terça-feira, 5 de janeiro de 2010

1643) Política externa brasileira: uma matéria a favor (2)

Este post pode ser lido em conexão com o meu post 1585, que já trazia uma outra matéria do mesmo jornalista, também a favor da atual política externa.
Diga-se de passagem, que a maior parte das críticas consideram que o alegado anti-americanismo da diplomacia brasileira atual é o aspecto menos importante do problema.

Só para contrariar II
Brasil - Sergio Leo
Valor Econômico, 04/01/2010

Em um dos encontros reservados entre autoridades brasileiras e americanas no ano passado, o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, tentou explicar ao secretário de Estado Adjunto dos EUA para o Hemisfério Ocidental, Arturo Valenzuela, a razão da abstenção do Brasil nas votações das Nações Unidas que condenaram o Irã por seus esquivos movimentos na área nuclear e pelo desrespeito aos direitos humanos. O Brasil não apoiou o Irã, absteve-se, para não brecar a aproximação com o país e para reforçar as pressões em favor dos direitos humanos e contra o uso bélico da energia nuclear, argumentou o brasileiro.

Valenzuela, segundo relato levado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, comentou não ter pensado nessa justificativa para o comportamento do Brasil nas Nações Unidas, que intrigou parceiros internacionais do Brasil. Poucas semanas antes, o presidente dos EUA havia se dado ao trabalho de, em uma carta a Lula, explicar as razões pelas quais os EUA não consideram conveniente a aproximação com o Irã, entre outras divergências com o governo brasileiro. Garcia havia falado em "frustração" com Obama, mas, em seguida, o governo brasileiro mudou de tom, e o próprio Garcia adotou tom otimista

Também em encontro recente, o presidente Lula deu explicações parecidas ao presidente francês, Nicholas Sarkozy, argumentando estar se esforçando para trazer o Irã às boas práticas da comunidade internacional. Sarkozy agradeceu a explicação e comentou que a França já teve essa ilusão, desfeita pelos próprios iranianos.

Os episódios com Valenzuela e Sarkozy podem servir de exemplo de ingenuidade e megalomania da política externa brasileira, ao sonhar com sucesso onde grandes potências, com muito mais recursos de poder, só tiveram frustrações. As duas conversas podem servir para outra constatação, porém. A de que os movimentos diplomáticos de Lula e seus assessores na área (Marco Aurélio Garcia e o embaixador Celso Amorim) têm razões muito mais complexas e merecedoras de debate do que a classificação rasteira de "antiamericanismo" , aposta por alguns críticos ideológicos da política externa gestada em Brasília. Aliás, também servem para mostrar a inutilidade, para fins práticos, do rótulo de "ideológica" costumeiramente aplicado sobre a mesma política externa.

Que há ideologia na política exterior, não há dúvida, sempre houve e haverá. Como o nome diz, é uma política, não uma técnica, como querem fazer crer alguns críticos e políticos. Já a etiqueta de "antiamericana" parece colar com dificuldade em uma prática diplomática que exibe com orgulho os laços firmados com os mandatários dos Estados Unidos, que preza a troca constante de impressões com a Casa Branca e o Departamento de Estado, e que mantém um relacionamento cada vez mais intenso em áreas como diplomacia, comércio e defesa.

Quem quer saber o que, de fato, é política externa condicionada por um tom antiamericano e uma agressiva postura ideológica, deveria imaginar se, entre o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e as autoridades dos EUA poderia haver diálogo como o travado entre Brasília e Washington. Claro, Brasil e EUA têm divergências - e o próprio Valenzuela, em sua passagem pelo Brasil, esforçou-se heroicamente para minimizá-las, lembrando até que os EUA também se veem de vez em quando às turras com o Canadá.

Evidentemente, uma conversa com autoridades encarregadas da política externa sobre os EUA tem chances consideráveis de incluir referências críticas à ação dos EUA no continente. Mas não é uma invenção brasileira a agressiva ação americana de apoio a regimes antidemocráticos no passado recente da região. E foi o próprio Obama, não algum ideólogo do Planalto, quem, em discurso de campanha para a comunidade cubana em Miami, em 2008, questionou os Estados Unidos pelos anos de "políticas fracassadas" e pressões "por reformas de cima para baixo" na América Latina.

O marco da impressão de antiamericanismo colada à política externa foi a atuação do Itamaraty nas negociações da Área de Livre Comércio das Américas. Na discussão da Alca, na prática, a visão estratégica do governo Lula se assemelhava à do governo Fernando Henrique Cardoso, contrária às exigências americanas em matéria de patentes, investimentos e serviços, e cética em relação a ganhos substanciais na redução das barreiras comerciais importantes, ao aço, ao etanol, ao suco de laranja brasileiros.

Os dois governos diferenciaram- se em relação à tática. Com FHC havia a ideia de seguir com as negociações e recusar o acordo se não conviesse ao Brasil. Com Lula, o ministro Celso Amorim (que chegou a ser cogitado para chanceler pelo candidato derrotado, José Serra), calejado pela experiência como negociador da Rodada Uruguai na Organização Mundial do Comércio, impôs de cara uma definição imediata sobre temas espinhosos - e a negociação naufragou. É bem verdade que os negociadores escalados por Amorim já apontavam para o naufrágio.

Há, hoje, um esforço genuíno em Brasília de aproximação com os EUA. Além do diálogo político, como resultado do fórum de altos empresários (criado ainda no governo Bush e de parcos resultados até agora), já se admite no governo brasileiro avançar na negociação de um acordo contra a bitributação, velha reivindicação empresarial. A ameaça de retaliar os EUA contra os subsídios americanos ilegais ao algodão tem sido administrada com moderação, sem arroubos retóricos. Abriram-se importantes centros de distribuição da Agência de Promoção de Exportações para colocação de produtos brasileiros no mercado - já que, mais que tratados de livre comércio, o que faz falta para ingressar no mercado americano é de ações de promoção de exportação.

Há erros e fiascos na política externa brasileira. Mas o saldo geral é claramente positivo, embora essa avaliação possa ser posta em questão, desde que em um debate sério, sem as mistificações sustentadas por argumentos simplórios como os do "antiamericanismo do Itamaraty" e o da "ideologização da política externa". Que este ano eleitoral permita esse debate sério é um desejo da coluna para 2010.

Sergio Leo é repórter especial em Brasília e escreve às segundas-feiras

1642) O Azerbaijão, a terra do fogo (azer)

Azerbaijão – a geopolítica do romance de Ali e Nino
Por Paulo Antônio Pereira Pinto, de Baku, Azerbaijão
Via Política - Sem Fronteiras

Já se tornou lugar comum dizer que a região ao Sul do Cáucaso, onde se situam a Armênia, o Azerbaijão e a Georgia, é área de conflitos reais e potenciais, desde a extinção da URSS – a cuja União pertenciam – em 1991. Ademais, afirma-se, os povos desta parte do mundo nunca teriam sido capazes de viver em paz.

A confluência de interesses étnicos, religiosos, nacionais e internacionais antagônicos contribuiria para tal instabilidade. Daí, caberia esperar, apenas, a continuidade de disputas intermináveis e insolúveis.

Novas teorias geopolíticas continuam, então, a ser formuladas ou ressuscitadas para justificar este cenário de caos possível e permanente. Em contrapartida, registros históricos e obras literárias, como a narrativa sobre “Ali e Nino”, por exemplo, indicariam disposição regional no sentido contrário a tais interpretações.

Este artigo pretende recorrer a ambos: a raciocínios geopolíticos, que advogam os contenciosos; e a escritos, que traçam panorama mais “light” das coincidências regionais.

Cabe lembrar, a propósito, que no território hoje ocupado pelo Azerbaijão, há cerca de 3.500 anos floresceu o Zoroastrismo, divulgado pelo Profeta Zaratustra, que pregava o monoteísmo, advogava a igualdade das mulheres, confiava apenas no diálogo direto com Deus – sem a intermediação de sacerdotes – condenava o sacrifício de animais e a noção de milagres. Denunciava o flagelo de guerras religiosas, que causassem destruição em nome de uma fé ou de outra.

Zaratustra recomendava o entendimento dos elementos terrestres e a existência de um Deus. E três regras para viver bem: bons pensamentos, boas palavras, bons feitos. Também defendia a crença na natureza purificadora do fogo, que é pensamento fundamental de sua fé e simboliza o Todo Poderoso.

A palavra persa para fogo é “azer”. Assim, desde a antiguidade, a abundância de gás, que provocava explosões em suas montanhas, levou o Azerbaijão a ser conhecido como o centro do Zoroastrismo.

Isto é, não seria correto afirmar que esta parte do mundo estaria condenada à turbulência permanente, por sua multiculturalidade, multi-religiosidade, multi-etnicidade e multiquase-tudo. Até o início do Grande Jogo, disputado pelos imperialismos extraregionais russo e britânico, no século XIX, havia dinâmica regional própria capaz de recuperar, de forma cíclica, a estabilidade política, enquanto era palco de história rica e antiga, marcada por cenário de batalhas há mais de um milênio.

Localizado na convergência de diferentes civilizações, o Sul do Cáucaso foi invadido e disputado por grandes impérios, como o persa, o romano e personagens famosos, como o conquistador mongol Genghis Khan, e o Tsar Pedro o Grande. Todos vieram e partiram. Até que os soviéticos invadiram o Sul do Cáucaso, em 1920, e aqui ficaram até 1991.

Verifica-se, então, que o término da Guerra Fria parecia acenar com o fim da bipolaridade mundial, enquanto a globalização surgiria como remédio para todos os males da divisão do mundo em partes conflitantes. Em suma, análises geopolíticas perderiam seu valor, na medida em que o planeta tenderia a ser menos dividido cartograficamente e mais interligado por valores em comum.

O ressurgimento de novas geometrias de poder ocorreram, contudo, sem muita demora, com o retorno de criaturas regionais, como as centradas nos chamdos “hinterlands”, enquanto largas fatias de nações, adormecidas durante a bipolaridade mundial, soltaram-se, tornaram-se países independentes, pediram passagem e encontram-se à deriva e na espera de configurações inovadoras que voltem a ordená-las.

Assim, no caso do Azerbaijão, que tivera breve vida como país independente, entre 1918 e 1920, ao emergir da União Soviética, após 71 anos de imposição aqui de um sistema planificado a partir de Moscou, não se tratou de inserir-se, na fase conhecida como “pós-soviética”, em cenário internacional pronto a acolhê-lo, com tolerância, diante da carga de mazelas herdadas daquelas sete décadas de dominação socialista.

Pelo contrário, o continente europeu passou a viver, desde então, com novas ameaças convencionais e não-convencionais. Nesse sentido, segundo se observa em Baku, vigora a convicção de que o bloco euro-atlântico – em substituição ao “Ocidente” – constitui o fulcro, o “hinterland”, em cujo redor se concentram perigos e tensões, provocados por atores políticos que, à sua volta, insistem em manter acesos os seus próprios projetos de afirmação nacional.

Em suma, entre desafios não-convencionais, estariam o terrorismo, o excesso de imigrantes e a proliferação de armas de destruição em massa. No elenco dos desafios mais “clássicos”, situam-se os que afetam a segurança dos Estados, nos termos explicitados, segundo entendido aqui, desde a Paz de Westphalia1. Na prática, os euro-atlânticos parecem misturar estes medos todos, enquanto procuram manter à distância áreas que – para eles, conforme descrito acima – não tenham atingido o mesmo patamar de governança. Entre os repudiados, encontram-se os países emancipados da URSS, ao Sul do Caúcaso.

Cabe lembrar, no que diz respeito ao Azerbaijão, causas dos descompassos ora apresentados por este país que deseja ser acolhido como perceiro pela Europa Ocidental. Segundo a visão de Baku, tais razões podem ser encontradas no fato de que, quando os soviéticos invadiram o país – após seu curto período de vida independente, entre 1918 e 1920 – encontraram um “aparelho de estado” em transição. Conviviam, então, uma estrutura de poder “medieval”, caracterizada por alianças entre tribos e povos nômades, e uma sociedade em busca de nova forma de governança que comportasse as demandas de um capitalismo emergente, em virtude da indústria de exploração petrolífera.

Os conquistadores, vindos da URSS, interromperam este processo de ajuste social e sobre esquemas patriarcais de governança agregaram relações políticas socialistas. Assim, se impuseram sobre o país, até 1991.

Com a emergência do Azerbaijão, naquele ano, seus novos dirigentes defrontaram-se, em sua “transição pós-comunista”, com o desafio de superar estas duas camadas de poder: os esquemas patriarcais de governança e as relações políticas socialistas.

A receita então vigente para países recém emancipados da União Soviética, de acordo com os registros disponíveis aqui, seria o “choque capitalista”. Isto é, havia a certeza de que reformas, com base no estabelecimento de uma economia de mercado, criariam sua própria dinâmica de renovação política.

No Azerbaijão, isto não aconteceu, pois a inércia herdada, resultante da mistura de formas patriarcais e socialistas de pensar, levou a completo e imediato caos político, logo após a independência, agravado pela guerra contra a Armênia por disputa territorial.

Para o observador local, o principal obstáculo a ser vencido pela geração atual, tanto de dirigentes quanto da sociedade civil, é o relativo à superação de formas de pensar e métodos de trabalho enferrujados pela mentalidade soviética, imposta aqui por 70 anos.

Isto é, não existe o hábito de tomar iniciativas ou assumir responsabilidades. Um emprego significa uma posição conquistada para, doravante, não se fazer esforço algum de aprimoramento pessoal ou em favor do progresso da “unidade de produção”. O público e a empresa existem para servir ao funcionário, e não o contrário. Parece vigorar, ainda, a postura de “esperar ordens de Moscou”. Quando tais obstáculos são superados, na mentalidade local, há recaída a velhas formas de relacionamento tribais, segundo as quais, aparentemente, decisões devem ser tomadas por consenso, formados em conselhos dos quais todos os interessados tomariam parte, não por práticas contratuais.

De qualquer forma, assumi o compromisso, acima, de registrar análise menos carregada sobre as convergências regionais, como as disponíveis no romance Ali e Nino. Editado pela primeira vez, em 1937, em Viena, sua autoria está envolta em mistério, especulação e controvérsia, subsistindo dúvidas quanto a ser obra de um só autor, Essad Bey sob o pseudômino Kuban Said 2.

Enquanto história de amor, pode ser comparada às maiores de todos os tempos – Romeu e Julieta. Mas o livro não se reduz a uma história de amor e merece ser lido como um poema épico, escrito em prosa. À primeira impressão, a narrativa evocaria relação de conflito/acomodação entre Oriente e Ocidente, cristãos e muçulmanos, modernidade e tradição, o masculino e o feminino.

O cenário é a capital do Azerbaijão, Baku, cidade multi-étnica em véspera da Primeira Guerra Mundial. Ali Khan Shivanshir é um jovem muçulmano xiita, de uma família azeri aristocrata, que se apaixona por Nino Kipiani, uma adolescente natural da Georgia, país vizinho, de formação cristã, que pratica valores europeus. O amor que dedicam um ao outro será dramaticamente ameaçado pelo espectro da guerra e pelo inevitável abismo cultural e religioso que os separa.

O grande amor entre Ali e Nino é o enredo principal do livro, cujo texto, no entanto, transcende o escopo de um romance. Lida em perspectiva mais ampla e sem recorrer a estereótipos, a história conduz o leitor a uma visita fascinante ao Cáucaso, com suas paixões, guerras e revoluções, honra e desgraça, montanhas, desertos e cidades como Baku.

É importante, contudo, ler a obra fora do contexto das oposições entre Ocidente e Oriente. O amor entre os dois personagens é um tema universal, na medida em que cada um busca definir sua identidade em momento histórico de turbulência no cenário típico do Cáucaso. Apenas superficialmente, o livro é sobre a Europa e a Ásia, tampouco é sobre as diferenças entre o Islã e o Cristianismo.

Os leitores habituados a definições simples de classificações geográficas e culturais, podem ficar desapontados. Não é fácil definir um lugar, como Baku, onde diferentes culturas têm procurado interagir há séculos. A união entre Ali e Nino não replica processo semelhante, entre a Europa e a Ásia, mas representa a fusão entre duas culturas distintas, que, ao mesmo tempo, se relacionam, no Cáucaso.

O livro, ademais, descreve o nascimento de um novo Azerbaijão, durante mais um período turbulento de sua história, com a narração da luta entre vários impérios – russo, persa, turco e britânico – pelo Sul do Cáucaso.

Cabe ressaltar, a propósito, a tensão descrita no livro entre os amigos do personagem Ali, que, inicialmente, se dispuseram a lutar na Primeira Guerra Mundial em favor do Tsar russo, conforme haviam feito seus pais e avôs. Quando a Turquia entra no conflito contra a Rússia, cria-se enorme perplexidade entre tais indivíduos, que se consideram parte dos “povos turcos”. A crise de lealdades se agrava quando a escolha tem que ser feita, entre combater ao lado de russos, contra os irmãos turcos, e lutar em defesa do califa da Turquia, que era muçulmano sunni, enquanto os azeris são seguidores do Islã shiita.

O contexto político agravou-se quando o exército turco, visto pelos azeris como “libertadores”, retira-se de Baku e aqui é substituído por tropas britânicas, como resultado de acordo assinado entre as capitais daqueles dois países.

Verifica-se, assim, que o romance Ali e Nino é fonte rica em jogadas geopolíticas, durante o século passado. O livro é também um atestado de afirmação da nacionalidade azeri. Isto fica evidente no diálogo final, entre a Ali e seu pai, quando este decide partir do Azerbaijão, para o Irã, diante da ameaça de invasão russa, em defesa de cujo Império ele – o pai – havia lutado. Na ocasião, o personagem mais velho aconselha seu filho “jovem e corajoso, a ficar e lutar em defesa do novo Azerbaijão, que necessita de seu patriotismo”.

Ali permanece em Baku e morre lutando em defesa de seu novo país, diante de mais uma investida do poderoso vizinho russo ao Norte.

O livro poderia, então, transmitir a conclusão geopolítica de que a história da região ensina que a convivência local entre diferentes culturas – da mesma forma que o amor entre o Ali muçulmano e a Nino cristã – não foi impossível por incompatibilidades locais insolúveis. A ameaça à estabilidade ao Sul do Cáucaso tem chegado, principalmente, do exterior.

Profeticamente – talvez tivesse previsto Zaratustra – o perigo para o Azerbaijão veio, no romance em questão, e continua vindo, da fronteira ao Norte.

Baku, 6 de novembro de 2009.

--
Notas do autor:

1. A chamada Paz de Westphalia, em resumo, resultou da assinatura de conjunto de tratados que encerraram, em 1648, a Guerra dos Trinta Anos, na Europa. É considerada um marco, em matéria de relações internacionais, por reconhecer uma comunidade de Estados fundada no princípio da soberania territorial, na não-intervenção em assuntos internos dos demais e na independência dos Estados, detentores de direitos jurídicos iguais, a serem respeitados por todos.

2. Ali e Nino, por Kuban Said, editado no Brasil em 2000, pela Nova Fronteira.

Paulo Antônio Pereira Pinto é diplomata, primeiro Embaixador do Brasil residente em Baku, Azerbaijão. Serviu, anteriormente, como Cônsul-Geral em Mumbai, entre 2006 e 2009 e, a partir de 1982, durante vinte anos, na Ásia Oriental, sucessivamente em Pequim, Kuala Lumpur, Cingapura, Manila e Taipé. Na década de 1970 trabalhou, na África, nas Embaixadas em Libreville, Gabão, Maputo e Moçambique e foi Encarregado de Negócios em Pretória, África do Sul. As opiniões aqui expressas são de sua inteira responsabilidade e não refletem pontos de vista do Ministério das Relações Exteriores.

10/11/2009

Fonte: ViaPolítica/O autor

Clique aqui para mais informações sobre o livro “Ali e Nino” publicado em português

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

1641) Politica Externa: desacordos Brasil-EUA

Iran, Honduras and a dubious diplomatic gamble
Posted on December 31, 2009 by Brazil Institute
Paulo Sotero
O Estado de S. Paulo, 12/20/2009 (summary from Portuguese)

A negative feeling is quickly replacing the good will toward the government of Luiz Inácio Lula da Silva and Brazil’s growing international presence that prevailed in Washington until a few months ago. Criticism against the United States and President Barack Obama made publicly by senior Brazilian officials indicate that the feeling is mutual.

Differences between Brazil and the United States over Honduras and other minor issues certainly helped create animosity. This is mainly instigated, however, by Lula’s decision to lend his personal prestige and Brazil’s international credibility to the leader of Iran, Mahmoud Ahmadinejad, hosting him in Brasilia and then offering the services of Brazil as a freelance mediator on the serious confrontation between Tehran and Washington and its allies over the Iranian nuclear program. The initiative mobilized the influential pro-Israel lobby in Washington, which could harm Brazilian commercial interests.

Also, the statement made by Lula on the lack of “moral authority” of the United States to negotiate issues of nuclear non-proliferation raised eyebrows in Washington. At that same time, Foreign Minister Celso Amorim was dispatched to Iran to an unlikely mission with Ahmadinejad, after Tehran rejected the proposal presented by the International Atomic Energy Agency.

The American perplexity was reinforced by signs that Lula let himself be used by the Iranian leader, as well as information published by the Brazilian press and attributed to diplomatic sources in Brasilia, in which Lula had acted in the case of Iran with encouragement from Washington. According to a senior official, Brazilian diplomats extrapolated circumstantial statements like “good luck” they heard from fellow Americans diplomats after Ahmadinejad’s visit was confirmed.

It’s striking in Washington what a congressional aide called the “schizophrenia” of Brazilian diplomacy. According to an aide, for a government concerned with “moral authority” in the external front, it should be evident the contradiction between Brazil’s insistence in the strictest respect for the rules of democracy in Honduras and the official endorsement of Ahmadinejad, who came to power after a fraudulent election.

The negative perception of foreign policy at the end of the Lula government is certainly influenced by criticism stated by senior Brazilian diplomats such as Rubens Ricupero, Rubens Barbosa, and Roberto Abdenur, all former ambassadors in the United States.

“It is understandable that governments take foreign policy decisions targeting domestic goals, but it is hard to see any political gain that Brazil could obtain from reducing itself to a supporting position to the policies of Venezuela and Iran,” said a high government source. The official predicted that one should not expect significant gestures by the United States, such as an Obama visit to Brazil, which once was, but is no longer, on the agenda. Realistically, the best news is the resumption of full diplomatic dialogue with the next year’s arrival in Brasília of the new American ambassador, Thomas A. Shannon, and the new ambassador of Brazil in Washington, Mauro Vieira.

To read the full article (in Portuguese), click here.

Here you have:

Irã, Honduras e uma duvidosa aposta diplomática
Paulo Sotero*
O Estado de S.Paulo, Domingo, 20 de Dezembro de 2009

Imagem negativa do Brasil aumenta em Washington após críticas públicas aos EUA e a Obama

Um sentimento negativo está rapidamente tomando o lugar da disposição favorável ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva e à crescente presença international do Brasil que prevaleceu em Washington até poucos meses atrás. Críticas aos EUA e ao próprio presidente Barack Obama feitas publicamente por altos funcionários brasileiros indicam que a recíproca é verdadeira. Platitudes sobre o caráter normal de diferenças na relação madura que supostamente existe entre os dois países, repetidas na semana passada por funcionários de ambos os governos - após uma rápida viagem inaugural a Brasília do novo secretário de Estado-adjunto para as Américas, Arturo Valenzuela -, indicam que a visita não alterou as percepções.

Divergências entre Brasil e os EUA sobre Honduras e outros episódios menores certamente contribuíram para criar animosidade. Esta se alimenta principalmente, porém, da decisão de Lula de emprestar seu prestígio pessoal e a credibilidade internacional do Brasil ao líder do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, recebendo-o em Brasília, e, depois, oferecendo os serviços do Brasil como mediador freelancer do gravíssimo confronto entre Teerã e Washington e seus aliados em torno do programa nuclear iraniano - questão estratégica número um do governo Obama. A iniciativa mobilizou o influente lobby pró-Israel em Washington, que atua tanto no Executivo como no Legislativo, e pode causar danos a interesses comerciais brasileiros. Nesse ambiente, até a controvérsia em torno da custódia do menino Sean Goldman, que corria em via própria na Justiça, acabou politizada. Na quinta-feira, o senador Frank Lautenberg, democrata de New Jersey, o Estado do pai de Sean, David Goldman, bloqueou a aprovação de lei que renovaria a concessão de isenções tarifárias a certas exportações do Brasil e outros países em desenvolvimento, em reação à decisão do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, de conceder liminar à avó materna de Sean e sustar a sentença que ordenou a devolução do menino ao pai.

É um sentimento que vai da perplexidade dos diplomatas do Departamento de Estado à mal disfarçada hostilidade de altos funcionários de outras áreas do governo, incluindo a Casa Branca - setores que até recentemente aplaudiam o governo Lula e a ascensão do Brasil na cena global.

Moisés Naim, editor da revista Foreign Policy, diz hoje que "o Brasil se comporta como um país em desenvolvimento imaturo e ressentido". Críticas públicas aos EUA e a Obama feitas em semanas recentes por Lula, pelo chanceler Celso Amorim e pelo assessor internacional do Planalto, Marco Aurélio Garcia, reforçaram conclusões semelhantes no lado oficial.

Causou espanto, por exemplo, a afirmação feita por Lula sobre a falta de "autoridade moral" dos EUA para negociar questões de não proliferação nuclear, no momento em que despachava Celso Amorim ao Irã para uma improvável missão junto a Ahmadinejad, depois de Teerã ter rejeitado a proposta de acordo apresentada pela Agência Internacional de Energia Atômica, que tornaria o programa nuclear iraniano compatível com suas obrigações de signatário do Tratado de Não Proliferação. A crítica foi tomada como prova adicional da gratuidade da oferta brasileira de mediação. O ataque mereceu registro, também, porque foi o governo Obama que reintroduziu o desarmamento na política de não proliferação dos EUA, ausente no governo do ultraconservador George W. Bush, cuja política nuclear não mereceu maiores reparos de Brasília.

Reforçaram a perplexidade americana indícios de que Lula deixou-se usar pelo líder iraniano, assim como informações publicadas pela imprensa brasileira e atribuídas a fontes diplomáticas de Brasília, segundo as quais Lula teria atuado no caso do Irã com o incentivo ou o beneplácito de Washington. Segundo um alto funcionário, diplomatas brasileiros "extrapolaram" afirmações circunstanciais, do tipo "boa sorte", que ouviram de colegas americanos depois que a visita de Ahmadinejad foi confirmada. "O Irã é hoje o terceiro trilho da política externa dos EUA", disse a fonte, referindo-se ao condutor de eletricidade de alta tensão que movimenta os trens do metrô.

ADVERTÊNCIA VELADA
Se havia dúvida, a secretária de Estado tratou de elucidá-la num breve discurso sobre as relações dos EUA com a América Latina, no dia 11. "Creio que as pessoas que querem flertar com o Irã deveriam prestar atenção às consequências", disse ela. Em contraste, a liderança brasileira em temas nos quais o país é relevante e tem influência - como no caso das questões ambientais - continua aparentemente a ser vista com bons olhos pelos EUA.

Chama a atenção em Washington o que um assessor parlamentar chamou de "esquizofrenia" da diplomacia brasileira. Segundo o assessor, para um governo preocupado com "autoridade moral" na ação externa, deveria ser evidente a contradição entre a insistência do Brasil no mais estrito respeito às regras da democracia em Honduras e o endosso oficial a Ahmadinejad, que chegou ao poder após uma eleição fraudulenta. A percepção negativa sobre a política externa do final do governo Lula, que se cristaliza em Washington, é certamente influenciada pelas fortes críticas que veteranos diplomatas brasileiros como Rubens Ricupero, Rubens Barbosa e Roberto Abdenur, todos ex-embaixadores nos EUA, vêm publicando.

"É compreensível que os governos tomem decisões de política externa mirando objetivos domésticos, mas é difícil vislumbrar os dividendos políticos que o Brasil possa obter diminuindo-se à condição de coadjuvante das políticas da Venezuela e do Irã", afirmou um alta fonte do governo. O funcionário adiantou que não se devem esperar grandes gestos por parte dos EUA, como, por exemplo, uma visita de Obama ao Brasil, que já esteve mas não está mais na pauta. Realisticamente, a melhor notícia será a retomada do diálogo diplomático pleno com a chegada a Brasília no início do ano do novo embaixador americano, Thomas A. Shannon, e do novo embaixador do Brasil em Washington, Mauro Vieira.

* Paulo Sotero, jornalista, foi correspondente do "Estado" em Washington, onde hoje dirige o Brazil Institute do Woodrow Wilson International Center for Scholars

1640) Quando os grandes economistas erram feio...


O que segue abaixo é um debate que não interessa apenas os acadêmicos americanos da área econômica, posto que o manual do Paul Samelson era (talvez ainda seja) largamente utilizado nas faculdades brasileiras de economia.
Previsões econômicas com base em supostos comportamentos correntes da economia deveriam sempre se guiar por estes ensinamentos da história (e também por deficiências de raciocínio econômico) para não nos induzir a novos erros.
A lição passada de erros (para cima e monumentais) em relação à economia soviética talvez sirva de "redutor de entusiasmo" em relação ao encantamento atual com o crescimento da China, muito embora neste caso os fatores de crescimento esteja situados em grande medida no setor privado da economia.
Paulo Roberto de Almeida

Soviet Growth & American Textbooks
Alex Tabarrok
Bartley J. Madden Chair in Economics
James M. Buchanan Center for Political Economy
George Mason University
Blog Marginal revolution
Link to this post

In the 1961 edition of his famous textbook of economic principles, Paul Samuelson wrote that GNP in the Soviet Union was about half that in the United States but the Soviet Union was growing faster. As a result, one could comfortably forecast that Soviet GNP would exceed that of the United States by as early as 1984 or perhaps by as late as 1997 and in any event Soviet GNP would greatly catch-up to U.S. GNP. A poor forecast--but it gets worse because in subsequent editions Samuelson presented the same analysis again and again except the overtaking time was always pushed further into the future so by 1980 the dates were 2002 to 2012. In subseSamuelsonquent editions, Samuelson provided no acknowledgment of his past failure to predict and little commentary beyond remarks about "bad weather" in the Soviet Union (see Levy and Peartfor more details).

Among libertarians, this story has long been the subject of much informal amusement. But more recently my colleague David Levy and co-author Sandra Peart have discovered that the story is much more interesting and important than many people, including myself, had ever realized.

First, an even more off-course analysis can also be found in another mega-selling textbook, McConnell's Economics (still a huge seller today). Like Samuelson, McConnell estimated Soviet GNP as half that of the United States in 1963 but he showed that the Soviets were investing a much larger share of GNP and thus growing at rates "two to three times" higher than the U.S. Indeed, through at least ten (!) editions, the Soviets continued to grow faster than the U.S. and yet in McConnell's 1990 edition Soviet GNP was still half that of the United States!

A second case of being blinded by "liberal" ideology? If so, Levy and Peart throw another curve-ball because the very liberal even "leftist" texts of the time, notably those by Lorie Tarshis and Robert Heilbroner did not make the Samuelson-McConnell mistake.

Tarshis and Heilbroner were more liberal than Samuelson and McConnell but offered a more nuanced, descriptive and tentative account of the Soviet economy. Why? Levy and Peart argue that they were saved from error not by skepticism about the Soviet Union per sebut rather by skepticism about the power of simple economic theories to fully describe the world in the absence of rich institutional detail.

To make their predictions, Samuelson and McConnell relied heavily on the production possibilities frontier (PPF), the idea that the fundamental tradeoff for any society was between "guns and butter." Thus, in the 1948 edition Samuelson wrote:

The Russians having no unemployment before the war, were already on their Production-possibilities curve. They had no choice but to substitute war goods for civilian production-with consequent privation.

Note that Samuelson assumes all countries and economic systems are efficient (the Russians are "on" the curve) only the choice of guns versus butter differs. When the war ended, the fundamental tradeoff became one between investment and consumption and since the Soviets invested a greater share of GNP they would naturally consume less but grow faster. Moreover, since the Soviet's had solved the unemployment problem they were, if anything, moreefficient than the U.S. (here we see the Keynesian influence).

Levy and Peart conclude that although ideology may have played a role what arguably made a bigger difference was the blindness imposed by chosen tools. As they write:

We are all constrained by means of models: we gain insight in one dimension by blinding ourselves to events in other dimensions. Competition among models may be necessary to insure that the benefits of the models exceeds their cost.

(Applications to the financial crisis are apposite.)

Addendum: Bryan Caplan also comments. As Bryan notes, a very good economist can use PPFs and still get the story right.

January 4, 2010 at 07:35 AM Comments

1639) Countercyclical Policy Measures in Brazil

Latin America: Counter-Cyclical Policy in Brazil: 2008-09
Nelson Barbosa
Brazilian Ministry of Finance and Federal University of Rio de Janeiro
Journal of Globalization and Development
Volume 1, Issue 1 2010 Article 13
DOI: 10.2202/1948-1837.1052
Available at: http://www.bepress.com/jgd/vol1/iss1/art13

Brazil was one of the last major economies of the world to be hit by the 2008 financial crisis and so far it seems to be one of the first ones to recover from it. Up until the third quarter of 2008, Brazil was showing a strong growth performance and the main macroeconomic problem faced by the government was the control of inflation in the face of a booming domestic demand and rising world commodity prices. The crash of September 2008 changed the situation abruptly. The international credit crunch led to a sharp reduction in the domestic supply of credit, thus dealing a negative supply shock to the Brazilian economy.
The fall in commodity prices and world-trade flows also hurt Brazilian exporters and, together with the increase in capital outflows, they pushed up the real/US dollar exchange rate substantially at the end of 2008. The combination of depreciation, liquidity constraints, and falling international demand dragged consumers’ and business’ confidence down, which in turn resulted in a sharp fall in private aggregate demand, especially investment. The inevitable result was a “technical” recession in the last quarter of 2008 and the first quarter of 2009, during which Brazil’s GDP dropped 4.3%.
The Brazilian government responded to the world crisis with a sequence of unprecedented expansionary actions in the country’s recent economic history. Contrary to what happened during the international crises of the 1980s and 1990s, this time the Brazilian authorities adopted a sequence of monetary and fiscal counter-cyclical actions to stop the international crisis from contaminating the Brazilian financial system and to resume growth as soon as possible. After one year, one can say that these two objectives have been achieved, that is, the worst of the crisis has been absorbed without any major disruption in the Brazilian banking system and, most importantly, the economy resumed growing in the second quarter of 2009, the unemployment rate did not shoot up, real wages continued to grow, and consumers’ and business’ confidence are back up. In fact, despite the intensity of the crisis, the Brazilian economy is still expected to have a positive GDP growth rate in 2009, and to return to the pre-crisis situation in 2010, when GDP is expected to increase 5%.
The objective of this note is to present the main policy initiatives that allowed this economic performance.

Read the paper at: http://www.bepress.com/jgd/vol1/iss1/art13

sábado, 2 de janeiro de 2010

1638) Brasil vai ao espaço? Talvez, em todo caso, lentamente...

Quando os parlamentares da oposição ao governo FHC, com o PT e o PDT à frente, sabotaram o acordo de salvaguardas tecnológicas entre o Brasil e os EUA, cujo objetivo era a exploração comercial da base de Alcântara, as principais justificativas eram a preservacão da soberania nacional, a transferência de tecnologia e o lançamento de veículos e satélites com tecnologia brasileira. O acordo foi julgado antinacional e pouco patriótico.
Pois bem, passados nove anos da recusa, vejamos o que temos até aqui.
Paulo Roberto de Almeida

-------------

Plano de lançar foguete enfrenta atraso
RAFAEL GARCIA
Folha de S. Paulo, 2/01.2010

Dois projetos nacionais não devem virar realidade no governo Lula, contrariando promessa do presidente após desastre

VLS, totalmente brasileiro, e lançador feito em parceria com ucranianos correm risco de competir entre si e de ter mercado desfavorável

O Programa Espacial Brasileiro entrou em seu último ano sob o governo Lula com dificuldades para cumprir uma promessa feita pelo presidente: colocar um foguete em órbita.
Os dois projetos que podem conseguir isso provavelmente só terão voos de qualificação após o mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, e alguns especialistas dizem que as duas empreitadas acabarão competindo uma com a outra.
Quando o VLS (Veículo Lançador de Satélites) explodiu em 2003, matando 21 pessoas no CLA (Centro de Lançamento de Alcântara), no Maranhão, Lula afirmou que ajudaria o projeto da Aeronáutica a se recuperar a tempo de lançar o foguete no ano seguinte. Não foi tão rápido. O VLS - que pretende colocar satélites de até 400 kg em órbita baixa (cerca de 800 km)- foi retomado, mas só terá um primeiro lançamento experimental em 2011.

Consórcio
O outro foguete a ser lançado do Maranhão é o Cyclone-4, projetado pela binacional ACS (Alcântara Cyclone Space), criada pelos governos de Brasil e Ucrânia. O projeto -capaz de levar 1.600 kg a órbitas de 35 mil km de altitude- mantém o cronograma com lançamento em 2010, mas está com dificuldades de financiamento.
As empresas ucranianas do consórcio que constrói o veículo reconheceram que precisam de US$ 200 milhões para finalizá-lo. Até o Natal, não anunciaram ter conseguido o dinheiro.
Especialistas ouvidos pela Folha que não estão envolvidos nos projetos, porém, afirmam que os problemas de curto prazo são os menos graves.
"Não será possível o país manter o foco em veículos com a capacidade do VLS, pois não existe nicho [de mercado] de satélites de pequeno porte", afirma José Nivaldo Hinckel, engenheiro do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) especialista em satélites. "Se o Brasil quiser contar com um programa autônomo, ele vai ter de fazer um veículo que competirá com o Cyclone-4."
A AEB (Agência Espacial Brasileira), encarregada de dar unidade às ações fragmentados que hoje compõem o programa espacial brasileiro, rejeita essa visão. O presidente da agência, Carlos Ganem, porém, já escreveu, em um artigo para o jornal "Correio Braziliense", que o uso do Cyclone-4 em Alcântara é "uma solução intermediária".
Ganem, contudo, disse à Folha que se tinha se expressado mal. "Não estudei semiologia, e o português é uma língua rica", disse. "Falei intermediário porque temos com eles [ucranianos] uma relação de grande expectativa e, até que ela se efetive, será intermediária."
Ainda que o discurso oficial da AEB e da ACS seja de cordialidade, a relação entre as duas entidades já mostrou sinais de desgaste. Em agosto, uma reunião com autoridades do programa espacial acabou em briga, após uma discussão entre Roberto Amaral, diretor da ACS, e o major-brigadeiro Antonio Hugo Chaves, que representava a AEB no encontro.
Uma versão do caso, publicada pelo jornal "O Globo", descrevia cena na qual Amaral teria esmurrado a mesa e arremessado um copo na direção de Chaves. Em carta pública, o diretor da ACS negou o ataque.
Amaral, porém, reconhece que houve discussão sobre o cronograma de obras em Alcântara. A Folha apurou que a Aeronáutica estava resistindo à pressão para empreender recursos na reforma de uma pista de pouso em Alcântara, obra que é essencial para a ACS.
O presidente da AEB não revela o teor do encontro que acabou em discussão, mas afastou Chaves de seu cargo na agência. Ganem diz que "a Aeronáutica tinha se comprometido a realizar essa obra, mas só pôde terminá-la depois de uma incisiva cobrança" de sua parte.
Hoje, enquanto Brasil e Ucrânia pretendem investir US$ 485 milhões para capitalizar a ACS, o projeto VLS, exclusivamente brasileiro, tenta avançar com um orçamento de cerca de R$ 35 milhões/ano.
Apesar da diferença, o coronel Francisco Pantoja, diretor do IAE (Instituto de Aeronáutica e Espaço), que desenvolve o VLS, evita críticas. "Com o que recebemos, dá para trabalhar dentro do cronograma."

Justificativas
O volume maior de verba destinado ao Cyclone-4 se justifica, em parte, por se tratar de um foguete de porte mais competitivo no mercado de lançamento. Mas a política adotada tem críticos. "A justificativa para o desenvolvimento de um veículo [foguete lançador] próprio é de caráter estratégico, o que exclui algo produzido por uma parceria oportunista e sujeita a restrições", diz Hinckel.
Outro engenheiro do setor aeroespacial, que conversou com a Folha sob a condição de anonimato, disse ter dúvidas sobre a viabilidade da ACS.
"É complicado pensar um projeto de longo prazo desses sem apoio forte dos militares", diz. "Mesmo que você tenha todo o apoio do governo, o presidente alguma hora vai embora, mas os militares ficam."

"Transferência de tecnologia é para empresa, não para país"

Um dos benefícios que a ACS promete trazer ao Brasil é um pouco do conhecimento que os ucranianos acumularam ao longo das décadas, principalmente no período soviético, em que lançaram foguetes da família Cyclone. "É óbvio que haverá transferência de tecnologia", diz Roberto Amaral, diretor da metade brasileira da empresa.
Stanislav Konyukhov, diretor-geral da Yuzhnoye (empresa ucraniana que projetou o foguete Cyclone-4 para a binacional) ecoa seu colega brasileiro, mas afirma que os termos em que esse conhecimento será repassado ainda não foram totalmente definidos.
"O que diz respeito a nosso contrato não é com o Brasil. Temos um contrato com a empresa binacional ACS", afirma Konyukhov. "Ela terá direito de acesso a tudo o que ela encomendar de nós -documentação, patentes, etc.-, mas não temos como saber como o Brasil vai se relacionar com a ACS para ter acesso a essas informações", pondera ele.
Mesmo com essa transferência de tecnologia, porém, Konyukhov diz duvidar que um dia os brasileiros adquiram capacidade técnica para competir com os ucranianos com um foguete próprio, mesmo que o programa VLS avance para foguetes de escala maior.
"Nós não vamos ser concorrentes. Isso porque, para chegar a um foguete da classe do Cyclone 4, o Brasil ainda precisa de pelo menos uns 15 ou 20 anos, mas durante esse tempo a gente também não vai ficar parado, vamos continuar progredindo", afirma ele. (RG)

ACS aposta em lançamento "barateiro"

Com posição privilegiada para sua plataforma de lançamentos, a ACS espera ganhar espaço no mercado de lançamento de satélites ao baratear o custo das missões.
Alcântara está só 2,2 ao sul do equador, e a empresa prevê que isso permitirá gastar 30% menos combustível que a média de seus concorrentes para colocar um satélite em órbita (a rotação terrestre na região dá um "empurrãozinho" no foguete).
Como o Cyclone-4 não é dos foguetes mais poderosos, porém, críticos afirmam que dificilmente ele será um grande atrativo. Segundo José Nivaldo Hinckel, do Inpe, a maior parte dos satélites de comunicação privados têm hoje pesos acima de 3.000 kg e ficam em órbita geoestacionária -ficam "parados" sobre um ponto específico da Terra, a altitudes da ordem de 20 mil km. O Cyclone-4, porém, só consegue levar 1.600 kg a essa faixa.
Segundo o pesquisador do Inpe, a maioria dos satélites de órbita baixa pertence a programas estatais, que não seguem critérios de mercado para escolher seus lançadores. Governos da Europa, Rússia, China e EUA nunca deixam de usar seus próprios foguetes apenas por questão de custo. E países como a Argentina, que não tem ainda lançador próprio, possuem convênio com os EUA.
A ACS, porém, afirma que a criação da empresa binacional está respaldada num estudo detalhado sobre o mercado de satélites, documento que só não foi amplamente divulgado por motivos de estratégia comercial.
Carlos Ganem, presidente da AEB, diz que satélites de pequeno porte são a "nova onda mundial". Segundo ele, a empresa francesa Ariane, que deve ser a principal concorrente da ACS, tem hoje dificuldade para usar seu foguete de grande porte, projetado para levar até 7.000 kg.
"A Ariane tem problemas hoje para juntar cargas úteis que façam a carga do Ariane-5 ser economicamente racional", disse. (RG)

1637) Economic Freedom of the World 2009, Cato Report

Economic Freedom of the World: 2009 Annual Report
By James Gwartney and Robert Lawson
with the assistance of Joshua Hall and contributions from Herbert Grubel, Jakob de Haan, Jan-Egbert Sturm, and Eelco Zandberg
Washington, DC.: Cato Institute, 2009

The short-term response of governments to the global economic downturn will almost surely reduce economic freedom, but history shows that this need not be the case over a longer time frame. In new research published in this year’s report, Jakob de Haan, Jan-Egbert Sturm, and Eelco Zandberg show that several countries that have experienced financial crises have moved toward greater economic freedom in subsequent years. The impact on economic freedom depends on what we learn from the crisis. Will we move toward institutions and policies more consistent with economic freedom? Or will we politicize, micromanage, and expand the size and role of government? The route that is chosen matters because higher levels of economic freedom are strongly related to greater prosperity and human well-being.

This year's report notes that economic freedom remains on the rise. The average economic freedom score rose from 5.55 (out of 10) in 1980 to 6.70 in the most recent year for which data are available. Of the 103 nations with chain-linked scores going back to 1980, 92 saw an improved score and 11 saw a decrease. In this year’s index, Hong Kong retains the highest rating for economic freedom, 8.97 out of 10, followed by Singapore, New Zealand, Switzerland, Chile, the United States, Ireland, Canada, Australia, and the United Kingdom.

The first Economic Freedom of the World Report, published in 1996, was the result of a decade of research by a team which included several Nobel Laureates and over 60 other leading scholars in a broad range of fields, from economics to political science, and from law to philosophy. This is the 13th edition of Economic Freedom of the World and this year's publication ranks 141 nations for 2007, the most recent year for which data are available.

Contents:
Table of Contents and Acknowledgments [pdf, 559Kb]
Executive Summary [pdf, 474Kb]
Chapter 1 [pdf, 1.1Mb]
Chapter 2 [pdf, 713Kb]
Chapter 3 [pdf, 723Kb]
Chapter 4, Country Data Tables [pdf, 1.2Mb]
Appendix [pdf, 648Kb]

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...