fantasia política.

1579) Caio Prado Junior, revisto e rejeitado...


Latifúndio
Um engenho de cana, retratado pelo pintor alemão Rugendas: nem toda a economia era voltada para a exportação

Livros
O elo perdido
Jorge Caldeira:
História do Brasil com Empreendedores
(SP: Mameluco, 2009, 336 p.)

Para Jorge Caldeira, a história brasileira do período colonial precisa ser recontada, para dar conta da existência de um mercado interno pujante e dominado por um personagem até hoje negligenciado: o empreendedor

Opostos que se tocam
O conservador Oliveira Vianna e o comunista Caio Prado Jr.: nos livros do primeiro, e não em Marx, o autor de Evolução Política do Brasil teria encontrado ideias fundamentais de sua obra

O novo livro do historiador Jorge Caldeira, História do Brasil com Empreendedores (Mameluco; 336 páginas; 49 reais), tem vocação para pôr em rebuliço, como fazia tempo não se via, os intelectuais nativos. Ele assesta os seus canhões contra um dos monstros sagrados de nossas ciências sociais, Caio Prado Jr. (1907-1990), celebrado como pioneiro do uso do marxismo na interpretação do país. Não há motivação ideológica nessa crítica. Não se trata de lançar ao chão, pelo gosto de fazê-lo, um ícone da intelligentsia de esquerda. O que irrita Caldeira é a percepção de que a avassaladora influência de Caio Prado tornou impossível enxergar a importância que os empreendedores tiveram, desde a colônia, na formação da economia e da sociedade brasileiras (a palavra empreendedor, aqui, não aponta apenas para os casos de sucesso, mas, como diz o autor, para "todos aqueles que tentaram"). Se fizesse apenas isso – demonstrar, com firmeza, como um conjunto de textos clássicos impede a adequada interpretação do passado –, o livro já seria de valor. Mas a releitura que Caldeira faz desses textos produz uma surpresa. Ele mostra que a armação teórica de Caio Prado deve muito menos ao marxismo que à obra de Francisco José de Oliveira Vianna (1883-1951). Caio Prado ocupa um lugar diametralmente oposto ao do conservador Oliveira Vianna no espectro político. A ideia de que existe uma ligação umbilical entre esses dois nomes é verdadeiramente iconoclasta.

Caio Prado Jr. é um personagem intrigante: um militante do Partido Comunista Brasileiro que nasceu no seio de uma das mais ricas e poderosas famílias brasileiras do começo do século XX. Sua conversão ao comunismo se deu em algum momento nos primeiros anos da década de 30. Em 1933, ele publicou Evolução Política do Brasil, considerado o marco zero da abordagem marxista da história brasileira. Mostrar mais precisamente como o método marxista é empregado nessa obra, no entanto, sempre levou os especialistas a contorcionismos. Na verdade, diz Caldeira, qualquer tentativa nesse sentido só pode dar com os burros n’água. À época em que escreveu Evolução Política do Brasil, Caio Prado ainda tinha um conhecimento rudimentar do marxismo. Caldeira documenta isso consultando, inclusive, os arquivos pessoais de Caio Prado, hoje depositados na Universidade de São Paulo. A tese de que Oliveira Vianna serviu de inspiração ao jovem historiador, por outro lado, não se ampara somente no fato de que ambos circulavam na mesma roda nessa época. Ela ganha incrível consistência quando o livro de Caio Prado é lido em paralelo com Evolução do Povo Brasileiro, de Oliveira Vianna. Caldeira contrapõe dez trechos dos dois livros. Não apenas as semelhanças de raciocínio são espantosas, como também aparece ali, em toda a sua glória, o conceito de latifúndio, fundamental para a argumentação de Caio Prado.

O marxismo prega que as relações sociais devem ser explicadas a partir de suas bases materiais. Foi para cumprir essa tarefa que Caio Prado lançou mão do conceito de latifúndio agroexportador. Em torno dele se organizariam a economia e a sociedade brasileiras. A lógica de funcionamento do latifúndio, durante o período colonial, seria tão somente transferir riqueza para a metrópole. Por causa dessa orientação para fora, o latifúndio teria abortado o desenvolvimento de um mercado interno pujante no Brasil. Quanto aos homens que não desempenhavam um papel crucial em seu ciclo de vida – ou seja, todos aqueles que não eram nem senhores nem escravos –, eles não constituiriam mais que uma massa amorfa e desorientada.

Caldeira afirma que esses dois corolários da teoria de Caio Prado simplesmente não condizem com a realidade. Para isso, aponta os resultados de uma série de estudos recentes que provam que o mercado interno brasileiro não era apenas pujante: ele era maior e mais dinâmico do que o setor voltado para a exportação; por volta de 1800, representava algo em torno de 84% do total da economia. Mas, para que se possa começar a entender a existência e o funcionamento desse mercado, é preciso aceitar a existência de um novo personagem na história – o empreendedor, disposto a buscar a fortuna nas trocas com outros homens. A segunda parte do livro de Caldeira é toda dedicada a explorar a miríade de relações contratuais em que os homens livres do Brasil colônia se engajavam cotidianamente, e eram capazes de produzir meios não apenas de subsistência, mas também de acumulação de riqueza. É assim que se fecha o raciocínio deste livro vigoroso e desassombrado – que terá, para muitos, um sabor de heresia.

1578) Tocqueville de novo em missao: De la Democratie au Bresil


Quase isso: não sei bem como ou por que, mas o fato é que Tocqueville foi contratado pelo Banco Mundial para fazer aquilo que os americanos chamam de fact finding mission, ou seja, uma missão de prospecção e diagnóstico sobre um dado problema. Qual o problema?
O Brasil, um problemão...
O coitado do Tocqueville saiu daqui meio desanimado.
Em todo caso, você também pode saber por que...

Veja meu trabalho mais recente publicado:

Paulo Roberto de Almeida:
De la Démocratie au Brésil: Tocqueville de novo em missão
Espaço Acadêmico
(ano 9, n. 103, dezembro 2009, p. 130-138; ISSN: 1519-6186;
link: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/8822/4947).

1577) Mercosul: uma análise dos seus primeiros dez anos


Descobri, ou redescobri, que o INTAL, Instituto de Integração da América Latina, uma entidade financiada pelo BID, com sede em Buenos Aires, disponibiliza pela internet um antigo trabalho meu que tinha sido editado graças aos bons préstimos do amigo Uziel Nogueira.
Foi escrito numa fase ainda relativamente otimista quanto ao futuro do Mercosul. Desde então, as perspectivas do bloco se deterioraram sensivelmente, e continuam a se deteriorar, não por culpa minha obviamente (mas a minha análise não tem nada de complacente, como poderão constatar aqueles que desejarem conferir).
Para o arquivo do livro, siga o roteiro:

Almeida, Paulo Roberto de:
MERCOSUL em sua primeira década (1991-2001): Uma avaliação política a partir do Brasil
(Buenos Aires: INTAL, 2002, 64; ISBN: 950-738-123-6; INTALITDSTA_DD_14_2002; link: http://www.iadb.org/intal/aplicaciones/uploads/publicaciones/p_INTALITDSTA_DD_14_2002_deAlmeida.pdf)

Análisis de la evolución y de los principales problemas a través de los primeros once años de construcción del proceso integracionista en el MERCOSUR, con énfasis en su flexibilidad y adaptación a las corrientes económicas y políticas de los países miembros del bloque, su estructura institucional, su rol como garante de la estabilidad democrática de la región, sus principales desafíos externos (entre los cuales el ALCA parece ser el más importante) y el período de crisis que se manifiesta desde 1999. Una cronología anual desde 1986 informa sobre las principales decisiones adoptadas dentro del MERCOSUR.

Fuente: http://www.iadb.org/intal/detalle_publicacion.asp?idioma_pub=por&tid=8&idioma=esp&pid=73&cid=234

1576) Zelaya na Embaixada do Brasil em Honduras: alguem ainda se lembra?

Transcrevo primeiro a notícia, depois agrego um comentário pessoal...

Zelaya ficará na embaixada brasileira em Honduras ao menos até janeiro
da Efe, em Tegucigalpa
da Folha Online, 19/12/2009

A Frente Nacional de Resistência Popular de Honduras, que exige a volta ao poder do presidente deposto Manuel Zelaya, disse neste sábado que o líder não sairá da Embaixada Brasileira em Tegucigalpa antes de 27 de janeiro.
"Com essa atitude dos golpistas de não querer largar o poder, não acreditamos que o presidente Zelaya saia antes de 27 de janeiro, nem que ele se preste a isso só para legalizar a cerimônia da transferência de poder", afirmou o secretário-geral da Frente Nacional de Resistência Popular contra o Golpe de Estado, Juan Barahona.
O presidente interino, Roberto Micheletti, reiterou nesta semana que entregará o poder em 27 de janeiro a Porfirio Lobo, presidente eleito em 29 de novembro passado.
"Levar o presidente Zelaya em 27 de janeiro ao Estádio Nacional (à transferência de poder) burlar o povo hondurenho", disse Barahona, que reiterou que a Frente Nacional de Resistência Popular exige "sua libertação da embaixada" do Brasil "o mais rápido possível".
Segundo ele, a Frente deve realizar neste domingo uma assembleia popular em Tegucigalpa para revisar o trabalho de organização em todo o país e seguir exigindo a restituição de Zelaya no poder.
A transferência de poder em 27 de janeiro, segundo Barahona, será ilegal, porque "o presidente Zelaya e a maioria da comunidade internacional não reconhecem as eleições".

Anistia
O Congresso hondurenho aceitou na terça-feira (16) a proposta de Lobo de estudar uma anistia a todos os envolvidos na deposição de Zelaya, em 28 de junho, e também para o presidente deposto.
O governo interino de Roberto Micheletti acusa Zelaya de ter tentado violar a Constituição ao insistir em um referendo popular que abriria o caminho para sua reeleição.
O Partido Nacional de Lobo e o próprio Partido Liberal de Zelaya e Micheletti acreditam que o presidente deposto pretendia se perpetuar no poder influenciado por seu aliado, o presidente venezuelano Hugo Chávez.
As eleições de novembro não foram reconhecidas por vários países latino-americanos liderados por Brasil, Argentina e Venezuela porque foram realizadas sob o governo interino, embora tenham sido convocadas antes da deposição de Zelaya. Mas contaram com a aprovação de EUA, Colômbia, Peru, Panamá e Costa Rica.
Zelaya tentou na semana passada ir para o México com um salvo-conduto, mas o governo interino voltou atrás e disse que ele só poderia deixar o país como exilado, algo a que o presidente deposto se negou, porque poderia significar a renúncia ao cargo.

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Meu comentário:

Curiosa frase do lider da resistencia zelayista:
"...disse Barahona, que reiterou que a Frente Nacional de Resistência Popular exige "sua libertação da embaixada" do Brasil "o mais rápido possível"."
Ops, nao sabia que Zelaya estava preso na Embaixada do Brasil.
Pensava que ele fosse apenas "hospede", o que quer que isso signifique...
Alguém vai precisar pagar a conta dessa hospedagem, ainda que seja em termos de água, eletricidade, limpeza, horas de trabalho perdidas, etc. Adivinhem quem será?
Aliás, nunca se fez a conta de quanto tempo foi perdido com uma dramaturgia digna do Casseta e Planeta...
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Paulo Roberto de Almeida

1575) Copenhage: um acordo vazio de significado

Transcrevo abaixo o "acordo" (duplas, ou triplas, aspas) que "saiu" (é o verbo) de Copenhage, sem qualquer significado para o planeta ou para o clima.
Não deveria representar nada, tampouco, para pessoas inteligentes, mas como acredito que pessoas inteligentes sempre se informam sobre tudo, mesmo sobre o que é praticamente irrelavente, mas politicamente importante (já que quase todo mundo acredita no festival de bobagens que nos foi servido pela imprensa nos últimos dias), ele vai transcrito aqui a título meramente informativo, já que nem pretendo comentar o que interpreto como total irrelevância para fins práticos...
Paulo Roberto de Almeida

Advance unedited version
Decision -/CP.15
The Conference of the Parties,
Takes note of the Copenhagen Accord of 18 December 2009.

Copenhagen Accord

The Heads of State, Heads of Government, Ministers, and other heads of the following delegations present at the United Nations Climate Change Conference 2009 in Copenhagen: [List of Parties]
In pursuit of the ultimate objective of the Convention as stated in its Article 2,
Being guided by the principles and provisions of the Convention,
Noting the results of work done by the two Ad hoc Working Groups,
Endorsing decision x/CP.15 on the Ad hoc Working Group on Long-term Cooperative Action and decision x/CMP.5 that requests the Ad hoc Working Group on Further Commitments of Annex I Parties under the Kyoto Protocol to continue its work,
Have agreed on this Copenhagen Accord which is operational immediately.
1. We underline that climate change is one of the greatest challenges of our time. We emphasise our strong political will to urgently combat climate change in accordance with the principle of common but differentiated responsibilities and respective capabilities. To achieve the ultimate objective of the Convention to stabilize greenhouse gas concentration in the atmosphere at a level that would prevent dangerous anthropogenic interference with the climate system, we shall, recognizing the scientific view that the increase in global temperature should be below 2 degrees Celsius, on the basis ofequity and in the context of sustainable development, enhance our long-term cooperative action to combat climate change. We recognize the critical impacts of climate change and the potential impacts of response measures on countries particularly vulnerable to its adverse effects and stress the need to establish a comprehensive adaptation programme including international support.
2. We agree that deep cuts in global emissions are required according to science, and as documented by the IPCC Fourth Assessment Report with a view to reduce global emissions so as to hold the increase in global temperature below 2 degrees Celsius, and take action to meet this objective consistent with science and on the basis of equity. We should cooperate in achieving the peaking of global and national emissions as soon as possible, recognizing that the time frame for peaking will be longer in developing countries and bearing in mind that social and economic development and poverty eradication are the first and overriding priorities of developing countries and that a low-emission development strategy is indispensable to sustainable development.
3. Adaptation to the adverse effects of climate change and the potential impacts of response measures is a challenge faced by all countries. Enhanced action and international cooperation on adaptation is urgently required to ensure the implementation of the Convention by enabling and supporting the implementation of adaptation actions aimed at reducing vulnerability and building resilience in developing countries, especially in those that are particularly vulnerable, especially least developed countries, small island developing States and Africa. We agree that developed countries shall provide adequate, predictable and sustainable financial resources, technology and capacity-building to support the implementation of adaptation action in developing countries.
4. Annex I Parties commit to implement individually or jointly the quantified economy-wide emissions targets for 2020, to be submitted in the format given in Appendix I by Annex I Parties to the secretariat by 31 January 2010 for compilation in an INF document. Annex I Parties that are Party to the Kyoto Protocol will thereby further strengthen the emissions reductions initiated by the Kyoto Protocol. Delivery of reductions and financing by
developed countries will be measured, reported and verified in accordance with existing and any further guidelines adopted by the Conference of the Parties, and will ensure that accounting of such targets and finance is rigorous, robust and transparent.
5. Non-Annex I Parties to the Convention will implement mitigation actions, including those to be submitted to the secretariat by non-Annex I Parties in the format given in Appendix II by 31 January 2010, for compilation in an INF document, consistent with Article 4.1 and Article 4.7 and in the context of sustainable development. Least developed countries and small island developing States may undertake actions voluntarily and on the basis of support. Mitigation actions subsequently taken and envisaged by Non-Annex I Parties, including national inventory reports, shall be communicated through national communications consistent with Article 12.1(b) every two years on the basis of guidelines to be adopted by the Conference of the Parties. Those mitigation actions in national communications or otherwise communicated to the Secretariat will be added to the list in appendix II. Mitigation actions taken by Non-Annex I Parties will be subject to their domestic measurement, reporting and verification the result of which will be reported through their national communications every two years. Non-Annex I Parties will communicate information on the implementation of their actions through National Communications, with provisions for international consultations and analysis under clearly defined guidelines that will ensure that national sovereignty is respected. Nationally appropriate mitigation actions seeking international support will be recorded in a registry along with relevant technology, finance and capacity building support. Those actions supported will be added to the list in appendix II. These supported nationally appropriate mitigation actions will be subject to international measurement, reporting and verification in accordance with guidelines adopted by the Conference of the Parties.
6. We recognize the crucial role of reducing emission from deforestation and forest degradation and the need to enhance removals of greenhouse gas emission by forests and agree on the need to provide positive incentives to such actions through the immediate establishment of a mechanism including REDD-plus, to enable the mobilization of financial resources from developed countries.
7. We decide to pursue various approaches, including opportunities to use markets, to enhance the cost-effectiveness of, and to promote mitigation actions. Developing countries, especially those with low emitting economies should be provided incentives to continue to develop on a low emission pathway.
8. Scaled up, new and additional, predictable and adequate funding as well as improved access shall be provided to developing countries, in accordance with the relevant provisions of the Convention, to enable and support enhanced action on mitigation, including substantial finance to reduce emissions from deforestation and forest degradation (REDD-plus), adaptation, technology development and transfer and capacity-building, for enhanced implementation of the Convention. The collective commitment by developed countries is to provide new and additional resources, including forestry and investments through international institutions, approaching USD 30 billion for the period 2010-2012 with balanced allocation between adaptation and mitigation. Funding for adaptation will be prioritized for the most vulnerable developing countries, such as the least developed countries, small island developing States and Africa. In the context of meaningful mitigation actions and transparency on implementation, developed countries commit to a goal of mobilizing jointly USD 100 billion dollars a year by 2020 to address the needs of developing countries. This funding will come from a wide variety of sources, public and private, bilateral and multilateral, including alternative sources of finance. New multilateral funding for adaptation will be delivered through effective and efficient fund arrangements, with a governance structure providing for equal representation of developed and developing countries. A significant portion of such funding should flow through the Copenhagen Green Climate Fund.
9. To this end, a High Level Panel will be established under the guidance of and accountable to the Conference of the Parties to study the contribution of the potential sources of revenue, including alternative sources of finance, towards meeting this goal.
10. We decide that the Copenhagen Green Climate Fund shall be established as an operating entity of the financial mechanism of the Convention to support projects, programme, policies and other activities in developing countries related to mitigation including REDD-plus, adaptation, capacity-building, technology development and transfer.
11. In order to enhance action on development and transfer of technology we decide to establish a Technology Mechanism to accelerate technology development and transfer in support of action on adaptation and mitigation that will be guided by a country-driven approach and be based on national circumstances and priorities.
12. We call for an assessment of the implementation of this Accord to be completed by 2015, including in light of the Convention’s ultimate objective. This would include consideration of strengthening the long-term goal referencing various matters presented by the science, including in relation to temperature rises of 1.5 degrees Celsius.

(zero...)
APPENDIX I
Quantified economy-wide emissions targets for 2020
Annex I Parties
Quantified economy-wide emissions targets for 2020
Emissions reduction in 2020
Base year
APPENDIX II
Nationally appropriate mitigation actions of developing country Parties
Non-Annex I
Actions
(zero...)

Pela transcrição: Paulo Roberto de Almeida (20.12.2009

sábado, 19 de dezembro de 2009

1574) O Brasil precisa decidir o que quer ser...

Um crônica que deveria ser engraçada, mas pode ser patética, segundo o ponto de vista...

Urubu ou faisão?
NELSON MOTTA
O Globo, 19.12.2009

O Brasil precisa decidir: se é mesmo uma potência emergente, o fenômeno econômico do momento, o último a entrar e o primeiro a sair da crise, se tem todo esse pré-sal para explorar, se quer falar de igual para igual com os gringos de olhos azuis, na hora de contribuir para o Fundo Ambiental tem que estar disposto a fazer um aporte de acordo com sua riqueza e poder — e não continuar no bloco das vítimas e oprimidos.

Temos que escolher: ou somos os novos salvadores da humanidade com nosso etanol, nossa superprodução de energia limpa e renovável, sustentável e admirável, ou somos os árabes do futuro com nossas reservas de petróleo no pré-sal — e a certeza de sua poluição massiva. As duas opções ao mesmo tempo não dá, mesmo que Lula se diga uma metamorfose ambulante, gringo não entende o humor de Raul Seixas.

Não dá para, conforme a situação, o Brasil querer ser do G-12 ou do G77, agir como potência ou como vítima.

Lula pode ser o cara, mas na hora dos acordos que vão custar caro a seus contribuintes, os japoneses, americanos e europeus mostram por que eles são eles e nós somos nós.

A obsessão de colocar nádegas brasileiras na cadeira de membro (epa! nádegas de membro?, deve ser influência do estilo Lula de oratória) do Conselho de Segurança da ONU, além do aparente prestígio e ilusório poder — o que pode o Brasil contra um veto americano, chinês ou russo? — implica em um comportamento de potência, de rico, sempre chamado a dar dinheiro às nações carentes, e eventualmente até a enviar tropas para zonas de conflito.

Sai caríssimo para os contribuintes.

Se não conseguimos resolver sequer a falta de esgoto, de água, de escolas e de hospitais para milhões de brasileiros, a corrupção endêmica e impune de nossos políticos, a criminalidade urbana galopante, o que temos a oferecer aos pobres do mundo? Um Bolsa Família pago pelos contribuintes dos países ricos? Ricos como nós ou como eles? Mas não foram eles que se ferraram com a crise? Não fomos nós que nos demos bem? Fica parecendo que o Brasil, em linguagem lulista, come urubu e arrota faisão. Ou vice versa.

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