quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O que falta para o Brasil ser um pais desenvolvido? - BBC Brasil

O QUE FALTA PARA O BRASIL SE TORNAR UM PAÍS DESENVOLVIDO?
Rogerio Wassermann
BBC, 27.09.2010

O Brasil foi uma das primeiras grandes economias a superar a crise global, deve crescer mais de 7% neste ano, vem reduzindo a pobreza e melhorando em vários indicadores sociais.

Mas o país chegará algum dia a se tornar uma nação considerada desenvolvida? E o que falta para isso acontecer?

"O Brasil precisa melhorar a qualidade da educação pública", diz o editor para as Américas da revista britânica The Economist, Michael Reid.

"É necessário que o Brasil amplie a sua classe média", afirma o economista Jim O'Neill.

"O Brasil precisa aumentar a taxa de poupança interna para acima de 30% do PIB", sugere o comentarista econômico do jornal britânico Financial Times.

A poucos dias das eleições presidenciais, esses e outros especialistas estrangeiros, ouvidos pela BBC Brasil, listaram os desafios que o país ainda enfrenta para chegar à condição de nação desenvolvida.

Economistas, acadêmicos, representantes de organizações internacionais, think- tanks e organizações não-governamentais afirmam que o Brasil ainda tem muito a fazer em áreas que incluem redução da desigualdade, a melhoria da educação, reformas nas instituições públicas, combate à corrupção, combate à violência e até mesmo respeito ao meio ambiente e aos direitos humanos.

"O Brasil está vivendo um momento excepcional, fruto de décadas de trabalho árduo. Porém nenhum desenvolvimento acontece sem obstáculos, e os desafios permanecem", diz o economista senegalês Makhtar Diop, diretor do Banco Mundial para o Brasil.

Pobreza e desigualdade
A economia brasileira se consolidou como a 8ª maior do mundo neste ano, mas o país ainda é apenas o 72º do mundo em renda per capita, atrás de países como Argentina (50º), México (53º), Turquia (57º), Venezuela (66º) e Irã (68º), segundo dados do Banco Mundial.

Nos últimos oito anos, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o crescimento econômico ajudou a tirar mais de 20 milhões de pessoas da pobreza. Mas dados do Banco Mundial mostram que o Brasil ainda tinha, em 2007, 12,7% de sua população vivendo abaixo da linha de pobreza, com menos de US$ 2 por dia. Há 30 anos, esse porcentual era de 31,1%.

Para efeito de comparação, a China, que em 1981 tinha 97,8% de sua população vivendo abaixo da linha de pobreza, chegou a 2005 com 36,3%. Segundo os critérios do Banco Mundial, o percentual de pobres nos principais países desenvolvidos é próximo de zero.

O Brasil também continua sendo um dos mais desiguais do mundo - de acordo com o coeficiente de Gini, calculado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Brasil tem a 11ª maior desigualdade entre ricos e pobres no mundo.

"A desigualdade é o maior problema do Brasil. A desigualdade enfraquece o crescimento econômico e gera altos níveis de criminalidade e insegurança", observa o americano Barry Ames, diretor do departamento de ciência política da Universidade de Pittsburgh e especialista em Brasil do Centro de Estudos Latino-Americanos da instituição.

O coeficiente de Gini tem uma variação entre 0 (mais igual) e 1 (mais desigual). O coeficiente do Brasil é 0,550, melhor apenas do que Honduras, África do Sul, Bolívia, Colômbia, Angola, Haiti, Afeganistão, Botsuana, Guiné Equatorial e Namíbia.

Os países menos desiguais do mundo, segundo o PNUD, são Dinamarca e Japão, com coeficientes 0,247 e 0,249, respectivamente. Os Estados Unidos, país mais desigual entre os países desenvolvidos, está apenas em 89º no ranking global, com coeficiente 0,408.

País de classe média
O crescimento econômico e a redução da pobreza tiveram como efeito um fenômeno que para muitos analistas mostra o Brasil no caminho de ser um país predominantemente de classe média, característica da grande maioria dos países desenvolvidos.

Segundo um estudo publicado neste mês pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), a classe C passou no ano passado a representar mais da metade da população brasileira (50,5%), com a incorporação de 29 milhões de pessoas entre 2003 e 2009, e ultrapassou as classes A e B em pode de compra.

"Se há uma única diferença entre uma economia tipicamente desenvolvida e uma em desenvolvimento, é talvez o tamanho de suas classes médias", diz o britânico Jim O'Neill, que como economista-chefe do banco Goldman Sachs cunhou o acrônimo BRIC para identificar os quatro gigantes emergentes Brasil, Rússia, Índia e China.

Mas os sinais positivos da economia brasileira são seguidos por problemas persistentes identificados mais comumente como "problemas de terceiro mundo", como é o caso da corrupção.

Em um ranking anual sobre percepção de corrupção divulgado pela ONG Transparência Internacional no fim do ano passado, o Brasil obteve uma avaliação levemente pior do que no ano anterior, apesar de ter subido cinco posições no ranking de 182 países, ocupando a 75ª posição.

O Brasil aparece à frente da China (79ª posição) e apenas algumas posições atrás da Itália (63ª), país que faz parte do G7, o grupo que reúne os sete países mais industrializados do mundo. Os Estados Unidos aparecem na 19ª posição, e a Nova Zelândia lidera o ranking.

Para a diretora-executiva da Transparência Internacional, Huguette Labelle, se quiser chegar ao nível de nação desenvolvida o Brasil precisa avançar nessa área. "O desafio do Brasil agora é fortalecer suas instituições, fazê-las ainda mais transparentes e melhorar suas prestações de contas ao público em todos os níveis de governo", afirma Labelle.

Educação e saúde
Indicadores sociais em áreas como educação e saúde também mostram o longo caminho que o país ainda precisa percorrer para atingir o status de país desenvolvido.

A taxa de analfabetismo no país, que em 1960 chegava a 40%, caiu a 9,7% no ano passado, segundo dados do IBGE, enquanto o acesso à educação básica foi praticamente universalizado no país, com uma elevação do acesso à escola de 86,6% em 1992 para 97,9% em 2008, entre as crianças de 7 a 14 anos.

Além disso, no período entre 1998 e 2008, o número de alunos matriculados no ensino superior no país mais que dobrou, passando de 2,1 milhões para 5,1 milhões, segundo o Ministério da Educação.
Mas se os números absolutos mostram uma evolução, a qualidade do ensino ainda deixa a desejar. Um estudo elaborado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em 2007 mostrou os alunos brasileiros entre os piores em conhecimentos de matemática, capacidade de leitura e ciências entre 57 países analisados.

"A melhoria da qualidade da educação pública é sem dúvida um dos pontos necessários para que o Brasil possa ser elevado à categoria de país desenvolvido", observa o jornalista Michael Reid, editor para as Américas da revista britânica The Economist.

Para o brasilianista Gonzálo Gómez Dacal, diretor do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Salamanca, na Espanha, somente com a melhoria da qualidade da educação pública em todos os níveis que o Brasil será capaz de aproveitar "os recursos intelectuais de toda a população, especialmente da capacidade de criação das pessoas inteligentes que formam parte das camadas mais desfavorecidas da população".

Qualidade de vida
Na área da saúde, mais uma vez, a universalização conseguida pelo Sistema Único de Saúde convive com questionamentos sobre a qualidade do atendimento e dos programas de prevenção.

A expectativa de vida do brasileiro subiu de 66 anos, em 1991, para 72,4 em 2010, segundo dados da ONU, deixando o país no 92º lugar do ranking mundial sobre esse indicador.

O país também conseguiu reduzir a mortalidade infantil em mais de 60% nos últimos anos, de 52,04 mortes por mil nascimentos em 1990 para 19,88 a cada mil em 2010.

Ainda assim, o Brasil ainda é o 90º do ranking nesse indicador, muito aquém de países como Grécia (6,7 mortes por mil nascimentos), Estados Unidos (6,3) ou Portugal (5) e mais longe ainda dos países com menos mortes - Islândia (2,9), Cingapura (3) ou Japão (3,2).

Segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), pouco menos de um décimo da população brasileira ainda não tem acesso a água potável tratada, mas na área rural, essa proporção aumenta para 4 em cada 10 moradores. O acesso a esgoto chega a apenas 77% da população, e apenas 37% na área rural.

A condição brasileira é melhor do que a de outro gigante emergente, a China, que tem 88% da população com acesso a água tratada e 65% com acesso a esgoto, mas ainda está muito aquém de países desenvolvidos como Estados Unidos, (99% com acesso a água e 100% com acesso a esgoto) ou Portugal (99% e 99%).

Avanços e desafios
As estatísticas mostram que o Brasil vem avançando nos últimos anos, em algumas áreas a passos largos e em outras a passos curtos, mas que o caminho para chegar a ser um país desenvolvido ainda é longo.

"As condições de base estão dadas para que o país se torne uma potência", afirma o representante no Brasil do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), José Luis Lupo, para quem a concretização desse potencial depende de ações do governo por reformas.

"O Brasil enfrenta desafios importantes para se transformar de um país 'de renda média' para uma economia inovadora e movida pelo conhecimento", afirma a consultora suíço-americana Suzanne Rosselet-McCauley, vice-diretora do Centro Mundial de Competitividade da escola suíça de administração IMD, uma das cinco principais da Europa.

"Ainda está para ser visto se o país pode evitar a 'armadilha do rendimento médio' ao manter seus ganhos de estabilidade macroeconômica e política e se beneficiar de níveis mais altos de crescimento", avalia.

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Comento [PRA]:
Meu acréscimo, puramente subjetivo, à lista das "coisas que faltam" -- e, claro, faltam "muuuuitas" coisas -- para o Brasil se considerar ou ser considerado como um país desenvolvido seria este:
Falta o Estado, percebido como governo, em sua encarnação concreta (já que o "Estado" é um conceito um pouco abstrato), ser eficiente, ou seja, conseguir "entregar as coisas" (be capable of "deliver", como dizem os americanos), com um máximo de eficiência, pelo dinheiro recolhido, e com um mínimo de corrupção no tratamento do mesmo.
O fato é que poderio econômico, competitividade setorial, ser grande na sua dimensão própria das dotações naturais, ser o primeiro exportador mundial disto ou mais aquilo, tudo isso pode existir, no sentido de indicadores puramente materiais ou quantitativos, e o país, em si, a nação como um todo, como comunidade organizada, ser ainda "subdesenvolvida", ser ineficiente, não ser capaz de "entregar" aos cidadãos aquilo que eles merecem pelo seu dinheiro.
Tendo morado na Suíça, e constatado a eficiência com que o Estado atua, posso dizer: não é preciso ser grande, poderoso, ter um PIB "másculo", ser o primeiro nisso e naquilo, e não ter um Estado que consiga, pelo menos, devolver ao cidadão aquilo que ele mais necessita: segurança, em primeiro lugar -- inclusive segurança jurídica --, liberdade de iniciativa, em segundo lugar -- pois quem produz riqueza é o agente econômico, cidadãos trabalhadores ou empresários, e não o Estado, que só extrai renda dos produtores primários -- e um "mínimo" (mas pode ser um máximo também, que ninguém reclamaria) daqueles serviços públicos que apenas o Estado pode organizar em nome da coletividade, que são defesa pública, representação externa, grandes obras públicas (que podem ser feitas pela iniciativa privada, mas necessitam regulação estatal, pois nenhum privado pode sair por aí construindo estradas, fazendo barragens, canais, portos, sem permissão ou regulação estatal) e o substrato mínimo das chamadas externalidades positivas, como são saúde e educação (até certo ponto), para equalizar as chances de cidadãos sem recursos próprios ou familiares para se posicionarem de modo satisfatório no mercado de trabalho.
Seria esse o meu posicionamento: o Brasil, para ser desenvolvido, precisar ter o mínimo de organização estatal para "deliver" essas simples coisas.
Desse ponto de vista, considero o Brasil um país essencialmente "subdesenvolvido" -- ainda que tenha tido progressos materiais nos últimos anos -- e um país que ainda vai demorar "muuuuuito" tempo para se tornar realmente desenvolvido (tendo em vista o aumento da ineficiência estatal, da corrupção, do atraso mental nos últimso tempos).
Creio que é essa minha opinião sobre o tema deste post, resultado de muita reflexão e de simples observações sobre a realidade, nossa e de outros países.
Paulo Roberto de Almeida

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Tragedia educacional brasileira (2) - os problemas brasileiros

Na verdade, os problemas da educação no Brasil são muito mais graves do que indica esta matéria. Em todo caso, cabe falar, sempre, da gravidade do problema.
Paulo Roberto de Almeida

Os nós que terão de ser desatados para o país se desenvolver de fato
Paulo de Camargo
O Estado de S.Paulo, 3/10/2010

Pelo menos 75% dos brasileiros não dominam a leitura, a escrita e a matemática; e Brasil sofre com falta de mão de obra qualificada
Para pôr o Brasil num novo patamar de desenvolvimento econômico e social, o presidente eleito terá que desatar os nós que ainda emperram o crescimento sustentado do país. Investir fortemente em educação, saúde e segurança, aprovar reformas essenciais no Congresso e resolver os gargalos na infraestrutura. Os problemas na área social, na economia e na política aparecem em estatísticas e análises de especialistas.

Alguns foram abordados na campanha eleitoral, mas de forma superficial. No governo, o próximo presidente terá que arregaçar as mangas e usar o capital político tirado das urnas, se quiser, de fato, colocar o país definitivamente nos trilhos do desenvolvimento.

Em 2009, segundo o IBGE, 29,3 milhões de brasileiros, ou 20,3% da população, eram analfabetos funcionais. Essas pessoas sabem escrever o próprio nome, mas não conseguem compreender o que leem.

Só 25% dos brasileiros dominam a escrita, a leitura e a matemática para se expressar e entender o que está à sua volta no contexto econômico e tecnológico atual. O dado, do Indicador de Analfabetismo Funcional 2009, produzido pelo Instituto Paulo Montenegro, é esclarecedor para entender os graves problemas de falta de mão de obra qualificada que o país terá de superar na busca pelo crescimento sustentado.

No topo da lista de reclamações da indústria brasileira, a falta de mão de obra qualificada é apontada pelo governo como o principal desafio a ser enfrentado para atender às demandas crescentes da economia.

Ainda de acordo com o IBGE, apenas 37,9% dos jovens, com idade entre 18 e 24 anos, tinham 11 de estudo, em 2009, o que torna difícil o cumprimento da exigência constitucional de ampliação do ensino obrigatório, de nove para 14 anos, a partir de 2016.

- Está claro que o problema da educação no Brasil, principalmente o analfabetismo, tem endereço e confirma a exclusão histórica brasileira. Para levar o país ao mesmo nível de países como Chile e Argentina, é preciso resolver o gargalo do analfabetismo e ampliar o ensino superior.

Na velocidade em que vamos, vai levar muito tempo - afirma o diretor de estudos sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Jorge Abrahão.

Analfabetismo é face da exclusão

Ele lembra que existem 50 milhões de vagas no ensino médio, o que não é trivial, mas considera ser preciso ampliar a educação básica e melhorar sua qualidade.

O problema mais grave, na visão de Abraão, é o analfabetismo entre adultos: - Significa que determinada faixa etária não teve acesso aos bancos escolares no momento adequado. Isso deveria ser tratado como uma preocupação nacional pelos três níveis de governo.

Outro desafio a ser enfrentado de imediato, na visão do cientista político Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília, é uma reforma administrativa para melhorar os sistemas de governança na educação e em outras áreas básicas, como a saúde.

- Há graves problemas de governança na educação, com uma prestação de serviços muito assimétrica por parte da União, estados e municípios - destaca Barreto.
(Regina Alvarez e Vivian Oswald)

Educação para desenvolver o país

Transformar a profissão de professor em "objeto de desejo" e criar um indicador nacional capaz de medir o número de crianças alfabetizadas até 8 anos são, para Mozart Neves Ramos, conselheiro do Todos Pela Educação, os principais desafios que o próximo presidente terá de enfrentar. Leia entrevista:

- Quais os principais desafios para o próximo presidente?

Temos um déficit de 250 mil professores no ensino médio, área em que o Brasil estagnou nos últimos oito anos. Para mudar, o maior desafio é a valorização do professor. Em países como Coreia e Finlândia, os melhores querem ser professores, porque a carreira é pautada no mérito, a formação é excelente e as condições de trabalho são muito boas. Então, passa a ser objeto de desejo ser professor. É o que precisa acontecer por aqui. Além disso, o governo devia criar um exame que nos dê um indicador nacional do número de crianças alfabetizadas até os 8 anos. O Ideb e a Prova Brasil foram um avanço, mas é preciso mais.

- Como diminuir o analfabetismo funcional?

É preciso que sejam implantadas políticas públicas que possam ir além da educação formal em sala de aula. Bibliotecas promovem conhecimento, mas lan houses também podem ser importantes. Jovens com baixo nível de escolaridade costumam frequentar, o que mostra que a tecnologia chega antes da escolaridade. É preciso alinhar a escola com programas culturais, como cinema, música e teatro. Hoje, 40% dos alunos que deixam a escola, desistem porque estão desmotivados.

- O que é preciso para que mais pessoas tenham acesso à educação?

Entender que a melhor forma de desenvolver o país é a partir da educação, que pode consolidar o desenvolvimento econômico e o social. Um ano a mais de escolaridade impacta em 15% mais de renda. É essa riqueza que tem que ser distribuída.
(O Globo, 3/10)

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3. América Latina define plano para melhorar a educação

Acordo assinado por 22 países do continente prevê nove metas gerais e 27 específicas para 2021, além da criação de um fundo de US$ 5 bilhões
Pela primeira vez na história, 22 países latino-americanos assinaram um pacto em favor da qualidade na educação. O documento Metas 2021 foi firmado no mês passado, em Buenos Aires, por ministros e representantes de ministérios da Educação e será ratificado na cúpula de chefes de Estado em dezembro, na Argentina.

O documento foi costurado durante dois anos pela Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) e prevê 9 metas gerais e 27 específicas, além da dotação de recursos e de um processo permanente de avaliação, que será coordenado pelo México.

Segundo o presidente da OEI, Alvaro Marchesi, os ministros se comprometeram a investir cerca de 10% do total de seu orçamento anual para alcançar as metas conjuntas, o que totalizará US$ 104 bilhões.

O acordo definiu a criação do Fundo Solidário de Coesão, que deve chegar US$ 5 bilhões, destinado a apoiar os países mais carentes. Alimentado por doações voluntárias de governos, empresas e ONGs, o fundo nasce com duas contribuições importantes. O presidente do BBVA, Henrique Iglesias, anunciou US$ 520 milhões - quantia semelhante será doada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

As metas definidas atendem a demandas comuns que afligem os países em diversos níveis: da educação infantil ao ensino superior, passando pela educação profissionalizante e o atendimento a portadores de necessidades especiais. Cada país definirá as estratégias para alcançar as metas, assim como as prioridades de investimento.

Para o secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Brasil, André Lázaro, o plano tem um desenho inteligente e acerta ao respeitar a livre iniciativa dos países, pois está focado em resultados, não em processos. Cada meta possui um indicador almejado. Assim, por exemplo, a terceira meta corresponde ao aumento da oferta de educação infantil.

Os países da região devem elevar até 100% o atendimento educacional de crianças de 3 a 6 anos até 2021. Espera-se também que o porcentual de formandos no ensino médio esteja entre 60% e 90% do total de alunos. Hoje, no Brasil, o índice está em torno de 50%.

Os governos aceitaram ainda elevar o rendimento dos alunos nos exames internacionais, diminuindo em pelo menos 20% a proporção de estudantes situados nos níveis mais baixos de provas como a do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, em inglês).

Tragedia educacional brasileira - programa para a America Latina

Nao tenho certeza de que a solução para nossas carências educacionais passe por qualquer programa de âmbito continental, ou até pela constituição de um Fundo. Dinheiro vindo de fontes distantes sempre é usado de forma irresponsável, se vocês percebem o que eu quero dizer...
Entendo que o Brasil tenha capacidade de fazer um diagnóstico correto de seus problemas educacionais e empenhar seus próprios recursos na solução desses problemas.
Entendo também que nossos problemas começam com a tragédia da tal de pedagogia "freireana", de Paulo Freire, uma fraude educacional completa, uma demagogia política ultrapassada, que vem arrastando a educação brasileira para o pântano em que se encontra atualmente. Parece que não estamos prontos, ainda, para superar nossos problemas, pois nem um diagnóstico correto sabemos fazer.
Ou seja, a tragédia vai continuar durante muito tempo.
Paulo Roberto de Almeida

América Latina define plano para melhorar a educação
Paulo de Camargo
O Estado de S.Paulo, 3/10/2010


Acordo assinado por 22 países do continente prevê nove metas gerais e 27 específicas para 2021, além da criação de um fundo de US$ 5 bilhões
Pela primeira vez na história, 22 países latino-americanos assinaram um pacto em favor da qualidade na educação. O documento Metas 2021 foi firmado no mês passado, em Buenos Aires, por ministros e representantes de ministérios da Educação e será ratificado na cúpula de chefes de Estado em dezembro, na Argentina.

O documento foi costurado durante dois anos pela Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) e prevê 9 metas gerais e 27 específicas, além da dotação de recursos e de um processo permanente de avaliação, que será coordenado pelo México.

Segundo o presidente da OEI, Alvaro Marchesi, os ministros se comprometeram a investir cerca de 10% do total de seu orçamento anual para alcançar as metas conjuntas, o que totalizará US$ 104 bilhões.

O acordo definiu a criação do Fundo Solidário de Coesão, que deve chegar US$ 5 bilhões, destinado a apoiar os países mais carentes. Alimentado por doações voluntárias de governos, empresas e ONGs, o fundo nasce com duas contribuições importantes. O presidente do BBVA, Henrique Iglesias, anunciou US$ 520 milhões - quantia semelhante será doada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

As metas definidas atendem a demandas comuns que afligem os países em diversos níveis: da educação infantil ao ensino superior, passando pela educação profissionalizante e o atendimento a portadores de necessidades especiais. Cada país definirá as estratégias para alcançar as metas, assim como as prioridades de investimento.

Para o secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Brasil, André Lázaro, o plano tem um desenho inteligente e acerta ao respeitar a livre iniciativa dos países, pois está focado em resultados, não em processos. Cada meta possui um indicador almejado. Assim, por exemplo, a terceira meta corresponde ao aumento da oferta de educação infantil.

Os países da região devem elevar até 100% o atendimento educacional de crianças de 3 a 6 anos até 2021. Espera-se também que o porcentual de formandos no ensino médio esteja entre 60% e 90% do total de alunos. Hoje, no Brasil, o índice está em torno de 50%.

Os governos aceitaram ainda elevar o rendimento dos alunos nos exames internacionais, diminuindo em pelo menos 20% a proporção de estudantes situados nos níveis mais baixos de provas como a do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, em inglês).

Brasil-Iran: cooperacao entre academias diplomaticas

Primeiro a notícia de jornal:

Itamaraty estuda parceria [com o Irã] para formar diplomatas
Isabel Fleck
O Globo, 30/09/2010

Enquanto o ministro Celso Amorim se reunia em Nova York com o colega iraniano, Manouchehr Mottaki, o número dois da diplomacia brasileira, Antônio Patriota, recebia em Brasília o vice-chanceler iraniano encarregado de educação e pesquisa, Mohammad Bagher Khoramshad, para tratar de possíveis parcerias na educação e na formação de pessoal. Entre as ideias de cooperação, estariam o intercâmbio entre diplomatas dos dois países e tradução de livros de política externa dos dois países. A iniciativa foi de Teerã, que, às vésperas da eleição no Brasil, quer garantir que a abertura da diplomacia brasileira em relação ao país se mantenha no próximo governo.

“Vemos com muito interesse a possibilidade de buscar a interação com países que, às vezes, têm uma tradição (diplomática) muito maior que a nossa”, afirmou a diretora do Departamento de Ásia Central, Meridional e Oceania, Maria Clara Carisio.

Khoramshad encontrou-se com o diretor adjunto do Instituto Rio Branco, Sérgio Barreiros, e com o embaixador Jerônimo Moscardo, presidente da Fundação Alexandre Gusmão, ligada ao Itamaraty, que cuida da publicação de materiais para a formação dos diplomatas. Foi aventada a possibilidade de criar cursos de curta duração para diplomatas dos dois países, como já se fez na América Latina.

Em três dias de visita a Brasília, o diplomata iraniano ainda visitou o Congresso e apresentou palestra na Universidade de Brasília (UnB) sobre as possibilidades de cooperação entre países em desenvolvimento. Nas quase duas horas que passou na Reitoria da UnB, Khoramshad criticou as sanções adotadas pelo Conselho de Segurança contra a República Islâmica e reafirmou que o programa nuclear iraniano tem caráter pacífico. Hoje, ele deve ministrar palestra na Universidade de São Paulo (USP).

Quando o presidente Mahmud Ahmadinejad veio ao Brasil, em novembro passado, foram assinados acordos de cooperação em ciência e tecnologia, em especial para desenvolver projetos agrícolas, de biotecnologia e nanotecnologia. Os dois governos também firmaram memorando de entendimento entre universidades.

Mais sanções
Apesar das críticas contra sanções unilaterais, proferidas durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, os EUA vão aplicar medidas restritivas contra oito dirigentes iranianos acusados de “graves violações dos direitos humanos”. Entre eles estão Mohammad Ali Jafari, chefe da Guarda Revolucionária, e Said Mortazevi, ex-procurador-geral de Teerã, suspenso em meados de agosto após ter sido acusado da morte de três opositores na prisão. Na última terça-feira, o chanceler Mottaki declarou à agência iraniana Irna que o presidente Barack Obama tem sido orientado por políticos americanos a ter uma postura “dura” em relação ao Irã até as eleições legislativas de novembro, nos EUA.

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Comento [PRA]:
Nenhuma dúvida que o Irã, a Pérsia histórica, possui uma tradição diplomática "muito maior que a nossa”, como afirmou a diretora do Departamento de Ásia Central, Meridional e Oceania do Itamaraty.
Apenas não tenho certeza de que essa tradição "muito maior do que a nossa" seja exatamente a do governo atual, em suas "tradições" teocráticas e islâmicas.
Afirmar uma coisa desse seria o mesmo que pretender que a cooperação atual com a Grécia e com o Egito, por exemplo, estariam retomando tradições socráticas ou faraônicas, que estariamos sorvendo a filosofia da Grécia antiga ou a sapiência astronômica (e astrológica) dos egípcios da antiguidade, para ficar apenas em dois anacronismos históricos bastante evidentes. Tradições se rompem, rupturas históricas acontecem, e os governos se sucedem, sem necessariamente se parecer ou recuperar tradições antigas. O Irã atual não tem absolutamente nada a ver com a Pérsia clássica, como tampouco com a monarquia anterior derrubada pelo atual regime dos mullahs. Nem Grécia ou Egito da atualidade guardam qualquer conexão com suas civilizações antigas. Isto me parece evidente.
Talvez Irã e Brasil tenham muito a aprender um com o outro, inclusive no campo da diplomacia. Apenas não tenho certeza de que isso tenha a ver com qualquer tradição ou herança histórica.
A aceitar o argumento exposto na matéria, entendo que, nessa visão, fazer cooperação com as academias diplomáticas dos EUA e da Europa atuais, por exemplo, seria sancionar as políticas imperialistas e opressoras que esses países avançados praticaram poucas gerações atrás, contra o Irã e o Egito, para ficar nos mesmos exemplos, ou que podem ainda praticar, como seria o caso da grande potência imperial da atualidade contra o pacífico regime iraniano.
Desse ponto de vista, melhor mesmo cooperar com o Irã dos mullahs do que com os EUA dos militaristas do Pentágono e dos especuladores de Wall Street...
A gente precisa aprender a ser soberano e independente, e fazer cooperação com quem partilha nossos pontos de vista...
Paulo Roberto de Almeida

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Algumas perguntas incomodas para os candidatos - Carlos Alberto Sardenberg

Agora vai ser preciso adaptar apenas para os dois que sobraram para o segundo turno.

Ninguém pergunta, ninguém responde
Carlos Alberto Sardenberg
O Estado de S.Paulo, 04 de outubro de 2010

Era de esperar que alguém perguntasse a Dilma Rousseff, no debate da Globo: em qual afirmação sua a gente deve acreditar, quando dizia que era a favor da legalização do aborto ou quando diz que é a favor da vida?

E para José Serra: sua proposta de elevar o salário mínimo para R$ 600 e reajustar as demais aposentadorias em 10% simplesmente dobra o déficit da Previdência. Trata-se, pois, de uma proposta no mínimo estranha de quem defende rigor nas contas públicas. Como se vai financiar isso, cortando outros gastos (e quais?) ou aumentando impostos?

Para Marina Silva: a exploração do petróleo do pré-sal impõe enormes riscos ambientais, ao mesmo tempo que pode trazer enormes lucros para o Brasil. A senhora segue em frente com a exploração?

Para todos: é a favor ou contra a fixação de idade mínima para aposentadoria? Ou ainda: está claro que o grande problema da economia brasileira está na dobradinha juros altos/dólar barato. Seu governo vai fazer o que para derrubar os juros? E mais: desvalorizar o dólar reduz o poder de compra das pessoas e dificulta as viagens internacionais. Vai fazer isso?

Valeria para Dilma Rousseff também. Em quase todas as suas músicas de campanha aparece algum brasileiro dizendo "agora eu posso viajar". Quer dizer que, para ela, está tudo bem com o dólar baratinho?

Nada disso foi debatido. Não por culpa do William Bonner, mas por causa das regras dos debates, impostas pelos candidatos. Francamente, o modelo brasileiro não está funcionando, especialmente na TV e no rádio. Para participar, os candidatos - sobretudo aqueles com reais chances de vencer - exigem regras que simplesmente engessam a discussão e permitem evitar as questões polêmicas. Fica um acordo tácito entre os candidatos mais competitivos.

Serra, que precisava tirar pontos de Dilma, não fez uma pergunta sequer a ela. Por que não perguntou sobre a polêmica da legalização do aborto? Simples: porque ele, Serra, também não queria se meter nessa confusão.

Por que Dilma não cobrou Serra sobre o aumento de gastos com a Previdência? Porque a questão a obrigaria a também se definir sobre os reajustes das pensões.

Pior do que isso: no ambiente eleitoral essas questões entraram não pela sua natureza, mas pelo que podiam incomodar este ou aquele candidato.

Legalização do aborto ficou embaraçosa para Dilma. Mas, reparem: é uma questão essencial, em debate civilizado no mundo todo. É um problema social, de saúde e econômico. E, sobretudo, envolve direitos e liberdade da mulher, definições sobre a origem e o momento da vida.

Não se chegou nem perto disso. Ficou no ganha-perde votos.

No dia mesmo do debate da Globo, o fato econômico dominante foi o dólar, que caíra abaixo do R$ 1,70. Também acabara de ser publicado o Relatório Trimestral de Inflação, em que o Banco Central (BC) sugere que a taxa real de juros de equilíbrio no Brasil seria hoje de 5% ao ano. Taxa de equilíbrio, ou neutra, é aquela que mantém a inflação na meta e, digamos assim, não esquenta a economia exageradamente nem impede o crescimento. Ou seja, garante o máximo de crescimento e emprego, com inflação na meta.

Não é apenas uma questão técnica. Está na vida das pessoas. O mesmo relatório do BC inclui um estudo que mostra o seguinte: as famílias gastam 13% do seu orçamento com o pagamento de juros e 10% com a amortização do principal da dívida. Mais ou menos o seguinte: você compra uma televisão a prazo; na prestação, você paga mais pelos juros do que pela TV.

Juros menores beneficiariam as pessoas, as empresas e o governo, que paga juros elevados na rolagem de sua dívida. É certo, por outro lado, que juros altos estão entre as causas da valorização do real, pois atraem dólares. Finalmente, a elevada dívida pública e os altíssimos gastos governamentais são causas dos juros altos.

E o que vimos no debate? Promessas variadas de aumento do gasto público. Serra ainda falou em alguns momentos da dobradinha dólar/juros, mas não adiantou qualquer indicação razoavelmente precisa de como desataria esse nó.

Dilma falou da manutenção da política econômica de Lula, mas essa política está mudando.

Marina, ao longo da campanha, foi quem apresentou as melhores e mais desenvolvidas ideias sobre essa questão. Propôs um programa que leva à redução do gasto público como proporção do Produto Interno Bruto. Isso seria um grande avanço, mas o tema não mereceu mais debate e mais elaboração.

A revista The Economist da semana passada, em reportagem sobre as eleições brasileiras, lembrou que em 2006 Lula havia dito à publicação que seu segundo mandato seria dedicado às reformas tributária, política, trabalhista e previdenciária.

Não avançou uma sequer. Lula diz que a culpa é do Congresso. Não é bem assim. Na verdade, na medida em que cresceu a onda econômica, Lula simplesmente desistiu das reformas - que só apareceram vagamente nessas eleições.

Tudo considerado, temos um processo eleitoral de má qualidade. O eleitor não tem condições de fazer boas escolhas. Os eleitos não têm compromissos para valer. Quando pensam na reeleição e na continuidade, tratam de fazer um governo de bondades, sem complicações.

E assim vai o Brasil. Só faz as reformas, as mudanças estruturais, quando está atolado na crise. Por exemplo: em todos os países sérios há idade mínima para aposentadoria. Está na cara que será preciso introduzir a regra por aqui - mas isso será tentado no pior momento, em crise.

Quanto aos debates na TV e no rádio, só tem uma saída: jornalistas perguntando sem restrições, podendo replicar, treplicar, insistir com o candidato. Quem se julga em condições de ser presidente ou governador não pode ter medo disso.

JORNALISTA - E-MAIL: SARDENBERG@CBN.COM.BR

O ocaso da inteligencia no Brasil - manifesto de reitores

Reitores são, supostamente, pessoas escolhidas entre os melhores pesquisadores, ou cientistas distinguidos, para chefiar o que seria um empreendimento que tem a ver com a inteligência nacional.
Não mais no Brasil, aliás desde certo tempo. Com a mediocrização das universidades públicas, vieram os demagogos e os populistas, disputando votos de professores, funcionários e alunos na base daquelas promessas típicas de políticos.
Agora a situação se tornou um pouco pior. Eles se envolvem em políticas partidárias, da pior espécie, por sinal...
Não tenho comentários sobre o que eles disseram. Basta o que já disse acima.
Paulo Roberto de Almeida

EDUCAÇÃO – O BRASIL NO RUMO CERTO
Manifesto de Reitores das Universidades Federais à Nação Brasileira
30.09.2010

Da pré-escola ao pós-doutoramento - ciclo completo educacional e acadêmico de formação das pessoas na busca pelo crescimento pessoal e profissional - consideramos que o Brasil encontrou o rumo nos últimos anos, graças a políticas, aumento orçamentário, ações e programas implementados pelo Governo Lula com a participação decisiva e direta de seus ministros, os quais reconhecemos, destacando o nome do Ministro Fernando Haddad.
Aliás, de forma mais ampla, assistimos a um crescimento muito significativo do País em vários domínios: ocorreu a redução marcante da miséria e da pobreza; promoveu-se a inclusão social de milhões de brasileiros, com a geração de empregos e renda; cresceu a autoestima da população, a confiança e a credibilidade internacional, num claro reconhecimento de que este é um País sério, solidário, de paz e de povo trabalhador. Caminhamos a passos largos para alcançar patamares mais elevados no cenário global, como uma Nação livre e soberana que não se submete aos ditames e aos interesses de países ou organizações estrangeiras.
Este período do Governo Lula ficará registrado na história como aquele em que mais se investiu em educação pública: foram criadas e consolidadas 14 novas universidades federais; institui-se a Universidade Aberta do Brasil; foram construídos mais de 100 campi universitários pelo interior do País; e ocorreu a criação e a ampliação, sem precedentes históricos, de Escolas Técnicas e Institutos Federais. Através do PROUNI, possibilitou-se o acesso ao ensino superior a mais de 700.000 jovens. Com a implantação do REUNI, estamos recuperando nossas Universidades Federais, de norte a sul e de leste a oeste. No geral, estamos dobrando de tamanho nossas Instituições e criando milhares de novos cursos, com investimentos crescentes em infraestrutura e contratação, por concurso público, de profissionais qualificados. Essas políticas devem continuar para consolidar os programas atuais e, inclusive, serem ampliadas no plano Federal, exigindo-se que os Estados e Municípios também cumpram com as suas responsabilidades sociais e constitucionais, colocando a educação como uma prioridade central de seus governos.
Por tudo isso e na dimensão de nossas responsabilidades enquanto educadores, dirigentes universitários e cidadãos que desejam ver o País continuar avançando sem retrocessos, dirigimo-nos à sociedade brasileira para afirmar, com convicção, que estamos no rumo certo e que devemos continuar lutando e exigindo dos próximos governantes a continuidade das políticas e investimentos na educação em todos os níveis, assim como na ciência, na tecnologia e na inovação, de que o Brasil tanto precisa para se inserir, de uma forma ainda mais decisiva, neste mundo contemporâneo em constantes transformações.
Finalizamos este manifesto prestando o nosso reconhecimento e a nossa gratidão ao Presidente Lula por tudo que fez pelo País, em especial, no que se refere às políticas para educação, ciência e tecnologia. Ele também foi incansável em afirmar, sempre, que recurso aplicado em educação não é gasto, mas sim investimento no futuro do País. Foi exemplo, ainda, ao receber em reunião anual, durante os seus 8 anos de mandato, os Reitores das Universidades Federais para debater políticas e ações para o setor, encaminhando soluções concretas, inclusive, relativas à Autonomia Universitária.
Alan Barbiero - Universidade Federal do Tocantins (UFT)
José Weber Freire Macedo – Univ. Fed. do Vale do São Francisco (UNIVASF)
Aloisio Teixeira - Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Josivan Barbosa Menezes - Universidade Federal Rural do Semi-árido (UFERSA)
Amaro Henrique Pessoa Lins - Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Malvina Tânia Tuttman – Univ. Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)
Ana Dayse Rezende Dórea - Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
Maria Beatriz Luce – Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA)
Antonio César Gonçalves Borges - Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
Maria Lúcia Cavalli Neder - Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
Carlos Alexandre Netto - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Miguel Badenes P. Filho – Centro Fed. de Ed. Tec. (CEFET RJ)
Carlos Eduardo Cantarelli – Univ. Tec. Federal do Paraná (UTFPR)
Miriam da Costa Oliveira – Univ.. Fed. de Ciênc. da Saúde de POA (UFCSPA)
Célia Maria da Silva Oliveira – Univ. Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)
Natalino Salgado Filho - Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
Damião Duque de Farias - Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)
Paulo Gabriel S. Nacif – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)
Felipe .Martins Müller - Universidade Federal da Santa Maria (UFSM).
Pedro Angelo A. Abreu – Univ. Fed. do Vale do Jequetinhonha e Mucuri (UFVJM)
Hélgio Trindade – Univ. Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)
Ricardo Motta Miranda – Univ. Fed. Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
Hélio Waldman – Universidade Federal do ABC (UFABC)
Roberto de Souza Salles - Universidade Federal Fluminense (UFF)
Henrique Duque Chaves Filho – Univ. Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Romulo Soares Polari - Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
Jesualdo Pereira Farias - Universidade Federal do Ceará - UFC
Sueo Numazawa - Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
João Carlos Brahm Cousin - Universidade Federal do Rio Grande – (FURG)
Targino de Araújo Filho – Univ. Federal de São Carlos (UFSCar)
José Carlos Tavares Carvalho - Universidade Federal do Amapá (UNIFAP)
Thompson F. Mariz - Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
José Geraldo de Sousa Júnior - Universidade Federal de Brasília (UNB)
Valmar C. de Andrade - Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
José Seixas Lourenço – Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA)
Virmondes Rodrigues Júnior – Univ. Federal do Triângulo Mineiro (UFTM)
Walter Manna Albertoni - Universidade Federal de São Paulo ( UNIFESP)

Politica externa: balanco da era Lula

A política externa sem Lula
Sergio Leo
Valor Econômico, 04/10/2010

Ao aproveitar a reunião do G-20, na Coreia, em novembro, para apresentar seu sucessor à comunidade internacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrará uma nova etapa da política externa brasileira, em que a crescente presença do Brasil nas instâncias de decisão mundiais foi impulsionada pela figura do carismático líder metalúrgico, capaz de persistir na via democrática para chegar ao poder e de combinar o respeito aos mercados com uma ativa política de distribuição de renda. Não à toa, Lula pretende fazer, de seu discurso na Coreia, um balanço de seu governo.

Há consenso entre os analistas que a saída de Lula obriga o próximo governo a modificar, se não a essência, a forma de atuação internacional. O Brasil de democracia consolidada, das enormes florestas, do petróleo no pré-sal, das imensas riquezas naturais e de atrativo mercado consumidor está destinado a ter presença importante no cenário internacional, mas quem o comandará a partir de 2011 não terá suas declarações recebidas com a mesma benevolência concedida ao presidente de metáforas exóticas e trânsito fácil, agora em fim de mandato.

Há, no Brasil, quem atribua o respeito adquirido pela política externa brasileira apenas à enorme popularidade de Lula também no exterior . É um equívoco. A influência e a visibilidade do Brasil nos órgãos multilaterais e nos eventos mundiais não se deve apenas à singularidade do presidente operário, o Lech Walesa que deu certo - na feliz definição do antecessor, Fernando Henrique Cardoso, em comparação com o ex-líder sindical polonês, que também foi presidente e mito internacional.

É grande a resistência à liderança brasileira nos países vizinhos
Houve e há muito do trabalho de respeitados diplomatas brasileiros na configuração da política externa dos últimos oito anos. Foram também os êxitos dessa política, nem sempre reconhecidos no país, que garantiram ao Brasil presença nas mesas de decisão do mundo - ainda que tenha sido em vão, até agora, o esforço do governo para ter cadeira cativa em uma das principais dessas mesas, o Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Faltou ao Brasil, no governo Lula, uma estratégia mais eficaz para prevenir e tratar as ameaças aos interesses nacionais surgidas nos países vizinhos, quase todos conturbados por profundas mudanças internas, reviravoltas políticas e, em alguns casos, na situação econômica. Ainda é grande a resistência à liderança brasileira, refletida na lentidão dos projetos sul-americanos de integração; e ainda surgem sem aviso ações contrárias à economia brasileira, como medidas protecionistas do principal sócio regional, a Argentina.

Seria injustiça, porém, negar os avanços. Com a criação de comissões de monitoramento de comércio com os sócios comerciais no continente, foram abortadas pela negociação preventiva discordâncias que poderiam se desdobrar em crises comerciais. Listado entre os governos confiáveis à comunidade financeira internacional, o Brasil conseguiu, nos últimos anos, evitar conflito direto com os chamados países "bolivarianos" de tendência estatista e agressiva retórica diplomática, estabelecendo com os governos desses países, onde é forte a interferência presidencial nos negócios, uma linha direta de defesa dos interesses de cidadãos e empresas brasileiras.

O esforço para institucionalizar mecanismos internacionais de decisão e solução de conflitos é, talvez, uma das principais marcas do governo que acaba, a ser herdada pelo que começará em 2011. Um dos resultados mais notáveis foi a transformação, em G-20 - com presença atuante do Brasil-, do G-7, o grupo de países ricos que, até a última crise financeira, decidia as ações conjuntas de governança econômica mundial. Nas negociações comerciais, o acordo de livre comércio entre Estados Unidos e Colômbia, assinado há quatro anos, e até hoje bloqueado no Congresso dos EUA, mostra o exagero dos que apontam a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) como oportunidade perdida para a economia brasileira. Não se pode culpar a diplomacia de Lula pelos impasses nas negociações internacionais comerciais, que, no caso da Organização Mundial do Comércio (OMC), até ressaltaram o protagonismo brasileiro, ainda que o único resultado prático tenha sido bloquear um acordo entre EUA e União Europeia, que ameaçava interesses nos países em desenvolvimento.

Na América do Sul, a heterogeneidade entre as economias e a situação política da Argentina (além de resistências no próprio setor privado brasileiro) impediram a consolidação do Mercosul. Mas evitou-se o retrocesso e houve pequenas conquistas, como a criação de um fundo, o Focem, para investimentos na integração, e um sistema para acabar com a cobrança dupla da tarifa de importação no bloco.

A crise da semana passada no Equador, tratada entre os vizinhos por meio da Unasul, uma iniciativa brasileira, mostra que o esforço institucional da diplomacia sob governo atual tem o potencial de deixar heranças positivas para a governabilidade da região. A reunião, que decidiu estabelecer uma "cláusula democrática" no continente, prescindiu até da presença de Lula, que, no Brasil, se empenhava na própria sucessão.

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Política externa pró-ativa de Lula deve ter continuidade
Sílvio Ribas
Brasil Econômico, 04/10/2010

Aumento da importância do país no cenário internacional suplanta dificuldades criadas por lances polêmicas

A política externa pró-ativa que marcou os dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá ter continuidade no próximo governo. Segundo especialistas ouvidos pelo BRASIL ECONÔMICO, descontados os tropeços motivados por excessos de ousadia, pragmatismo e simpatia ideológica, a diplomacia ampliou a inserção do Brasil na cena global.

Essa mudança de patamar acompanhada do crescimento econômico é a motivação para se manter o novo protagonismo internacional do país. O desafio a partir de 2011 é consolidar avanços e corrigir desvios de rota.

Amado Luiz Cervo, professor da Universidade de Brasília (UnB), afirma que a atual diplomacia verde-amarela colecionou êxitos e malogros. A maior vitória está na internacionalização da economia, com investimentos externos de empresas brasileiras alcançando R$ 200 bilhões até 2018. “É um processo típico da globalização e que deve continuar com os canais abertos pelo governo”, disse. O investimento em mecanismos para cessar conflitos globais e regionais também foi um sucesso, ao fortalecer foros de emergentes (Brics, Ibas e Unasul) e “levar o mundo a refletir sobre o multilateralismo”.

Para o especialista, as maiores derrotas do Itamaraty na Era Lula estão na costura de acordos de livre comércio entre blocos econômicos e os de perspectiva global. “As negociações entre Mercosul e União Europeia não avançaram. Caberá ao novo governo delinear nova estratégia”, explica. Em relação à América do Sul, Cervo vê resultados ambíguos do esforço diplomático brasileiro.

“A integração política e econômica do continente seguiu adiante. Mas esse projeto de criar um polo de poder se revela uma colcha de retalhos”, ressalta.

Carlos Pio, professor de economia política internacional da UnB, acrescenta que a eventual entrada da Venezuela no Mercosul, ainda dependente da aprovação pelo Legislativo paraguaio, em tese favoreceria o Brasil. A ampliação da área econômica do bloco levaria empresas brasileiras a vender mais para o país de Hugo Chávez e atrairia investimento venezuelano ao mercado brasileiro, cujos fundamentos macroeconômicos são melhores. O risco está na instabilidade jurídica.

Envolvido com campanhas eleitorais de aliados, Lula delegou ao ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a tarefa de fazer o último discurso de seu governo na Organização das Nações Unidas (ONU). O chanceler apresentou no último dia 23 durante a abertura da Assembleia Geral do órgão um detalhado balanço. Ele reiterou o pedido de reforma no Conselho de Segurança da ONU e a defesa do diálogo como forma de solucionar controvérsias.

Amorim destacou a necessidade de retomar negociações entre ONU e Irã, que sofre sanções por insistir como programa nuclear. “De volta à mesa de negociações, as partes resolverão os problemas”, aposta.

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Polêmicas marcaram atuação do Itamaraty
Sílvio Ribas
Brasil Econômico, 4.10.2010

De Mahmoud Ahmadinejad (presidente do Irã) a Manuel Zelaya (ex-presidente de Honduras deposto em junho de 2009), os verbetes da atual política externa saíram da visão de Brasil Grande do presidente Lula. Dono de carisma mundial, ele foi protagonista de situações inesperadas no tabuleiro global, com repercussões nem sempre positivas.

“A aproximação de Lula com o presidente Ahmadinejad e a oposição do Brasil às sanções globais ao Irã não abalaram as relações com alguns países mais próximos ou que compartilham interesses estratégicos. Apesar disso, é inegável que esses movimentos provocaram estrago à imagem externa do país. Algumas reações negativas foram até fortes”, comentou um importante embaixador em Brasília.

A busca obsessiva para ser um dos principais atores da cena global levou o governo a ampliar o número de embaixadas no mundo, investir em ações humanitárias e a buscar maior influência em organismos multilaterais.

“Mas ao tentar ser amigo de todos, inclusive ditadores, Lula acabou desagradando alguns. E não é possível agradar a todos”, comenta Sérgio Gil Marques, professor das Faculdades Integradas Rio Branco. Segundo ele, os equívocos da diplomacia brasileira foram criados também por uma “disputa surda” entre posições divergentes internas do Itamaraty, o assessor especial do presidente para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, e o próprio presidente.

Diferenças entre o chanceler Celso Amorim e o secretário-executivo do ministério Antônio Patriota, candidato a sucedê-lo, tornaram-se visíveis.
S.R

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