segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Amizades sul-americanas (mas com um tribunal de arbitragem no meio...)

BNDES ganha disputa com o Equador na Câmara de Comércio Internacional
Folha de S.Paulo, 19/01/2011

A Câmara de Comércio Internacional, em Paris, deu ganho ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) na disputa entre o banco e a empresa pública equatoriana Hidropastaza sobre o financiamento para a construção da Central Hidrelétrica San Francisco, no Equador.

A decisão da corte internacional é definitiva e não cabe recurso.

A discussão sobre o financiamento afetou as relações entre Brasil e Equador em 2008. O Brasil chegou a retirar seu embaixador de Quito por dois meses depois que o presidente Rafael Correa ameaçou não efetuar uma parcela do financiamento concedido pelo BNDES.

Em 2008 a Odebrecht foi expulsa do Equador depois que a hidrelétrica parou de produzir um ano após a sua inauguração por conta do desgastes das rodas d'água das turbinas e do desabamento parcial do túnel de 11km que leva a água do rio Pastaza ao equipamento.

Na época, o governo equatoriano acusou a Odebrecht de ter realizado uma obra de má qualidade. A empresa brasileira atribuiu os problemas à erupção de um vulcão que lançou dejetos na água. A hidrelétrica voltou a operar, mas no ano seguinte também apresentou problemas.

A usina contou com financiamento de US$ 243 milhões do BNDES. O contrato previa que 60% do valor dos insumos para a obra deveriam ser gastos no Brasil.

Além da insatisfação com os serviços prestados pela construtora, o Equador tinha queixas sobre as condições do financiamento. Na época, as divergências entre os dois países foram avaliadas como fator de risco para a integração sul americana. Isso porque o empréstimo do BNDES era garantido pela CCR (convênio de créditos recíprocos), uma espécie de câmara de compensação de bancos centrais de países membros da Aladi (Associação Latino-Americana de Integração).

O BNDES informou que mesmo enquanto a questão estava sendo discutida na Câmara de Comércio Internacional o Equador manteve o fluxo de pagamentos. Da maneira como o empréstimo foi concedido, caso o Equador não pagasse, poderia enfrentar restrições na obtenção de crédito ou dificuldade de recebimento de receitas de exportação para países vizinhos.

Na câmara de arbitragem, os principais questionamentos do Equador se referiam a pontos como a cobrança de juros sobre juros e a importações feitas pela Odebrecht. A empresa pública equatoriana solicitava a exclusão de valores devidos referentes ao financiamento.

Na época, o vice-presidente do BNDES, Armando Mariante, disse a senadores da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional que as operações ocorreram de forma legítima e que tinham sido aprovadas pela Hidropastaza durante a construção da usina.

O contrato firmado previa o pagamento em 41 notas promissórias semestrais, 20 delas relativas aos juros que não foram cobrados durante as obras. Na época, Mariante afirmou que o Equador havia pedido para não pagar os juros durante a construção da usina.

O Itamaraty e os poroes da ditadura militar

Uma resenha de um romance -- baseado em fatos reais -- sobre algumas das páginas sombrias de nossa história. Tive a oportunidade de participar de um livro sobre o AI-5, no qual escrevi o capítulo sobre o Itamaraty. Retomo in fine...
Paulo Roberto de Almeida

Doces venenos da diplomacia
José Nêumanne
O Estado de S.Paulo, 22 de janeiro de 2011

Política, espionagem e psicanálise estão no centro de O Punho e a Renda, de Edgard Telles Ribeiro

O PUNHO E A RENDA
Autor: Edgar Telles Ribeiro
Editora: Record
(560 págs., R$ 69,90)

O bom escritor se conhece pelo princípio da obra. Meio caminho terá andado o autor para ter o texto bem avaliado se lhe providenciar um bom começo para cativar o olhar e, como ensina Gabriel García Márquez, segurar o fôlego do leitor. O Punho e a Renda, de Edgard Telles Ribeiro, vence este desafio com folgas. O narrador, diplomata noviço, busca uma palavra para usar num relatório e, de repente, como se baixasse o anjo da anunciação, um vulto sai da penumbra e lhe sopra o vocábulo, que cai como uma luva. Assim é apresentado o protagonista da história, que não é o narrador, mas seu melhor colega de trabalho na juventude. Um lance de mestre: narrador e leitor fisgados pela mesma isca.

Mas evidentemente um boa pegada no início não é suficiente para segurar uma história capenga. É necessário encontrar um bom fim. E não é que o dito romancista conseguiu um fecho estupendo para sua narrativa? Revelá-lo nesta resenha não será incorrer em pecado mortal nem mesmo capital ou até venal. O tema do livro é a longa noite dos porões na ditadura militar brasileira e a fábula que o encerra não descreve uma seção de tortura nas masmorras nem a saga de alguma mãe em busca de seu filho tresmalhado nas celas clandestinas do sórdido Gulag tupiniquim. Nada disso: o personagem da narrativa em questão faz parte do rebanho dos sobreviventes. E esta ficção de terror não foi contada com gritos, sussurros nem pontos de exclamação, mas em silêncio tenso e sepulcral no meio de ruidoso tumulto. Muito tempo depois de haver fugido de casa para escapar dos esbirros que o foram prender, ele encontra a irmã num ônibus urbano e se olham sem uma palavra, um sorriso ou um aceno - apenas o gesto do dedo dele selando o lábio para evitar a bandeira da emoção deslavada por parte dela. O medo conteve a euforia e manteve represada a surpresa.

O leitor arguto poderá argumentar que estas duas cenas poderiam ter sido filmadas por Costa-Gavras ou Michelangelo Antonioni. De fato, são cinema em estado de extrema pureza. Narrador e autor lecionam - ou lecionaram - cinema na universidade. Mas nem mesmo o mais ranheta dos críticos, depois de lê-las, deixará de reconhecer que foram lavradas na mais perfeita e canônica arquitetura literária. Aí é que emerge outro aspecto fundamental no bom romance e que este aqui resenhado tem: um miolo à altura da entrada e da saída do leitor de suas páginas. Edgard Telles Ribeiro saiu-se bem nesta empreitada. Sem querer ser mais irreverente do que porventura possa se propor um ocupante deste espaço fugaz - mas sendo -, é o caso de deixar registrado que ele escreve muito bem... como o faria um competente profissional estrangeiro da escrita. E muito além do amadorismo reinante nestes trópicos mais enfadonhos do que tristes.

Víboras de gravata. O Punho e a Renda narra os bastidores da diplomacia brasileira por ocasião de um dos mais sórdidos episódios da história latino-americana, a Operação Condor, esquema transnacional de colaboração clandestina entre serviçais civis e militares de direita dos regimes autoritários vigentes na América do Sul nos anos de 1970. Só isso pode dar ao leitor a ideia da oportunidade oferecida a quem enfrentou o desafio de escrever e a quem aceita a gozosa tarefa de ler seu texto. Trata-se de um roman-à-clef, aquele gênero literário em que personagens reais com nomes fictícios atuam em cenários históricos. Chega a ser divertido procurar no entrecho do livro figuras com traços de caráter muito comuns nos desvãos da política, que muda como as nuvens do céu, e nos corredores do Itamaraty, serpentário de silvos refinados e doces venenos.

A saga do aventureiro que serviu à sanha da direita e continuou a subir após algumas de suas vítimas no passado conquistarem o poder republicano chega a ser corriqueira, de tão frequente. Para Telles Ribeiro contar a história que contou, mesmo sendo passados 40 anos, teve de reunir ao talento narrativo coragem cívica. Nada disso lhe faltou em nenhum momento. E o recurso da chave, usado na ficção para bois seguirem anônimos nos currais, não o poupará de picadas de víboras desmascaradas, pois estas ainda poderão lhe prejudicar a carreira no Itamaraty, ainda que já seja embaixador.

Em todo caso, o que menos importa neste caso é saber quem na vida real corresponde aos personagens tecidos com precisão de joalheiro no texto que é longo, mas leve. Importa mais é conhecer a natureza da história e suas implicações na vida de cada um, com todos os ingredientes bem misturados de política, guerra, colunismo social, espionagem e psicanálise.

Este livro, cujo título se refere menos aos punhos de renda e mais à força bruta e à corrupção, certamente elevará seu autor no pódio dos maiores ficcionistas em língua portuguesa. O exagero do emprego de tipos itálicos na composição da mancha gráfica e o mau gosto evidente do arame farpado usado na capa para insinuar que o volume possa conter o relato de algum sobrevivente de campos de concentração nazista, em nada impedir-lhe-ão a fortuna crítica que, com todos os méritos, lhe está reservada.

JOSÉ NÊUMANNE, JORNALISTA E ESCRITOR, É EDITORIALISTA DO JORNAL DA TARDE E PRÊMIO SENADOR JOSÉ ERMÍRIO DE MORAES DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS PELO ROMANCE O SILÊNCIO DO DELATOR, "MELHOR LIVRO" DE 2004

========

Meu capítulo sobre esse período sombrio da história do Itamaraty é este aqui:

55) Do alinhamento recalcitrante à colaboração relutante: o Itamaraty em tempos de AI-5. In: Oswaldo Munteal Filho, Adriano de Freixo e Jacqueline Ventapane Freitas (orgs.), “Tempo Negro, temperatura sufocante”: Estado e Sociedade no Brasil do AI-5 (Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; Contraponto, 2008, p. 65-89); link: http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/103BrasilAI5.html

Quem vai salvar o capitalismo?: a China "socialista"

As voltas que o mundo dá (e as ironias do capitalismo):

O CAPITALISMO E A CHINA
(piada que circula nos meios financeiros de Hong Kong)

EM 1949 - A MAIORIA DOS INTELECTUAIS ACREDITAVA QUE O COMUNISMO SALVARIA A CHINA

EM 1969 - OS MESMOS INTELECTUAIS ACREDITAVAM QUE A CHINA, E SUA REVOLUÇÃO CULTURAL, SALVARIAM O COMUNISMO (QUE, APÓS STALIN E A PRIMAVERA DE PRAGA, COMEÇOU A SER DESACREDITADO COMO IDEOLOGIA)

EM 1979 - DENG XIAO PING PERCEBEU QUE SOMENTE O CAPITALISMO SALVARIA A CHINA

EM 2009 - O MUNDO INTEIRO ACREDITA QUE SOMENTE A CHINA PODE SALVAR O CAPITALISMO

=================

Terminaram de rir, gostaram da piada?
Agora volta o realKritik:

O capitalismo, uma pequena parte da economia de mercado, não tem necessidade de que ninguém o salve, já que ele vai avançando, aos trancos e barrancos, como é o próprio da história (e da História).
Ele se ajusta a si mesmo, e na verdade não é possível falar de "capitalismo" (com K na versão marxiana) como se se tratasse de uma única entidade, indivisível e onipresente ao longo da história.
O que temos são variantes da economia de mercado, algumas mais capitalistas do que outras, que vão se ajustado ao sabor das dinâmicas humanas, políticas, sociais, até geográficas e "naturais".
Ou seja, não existe um capitalismo, essa entidade metafísica na concepção marxiana, mas diferentes arranjos parciais que movem a dinâmica econômica mundial em função das configurações sociais (mutáveis) e estruturais (um pouco mais permanentes) que caracterizam diferentes sociedades humanas ao longo dos séculos.

Marx foi um profeta, um engenheiro social frustrado (como são quase todos os engenheiros sociais), que previu o fim do capitalismo e o surgimento de um sistema econômico e social mais "aperfeiçoado" e deu no que deu: um desastre total, com algumas dezenas de milhões de mortos pelo caminho, e muita riqueza perdida, ou seja, oportunidades não aproveitadas.
Alguns engenheiros sociais conseguem, por vezes, mudar suas sociedades, mas o custo humano costuma ser alto: o campeão ainda é Mao Tsé-tung, com algo como 40 a 50 milhões de mortos (uma contabilidade a ser estabelecida); depois vem Stalin, com algo próximo dos 30 milhões (eu não estou falando da II Guerra Mundial, que tem contabilidade à parte, perto de 20 milhões de russos); Hitler possivelmente é o terceiro, com mais de 15 milhões de vítimas, aqui contabilizando o Holocausto e as vítimas civis de suas guerras e invasões, não as militares.
Mas, possivelmente existam piores carrascos, proporcionalmente falando: Pol Pot parece ter matado muito mais gente, levando em consideração a população do Camboja.

Enfim, voltando ao capitalismo, alguns pretendem que ele provocou também nilhões de mortos, mas aqui se coloca na conta o colonialismo, a escravidão, etc, que podem ter sido várias coisas, mas não são exatamente representativas do capitalismo.
Concluindo: a China não vai salvar o capitalismo, mas o capitalismo está ajudando a China a ser um pouco menos pobre...
Paulo Roberto de Almeida

Paises em desenvolvimento na economia global - livro de O. Canuto (Banco Mundial)

Meu amigo dileto, Otaviano Canuto, ex-professor do curso de RI da USP, atualmente vice-presidente do Banco Mundial para assuntos de economias em desenvolvimento anuncia a publicação de seu livro, como abaixo:


Developing Countries Come to the Global Economy’s Rescue
Site do Banco Mundial, PREM

WASHINGTON, September 27, 2010 — While the rich world puts its house in order, developing countries are becoming a new engine of global growth and a pulling force for advanced economies, says a new book by World Bank economists.

According to The Day After Tomorrow: A Handbook on the Future of Economic Policy in the Developing World, almost half of global growth is currently coming from developing countries. As a group, it is projected that their economic size will surpass that of their developed peers in 2015.
Read more

Editors and Authors:
Otaviano Canuto
Marcelo Guigale
Authors' Profile

Presentations:
The Day after Tomorrow
The Future of Economic Policy in the Developing World
Book Launch Video

Book Content:

Preface | Synthesis | Table of Contents | Acknowledgements

Chapter 1: Recoupling or Switchover? Developing Countries in the Global Economy
Chapter 2: Technological Learning: Climbing the Tall Ladder
Chapter 3: Trading Places: International Integration after the Crisis
Chapter 4: Exports and the Competitiveness Agenda: Policies to Support the Private Sector
Chapter 5: Natural Resources and Development Strategy after the Crisis
Chapter 6: The Times, They Are “A-changin”: A New Look at International Economic and Financial Policy
Chapter 7: Macroprudential Policies in the Wake of the Global Financial Crisis
Chapter 8: Finance in Crisis: Causes, Lessons, Consequences, and an Application to Latin America
Chapter 9: Tales of the Unexpected: Rebuilding Trust in Government
Chapter 10: Fiscal Quality: A Developing Country’s Priority
Chapter 11: Public Expenditure after the Global Financial Crisis
Chapter 12: Debt Management and the Financial Crisis
Chapter 13: Subnational Debt Finance: Make It Sustainable
Chapter 14: Sovereign Wealth Funds in the Next Decade
Chapter 15: Poverty, Equity, and Jobs
Chapter 16: Investing in Gender Equality: Looking Ahead
Chapter 17: The Impact of the Global Financial Crisis on Migration and Remittances
Chapter 18: Africa: Leveraging Crisis Response to Tackle Development Challenges
Chapter 19: East Asia and the Pacific Confronts the “New Normal”
Chapter 20: Europe and Central Asia: A Time of Reckoning
Chapter 21: A Brave New World for Latin America
Chapter 22: The Financial Crisis, Recovery, and Long-Term Growth in the Middle East and North Africa
Chapter 23: Economic Policy Challenges for South Asia

O esporte execravel de atirar no mensageiro - Al-Jazira e palestinos

Certamente não é a primeira vez, nem será a última, mas essa mania de atirar no (por vezes matar o) mensageiro, certamente é uma das coisas mais estúpidas que existem.
Nesses tempos de Wikileaks, muitos políticos, pegos de surpresa por declarações que eles pensavam em off, se apressam em desmentir as revelações, dizendo que suas palavras foram distorcidas, fabricadas, seja lá o que for.
Pior ainda, sem dúvida, é responsabilizar o transmissor pelo conteúdo substantivo, e retaliar em cima, como feito pelos palestinos. Um péssimo esporte, sem dúvida.
Paulo Roberto de Almeida

Grupo de palestinos ataca escritório da Al-Jazira na Cisjordânia
AE - Agência Estado, 24 de janeiro de 2011

Emissora havia divulgado documentos sobre as negociações de paz entre Isarel e Palestina

CIDADE DE GAZA - Um grupo de partidários do presidente palestino Mahmoud Abbas atacou nesta segunda-feira, 24, o escritório da rede de televisão Al-Jazira na Cisjordânia, após a emissora divulgar documentos vazados que mostram as negociações secretas da Autoridade Nacional Palestina (ANP) com Israel.

Na noite de hoje (horário local), cerca de 250 pessoas ligadas a Abbas se reuniram em apoio ao presidente na frente do prédio onde fica o escritório local da Al-Jazira. Um pequeno grupo subiu as escadas até os escritórios da emissora, onde quebraram câmeras de segurança e uma porta de vidro com o logo da rede. Grafites pintados nas paredes diziam "Al-Jazira é espiã" e "Al-Jazira é igual a Israel". A polícia retirou os manifestantes do prédio e evitou que as pessoas que estavam do lado de fora entrassem no edifício.
Separadamente, Yasser Abed Rabbo, um importante auxiliar do presidente Abbas, condenou a Al-Jazira pela divulgação dos documentos. Segundo ele, a emissora entrou em "jogos de mídia... para enganar e corromper o cidadão comum". "O que a Al-Jazira está fazendo hoje é uma tentativa de distorcer a posição nacional da liderança palestina", disse, afirmando que a matéria foi feita com base em citações fora de contexto, insinuações e informações fabricadas. "A Al-Jazira chegou a conclusões com base em documentos e textos falsos, cortando uma palavra aqui e ali e juntando imagens de pessoas sem relação com as negociações".

Segundo Rabbo, a divulgação das informações é "uma campanha política de primeiro grau" vinda de "uma decisão política do nível mais alto de nosso irmão Catar". Embora tenha desmentido o conteúdo geral dos documentos, Rabbo foi vago ao contestar os dados. Segundo ele, a ANP não vai tomar nenhuma medida contra os correspondentes locais da Al-Jazira. As informações são da Dow Jones e da Associated Press.

Veja também:
Palestinos teriam feito ofertas secretas a Israel
Documentos vazados indicam que ANP é aliada de Israel, diz Hamas
ANP nega veracidade de documentos sobre negociações com Israel

Diplomacia do impasse: Iran nuclear (ou a cronica de um fracasso antecipado)

Poucos, if any, como se diz (apenas os muito ingênuos), acreditam em algum resultado palpável desse encontro entre o Irã e as grandes potências (membros do CSNU, mais a Alemanha e a UE) sobre o programa nuclear iraniano.
O fracasso era previsível. Podem surgir mais propostas de reforço de sanções, mas sua trajetória vai exigir longas negociações, que vão tomar pelo menos um ano e meio, e resultarão parcialmente ineficazes. No intervalo, o Irã continuará a enriquecer urânio...

Diálogo entre potencias e Irán sobre programa nuclear finaliza en fracaso
AFP, 23.01.2011

Las conversaciones realizadas en Estambul sobre el programa nuclear iraní entre Teherán y las grandes potencias mundiales que temen que este prepare un arma atómica terminaron ayer con un fracaso. No se prevé ninguna otra reunión al respecto. Irán pidió se le levanten sanciones.

ESTAMBUL (AFP). La jefa de la diplomacia de la Unión Europea, Catherine Ashton, intermediaria en las conversaciones del viernes y ayer entre el grupo 5+1 (Estados Unidos, Reino Unido, Francia, Rusia, China y Alemania) e Irán sobre el programa nuclear iraní, se declaró “decepcionada” al término de esas discusiones.

Ashton agregó que no había “nuevas conversaciones planeadas” entre las seis potencias mundiales y Teherán acerca del controvertido programa nuclear iraní.

“Sigue siendo esencial que Irán demuestre que su programa nuclear es pacífico”, añadió Ashton.

La reunión anterior, que tuvo lugar a principios de diciembre en Ginebra después de 14 meses de interrupción de las discusiones, había creado algunas esperanzas, al anunciarse el encuentro de Estambul.

Otra indicación del fracaso de estas negociaciones fue que durante estos dos días no se realizó ninguna reunión bilateral entre la delegación estadounidense y la de Irán, según un diplomático norteamericano, a pesar de la insistencia en que se propicie un encuentro.

Sin embargo, la vía diplomática sigue siendo una solución en la cuestión del programa nuclear iraní, según declaró el ayer a la prensa un alto diplomático estadounidense.

“La puerta está abierta (...). Continuamos pensando que hay tiempo y espacio para la diplomacia”, afirmó este diplomático, que solicitó el anonimato.

En su declaración, Ashton explicó que los seis propusieron una “versión reactualizada del acuerdo de intercambio de combustible TRR (destinado al Reactor de Investigación de Teherán) así como de los medios para mejorar la transparencia a través de medidas de control de la AIEA (Agencia Internacional de Energía Atómica) aceptadas por la comunidad internacional”.

“Nosotros teníamos esperanzas de tener una discusión constructiva y detallada” de esas propuestas, dijo.

“Pero quedó claro que la parte iraní no está dispuesta a eso, a menos que se aceptaran condiciones previas respecto al enriquecimiento y sanciones”, según Ashton.

Irán afirmó que se negaba a tratar una suspensión de esas actividades de enriquecimiento, y que pedía le levanten las sanciones internacionales impuestas.

Said Jalili, negociador iraní insistió en el derecho de su país a enriquecer uranio para un programa nuclear.

Irán, en conformidad con el Tratado de No Proliferación Nuclear (TNP), “tiene derecho al ciclo de combustión, incluyendo el enriquecimiento de uranio”. Si las grandes potencias reconocen ese derecho y sobre todo “esa lógica” a su país, “nosotros estamos dispuestos a negociaciones, incluso mañana”, afirmó Jalili.

Diplomacia do endurecimento: relacoes Brasil-China (não pode ser diplomacia)

Jornalistas não são diplomatas, e por isso mesmo não sabem se ater a uma linguagem diplomática.
Nenhum serviço diplomático sério empregaria tais palavras, ou mandaria tais "recados" pela imprensa, no caso de uma relação tão importante.
Só pode ser coisa de amadores...
Algum gaiato, ou jornalista ainda mais "aéreo", ainda vai sacar aquela famosa frase, tão mal usada, sobre endurecimento e ternura: aguente-se tanta bobagem...
Paulo Roberto de Almeida

Dilma quer endurecer relação com China
NATUZA NERY, SIMONE IGLESIAS, LEILA COIMBRA
DE BRASÍLIA
Folha de S.Paulo, 24.01.2011

Plano prevê raio-X de produtos sensíveis, comitê para tratar de problemas e reforço da embaixada em Pequim
Itamaraty admite elevar o tom em algumas áreas e cobrar mais apoio, por exemplo, para vaga no Conselho de Segurança

Entusiasta do modelo de desenvolvimento chinês e leitora contumaz das dinastias que dominaram o passado milenar da potência asiática, a presidente Dilma Rousseff quer tirar mais da China do que fez qualquer um de seus antecessores.
Ela encomendou à sua equipe uma estratégia para impulsionar a diplomacia sino-brasileira; um plano que reflita posições do governo, não somente do Itamaraty.
Quer ampliar parcerias, mas autorizou seu ministério a endurecer no front comercial e, quando possível, selecionar investimentos que venham de lá.
A estratégia brasileira em discussão indica um reposicionamento do jogo diplomático em relação a Pequim.
Até mesmo o Itamaraty admite elevar o tom em algumas áreas e cobrar mais apoio do aliado em embates internacionais.
Não está claro, porém, se a cobrança se estenderá à defesa dos direitos humanos.
O Ministério do Desenvolvimento já prepara um raio-X de produtos domésticos e setores da economia prejudicados pelos baixos preços dos "made in China".
Dilma Rousseff sugeriu a criação de um comitê exclusivo para tratar de problemas e potenciais oportunidades de negócios.

O governo pretende ainda reforçar sua representação na nação mais populosa do mundo (1,3 bilhão de habitantes) e deve elevar o número de diplomatas atuando lá.
Hoje, são 12, mas poucos fluentes em mandarim. O novo chanceler, Antonio Patriota, tenta sair dessa estatística: toma aulas semanais para aprender a língua.
Outro objetivo, mais difícil, é obter apoio por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Lula jamais arrancou esse compromisso de Hu Jintao.
Quando o presidente Barack Obama convidou Dilma para visitar os EUA em dezembro, ela disse a assessores: "Se for, vou à China também". A petista desembarca em Washington em março.
Em abril, em Pequim, onde participa da reunião com os emergentes que integram os Brics (Rússia e Índia).
Integrantes do novo governo reclamam da ausência de um plano de aproximação na gestão anterior, apesar de reconhecerem o incremento substancial no comércio entre as duas nações.
Foram US$ 30,8 bilhões exportados pelo Brasil em 2010. Na outra mão, o Brasil comprou US$ 25,6 bilhões dos chineses no ano passado. Logo, tem um saldo favorável de US$ 5,2 bilhões.
"Acho que a Dilma vai privilegiar mais o interesse nacional", diz o economista Roberto Giannetti da Fonseca, da Fiesp.

MEDIDAS
Segundo a Folha apurou, Dilma não pretende entrar em batalhas com a China contra a desvalorização do yuan. Julga mais eficaz atacar no front comercial.
Pode, com isso, lançar mão de algumas medidas: salvaguardas para setores sob risco; processos mais rápidos antidumping; nacionalização de cadeias produtivas; imposição de barreiras técnicas e até o estabelecimento de cotas para a entrada de produtos chineses.
Os investimentos de estatais chinesas no Brasil serão avaliados para não impor riscos ao mercado nacional.
O Planalto quer dificultar o avanço da nação asiática no setor de mineração.
Hoje, o governo brasileiro não sabe quantas jazidas de minério de ferro já estão em mãos chinesas. Dilma quer ver o novo código da mineração enviado ao Congresso e aprovado neste ano.

O QUE DILMA QUER DA CHINA

Instrumentos que o governo brasileiro pode usar para pressionar os chineses

1 Impor barreiras técnicas (exigências extras à importação) a produtos "made in China"

2 Criar salvaguardas para tentar impedir a inundação de alguns produtos chineses no mercado brasileiro

3 Agilizar no Ministério do Desenvolvimento a análise de ações antidumping

4 Nacionalizar alguns setores da cadeia produtiva, a exemplo do que ocorreu na construção de plataformas pela Petrobras

5 Regulamentar setores da economia, como um novo marco para a mineração

- O que o Brasil quer politicamente da China
Apoio para obter um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas
- Apoio para ampliar a influência do Brasil no FMI (Fundo Monetário Internacional) e no Banco Mundial
- Maior coordenação entre os Brics nos fóruns internacionais, sobretudo no G20
- Práticas mais respeitosas na área de direitos humanos

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...