quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

1611) Livros: um crime contra os leitores, um atentado à leitura

Como leitor compulsivo de livros, compro os livros que desejo, mas não deixo de achar os livros brasileiros abusivamente caros (sempre recomendo aos meus alunos que comprem os originais de livros estrangeiros na rede de sebo eletrônico abebooks.com, onde eles podem achar bons livros, quase novos, por 4 ou 5 dólares; mesmo pagando frete, sai mais barato que os brasileiros, geralmente acima de 60 ou 70 reais).
Pois bem, o governo quer cometer mais um atentado contra o nosso bolso e um crime contra a leitura no Brasil, ao encarecer um pouco mais a cadeia produtiva do livro, por meio de um novo imposto. Isso para dar mais emprego a burocratas governamentais, saindo sabe-se bem de onde e de que partido...
Transcrevo o artigo de um comentarista indignado, como eu, com esse encarecimento do preço do livro, que ao fim e ao cabo não vai estimular a leitura (quem acredita nisso, acredita que burocratas governamentais sabem fazer as pessoas lerem...) e vai apenas fazer diminuir o mercado de livros no Brasil.
Espero que o Congresso envie o projeto para a lata de lixo (mas duvido que isso aconteça, conhecendo nossos parlamentares).
Paulo Roberto de Almeida

O FUNDO PRÓ-LEITURA (PRA: deveria ser o contrário: um sorvedouro anti-leitura)
Nivaldo Cordeiro: um espectador engajado
24 de dezembro de 2009

Deverá ser enviado para trâmite no Congresso Nacional mais um monstrengo destinado a mamar na renda dos brasileiros e destinado a ser privatizado por grupos de pressão caçadores de recursos orçamentários. Refiro-me ao Fundo Pró-Leitura. Vejamos o que está escrito na minuta do projeto de lei: “Institui o Fundo Setorial de Livro, Leitura e Literatura – Fundo Pró-Leitura, cria a Contribuição de Intervenção de Domínio Econômico do Fundo Pró-Leitura e dá outras providências”.

A forma jurídica para a criação da receita é instituir uma Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico (CIDE) sobre o faturamento das editoras de livros. A brincadeira, se aprovada, vai gerar R$ 57 milhões de reais por ano, para que burocratas dedicados à causa difusa da leitura possam dispor, ao seu arbítrio, dos recursos. Devemos lembrar que impostos sobre as vendas se revestem de caráter altamente regressivo, concentrador de renda, e de nefasto efeito em cascata. Empobrecem não apenas os produtores (os editores), mas também o consumidor, que terá que arcar com o ônus. Cálculos mostram que um tributo de 1% sobre o faturamento, na ponta final, se transforma em arrecadação de 2,1% pelo efeito cascata, uma extorsão.

O setor editorial vem de amargar queda sucessiva na quantidade de exemplares vendidos, da ordem de 19% desde 1998. Da mesma forma, a receita real do setor também involiu. Instituir imposto sobre uma atividade em crise é um contra-senso. O formato do livro tradicional está sofrendo feroz ataque de outras formas de transmissão de conhecimento, particularmente dos modernos meios informatizados disponibilizados pela internet. Esse processo tende a se agravar nos próximos anos. A crise do setor é estrutural. Gravá-lo com mais impostos não faz sentido.

Argumentar que o setor foi desonerado do PIS/COFINS e que, portanto, poderia arcar com o ônus é uma tese absurda. Constitucionalmente a atividade editorial tem imunidade tributária e a cobrança do PIS/COFINS não passava de uma afronta à ordem constitucional. As contribuições nunca foram devidas pelo setor editorial. Fazer da nova CIDE uma contrapartida da suposta bondade pelo cumprimento da imunidade tributária é má fé. Não houve bondade alguma, apenas a correção de uma flagrante injustiça, revestida de total ilegalidade.

A posição conciliadora da vontade do governo com os interesses dos editores foi expressa por Sonha Machado Jardim, em artigo assinado no Estadão, publicado no último dia 23 de julho. Sonia é a presidente do SNEL – Sindicato Nacional do Editores de Livros. Sua proposta é simples: para a criação do Fundo, que se ponha contrapartida equivalente de recursos pelo governo. É claro que não elide o fato de que o setor está sendo roubado, mas ao menos dá uma satisfação aos que fazem parte do setor, manifestando no gesto o engajamento dos burocratas governamentais com a nobre causa do livro.

É difícil hoje em dia um sindicato patronal se colocar de forma contrária a uma vontade governamental. O poder de Estado pode ser esmagador. Então é preciso compreender o conformismo do SNEL diante da iminente injustiça como a posição de um refém diante do algoz. Evidentemente que a disposição do governo de colocar recursos orçamentários no Fundo é nenhuma e a tramitação do projeto de lei deve ignorar solenemente o pensamento dos produtores de livros.

1610) EUA: como o governo engole a economia (o do Brasil ja engoliu)

How the Government Is Swallowing the Economy
Rick Newman
U.S. News and World Report, November 9, 2009

Rick Newman
The global economy is mysterious, even scary. Chief Business Correspondent Rick Newman connects the dots. In addition to his writing for U.S. News, Rick is the co-author of two books: Firefight: Inside the Battle to Save the Pentagon on 9/11, and Bury Us Upside Down: The Misty Pilots and the Secret Battle for the Ho Chi Minh Trail. (flowchart@usnews.com)

You know about the bailouts, the stimulus plan, cash for clunkers, and moola for mansions. But for all the anxiety they've caused, those government giveaways are just a tiny part of a mushrooming problem.

By one measure, the government already plays an outsize role in our so-called free-market economy—and it has little to do with the recession. Economist Gary Shilling has calculated that 58 percent of the population is dependent on the government for "major parts of their income," including teachers, soldiers, bureaucrats, and other government employees; welfare and Social Security recipients; government pensioners; public housing beneficiaries; and people who work for government contractors. By 2018, Shilling estimates, an astounding 67 percent of Americans could be dependent on the government for their livelihood. The implications aren't comforting.

[See 4 problems that could sink America.]

Tea-party ranters might cite this as evidence of liberal policies run amok, but the growing-government phenomenon transcends party politics. In 1950, the starting point for Shilling's analysis, just 29 percent of the nation depended on government for its income. By 1980, that had risen to 61 percent—higher than it is today—thanks to demographic factors and the needs of a changing nation. The military got larger and defense spending grew as America took up its role as a superpower. Baby boomer kids required many more schoolteachers. The number of Americans receiving payouts from Social Security, enacted in 1935, increased 10-fold. Food stamps and other safety-net programs of the 1960s and '70s began to reach millions of Americans.

From 1980 to 2000, Americans became less dependent on government. California and other states cut their budgets and reduced spending. The military got smaller after the Cold War ended. Welfare reform in the 1990s kicked many people off the dole. And the private sector boomed during those two decades, accounting for a larger share of the labor force. By 2000, the portion of the population dependent on government had drifted down to 54 percent.

But it reversed course after that, and it seems poised to keep going up. The size of government has generally held steady since 2000, but globalization, technology, and other factors have led to weak private-sector job creation over the past decade. And that was before the recession destroyed more than 8 million jobs. So the government has employed an increased share of Americans. The other big change since 2000 has been a near tripling of food-stamp recipients, as low earners got left out of the housing and stock-market booms and then suffered worse during the recession.

[See 9 signs of America in decline.]

The next big shift will come as baby boomers begin to retire, boosting the number of Social Security recipients 27 percent by 2018 and threatening the solvency of the program. Shilling has another dire prediction: Economic growth will be so weak for the next several years that without government support, the unemployment rate will rise to 23 percent in 2018. Since that's politically intolerable, government will continue to spend money to create jobs, he predicts, with nearly 25 million additional Americans employed as a direct outcome of government spending by 2018.

If that happens, more than two thirds of the nation will owe their livelihood to the government, which is unsustainable for a number of reasons. It will require federal deficits far larger than the $1.4 trillion bogy we've got now, which is already alarmingly high. If irate voters don't rein in America's debt binge, market forces will, perhaps because foreigners will stop lending us the money or the rates they demand will rise and effectively bankrupt the country. Higher taxes would help solve the problem—and are probably inevitable—but enacting them on rich people alone won't be enough. At some point not too far off, the U.S. government will have to close the vast gap between its income and its spending, and the pain will be widespread.

[See why stocks are surging as jobs disappear.]

Some economists are more optimistic than Shilling, with stronger projections for economic growth that might eliminate the government's need to create 25 million new jobs. But rosier scenarios are taking their time to materialize. The unemployment rate has soared to 10.2 percent, a 26-year high, with no indication that companies will start hiring again anytime soon. So instead of restraint by government, Congress and President Obama have extended housing subsidies and unemployment insurance, cut taxes on struggling companies, and even made plans to send a $250 check to every senior citizen, just as a nice gesture. Americans who can get in on this bonanza should get theirs while they can. Sooner or later, the door is going to slam shut.

=============

Comments:

Obviously, as more and more people are either directly or indirectly dependant on the government for thier employment, they will vote themselves more and more. Of course the politicians will respond accordingly and at some point we will see a *real* collapse of our economy.
Prediting when or how isn't so easy, but since there is no damping of the feedback loop, it is a certainty.
The only potential fix that I can see is scaled voting rights.
Jeff of CA @ Dec 04, 2009 14:48:12 PM

Tiana
Excuse me, "If the 'deficit' was getting smaller and smaller..."
I meant to say.
...and speaking of --
A 'budget deficit' means the opposite: Spending > Revenue.
What you're actually referring to is the 'federal debt'...
There was no cooking of the books. Even when using an 'accrual counting method', I believe it's called, the numbers still add up.
I'm not trying to be a smart-ass know-it-all or mean and nasty but I thought a little clarification was needed.
...and, overall, this is why I'd made reference to 'books' and 'bloggers'.
I KNOW that schpeal is coming straight from the mouth (or fingers) of some website.
I don't know understand why everyone acts as if 'random' people on the internet are the 'source' of all info.
...and it kills me, b/c half the ppl on the internet could be (and usually are) talking out of their a**es.
Sadly, people don't appear to read books anymore...so many of them hardly know the difference. SMH
There's too much of that and this should be a lesson: Do your own research. Come to your own conclusion and stop regurgitating 'what someone else said/typed'. I don't mind different opinions, but let them be your own...
Tiana of TX @ Dec 03, 2009 11:04:39 AM

Tiana
"JC you seem to have fallen for the tricks that the federal govt. plays with it's books. Looking at the official govt. numbers you will see that at NO TIME during the Clinton administration was the budget balanced. The budget deficit was indeed getting smaller but it still existed. "
Well, for one, a budget surplus simply means that revenue is higher than spending...doesn't mean that the books are 'balanced'. And if 'the budget was getting smaller and smaller' (using your words) that implies that there was a surplus.
Secondly --> http://www.factcheck.org/askfactcheck/during_the_clinton_administration_was_the_federal.html
...PLUS its already recorded as such in the history books. I think I'll believe them over some random blogger any day.
I suggest you do the same...
Tiana of TX @ Dec 03, 2009 10:47:09 AM

1609) Lula: personalidade do ano para o Le Monde

Lula, l'homme de l'année 2009
Eric Fottorino
Le Monde, 24 décembre 2009

Pour la première fois dans son histoire, "Le Monde" a décidé de désigner la personnalité de l'année.

Pour la première fois dans son histoire, Le Monde a décidé de désigner la personnalité de l'année. "Sa" personnalité de l'année. L'exercice pourrait paraître hasardeux ou galvaudé. Qui distinguer ? Selon quels critères ? Au nom de quelles valeurs ? Comment se différencier de grands et prestigieux confrères étrangers, tel l'hebdomadaire américain Time, qui nous a depuis longtemps devancés sur ce chemin en élisant sa "person of the year" ?

Nos discussions ont ainsi mis en lumière ce qui nous rassemble sous la bannière du Monde. Puisque, depuis soixante-cinq ans, le titre de notre journal est une invitation au regard planétaire, nous avons choisi une personnalité dont l'action et la notoriété ont pris une dimension internationale. Soucieux de sortir des choix obligés qui auraient pu nous porter vers le président des Etats-Unis, Barack Obama (mais il fut davantage l'homme de 2008 que celui de 2009), nous avons aussi écarté les personnalités "négatives", encore que leur action soit déterminante dans la nouvelle configuration mondiale : Vladimir Poutine et sa tentation-tentative de reconstituer l'empire soviétique; Mahmoud Ahmadinejad, dont chaque parole et chaque acte sont un défi à l'Occident.

Depuis sa création, Le Monde, marqué par l'esprit d'analyse de son fondateur, Hubert Beuve-Méry, se veut un journal de (re)construction, sinon d'espoir; il véhicule à sa manière une part du positivisme d'Auguste Comte, prend fait et cause pour les hommes de bonne volonté. C'est pourquoi, pour cette première désignation, que nous souhaitons désormais renouveler chaque année, notre choix de raison et de cœur s'est porté sur le président brésilien Luiz Inacio Lula da Silva, plus connu sous le simple nom de Lula.

Il nous a paru que par son parcours singulier d'ancien syndicaliste, par sa réussite à la tête d'un pays aussi complexe que le Brésil, par son souci du développement économique, de la lutte contre les inégalités et de la défense de l'environnement, Lula avait bien mérité… du monde.

===========

Commentaires des lecteurs:

Nassim A.
24.12.09 | 14h59
Un défi permanent à l'Occident est négatif car cela n'apporte absolument rien de constructif. Ahmadinejad n'a rien fait pour le peuple iranien, pour la démocratie et l'égalité dans son pays (bien au contraire). Il n'a participé à aucune avancée ou discussion internationale sérieuse ne concernant pas son pays, notamment par rapport au Liban où il a clairement un rôle à jouer, préférant narguer le monde avec l'éternel débat nucléaire, Israel... Je ne vois pas où trouver du positivisme!

Gribouillette
24.12.09 | 14h56
Evo morales aurait été un choix plus judicieux et moins révérencieux.

MICHEL S.
24.12.09 | 14h52
Lula et son "souci du développement économique". Pour ça oui mais en faisant quoi ? Arrêt de la déforestation ? faux. Il continue de laisser faire largement les coupables. La lutte contre les inégalités ? du bout des lèvres, pour ne pas choquer les grands propriètaires terriens. Et ne parlons pas du déchaînement de la production de nécro-carburants à grands coups de destruction de ressources alimentaires et de production d'OGM. Vraiment, pas de quoi en faire un héros mondial ...

Tatiana M.
24.12.09 | 14h13
Je suis brésilienne et je ne suis pas d'accord avec ce choix! Il y a encore ici beaucoup de contradictions et corruption.

Georges D.
24.12.09 | 13h57
Bienheureux brésiliens qui ont élu un véritable homme d'état.

Josua
24.12.09 | 13h52
Un homme admirable quio travaille sans relâche et sans compromis pour tous les rapprochements. N'oublions pas Cardoso qui est aussi à l'origine de la croissance actuelle et géométrique du Brésil. Lula loin de s'enfermer profite de la nouvelle grandeur de son pays pour s'engager dans le monde dans des choix courageux, à Copenhague il fut sans doute le seul à proposer une avancée réelle

Kevin S.
24.12.09 | 12h57
"Personnalité négative" ? Ce sont les personnalités qui refusent la dictature de la toute-puissance de l'Occident ? Bravo Eric de nous jouer à nouveau le choc des civilisations...

Pierre B.
24.12.09 | 12h48
Bravo pour cette initiative du Monde. Félicitations pour votre choix. Lulla incarne pour moi l'homme politique nouveau qui sait d'ou il vient et sait peut être vers quoi il faut aller. Cela me réconcilie un peu avec le Monde dont les orientations et les articles pendant l'année écoulée m'ont déçus Au point ou encore ce matin je me posai la question de savoir si je maintenai mon abonnement.

antoine m.
24.12.09 | 12h46
Le choix aurait put être plus argumenté

Jean-Pierre B.
24.12.09 | 12h36
D'accord!

euplagia
24.12.09 | 12h35
En quoi un "défi à l'Occident" est-il nécessairement négatif ?

Christophe B.
24.12.09 | 12h25
C'est un choix judicieux et représentatif: le Brésil a bien changé ces dernières années, on y vit mieux, et il n'est plus question de lui contester son titre de première puissance sud-américaine. J'y vais régulièrement pour affaires et l'évolution est très nette, au contraire de l'Argentine des Kirchner par exemple.

Bruno B.
24.12.09 | 12h01
Je partage ! Il faut mettre en valeur les hommes de bonne volonté...

L.Leuwen
24.12.09 | 12h01
Excellent choix.

OMER
24.12.09 | 12h00
Pourquoi pas effectivement beaucoup de qualités pour Lula ( que l'on a beaucoup vu bras dessus bras dessous avec notre agité national de président) ? Mais la starification, la personnalisation de la vie politique , le volontarisme d'un tel ou d'un tel , les "gens d' en haut" occupent déjà l'espace cathodique dans tout genre d' émissions . Pourquoi contribuer un tant soi peu à différencier les personnalités des peuples ? Combien d'anonymes passés sous silence ?

OLIVIER G.
24.12.09 | 11h41
" prend fait et cause pour les hommes de bonne volonté" Continuez !

1608) Crise financeira: a boa e a verdadeira explicacao de suas causas

Todo mundo acha que a crise financeira que se abateu sobre nossas cabeças como aqueles deuses gauleses sempre temidos pelo Asterix e Obelix representam uma falha do capitalismo. Pode até ser, e assim sintética, curta e grossa, a explicação para a crise fica compreensível, é simpática e agrada a (quase) todo mundo, sobretudo a certas escolas de economistas.
A mim não me convence, e sobre ela escrevi vários trabalhos ao longo de 2008 e 2009 (inclusive neste blog). Pois bem, este diretor do Instituto Adam Smith de Londres também acha que esse simplismo todo não é justificado, e escreveu este ensaio, que a despeito de longo, merece ser lido e servir como base de reflexão e aprendizado.

Crise financeira: culpe os governos, não os banqueiros
Eamonn Butler
Eamonn Butler é diretor do Adam Smith Institute, em Londres.
20 de Dezembro de 2009 - site Ordem Livre

A história popular sobre a crise do crédito é contada da seguinte forma.
Era uma vez um grupo de banqueiros gananciosos, a maioria nos EUA, que fizeram fortunas vendendo hipotecas a pessoas pobres que, na verdade, não tinham condições honrá-las. Eles sabiam que esses empréstimos eram de risco, então eles os fatiaram e os venderam em pacotes ao redor do mundo para outros banqueiros gananciosos que não sabiam o que estavam comprando. Quando a bolha da habitação estourou, os mutuários se omitiram e os banqueiros descobriram que o que eles tinham comprado não tinha valor algum. Eles faliram, os empréstimos secaram e a economia parou. A moral da história, de acordo com essa descrição dos eventos, é que o capitalismo falhou e que precisamos de regras mais duras para frear a ganância dos banqueiros e para ter certeza de que isso nunca mais vai acontecer.

A história é popular porque há muita verdade nela. A crise realmente começou nos EUA. Os mutuantes americanos realmente emprestaram para pessoas que não eram confiáveis, e de fato venderam em pacotes os seus maus negócios “sub-prime”. Outros banqueiros realmente compraram esses pacotes infectados e realmente ficaram sem dinheiro. E, sim, houve muita ganância e estupidez dentro das empresas comerciais.

O que está faltando na história, entretanto, é o fato de que todos esses crimes, loucuras e infortúnios derivam da ação do governo. Suas causas são intervenções políticas nos mercados bancário e de hipotecas; extravagância sem controle das autoridades monetárias oficiais, e legisladores sem foco e ineptos.

As profundas raízes da crise
A verdadeira história tem raízes lá na última grande crise financeira, a Grande Depressão da década de 1930. O crédito estava apertado; hipotecas eram difíceis de se obter, os imóveis não estavam vendendo e a indústria da construção estava em colapso. Então, o governo interviu para tentar reviver o mercado e encorajar a confiança dos mutuantes.

Várias novas agências foram criadas, entre elas, o Administração Federal de Habitação (Federal Housing Administration — FHA), que garantia os riscos dos financiamentos dos bancos, e a Associação Nacional Federal de Hipotecas (Federal National Mortgage Association — FNMA ou Fannie Mae), que na prática assegurava as hipotecas estando preparada para comprá-las dos mutuantes. Essas garantias federais transferiram o risco dos mutuantes — principalmente as instituições de poupança e empréstimo (P&E, semelhantes às sociedades de negócios britânicas) — aos contribuintes americanos.

O governo dos Estados Unidos também interveio profundamente nas operações dos mutuantes. O Ato Glass-Steagall, de 1933, permitiu ao Federal Reserve estabelecer limites sobre as taxas que os bancos poderiam pagar aos seus depositantes (Regulamento Q). Os P&Es se beneficiaram porque eles não tinham tais limites. Mas os P&Es estavam, também, restritos ao mercado das hipotecas de longo prazo; assim, ficavam na posição potencialmente arriscada de se comprometer a financiar empréstimos de 30 anos enquanto seus poupadores poderiam mover seus depósitos em um curto prazo.

Aumentos agudos e voláteis nas taxas de juros no final dos anos 1960 e início dos anos 1970 significam que os P&Es de fato enfrentaram dificuldades quando os depositantes retiraram seu dinheiro para colocar em poupanças que pagavam uma taxa de juros maior. No início dos anos 1980, os S&Ls estavam tecnicamente insolventes. O Congresso desregulamentou, mas muito tarde: em 1995 o número de S&Ls tinha diminuído para apenas 1.645. Duas outras criações do governo dos anos 1930, o Federal Savings & Loan Insurance Corporation (FSLIC) e o Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), pegaram a conta, a um custo de 150 bilhões de dólares aos contribuintes americanos.

Essa longa lista de intervenções do governo fez com que o mercado de financiamento parasse de funcionar corretamente. A competição estava restringida. As regulamentações impediram as instituições de se adaptarem às condições de mercado. Empréstimos ruins e más decisões administrativas foram subscritas pelos contribuintes.

Como os políticos forçaram os banqueiros a conceder empréstimos ruins
O ingrediente final desse coquetel venenoso foi o Ato de Reinvestiment na Comunidade (Community Reinvestment Act — CRA), que o Presidente Jimmy Carter assinou em 13 de outubro de 1977. Seu objetivo era louvável — promover a aquisição da casa própria para as minorias. Ele tornou ilegal a prática do redlining, na qual os mutuantes simplesmente recusavam hipotecas para áreas pobres (geralmente bairros negros e hispânicos) porque os moradores locais não eram tão atraentes como mutuários devido às suas moradias de baixa qualidade e seus altos níveis de desemprego e de dependência dos programas governamentais.

A partir de então, esperava-se que os mutuantes fizessem negócios em toda a área geográfica que serviam. Eles não poderiam favorecer as partes mais ricas em detrimento das mais pobres. Para ter certeza de que eles assim faziam, o Ato de Divulgação das Hipotecas Imobiliárias (Home Mortgage Disclosure Act — HMDA), de 1975, forçou os mutuantes a fornecer relatórios detalhados sobre as pessoas a quem eles estavam emprestando. E o governo Carter também fundou vários grupos "da comunidade”, como a Associação de Organizações Comunitárias pela Reforma Já (Association of Community Organisations for Reform Now — ACORN), para ajudar a monitorar seu desempenho com as regras do CRA.

Em 1991, as regras do HMDA foram fortalecidas para incluir uma exigência específica pela igualdade raciall nas instituições de empréstimo. Em 1992, o Federal Reserve Bank of Boston publicou um manual para mutuantes que foi ainda mais longe. O manual aconselhava que a falta de histórico de crédito para aqueles que requeriam o financiamento não deveria ser vista como um fator negativo na sua avaliação para um empréstimo; que os mutuantes não deveriam recuar se os mutuários usassem empréstimos ou doações para o depósito inicial; e que o seguro-desemprego seria uma fonte válida de renda para as decisões de empréstimo. O manual também os lembrava que não cumprir os regulamentos do CRA poderia ser uma violação das leis de igualdade de oportunidade, o que exporia as instituições a indenização por danos materiais e morais de US$500.000.

O governo foi ainda mais longe, “racionalizando” os regulamentos do CRA 1995 para permitir, e de fato forçar, que os mutuantes ignorassem a maioria dos critérios tradicionais para decidir se concederiam ou não o empréstimo. Os financiamentos poderiam, agora, ser qualquer múltiplo da renda; o histórico de poupanças das pessoas era irrelevante; a renda dos requerentes não precisava ser verificada; e a participação em programas de aconselhamento de crédito poderia ser considerada prova da capacidade do requerente de administrar um empréstimo. Em outras palavras, o governo estava agora forçando as instituições a conceder empréstimos a pessoas que eles sabiam não iriam honrá-los.

E para ter certeza de que isso aconteceria, mais dinheiro dos contribuintes foi dado para grupos de monitoramento como o ACORN. Conforme aumentava o escrutínio público das fusões e aquisições dos bancos, após a desregulamentação Riegle-Neal, de 1994, esses grupos foram realmente capazes de manter os bancos como reféns. Sob o CRA, se um mutuante quer mudar de alguma maneira a sua operação de negócios — fundindo com outro banco, abrindo ou fechando ramos, ou desenvolvendo novos produtos —, ele deve convencer o regulador de que continuará a fazer empréstimos suficientes aos grupos de mutuários preferidos do governo. O ACORN e outros podem requerer petições junto com os reguladores para parar os planos dos bancos.

Maus empréstimos e os mercados em expansão
Não surpreendentemente, os bancos pagaram o resgate. E agora que a solvibilidade não era mais um requisito para se conseguir um empréstimo, o número de empréstimos de risco aumentou. Aumentou de 65% para 69% entre 1995 e 2004 a percentagem de casas que eram propriedade de seus moradores, representando um número em torno de 4,6 milhões de novos proprietários. Isso pressionou os preços das habitações, que também se elevaram bruscamente de sua posição estável no início dos anos 1990.

Enquanto isso, uma lei de 1992 que empurrava o Fannie Mae e seu gêmeo mais jovem, a Companhia Federal de Hipotecas sobre Casas (Federal Home Loan Mortgage Company — Freddie Mac), a empregar mais esforços para concretizar os objetivos mais amplos quanto à aquisição da casa própria. Havia empréstimos de alto risco por toda a parte. Até o FHA deu mais créditos aos mutuários pobres ao oferecer empréstimos de depósito baixo. E o Freddie Mac é que na verdade desenvolveu o processo de titularizar o pacotes de maus empréstimos e vender esses débitos ruins pelo mundo. Esse negócio se expandiu após 1995, também.

Fannie e Freddie lucraram com esse sistema, passando a maior parte dos riscos para os contribuintes. Para garantir, eles contribuíram pesadamente para escritórios do Congresso e gastaram centenas de milhões de dólares com lobby e com os grupos de pressão. Outros mutuantes sem escrúpulos também sabiam que Freddie e Fannie — e, em última análise, os contribuintes — garantiriam seus empréstimos ruins, portanto, estavam felizes em conceder ainda mais deles.

Enquanto os preços das habitações continuavam a subir, parecia que tudo corria bem. Mesmo os mutuários de maior risco estavam honrando seus pagamentos. Algumas pessoas refinanciaram na volta do aumento dos preços das casas e embolsaram bons lucros. E outras intervenções governamentais mantiveram o crescimento da bolha. Regulamentos para o uso da terra, limitando a oportunidade para a construção de casas, empurraram os preços ainda mais para cima. As deduções do imposto de renda para os financiamentos favoreceram o setor da habitação sobre outras poupanças.

Entretanto, o Federal Reserve — assistido pelo Bank of England — tinha inundado os mercados mundiais com crédito após a quebra da bolsa de 1987. Eles fizeram novamente o mesmo toda vez que havia a ameaça de alguma recessão — a quebra dos dotcom, e espetacularmente após o 11 de setembro, quando as taxas de juros caíram de 6,25% para apenas 1% —, o que apenas estimulava os empréstimos ainda mais. Assim, o preço das casas continuou a subir e os proprietários aproveitaram a expansão.

Parecia haver um monte de razões para comprar casas, e nenhuma para não comprar. Em 2006, talvez um quinto dos compradores eram apenas especuladores — não apenas especuladores de classe média, mas de classes mais baixas, também. Em estados como a Califórnia, onde os mutuantes não podiam ir atrás dos ativos dos mutuários, não havia nenhum risco: se as coisas dessem errado, você simplesmente devolvia as chaves para o mutuante e saía. Eles chamavam isso de jingle mail, "correspondência tilintante".

O inevitável estouro
Mas, em 2006, a bolha estourou. Era inevitável, já que estava muito inflada devido à política monetária frouxa do Federal Reserve. Os preços das casas desmoronaram e os mutuários ficaram inadimplentes. Um ano mais tarde, os bancos se deram conta dos títulos de má qualidade que haviam comprado. Apesar de terem 236 reguladores no seu caso, Fannie e Freddie — fiadores de metade das hipotecas dos Estados Unidos — mergulharam em um enorme déficit e se arruinaram.

Foi uma expansão, e um estouro, causados inteiramente pelo governo. E a expansão e o estouro na Inglaterra tiveram muitas das mesmas características e causas. As contínuas afirmações de Gordon Brown de que a era da expansão e do estouro já tinha acabado, nos fizeram acreditar que a expansão que estávamos vivendo era real e nos fez desconsiderar os riscos do colapso. Os preços das casas se moveram em uma espiral ascendente; novamente as pessoas refinanciaram e auferiram lucros da alta dos preços; outros compraram casas para fazer especulações; e o green belt, ou "cinturão verde", e outras restrições ao planejamento mantiveram o abastecimento das casas baixo, enquanto a imigração de pessoas vindas de novos membros da União Europeia pressionava cada vez mais a demanda.

Mas a política monetária não estava concentrada no controle dessa expansão do crédito. De fato, Gordon Brown mudou o índice de preços que o Bank of England tinha como meta para o índice de preços ao consumidor (IPC). Isso exclui os custos da habitação, ao contrário do índice de preços ao varejo, assim, os elevados custos da habitação não são considerados pelo comitê de política monetária (CPM). Ao mesmo tempo, a China e outros países em desenvolvimento estavam produzindo bens comerciáveis mais baratos, então o crescimento do IPC permaneceu relativamente baixo. Consequentemente, é claro, o CPM teve problemas até para atingir sua meta de crescimento de 2% dos preços. Como o Federal Reserve, o Bank alimentara uma enorme inflação.

Quando Gordon Brown deu ao Bank a independência na política monetária, ele também deslocou seu papel na regulamentação dos bancos para a nova Autoridade de Serviçoe Financeiros (Financial Services Authority — FSA). Mas o Bank teve uma melhor compreensão do que estava acontecendo nos mercados. Seus papeis no ajuste das taxas de juro e na atuação como mutuante de última hora foram complementares ao seu antigo papel de regulamentar os bancos. O FSA provou que não poderia se manter a par com o mundo acelerado dos derivativos e das trocas de crédito.

O Bank of England alertou o FSA que o Northern Rock estava operando em risco, em outubro de 2006, muito antes de seu colapso; mas nenhuma ação efetiva foi tomada. Quando os problemas do Northern Rock apareceram, o velho Bank of England nunca o autorizaria a abrir para negócios na próxima segunda-feira, até que seus problemas estivessem resolvidos. Mas o Northern Rock abriu, e a visão de milhares de depositantes formando filas para remover seus fundos incitou o chanceler a ajudá-lo. E tendo garantido o mutuante de maior risco, o governo não podia simplesmente assistir, meses mais tarde, quando outros bancos começaram a ter dificuldades — assim, mais dinheiro dos contribuintes foi colocado em risco.

A regulamentação internacional aumentou o problema. As regras Basel II enfocavam o capital, ao invés do problema imediato quando a bolha do financiamento estourou, que era a liquidez. Os bancos se viram obrigados a vender ativos em um mercado decadente para manter suas margens em alta. De fato, pode-se dizer que as regulamentações do capital internacional talvez tenham tornado o problema pior.

A moral: é falha do governo, não do mercado
Agora, os políticos do mundo estão nos dizendo que nós precisamos de mais regulamentações financeiras para nos salvar das falhas do capitalismo. Mas a moral dessa história é que a crise na verdade representa uma grande falha do governo. Suas causas são um catálogo de falhas políticas, legislativas e regulatórias desde décadas atrás. Onde havia cobiça e inépcia, pelos bancos e mutuários, tem sido apenas possível properar no mundo irreal da expansão que a ação do governo criou.

Nós estamos em um cassino onde o governo estava entregando fichas grátis e os legisladores estavam nos comprando bebidas e nos dizendo em quais números apostar. Não surpreendentemente, nós todos fomos deixados mais pobres do que quando entramos.

Tradução de Gustavo Reis.

1607) Zelaya: bem, já que estamos falando dele...


...melhor flagrá-lo numa pose de presidente (em um pequeno momento de siesta)
Edgard Garrido/Reuters

Uma siesta muito, muito longa
Revista Veja, edição 2145, 20 de dezembro de 2009

Tudo teve ares de pastelão, mas pelo menos uma coisa deve ser considerada: a potestade das forças que se ergueram contra Manuel Zelaya não foi brincadeira. O infeliz do chapelão foi destituído da Presidência de Honduras com ordem assinada pela Suprema Corte e sem nenhuma cerimônia por parte do Exército. No seu lugar ficou um sujeitinho bravo, Roberto Micheletti, que assumiu interinamente com um objetivo - no pasará - e o cumpriu. Ainda por cima, Zelaya contou com o apoio incondicional dos megalonanicos da diplomacia petista, sempre uma garantia de que a coisa vai dar errado. Por ordem de Hugo Chávez, voltou à sorrelfa e se instalou na Embaixada do Brasil com planos inversamente proporcionais à capacidade de executá-los. As simpatias dos que, mesmo desconfiando das patranhas da figura, repudiavam os métodos de sua deposição sofreram um cruel golpe quando ele disse que estava sendo torturado por mercenários israelenses com emissões de alta frequência e gases tóxicos. Folhas de papel-alumínio passaram a recobrir as paredes da embaixada, dando a impressão de que a qualquer momento sairiam dali miolos ao forno. Zelaya não foi o único a passar atestado de maluquice: o governo brasileiro repudiou até o fim a realização de eleições presidenciais e, depois, seu resultado. Em outras circunstâncias, o mau conselheiro Marco Aurélio Garcia e o chanceler Celso Amorim ensaiaram dar uma de good cop e bad cop, aquela jogadinha de policial mau e policial bonzinho. Da história de Honduras, saíram parecendo os Keystone Cops.

1606) Triste fim de Manoel Zelaya (bem, nao tao triste assim)

Crônica impagável do jornalista Augusto Nunes.
Minha aposta pessoal é a de que ele vai ficar na Hospedaria (digo, Embaixada) do Brasil até a posse do novo presidente, que depois lhe concederá anistia generosamente, mas burocraticamente (escoltando-o para o aeroporto, ou alguma fazenda de sua propriedade, desde que prometa se comportar...).
Mas, confesso que o cenário traçado por Augusto Nunes é muito mais engraçado. Desejo, realmente, que ele se converta em realidade.
Só falta resolver quem vai pagar a conta da hospedaria...

A tarde de janeiro em que Zelaya resolveu cair fora da pensão
Augusto Nunes, Veja, 20 de dezembro de 2009

Faltavam três minutos para as três da tarde de 27 de janeiro de 2010 quando o calor de Tegucigalpa interrompeu a sesta do homem estendido na cama do quarto principal. Manuel Zelaya acordou com o pijama de seda ensopado de suor, afastou o chapéu sobre o rosto com a mão esquerda e, praguejando contra o inverno hondurenho, estendeu a direita para acordar a mulher que não estava lá. Abriu os olhos, arregalou-os enquanto conferia o relógio da parede e estranhou a ausência de Xiomara, que nos tempos do palácio não encerrava a sesta antes das quatro.

Ela parecera aflita ao longo da manhã, integralmente consumida ao lado do rádio para que não se perdesse nenhum detalhe da cerimônia de posse do traidor Porfirio Lobo no cargo usurpado pelo golpista Roberto Micheletti. Tampouco o chamara de Mel durante o almoço, como de hábito. Mas Zelaya até cantarolou uma música nativa enquanto calçava as botas negras e combinava a calça bege com a mais alva das oito guayaberas, sem suspeitar de que o sumiço da primeira-dama era só o prelúdio de uma sucessão de espantos.

Nenhum dos dois voluntários vigiava a porta, intrigou-se ao sair do quarto. E nenhum de seus dois ministros estava na sala, surpreendeu-se. E não havia nenhum soldado vigiando a rua, desconcertou-se ao chegar perto da janela para a contemplação ritual da tropa que sitiava o casarão desde a gloriosa noite de setembro em que se infiltrou na velha embaixada do Brasil à frente de 300 bravos prontos para matar ou morrer.

Zelaya berrou o nome da mulher, ouviu o grito do silêncio, foi assaltado pela angústia, marchou sobre os aposentos dos dois jornalistas brasileiros, encontrou-o deserto pela primeira vez em cinco meses e enfim compreendeu que algo de muito grave havia ocorrido. ”Qué pasa?”, murmurou já ensaiando o famoso olhar dos momentos de cólera. Começava a planejar vinganças tremendas quando veio do quarto dos fundos a informação em espanhol com sotaque cearense: “Se fueron, señor presidente”.

Era Francisco Catunda, o encarregado de negócios da antiga embaixada brasileira. “La señora?”, sussurrou com olhar de pedinte. A mudez do diplomata respondeu que sim. ”Los periodistas?”, balbuciou já sem esperança. “Se fueron todos”, assim começou Catunda a relatar os sucessos da tarde, desencadeados quando faltavam dez minutos para as duas e encerrados meia hora depois.

A primeira-dama saiu do quarto, informou ao entrar na sala que o marido já ressonava, convocou os sete hóspedes restantes para uma assembleia deliberativa da pensão, esperou que se acomodassem e tirou o celular da bolsa. Pediu a quem atendera que chamasse o chefe do cerimonial do palácio, cumprimentou-o pela bonita cerimônia de posse e comunicou que, se houvesse um convite de sobra, compareceria com muito prazer ao baile da posse de Porfírio Lobo.

Em seguida, ordenou a Catunda que chamasse o capitão que chefiava a guarda militar formada por 20 recrutas, diante do qual renunciou oficialmente ao cargo de primeira-dama democraticamente eleita e reconheceu o novo governo. Aplaudida pelos presentes, a ex-primeira-dama ordenou-lhes que fossem para casa, determinação atendida pelos ministros, pelos jornalistas, pelos voluntários e pelos soldados do Exército, inclusive o capitão comandante. Só ficou o encarregado de negócios, escalado para a narrativa que acabara de fazer.

Então Manuel Zelaya entendeu que chegara o momento de cair fora do casarão. Ligou para a casa dos pais, a mãe reconheceu a voz de Manolo, ele pediu-lhe para passar a noite no quarto da infância e ouviu que sim, desde que não achasse que também aquilo era uma pensão e ficasse por cinco meses. Sem ninguém para preparar o jantar, comeu um pedaço de pizza da véspera, foi dormir outra vez e, à meia-noite em ponto, convocou Catunda para o último despacho como presidente constitucional.

Declarou encerrado o mandato, reconheceu o novo governo, entregou as chaves do casarão e, antes de buscar a mala, encarregou o encarregado de negócios de ficar no posto até a manhã seguinte. Às 11 horas, deveria telefonar para o companheiro Lula e narrar-lhe os acontecimentos históriscos. O soldado do Itamaraty estava com o celular na mão quando o cara ligou.

Era para dizer-lhe que Zelaya se fora sem pagar a despesa. Isso Catunda fez. Mas não fez o que o amigo hondurenho ordenou que fizesse se Lula viesse com lamúrias, como veio. Nesse caso, Catunda deveria sugerir-lhe que mandasse a conta para o companheiro Hugo Chávez.

Ou, então, que se queixasse ao bispo de Tegucigalpa.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

1605) Exiting from High Public Debt: uma recomendacao que vale para o Brasil

O Brasil deve participar oficialmente, com representantes da Fazenda, Planejamento, Banco Central e Tesouro, se supõe, e ouvir atentamente o que poderá dizer o Murilo Portugal, que já foi Diretor do Tesouro Nacional e Secretário Executivo da Fazenda.

High-Level Conference
Exiting from High Public Debt
January 19, 2010
IMF Offices in Europe, 66 avenue d’Iena, 75116 Paris, France
Ground Floor Conference Room A

Organized by the Fiscal Affairs Department and the Offices in Europe
International Monetary Fund

The IMF's Fiscal Affairs Department and the Offices in Europe are organizing a high-level conference on “Exiting from High Public Debt,” at the IMF’s Paris Office on January 19, 2010.

The event will provide a forum for discussion of a range of issues related to the risks arising from high public indebtedness, including the implications for interest rates and growth, for public debt management, and for financial markets more generally. The conference will also cover debt reduction strategies, with specific reference to lessons that can be drawn from historical experiences.

Please note that the event is by invitation only.

PROGRAM
January 19, 2010
Opening Session
08:30 Registration
09:00-09:10 Introductory Remarks
Emmanuel van der Mensbrugghe, Director, IMF Offices in Europe
Mr. Carlo Cottarelli, Director, Fiscal Affairs Department (FAD) IMF
09:10-09:30 Keynote Speech
Murilo Portugal, Deputy Managing Director, IMF

Session 1: Fiscal Outlook, Trends and Risks
09:30-10:45 Chair: Mr. Pier Carlo Padoan, Deputy Secretary General and Chief Economist, OECD
Presenter (15 minutes):
Mr. Philip Gerson, FAD
Discussants (15 minutes each):
Mr. Benoît Coeuré, Directeur, Direction générale du Trésor et de la politique économique, French Ministry of Finance
Mr. Jean Pisani-Ferry, Director, Breugel Institute
General discussion (25 minutes)

10:45-11:15 ***Coffee Break***

Session 2: Debt, Interest Rates and Growth
11:15-12:30 Chair: Professor Sir Tony Atkinson, Oxford University
Presenter (15 minutes):
Mr. Manmohan S. Kumar, FAD
Discussants (15 minutes each):
Mr. Daniele Franco, Head, Structural Economic Analysis Department, Bank of Italy
Mr. Christian Kastrop, Deputy Director-General, Economic Policy Department, German Ministry of Finance
General discussion (25 minutes)

12:30-14:00 ***Lunch***

Session 3: Implications of High Debt for Public Debt Management and Financial Markets
14:00-15:15 Chair: Mr. Ad van Riet, Head of the Fiscal Policies Division, European Central Bank
Presenter (15 minutes):
Mr. Udaibir Das, Monetary and Capital Markets Department, IMF
Discussants (15 minutes each):
Ms. Samantha Beckett, Director of Operations, HM Treasury
Mr. Pierre Cailleteau, Managing Director, Moody’s Sovereign Risk Group
General discussion (25 minutes)

Session 4: Debt Reduction Strategies—Lessons from the Past
15:15-16:30 Chair: Mr. Marek Belka, European Department, IMF
Presenter (15 minutes):
Mr. Per Molander, Director General, Swedish Social Insurance Inspectorate
Discussants (15 minutes each):
Mr. Richard Portes, Professor, London Business School, CEPR
Mr. Luc Leruth, IMF Offices in Europe
General discussion (25 minutes)

16:30-17:00 ***Coffee Break***

Session 5: Round-Table Discussion
17:00-18:00 Chair: Mr. Carlo Cottarelli

Panelists:
Mr. Marek Belka, IMF
Mr. Marco Buti, Director-General for Economic and Financial Affairs, EC
Mr. Pier Carlo Padoan, OECD
Mr. Tom Scholar, Managing Director International and Finance, HM Treasury

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...