sábado, 13 de agosto de 2011

Um plano simples para acabar com as crises, todas as crises (bem, nao pergunte o que vai acontecer depois...)

Um programa de seis pontos para terminar com a crise da dívida

Leiam, se desejarem o artigo abaixo primeiro, depois voltem para meus comentários iniciais. Eu não sei porque certas pessoas perdem tanto tempo pedindo para se elaborarem planos complexos de salvamento. Basta fazer o que eu recomendo, a partir do artigo desse alemão, certamente bem intencionado. Mas acho que ele não perguntou às gerações futuras o que elas pensam deste plano.

Acho que não precisa de seis pontos para acabar com a crise da dívida pública na Europa, e em grande medida nos EUA também. Basta uma única medida, umazinha...
Seguindo a linha de pensamento desse professor de economia é tudo muito simples: basta que os governos financiem sem limite os inadimplentes, os gastadores contumazes, os insolventes, os relapsos, os irresponsáveis, os fraudadores de contas públicas e de dados estatísticos, enfim, que eles façam TODO O POSSÍVEL, como ele mesmo enfatiza, diversas vezes, para assegurar que a máquina continue rodando sem "problemas sociais ou econômicos".
Em suma, não precisa seis medidas, basta uma recomendação: gaste dinheiro a rodo, se não tiver, não tem problema, imprima dinheiro e distribua para governos, bancos, empresas, indivíduos.
É tudo tão simples. Não sei por que escrever um artigo inteiro para dizer isso.
Prêmio Nobel de economia, certamente...
Paulo R. de Almeida

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Fixing the Euro Zone
A Six-Point Plan for Ending the Debt Crisis
A Commentary by Thomas Straubhaar
Der Spiegel, 12/08/2011

There seems to be no end in sight for the long-running crisis in the euro zone, and politicians seem to be powerless to prevent the further erosion of the monetary union. But there are a number of practical steps that would mitigate the crisis -- and help prevent the next one.
As the saying goes, extraordinary times call for extraordinary measures. The financial markets are highly nervous, and people are losing their faith that politicians can do anything to combat the growing debt crisis.
Under these conditions, the most important aim of any measures has to be to halt the snowball effect of recent events and to keep the economic wildfire from crossing over from the financial markets to the real economy. And the only way to do that is by having politicians wrestle back the helm.
What's more, Europe and the United States need to start coordinating their actions as quickly as possible. In the near term, heavily indebted countries must be given the liquidity they need in the form of new loans. In the long term, politicians need to hammer out a credible way to reduce state debt.
To meet these challenges, Europe needs to follow a six-point plan:
• First, under German and French leadership, the governments of the 17 countries making up the euro zone need to make it clear that they are prepared to use all the means at their disposal to prevent fellow euro-zone countries from going broke. At the height of the financial crisis in 2008, German Chancellor Angela Merkel and then-Finance Minister Peer Steinbrück demonstrated how to communicate such a message in a convincing way when they pledged that the German state would guarantee the savings of private German citizens.
• Second, this promise of support means that the euro rescue fund, the European Financial Stability Facility (EFSF), should be expanded without limits. Loans at cheap interest rates and with long maturities will be offered to any euro-zone country that needs it. But countries that want to refinance their debt using money from euro-zone coffers will have to give up something in return: part of their autonomy over their state finances. In real terms, this means having borrowers present their medium-term budgeting plans to lenders, raise certain taxes and abide by the stipulations of a debt brake similar to the one that Germany has introduced, which requires the government to virtually eliminate the structural deficit by 2016. The bigger the loan, the more autonomy lost. For example, euro-zone officials could even replace those of individual nations to perform duties such as collecting taxes and implementing plans to cut costs and privatize state assets.
• Third, the European Central Bank (ECB) needs to give up its role as the institution that comes to the rescue of countries in risk of default by buying up their sovereign bonds. The ECB is not a so-called "bad bank" for the bonds of broke countries that nobody wants to buy. Instead, it should focus on its most important mandate: managing the money supply so that prices stay stable. So far, it has performed this task well. Bringing debt under control is a matter of financial policy. It's a problem that states should solve -- and not the central bank.
• Fourth, the right thing to do is to transform the euro-zone into a fiscal union in which all members are jointly liable for each other's obligations. If everything else has failed, but politicians -- rightly -- want to prevent the collapse of the monetary union, there needs to be a jointly financed stability mechanism that can supply emergency financial assistance in times of crisis. The EFSF should assume this responsibility. In order to prevent the crisis from spilling over into other countries, it should have the ability to buy sovereign bonds directly on the secondary market -- in other words, from banks and insurance companies. Doing so would turn the euro zone into a so-called transfer union.
• Fifth, in order to free countries from the yoke of the ratings agencies, the agencies' verdicts should be downgraded to the status of simple statements of opinion. They would then be viewed as something along the lines of a seal of approval handed out by consumer-protection agencies, but nobody would be forced to pay attention to them. In other words, whoever wants to listen to the pronouncements of those who analyze the creditworthiness of countries and companies can do so -- or not.
• Sixth, the governments of the euro-zone countries should make it clear that they will not allow developments on global stock markets to dictate their actions. They cannot be allowed to make it their goal to influence the behavior of private-sector stockbrokers. However, they need to send out a clear signal that they are willing to keep public budgets in order over the long term and to make every effort to guarantee conditions that encourage growth, stability and the ensuing predictability. They also need to create more transparency and introduce tighter financial-market regulations. They should, for example, implement a complete ban on short-selling.
It would be foolish to expect that even a perfect implementation of these six measures could solve all aspects of the debt crisis for ever. There will always be governments that don't keep to what they've agreed to do, as well as others that continue piling up debt. These proposed solutions are practical, but not perfect.
Neither will they be able to prevent the next crisis. But they would help to make it less likely -- and, if worse comes to worst, they'll make it easier to deal with the consequences.

Thomas Straubhaaris a professor of economics at the University of Hamburg and director of theHamburg Institute of International Economics (HWWI). His special area of research is international economic relations. He has also studied regulatory policy and questions of educational and population economics. In early 2010, he became the Helmut Schmidt Fellow at the Transatlantic Academy in Washington, DC.

Ficar rico, no Brasil? So com dinheiro publico...

Quando alguém quer saber qual sua renda, no Brasil, ou na Europa, essa pessoa geralmente pergunta:
"Quanto você GANHA?" (Enfatizo o verbo por ele ter uma conotação importante, como se verá.)
Quando a mesma pergunta é feita nos Estados Unidos, o indivíduo geralmente pergunta:
"How much you MAKE?" (Ou seja, não quanto você ganha, mas quanto você FAZ de dinheiro.)

Essa pequena diferença de verbos, entre o "how much you earn?" e o "how much you make?" faz TODA A DIFERENÇA de mentalidades, e não só de universos mentais, mas de ambiente de negócios, entre um país dinâmico, onde as pessoas fazem dinheiro por sua própria conta e esforço, e outros países, onde as pessoas "ganham" dinheiro de uma fonte qualquer, pode ser assalariado privado, funcionário público, honorários, rendas, whatever...

Nos EUA, se alguém quer ficar rico -- e suponho que muita gente queira -- essa pessoa começa a pensar em maneiras de ganhar dinheiro, mais exatamente, MAKE MONEY, em algum negócio qualquer, que ela vai construir, a partir do fundo da garagem, com dinheiro catado aqui e acolá, e transformar aquilo num empreendimento lucrativo. Daí o sujeito compra sua mansão, o seu iate, casa de campo, etc, com o dinheiro que ELE FEZ, não com favores governamentais ou trapaças empresariais.
Esta é uma história tipicamente americana, e deveria ser a normalidade um pouco em todas as partes do mundo, mas infelizmente não é.

Pois bem, no Brasil, para alguém ficar rico rapidamente, ele tem algumas escolhas, talvez três basicamente: o mercado, os negócios protegidos e o dinheiro público, diretamente.
Pode inventar algo absolutamente genial e ficar riquíssimo em pouco tempo, mas não me lembro de exemplos do gênero nos últimos anos (ou séculos). Com exceção de Santos Dumont -- que dizem que inventou o avião, mas nunca o patenteou, como os irmãos Whright, e não tinha, digamos assim, "tino empresarial", sendo mais um dandy modernoso, com suas manias aéreas -- não me lembro de algum gênio da inventividade nacional; e todos sabem que o Brasil não se distingue particularmente pela inventividade nacional, sendo pífio, medíocre, absolutamente nulo no registro de patentes nacionais de mais alto significado para a indústria e o mercado. Excluímos essa portanto.
Existem, contudo, grandes empresários nacionais. Se formos analisar bem as origens dessas riquezas, veremos que elas não estão exatamente no sucesso empresarial enquanto tal, mas na exploração de um setor qualquer que se beneficiou de prebendas e proteções estatais. Existem, claro, alguns "reis da soja", "reis do gado", que fizeram fortuna graças a seu trabalho, mas em algum momento eles vão buscar dinheiro público para aumentar seus negócios e monopolizarem um setor qualquer, esses setores.
Quanto aos "reis do cimento", "reis do aço", dos supermercados, disso ou daquilo, podem constatar, eles se fizeram graças à proteção, aos monopólios e cartéis, à colusão com os poderes públicos e ao dinheiro estatal (ou seja, nosso). Gostaria de conhecer empresários brasileiros ao estilo americano, mas vejo poucos, muito poucos. As grandes construtoras, os grandes bancos o são devido ao fechamento do mercado brasileiro aos concorrentes estrangeiros, e certa promiscuidade com os governantes de plantão.
A terceira forma é essa descrita abaixo, muito comum, absolutamente corriqueira no Brasil: você rouba dinheiro público, diretamente, simplesmente, facilmente. Nem vou me estender sobre as modalidades, pois elas estão sendo descritas diariamente nos jornais.
Passem bem (ou mal, em vista desse tipo de notícia) o resto do fim de semana.
Paulo Roberto de Almeida

“Ah, é pro governo, joga o valor pra três, tudo vezes três”
Folha de S.Paulo, 13/08/2011

Conversas telefônicas interceptadas na Operação Voucher da Polícia Federal mostram investigados falando sobre como superfaturar e até falsificar documentos em licitações com o governo. Nas conversas, os suspeitos de integrar o esquema chegam a afirmar que “quando o dinheiro é público não pesa no bolso” e apontam Brasília como um paraíso para obtenção de facilidades: “Mandou para Brasília, ficou fácil”, diz uma investigada. Na terça, a PF prendeu 36 suspeitos de desviar recursos do Ministério do Turismo em convênios com ONGs -entre servidores e empresários que faziam negócios com a pasta. Em conversa gravada com autorização judicial, em 21 de junho de 2011, o empresário Humberto Silva Gomes diz que no Brasil “o governo paga e quer que você apenas gaste direitinho, ele não quer um retorno”. Ele é sócio da Barbalho Reis, uma das empresas suspeitas de integrar o esquema, e está foragido.

Quando é dinheiro público, não pesa no seu bolso. Aí você joga pro alto mesmo, até porque se você não jogar você vai perder logo de cara, porque todo mundo vai jogar. Criou essa ideia aqui: “Ah, é pro governo, joga o valor pra três, tudo vezes três’”, diz Humberto: “Superfaturamento sempre existe”. Em outro diálogo, de 26 de maio, Sandro Saad, diretor financeiro da ONG Ibrasi, conversa com um empresário sobre um edital da Prefeitura de São Vicente (SP) que nem sequer tinha sido lançado. No áudio, Sandro pergunta se eles vão “falsificar os outros [concorrentes] ou tentar compor o jogo” e diz que “o pessoal lá de dentro” quer que ele pegue a licitação. Em outra escuta, os diretores do Ibrasi, Maria Helena Necchi e Luiz Gustavo Machado, falam sobre como vão adulterar papéis do convênio no Amapá para simular comprovação de despesas que não teriam sido realizadas.

Entrevista Marcos Azambuja - Brasilia Em Dia

Marcos Azambuja - Barbas do vizinho...
Marcone Formiga
Brasília Em Dia, 12 de agosto de 2011

Um dos mais brilhantes dos embaixadores brasileiros, Marcos Azambuja, é sempre requisitado quando o mundo parece entrar em transe. Sempre muito bem informado em geopolítica, economia, além de diplomacia, ele está sempre acompanhando os acontecimentos globais, buscando fontes em quase todo o mundo para se inteirar. Antes de se aposentar na carreira, ele ocupou embaixadas estratégicas, como a da França e a da Argentina. Sobre a geopolítica, ele não tem dúvida nenhuma de que o Brasil ocupa uma posição favorável em relação ao desarmamento geral, o que ele considera um gesto cristalino, embora não faltem aqueles que considerem essa posição meramente de visionário. O embaixador não tem dúvida, por exemplo, que a humanidade é justa porque existem os visionários, e que não existe mal nenhum em perseguir uma causa, como a brasileira, em se posicionar a favor do desarmamento nos países.

Antes do colapso econômico dos Estados Unidos, o embaixador Marcos Azambuja contestou quando a Casa Branca considerou os governos da América do Sul populistas, correspondendo ao Eixo do Mal - um exagero -, afirmando que são governos que, ele crê, não respondem aos interesses dos respectivos países, mesmo sendo direito dessas populações escolherem democraticamente quem quiser. Para o diplomata, rótulo como Eixo do Mal demonstra uma tendência desses governos que, ao invés de aproximarem-se de políticas de racionalidade isolam-se e, por isso mesmo, têm um comportamento mais errático.

Nesta edição, diante do cenário de crise nos Estados Unidos, que não se trata de um caso isolado, muito pelo contrário, argumenta que esse problema existe em todo o planeta e afirmou que o cenário é mantido pelo Atlântico Norte, Europa e Estados Unidos.

Depois de acompanhar os fatos em torno de Washington, assim como a reação mundial, ele afirma que não é momento para pessimismo e tampouco para complacências, argumentando que o Brasil não escapa das regras gerais, e até lembrou uma velha frase: “O Brasil tinha que colocar as suas barbas de molho, porque têm muitas barbas de vizinho pegando fogo”.

- Como o senhor vê a crise nos Estados Unidos e no mundo?

- Vamos usar a palavra crises; não creio que haja uma unicidade, que aconteça uma só causa, uma só construção. Acho que nós estamos vivendo hoje,em um mundo,com um empilhamento de crises, que se sucedem, se acumulam. Elas têm gênese diferente, casualidades diferentes e, possivelmente, trajetórias diferentes. Deste modo, vamos falar de um mundo em crises: as do Oriente Médio, com toda a sua problemática que tem uma origem muito local; a crise da credibilidade dos Estados Unidos com a fragilização do dólar e da hegemonia americana. Portanto, há uma série de crises que se multiplicam, como a crise gerada pela emergência das grandes potências asiáticas e do Brasil. Nem todo mundo está em crise. A Ásia está vivendo um boom e a América do Sul não está vivendo um mau momento. A crise é mais do centro antigo europeu, do Atlântico Norte, Europa e Estados Unidos. Vamos dar notas muito boas à Ásia e à América do Sul e notas muito baixas à Europa e aos Estados Unidos.

- Qual será o desdobramento disso, qual o cenário futuro?

- De novo, vou pluralizar, são os desdobramentos. Primeiro, vamos fazer um pouco de exercício prospectivo, com os riscos que isso causa. Não vejo o fim da hegemonia americana, acho até que é porque os Estados Unidos perdurarão por um tempo ainda longo. Trata-se de uma potência hegemônica, sobretudo, além de todos os fatores econômicos, comerciais e financeiros; é de fato a única superpotência militar. Não podemos esquecer que o músculo militar ainda é um fator muito importante e eles continuarão a ter essa dominância.

- Como fica a geopolítica?

- Acho que a parte do mundo que também perderá estatura é a Europa Ocidental. Não é que entrará em decadência, não será mais o que já foi; ela deixará de ser aquela espécie de extensão do poder do Atlântico Norte, dos Estados Unidos, em troca de um crescimento, de uma emergência, da Ásia, do Brasil e da América do Sul. Também vejo alguns países isolados da África, nessa emergência vem a África do Sul, e virá também, de certa maneira, o México, os novos asiáticos, Indonésia e Coreia. O que está havendo hoje no mundo é um grande deslocamento do foco e do eixo do poder.

- Pode emergir o autoritarismo?

- O mundo se desloca do Atlântico para o Pacífico, da Europa para a Ásia, e nós entramos bem nisso, nós estamos colocados nesse pequeno bloco do Brics, dos grandes emergentes. Não vejo uma crise, no sentido de um colapso; não é 1929 portanto, uma espécie de depressão mundial duradoura. Não vejo também a emergência de novos autoritarismos ideológicos, não vejo o risco dos anos 30, de um fascismo e um nazismo e de um comunismo militante. O mundo vai jogar com regras parecidas portanto, não sou catastrófico, sou uma pessoa preocupada.

- O ministro Guido Mantega afirmou que o Brasil está preparado, mas não imune à crise. O senhor concorda?

- É um jogo um pouco semântico. Nenhum país estaria, a rigor, preparado. O que faz a crise é que ela é surpreendente, ela se estende por lugares antes não contaminados; a ideia de prever o futuro é o mais arriscado dos exercícios. O Brasil será atingido, sobretudo, porque o que me preocupa mais, absolutamente, é que nesse grande embate o que tem sido o motor da nossa prosperidade, que é a valorização crescente das nossas commodities sofra o processo de deteriorização.

- Mas como vai ficar o Brasil?

- O Brasil tem vivido muito bem de quase tudo que nós exportamos. Está cada vez mais consistente ao longo dos últimos 10, 15 anos. Proteínas animais, todos os produtos agrícolas, minérios, ou seja, o país está vivendo um boom, em parte por ter arrumado a sua casa, mas em grande parte porque os mercados do mundo compram cada vez mais e melhor, aquilo que nós produzimos de maneira competitivamente muito bem. A minha preocupação é que , com o que está acontecendo, haja uma desaceleração no mercado de commodities...

- E na hipótese de perda do valor desses produtos, o que aconteceria?

- Sem dúvida, uma perda do valor desses produtos faria com que as receitas brasileiras de exportação ficassem muito atingidas. Isso não é uma desgraça, mas tira do nosso crescimento um elemento essencial de dinamismo.

- Os investimentos podem ser afugentados, claro...

- Os investimentos - há um grande paradoxo... Quando há uma grande crise, os investimentos fluem para onde há mais segurança - que continuam a ser os Estados Unidos. Ou seja, é quase que uma coisa paradoxal, quando a situação vai mal no mundo, os donos do tesouro norte-americano, os papéis americanos são de uma atração imensa, apesar de tudo. Você pode falar do ouro, mas ele tem uma dificuldade física, é de uma inelasticidade que é parte da sua natureza.

- Mas, acontece que os americanos não são mais os donos do mundo, como pareciam.

- Os Estados Unidos estão cada vez mais vulneráveis as pressões da China e do Brasil, com quase US$ 250 bilhões de reservas lá. Existe hoje, também, uma certa alavancagem, estamos fazendo um jogo. O Brasil e, sobretudo, a China estão alimentando o vício norte-americano em dívida, porque não têm outro lugar para colocar o dinheiro. O problema nosso e da China é que estamos fazendo grandes reservas, e não sabemos o que fazer com essas reservas, a não ser colocá-las em papéis americanos.

- O que muda na geopolítica da América Latina?

- Não uso muito a palavra América Latina. Uso em um sentido cultural, afetivo; prefiro falar da América do Sul, que é o que eu entendo mais. A América Latina inclui América Central e México - é mais complicado. O México tem uma latinidade de língua e de cultura, mas é parte de um bloco que se chama NAFTA. Quer dizer, ele é um país da América do Norte - não confundir isso. A América do Sul está vivendo um momento bom. Mais ainda que o Brasil, a Argentina e um pouco o Chile são produtores de commodities, sobretudo a Argentina. Estão vivendo um bom momento, os próprios populismos mais veementes da América do Sul estão um pouquinho desacreditados.

- O coronel Hugo Chávez é, ou não, um complicador?

- Chávez perdeu um pouco a sua retórica, assim como o Correa, o Evo Morales. Acho que há uma retração daquele populismo mais retórico, em troca de um pragmatismo mais construtivo. O Brasil não se compara a eles, ele não trata mais da América do Sul como o seu destino; ele está aqui, mas as comparações brasileiras sempre são com os Estados Unidos, Rússia, China. Nós mudamos de patamar e as nossas identidades e expectativas estão com eles. O Brasil hoje, sobretudo, é um grande emergente que está na América do Sul, mas não necessariamente é um país da América do Sul.

- Mas, o ex-presidente Lula apostou muito na Venezuela e nesses países todos. Qual a posição, que o senhor vê, da presidente Dilma Rousseff?

- Há uma palavra que eu gosto muito de usar quando falo da Dilma. É a sobriedade. Há nela um estilo que me agrada, muito mais sóbrio, palavras medidas, menos ativismo... O Lula tinha qualidades, evidentemente, tinha um ativismo, uma espécie de personalismo, que para mim, depois de alguns anos, cansava um pouco. A ideia de que todo o tempo ele tinha que produzir manchetes, fatos... Eu gosto de sobriedade. Hoje, eu tenho a impressão que a Dilma inovou no sentido de ela não me parecer seduzida por ditadores africanos ou autoritarismo no Oriente Médio, ela me parece mais cuidadosa na sua afetividade.

- Qual é a diferença entre ela e Lula?

- O problema do Lula é que ele era de tal maneira afetivo, que não conseguia deixar de dar abraços e tratar de uma maneira fraternal pessoas que não mereciam ser tratadas com essa fraternidade. A Dilma está trazendo um pouco de sobriedade, e acredito que o Antonio Patriota seja responsável, também, por esse novo e bom estilo. Estou satisfeito com isso, mas, com certeza, perdeu um pouco aquela teatralidade na política externa brasileira, que era, em parte, um pouco da diversão de todos nós. Agora o Brasil passou a ser um ator mais discreto, mais controlado, possivelmente um pouco menos divertido.

- Um cenário de aperto fiscal vai resolver os efeitos da crise mundial?

- Acho que não, as crises mundiais têm ciclos. Cada uma é um ciclo que se inaugura, que tem um desdobramento. O aperto fiscal pode ser uma alternativa, sobretudo nos países europeus. A Europa construiu para si mesma a ilusão da prosperidade permanente entre seus países, e tinha criado uma ideia de prosperidade, de que os déficits poderiam ser acumulados, de que a política fiscal poderia ser desrespeitada, mas, como sempre, a economia educa, ela mostra que não há exceções. Uma política fiscal mais rigorosa tem a vantagem clara de ajudar a arrumar as contas, diminuir déficits, começar a entrar na realidade. O problema é que ela tem um efeito depressivo, ela tira a energia, acha que em tempos de crise é preciso um gasto público acentuado para movimentar a economia, e aqueles que acham, de uma maneira, que é preciso gastar menos e viver dentro do seu orçamento.

- Como resolver essa equação política?

- O problema é as duas teses têm validação. Se a Europa fizer um ajuste fiscal muito forte, acaba em uma crise política. O que está acontecendo em Londres começa a mostrar que, mesmo lá, que não faz parte do euro, há uma insatisfação com a situação social, que não é mais o que já foi. São grandes correntes imigratórias que foram para lá esperando um outro mundo e que agora não têm nem acolhida, nem emprego...

- O que mudou nos últimos anos?

- Falei na palavra crises, que é o que o mundo está vivendo, depois de 10 anos. O Lula coincidiu com anos de extraordinária tranquilidade. Agora o mundo, de novo, entrou em um daqueles ciclos. Lembro-me, que no tempo de Fernando Henrique Cardoso, ele entrou em umas cinco, seis crises, a asiática, da Europa, mas tínhamos esquecido que o mundo é turbulento. Nós estamos com os cintos afivelados, já está acesa a luz, e que não se levante ninguém do assento!...

- O que afeta mais o Brasil, a crise americana ou a corrupção no governo brasileiro?

- É difícil dizer!... Mas eu creio que a crise americana nos afeta macroeconomicamente, macropoliticamente, inclusive a totalidade da nossa inserção mundial. A corrupção é um veneno doméstico, uma coisa que nos tira energia, vitalidade, credibilidade, enfraquece o tecido social, que leva à insatisfação. Mas ela não é um fator de destruição do projeto nacional, ela é apenas um custo que a sociedade se impõe incompetência, pela falta de seriedade. A corrupção é um tributo que um país paga por não ter sabido ordenar ele mesmo a sua política, a sua justiça, a seleção dos seus líderes, mas não é uma coisa que no nível brasileiro cause uma desagregação. São dois níveis: a crise americana que nos afeta na dimensão macro e a corrupção que nos envenena na dimensão micro.

- O momento é de perder o otimismo no Brasil?

- Não, não!... Pelo contrário, acho que, mais uma vez, o Brasil não é, como na primeira crise de 2008, o causador da crise, porque não contribuiu para ela, sim e não deve ser afetada. Não quero usar a metáfora do presidente Lula, de “marola”, mas dessa vez a crise é mais ampla, ela nos atinge mais, porque ameaça o valor das nossas exportações, e o país tem sido puxado pelas exportações de commodities, esse, sim, tem sido o grande motor.

- Ou seja, nada de pessimismo?

- Nós não temos que estar pessimistas, mas não temos que estar complacentes. Era perigoso para o Brasil ficar achando que vivemos como em uma ilha de prosperidade. Não somos uma ilha de tranquilidade, não estamos fora do mundo, o Brasil não escapa das regras gerais. Para usar uma velha frase, ‘o Brasil tinha de por as suas barbas de molho, porque tem muitas barbas de vizinho pegando fogo.’

- Diante de todo esse cenário, o que o senhor recomenda?

- Eu recomendaria ao Brasil muito, muito molho, e as barbas colocadas dentro dele!...

Pronto, acabou a alegria dos Brics: basta crescer um pouquinho mais que a circunferencia tambem aumenta...

Sempre dá nisso: cria riqueza, distribui renda, aumenta o consumo, e o pessoal abusa, vai logo avançando sobre doces, salgadinhos, bebidas carbonatadas, ficando longas horas na frente da TV...
Não deu outra:

Obesidade preocupa países do BRICS
Diário da Rússia
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) confirmam: além do crescimento do Produto Interno Bruto, o sobrepeso ea obesidade dispararam em China, Índia, África do Sul e Brasil, do grupo BRICS, e também no México. No BRICS, apenas a Rússia não causa ...

Que tal um programa Comida Zero?
É só uma sugestão...
Paulo Roberto de Almeida

A presidente quer ficar do lado dos bandidos? - Editorial do Estadao

Talvez não queira, mas se reclamar das prisões da Polícia Federal ela pode dizer que preferiria que elas não ocorressem. Além de não lhe caber adotar tal atitude, pois seria claramente ilegal e imoral, ela pode pagar um alto preço político, talvez não junto a um congresso já contaminado pela corrupção política e pela roubalheira generalizada, mas junto à população, à cidadania, às pessoas simples que somos todos nós, e que achamos perfeitamente normal que lugar de bandidos é na cadeia, não no parlamento.
Paulo Roberto de Almeida

No limiar do descontrole
Editorial - O Estado de S.Paulo
12 de agosto de 2011

A sucessão de escândalos de corrupção no governo federal parece estar levando a presidente Dilma Rousseff ao limiar do descontrole. Segundo o noticiário de ontem, ao tomar conhecimento da prisão, pela Polícia Federal (PF), dos envolvidos na Operação Voucher, que apura irregularidades no Ministério do Turismo, Dilma demonstrou "grande irritação". De acordo com fontes palacianas, classificou de "acinte" o fato de os detidos terem sido algemados, reclamou "furiosa" por estar sendo a toda hora surpreendida por operações da PF que lhe criam problemas políticos e cobrou satisfações do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a quem a PF é subordinada.

É fácil entender que a chefe de governo perca a paciência ao se dar conta das proporções em que o aparelho estatal que herdou está contaminado pelo fisiologismo que seu antecessor institucionalizou. É igualmente compreensível sua aflição diante da grave ameaça que a denúncia e a repressão dos arrastões nos ministérios representam para a estabilidade da base de sustentação de seu governo. Afinal, hoje está mais do que evidente que o que manteve em pé essa construção, meticulosamente edificada ao longo de oito anos, foi a tolerância com os gambás introduzidos nos galinheiros.

Mas a ênfase com que a presidente passou a manifestar sua contrariedade com esses espetáculos pode dar margem à interpretação de que está tomando as dores dos denunciados, em vez de manter a atitude de isenção e respeito ao funcionamento das instituições que sua alta investidura exige. À chefe do governo não cabe "enquadrar" a PF, como têm sugerido, ou mesmo exigido, colaboradores e aliados. A polícia existe para investigar delitos e reprimir a ação de criminosos, colocando-os à disposição da Justiça. E deve agir de acordo com normas de procedimento que, se infringidas, sujeitam os responsáveis pelas infringências, por sua vez, a investigação, julgamento e, se for o caso, punições cabíveis. Não cabe, portanto, a altas autoridades palacianas, classificar de "exageradas" ou "atabalhoadas" as ações da PF que lhes criam problemas políticos. Nem ao líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza, declarar que "houve abuso de poder do Judiciário e do Ministério Público".

Até agora a presidente Dilma Rousseff vinha se comportando publicamente com exemplar sobriedade diante das repetidas denúncias de corrupção, apoiando a necessária "faxina" nos setores da administração comprometidos com a bandalheira. E essa atitude tem sido respaldada pela opinião pública, como demonstram as pesquisas. Mas a sua reação diante do mais recente capítulo de uma sucessão de escândalos como nunca se viu antes na história deste país, parece revelar que se está tornando irresistível a pressão daqueles que, tanto no governo como na base aliada, não admitem senão a maneira lulopetista de governar.

Pressionada por todos os lados e preocupada, principalmente, com o tensionamento das relações entre governo e PT, de um lado, e PMDB, do outro, Dilma recorreu a quem entende do assunto para se aconselhar. Em reunião com Lula em São Paulo, na terça-feira, foi orientada a "repactuar" a aliança com o maior partido da base aliada, cujos interesses estão sendo afetados pelos escândalos nos Ministérios da Agricultura e do Turismo. Resta saber o que Lula entende por "repactuar".

Depois da porteira arrombada, parece impossível conter a catadupa de denúncias na mídia e as ações policiais contra o arrastão na administração pública, em especial na federal. É uma simples questão de se colher o que foi plantado durante oito anos. Trata-se, é claro, de uma lavoura que não foi inventada por Lula e pelo PT, que na verdade criaram fama denunciando pragas. O lulopetismo apenas aperfeiçoou métodos de semeadura e colheita. E o PMDB é o segundo maior beneficiário de toda essa criatividade. Na hora em que esses benefícios se transformam em constrangimento, "repactuar" a aliança parece significar a promessa do impossível ao parceiro: acabar com as denúncias e com as operações policiais e com a repercussão de tudo isso na mídia.

Dá para entender, portanto, a irritação da presidente. E lamentar que ela esteja dirigida na direção errada.

Biblioteca digital mundial - Unesco

A NOTÍCIA DO LANÇAMENTO NA INTERNET DA WDL, A BIBLIOTECA DIGITAL MUNDIAL.

Já está disponível na Internet, através do site www.wdl.org

Reúne mapas, textos, fotos, gravações e filmes de todos os tempos e explica em sete idiomas as jóias e relíquias culturais de todas as bibliotecas do planeta.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Crise internacional na CREDN do Senado Federal: debate com senadores

Debate talvez seja uma palavra exagerada, mas em todo caso a sessão especial da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional do Senado Federal organizou uma audiência especial, segunda-feira dia 8 de agosto, sobre o tema da crise financeira e seu impacto no Brasil.
Minha apresentação não foi objeto de texto escrito e sim de apresentação oral, com suporte em PP (disponível neste link:
Sistema financeiro internacional desde Bretton Woods ( pptx Senado).
Abaixo, segue um relato extraído de um boletim do Senado.

Brazil is ready to face the crisis, says Central Bank director
A few hours after th
Te announcement of the biggest falls in the stock markets for the last months – more than 8% in Brazil and 5% in the United States – two representatives of the Brazilian government tried to show on Monday (8), at the Senate, that the country is aware of the international crisis risks. Both representatives pointed out the rising in exports and in international reserves during a debate about the health of the world economic system, at the Committee on External Relations and National Defense.
“Our country is ready to face the world crisis. We have big international reserves, capacity to inject liquidity into the economy, if necessary, and a floating exchange rate.
"We have been following the international risks carefully and we are looking for the best possible solutions,” said the Central Bank's International Affairs director, Luiz Awazu Pereira da Silva, at the public hearing called “The International Financial System: from Post-War to current days”, in the cycle of debates called “Trends of the Brazilian Foreign Policy”.
Whereas, the secretary of Foreign Trade from the Ministry of Development, Industry and Foreign Trade, Tatiana Prazeres, said that the Brazilian exports have been rising more than the world trade average. She also mentioned the “accelerated growth” in Brazilian exports and imports from January to July this year, in comparison to last year.
“In seven months we have exported as much as in 2006,” she said.
The current crisis dimension, however, was highlighted by diplomat Paulo Roberto de Almeida, professor of the master and doctorate program of Political Economy at Uniceub, in Brasília. He predicted that the developed countries' economic growth will remain slow and will take around four or five years to recover.
“The debt has grown a lot. The American one will be a problem that will affect two generations. There will be a slow reserve diversification, but the United States are still the most flexible economy in the world and they will keep attracting capital in the predictable future. However, the dollar value will decrease, as the scenario is changing and the North Atlantic loses ground to North Pacific,” he compared.
Those movements, according to the World Bank Brazil director, Makhtar Diop, will also be related to the increasing political importance of countries considered medium income. In his opinion, the next years will still be very uncertain.
“Nowadays, there is a big uncertainty and the world will need the medium income countries to play a more important role,” he said.
After listening to the speech of the attendants of the debate, senator Roberto Requião (PMDB-PR) said that the guests had been talking about “another country”. He highlighted the fall of 40% in Brazilian industry exports over the past 30 years and complained that our economy is focused on the exports of ore and agricultural goods. He warned about the risk of fall in the commodities price, if the United States come into a new recession and consequently affect China, which is a great buyer of Brazilian primary products.
Senator Cristovam Buarque (PDT-DF), who was the debate's chairman, also highlighted the need of bigger investments in technology and said that Brazil “has no future if it remains exporting only ore”.

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