Sobre a inflação:
O mais importante a lembrar é que a inflação não é um ato de Deus, que a inflação não é uma catástrofe da natureza ou uma doença que se alastra como a peste. A inflação é uma política — uma política premeditada, adotada por pessoas que a ela recorrem por considerá-la um mal menor que o desemprego. Mas o fato é que, a não ser em curtíssimo prazo, a inflação não cura o desemprego. A inflação é uma política. E uma política pode ser alterada. Assim sendo, não há razão para nos deixarmos vencer por ela. Se a temos na conta de um mal, então é preciso estancá-la. É preciso equilibrar o orçamento do governo. Evidentemente, o apoio da opinião pública é necessário para isso. E cabe aos intelectuais ajudar o povo a compreender. Uma vez assegurado o apoio da opinião pública, os representantes eleitos do povo certamente terão condições de abandonar a política da inflação.
Ludwig von Mises
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=577
(Agradeço a Eduardo Rodrigues, do Rio, o envio deste texto de von Mises)
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
Centrais sindicais (menos a CUT) recusam apoio a politica industrial do Governo (com razao)
As centrais sindicais estavam sendo chamadas apenas para servir de "boi de presépio" de uma política que desconhecem, de cuja formulação não participaram e cujo conteúdo exato desconhecem. Fizeram muito bem.
Só a CUT, que é uma central amestrada, domada, comandada pelo poder se submete ao papel submisso de apoiador acrítico de tudo o que o governo faz. Enfim, ela foi comprada pelo governo, como a UNE, e dezenas de outras ONGs ditas sociais (mas que na verdade são apenas balcões de negócios).
Em todo caso, não se espere muito da nova política industrial do governo: deve ser a quarta ou a quinta que ele anuncia, sempre com resultados inócuos...
Paulo Roberto de Almeida
Centrais rechaçam convite para nova política industrial
Agência Estado, 29/07/2011
Os dirigentes da Força Sindical, da União Geral dos Trabalhadores (UGT), da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) e da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) divulgaram hoje nota à imprensa na qual rechaçam convite feito pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Fernando Pimentel, para discutir a nova política industrial do governo federal. No texto, as lideranças sindicais ressaltam que a reunião foi marcada para as 8h30 da próxima terça-feira (dia 2), horas antes do anúncio das novas medidas de fomento à indústria nacional, marcado para as 11 horas. A expectativa, contudo, é de que a presidente Dilma Rousseff adie o anúncio, decisão que deve ser tomada amanhã (dia 30), em encontro com ministros no Palácio da Alvorada.
O secretário-geral da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Francisco Canindé Pegado, afirma que, nos últimos meses, as centrais sindicais se reuniram com o governo federal, mas que o assunto não foi abordado durante os encontros, apesar da demanda das entidades. "Essa convocação é praticamente para aplaudir a iniciativa. Isso nós não concordamos. Nós queremos propor medidas", afirma o dirigente da UGT, segundo o qual o "equívoco" de não convocar antes as entidades sindicais foi da equipe econômica do governo federal. "A presidente Dilma Rousseff foi muito sensível, inclusive pedindo um exame imediato, quando foi informada da gravidade da invasão de produtos chineses no Brasil", elogiou. "O equívoco foi da equipe econômica, que não deu a atenção devida aos interlocutores sindicais. Dessa vez, a equipe econômica derrapou", criticou.
O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, avalia também que a reunião foi marcada muito próxima do horário do anúncio, o que impede as entidades de debaterem de maneira efetiva a nova política industrial. "É pouco tempo", afirma. "O que o movimento sindical quer é discutir as questões gerais, como interlocutores sociais", acrescentou. O dirigente sindical opinou ainda que seria positivo se a presidente Dilma adiasse o anúncio das medidas.
Na nota, as centrais sindicais ressaltam que a necessidade de uma política industrial vem sendo discutida há meses com as entidades empresariais. "Só no mês passado, 58 mil empregos foram perdidos na indústria brasileira, segundo o Dieese. Os empresários brasileiros da área de calçados, têxteis e até da fabricação de ônibus estão transferindo suas fábricas para a Ásia, gerando empregos lá, e não aqui", destaca a nota.
"Diante deste quadro, não nos parece adequado que as centrais sindicais e os empresários sejam chamados agora, de surpresa, apenas para tomar conhecimento e aplaudir medidas que desconhecem", acrescenta. As centrais sindicais salientam ainda que estarão sempre prontas para conversar com o governo federal e apelam à presidente para que o diálogo com as entidades se torne "uma prática constante".
Só a CUT, que é uma central amestrada, domada, comandada pelo poder se submete ao papel submisso de apoiador acrítico de tudo o que o governo faz. Enfim, ela foi comprada pelo governo, como a UNE, e dezenas de outras ONGs ditas sociais (mas que na verdade são apenas balcões de negócios).
Em todo caso, não se espere muito da nova política industrial do governo: deve ser a quarta ou a quinta que ele anuncia, sempre com resultados inócuos...
Paulo Roberto de Almeida
Centrais rechaçam convite para nova política industrial
Agência Estado, 29/07/2011
Os dirigentes da Força Sindical, da União Geral dos Trabalhadores (UGT), da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) e da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) divulgaram hoje nota à imprensa na qual rechaçam convite feito pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Fernando Pimentel, para discutir a nova política industrial do governo federal. No texto, as lideranças sindicais ressaltam que a reunião foi marcada para as 8h30 da próxima terça-feira (dia 2), horas antes do anúncio das novas medidas de fomento à indústria nacional, marcado para as 11 horas. A expectativa, contudo, é de que a presidente Dilma Rousseff adie o anúncio, decisão que deve ser tomada amanhã (dia 30), em encontro com ministros no Palácio da Alvorada.
O secretário-geral da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Francisco Canindé Pegado, afirma que, nos últimos meses, as centrais sindicais se reuniram com o governo federal, mas que o assunto não foi abordado durante os encontros, apesar da demanda das entidades. "Essa convocação é praticamente para aplaudir a iniciativa. Isso nós não concordamos. Nós queremos propor medidas", afirma o dirigente da UGT, segundo o qual o "equívoco" de não convocar antes as entidades sindicais foi da equipe econômica do governo federal. "A presidente Dilma Rousseff foi muito sensível, inclusive pedindo um exame imediato, quando foi informada da gravidade da invasão de produtos chineses no Brasil", elogiou. "O equívoco foi da equipe econômica, que não deu a atenção devida aos interlocutores sindicais. Dessa vez, a equipe econômica derrapou", criticou.
O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, avalia também que a reunião foi marcada muito próxima do horário do anúncio, o que impede as entidades de debaterem de maneira efetiva a nova política industrial. "É pouco tempo", afirma. "O que o movimento sindical quer é discutir as questões gerais, como interlocutores sociais", acrescentou. O dirigente sindical opinou ainda que seria positivo se a presidente Dilma adiasse o anúncio das medidas.
Na nota, as centrais sindicais ressaltam que a necessidade de uma política industrial vem sendo discutida há meses com as entidades empresariais. "Só no mês passado, 58 mil empregos foram perdidos na indústria brasileira, segundo o Dieese. Os empresários brasileiros da área de calçados, têxteis e até da fabricação de ônibus estão transferindo suas fábricas para a Ásia, gerando empregos lá, e não aqui", destaca a nota.
"Diante deste quadro, não nos parece adequado que as centrais sindicais e os empresários sejam chamados agora, de surpresa, apenas para tomar conhecimento e aplaudir medidas que desconhecem", acrescenta. As centrais sindicais salientam ainda que estarão sempre prontas para conversar com o governo federal e apelam à presidente para que o diálogo com as entidades se torne "uma prática constante".
Governo encomenda inflacao - Carlos Alberto Sardenberg
Elevando a inflação
Carlos Alberto Sardenberg
O Estado de S.Paulo, 01 de agosto de 2011
Junte as histórias: a presidente Dilma Rousseff afirma que o combate à inflação não pode matar o crescimento econômico. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirma que, se a inflação do ano ficar abaixo de 6,5%, a meta terá sido cumprida. O Banco Central (BC) deixa de dizer que seu objetivo é levar a inflação para o centro da meta (4,5%) em 2012.
Conclusão: os 4,5% ficaram para 2013.
Ninguém do governo disse isso com todos os números e muitos analistas acham que o compromisso com a meta em 2012 está de pé. Mas o jeitão da coisa parece ter mudado: o governo se encaminha para aceitar uma inflação mais alta por um tempo maior.
Não faz muito tempo que a Fazenda esperava para este ano uma inflação (sempre medida pelo IPCA, índice do IBGE) em torno dos 5%. Aos poucos, foi admitindo algo maior - tudo por culpa dos preços internacionais de alimentos - e, mais recentemente, Mantega disse que até 6,5% estaria tudo bem.
É uma análise tão criativa quanto a contabilidade que turbinou as contas públicas no ano passado. A meta de inflação no Brasil é de 4,5%, com tolerância de dois pontos para baixo (que ninguém conta) ou para cima. Logo, pode ir até 6,5%, mas em circunstâncias excepcionais. Essa margem é colocada justamente para acomodar pressões inesperadas, que estejam em parte ou totalmente fora do controle das autoridades locais.
É justamente o caso da alta internacional de preço de alimentos, causada por aumento de consumo, mas também por quebra de safra e problemas climáticos em diversos países. Essas cotações pressionam os preços locais e a inflação de alimentos contamina o índice ao consumidor. E aí? Uma forte alta de juros, aqui, não altera o clima na Rússia.
Assim, é preciso acomodar essas elevações e combater seus efeitos secundários, utilizando-se, por algum período, da margem de tolerância. Ou seja, não se pode dizer, aqui, que qualquer inflação abaixo de 6,51% ao ano cumpre a meta.
Não cumpre. É um desvio. Transformar esse desvio em regra equivale, simplesmente, a elevar a meta de inflação - e parece ser exatamente essa a intenção do governo.
Nas projeções do Banco Central, divulgadas na última Ata do Comitê de Política Monetária (Copom), a inflação só volta para a meta em meados de 2013, daqui a dois anos, portanto, um tempo muito largo.
Quando os cenários mostram isso, o Banco Central, pela atual política monetária, deve elevar os juros hoje para trazer a inflação para a meta num prazo menor, digamos 12 meses, que era a conversa inicial das autoridades monetárias.
Ficaria assim: em 2010 e 2011, a inflação rodaria na casa dos 6%, mas caindo forte no segundo semestre deste ano para chegar nos 4,5% em 2012.
Mas a Ata disse umas coisas e deixou de dizer outras, levando analistas a entender que o Banco Central está preparando o ambiente para suspender o ciclo de alta de juros nos atuais 12,5%. Sendo isso mesmo, o conjunto só fecha com a aceitação de inflação maior ao longo de todo o próximo ano e início de 2013.
Ficamos assim: em 2010, o BC parou de elevar juros para não atrapalhar a eleição de Dilma Rousseff e, assim, comprometeu os resultados daquele ano e de parte deste. Agora, o pretexto é não elevar juros para manter o crescimento perto dos 5%. O risco é indexar a inflação num nível perigoso e obter menos crescimento econômico.
Agora, no segundo semestre, ocorrem negociações salariais de categorias importantes e numerosas. O Banco Central alerta: aumentos acima da produtividade são inflacionários.
De fato, são, mas a medida da produtividade não é trivial. E como dizer aos trabalhadores que a inflação está elevada por um bom tempo, a economia veio bem, setores estão com lucros bons, mas os salários têm de ser regulados pela expectativa de inflação menor? Sobretudo quando se sabe que o salário mínimo vai subir 14% em janeiro.
Dinheiro do povo. A coluna da semana passada (Com o dinheiro do povo), sobre o uso de dinheiro público na Copa do Mundo e seus estádios, provocou respostas que me deixaram entre surpreendido e preocupado.
Alguns leitores aderiram totalmente à tese do "locupletemo-nos todos". Se tem roubalheira por toda parte, escreveram, se os políticos se aproveitam dos cargos, se o governo ajuda tantas empresas e bancos, por que não dar dinheiro para os estádios da Copa?
Leitores corintianos - alguns, é claro - foram ainda mais longe. Acham que seu time tem o direito de receber dinheiro público para a construção do estádio, por uma série de motivos: é um time popular, ou seja, representa parte do povo; sua torcida movimenta negócios; outros times ganharam presentes equivalentes; e, afinal, todo mundo mete a mão.
No que se refere ao debate proposto sobre a prioridade dos gastos públicos - vale a pena gastar em estádios, em vez de aplicar em hospitais e escolas? O estádio do Corinthians seria a melhor maneira de estimular o desenvolvimento da região de Itaquera? -, algumas respostas foram ainda mais desanimadoras. Alguns leitores simplesmente entenderam que, sendo o colunista um torcedor do São Paulo, estava simplesmente tentando torpedear o estádio do "rival".
Outros ainda disseram que havia uma conspiração carioca para levar o jogo de abertura para o Maracanã.
Digamos, com boa vontade, que há, aí, apenas o efeito negativo de paixões regionais e/ou por clubes. Mas é preocupante a frequência com que se repete o argumento pela "democratização" da roubalheira.
JORNALISTA
SITE: WWW.SARDENBERG.COM.BR
E-MAIL: SARDENBERG@CBN.COM.BR
Carlos Alberto Sardenberg
O Estado de S.Paulo, 01 de agosto de 2011
Junte as histórias: a presidente Dilma Rousseff afirma que o combate à inflação não pode matar o crescimento econômico. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirma que, se a inflação do ano ficar abaixo de 6,5%, a meta terá sido cumprida. O Banco Central (BC) deixa de dizer que seu objetivo é levar a inflação para o centro da meta (4,5%) em 2012.
Conclusão: os 4,5% ficaram para 2013.
Ninguém do governo disse isso com todos os números e muitos analistas acham que o compromisso com a meta em 2012 está de pé. Mas o jeitão da coisa parece ter mudado: o governo se encaminha para aceitar uma inflação mais alta por um tempo maior.
Não faz muito tempo que a Fazenda esperava para este ano uma inflação (sempre medida pelo IPCA, índice do IBGE) em torno dos 5%. Aos poucos, foi admitindo algo maior - tudo por culpa dos preços internacionais de alimentos - e, mais recentemente, Mantega disse que até 6,5% estaria tudo bem.
É uma análise tão criativa quanto a contabilidade que turbinou as contas públicas no ano passado. A meta de inflação no Brasil é de 4,5%, com tolerância de dois pontos para baixo (que ninguém conta) ou para cima. Logo, pode ir até 6,5%, mas em circunstâncias excepcionais. Essa margem é colocada justamente para acomodar pressões inesperadas, que estejam em parte ou totalmente fora do controle das autoridades locais.
É justamente o caso da alta internacional de preço de alimentos, causada por aumento de consumo, mas também por quebra de safra e problemas climáticos em diversos países. Essas cotações pressionam os preços locais e a inflação de alimentos contamina o índice ao consumidor. E aí? Uma forte alta de juros, aqui, não altera o clima na Rússia.
Assim, é preciso acomodar essas elevações e combater seus efeitos secundários, utilizando-se, por algum período, da margem de tolerância. Ou seja, não se pode dizer, aqui, que qualquer inflação abaixo de 6,51% ao ano cumpre a meta.
Não cumpre. É um desvio. Transformar esse desvio em regra equivale, simplesmente, a elevar a meta de inflação - e parece ser exatamente essa a intenção do governo.
Nas projeções do Banco Central, divulgadas na última Ata do Comitê de Política Monetária (Copom), a inflação só volta para a meta em meados de 2013, daqui a dois anos, portanto, um tempo muito largo.
Quando os cenários mostram isso, o Banco Central, pela atual política monetária, deve elevar os juros hoje para trazer a inflação para a meta num prazo menor, digamos 12 meses, que era a conversa inicial das autoridades monetárias.
Ficaria assim: em 2010 e 2011, a inflação rodaria na casa dos 6%, mas caindo forte no segundo semestre deste ano para chegar nos 4,5% em 2012.
Mas a Ata disse umas coisas e deixou de dizer outras, levando analistas a entender que o Banco Central está preparando o ambiente para suspender o ciclo de alta de juros nos atuais 12,5%. Sendo isso mesmo, o conjunto só fecha com a aceitação de inflação maior ao longo de todo o próximo ano e início de 2013.
Ficamos assim: em 2010, o BC parou de elevar juros para não atrapalhar a eleição de Dilma Rousseff e, assim, comprometeu os resultados daquele ano e de parte deste. Agora, o pretexto é não elevar juros para manter o crescimento perto dos 5%. O risco é indexar a inflação num nível perigoso e obter menos crescimento econômico.
Agora, no segundo semestre, ocorrem negociações salariais de categorias importantes e numerosas. O Banco Central alerta: aumentos acima da produtividade são inflacionários.
De fato, são, mas a medida da produtividade não é trivial. E como dizer aos trabalhadores que a inflação está elevada por um bom tempo, a economia veio bem, setores estão com lucros bons, mas os salários têm de ser regulados pela expectativa de inflação menor? Sobretudo quando se sabe que o salário mínimo vai subir 14% em janeiro.
Dinheiro do povo. A coluna da semana passada (Com o dinheiro do povo), sobre o uso de dinheiro público na Copa do Mundo e seus estádios, provocou respostas que me deixaram entre surpreendido e preocupado.
Alguns leitores aderiram totalmente à tese do "locupletemo-nos todos". Se tem roubalheira por toda parte, escreveram, se os políticos se aproveitam dos cargos, se o governo ajuda tantas empresas e bancos, por que não dar dinheiro para os estádios da Copa?
Leitores corintianos - alguns, é claro - foram ainda mais longe. Acham que seu time tem o direito de receber dinheiro público para a construção do estádio, por uma série de motivos: é um time popular, ou seja, representa parte do povo; sua torcida movimenta negócios; outros times ganharam presentes equivalentes; e, afinal, todo mundo mete a mão.
No que se refere ao debate proposto sobre a prioridade dos gastos públicos - vale a pena gastar em estádios, em vez de aplicar em hospitais e escolas? O estádio do Corinthians seria a melhor maneira de estimular o desenvolvimento da região de Itaquera? -, algumas respostas foram ainda mais desanimadoras. Alguns leitores simplesmente entenderam que, sendo o colunista um torcedor do São Paulo, estava simplesmente tentando torpedear o estádio do "rival".
Outros ainda disseram que havia uma conspiração carioca para levar o jogo de abertura para o Maracanã.
Digamos, com boa vontade, que há, aí, apenas o efeito negativo de paixões regionais e/ou por clubes. Mas é preocupante a frequência com que se repete o argumento pela "democratização" da roubalheira.
JORNALISTA
SITE: WWW.SARDENBERG.COM.BR
E-MAIL: SARDENBERG@CBN.COM.BR
Quando as palavras nao coincidem com os atos: integracao latino-americana
Na verdade, não se trata propriamente de integração latino-americana, sequer sul-americana, e ainda menos mercosuliana. Se trata simplesmente da integração Brasil-Argentina, base do Mercosul e de qualquer processo de integração regional.
Os atos das autoridades argentinas são a negação completa do que seu discurso afirma:
Cristina Kirchner defende integração da América Latina
A presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, defendeu o fortalecimento da integração entre os dois países [Brasil e Argentina] e união do empresariado da região para tentar manter boas relações comerciais e proteger as economias regionais de impactos de problemas econômicos globais. Segundo Cristina, “é preciso reelaborar o processo de integração da América do Sul para que os países possam somar recursos e blindar a região”.
Na verdade, a única coisa que vai resultar disso é a proteção contra produtos estrangeiros, incluindo no caso os brasileiros no mercado argentino...
Paulo Roberto de Almeida
Os atos das autoridades argentinas são a negação completa do que seu discurso afirma:
Cristina Kirchner defende integração da América Latina
A presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, defendeu o fortalecimento da integração entre os dois países [Brasil e Argentina] e união do empresariado da região para tentar manter boas relações comerciais e proteger as economias regionais de impactos de problemas econômicos globais. Segundo Cristina, “é preciso reelaborar o processo de integração da América do Sul para que os países possam somar recursos e blindar a região”.
Na verdade, a única coisa que vai resultar disso é a proteção contra produtos estrangeiros, incluindo no caso os brasileiros no mercado argentino...
Paulo Roberto de Almeida
Nom de plume - Lucia Guimaraes (OESP)
Quando assinar não é preciso
Lúcia Guimarães
O Estado de S.Paulo, 30 de julho de 2011
Em Nom de Plume, a americana Carmela Ciuraru aborda a utilização de pseudônimos e heterônimos no século 19 e seu declínio em nossa época, marcada pela fama, em que o autor é garoto-propaganda
O que pode revelar um nome? Muito ou muito pouco. Virginia Woolf dizia que uma condição da autoria é "nunca ser você mesma, e sempre ser - este é o problema". O poeta Walt Whitman se satisfazia em conter multidões.
Em 1858, Marian Evans e seu companheiro George Lewes receberam, em Londres, a visita do editor John Blackwood. Ele havia acabado de publicar a coleção de contos Scenes From Clerical Life, que começara como uma série de contribuições para sua Blackwood"s Edinburgh Magazine. Lewes perguntou: você gostaria de conhecer George Eliot? Claro, respondeu o editor, que só mantinha contato com sua nova estrela literária através de cartas e estava convencido de que o autor era um membro do clero. O casal saiu da sala e voltou momentos depois. Lewes reapresentou sua mulher a Blackwood. George Eliot e Marian Evans eram a mesma pessoa.
Esta e outras histórias formam Nom de Plume, uma fascinante exploração biográfica de 16 pseudônimos literários ao longo de um século, das irmãs Brontë a Pauline Réage-Anne Desclos, de História de O. A autora Carmela Ciuraru diz que a decisão de entrar na pele de outro eu, além de familiar para qualquer autor de ficção, é quase um impulso erótico.
Na noite da última quarta-feira, Carmela Ciuraru (seu nome real), está diante do microfone no subsolo de uma das bravas livrarias independentes que resistem em Manhattan.
Depois de responder a afiadas perguntas do público, a autora anuncia que vai haver uma seleção dos melhores pseudônimos sugeridos pelos presentes. Pedaços de papel circulam entre a plateia e começa a leitura dos nomes, uma mistura de trocadilhos e uma curiosa incidência de evocações da literatura russa. Os escolhidos vão ganhar prêmios - romances clássicos escritos sob pseudônimo, chaveiros e até um pacote de salame. "Sasha Raskolnikov" se revela uma mulher de meia-idade borbulhante, ao contrário do torturado Raskolnikov de Crime e Castigo. "Will Back" é um jovem que confessa ter se envergonhado com a má qualidade dos artigos que publicara numa revista e quis começar zero quilômetro, sob outro nome.
O clima de programa de auditório ajuda a ilustrar a tese de Carmela Ciuraru sobre o declínio do pseudônimo no século 21: o autor literário hoje é garoto-propaganda, interlocutor obrigatório do leitor e marca à venda. Além disso, ela lembra, com a internet todo mundo quer ter uma voz e aparecer como si mesmo.
Dias antes, num café do bairro de Chelsea, a voz de Carmela Ciuraru é abafada pelo homem que senta na mesa mais próxima, decidido a aparecer com seus brados intermináveis no celular. Pergunto por que ela escolheu retratar apenas autores mortos em Nom de Plume. "Morto não move processo", diz, meio brincalhona, e completa: "Preferi examinar histórias concluídas. E, como ficou claro ao longo da pesquisa, os motivos para esconder a identidade também evoluem".
No século 19 os pseudônimos literários viraram sensações. Além das irmãs Brontë, George Sand-Aurore Dupin, George Eliot-Marian Evans, Lewis Carrol-Charles Dodgson, Mark Twain-Samuel Clemens se tornaram clássicos mas escondiam seus nomes verdadeiros por motivos diferentes. Nom de Plume é rico em autoras mulheres que se emanciparam como figuras literárias graças ao nome masculino. Mas Ciuraru lembra que a profissão de escritor, no século 19, podia ser considerada vulgar e o pseudônimo protegia também a respeitabilidade de homens.
"O pseudônimo pode começar", diz, "como simples estripulia, como Mark Twain (Samuel Clemens) que queria brincar com seu nome. Ou pode ser a única saída, como no caso de James Tiptree Jr.- Alice Bradley Sheldon, para mim, é uma história muito triste." Sheldon, insegura e atormentada, se fez passar por James Tiptree Jr., o confiante e celebrado autor de ficção científica. Como Tiptree Jr, Sheldon escreveu o emblemático The Women Men Don"t See (As Mulheres Que os Homens Não Veem) e confundiu as noções convencionais de identidade sexual na narrativa. Quando tentou publicar sob o próprio nome e escreveu sob outro pseudônimo, a inspiração secou. Sheldon não suportou a perda de seu eu alternativo e se suicidou, em 1987.
O caso de Romain Gary (Émile Ajar) ilustra para Ciuraru o uso do pseudônimo como recomeço. Ele achava a fama restritiva e já era aclamado por uma vasta obra que incluía o romance As Raízes do Céu. Como Émile Ajar, ele se tornou o primeiro autor a ganhar, pela segunda vez, o Prêmio Goncourt com Uma Vida À Sua Frente. Só com o suicídio de Gary, em 1980, foi revelada a identidade de Ajar. "É irônico", diz Ciuraru, "que ele logo tenha se tornado famoso como Ajar. Passou a enfrentar novo conjunto de estereótipos, o que mostra como a fama desafia o autor e como temos a necessidade de rotular pessoas."
Em 1837, aos 21 anos, a jovem Charlotte Brontë, a mais velha do trio de irmãs escritoras, escreveu numa carta ao poeta laureado Robert Southey, que queria ser "conhecida para sempre". Amargou três meses de espera pelo veredicto sobre seus primeiros escritos e a resposta incluía a advertência: "A literatura não pode ser o negócio da vida de uma mulher, nem deve ser". Desafiante, ela disparou a tréplica mordaz: "À noite, eu confesso que penso. Mas nunca incomodo ninguém com meus pensamentos". A futura autora de Jane Eyre prometeu ao velho poeta que, se a ambição literária voltasse, ia reler seus conselhos e suprimir o impulso.
Embora Anne, Charlotte e Emily Brontë tenham se beneficiado do mundo masculino para se emancipar como Acton, Currer e Ellis Bell, na primeira metade do século 19, Ciaruru acha que elas representam, em parte, o uso do pseudônimo como meio de controle do processo: "Charlotte queria controlar a produção de seus livros. Era mais do que uma mulher com um nome de homem. Escolhia um tipo específico de papel, determinava as publicações que podiam resenhar as obras. Ela se apresentava como agente para Currer, Acton e Ellis".
O caso de George Eliot-Marian Evans é, talvez, o mais extraordinário exemplo do pseudônimo masculino de uma mulher que já era admirada por seu intelecto e desafiou convenções literárias e sociais. Nascida Mary Anne, ela ainda se assinava Marian Evans quando se tornou uma rara editora de resenha literária em Londres, aos 31 anos. Ao ler Scenes From a Clerical Life, Charles Dickens escreveu para Eliot: "Observei tal toque feminino nestas ficções comoventes, que o nome sob o título é insuficiente para me convencer".
Depois de ver seu suposto religioso revelado em Marian Evans, o editor John Blackwood manteve o segredo. Como Eliot, a poeta, contista e romancista se tornaria a mais celebrada escritora vitoriana, com romances que incluem Silas Marner, Middlemarch e Daniel Deronda, obras-primas de crítica social e crônicas incomparáveis da vida privada na Inglaterra. Invariavelmente descrita como feia e desenxabida, Marian despertava admiração nos maiores intelectos do seu tempo. Henry James escreveu sobre sua aparência "deliciosamente horrenda": "Nesta vasta feiura reside a beleza mais poderosa que, em poucos minutos, se impõe, seduz a mente e, no fim, você, como eu, está se apaixonando por ela".
Em Nom de Plume, Ciuraru questiona os variados ímpetos para a clandestinidade autoral: "George Orwell-Eric Blair, por exemplo, dizia que não se orgulhava do que escrevia e não queria constranger sua família. Mas ele era também meio paranoico, cheio de manias e não há dúvida de que perseguia a fama".
O caso da poeta Sylvia Plath, que escreveu seu único e semiautobiográfico romance, A Redoma de Vidro, como Victoria Lucas, marca o pseudônimo sacrificado pela morte prematura. Plath se suicidou pouco depois da publicação na Grã-Bretanha, em 1963. A partir de 1967, A Redoma de Vidro saiu com o nome real da autora, cuja vida curta e trágica atraiu enorme atenção para o romance.
Nenhum dos escritores retratados em Nom de Plume fascinou tanto Carmela Ciuraru quanto Fernando Pessoa, com suas dezenas de heterônimos. Ela conta que encontrou uma tradução de O Livro do Desassossego numa livraria de Nova York, há alguns anos, e se apaixonou de imediato. "Fico surpresa com a ignorância do mundo literário americano sobre o Pessoa", reclama. "Toda vez que vou a um evento em livraria peço para o público dizer se já ouviu falar dele e, às vezes, só uma pessoa levanta a mão." Ciuraru explica aos potenciais novos leitores que o caso de Fernando Pessoa-Alberto Caeiro-Ricardo Reis-Álvaro de Campos, entre tantos outros, vai além do pseudônimo porque há uma pluralidade de eus. "Isto me interessa muito. Mas ele não era um ventríloquo, experimentava vozes diferentes, que falavam através dele", diz. "E acredito que ele acreditava nisso."
Lúcia Guimarães
O Estado de S.Paulo, 30 de julho de 2011
Em Nom de Plume, a americana Carmela Ciuraru aborda a utilização de pseudônimos e heterônimos no século 19 e seu declínio em nossa época, marcada pela fama, em que o autor é garoto-propaganda
O que pode revelar um nome? Muito ou muito pouco. Virginia Woolf dizia que uma condição da autoria é "nunca ser você mesma, e sempre ser - este é o problema". O poeta Walt Whitman se satisfazia em conter multidões.
Em 1858, Marian Evans e seu companheiro George Lewes receberam, em Londres, a visita do editor John Blackwood. Ele havia acabado de publicar a coleção de contos Scenes From Clerical Life, que começara como uma série de contribuições para sua Blackwood"s Edinburgh Magazine. Lewes perguntou: você gostaria de conhecer George Eliot? Claro, respondeu o editor, que só mantinha contato com sua nova estrela literária através de cartas e estava convencido de que o autor era um membro do clero. O casal saiu da sala e voltou momentos depois. Lewes reapresentou sua mulher a Blackwood. George Eliot e Marian Evans eram a mesma pessoa.
Esta e outras histórias formam Nom de Plume, uma fascinante exploração biográfica de 16 pseudônimos literários ao longo de um século, das irmãs Brontë a Pauline Réage-Anne Desclos, de História de O. A autora Carmela Ciuraru diz que a decisão de entrar na pele de outro eu, além de familiar para qualquer autor de ficção, é quase um impulso erótico.
Na noite da última quarta-feira, Carmela Ciuraru (seu nome real), está diante do microfone no subsolo de uma das bravas livrarias independentes que resistem em Manhattan.
Depois de responder a afiadas perguntas do público, a autora anuncia que vai haver uma seleção dos melhores pseudônimos sugeridos pelos presentes. Pedaços de papel circulam entre a plateia e começa a leitura dos nomes, uma mistura de trocadilhos e uma curiosa incidência de evocações da literatura russa. Os escolhidos vão ganhar prêmios - romances clássicos escritos sob pseudônimo, chaveiros e até um pacote de salame. "Sasha Raskolnikov" se revela uma mulher de meia-idade borbulhante, ao contrário do torturado Raskolnikov de Crime e Castigo. "Will Back" é um jovem que confessa ter se envergonhado com a má qualidade dos artigos que publicara numa revista e quis começar zero quilômetro, sob outro nome.
O clima de programa de auditório ajuda a ilustrar a tese de Carmela Ciuraru sobre o declínio do pseudônimo no século 21: o autor literário hoje é garoto-propaganda, interlocutor obrigatório do leitor e marca à venda. Além disso, ela lembra, com a internet todo mundo quer ter uma voz e aparecer como si mesmo.
Dias antes, num café do bairro de Chelsea, a voz de Carmela Ciuraru é abafada pelo homem que senta na mesa mais próxima, decidido a aparecer com seus brados intermináveis no celular. Pergunto por que ela escolheu retratar apenas autores mortos em Nom de Plume. "Morto não move processo", diz, meio brincalhona, e completa: "Preferi examinar histórias concluídas. E, como ficou claro ao longo da pesquisa, os motivos para esconder a identidade também evoluem".
No século 19 os pseudônimos literários viraram sensações. Além das irmãs Brontë, George Sand-Aurore Dupin, George Eliot-Marian Evans, Lewis Carrol-Charles Dodgson, Mark Twain-Samuel Clemens se tornaram clássicos mas escondiam seus nomes verdadeiros por motivos diferentes. Nom de Plume é rico em autoras mulheres que se emanciparam como figuras literárias graças ao nome masculino. Mas Ciuraru lembra que a profissão de escritor, no século 19, podia ser considerada vulgar e o pseudônimo protegia também a respeitabilidade de homens.
"O pseudônimo pode começar", diz, "como simples estripulia, como Mark Twain (Samuel Clemens) que queria brincar com seu nome. Ou pode ser a única saída, como no caso de James Tiptree Jr.- Alice Bradley Sheldon, para mim, é uma história muito triste." Sheldon, insegura e atormentada, se fez passar por James Tiptree Jr., o confiante e celebrado autor de ficção científica. Como Tiptree Jr, Sheldon escreveu o emblemático The Women Men Don"t See (As Mulheres Que os Homens Não Veem) e confundiu as noções convencionais de identidade sexual na narrativa. Quando tentou publicar sob o próprio nome e escreveu sob outro pseudônimo, a inspiração secou. Sheldon não suportou a perda de seu eu alternativo e se suicidou, em 1987.
O caso de Romain Gary (Émile Ajar) ilustra para Ciuraru o uso do pseudônimo como recomeço. Ele achava a fama restritiva e já era aclamado por uma vasta obra que incluía o romance As Raízes do Céu. Como Émile Ajar, ele se tornou o primeiro autor a ganhar, pela segunda vez, o Prêmio Goncourt com Uma Vida À Sua Frente. Só com o suicídio de Gary, em 1980, foi revelada a identidade de Ajar. "É irônico", diz Ciuraru, "que ele logo tenha se tornado famoso como Ajar. Passou a enfrentar novo conjunto de estereótipos, o que mostra como a fama desafia o autor e como temos a necessidade de rotular pessoas."
Em 1837, aos 21 anos, a jovem Charlotte Brontë, a mais velha do trio de irmãs escritoras, escreveu numa carta ao poeta laureado Robert Southey, que queria ser "conhecida para sempre". Amargou três meses de espera pelo veredicto sobre seus primeiros escritos e a resposta incluía a advertência: "A literatura não pode ser o negócio da vida de uma mulher, nem deve ser". Desafiante, ela disparou a tréplica mordaz: "À noite, eu confesso que penso. Mas nunca incomodo ninguém com meus pensamentos". A futura autora de Jane Eyre prometeu ao velho poeta que, se a ambição literária voltasse, ia reler seus conselhos e suprimir o impulso.
Embora Anne, Charlotte e Emily Brontë tenham se beneficiado do mundo masculino para se emancipar como Acton, Currer e Ellis Bell, na primeira metade do século 19, Ciaruru acha que elas representam, em parte, o uso do pseudônimo como meio de controle do processo: "Charlotte queria controlar a produção de seus livros. Era mais do que uma mulher com um nome de homem. Escolhia um tipo específico de papel, determinava as publicações que podiam resenhar as obras. Ela se apresentava como agente para Currer, Acton e Ellis".
O caso de George Eliot-Marian Evans é, talvez, o mais extraordinário exemplo do pseudônimo masculino de uma mulher que já era admirada por seu intelecto e desafiou convenções literárias e sociais. Nascida Mary Anne, ela ainda se assinava Marian Evans quando se tornou uma rara editora de resenha literária em Londres, aos 31 anos. Ao ler Scenes From a Clerical Life, Charles Dickens escreveu para Eliot: "Observei tal toque feminino nestas ficções comoventes, que o nome sob o título é insuficiente para me convencer".
Depois de ver seu suposto religioso revelado em Marian Evans, o editor John Blackwood manteve o segredo. Como Eliot, a poeta, contista e romancista se tornaria a mais celebrada escritora vitoriana, com romances que incluem Silas Marner, Middlemarch e Daniel Deronda, obras-primas de crítica social e crônicas incomparáveis da vida privada na Inglaterra. Invariavelmente descrita como feia e desenxabida, Marian despertava admiração nos maiores intelectos do seu tempo. Henry James escreveu sobre sua aparência "deliciosamente horrenda": "Nesta vasta feiura reside a beleza mais poderosa que, em poucos minutos, se impõe, seduz a mente e, no fim, você, como eu, está se apaixonando por ela".
Em Nom de Plume, Ciuraru questiona os variados ímpetos para a clandestinidade autoral: "George Orwell-Eric Blair, por exemplo, dizia que não se orgulhava do que escrevia e não queria constranger sua família. Mas ele era também meio paranoico, cheio de manias e não há dúvida de que perseguia a fama".
O caso da poeta Sylvia Plath, que escreveu seu único e semiautobiográfico romance, A Redoma de Vidro, como Victoria Lucas, marca o pseudônimo sacrificado pela morte prematura. Plath se suicidou pouco depois da publicação na Grã-Bretanha, em 1963. A partir de 1967, A Redoma de Vidro saiu com o nome real da autora, cuja vida curta e trágica atraiu enorme atenção para o romance.
Nenhum dos escritores retratados em Nom de Plume fascinou tanto Carmela Ciuraru quanto Fernando Pessoa, com suas dezenas de heterônimos. Ela conta que encontrou uma tradução de O Livro do Desassossego numa livraria de Nova York, há alguns anos, e se apaixonou de imediato. "Fico surpresa com a ignorância do mundo literário americano sobre o Pessoa", reclama. "Toda vez que vou a um evento em livraria peço para o público dizer se já ouviu falar dele e, às vezes, só uma pessoa levanta a mão." Ciuraru explica aos potenciais novos leitores que o caso de Fernando Pessoa-Alberto Caeiro-Ricardo Reis-Álvaro de Campos, entre tantos outros, vai além do pseudônimo porque há uma pluralidade de eus. "Isto me interessa muito. Mas ele não era um ventríloquo, experimentava vozes diferentes, que falavam através dele", diz. "E acredito que ele acreditava nisso."
domingo, 31 de julho de 2011
A diferenca entre democracia e ditadura...
En qualquer democracia "normal" do mundo, mesmo as de mais baixa qualidade, esse partido, essa gerontocracia, esse partido, esse senhor, já teriam sido postos porta afora do governo, mediante eleições livres.
O povo pode tolerar incompetência econômica durante certo tempo, estimando que o futuro pode melhorar as coisas. Mas dificilmente tolerará cinquenta anos de penúria, de desastres econômicos, de falta de perspectivas, a não ser que seja submetido a uma ditadura poderosa.
Curioso que tem gente, no Brasil e em outros lugares, que ainda defende um regime desse tipo...
A verdade é que o regime cubano viveu de subsídios soviéticos durante muito tempo, até que acabou. Agora vive de mensalão bolivariano, que um dia vai acabar também. Vão tentar uma via chinesa, ou seja, capitalismo com ditadura do Partido Comunista. Em Cuba não vai dar certo...
Como já disse alguém: o socialismo dura enquanto dura o dinheiro dos outros...
Paulo Roberto de Almeida
Cuba: Raúl Castro cumple 5 años en el poder clamando contra desorden económico
Infolatam/Efe
La Habana, 30 de julio de 2011
Las claves
La "batalla económica" ha sido el empeño de Raúl Castro desde que tomó las riendas de la isla, el 31 de julio de 2006.
El "traspaso de poderes" se ha completado este año, cuando el Partido Comunista designó a Raúl su primer secretario en sustitución de un Fidel que acudió a la clausura del VI Congreso del PCC.
El presidente de Cuba, Raúl Castro, cumple este domingo cinco años al frente del país intentando “actualizar” el socialismo y clamando contra el desorden y los incumplimientos que obstaculizan sus reformas económicas para superar la aguda crisis que arrastra la isla.
Hace unos días ante su Consejo de Ministros, el general Castro volvió a criticar incumplimientos, mala planificación y deficiencias y advirtió que jueces y fiscales tendrán un papel “determinante” ante las faltas que perjudican la economía.
La “batalla económica” ha sido el empeño de Raúl Castro (80 años) desde que tomó las riendas de la isla: fue el 31 de julio de 2006 cuando su hermano Fidel, tras medio siglo en el poder, delegó en él sus responsabilidades por una grave enfermedad.
Raúl asumió primero de forma provisional y en 2008 fue ratificado en la Asamblea Nacional de Cuba como presidente.
El “traspaso de poderes” entre los Castro se ha completado este año, cuando el Partido Comunista designó a Raúl su primer secretario en sustitución de un Fidel que acudió a la clausura del VI Congreso del PCC para levantar el brazo de su hermano menor en una simbólica imagen que tendrá lugar destacado en el abultado álbum de la revolución.
Fue el VI Congreso comunista el que también aprobó su plan de reformas para poner a producir a Cuba, alejarla del precipicio de la crisis e intentar evitar que se hunda una revolución que ha cumplido ya 52 años.
Lo que la retórica oficial llama “actualización” económica supone una apertura a la iniciativa privada: más de 325.000 cubanos ejercen ya el trabajo por cuenta propia con la novedosa posibilidad de contratar asalariados.
Esta es una de las principales medidas puestas en marcha junto a una masiva reducción de las abultadas plantillas del estado cubano.
La “batalla” del general Castro también se libra en el campo con un plan -que no acaba de dar los resultados deseados- de entrega de tierras en usufructo para aumentar la producción de alimentos, cuestión de “seguridad nacional” porque la isla gasta más de 1.500 millones de dólares al año en importar el 80 por ciento de los víveres que consume.
En las últimas semanas se han producido además anuncios de calado social como leyes para permitir la compraventa de viviendas y automóviles entre particulares.
En su primer quinquenio en el poder, Raúl Castro también ha clamado contra el inmovilismo y los dogmas, ha llamado a desterrar la burocracia, quiere desmontar el paternalismo estatal con la supresión de subsidios “innecesarios” y ha emprendido acciones contra la corrupción.
Analistas consultados por Efe coinciden que en el “quinquenio raulista” se han planteado cambios económicos profundos y se ha introducido más racionalidad aunque los más críticos insisten en que se trata de medidas “insuficientes” y “muy lentas”.
El economista disidente Óscar Espinosa atribuye esa lentitud a la resistencia de sectores conservadores y ortodoxos del régimen junto a la falta de audacia y vacilaciones de los “reformistas”.
Para otros disidentes, la situación de los derechos civiles, políticos, económicos y culturales “ha empeorado” durante el mandato del general Castro, según Elizardo Sánchez, activista de derechos humanos.
Pese al proceso de excarcelaciones de presos políticos del último año, Sánchez denuncia un aumento de la represión con un sistema de detenciones de corta duración contra opositores.
En la calle, las impresiones ante las reformas “raulistas” oscilan entre la indiferencia, el escepticismo y tímidas esperanzas.
===========
"Vivemos o fim de uma casta política"
Entrevista: Yoani Sánchez
Correio Braziliense, 31/07/2011
Yoani Sánchez transformou-se em uma espécie de símbolo da oposição cubana. Aos 35 anos, é a responsável pelo blog Generación Y — por meio do site na internet, ela denuncia as mazelas políticas e sociais da ilha. Em entrevista ao Correio, por telefone, de Havana, a ativista admite mudanças importantes em Cuba na direção da abertura político-econômica. No entanto, considera essas transformações lentas e afirma que elas ainda não surtiram efeito na mesa e no bolso dos cubanos. De acordo com Yoani, os cinco anos de governo Raúl Castro são marcados por um "pecado original". "É um presidente que não foi eleito, que chegou ao poder por via sanguínea", explicou. A mulher que em 2008 esteve na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo, da revista Time, é otimista em relação ao futuro. "Creio que estamos vivendo o fim de uma casta política e de uma geração no poder", comentou, apesar de reconhecer as inúmeras dificuldades que a população cubana tem enfrentado.
O que mudou em Cuba desde a saída de Fidel Castro, cinco anos atrás?
Evidentemente, Raúl Castro e Fidel Castro têm estilos de governo diferentes. Fidel era um homem que governava da tribuna, com um microfone nas mãos e com quilométricas intervenções públicas. Raúl é muito mais comedido a falar, não? Por exemplo, um detalhe simpático é que, desde que Raúl Castro começou a comandar o país, a programação televisiva passou a ser respeitada. Não há mais as interrupções causadas pelos longos discursos de Fidel Castro. As donas de casa estão felizes porque já não se suspende a transmissão das telenovelas brasileiras. O governo de Raúl Castro está marcado por um pecado original, que ele é incapaz de solucionar. Trata-se de um presidente que não foi eleito, que chegou ao poder por via sanguínea. Funciona como um reino. A população espera que um governante cumpra com um programa, mas Raúl nada teve que prometer para chegar ao poder.
Houve transformação expressiva em relação às liberdades individuais e aos direitos civis?
O tema dos direitos dos cidadãos e civis não registrou avanços evidentes e claros. Com Raúl Castro, continuamos com o monopartidarismo. Com Raúl Castro, seguem em pé as leis que penalizam a opinião em Cuba. Por exemplo, a chamada Lei nº 88, conhecida como Lei da Mordaça, que levou à prisão 75 opositores e dissidentes em 2003, está vigente no Código Penal cubano. Todavia, em Cuba não é possível criar uma associação independente e inscrevê-la legalmente em um cartório. Todavia, em Cuba não é possível entrar nem sair do território nacional livremente para os nascidos neste país. A falta de liberdades está intacta. O que se passa é que a repressão mudou de estilo com Raúl Castro. Com seu irmão, por exemplo, quando Fidel citava os nomes dos opositores e os "satanizava" em público, os dissidentes acabavam condenados a longas penas de prisão. Com Raúl, esse ponto é diferente. A repressão está no aumento da militarização da sociedade cubana. No entanto, os dissidentes já não são mais condenados a longas sentenças. São detidos por algumas horas ou por alguns dias, sem que haja qualquer constância legal ou documento que conste a repressão. Nesse caso, Raúl Castro tem feito uma repressão mais silenciosa, mais calada. A repressão com Fidel era mais evidente.
Durante esses cinco anos, os cubanos tiveram mais prejuízos ou mais benefícios?
Penso que tivemos mudanças importantes, na direção da abertura. O problema é o ritmo dessas reformas. Houve um impacto muito positivo, os cubanos já podem entrar livremente nos hotéis, comprar computadores e obter um contrato de telefonia móvel. São avanços ocorridos no governo de Raúl Castro. No entanto, em relação às expectativas iniciais, com o que as pessoas esperavam que ocorresse a partir de 31 de julho de 2006, as estatísticas oficiais atestam que Raúl decepcionou. No ano passado, 38.165 cubanos emigraram definitivamente de Cuba. Eles não quiseram esperar e se cansaram da lentidão das reformas.
As reformas anunciadas até então surtiram efeito na vida dos cidadãos cubanos?
As reformas econômicas implementadas pelo governo de Raúl Castro estão orientadas na direção correta, no sentido da flexibilização. Lamentavelmente, elas ocorrem a um ritmo muito lento e a uma profundidade bastante superficial. Os efeitos dessas reformas não são vistos no prato, sobre a mesa dos cubanos, ou nos bolsos. Os salários estão totalmente fora da realidade comercial do país. A produção agrícola também não aumentou de modo notável. Inclusive, ela diminuiu nos setores do tabaco, do café e do açúcar.
Que dificuldades um morador de Cuba enfrenta atualmente?
Eu diria que são as dificuldades econômicas e as dificuldades que têm a ver com a falta de liberdade. Entre as dificuldades econômicas, está o colapso do transporte público interprovincial. Vivemos em um país onde o tema dos transportes é um capítulo agonizante. A dualidade monetária é uma espécie de esquizofrenia econômica que vivemos há 17 anos e, no entanto, diminui muito o nível de vida da população cubana. Os salários também estão bastante ínfimos. Um profissional médio tem um salário mensal de cerca de US$ 20. Todavia, há limitações e regulações no tema da propriedade. Ainda que o Congresso do Partido Comunista Cubanao tenha anunciado a abertura do mercado imobiliário e a compra e a venda de carros, na prática isso não funciona. Nos últimos quatro anos, pedi em 17 oportunidades autorização para viajar e, em todas, ela me foi negada. Os cubanos não podem fundar um partido ou uma associação, e nem podem ler outro veículo de imprensa que não seja a oficial. Isso cria uma sensação de asfixia econômica e política, que empurra a maioria das pessoas ao sonho de migrar.
A senhora é otimista ou pessimista em relação ao futuro da ilha?
Sou otimista. Realmente, creio que estamos vivendo o fim de uma casta política e de uma geração no poder. O fim de um discurso do século 20. A apatia, o oportunismo e a falta de fé no sistema estão causando uma corrosão no sistema político. De braços cruzados, os cubanos estão conseguindo fazer o que talvez não pudessem de punhos erguidos.
O povo pode tolerar incompetência econômica durante certo tempo, estimando que o futuro pode melhorar as coisas. Mas dificilmente tolerará cinquenta anos de penúria, de desastres econômicos, de falta de perspectivas, a não ser que seja submetido a uma ditadura poderosa.
Curioso que tem gente, no Brasil e em outros lugares, que ainda defende um regime desse tipo...
A verdade é que o regime cubano viveu de subsídios soviéticos durante muito tempo, até que acabou. Agora vive de mensalão bolivariano, que um dia vai acabar também. Vão tentar uma via chinesa, ou seja, capitalismo com ditadura do Partido Comunista. Em Cuba não vai dar certo...
Como já disse alguém: o socialismo dura enquanto dura o dinheiro dos outros...
Paulo Roberto de Almeida
Cuba: Raúl Castro cumple 5 años en el poder clamando contra desorden económico
Infolatam/Efe
La Habana, 30 de julio de 2011
Las claves
La "batalla económica" ha sido el empeño de Raúl Castro desde que tomó las riendas de la isla, el 31 de julio de 2006.
El "traspaso de poderes" se ha completado este año, cuando el Partido Comunista designó a Raúl su primer secretario en sustitución de un Fidel que acudió a la clausura del VI Congreso del PCC.
El presidente de Cuba, Raúl Castro, cumple este domingo cinco años al frente del país intentando “actualizar” el socialismo y clamando contra el desorden y los incumplimientos que obstaculizan sus reformas económicas para superar la aguda crisis que arrastra la isla.
Hace unos días ante su Consejo de Ministros, el general Castro volvió a criticar incumplimientos, mala planificación y deficiencias y advirtió que jueces y fiscales tendrán un papel “determinante” ante las faltas que perjudican la economía.
La “batalla económica” ha sido el empeño de Raúl Castro (80 años) desde que tomó las riendas de la isla: fue el 31 de julio de 2006 cuando su hermano Fidel, tras medio siglo en el poder, delegó en él sus responsabilidades por una grave enfermedad.
Raúl asumió primero de forma provisional y en 2008 fue ratificado en la Asamblea Nacional de Cuba como presidente.
El “traspaso de poderes” entre los Castro se ha completado este año, cuando el Partido Comunista designó a Raúl su primer secretario en sustitución de un Fidel que acudió a la clausura del VI Congreso del PCC para levantar el brazo de su hermano menor en una simbólica imagen que tendrá lugar destacado en el abultado álbum de la revolución.
Fue el VI Congreso comunista el que también aprobó su plan de reformas para poner a producir a Cuba, alejarla del precipicio de la crisis e intentar evitar que se hunda una revolución que ha cumplido ya 52 años.
Lo que la retórica oficial llama “actualización” económica supone una apertura a la iniciativa privada: más de 325.000 cubanos ejercen ya el trabajo por cuenta propia con la novedosa posibilidad de contratar asalariados.
Esta es una de las principales medidas puestas en marcha junto a una masiva reducción de las abultadas plantillas del estado cubano.
La “batalla” del general Castro también se libra en el campo con un plan -que no acaba de dar los resultados deseados- de entrega de tierras en usufructo para aumentar la producción de alimentos, cuestión de “seguridad nacional” porque la isla gasta más de 1.500 millones de dólares al año en importar el 80 por ciento de los víveres que consume.
En las últimas semanas se han producido además anuncios de calado social como leyes para permitir la compraventa de viviendas y automóviles entre particulares.
En su primer quinquenio en el poder, Raúl Castro también ha clamado contra el inmovilismo y los dogmas, ha llamado a desterrar la burocracia, quiere desmontar el paternalismo estatal con la supresión de subsidios “innecesarios” y ha emprendido acciones contra la corrupción.
Analistas consultados por Efe coinciden que en el “quinquenio raulista” se han planteado cambios económicos profundos y se ha introducido más racionalidad aunque los más críticos insisten en que se trata de medidas “insuficientes” y “muy lentas”.
El economista disidente Óscar Espinosa atribuye esa lentitud a la resistencia de sectores conservadores y ortodoxos del régimen junto a la falta de audacia y vacilaciones de los “reformistas”.
Para otros disidentes, la situación de los derechos civiles, políticos, económicos y culturales “ha empeorado” durante el mandato del general Castro, según Elizardo Sánchez, activista de derechos humanos.
Pese al proceso de excarcelaciones de presos políticos del último año, Sánchez denuncia un aumento de la represión con un sistema de detenciones de corta duración contra opositores.
En la calle, las impresiones ante las reformas “raulistas” oscilan entre la indiferencia, el escepticismo y tímidas esperanzas.
===========
"Vivemos o fim de uma casta política"
Entrevista: Yoani Sánchez
Correio Braziliense, 31/07/2011
Yoani Sánchez transformou-se em uma espécie de símbolo da oposição cubana. Aos 35 anos, é a responsável pelo blog Generación Y — por meio do site na internet, ela denuncia as mazelas políticas e sociais da ilha. Em entrevista ao Correio, por telefone, de Havana, a ativista admite mudanças importantes em Cuba na direção da abertura político-econômica. No entanto, considera essas transformações lentas e afirma que elas ainda não surtiram efeito na mesa e no bolso dos cubanos. De acordo com Yoani, os cinco anos de governo Raúl Castro são marcados por um "pecado original". "É um presidente que não foi eleito, que chegou ao poder por via sanguínea", explicou. A mulher que em 2008 esteve na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo, da revista Time, é otimista em relação ao futuro. "Creio que estamos vivendo o fim de uma casta política e de uma geração no poder", comentou, apesar de reconhecer as inúmeras dificuldades que a população cubana tem enfrentado.
O que mudou em Cuba desde a saída de Fidel Castro, cinco anos atrás?
Evidentemente, Raúl Castro e Fidel Castro têm estilos de governo diferentes. Fidel era um homem que governava da tribuna, com um microfone nas mãos e com quilométricas intervenções públicas. Raúl é muito mais comedido a falar, não? Por exemplo, um detalhe simpático é que, desde que Raúl Castro começou a comandar o país, a programação televisiva passou a ser respeitada. Não há mais as interrupções causadas pelos longos discursos de Fidel Castro. As donas de casa estão felizes porque já não se suspende a transmissão das telenovelas brasileiras. O governo de Raúl Castro está marcado por um pecado original, que ele é incapaz de solucionar. Trata-se de um presidente que não foi eleito, que chegou ao poder por via sanguínea. Funciona como um reino. A população espera que um governante cumpra com um programa, mas Raúl nada teve que prometer para chegar ao poder.
Houve transformação expressiva em relação às liberdades individuais e aos direitos civis?
O tema dos direitos dos cidadãos e civis não registrou avanços evidentes e claros. Com Raúl Castro, continuamos com o monopartidarismo. Com Raúl Castro, seguem em pé as leis que penalizam a opinião em Cuba. Por exemplo, a chamada Lei nº 88, conhecida como Lei da Mordaça, que levou à prisão 75 opositores e dissidentes em 2003, está vigente no Código Penal cubano. Todavia, em Cuba não é possível criar uma associação independente e inscrevê-la legalmente em um cartório. Todavia, em Cuba não é possível entrar nem sair do território nacional livremente para os nascidos neste país. A falta de liberdades está intacta. O que se passa é que a repressão mudou de estilo com Raúl Castro. Com seu irmão, por exemplo, quando Fidel citava os nomes dos opositores e os "satanizava" em público, os dissidentes acabavam condenados a longas penas de prisão. Com Raúl, esse ponto é diferente. A repressão está no aumento da militarização da sociedade cubana. No entanto, os dissidentes já não são mais condenados a longas sentenças. São detidos por algumas horas ou por alguns dias, sem que haja qualquer constância legal ou documento que conste a repressão. Nesse caso, Raúl Castro tem feito uma repressão mais silenciosa, mais calada. A repressão com Fidel era mais evidente.
Durante esses cinco anos, os cubanos tiveram mais prejuízos ou mais benefícios?
Penso que tivemos mudanças importantes, na direção da abertura. O problema é o ritmo dessas reformas. Houve um impacto muito positivo, os cubanos já podem entrar livremente nos hotéis, comprar computadores e obter um contrato de telefonia móvel. São avanços ocorridos no governo de Raúl Castro. No entanto, em relação às expectativas iniciais, com o que as pessoas esperavam que ocorresse a partir de 31 de julho de 2006, as estatísticas oficiais atestam que Raúl decepcionou. No ano passado, 38.165 cubanos emigraram definitivamente de Cuba. Eles não quiseram esperar e se cansaram da lentidão das reformas.
As reformas anunciadas até então surtiram efeito na vida dos cidadãos cubanos?
As reformas econômicas implementadas pelo governo de Raúl Castro estão orientadas na direção correta, no sentido da flexibilização. Lamentavelmente, elas ocorrem a um ritmo muito lento e a uma profundidade bastante superficial. Os efeitos dessas reformas não são vistos no prato, sobre a mesa dos cubanos, ou nos bolsos. Os salários estão totalmente fora da realidade comercial do país. A produção agrícola também não aumentou de modo notável. Inclusive, ela diminuiu nos setores do tabaco, do café e do açúcar.
Que dificuldades um morador de Cuba enfrenta atualmente?
Eu diria que são as dificuldades econômicas e as dificuldades que têm a ver com a falta de liberdade. Entre as dificuldades econômicas, está o colapso do transporte público interprovincial. Vivemos em um país onde o tema dos transportes é um capítulo agonizante. A dualidade monetária é uma espécie de esquizofrenia econômica que vivemos há 17 anos e, no entanto, diminui muito o nível de vida da população cubana. Os salários também estão bastante ínfimos. Um profissional médio tem um salário mensal de cerca de US$ 20. Todavia, há limitações e regulações no tema da propriedade. Ainda que o Congresso do Partido Comunista Cubanao tenha anunciado a abertura do mercado imobiliário e a compra e a venda de carros, na prática isso não funciona. Nos últimos quatro anos, pedi em 17 oportunidades autorização para viajar e, em todas, ela me foi negada. Os cubanos não podem fundar um partido ou uma associação, e nem podem ler outro veículo de imprensa que não seja a oficial. Isso cria uma sensação de asfixia econômica e política, que empurra a maioria das pessoas ao sonho de migrar.
A senhora é otimista ou pessimista em relação ao futuro da ilha?
Sou otimista. Realmente, creio que estamos vivendo o fim de uma casta política e de uma geração no poder. O fim de um discurso do século 20. A apatia, o oportunismo e a falta de fé no sistema estão causando uma corrosão no sistema político. De braços cruzados, os cubanos estão conseguindo fazer o que talvez não pudessem de punhos erguidos.
Que reste-t'il de nos amours (interrogation, ou pas?)
Suggestions: http://www.youtube.com/watch?v=vv7PwrWp5lQ&feature=fvwrel
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