Leiam primeiro esta matéria:
O sacrifício imposto à Grécia
Luis Nassif
Coluna Econômica - 11/05/2010
Durante anos, a Grécia foi um dos paraísos do capital especulativo. Contraiu grandes empréstimos que foram utilizados para consumo, não para investimento.
Em 2000, o déficit grego era de 3,7% do PIB, pouco acima do limite da eurozona, de 3% do PIB. De 2001 a 2007 o déficit oscilou entre 3,6% (2006) a 7,5% (2004), ano em que o país sediou as Olimpíadas, aumentando para 7,7% em 2008 e disparando para 13,6% em 2009.
Atualmente, o PIB (Produto Interno Bruto) da Grécia foi de 237,5 bilhões de euros.
Em 2009, a Grécia registrou um déficit de 13,6% do PIB, segundo dados divulgados em abril pela agência de estatísticas Eurostat. Apesar de bastante elevado, há suspeitas de que possa ser maior ainda. Quando foi constituída a União Européia, definiu-se um limite de 3% do PIB para os déficits nacionais.
A dívida pública grega chegou a 115,1% do PIB, atrás apenas da Itália, com 115,8%. Na Zona do Euro, a relação dívida/PIB bateu em 78,7%.
***
Todo esse movimento proporcionou lucros extraordinários aos credores, bancos internacionais, gregos e fundos de investimento. Estourando a crise, há riscos concretos de moratória. Decretada, haveria uma redução automática do passivo grego – já que os títulos da dívida cairiam de valor.
A pretexto de evitar crises sistêmicas, os Bancos Centrais mais o FMI (Fundo Monetário Internacional) montaram pacotes de ajuda que salvam a cara dos credores mas impõem pesados sacrifícios aos devedores. Como não há um desconto no valor da dívida a ser paga, o esforço fiscal tem que ser redobrado. E aí se bate nos limites de sacrifício da população e nos limites políticos das ações de sacrifício.
***
Para se habilitar ao pacote de ajuda do FMI – e evitar a moratória – o governo grego concordou em reduzir seu orçamento em 30 bilhões de euros até 2014 – o que significará o corte de inúmeros programas públicos voltados para o bem estar da população.
Os salários e as aposentadorias do funcionalismo público serão reduzidos e congelados nesse período. Além disso, o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) – espécie de ICMS – será aumentado de 21% para 23%, havendo uma taxação adicional de 10% sobre combustíveis, álcool e tabaco.
***
Não é uma situação fácil.
A ajuda desagradou tanto aos gregos, que a receberam, como aos alemães, que foram os maiores emprestadores.
A população grega reagiu violentamente contra a perspectiva de piora do seu padrão de vida por meio de greves e protestos. Na Alemanha, nação mais poderosa da Zona do Euro, a coalizão de partidos liderados pela chanceler Angela Merkel perdeu as eleições estaduais na Renânia do Norte-Vestfália, punida por uma população majoritariamente contrária ao socorro financeiro.
A União Européia vai garantir a Grécia e o euro. Mas adiará a recuperação da economia do continente.
Comento agora (PRA):
O título já começa errado: "sacrifício imposto à Grécia"???!!!
Paraíso dos especuladores???!!!
Esse jornalista só pode ser maluco.
Qualquer pessoa honesta deveria começar por reconhecer estes pecados gregos:
Dívida pública elevada;
Gasto público maior do que a receita pública;
Concessão pelo estado de privilégios de qualquer espécie;
Aposentadoria e pensões sem o respectivo cálculo atuarial individual;
Inchaço da máquina pública;
Maquiagem das contas públicas.
Depois disso, ele pode falar de especulação, que foi montada, alimentada, favorecida pelo governo grego...
Inacreditável como anda o jornalismo brasileiro
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Notícias ordinarias da Venezuela
Aliás, bem ordinárias: uma inflação de 40% ao ano já fugiu do controle das autoridades monetárias. Sem indexação, a vida se torna insuportável para os assalariados comuns, como para os pobres de maneira geral.
Essa é a herança que Chávez vai deixar: um país dividido, com a economia arrasada, milícas armadas, delinquência em alta, violência não controlada, tirania encoberta...
Focus on Venezuela
Citi - Emerging Markets Daily: Latin America Edition
13.05.2010
Recent proposals to outlaw the parallel FX market coupled with rising food inflation have led us to revise our inflation forecast for year-end to 40%. We believe the only plausible solution to reduce the FX gap, and thus inflation pass-through, is higher USD supply from the government.
Essa é a herança que Chávez vai deixar: um país dividido, com a economia arrasada, milícas armadas, delinquência em alta, violência não controlada, tirania encoberta...
Focus on Venezuela
Citi - Emerging Markets Daily: Latin America Edition
13.05.2010
Recent proposals to outlaw the parallel FX market coupled with rising food inflation have led us to revise our inflation forecast for year-end to 40%. We believe the only plausible solution to reduce the FX gap, and thus inflation pass-through, is higher USD supply from the government.
Homenagem a Jerusalem, uma cidade teimosa (e dividida, nao pela Historia, mas pelos homens)
IOM YERUSHALAIM - O DIA DE JERUSALÉM
OS 43 ANOS DE JERUSALÉM REUNIFICADA
Osias Wurman - 12/05/2010
(O artigo abaixo foi publicado, há 10 anos, na página de Opinião do jornal O Globo)
Jerusalém pertence a todos
A todos que praticam a fé monoteísta, sejam judeus, católicos ou muçulmanos, a cidade de Jerusalém ,lembrada e cantada como sagrada, eterna, de ouro e da paz, é um dos maiores e mais antigos tesouros da religiosidade, tendo sido palco dos mais importantes eventos para estas religiões.
Para os judeus, a capital do reino de David, que conquistou Jerusalém há mais de 3000 anos, abriga as ruínas do templo do Rei Salomão, considerado o local mais sagrado do judaísmo. Segundo a tradição judaica, foi deste local que o Criador coletou o pó da terra para fazer surgir o primeiro ser humano a sua semelhança: Adão. Foi, também, onde seu filho Caim matou por inveja seu irmão Abel. O local também foi palco de uma das mais importantes passagens bíblicas que relata a lealdade do patriarca Abraão à Deus, quando levou seu filho Isaac para sacrificá-lo em louvor ao Senhor.
Para os muçulmanos, a Mesquita de Omar, construída sob o espaço outrora ocupado pelo Grande Templo, representa o terceiro mais sagrado local depois de Meca e Medina . Conta a tradição muçulmana que o profeta Maomé teria subido deste local para os céus.
Para a fé cristã, a Igreja do Santo Sepulcro marca o local onde Jesus foi crucificado e ressuscitou.
Na população atual da cidade encontramos uma acentuada predominância de judeus, que totalizam 450 mil pessoas, seguidos dos muçulmanos com 185 mil e apenas 14 mil cristãos. Ao longo de três milênios, os judeus foram o único povo a considerar esta cidade como sua capital política e espiritual. Mesmo durante os 2000 anos de exílio judaico, sempre existiram grupos de seguidores das leis mosaicas morando em Jerusalém.
Para comprovar textualmente a importância de Jerusalém para os judeus, comparada com as co-irmãs monoteístas, basta contar as 657 vezes em que é citada no Velho Testamento, 154 vezes no Novo Testamento e sem menção no Corão.
Independentemente à notória prevalência judaica nas raízes desta sagrada cidade, cabe às três religiões o mesmo direito de livre acesso e de auto-administraç&atild e;o de seus locais sagrados, seguindo rigorosamente os ditames, de suas crenças.
É para garantir este estado de liberdade de acesso e segurança total que o governo de Israel insiste em manter a soberania política sobre a totalidade da região. Vale lembrar que até Julho de l967, quando a Cidade Velha foi liberada do domínio Jordaniano, durante a Guerra dos Seis Dias, os locais sagrados para os judeus como o Muro das Lamentações, eram mantidos em péssimas condições de manutenção e proibido o acesso de israelenses à estes locais. Até sanitários existiam defronte às ruínas do Grande Templo de Salomão.
Um episódio histórico serve para ilustrar, com clareza, a filosofia dos governantes de Isra el com relação às outras religiões da região . Durante os ferozes combates na Velha Jerusalém, em l967, o comandante-em-chefe das tropas israelenses General Moshe Dayan, considerado o maior herói militar do Estado de Israel, ao chegar ao Muro das Lamentações com suas tropas, avistou uma bandeira com a estrela de David tremulando no topo da Mesquita de Omar. Imediatamente chamou seu ajudante de ordens e ordenou a retirada sumária da bandeira de Israel, alegando tratar-se de um desrespeito aos muçulmanos. Esta vem sendo a postura da unanimidade dos governantes israelenses que lhe sucederam nestes 33 anos que se passaram. Uma predominância do respeito a todas as religiões.
As recentes conversações em Camp David foram suspensas em função de um intransponível desacordo com referência ao status de Jerusalém. Segundo às últimas declarações do Presidente Clinton, a intransigência do líder palestino Yasser Arafat teria levado as negociações para o impasse. O presidente americano até formulou ameaças caso não sejam revertidas as inaceitáveis exigências palestinas.
Clinton e Arafat estão há mais de 7 anos, desde os acordos de Oslo, negociando a paz entre israelenses e palestinos. A questão de Jerusalém, devido a sua alta carga de emotividade , foi sendo “empurrada para baixo do tapete” durante todos estes anos . Agora, o tempo decorreu e Arafat ameaça decla rar, unilateralmente, o Estado Palestino em 13 de setembro, atitude que poderá se converter num verdadeiro barril de pólvora numa região tão explosiva como o Oriente Médio. Se existem culpados por esta situação certamente devemos excluir o nome do premier israelense Yehud Barak que, eleito há apenas um ano, já cumpriu com coragem todos os compromisso que assumiu em sua plataforma de governo com referencia aos árabes, inclusive retirando as tropas israelenses do sul do Líbano, além de ter entregue à administração palestina, expressiva parcela dos territórios ocupados por Israel na margem ocidental do Rio Jordão.
Todos os locais sagrados estão situados na Cidade Velha de Jerusalém que, atualmente ,representa menos de 1% da área total da cidade . A proposta de dividir ou internacionalizar a cidade é, portanto, absolutamente desnecessária e inaceitável para Israel que ali mantêm sua capital há 52 anos, e que vem garantindo o livre acesso e a ordem interna.
A importância desta cidade para o povo judeu já era cantada nos Salmos que dizem:
“Se eu te esquecer, Jerusalém, que minha mão direita esqueça sua perícia”.
Indiscutivelmente a Cidade Velha de Jerusalém, pela sua história de fé e devoção - conta hoje com mais de 2 bilhões de seguidores em todo mundo - pertence a todos os povos amantes da paz e deve permanecer eternamente sob a custódia dos que sabem respeitá-la: os descendentes da religião do Rei David.
Osias Wurman – é jornalista.
OS 43 ANOS DE JERUSALÉM REUNIFICADA
Osias Wurman - 12/05/2010
(O artigo abaixo foi publicado, há 10 anos, na página de Opinião do jornal O Globo)
Jerusalém pertence a todos
A todos que praticam a fé monoteísta, sejam judeus, católicos ou muçulmanos, a cidade de Jerusalém ,lembrada e cantada como sagrada, eterna, de ouro e da paz, é um dos maiores e mais antigos tesouros da religiosidade, tendo sido palco dos mais importantes eventos para estas religiões.
Para os judeus, a capital do reino de David, que conquistou Jerusalém há mais de 3000 anos, abriga as ruínas do templo do Rei Salomão, considerado o local mais sagrado do judaísmo. Segundo a tradição judaica, foi deste local que o Criador coletou o pó da terra para fazer surgir o primeiro ser humano a sua semelhança: Adão. Foi, também, onde seu filho Caim matou por inveja seu irmão Abel. O local também foi palco de uma das mais importantes passagens bíblicas que relata a lealdade do patriarca Abraão à Deus, quando levou seu filho Isaac para sacrificá-lo em louvor ao Senhor.
Para os muçulmanos, a Mesquita de Omar, construída sob o espaço outrora ocupado pelo Grande Templo, representa o terceiro mais sagrado local depois de Meca e Medina . Conta a tradição muçulmana que o profeta Maomé teria subido deste local para os céus.
Para a fé cristã, a Igreja do Santo Sepulcro marca o local onde Jesus foi crucificado e ressuscitou.
Na população atual da cidade encontramos uma acentuada predominância de judeus, que totalizam 450 mil pessoas, seguidos dos muçulmanos com 185 mil e apenas 14 mil cristãos. Ao longo de três milênios, os judeus foram o único povo a considerar esta cidade como sua capital política e espiritual. Mesmo durante os 2000 anos de exílio judaico, sempre existiram grupos de seguidores das leis mosaicas morando em Jerusalém.
Para comprovar textualmente a importância de Jerusalém para os judeus, comparada com as co-irmãs monoteístas, basta contar as 657 vezes em que é citada no Velho Testamento, 154 vezes no Novo Testamento e sem menção no Corão.
Independentemente à notória prevalência judaica nas raízes desta sagrada cidade, cabe às três religiões o mesmo direito de livre acesso e de auto-administraç&atild e;o de seus locais sagrados, seguindo rigorosamente os ditames, de suas crenças.
É para garantir este estado de liberdade de acesso e segurança total que o governo de Israel insiste em manter a soberania política sobre a totalidade da região. Vale lembrar que até Julho de l967, quando a Cidade Velha foi liberada do domínio Jordaniano, durante a Guerra dos Seis Dias, os locais sagrados para os judeus como o Muro das Lamentações, eram mantidos em péssimas condições de manutenção e proibido o acesso de israelenses à estes locais. Até sanitários existiam defronte às ruínas do Grande Templo de Salomão.
Um episódio histórico serve para ilustrar, com clareza, a filosofia dos governantes de Isra el com relação às outras religiões da região . Durante os ferozes combates na Velha Jerusalém, em l967, o comandante-em-chefe das tropas israelenses General Moshe Dayan, considerado o maior herói militar do Estado de Israel, ao chegar ao Muro das Lamentações com suas tropas, avistou uma bandeira com a estrela de David tremulando no topo da Mesquita de Omar. Imediatamente chamou seu ajudante de ordens e ordenou a retirada sumária da bandeira de Israel, alegando tratar-se de um desrespeito aos muçulmanos. Esta vem sendo a postura da unanimidade dos governantes israelenses que lhe sucederam nestes 33 anos que se passaram. Uma predominância do respeito a todas as religiões.
As recentes conversações em Camp David foram suspensas em função de um intransponível desacordo com referência ao status de Jerusalém. Segundo às últimas declarações do Presidente Clinton, a intransigência do líder palestino Yasser Arafat teria levado as negociações para o impasse. O presidente americano até formulou ameaças caso não sejam revertidas as inaceitáveis exigências palestinas.
Clinton e Arafat estão há mais de 7 anos, desde os acordos de Oslo, negociando a paz entre israelenses e palestinos. A questão de Jerusalém, devido a sua alta carga de emotividade , foi sendo “empurrada para baixo do tapete” durante todos estes anos . Agora, o tempo decorreu e Arafat ameaça decla rar, unilateralmente, o Estado Palestino em 13 de setembro, atitude que poderá se converter num verdadeiro barril de pólvora numa região tão explosiva como o Oriente Médio. Se existem culpados por esta situação certamente devemos excluir o nome do premier israelense Yehud Barak que, eleito há apenas um ano, já cumpriu com coragem todos os compromisso que assumiu em sua plataforma de governo com referencia aos árabes, inclusive retirando as tropas israelenses do sul do Líbano, além de ter entregue à administração palestina, expressiva parcela dos territórios ocupados por Israel na margem ocidental do Rio Jordão.
Todos os locais sagrados estão situados na Cidade Velha de Jerusalém que, atualmente ,representa menos de 1% da área total da cidade . A proposta de dividir ou internacionalizar a cidade é, portanto, absolutamente desnecessária e inaceitável para Israel que ali mantêm sua capital há 52 anos, e que vem garantindo o livre acesso e a ordem interna.
A importância desta cidade para o povo judeu já era cantada nos Salmos que dizem:
“Se eu te esquecer, Jerusalém, que minha mão direita esqueça sua perícia”.
Indiscutivelmente a Cidade Velha de Jerusalém, pela sua história de fé e devoção - conta hoje com mais de 2 bilhões de seguidores em todo mundo - pertence a todos os povos amantes da paz e deve permanecer eternamente sob a custódia dos que sabem respeitá-la: os descendentes da religião do Rei David.
Osias Wurman – é jornalista.
terça-feira, 11 de maio de 2010
Ordem (?), Corrupcao e Progresso (?): novo lema da bandeira do Brasil
Quando é que o povo, a sociedade brasileira, os cidadãos comuns vão aprender que, quanto mais dinheiro circular pelo Estado, e quanto mais dinheiro for distribuido de forma centralizada, maiores serão as oportunidades para que alguns espertos tenham soluções criativas para o "emprego" desse dinheiro.
O gosto atávido do brasileiro pelo Estado ainda vai deixá-lo com menos da metade da renda auferida em atividades lícitas...
Paulo Roberto de Almeida
Operação Parceria
ONG com sede no Paraná desviou pelo menos R$ 300 milhões de verbas federais em cinco estados
O Globo, 11/05/2010 às 12h39m
SÃO PAULO - A Polícia Federal (PF) prendeu 11 pessoas em cinco estados, acusadas de desviar recursos de programas sociais implementados com verbas federais. Segundo a Polícia Federal, o grupo desviou R$ 300 milhões de reais dos cofres públicos nos últimos 5 anos. Os recursos eram obtidos por meio de uma organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP), sediada em Curitiba, no Paraná, denominada Centro Integrado de Apoio Profissional (Ciap). O Ciap fazia parceria com Prefeituras para implementar programas sociais, principalmente na área de educação e saúde, e faturou mais de R$ 1 bilhão nos últimos cinco anos. Pelo menos 30% deste dinheiro teria sido desviado para pessoas ou empresas do grupo que orbitam em torno de projetos feitos em parceria com o setor público.
Entre os presos, cinco foram detidos em Londrina. Em Curitiba foi detido Dinocarme de Oliveira, presidente do Ciap. Mais de 200 agentes públicos foram mobilizados na operação.
Somente na cidade de Londrina, no Paraná, o Ciap teria recebido R$ 34 milhões. Segundo a Controladoria Geral da União, que investigou o esquema junto com o Ministério Público Federal, a Receita Federal e a PF, mais de R$ 10 milhões em despesas não foram comprovados. Além do Paraná, o esquema tinha ramificações nos estados de São Paulo, Goiás, Maranhão e Pará.
De acordo com as investigações, o Ciap movimentava por ano cerca de R$ 130 milhões e simulava a aplicação integral em projetos promovendo contratações de empregados e compras de bens e serviços. Porém, 30% da verba era transferida para uma conta da entidade, a título de despesa administrativa. Os saques eram de alto valor, feitos em dinheiro, sem destinação especificada. As autoridades descobriram ainda que muitos dos que era pagos como fornecedores eram, na verdade, empresas que pertenciam a parentes dos responsáveis pela entidade ou pessoas de sua confiança.
Além do desvio de recursos, foi descoberto um esquema de lavagem de dinheiro e ocultação de bens, além de crimes tributários e compras suspeitas de títulos da dívida pública "podres" e de imóveis rurais supostamente inexistentes no estado do Pará. Estes imóveis eram usados como garantia em dívidas públicas.
Para a PF, há indícios de que o esquema era estruturado com hierarquia. O primeiro passo era identificar os recursos públicos disponíveis. Logo depois, o Ciap firmava acordo com prefeituras e lobistas passavam a atuar para garantir o repasse do dinheiro. Em geral, os contratos e convênios eram superfaturados. Os saques eram feitos em dinheiro e em grandes quantias, além de movimentações feitas por pessoas e empresas ligadas ao grupo. A contabilidade do Ciap era manipulada para a prestação de contas, dificultando o rastreamento do dinheiro.
No total, a PF tinha 14 mandados de prisão a serem cumpridos na operação desta terça. Outros 40 mandados de busca e apreensão foram incluídos na operação desta terça-feira. A operação foi batizada de "parceria" em referência ao instrumento jurídico firmado com órgãos públicos.
A figura da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) foi instituída pela Lei 9790, de 1999. O OSCIP é um certificado emitido pelo poder público federal em favor de entidades do terceiro setor,constituídas por iniciativa privada, sem fins lucrativos, que comprovem o cumprimento de certos requisitos estabelecidos na referida lei federal. Em contrapartida, podem celebrar com o poder público os chamados termos de parceria.
A ideia é que a atuação destas entidades de terceiro setor garantam eficiência e universalização de serviços públicos nas áreas de saúde, educação, cultura, profissionalização, assistência social, alem da difusão da consciência de proteção ao meio ambiente e do patrimônio histórico e artístico etc.
Para a PF, os envolvidos em desvios de dinheiro por meio do Ciap viram na lei uma forma de se apropriar facilmente de verbas públicas e desviá-las.
O gosto atávido do brasileiro pelo Estado ainda vai deixá-lo com menos da metade da renda auferida em atividades lícitas...
Paulo Roberto de Almeida
Operação Parceria
ONG com sede no Paraná desviou pelo menos R$ 300 milhões de verbas federais em cinco estados
O Globo, 11/05/2010 às 12h39m
SÃO PAULO - A Polícia Federal (PF) prendeu 11 pessoas em cinco estados, acusadas de desviar recursos de programas sociais implementados com verbas federais. Segundo a Polícia Federal, o grupo desviou R$ 300 milhões de reais dos cofres públicos nos últimos 5 anos. Os recursos eram obtidos por meio de uma organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP), sediada em Curitiba, no Paraná, denominada Centro Integrado de Apoio Profissional (Ciap). O Ciap fazia parceria com Prefeituras para implementar programas sociais, principalmente na área de educação e saúde, e faturou mais de R$ 1 bilhão nos últimos cinco anos. Pelo menos 30% deste dinheiro teria sido desviado para pessoas ou empresas do grupo que orbitam em torno de projetos feitos em parceria com o setor público.
Entre os presos, cinco foram detidos em Londrina. Em Curitiba foi detido Dinocarme de Oliveira, presidente do Ciap. Mais de 200 agentes públicos foram mobilizados na operação.
Somente na cidade de Londrina, no Paraná, o Ciap teria recebido R$ 34 milhões. Segundo a Controladoria Geral da União, que investigou o esquema junto com o Ministério Público Federal, a Receita Federal e a PF, mais de R$ 10 milhões em despesas não foram comprovados. Além do Paraná, o esquema tinha ramificações nos estados de São Paulo, Goiás, Maranhão e Pará.
De acordo com as investigações, o Ciap movimentava por ano cerca de R$ 130 milhões e simulava a aplicação integral em projetos promovendo contratações de empregados e compras de bens e serviços. Porém, 30% da verba era transferida para uma conta da entidade, a título de despesa administrativa. Os saques eram de alto valor, feitos em dinheiro, sem destinação especificada. As autoridades descobriram ainda que muitos dos que era pagos como fornecedores eram, na verdade, empresas que pertenciam a parentes dos responsáveis pela entidade ou pessoas de sua confiança.
Além do desvio de recursos, foi descoberto um esquema de lavagem de dinheiro e ocultação de bens, além de crimes tributários e compras suspeitas de títulos da dívida pública "podres" e de imóveis rurais supostamente inexistentes no estado do Pará. Estes imóveis eram usados como garantia em dívidas públicas.
Para a PF, há indícios de que o esquema era estruturado com hierarquia. O primeiro passo era identificar os recursos públicos disponíveis. Logo depois, o Ciap firmava acordo com prefeituras e lobistas passavam a atuar para garantir o repasse do dinheiro. Em geral, os contratos e convênios eram superfaturados. Os saques eram feitos em dinheiro e em grandes quantias, além de movimentações feitas por pessoas e empresas ligadas ao grupo. A contabilidade do Ciap era manipulada para a prestação de contas, dificultando o rastreamento do dinheiro.
No total, a PF tinha 14 mandados de prisão a serem cumpridos na operação desta terça. Outros 40 mandados de busca e apreensão foram incluídos na operação desta terça-feira. A operação foi batizada de "parceria" em referência ao instrumento jurídico firmado com órgãos públicos.
A figura da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) foi instituída pela Lei 9790, de 1999. O OSCIP é um certificado emitido pelo poder público federal em favor de entidades do terceiro setor,constituídas por iniciativa privada, sem fins lucrativos, que comprovem o cumprimento de certos requisitos estabelecidos na referida lei federal. Em contrapartida, podem celebrar com o poder público os chamados termos de parceria.
A ideia é que a atuação destas entidades de terceiro setor garantam eficiência e universalização de serviços públicos nas áreas de saúde, educação, cultura, profissionalização, assistência social, alem da difusão da consciência de proteção ao meio ambiente e do patrimônio histórico e artístico etc.
Para a PF, os envolvidos em desvios de dinheiro por meio do Ciap viram na lei uma forma de se apropriar facilmente de verbas públicas e desviá-las.
Da minha serie: A Academia vai para o brejo...
Recebo um anuncio sobre uma "conferência internacional" (enfim, Bahia, SP, RS e Alemanha), de um grupo de estudo das religiões, em uma universidade católica de prestígio (não revelo o local para não constranger os organizadores ou participantes; quem quiser achar, vai achar facilmente).
Dentre os vários temas e mesas altamente relevantes para o estudo das religiões, num mundo tão globalizado e cruel, encontro dois que eu definiria como exemplares:
- Conferencia: ‘Grupos e movimentos cristãos contra a globalização capitalista Autoritária’, Fulano de Tal – (Alemanha)
14h30min – Debate e interação (PRA: a interação é fundamental, já que o tema é espinhoso)
16h – Conferencia: ‘As chances da religião libertadora – teologia da libertação e as utopias político-religiosas dos excluídos’ - Sicrano - Argentina
Juro que eu torço para a universidade ir para o brejo rapidamente. Quem sabe, algo melhor pode resultar daí?
Bem, pelo menos, a partir de agora, quando eu me referir à "globalização capitalista" já sei que devo acrescentar: "autoritária".
Sempre aprendendo algo novo...
Dentre os vários temas e mesas altamente relevantes para o estudo das religiões, num mundo tão globalizado e cruel, encontro dois que eu definiria como exemplares:
- Conferencia: ‘Grupos e movimentos cristãos contra a globalização capitalista Autoritária’, Fulano de Tal – (Alemanha)
14h30min – Debate e interação (PRA: a interação é fundamental, já que o tema é espinhoso)
16h – Conferencia: ‘As chances da religião libertadora – teologia da libertação e as utopias político-religiosas dos excluídos’ - Sicrano - Argentina
Juro que eu torço para a universidade ir para o brejo rapidamente. Quem sabe, algo melhor pode resultar daí?
Bem, pelo menos, a partir de agora, quando eu me referir à "globalização capitalista" já sei que devo acrescentar: "autoritária".
Sempre aprendendo algo novo...
Divida Bruta da Uniao - Ricardo Bergamini
O professor Ricardo Bergamini é sempre didático em suas exposições sobre os dados econômicos brasileiros. Tudo é muito evidente, pois que ele apenas lida com números, mas tudo fica mais claro depois que ele explica. Trata-se de uma síntese efetuada em Fevereiro de 2010, mas que ainda conserva atualidade, ou seja, se houve mudança, desde então, foi para pior...
Paulo Roberto de Almeida
Para melhor entendimento da matéria vamos analisar a dívida bruta da União:
Ricardo Bergamini
Fevereiro de 2010
1 _ Em 2002 a dívida externa bruta da União era de US$ 127,8 bilhões (25,32% do PIB), em 2009 era de US$ 287,9 bilhões (18,40% do PIB). Aumento nominal de 125,27% e queda real em relação ao PIB de 27,33 %.
2 – Em 2002 a dívida interna bruta da União (em poder do mercado e do Banco Central) era de R$ 841,0 bilhões (56,91% do PIB), em 2009 era de R$ 2.037,6 bilhões (65,20% do PIB). Aumento nominal de 142,28% do PIB e aumento real em relação ao PIB de 14,57%.
3 – Com base nos itens acima podemos concluir que a dívida bruta total da União (Interna e externa) era de 82,23% do PIB em 2002, aumentando para 83,60% do PIB em 2009. Aumento real em relação ao PIB de 1,67%.
4 – Em 2002 as reservas eram de US$ 37,8 bilhões (7,53% do PIB), em 2009 de US$ 238,5 bilhões (15,24% do PIB). Aumento nominal de 530,95% e aumento real em relação ao PIB de 102,39%. O volume das reservas fez com que o aumento real da dívida bruta de 1,67% do PIB se transformasse em redução real de 8,49% do PIB na dívida líquida.
Em vista do acima exposto o Brasil depende das reservas para aparentar ser uma nação com os fundamentos econômicos sólidos, para tanto pagou, no ano de 2009, juros reais médios em torno de 12,57% ao ano, enquanto todas as moedas do planeta pagaram juros reais negativos. Cabe lembrar que as nossas reservas (US$ 238,5 bilhões) foram remuneradas, no ano de 2009, com juros reais negativos de 4% ao ano nos Estados Unidos (Juros zero e inflação americana de 4 % ao ano).
Investimentos Externos Líquidos (Diretos e Indiretos)
Série histórica dos investimentos externos líquidos (diretos e indiretos) com base na média/ano foi como segue: 85/89 (negativo de US$ 6,3 bilhões = -2,14% do PIB); 90/94 (positivo de US$ 7,0 bilhões = 1,57% do PIB); 95/02 (positivo de US$ 24,3 bilhões = 3,46% do PIB). De janeiro de 2003 até dezembro de 2009 (positivo de US$ 28,3 bilhões = 2,59% do PIB).
O mercado financeiro internacional, por gratidão, deveria colocar um busto do Presidente Lula em cada agência bancária existente no planeta, e não apenas conceder o simbólico prêmio de Estadista Mundial inventado às pressas.
Paulo Roberto de Almeida
Para melhor entendimento da matéria vamos analisar a dívida bruta da União:
Ricardo Bergamini
Fevereiro de 2010
1 _ Em 2002 a dívida externa bruta da União era de US$ 127,8 bilhões (25,32% do PIB), em 2009 era de US$ 287,9 bilhões (18,40% do PIB). Aumento nominal de 125,27% e queda real em relação ao PIB de 27,33 %.
2 – Em 2002 a dívida interna bruta da União (em poder do mercado e do Banco Central) era de R$ 841,0 bilhões (56,91% do PIB), em 2009 era de R$ 2.037,6 bilhões (65,20% do PIB). Aumento nominal de 142,28% do PIB e aumento real em relação ao PIB de 14,57%.
3 – Com base nos itens acima podemos concluir que a dívida bruta total da União (Interna e externa) era de 82,23% do PIB em 2002, aumentando para 83,60% do PIB em 2009. Aumento real em relação ao PIB de 1,67%.
4 – Em 2002 as reservas eram de US$ 37,8 bilhões (7,53% do PIB), em 2009 de US$ 238,5 bilhões (15,24% do PIB). Aumento nominal de 530,95% e aumento real em relação ao PIB de 102,39%. O volume das reservas fez com que o aumento real da dívida bruta de 1,67% do PIB se transformasse em redução real de 8,49% do PIB na dívida líquida.
Em vista do acima exposto o Brasil depende das reservas para aparentar ser uma nação com os fundamentos econômicos sólidos, para tanto pagou, no ano de 2009, juros reais médios em torno de 12,57% ao ano, enquanto todas as moedas do planeta pagaram juros reais negativos. Cabe lembrar que as nossas reservas (US$ 238,5 bilhões) foram remuneradas, no ano de 2009, com juros reais negativos de 4% ao ano nos Estados Unidos (Juros zero e inflação americana de 4 % ao ano).
Investimentos Externos Líquidos (Diretos e Indiretos)
Série histórica dos investimentos externos líquidos (diretos e indiretos) com base na média/ano foi como segue: 85/89 (negativo de US$ 6,3 bilhões = -2,14% do PIB); 90/94 (positivo de US$ 7,0 bilhões = 1,57% do PIB); 95/02 (positivo de US$ 24,3 bilhões = 3,46% do PIB). De janeiro de 2003 até dezembro de 2009 (positivo de US$ 28,3 bilhões = 2,59% do PIB).
O mercado financeiro internacional, por gratidão, deveria colocar um busto do Presidente Lula em cada agência bancária existente no planeta, e não apenas conceder o simbólico prêmio de Estadista Mundial inventado às pressas.
A dificil continuidade futura da politica externa - Marcelo de Paiva Abreu
Uma coisa é o Brasil, outra é Lula
Marcelo de Paiva Abreu*
O Estado de São Paulo, segunda-feira, 3.5.2010
Têm sido frequentes as tentativas de rebater as críticas à política externa adotada desde 2003, com base na constatação de que publicações estrangeiras afirmam que "nunca o Brasil teve tanto prestígio". Sem entrar no mérito de tais avaliações e, mesmo acreditando que protagonismo e voluntarismo não são alicerces ideais de uma política externa eficaz, é importante desfazer confusões que impedem uma avaliação menos superficial da política externa do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Avaliação que ajude a alicerçar análise realista do que poderá ser a política externa pós-Lula.
É indubitável que a percepção que a opinião pública mundial tem do Brasil, hoje, configura avanço em relação ao passado. O Brasil, afinal, pode ser levado a sério depois da superação da inflação crônica que solapou sua credibilidade internacional por longo tempo. Reformas seletivas permitiram minorar distorções setoriais ou sociais mais gritantes. Por outro lado, houve o impacto favorável da imagem do presidente Lula na opinião pública internacional, que culminou no "this is the guy" de Barack Obama.
A política externa brasileira tem sido marcada pela simbiose do protagonismo institucional do Itamaraty com o protagonismo pessoal do presidente da República. Com base na diplomacia presidencial, vicejou a concentração de esforços em assegurar um lugar no novo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Multiplicaram-se as iniciativas de cunho político. Para o bem ou para o mal, a política externa foi acomodada à exploração da boa marca Lula.
A avaliação substantiva da política externa nos últimos oito anos sugere que os resultados estão longe de memoráveis. Do ponto de vista da imagem de Lula, contudo, o resultado é favorável.
Lula é hoje um líder mundial indubitavelmente influente. Mas isso não significa que a política externa brasileira tenha tido sucesso. Uma coisa é o Brasil, outra é Lula.
A sucessão de Lula se encarregará de sublinhar a diferença entre a avaliação da política externa e da política de exposição da imagem internacional do presidente. Será sustentável a atual política externa a partir do início de 2010? De fato, nem José Serra nem Dilma Rousseff têm perfis que se assemelhem de longe ao de Lula. No atual governo, a política externa caracterizou-se por privilegiar a forma em detrimento da substância. Sem poder contar com um substituto de Lula no plano midiático, a política externa do novo governo teria de ser rebalanceada para dar ênfase à substância. Menos protagonismo presidencial, menos fogos de artifício, mais arroz com feijão.
Ambos os candidatos podem aproveitar a limitada herança substantiva a ser recebida do atual governo sem ter grandes problemas. Talvez a melhor parte dessa herança seja o que se acumulou em reputação desde o início dos panels sobre algodão e açúcar em 2002, na Organização Mundial do Comércio (OMC). E, também, nas negociações da Rodada Doha. Embora a coalizão do G-20 da OMC se tenha trincado, há uma reputação que poderá ser útil em negociações futuras. Muito do que se fez quanto a negociações políticas também é pouco controvertido, embora os resultados sejam etéreos: integração na América do Sul, cooperação política com os demais países que compõem o Bric e relações com Índia e África do Sul no âmbito do Ibas.
As questões espinhosas a enfrentar no terreno político têm a ver com iniciativas que o atual governo considera como sinais de "altivez" e seus críticos consideram demonstrações de imprudência. Por razões distintas, quem suceder a Lula provavelmente tenderá a moderar tais iniciativas, em particular quanto ao Irã e seu programa nuclear e à sintonia automática com a hostilidade do neobolivarianismo aos Estados Unidos. Seja por discordância, seja por insegurança, mesmo que temporária.
Resta saber se algum dos dois candidatos terá condições de alcançar resultados substanciais na política externa, que sejam capazes de compensar o arrefecimento do ativismo "protagônico". Há pouco espaço para otimismo. Os candidatos têm indicado que haveria reticência, se não hostilidade, a negociações bilaterais, regionais ou multilaterais no terreno econômico.
De um lado, protecionismo pertinaz e alinhamento estreito com interesses industriais. De outro, além de protecionismo, crença quase religiosa no papel condutor do Estado.
O risco é que isso resulte em política externa sem fogos de artifício, mas, também, sem grande substância.
*Doutor em economia pela Universidade de Cambridge, é professor titular no Departamento de Economia da PUC-Rio.
Marcelo de Paiva Abreu*
O Estado de São Paulo, segunda-feira, 3.5.2010
Têm sido frequentes as tentativas de rebater as críticas à política externa adotada desde 2003, com base na constatação de que publicações estrangeiras afirmam que "nunca o Brasil teve tanto prestígio". Sem entrar no mérito de tais avaliações e, mesmo acreditando que protagonismo e voluntarismo não são alicerces ideais de uma política externa eficaz, é importante desfazer confusões que impedem uma avaliação menos superficial da política externa do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Avaliação que ajude a alicerçar análise realista do que poderá ser a política externa pós-Lula.
É indubitável que a percepção que a opinião pública mundial tem do Brasil, hoje, configura avanço em relação ao passado. O Brasil, afinal, pode ser levado a sério depois da superação da inflação crônica que solapou sua credibilidade internacional por longo tempo. Reformas seletivas permitiram minorar distorções setoriais ou sociais mais gritantes. Por outro lado, houve o impacto favorável da imagem do presidente Lula na opinião pública internacional, que culminou no "this is the guy" de Barack Obama.
A política externa brasileira tem sido marcada pela simbiose do protagonismo institucional do Itamaraty com o protagonismo pessoal do presidente da República. Com base na diplomacia presidencial, vicejou a concentração de esforços em assegurar um lugar no novo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Multiplicaram-se as iniciativas de cunho político. Para o bem ou para o mal, a política externa foi acomodada à exploração da boa marca Lula.
A avaliação substantiva da política externa nos últimos oito anos sugere que os resultados estão longe de memoráveis. Do ponto de vista da imagem de Lula, contudo, o resultado é favorável.
Lula é hoje um líder mundial indubitavelmente influente. Mas isso não significa que a política externa brasileira tenha tido sucesso. Uma coisa é o Brasil, outra é Lula.
A sucessão de Lula se encarregará de sublinhar a diferença entre a avaliação da política externa e da política de exposição da imagem internacional do presidente. Será sustentável a atual política externa a partir do início de 2010? De fato, nem José Serra nem Dilma Rousseff têm perfis que se assemelhem de longe ao de Lula. No atual governo, a política externa caracterizou-se por privilegiar a forma em detrimento da substância. Sem poder contar com um substituto de Lula no plano midiático, a política externa do novo governo teria de ser rebalanceada para dar ênfase à substância. Menos protagonismo presidencial, menos fogos de artifício, mais arroz com feijão.
Ambos os candidatos podem aproveitar a limitada herança substantiva a ser recebida do atual governo sem ter grandes problemas. Talvez a melhor parte dessa herança seja o que se acumulou em reputação desde o início dos panels sobre algodão e açúcar em 2002, na Organização Mundial do Comércio (OMC). E, também, nas negociações da Rodada Doha. Embora a coalizão do G-20 da OMC se tenha trincado, há uma reputação que poderá ser útil em negociações futuras. Muito do que se fez quanto a negociações políticas também é pouco controvertido, embora os resultados sejam etéreos: integração na América do Sul, cooperação política com os demais países que compõem o Bric e relações com Índia e África do Sul no âmbito do Ibas.
As questões espinhosas a enfrentar no terreno político têm a ver com iniciativas que o atual governo considera como sinais de "altivez" e seus críticos consideram demonstrações de imprudência. Por razões distintas, quem suceder a Lula provavelmente tenderá a moderar tais iniciativas, em particular quanto ao Irã e seu programa nuclear e à sintonia automática com a hostilidade do neobolivarianismo aos Estados Unidos. Seja por discordância, seja por insegurança, mesmo que temporária.
Resta saber se algum dos dois candidatos terá condições de alcançar resultados substanciais na política externa, que sejam capazes de compensar o arrefecimento do ativismo "protagônico". Há pouco espaço para otimismo. Os candidatos têm indicado que haveria reticência, se não hostilidade, a negociações bilaterais, regionais ou multilaterais no terreno econômico.
De um lado, protecionismo pertinaz e alinhamento estreito com interesses industriais. De outro, além de protecionismo, crença quase religiosa no papel condutor do Estado.
O risco é que isso resulte em política externa sem fogos de artifício, mas, também, sem grande substância.
*Doutor em economia pela Universidade de Cambridge, é professor titular no Departamento de Economia da PUC-Rio.
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