O balanço da pós-graduação
Editorial - O Estado de S.Paulo
16 de setembro de 2010
Promovida a cada três anos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação, a avaliação dos 4.099 cursos de mestrado e doutorado, que acaba de ser divulgada, registra avanços importantes na pós-graduação do País.
A primeira boa notícia é que o número de doutorados com padrão internacional vem crescendo. Em 2007, a Capes atribuiu os conceitos máximos (notas 6 e 7) a 237 cursos, nas mais variadas áreas do conhecimento. Neste ano, o número subiu para 298, o que representa 11% do total. Com isso, o Brasil pulou do 20.º para o 13.º lugar no ranking de produção científica do Journal of Scientific Research. Quando os cursos recebem as notas 1 e 2, eles são considerados "insuficientes", perdem o credenciamento e não podem conceder certificados. E os cursos que não se recuperarem nas avaliações seguintes podem até ser fechados. Do total de cursos avaliados, apenas 75 receberam os conceitos mais baixos. E 870 cursos foram considerados regulares, alcançando a nota 3.
Para receber a nota 6, os cursos precisam ter um desempenho equivalente ao dos centros de pesquisa e das universidades de ponta norte-americanas e europeias, principalmente em matéria de produção científica e de acordos regulares com instituições estrangeiras de ponta, do porte de uma London School of Economics e de uma University of Cambridge, na Inglaterra, e de universidades como Yale, Harvard, Columbia, Princeton ou o Massachusetts Institute of Technology (MIT).
No que se refere à produção científica, os professores e pesquisadores dos cursos de doutorado têm de exercer a liderança nacional em suas áreas de atuação, integrar entidades científicas e conselhos editoriais de periódicos, participar de congressos no exterior e publicar regularmente artigos nas mais prestigiosas revistas científicas internacionais. Em matéria de convênios e acordos, os cursos precisam manter intercâmbio internacional contínuo, desenvolver pesquisas conjuntas com instituições estrangeiras, ter doutorandos cursando disciplinas no exterior e contar em seu corpo docente com professores que sejam membros das diretorias das mais reputadas entidades acadêmicas internacionais.
Para alcançar a nota 7, os cursos não apenas precisam atender a essas exigências, como também têm de atrair alunos de outros países. E também têm de contar com financiamentos internacionais para suas pesquisas e projetos vinculados ao programa de pós-graduação.
A segunda boa notícia da avaliação trienal da Capes é que a pós-graduação já não mais está concentrada no Sudeste. Embora mais da metade dos programas de mestrado e doutorado esteja situada na região, principalmente no Estado de São Paulo, seguido pelo Estado do Rio de Janeiro, aumentou significativamente o número de cursos tanto no Nordeste como no Norte. Nesta região, por exemplo, o aumento foi de 35,3%, em relação à avaliação de 2007. E, no Nordeste, o crescimento foi de 31,3%.
Como são cursos recentes, eles precisam de tempo para obter melhores notas. Hoje, o Norte só tem um curso com padrão internacional, a pós-graduação em geologia e geoquímica da UFPA. Parece pouco, mas é uma conquista, considerando-se as carências da região amazônica. Como era de esperar, por causa da pujança econômica de São Paulo, as três universidades estaduais paulistas e as universidades federais de São Carlos e de São Paulo são as que têm maior número de cursos com as notas máximas. A líder do ranking da Capes é a USP, com 34 cursos com padrão internacional, situados nos campi de São Paulo, Ribeirão Preto, Piracicaba e São Carlos, seguida pela Unicamp, com 15 cursos.
A avaliação da pós-graduação, que envolveu 877 consultores recrutados nos próprios cursos de mestrado e doutorado, começou a ser implantada há mais de três décadas, quando a Capes era chefiada pelo economista Cláudio Moura Castro, e hoje é considerada uma das mais eficientes do mundo. Os conceitos atribuídos servem de parâmetro para a concessão de bolsas e financiamentos de projetos, pelas agências nacionais e internacionais de fomento à pesquisa.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Ranking das universidades: USP e Unicamp depois de 232...
Melhores universidades do mundo estão nos EUA
MARCOS FLAMÍNIO PERES
Folha de S.Paulo, 16/09/2010
Não é só mito, mas estatística: Harvard é a melhor universidade do mundo, os EUA, sozinhos, abrigam 15 das 20 melhores instituições de ensino do planeta, e é dinheiro, muito dinheiro, que move essa engrenagem.
Essas são algumas das conclusões do Ranking Mundial de Universidades 2010-11 da Times Higher Education, referência em ensino superior que a Folha publica com exclusividade no Brasil.
OPINIÃO: Nova versão do ranking se baseia em detalhadas consultas internacionais
DEPOIMENTO: Em Harvard, você é só um grão de areia em boa companhia
Na América Latina, USP é a 1ª colocada em ranking
A crise financeira de 2008 parece não ter provocado estrago nos campi dos EUA. Entre as 200 instituições que figuram no ranking, mais de um terço é de norte-americanas (72).
A receita é simples, segundo Ann Mroz, editora da THE: "Os EUA investem 3,1% de seu Produto Interno Bruto em educação superior, enquanto os demais países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico investem 1,5%".
FORÇA ASIÁTICA
Em sua sétima edição, o ranking também revela a forte presença das asiáticas. Entre as 50 melhores, o continente possui sete --China (2), Hong Kong (2), Japão, Coreia do Sul e Cingapura-- e, nessa faixa, já bate a Europa continental: Suíça (2), França (2), Alemanha e Suécia.
No entanto, se for incluído o Reino Unido, a balança pende para a Europa. A ilha detém quatro das 50 melhores universidades, três delas entre as dez primeiras (Cambridge, Oxford e Imperial College). Levando-se em conta o ranking completo, o Reino Unido (com 29) e Europa continental (com 51) disparam.
No total, as asiáticas somam 27 --China (6), Japão (5), Taiwan e Coreia do Sul (4 cada uma) são os destaques.
Já as instituições dos países de língua inglesa, somadas, dominam 120 posições --ou 60% do ranking (Canadá --nove-- e Austrália --sete-- vêm em seguida).
Na Europa continental, a surpresa foi a Alemanha. Com 14 instituições, o motor econômico da região também lidera o ensino superior. O país "investiu 18 bilhões de euros em pesquisa nos últimos cinco anos", afirma Mroz.
A França decepcionou: figura apenas em quinto.
NOVOS CRITÉRIOS
A versão 2010-11 do ranking da THE passou por ampla reformulação --a começar da compiladora dos dados, que é a Thomson Reuters. Mas a mudança mais radical, segundo Mroz, foi de metodologia: "Usamos hoje 13 indicadores, em vez dos seis usados anteriormente [...] e ouvimos 13.388 acadêmicos altamente qualificados, de todo o mundo".
O critério de reputação também teve seu peso reduzido. "Privilegiamos mais as evidências objetivas --e não as subjetivas."
Colaborou EMILIO SANT'ANNA, de São Paulo
[A USP está no lugar 232 e a Unicamp em 248)
MARCOS FLAMÍNIO PERES
Folha de S.Paulo, 16/09/2010
Não é só mito, mas estatística: Harvard é a melhor universidade do mundo, os EUA, sozinhos, abrigam 15 das 20 melhores instituições de ensino do planeta, e é dinheiro, muito dinheiro, que move essa engrenagem.
Essas são algumas das conclusões do Ranking Mundial de Universidades 2010-11 da Times Higher Education, referência em ensino superior que a Folha publica com exclusividade no Brasil.
OPINIÃO: Nova versão do ranking se baseia em detalhadas consultas internacionais
DEPOIMENTO: Em Harvard, você é só um grão de areia em boa companhia
Na América Latina, USP é a 1ª colocada em ranking
A crise financeira de 2008 parece não ter provocado estrago nos campi dos EUA. Entre as 200 instituições que figuram no ranking, mais de um terço é de norte-americanas (72).
A receita é simples, segundo Ann Mroz, editora da THE: "Os EUA investem 3,1% de seu Produto Interno Bruto em educação superior, enquanto os demais países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico investem 1,5%".
FORÇA ASIÁTICA
Em sua sétima edição, o ranking também revela a forte presença das asiáticas. Entre as 50 melhores, o continente possui sete --China (2), Hong Kong (2), Japão, Coreia do Sul e Cingapura-- e, nessa faixa, já bate a Europa continental: Suíça (2), França (2), Alemanha e Suécia.
No entanto, se for incluído o Reino Unido, a balança pende para a Europa. A ilha detém quatro das 50 melhores universidades, três delas entre as dez primeiras (Cambridge, Oxford e Imperial College). Levando-se em conta o ranking completo, o Reino Unido (com 29) e Europa continental (com 51) disparam.
No total, as asiáticas somam 27 --China (6), Japão (5), Taiwan e Coreia do Sul (4 cada uma) são os destaques.
Já as instituições dos países de língua inglesa, somadas, dominam 120 posições --ou 60% do ranking (Canadá --nove-- e Austrália --sete-- vêm em seguida).
Na Europa continental, a surpresa foi a Alemanha. Com 14 instituições, o motor econômico da região também lidera o ensino superior. O país "investiu 18 bilhões de euros em pesquisa nos últimos cinco anos", afirma Mroz.
A França decepcionou: figura apenas em quinto.
NOVOS CRITÉRIOS
A versão 2010-11 do ranking da THE passou por ampla reformulação --a começar da compiladora dos dados, que é a Thomson Reuters. Mas a mudança mais radical, segundo Mroz, foi de metodologia: "Usamos hoje 13 indicadores, em vez dos seis usados anteriormente [...] e ouvimos 13.388 acadêmicos altamente qualificados, de todo o mundo".
O critério de reputação também teve seu peso reduzido. "Privilegiamos mais as evidências objetivas --e não as subjetivas."
Colaborou EMILIO SANT'ANNA, de São Paulo
[A USP está no lugar 232 e a Unicamp em 248)
Aposta mafiosa: ganha (ou perdida) pela metade
Como sabem os que acompanham este blog, eu fiz uma aposta contra mim mesmo, segundo a qual, um ou os dois dos meliantes que participaram de crimes políticos e de crimes comuns nos últimos tempos seria(m) demitido(s) ou apresentaria(m) demissão.
(Vejam aqui e aqui.)
Não acreditava que pudesse ocorrer, pelo menos não com os elementos de informação até então disponíveis. Mas é que outros fatos, indesmentíveis, se acumularam, levando à primeira queda. Está faltando a segunda...
Eis a carta de "demitida" da ex-ministra enrolada. Sim, sua carta de demissão foi forçada, o que é evidente para qualquer estudante de jornalismo ou direito (ou não, para qualquer pessoa medianamente bem informada).
Paulo Roberto de Almeida
Leia íntegra da carta de demissão da ministra Erenice Guerra
Porta-voz leu carta de demissão da ministra no Palácio do Planalto.
Filho da ministra é acusado de tráfico de influência na Casa Civil.
Do G1, em Brasília, 16/09/2010 13h36 - Atualizado em 16/09/2010 13h40
O porta-voz da Presidência da República, Marcelo Baumbach, anunciou nesta quinta-feira (16) a saída de Erenice Guerra da Casa Civil.
Leia abaixo a íntegra da carta de demissão:
"Senhor Presidente
Nos últimos dias, fui surpreendida por uma série de matérias vinculadas por alguns órgãos da imprensa contendo acusações que envolvem familiares meus e um ex-servidor lotado nesta pasta, tenho respondido uma a uma, buscando esclarecer o que se publica e principalmente a verdade dos fatos, defrontando-me com toda a sorte de afirmações, ilações e mentiras que visam a desacreditar o meu trabalho e atingir o governo ao qual sirvo.
Não posso, não devo e nem quero furtar-me a tarefa de esclarecer todas essas acusações nem posso deixar qualquer dúvida pairando acerca da minha honradez e da seriedade com a qual me porto no serviço público. Nada fiz e permiti que se fizesse ao longo de 30 anos de minha trajetória pública que não tenha sido um estrito cumprimento dos meus deveres. Prova irrefutável dessa minha postura, é que já solicitei à Comissão de Ética a abertura de procedimento para esclarecimento dos fatos aleivosamente contra mim levantados. À Controladoria-Geral da União (CGU), a auditagem dos atos relativos à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), dos Correios e da contratação de parecer jurídico da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), além de solicitar ao Ministério da Justiça a abertura dos procedimentos que se fizerem necessários no âmbito daquela pasta para também esclarecer os citados fatos.
No entanto, mesmo com todas essas medidas por mim adotadas, inclusive com a abertura dos meus sigilos telefônico, bancário e fiscal, a sórdida campanha para desconstituição da minha imagem, do meu trabalho e da minha família continuou implacável. Não apresentam uma única prova sobre minha participação em qualquer dos pretensos atos levianamente questionados, mas mesmo assim estampam, diariamente, manchetes cujo único objetivo é criar e alimentar artificialmente um clima de escândalo. Não conhecem limites.
Senhor presidente, por ter formação cristã, não desejo nem para o pior dos meus inimigos que ele venha a passar por uma campanha de desqualificação como a que se desencadeou contra mim e minha família. As paixões eleitorais não podem justificar esse vale-tudo. Preciso agora de paz e tempo para defender a mim e a minha família, fazendo com que a verdade prevaleça, o que se torna incompatível com a carga de trabalho que tenho a honra de desempenhar na Casa Civil.
Por isso, agradecendo a confiança de vossa excelência ao designar-me para a honrosa função de ministra-chefe da Casa Civil da República, solicito em caráter irrevogável que aceite meu pedido de demissão. Cabe-me daqui por diante a missão de lutar para que a verdade dos fatos seja restabelecida.
Brasília, 16 de setembro de 2010"
(Vejam aqui e aqui.)
Não acreditava que pudesse ocorrer, pelo menos não com os elementos de informação até então disponíveis. Mas é que outros fatos, indesmentíveis, se acumularam, levando à primeira queda. Está faltando a segunda...
Eis a carta de "demitida" da ex-ministra enrolada. Sim, sua carta de demissão foi forçada, o que é evidente para qualquer estudante de jornalismo ou direito (ou não, para qualquer pessoa medianamente bem informada).
Paulo Roberto de Almeida
Leia íntegra da carta de demissão da ministra Erenice Guerra
Porta-voz leu carta de demissão da ministra no Palácio do Planalto.
Filho da ministra é acusado de tráfico de influência na Casa Civil.
Do G1, em Brasília, 16/09/2010 13h36 - Atualizado em 16/09/2010 13h40
O porta-voz da Presidência da República, Marcelo Baumbach, anunciou nesta quinta-feira (16) a saída de Erenice Guerra da Casa Civil.
Leia abaixo a íntegra da carta de demissão:
"Senhor Presidente
Nos últimos dias, fui surpreendida por uma série de matérias vinculadas por alguns órgãos da imprensa contendo acusações que envolvem familiares meus e um ex-servidor lotado nesta pasta, tenho respondido uma a uma, buscando esclarecer o que se publica e principalmente a verdade dos fatos, defrontando-me com toda a sorte de afirmações, ilações e mentiras que visam a desacreditar o meu trabalho e atingir o governo ao qual sirvo.
Não posso, não devo e nem quero furtar-me a tarefa de esclarecer todas essas acusações nem posso deixar qualquer dúvida pairando acerca da minha honradez e da seriedade com a qual me porto no serviço público. Nada fiz e permiti que se fizesse ao longo de 30 anos de minha trajetória pública que não tenha sido um estrito cumprimento dos meus deveres. Prova irrefutável dessa minha postura, é que já solicitei à Comissão de Ética a abertura de procedimento para esclarecimento dos fatos aleivosamente contra mim levantados. À Controladoria-Geral da União (CGU), a auditagem dos atos relativos à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), dos Correios e da contratação de parecer jurídico da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), além de solicitar ao Ministério da Justiça a abertura dos procedimentos que se fizerem necessários no âmbito daquela pasta para também esclarecer os citados fatos.
No entanto, mesmo com todas essas medidas por mim adotadas, inclusive com a abertura dos meus sigilos telefônico, bancário e fiscal, a sórdida campanha para desconstituição da minha imagem, do meu trabalho e da minha família continuou implacável. Não apresentam uma única prova sobre minha participação em qualquer dos pretensos atos levianamente questionados, mas mesmo assim estampam, diariamente, manchetes cujo único objetivo é criar e alimentar artificialmente um clima de escândalo. Não conhecem limites.
Senhor presidente, por ter formação cristã, não desejo nem para o pior dos meus inimigos que ele venha a passar por uma campanha de desqualificação como a que se desencadeou contra mim e minha família. As paixões eleitorais não podem justificar esse vale-tudo. Preciso agora de paz e tempo para defender a mim e a minha família, fazendo com que a verdade prevaleça, o que se torna incompatível com a carga de trabalho que tenho a honra de desempenhar na Casa Civil.
Por isso, agradecendo a confiança de vossa excelência ao designar-me para a honrosa função de ministra-chefe da Casa Civil da República, solicito em caráter irrevogável que aceite meu pedido de demissão. Cabe-me daqui por diante a missão de lutar para que a verdade dos fatos seja restabelecida.
Brasília, 16 de setembro de 2010"
Ranking de universidades: latinas abaixo da critica
Se alguma, alguma vez, em algum momento futuro, for colocada na lista das 200 melhores do mundo, pode ser uma boa coisa, mas isso refletirá, provavelmente, o desempenho de algumas áreas científicas de uma ou outra tomadas isoladamente, o que obviamente não reflete o estado geral de descalabro universitário.
Acho que ainda vai demorar um bocado para termos, como a Austrália, sete entre as 200 melhores...
Paulo Roberto de Almeida
The World University Rankings
The Times, 16th September 2010
Comentário: Nenhuma universidade sul-americana está listada entre as 200 melhores do mundo na listagem do Times Higher Education. A Universidade de Buenos Aires, a USP e a UNICAMP são candidatas a serem incluídas nas “top 200” na região. A análise abaixo, com ênfase no caso brasileiro, mostra o quanto de caminho há que percorrer para atingir a excelência... Para os interessados vide o endereço:
http://www.timeshighereducation.co.uk/world-university-rankings/ - como medida de comparação, a Austrália tem 7 (repito sete) universidades na lista da melhores do mundo.
The goals will come
By Phil Baty
Unlike their football teams, South America's universities have not made a global splash. But Brazil looks likely to score some big successes soon.
The continent of South America does not have a single institution in the Times Higher Education list of the world’s 200 top universities.
And those institutions most likely to break into the elite list, according to one expert, are hampered by a number of obstacles in their climb to the top.
“Latin America has several serious challenges on the road to developing world-class universities,” says Philip Altbach, director of the Center for International Higher Education at Boston College, US.
“The main contenders are the continent’s great public universities such as the University of Buenos Aires. These are, however, saddled with cumbersome, bureaucratic and sometimes politicised governance structures. They rely mainly on part-time faculty – and part-timers can never be the basis of a research university. They are also under-funded and most are unable to charge tuition fees to their students.”
But there are undoubtedly bright spots, he says. “Perhaps only in the Brazilian state of São Paulo can there be world-class universities. Its two main universities are staffed by full-time faculty who hold doctorates, and the universities have a significant research mission and adequate funding from the state.”
Indeed, the University of São Paulo was very close to making it into the table of the top 200 institutions for 2010-11 – as revealed in data from the Times Higher Education World University Rankings iPhone application, which includes information on more than 400 institutions.
The iPhone rankings app also reveals that the State University of Campinas and São Paulo State University are also sitting just outside the top 200.
In his 2009 book The Challenge of Establishing World Class Universities, Jamil Salmi, tertiary education coordinator at the World Bank, highlights both the potential of and the challenges at the University of São Paulo.
It is the most selective institution in Brazil, he writes, and it has “the highest number of top-rated graduate programmes, and every year it produces more PhD graduates than any US university”.
But he laments: “At the same time, its ability to manage its resources is constrained by rigid civil service regulations, even though it is the richest university in the country.
“It has very few linkages with the international research community, and only 3 per cent of its graduate students are from outside Brazil. The university is very inward-looking.”
Salmi tells THE that there have been many positive developments in the region. He highlights the establishment of accreditation systems in most of its countries, and the development of student loan systems in Brazil, Chile and Colombia.
However, he also outlines the challenges: low public investment in higher education, hidebound governance structures, a paucity of international exchange programmes and links, predominantly monolingual campus cultures and a “lack of long-term vision for the development of higher education”.
But Andreas Schleicher, head of the indicators and analysis division at the Organisation for Economic Cooperation and Development’s Directorate for Education, says that for some countries in the region, “there have been very interesting recent developments” that may soon have an impact on the Times Higher Education World University Rankings.
“While for most OECD countries spending per student has continued to rise since 2000, countries such as Brazil and Chile have seen much faster rises in participation than [rises in] spending levels,” he says.
Spending per student in Chile has dropped by 25 per cent and by 15 per cent in Brazil – “and yet, the labour-market returns to higher education seem to be picking up.
“In Brazil, the earnings advantage of tertiary graduates over secondary school graduates is now over 263 per cent, well above the figure for any OECD country. The figure for the US, which is high by OECD standards, is 177 per cent.
“It is hard to say to what extent supply or demand factors play into this, but these data may suggest that quality is improving.”
And the continent appears poised for a much greater profile in world-class research in some key fields.
A Global Research Report on Brazil by Thomson Reuters, the data supplier for the World University Rankings, identifies Brazil as a dominant force in a new pack of “Latin tigers” – including Mexico and Argentina.
The report says that Latin America’s share of the world’s scientific papers rose from 1.7 per cent in 1990 to 4.8 per cent in 2008. In 1981, about 2,000 papers had an author address in Brazil. In 2008, the figure was about 20,000.
“The most striking feature of the new geography of science is the sheer scale of investment and mobilisation of people behind innovation that is under way, driven by a high-tech vision of how to succeed in the global economy,” the Thomson Reuters report says.
Brazil, which has a population of 190 million, spent £8.4 billion on research and development in 2007: this equates to roughly 1 per cent of gross domestic product – well ahead of many European nations.
Each year, the country produces more than 500,000 new graduates and about 10,000 new PhD researchers, the report says, representing a 10-fold increase in 20 years.
It is in the life sciences that Brazil is most impressive.
Between 2003 and 2007, the country published about 85,000 papers, which accounted for 1.83 per cent of all the papers published in journals indexed by Thomson Reuters.
But Brazil accounts for almost 19 per cent of the global share of research papers in tropical medicine, and more than 12 per cent of those in parasitology.
In its report, Thomson Reuters warns: “Brazil is an increasingly important and competitive research economy. Its research workforce capacity and R & D investment are expanding rapidly, offering many new possibilities in a rapidly diversifying research portfolio. Brazil’s profile, improving excellence, size and interface with the rest of the international research base make it an essential partner in any future international research portfolio.”
Acho que ainda vai demorar um bocado para termos, como a Austrália, sete entre as 200 melhores...
Paulo Roberto de Almeida
The World University Rankings
The Times, 16th September 2010
Comentário: Nenhuma universidade sul-americana está listada entre as 200 melhores do mundo na listagem do Times Higher Education. A Universidade de Buenos Aires, a USP e a UNICAMP são candidatas a serem incluídas nas “top 200” na região. A análise abaixo, com ênfase no caso brasileiro, mostra o quanto de caminho há que percorrer para atingir a excelência... Para os interessados vide o endereço:
http://www.timeshighereducation.co.uk/world-university-rankings/ - como medida de comparação, a Austrália tem 7 (repito sete) universidades na lista da melhores do mundo.
The goals will come
By Phil Baty
Unlike their football teams, South America's universities have not made a global splash. But Brazil looks likely to score some big successes soon.
The continent of South America does not have a single institution in the Times Higher Education list of the world’s 200 top universities.
And those institutions most likely to break into the elite list, according to one expert, are hampered by a number of obstacles in their climb to the top.
“Latin America has several serious challenges on the road to developing world-class universities,” says Philip Altbach, director of the Center for International Higher Education at Boston College, US.
“The main contenders are the continent’s great public universities such as the University of Buenos Aires. These are, however, saddled with cumbersome, bureaucratic and sometimes politicised governance structures. They rely mainly on part-time faculty – and part-timers can never be the basis of a research university. They are also under-funded and most are unable to charge tuition fees to their students.”
But there are undoubtedly bright spots, he says. “Perhaps only in the Brazilian state of São Paulo can there be world-class universities. Its two main universities are staffed by full-time faculty who hold doctorates, and the universities have a significant research mission and adequate funding from the state.”
Indeed, the University of São Paulo was very close to making it into the table of the top 200 institutions for 2010-11 – as revealed in data from the Times Higher Education World University Rankings iPhone application, which includes information on more than 400 institutions.
The iPhone rankings app also reveals that the State University of Campinas and São Paulo State University are also sitting just outside the top 200.
In his 2009 book The Challenge of Establishing World Class Universities, Jamil Salmi, tertiary education coordinator at the World Bank, highlights both the potential of and the challenges at the University of São Paulo.
It is the most selective institution in Brazil, he writes, and it has “the highest number of top-rated graduate programmes, and every year it produces more PhD graduates than any US university”.
But he laments: “At the same time, its ability to manage its resources is constrained by rigid civil service regulations, even though it is the richest university in the country.
“It has very few linkages with the international research community, and only 3 per cent of its graduate students are from outside Brazil. The university is very inward-looking.”
Salmi tells THE that there have been many positive developments in the region. He highlights the establishment of accreditation systems in most of its countries, and the development of student loan systems in Brazil, Chile and Colombia.
However, he also outlines the challenges: low public investment in higher education, hidebound governance structures, a paucity of international exchange programmes and links, predominantly monolingual campus cultures and a “lack of long-term vision for the development of higher education”.
But Andreas Schleicher, head of the indicators and analysis division at the Organisation for Economic Cooperation and Development’s Directorate for Education, says that for some countries in the region, “there have been very interesting recent developments” that may soon have an impact on the Times Higher Education World University Rankings.
“While for most OECD countries spending per student has continued to rise since 2000, countries such as Brazil and Chile have seen much faster rises in participation than [rises in] spending levels,” he says.
Spending per student in Chile has dropped by 25 per cent and by 15 per cent in Brazil – “and yet, the labour-market returns to higher education seem to be picking up.
“In Brazil, the earnings advantage of tertiary graduates over secondary school graduates is now over 263 per cent, well above the figure for any OECD country. The figure for the US, which is high by OECD standards, is 177 per cent.
“It is hard to say to what extent supply or demand factors play into this, but these data may suggest that quality is improving.”
And the continent appears poised for a much greater profile in world-class research in some key fields.
A Global Research Report on Brazil by Thomson Reuters, the data supplier for the World University Rankings, identifies Brazil as a dominant force in a new pack of “Latin tigers” – including Mexico and Argentina.
The report says that Latin America’s share of the world’s scientific papers rose from 1.7 per cent in 1990 to 4.8 per cent in 2008. In 1981, about 2,000 papers had an author address in Brazil. In 2008, the figure was about 20,000.
“The most striking feature of the new geography of science is the sheer scale of investment and mobilisation of people behind innovation that is under way, driven by a high-tech vision of how to succeed in the global economy,” the Thomson Reuters report says.
Brazil, which has a population of 190 million, spent £8.4 billion on research and development in 2007: this equates to roughly 1 per cent of gross domestic product – well ahead of many European nations.
Each year, the country produces more than 500,000 new graduates and about 10,000 new PhD researchers, the report says, representing a 10-fold increase in 20 years.
It is in the life sciences that Brazil is most impressive.
Between 2003 and 2007, the country published about 85,000 papers, which accounted for 1.83 per cent of all the papers published in journals indexed by Thomson Reuters.
But Brazil accounts for almost 19 per cent of the global share of research papers in tropical medicine, and more than 12 per cent of those in parasitology.
In its report, Thomson Reuters warns: “Brazil is an increasingly important and competitive research economy. Its research workforce capacity and R & D investment are expanding rapidly, offering many new possibilities in a rapidly diversifying research portfolio. Brazil’s profile, improving excellence, size and interface with the rest of the international research base make it an essential partner in any future international research portfolio.”
Triste fim de Policarpo Fidel Castro: um modelito pret-a-rien...
Triste fim a desse gerontocrata totalitário: quando tem um repente de sinceridade, um vislumbre de realismo, no meio dos devaneios com que conduz o povo cubano há meio século, causa surpresa geral na galera e é obrigado a se desdizer.
Eu fico imaginando a cara, e as angústias, de meia dúzia de idiotas apoiadores aqui mesmo no Brasil, que estavam dispostos a apoiar Cuba hasta la muerte, siempre...
De repente, tendo dedicado toda uma carreira medíocre a defender o totalitarismo cubano, vem o líder supremo e "crau!", lhes retira o tapete sob os pés??!!
Isso não se faz.
Ainda bem que Fidel se desmentiu, para alívio dos stalinistas locais, para conforto dos boçais que apoiam um sistema prisional e absolutamente desumano.
Que o modelo não funciona, que ele seja disfuncional para fins de crescimento e criação de riqueza, que ele seja amoral, imoral, ilegítimo e absolutamente pornográfico do ponto de vista das liberdades democráticas, isso já se sabia há muito tempo.
Mas, se esperava que só depois da morte do patriarca ditatorial se fosse finalmente reconhecer essa verdade elementar.
Que o próprio ditador o tenha dito, isso representa uma traição à causa, sobretudo da nomenklatura que vive às expensas do povo cubano.
Pronto, voltamos à estaca zero, para conforto dos idiotas cubanófilos...
Paulo Roberto de Almeida
Cuba: Quem quer comprar?
Percival Puggina
Opinião e Notícia, 16/09/2010
E Fidel saiu-se com esta: 'O modelo cubano não funciona mais nem para nós'
Cuba é bem mais do que uma ilha em forma de lagarto, plantada no meio do Caribe. Cuba é um divisor de águas entre democratas e totalitários. Não tem erro. Saiu em defesa de Cuba, começou a falar em educação, saúde e “bloqueio” americano, deu. Não precisa dizer mais nada. O cara abriu a porta do armário e assumiu. O negócio dele é o comunismo da velha guarda. Na melhor das hipóteses, marxismo-leninismo; na pior e mais provável, stalinismo.
Pois eis que Fidel Castro decidiu conceder longa entrevista ao jornalista norte-americano Jeffrey Goldberg. Embora a pauta fosse o ambiente político do Oriente Médio e o tom belicoso das posições de Ahmadinejad, Fidel gosta de falar e outros assuntos entraram na conversa. Não li toda a matéria. Poucas coisas serão tão infrutíferas quanto conhecer a opinião de Fidel a respeito de Ahmadinejad. Convenhamos. Horas tantas, o jornalista faz uma pergunta absolutamente sem sentido e obtém por resposta algo que arrancou manchetes mundo afora. É dessas coisas que acontecem uma vez na vida de cada jornalista sortudo. A pergunta foi sobre se valia a pena exportar o sistema cubano para outros países. Pondere, leitor, o absurdo da indagação: como poderia haver interesse em exportar algo sem qualquer cotação no mercado mundial há mais de três décadas? E Fidel saiu-se com esta: “O modelo cubano não funciona mais nem para nós”. Como se percebe, há na frase sinceridade e falsidade. Sincero o reconhecimento. Falsa a sugestão de que, durante certo tempo, o sistema teria funcionado.
De todo modo, até o dia 8 de setembro, quando foi divulgada a observação do líder da revolução cubana, supunha-se que só ele, o líder da revolução cubana ainda levasse fé na própria obra. Dois dias mais tarde, diante da repercussão internacional dessa sapientíssima frase, ele voltou atrás e disse ter sido mal-interpretado. Alegou que afirmara o oposto: o que não funcionaria é o capitalismo. E assim ficamos sabendo que os países capitalistas são um desastre e os socialistas um sucesso de público e renda.
Entenda-se o velho. Aos 84 anos ele já não pode mais voltar atrás. Vendeu a alma a Mefisto e os ponteiros de seu relógio quebraram. Quando fez uma primeira experiência com a sinceridade, deu-se mal. Coisa como para nunca mais. Era preciso retroceder e apelar para o “fui mal entendido”. Está bem, Fidel. Foste mal entendido. Mas ainda que tivesses sido bem entendido, andaste bem longe do problema de teu país. Neste último meio século, as dificuldades da antiga Pérola do Caribe, que transformaste num presídio, bem antes de serem econômicas, são políticas! Mais do que a ineficácia de uma economia estatizada, o que faz dó em Cuba é o totalitarismo. É a asfixia de todas as liberdades. São as prisões por delito de opinião. São os julgamentos políticos em rito sumaríssimo. É o paredón. É o aviltamento dos direitos humanos (quem disse que eles se restringem a educação e saúde?). É a perseguição aos homossexuais. São os linchamentos morais. É haver um espião do governo em cada quarteirão de cada cidade do país. É a dissimulação como forma de convívio social. É a falta de algo a que se possa chamar de vida privada. É terem os estrangeiros, em Cuba, direitos que são negados aos cubanos. É serem os cubanos cidadãos de segunda categoria em seu próprio país.
Há meio século – contam-se aí duas gerações – Cuba está submetida aos devaneios totalitários de um fanático que, para maior dos pesares, agrupou adeptos mundo afora. Esses adeptos atuaram na mais inverossímil e resistente montagem publicitária que o mundo já viu, em tudo superior à soviética, que desabou 21 anos atrás. Pois não bastasse a ressonância universal do fracasso, o mundo se encanta quando Fidel declara que o sistema econômico cubano não funciona mais. Mas o problema de Cuba é outro e ele está longe de reconhecer.
Eu fico imaginando a cara, e as angústias, de meia dúzia de idiotas apoiadores aqui mesmo no Brasil, que estavam dispostos a apoiar Cuba hasta la muerte, siempre...
De repente, tendo dedicado toda uma carreira medíocre a defender o totalitarismo cubano, vem o líder supremo e "crau!", lhes retira o tapete sob os pés??!!
Isso não se faz.
Ainda bem que Fidel se desmentiu, para alívio dos stalinistas locais, para conforto dos boçais que apoiam um sistema prisional e absolutamente desumano.
Que o modelo não funciona, que ele seja disfuncional para fins de crescimento e criação de riqueza, que ele seja amoral, imoral, ilegítimo e absolutamente pornográfico do ponto de vista das liberdades democráticas, isso já se sabia há muito tempo.
Mas, se esperava que só depois da morte do patriarca ditatorial se fosse finalmente reconhecer essa verdade elementar.
Que o próprio ditador o tenha dito, isso representa uma traição à causa, sobretudo da nomenklatura que vive às expensas do povo cubano.
Pronto, voltamos à estaca zero, para conforto dos idiotas cubanófilos...
Paulo Roberto de Almeida
Cuba: Quem quer comprar?
Percival Puggina
Opinião e Notícia, 16/09/2010
E Fidel saiu-se com esta: 'O modelo cubano não funciona mais nem para nós'
Cuba é bem mais do que uma ilha em forma de lagarto, plantada no meio do Caribe. Cuba é um divisor de águas entre democratas e totalitários. Não tem erro. Saiu em defesa de Cuba, começou a falar em educação, saúde e “bloqueio” americano, deu. Não precisa dizer mais nada. O cara abriu a porta do armário e assumiu. O negócio dele é o comunismo da velha guarda. Na melhor das hipóteses, marxismo-leninismo; na pior e mais provável, stalinismo.
Pois eis que Fidel Castro decidiu conceder longa entrevista ao jornalista norte-americano Jeffrey Goldberg. Embora a pauta fosse o ambiente político do Oriente Médio e o tom belicoso das posições de Ahmadinejad, Fidel gosta de falar e outros assuntos entraram na conversa. Não li toda a matéria. Poucas coisas serão tão infrutíferas quanto conhecer a opinião de Fidel a respeito de Ahmadinejad. Convenhamos. Horas tantas, o jornalista faz uma pergunta absolutamente sem sentido e obtém por resposta algo que arrancou manchetes mundo afora. É dessas coisas que acontecem uma vez na vida de cada jornalista sortudo. A pergunta foi sobre se valia a pena exportar o sistema cubano para outros países. Pondere, leitor, o absurdo da indagação: como poderia haver interesse em exportar algo sem qualquer cotação no mercado mundial há mais de três décadas? E Fidel saiu-se com esta: “O modelo cubano não funciona mais nem para nós”. Como se percebe, há na frase sinceridade e falsidade. Sincero o reconhecimento. Falsa a sugestão de que, durante certo tempo, o sistema teria funcionado.
De todo modo, até o dia 8 de setembro, quando foi divulgada a observação do líder da revolução cubana, supunha-se que só ele, o líder da revolução cubana ainda levasse fé na própria obra. Dois dias mais tarde, diante da repercussão internacional dessa sapientíssima frase, ele voltou atrás e disse ter sido mal-interpretado. Alegou que afirmara o oposto: o que não funcionaria é o capitalismo. E assim ficamos sabendo que os países capitalistas são um desastre e os socialistas um sucesso de público e renda.
Entenda-se o velho. Aos 84 anos ele já não pode mais voltar atrás. Vendeu a alma a Mefisto e os ponteiros de seu relógio quebraram. Quando fez uma primeira experiência com a sinceridade, deu-se mal. Coisa como para nunca mais. Era preciso retroceder e apelar para o “fui mal entendido”. Está bem, Fidel. Foste mal entendido. Mas ainda que tivesses sido bem entendido, andaste bem longe do problema de teu país. Neste último meio século, as dificuldades da antiga Pérola do Caribe, que transformaste num presídio, bem antes de serem econômicas, são políticas! Mais do que a ineficácia de uma economia estatizada, o que faz dó em Cuba é o totalitarismo. É a asfixia de todas as liberdades. São as prisões por delito de opinião. São os julgamentos políticos em rito sumaríssimo. É o paredón. É o aviltamento dos direitos humanos (quem disse que eles se restringem a educação e saúde?). É a perseguição aos homossexuais. São os linchamentos morais. É haver um espião do governo em cada quarteirão de cada cidade do país. É a dissimulação como forma de convívio social. É a falta de algo a que se possa chamar de vida privada. É terem os estrangeiros, em Cuba, direitos que são negados aos cubanos. É serem os cubanos cidadãos de segunda categoria em seu próprio país.
Há meio século – contam-se aí duas gerações – Cuba está submetida aos devaneios totalitários de um fanático que, para maior dos pesares, agrupou adeptos mundo afora. Esses adeptos atuaram na mais inverossímil e resistente montagem publicitária que o mundo já viu, em tudo superior à soviética, que desabou 21 anos atrás. Pois não bastasse a ressonância universal do fracasso, o mundo se encanta quando Fidel declara que o sistema econômico cubano não funciona mais. Mas o problema de Cuba é outro e ele está longe de reconhecer.
Republica Mafiosa do Brasil (26): l'embarras du choix
Os franceses usam essa expressão para designar a hesitação de alguém em face de muitas opções disponíveis, ou seja, uma profusão de escolhas frente às quais não se sabe bem qual a mais interessante, qual o prato mais apetitoso, qual garota convidar para ir ao cinema, enfim, dúvidas sempre de natureza positiva...
No meu caso, as opções são simplesmente horrorosas, para dar continuidade -- o que eu sinceramente não gostaria -- a esta minha série que pensei iria terminar muito rapidamente.
Passei o dia lendo coisas terríveis, cada uma mais cabeluda que a outra, informações (de caráter mafioso, claro), desmentidos, agitações, análises, crônicas de costumes, colunas de jornalistas famosos e outras matérias de repórteres menos famosos. Todo esse material horripilante, não apenas relacionado ao caso do momento, mas a ele conectado por uma série de razões, eleitorais ou não.
De minha parte, confesso meu desalento com essa situação e a continuidade da minha série: constato que uma quadrilha de mafiosos se incrustou nas mais altas esferas dessa republiqueta a que o país foi conduzido por vias diversas, mas todas elas coincidentes.
Decidi não publicar nenhuma das matérias coletadas durante o dia, pois seria uma massa enorme e, presumivelmente, desanimadora para qualquer leitor.
Em contrapartida, publico simplesmente um fato, nada mais que um fato, uma ilustração concreta, aparentemente indesmentível, de mais um caso, a vírgula que faltava para concluir o caso de certa mafiosa ainda negacionista...
Seria um prego no caixão, mas permito-me desconfiar que isso não venha a ocorrer, any time soon, conhecendo todos os demais mafiosos em torno do caso...
Paulo Roberto de Almeida
ENTREVISTA RUBNEI QUÍCOLI
"Fiquei horrorizado de ter de pagar", diz negociador
Letícia Moreira - DE BRASÍLIA
Folhapress, 16.09.2010
CONSULTOR CONFIRMA ENCONTRO COM ERENICE, DIZ QUE EMPRESA SE RECUSOU A PAGAR PROPINA E DESCREVE REUNIÃO COM ISRAEL
(foto) Rubnei Quícoli, consultor da EDRB, empresa de Campinas
O empresário Rubnei Quícoli disse que ficou "horrorizado" e se sentiu "lesado" ao receber a proposta de contrato da Capital Consultoria, empresa que pertence a um filho da ministra da Casa Civil, Erenice Guerra. A seguir, trechos de uma das entrevistas que o consultor deu à Folha.
Folha - Quando e como você foi apresentado à empresa Capital?
Rubnei Quícoli - Me foi apresentado o Marco Antonio [ex-diretor dos Correios]. Ele ficou durante um tempo como diretor dos Correios e me trouxe o [sobrinho dele, que trabalhava na Casa Civil] Vinícius, onde foram viabilizados esses e-mails para poder ir para a Casa Civil para demonstrar esse projeto.
É lógico que o pessoal viu o tamanho do investimento e todo mundo criou uma situação favorável para ele, em termos de participação e intermediação. Acho que todo mundo que trabalha tem direito a alguma coisa, mas dentro de uma coisa normal.
Estive na Casa Civil junto com a Erenice, que era a secretária-executiva da Casa Civil. A Dilma não pôde me receber, estava com outros afazeres. Ela sabe do projeto, recebeu em 2005, se não me engano. O documento foi encaminhado para o MME [Ministério de Minas e Energia].
Houve essa reunião com a Erenice, que encaminhou isso para a Chesf. A Chesf teve reunião conosco, me parece que um deles teve problema de saúde, isso acarretou todo esse tempo em que aconteceu esse contrato de participação, de intermediação.
Eu fiquei horrorizado de ter que pagar R$ 40 mil por mês para eles terem um favorecimento de acesso. Para que eu vou pagar se não vai sair [o crédito]? Eles diziam que iria sair, para dar sustentação e eu pagar os R$ 40 mil. E eu decidi com [os sócios] o Aldo e o Marcelo não pagar nada e esperar ver.
Quando você conversou com o Vinícius, ele se apresentou como da empresa Capital?
Não, ele disse que iria me levar para o escritório que daria a sequência do trabalho, que precisaria do escritório para dar manutenção, assessoria e consultoria para a gente não ficar desprotegido.
Erenice prometeu fazer algo?
Ela se colocou num patamar assim: "Vou ver onde eu coloco isso". Ela colocou que a Chesf seria a empresa recomendada porque está no Nordeste. Nessa condição ela agiu corretamente. [...] Até então eu nem sabia da existência da Capital, para mim o negócio estava sendo direcionado ao governo. Eu não sabia que existia propina no meio, contrato, que eu teria que pagar. Não dá para entender a pessoa deixar um filho [Israel Guerra] tomar conta de um ministério. É um projeto que foi investido muito dinheiro para parar por conta de propina.
O senhor recebeu e-mail com cobrança. O que queriam?
A ideia principal era amarrar o aporte e a manutenção de R$ 40 mil para eles porque era final de ano. A gente sabe como funciona Brasília. Eles [a Capital] queriam receber antecipadamente uma mensalidade para poder se manter. Quem está fazendo uma intermediação de R$ 9 bilhões e vai se preocupar com R$ 40 mil por mês? Não dá para entender.
Como você reagiu quando pediram dinheiro?
Eu mandei, desculpe a expressão, para a puta que o pariu. Falei: "Vocês estão de brincadeira?" [Disse] que não assinava nada.
Em que momento o Israel apareceu?
O que aconteceu depois? Isso foi informação do Marco Antônio. Ele falou que precisava de R$ 5 milhões para poder pagar a dívida lá que a mulher de ferro tinha. Que tinha que ser uma coisa por fora para apagar um incêndio.
Quem era a mulher de ferro?
A mulher de ferro é a Dilma e a Erenice, as duas. Não sei quanto é a dívida de uma e de outra. Eu sei que a Erenice precisava de dinheiro para cobrir essa dívida. O Marco Antônio é que pediu. Eu falei: "Eu não vou dar dinheiro nenhum. Eu estou fazendo um negócio que é por dentro e estou me sentindo lesado".
Aí o Marco Antônio falou: "O Israel, filho da Erenice, bloqueou a operação porque você não deu o dinheiro". Isso é a palavra do Marco Antônio. Eu respondi: "Não tenho conversa com bandido". Isso aconteceu há três meses. Foi o último contato com eles.
Você esteve com o Israel?
O encontro foi no escritório do Brasília Shopping. O Israel nunca pediu nada porque eu não dei chance. Eu não sabia que ele era filho da Erenice. Soube pelo Marco Antônio. Quanto à atitude dele, barrar um negócio desse por conta do dinheiro me deixou totalmente nervoso, com atitude até agressiva.
No meu caso, as opções são simplesmente horrorosas, para dar continuidade -- o que eu sinceramente não gostaria -- a esta minha série que pensei iria terminar muito rapidamente.
Passei o dia lendo coisas terríveis, cada uma mais cabeluda que a outra, informações (de caráter mafioso, claro), desmentidos, agitações, análises, crônicas de costumes, colunas de jornalistas famosos e outras matérias de repórteres menos famosos. Todo esse material horripilante, não apenas relacionado ao caso do momento, mas a ele conectado por uma série de razões, eleitorais ou não.
De minha parte, confesso meu desalento com essa situação e a continuidade da minha série: constato que uma quadrilha de mafiosos se incrustou nas mais altas esferas dessa republiqueta a que o país foi conduzido por vias diversas, mas todas elas coincidentes.
Decidi não publicar nenhuma das matérias coletadas durante o dia, pois seria uma massa enorme e, presumivelmente, desanimadora para qualquer leitor.
Em contrapartida, publico simplesmente um fato, nada mais que um fato, uma ilustração concreta, aparentemente indesmentível, de mais um caso, a vírgula que faltava para concluir o caso de certa mafiosa ainda negacionista...
Seria um prego no caixão, mas permito-me desconfiar que isso não venha a ocorrer, any time soon, conhecendo todos os demais mafiosos em torno do caso...
Paulo Roberto de Almeida
ENTREVISTA RUBNEI QUÍCOLI
"Fiquei horrorizado de ter de pagar", diz negociador
Letícia Moreira - DE BRASÍLIA
Folhapress, 16.09.2010
CONSULTOR CONFIRMA ENCONTRO COM ERENICE, DIZ QUE EMPRESA SE RECUSOU A PAGAR PROPINA E DESCREVE REUNIÃO COM ISRAEL
(foto) Rubnei Quícoli, consultor da EDRB, empresa de Campinas
O empresário Rubnei Quícoli disse que ficou "horrorizado" e se sentiu "lesado" ao receber a proposta de contrato da Capital Consultoria, empresa que pertence a um filho da ministra da Casa Civil, Erenice Guerra. A seguir, trechos de uma das entrevistas que o consultor deu à Folha.
Folha - Quando e como você foi apresentado à empresa Capital?
Rubnei Quícoli - Me foi apresentado o Marco Antonio [ex-diretor dos Correios]. Ele ficou durante um tempo como diretor dos Correios e me trouxe o [sobrinho dele, que trabalhava na Casa Civil] Vinícius, onde foram viabilizados esses e-mails para poder ir para a Casa Civil para demonstrar esse projeto.
É lógico que o pessoal viu o tamanho do investimento e todo mundo criou uma situação favorável para ele, em termos de participação e intermediação. Acho que todo mundo que trabalha tem direito a alguma coisa, mas dentro de uma coisa normal.
Estive na Casa Civil junto com a Erenice, que era a secretária-executiva da Casa Civil. A Dilma não pôde me receber, estava com outros afazeres. Ela sabe do projeto, recebeu em 2005, se não me engano. O documento foi encaminhado para o MME [Ministério de Minas e Energia].
Houve essa reunião com a Erenice, que encaminhou isso para a Chesf. A Chesf teve reunião conosco, me parece que um deles teve problema de saúde, isso acarretou todo esse tempo em que aconteceu esse contrato de participação, de intermediação.
Eu fiquei horrorizado de ter que pagar R$ 40 mil por mês para eles terem um favorecimento de acesso. Para que eu vou pagar se não vai sair [o crédito]? Eles diziam que iria sair, para dar sustentação e eu pagar os R$ 40 mil. E eu decidi com [os sócios] o Aldo e o Marcelo não pagar nada e esperar ver.
Quando você conversou com o Vinícius, ele se apresentou como da empresa Capital?
Não, ele disse que iria me levar para o escritório que daria a sequência do trabalho, que precisaria do escritório para dar manutenção, assessoria e consultoria para a gente não ficar desprotegido.
Erenice prometeu fazer algo?
Ela se colocou num patamar assim: "Vou ver onde eu coloco isso". Ela colocou que a Chesf seria a empresa recomendada porque está no Nordeste. Nessa condição ela agiu corretamente. [...] Até então eu nem sabia da existência da Capital, para mim o negócio estava sendo direcionado ao governo. Eu não sabia que existia propina no meio, contrato, que eu teria que pagar. Não dá para entender a pessoa deixar um filho [Israel Guerra] tomar conta de um ministério. É um projeto que foi investido muito dinheiro para parar por conta de propina.
O senhor recebeu e-mail com cobrança. O que queriam?
A ideia principal era amarrar o aporte e a manutenção de R$ 40 mil para eles porque era final de ano. A gente sabe como funciona Brasília. Eles [a Capital] queriam receber antecipadamente uma mensalidade para poder se manter. Quem está fazendo uma intermediação de R$ 9 bilhões e vai se preocupar com R$ 40 mil por mês? Não dá para entender.
Como você reagiu quando pediram dinheiro?
Eu mandei, desculpe a expressão, para a puta que o pariu. Falei: "Vocês estão de brincadeira?" [Disse] que não assinava nada.
Em que momento o Israel apareceu?
O que aconteceu depois? Isso foi informação do Marco Antônio. Ele falou que precisava de R$ 5 milhões para poder pagar a dívida lá que a mulher de ferro tinha. Que tinha que ser uma coisa por fora para apagar um incêndio.
Quem era a mulher de ferro?
A mulher de ferro é a Dilma e a Erenice, as duas. Não sei quanto é a dívida de uma e de outra. Eu sei que a Erenice precisava de dinheiro para cobrir essa dívida. O Marco Antônio é que pediu. Eu falei: "Eu não vou dar dinheiro nenhum. Eu estou fazendo um negócio que é por dentro e estou me sentindo lesado".
Aí o Marco Antônio falou: "O Israel, filho da Erenice, bloqueou a operação porque você não deu o dinheiro". Isso é a palavra do Marco Antônio. Eu respondi: "Não tenho conversa com bandido". Isso aconteceu há três meses. Foi o último contato com eles.
Você esteve com o Israel?
O encontro foi no escritório do Brasília Shopping. O Israel nunca pediu nada porque eu não dei chance. Eu não sabia que ele era filho da Erenice. Soube pelo Marco Antônio. Quanto à atitude dele, barrar um negócio desse por conta do dinheiro me deixou totalmente nervoso, com atitude até agressiva.
A formacao e a carreira do diplomata: um replay (Paulo R. Almeida)
O post abaixo é uma reprodução (devidamente autorizada, por mim mesmo), de um texto meu.
Trata-se de um trabalho que elaborei tão logo retornei de Washington, no final de 2003, e que foi postado neste blog quase dois anos depois, sempre para atender, de modo mais amplo, a demandas efetuadas através de meu site, ou por correspondência direta, por grande número de candidatos à carreira diplomática.
Parece que ele teve, e ainda tem, grande sucesso, pois até hoje foram acumulados muitos comentários em sua "encarnação-postagem" anterior.
Esta é unicamente a razão de por que ele vai postado novamente aqui.
Sequer o reli, pois certamente teria muita coisa a acrescentar ou modificar, em função justamente das perguntas colocadas no post original (aqui).
Pretendo retornar aos temas proximamente.
Paulo Roberto de Almeida
A formacao e a carreira do diplomata: Uma preparação de longo curso e uma vida nômade
(673: sábado, 30 de dezembro de 2006)
Paulo Roberto de Almeida
A carreira diplomática tem atraído número crescente de jovens, em decorrência da maior inserção internacional do Brasil e dos avanços da globalização e da regionalização. Os candidatos têm em geral procurado os cursos de graduação em relações internacionais. Cabe indagar se esses cursos fornecem a preparação adequada para o concurso do Itamaraty e, alternativamente, considerando que apenas um número restrito será admitido na carreira, se eles fornecem os instrumentos necessários para lograr uma boa colocação no setor privado, que é ainda o grande “absorvedor” da oferta universitária.
Não é tampouco certo que um curso de graduação em relações internacionais seja a melhor via de acesso à carreira diplomática, uma vez que os requerimentos de entrada são mais amplos, ou mais específicos, do que a grade curricular desses cursos, ainda desiguais e com ênfases distintas nos vários estados: alguns são teóricos, voltados para a pesquisa em política mundial, outros colocam ênfase no comércio internacional e no chamado global business (o que pode ser uma orientação correta, se pensarmos que as relações econômicas internacionais compõem o essencial da agenda contemporânea). Os cursos tradicionais — direito, economia ou administração, com um complemento em línguas — podem ser mais útil ao aspirante à carreira, já que ele poderá se exercer também nas profissões pertinentes. Ele pode, depois, buscar uma especialização em relações internacionais, familiarizando-se com os debates teóricos e com a agenda da política mundial.
Em todo caso, o candidato à carreira pode não receber num curso de graduação, ou num preparatório de seis ou doze meses, o conhecimento de que necessita para atender aos requisitos do concurso do Instituto Rio Branco. Ele precisa ter sólida formação, feita geralmente de anos de acumulação de cultura humanista e de incontáveis leituras. Mais do que qualquer curso ex-catedra, o importante é o esforço individual do candidato, que será idealmente um auto-didata. Um curso de preparação à carreira pode ajudar, ao transmitir um “conhecimento mastigado” e alguma “segurança psicológica”. Mesmo vindo de família modesta e carente de aperfeiçoamentos no exterior ou em cursos de línguas, o candidato motivado pode suprir lacunas pessoais ou de ambiente social ao construir o seu próprio curso, mediante um sério programa de estudos sistemáticos, feito da bibliografia sugerida pelo IRBr, da leitura diária de um jornal econômico e do acesso constante à Internet (como The Economist, Financial Times, Foreign Affairs e outros).
Nos últimos anos, o Instituto Rio Branco tem selecionado um em cada oitenta ou cem candidatos: a seleção é portanto rigorosa e a grande maioria deverá buscar uma outra profissão dentro da área, na espera de poder um dia ingressar na carreira. O mercado é basicamente constituído pelo setor privado, e cabe ao jovem ter consciência disso desde o início. Algumas faculdades mantêm cursos com perfil excessivamente acadêmico, feito de matérias teóricas ou de disciplinas voltadas para os grandes equilíbrios geopolíticos do cenário internacional, como se todos os seus egressos fossem passar a vida discutindo as teorias realista ou racionalista de relações internacionais ou resolvendo algum problema no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Essa não é a realidade da agenda mundial, que, mesmo em sua vertente negocial, é feita mais de questões de comércio internacional do que de problemas relativos ao poder mundial.
Algumas especializações podem responder melhor ao perfil específico para uma inserção nos mercados regionais de trabalho. Uma cidade como Brasilia, governamental e diplomática por excelência, chama naturalmente uma formação centrada nas disciplinas diretamente ligadas à diplomacia (direito, história, línguas, economia internacional), para um trabalho no governo, nas organizações internacionais ou no meio acadêmico. Métropoles como São Paulo e Rio de Janeiro, onde se localizam a maior parte das empresas internacionais brasileiras e o grosso das multinacionais (em atividades diversas dos serviços e da indústria), requerem formações voltadas para o chamado global business, com matérias de comércio exterior, finanças internacionais etc. No sul do país, mais voltado para atividades do agribusiness e em contato direto com os parceiros do Mercosul, as especializações podem estar no comércio internacional (inclusive normas relativas ao Mercosul), em questões fitossanitárias e no domínio da língua espanhola.
Alguém dotado de conhecimento acadêmico, de uma boa disposição para o auto-aprendizado e de senso prático em algumas das áreas mencionadas tem chances de subir em qualquer profissão, à medida em que sua experiência de vida o colocar em contato com pessoas dotadas de densidade nessas áreas. Nunca se deve chegar num primeiro emprego como se não se necessitasse de treinamento ou de aperfeiçoamento técnico e profissional. Atitudes do tipo “eu sei fazer”, “eu sei tudo”, “deixa comigo”, geralmente conduzem a desastres, ou pelo menos a situações de constrangimento funcional.
A carreira diplomática é única nos seus requisitos de entrada, não apenas em termos da bagagem intelectual acumulada ao longo de anos de estudo, mas também no sentido em que o diplomata deve exibir algumas qualidades de convivência e de interação social que serão importantes no desempenho ulterior. Por isso os exames de ingresso na carreira envolvem disciplinas tradicionais, mas também entrevistas com banca examinadora que julga as aptidões do candidato para aquele tipo de profissão: a maturidade entra em linha de conta nesse contexto, o comportamento social, assim como a própria aparência pessoal.
Meu trabalho como servidor público federal, na carreira de diplomata, teve início em dezembro de 1977, por meio de um concurso direto, o que, aliado ao fato de já possuir mestrado, dispensou-me de frequentar o curso de preparação mantido pelo Instituto Rio Branco. Desde essa época (um quarto de século já), servi no exterior em diversas missões diplomáticas e no Brasil (Ministério das Relações Exteriores, em Brasília), geralmente na área econômica. Em postos, estive nas embaixadas em Berna, Belgrado e Paris, ademais das delegações do Brsil em Genebra e Montevidéu (Aladi). Mais recentemente fui chefe da Divisão de Política Financeira e de Desenvolvimento do Itamaraty, de 1996 a 1999, e desde outubro daquele ano até outubro de 2003 fui Ministro Conselheiro na Embaixada em Washington, o mais importante dos postos externos do Ministério das Relações Exteriores. Paralelamente ao exercício regular das atividades profissionais, pude manter, ainda que de maneira alternada, minha carreira acadêmica, o que me habilitou não apenas a ministrar cursos em universidades do Brasil e do exterior, como também a fazer pesquisas e manter uma produção de livros e artigos que hoje compõe a bibliografia especializada no campo das relações internacionais. Uma amostra dessa produção pode ser vista em minha página pessoal: www.pralmeida.org.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 15 de janeiro de 2004
============
Addendum (em 2010):
Não se aplicam mais os comentários acima a respeito com "entrevista com banca examinadora". Tal requisito foi suspenso desde o segundo ano da administração Lula, não se sabe bem por quais motivos (eu entendo que por "cansaço" da banca...). Existem apenas provas impessoais (ou seja, não identificadas) e o Ministério, a rigor, só vai conhecer e identificar o candidato depois que ele já tiver sido admitido e entrado no serviço exterior brasileiro.
Isso significa, eventualmente, que um daqueles robôs japoneses treinados em fazer provas -- na verdade, um computador superpoderoso capaz de acumular as milhares de leituras requeridas para as provas -- eventualmente treinado por um desses cursinhos em que abunda este nosso Brasil concurseiro, ou até um candidato autista, desses capazes de decorar listas telefônicas inteiras, no limite um doido super-estudioso, qualquer um desses personagens pode vir a ser, atualmente, um diplomata do Brasil. Temos até uma ala dos Napoleões malucos...
Just kidding...
Trata-se de um trabalho que elaborei tão logo retornei de Washington, no final de 2003, e que foi postado neste blog quase dois anos depois, sempre para atender, de modo mais amplo, a demandas efetuadas através de meu site, ou por correspondência direta, por grande número de candidatos à carreira diplomática.
Parece que ele teve, e ainda tem, grande sucesso, pois até hoje foram acumulados muitos comentários em sua "encarnação-postagem" anterior.
Esta é unicamente a razão de por que ele vai postado novamente aqui.
Sequer o reli, pois certamente teria muita coisa a acrescentar ou modificar, em função justamente das perguntas colocadas no post original (aqui).
Pretendo retornar aos temas proximamente.
Paulo Roberto de Almeida
A formacao e a carreira do diplomata: Uma preparação de longo curso e uma vida nômade
(673: sábado, 30 de dezembro de 2006)
Paulo Roberto de Almeida
A carreira diplomática tem atraído número crescente de jovens, em decorrência da maior inserção internacional do Brasil e dos avanços da globalização e da regionalização. Os candidatos têm em geral procurado os cursos de graduação em relações internacionais. Cabe indagar se esses cursos fornecem a preparação adequada para o concurso do Itamaraty e, alternativamente, considerando que apenas um número restrito será admitido na carreira, se eles fornecem os instrumentos necessários para lograr uma boa colocação no setor privado, que é ainda o grande “absorvedor” da oferta universitária.
Não é tampouco certo que um curso de graduação em relações internacionais seja a melhor via de acesso à carreira diplomática, uma vez que os requerimentos de entrada são mais amplos, ou mais específicos, do que a grade curricular desses cursos, ainda desiguais e com ênfases distintas nos vários estados: alguns são teóricos, voltados para a pesquisa em política mundial, outros colocam ênfase no comércio internacional e no chamado global business (o que pode ser uma orientação correta, se pensarmos que as relações econômicas internacionais compõem o essencial da agenda contemporânea). Os cursos tradicionais — direito, economia ou administração, com um complemento em línguas — podem ser mais útil ao aspirante à carreira, já que ele poderá se exercer também nas profissões pertinentes. Ele pode, depois, buscar uma especialização em relações internacionais, familiarizando-se com os debates teóricos e com a agenda da política mundial.
Em todo caso, o candidato à carreira pode não receber num curso de graduação, ou num preparatório de seis ou doze meses, o conhecimento de que necessita para atender aos requisitos do concurso do Instituto Rio Branco. Ele precisa ter sólida formação, feita geralmente de anos de acumulação de cultura humanista e de incontáveis leituras. Mais do que qualquer curso ex-catedra, o importante é o esforço individual do candidato, que será idealmente um auto-didata. Um curso de preparação à carreira pode ajudar, ao transmitir um “conhecimento mastigado” e alguma “segurança psicológica”. Mesmo vindo de família modesta e carente de aperfeiçoamentos no exterior ou em cursos de línguas, o candidato motivado pode suprir lacunas pessoais ou de ambiente social ao construir o seu próprio curso, mediante um sério programa de estudos sistemáticos, feito da bibliografia sugerida pelo IRBr, da leitura diária de um jornal econômico e do acesso constante à Internet (como The Economist, Financial Times, Foreign Affairs e outros).
Nos últimos anos, o Instituto Rio Branco tem selecionado um em cada oitenta ou cem candidatos: a seleção é portanto rigorosa e a grande maioria deverá buscar uma outra profissão dentro da área, na espera de poder um dia ingressar na carreira. O mercado é basicamente constituído pelo setor privado, e cabe ao jovem ter consciência disso desde o início. Algumas faculdades mantêm cursos com perfil excessivamente acadêmico, feito de matérias teóricas ou de disciplinas voltadas para os grandes equilíbrios geopolíticos do cenário internacional, como se todos os seus egressos fossem passar a vida discutindo as teorias realista ou racionalista de relações internacionais ou resolvendo algum problema no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Essa não é a realidade da agenda mundial, que, mesmo em sua vertente negocial, é feita mais de questões de comércio internacional do que de problemas relativos ao poder mundial.
Algumas especializações podem responder melhor ao perfil específico para uma inserção nos mercados regionais de trabalho. Uma cidade como Brasilia, governamental e diplomática por excelência, chama naturalmente uma formação centrada nas disciplinas diretamente ligadas à diplomacia (direito, história, línguas, economia internacional), para um trabalho no governo, nas organizações internacionais ou no meio acadêmico. Métropoles como São Paulo e Rio de Janeiro, onde se localizam a maior parte das empresas internacionais brasileiras e o grosso das multinacionais (em atividades diversas dos serviços e da indústria), requerem formações voltadas para o chamado global business, com matérias de comércio exterior, finanças internacionais etc. No sul do país, mais voltado para atividades do agribusiness e em contato direto com os parceiros do Mercosul, as especializações podem estar no comércio internacional (inclusive normas relativas ao Mercosul), em questões fitossanitárias e no domínio da língua espanhola.
Alguém dotado de conhecimento acadêmico, de uma boa disposição para o auto-aprendizado e de senso prático em algumas das áreas mencionadas tem chances de subir em qualquer profissão, à medida em que sua experiência de vida o colocar em contato com pessoas dotadas de densidade nessas áreas. Nunca se deve chegar num primeiro emprego como se não se necessitasse de treinamento ou de aperfeiçoamento técnico e profissional. Atitudes do tipo “eu sei fazer”, “eu sei tudo”, “deixa comigo”, geralmente conduzem a desastres, ou pelo menos a situações de constrangimento funcional.
A carreira diplomática é única nos seus requisitos de entrada, não apenas em termos da bagagem intelectual acumulada ao longo de anos de estudo, mas também no sentido em que o diplomata deve exibir algumas qualidades de convivência e de interação social que serão importantes no desempenho ulterior. Por isso os exames de ingresso na carreira envolvem disciplinas tradicionais, mas também entrevistas com banca examinadora que julga as aptidões do candidato para aquele tipo de profissão: a maturidade entra em linha de conta nesse contexto, o comportamento social, assim como a própria aparência pessoal.
Meu trabalho como servidor público federal, na carreira de diplomata, teve início em dezembro de 1977, por meio de um concurso direto, o que, aliado ao fato de já possuir mestrado, dispensou-me de frequentar o curso de preparação mantido pelo Instituto Rio Branco. Desde essa época (um quarto de século já), servi no exterior em diversas missões diplomáticas e no Brasil (Ministério das Relações Exteriores, em Brasília), geralmente na área econômica. Em postos, estive nas embaixadas em Berna, Belgrado e Paris, ademais das delegações do Brsil em Genebra e Montevidéu (Aladi). Mais recentemente fui chefe da Divisão de Política Financeira e de Desenvolvimento do Itamaraty, de 1996 a 1999, e desde outubro daquele ano até outubro de 2003 fui Ministro Conselheiro na Embaixada em Washington, o mais importante dos postos externos do Ministério das Relações Exteriores. Paralelamente ao exercício regular das atividades profissionais, pude manter, ainda que de maneira alternada, minha carreira acadêmica, o que me habilitou não apenas a ministrar cursos em universidades do Brasil e do exterior, como também a fazer pesquisas e manter uma produção de livros e artigos que hoje compõe a bibliografia especializada no campo das relações internacionais. Uma amostra dessa produção pode ser vista em minha página pessoal: www.pralmeida.org.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 15 de janeiro de 2004
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Addendum (em 2010):
Não se aplicam mais os comentários acima a respeito com "entrevista com banca examinadora". Tal requisito foi suspenso desde o segundo ano da administração Lula, não se sabe bem por quais motivos (eu entendo que por "cansaço" da banca...). Existem apenas provas impessoais (ou seja, não identificadas) e o Ministério, a rigor, só vai conhecer e identificar o candidato depois que ele já tiver sido admitido e entrado no serviço exterior brasileiro.
Isso significa, eventualmente, que um daqueles robôs japoneses treinados em fazer provas -- na verdade, um computador superpoderoso capaz de acumular as milhares de leituras requeridas para as provas -- eventualmente treinado por um desses cursinhos em que abunda este nosso Brasil concurseiro, ou até um candidato autista, desses capazes de decorar listas telefônicas inteiras, no limite um doido super-estudioso, qualquer um desses personagens pode vir a ser, atualmente, um diplomata do Brasil. Temos até uma ala dos Napoleões malucos...
Just kidding...
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