O Lula deles
João Luiz Mauad
O Globo, 13/08/2011
“O fato de que estamos aqui hoje para debater o aumento do limite da dívida americana é um sinal de fracasso das nossas lideranças. É um sinal de que o governo dos Estados Unidos não pode pagar suas próprias contas. É um sinal de que agora dependemos da assistência financeira de países estrangeiros para financiar as políticas fiscais irresponsáveis do nosso governo.... O aumento do limite da dívida da América nos enfraquece nacional e internacionalmente. Liderança significa responsabilidade pelas próprias decisões. Em vez disso, Washington está jogando o ônus de suas más escolhas de hoje nas costas dos nossos filhos e netos. A América tem um problema com a dívida e uma falha de liderança. Os americanos não merecem isso. Eu, portanto, sou contra o aumento do limite da dívida.”
Sabe de quem são essas duras palavras, caro leitor? Acredite, o discurso acima foi proferido pelo então senador Barak Obama, ainda em 2006, quando o Congresso daquele país discutia o limite da dívida federal, durante o mandato de George W. Bush. Na época, o aumento aprovado trouxe o teto da dívida para US$ 9 trilhões. Sob a presidência de Obama, o número já fora elevado para US$ 14,3 trilhões. Antes do recente aumento, portanto, a dívida já estava 60% maior do que quando ele sinalizava um suposto "fracasso de liderança", há cinco anos.
Malgrado a enormidade dos números, os políticos norte americanos chegaram a um acordo, ao apagar das luzes, evitando assim que o governo daquele país ficasse inadimplente perante os seus credores internos e externos. Entre mortos e feridos, salvaram-se todos – pelo menos por enquanto.
Durante a longa queda de braço, fomos bombardeados por notícias e comentários - ecoados principalmente do notório New York Times, carro-chefe da mídia liberal (esquerdista) americana, à frente o estridente “nobelado” Paul Krugman - acerca do radicalismo e irresponsabilidade dos conservadores, capitaneados pelos fundamentalistas/terroristas do Tea Party, que insistiam numa postura de prudência e parcimônia – oh! Grande heresia! - em relação aos gastos do governo e, consequentemente, em relação à dívida pública. Aliás, os economistas podem discordar sobre o montante da dívida que um governo pode carregar com segurança, mas há certo consenso de que 100% do PIB é demais, especialmente quando se olha para os efeitos sobre a atividade econômica.
Mas os ditos radicais do Tea Party cometeram o supremo pecado de contrariar São Obama e, principalmente, a visão progressista segundo a qual quanto mais o governo gasta e se intromete na vida privada das pessoas, melhor para todo mundo. Embora seja muito difícil para qualquer pessoa de bom senso entender como é possível que um endividamento constante e progressivo do governo possa ser algo sadio, o que se viu foi o linchamento sem trégua dos atrevidos que se recusavam, constitucional e democraticamente, a dar carta branca para o executivo gastar a vontade.
Neste ponto, pode ser útil esclarecer exatamente sobre o quê estavam discutindo os dois lados. A questão não era propriamente se o governo federal deveria ou não expandir os seus gastos. Quase ninguém em Washington propôs o encolhimento do leviatã. Ao contrário, no final de dez anos tanto os gastos nominais quanto a dívida total serão bem maiores do que são hoje. Tenha-se em mente ainda que esses aumentos virão após uma das mais rápidas expansões de gastos federais na história dos EUA – desde que Obama tomou posse, houve um aumento de aproximadamente 30% em relação ao último ano de Bush.
Ademais, pouco se falou sobre isso, mas durante a maior parte do tempo o impasse esteve ancorado não no radicalismo do Tea Party, mas na intransigência do presidente, que insistia, mesmo contra a opinião majoritária do seu próprio partido, em aprovar limites muito maiores, além de aumentos de impostos.
Finalmente, pode-se discutir o que for, mas não é apropriado dizer que não havia legitimidade do legislativo para debater o tema, afinal eles foram eleitos exatamente para isso. Ao contrário da escatologia do NYT, a verdade é que o Congresso americano deu uma lição de democracia ao mundo, apesar do comportamento malsão de Obama, que, com discursos irresponsáveis, insistia em jogar a opinião pública contra os congressistas. Quisera eu que os nossos políticos discutissem os temas importantes da nação como fizeram os yankees, sem barganhas por cargos, liberação de verbas ou mensalões, mas apenas defendendo o que consideram melhor para o país.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
domingo, 14 de agosto de 2011
Um economista sensato sobre politicas insensatas - Affonso Celso Pastore
Entrevista: Pastore foi presidente do Banco Central de 1983 a 1985
O governo brasileiro terá de se dobrar à realidade, diz ex-BC
Leandro Modé
O Estado de S. Paulo, 13 de agosto de 2011
Segundo Affonso Celso Pastore, se o País tentar garantir a meta de crescimento em meio à crise global, corre o risco de causar desequilíbrios, com alta da inflação ou endividamento
SÃO PAULO - O ex-presidente do Banco Central (BC) Affonso Celso Pastore mal conseguiu dormir nas noites que se seguiram ao rebaixamento da nota de crédito do governo dos EUA. A perda de sono resultou não apenas das preocupações com a piora do cenário global após a decisão da agência Standard & Poor’s, mas, principalmente, da dedicação para entender a complexa conjuntura global. Em momentos como o atual, consultores econômicos como ele são demandados como nunca pelos clientes.
Por mais complicada que seja a situação, eles precisam dar respostas que ajudarão bancos, empresas e até mesmo pessoas físicas a embasar decisões que movimentam cifras enormes. Ainda de olhos vermelhos, fruto das noites quase em claro, Pastore conversou com o Estado em seu escritório, na zona oeste de São Paulo, na tarde de quinta-feira. "Essa foi a primeira das últimas noites em que realmente dormi bem, de tão cansado que estava."
Para Pastore, o que ocorre hoje é parte da crise iniciada em 2008. E o cenário básico traçado por ele não é dos mais animadores, inclusive para o Brasil. "No quadro que vejo hoje da economia mundial, o Brasil vai crescer menos. E o governo vai ter de se dobrar à realidade. Não há o que fazer. Se tentar escapar disso, vai gerar desequilíbrios", afirmou. A seguir, os principais trechos da entrevista.
O que significa a diminuição da nota dos EUA para a economia global?
O rebaixamento da nota dos EUA é um episódio menor. Se só ele tivesse ocorrido, o dólar teria se desvalorizado e teria havido uma subida da taxa de juros americana. Só que ocorreu o contrário. Ou seja, há algo mais. No caso, a Europa, cuja percepção de risco cresceu mais que a americana. Para ter um entendimento completo disso, é preciso olhar para duas crises paralelas. A dos EUA, que já vem de algum tempo, mostra que a capacidade de o país crescer é muito menor do que o mercado pensava.
Por quê?
A crise de 2008 - esta, aliás, é a continuidade daquela - produziu uma destruição de riqueza que nunca aconteceu. Quando a riqueza cresceu durante a bolha, as famílias se endividaram gastando renda futura. Em outras palavras, o grau da alavancagem atingiu níveis sem precedentes - 130% da renda disponível. O estouro da bolha e a crise de 2008 fizeram a riqueza das famílias voltar ao nível em que estava antes de a bolha se formar. Só que o grau de endividamento ficou muito mais alto. Significa que é preciso poupar para pagar as dívidas. É o chamado processo de desalavancagem. (Kenneth) Rogoff, ex-economista-chefe do FMI, chamou a atenção para isso, ao falar em grande contração, e não grande recessão. O erro das pessoas foi achar que se tratava de uma recessão como as passadas.
E quando elas se deram conta de que não era?
Houve três episódios que fizeram essa percepção aumentar. O primeiro foi quando Obama teve de negociar o limite da dívida dos EUA. Ficou patente que ele perdeu o grau de liberdade na execução da política fiscal. O segundo ponto foi o fim do QE2 (quantitative easing, na sigla em inglês, que na prática significa injeção de dinheiro na economia por meio do banco central). Na sequência desses dois episódios, veio a revisão dos dados do Produto Interno Bruto (PIB), que mostrou que a recuperação havia sido muito frágil. A rigor, o PIB dos EUA ainda não voltou ao nível pré-crise. Se não houvesse a questão da Europa, isso deveria ter produzido uma mudança nos preços das ações, que deveriam ter caído.
E a Europa?
A crise europeia é, ao mesmo tempo, uma crise de dívida soberana e um potencial de crise bancária. As duas coisas sempre vêm juntas, como mostra um livro de Rogoff e Carmen Reinhart (Oito Séculos de Delírio Financeiro: Desta Vez é Diferente). Há vários tipos de contágio envolvidos. Há países insolventes, como Grécia, Irlanda e talvez Portugal, e países com dívidas grandes, casos de Espanha e Itália, que começaram a receber contágio dos menores. Segundo Rogoff, esse tipo de crise se resolve de três formas: ou se faz uma reestruturação ordenada das dívidas, ou se tem inflação ou acaba em default (calote).
Em qual dessas três possibilidades o sr. acredita?
Os europeus terão de ir para a reestruturação, que será custosa para os países, que terão de absorver os prejuízos dos bancos quando houver o corte das dívidas. E a Europa terá de ter cabeça fria para conseguir condição política de fazer isso.
Já há quem fale em uma década perdida para as economias desenvolvidas.
A analogia aqui é com o Japão. Houve uma desalavancagem das empresas japonesas, não das famílias, como nos EUA de hoje. Há um livro magistral sobre isso (The Holy Grail of Macroeconomics), escrito por Richard Koo, que mostra o seguinte: quando o Japão foi para taxa de juros nula, não conseguiu fazer a economia crescer porque o melhor uso que as empresas podiam ter era pagar dívida. As empresas nos EUA não estão endividadas, o que tem enganado gestores de fundos. O ponto, tanto nos EUA quanto na Europa, é que as pessoas não consomem. É preciso, portanto, desalavancar as famílias. Esse processo é longo. Pode levar uma década para acertar isso.
Estamos a caminho de uma segunda recessão, o que chamam de double dip?
É possível, sem dúvida, de várias formas. A primeira é a seguinte: os EUA não crescem. Em sua última decisão, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) se comprometeu a não mexer no juro básico até 2013. Mas há sinais que pode fazer um QE3. Como o quantitative easing potencialmente produz estímulo de demanda? Há dois canais. O primeiro é gerar um efeito riqueza. Me parece que, hoje, esse efeito é muito pequeno, se é que vai ter. O QE2, por exemplo, não mexeu em um único cent nos preços das casas. O segundo canal de transmissão se dá por meio da desvalorização do dólar (que favorece as exportações americanas e, por tabela, o crescimento econômico). O problema é que o mundo está ficando irritado com a depreciação do dólar. Os países sentem que voltou um comportamento que, no século 19, chamava ‘beggar thy neighbour’, que é a depreciação competitiva da moeda para ganhar mercado do outro.
Mas há reações no mundo.
Sim, hoje, há reações em vários lugares, inclusive no Brasil - ainda que, por aqui, de forma meio atabalhoada. Não quero dizer que o mundo sairá do regime de câmbio flutuante, mas cito um exemplo usando dois países, a Austrália e a China. Os australianos nunca intervêm no câmbio, enquanto os chineses adotam câmbio fixo. Se o Fed anunciar um QE3, é uma nova força para enfraquecer o dólar. Se o mundo se comportar como a Austrália, os EUA atingem o que desejam (aumentar suas exportações). Mas, se reagir como a China, os EUA não conseguem desvalorizar sua moeda. No limite, nesse cenário, poderá haver estagflação (estagnação com inflação) nos EUA. Acho que o mundo não caminhará para nenhum dos extremos - nem Austrália nem China.
E o Brasil?
Deve olhar isso tudo com muita cautela. Pode acontecer no mundo uma coisa extrema. Se houver a solução crítica, desordenada, será reproduzido, em tese, o que houve na fase pós-quebra do Lehman Brothers. Cai comércio mundial, desabam preços das commodities, PIB do mundo e do Brasil caem. Nesse caso, o Brasil terá de reagir de forma semelhante a 2008. Semelhante, frise-se, não igual. Teremos de usar dinheiro das reservas para financiar exportações e comprar recebíveis, reduzir compulsórios se houver empoçamento de liquidez nos bancos. Podemos usar melhor o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para evitar prejuízos. Ainda assim haverá desaceleração mais forte. Em um caso desses, seria preciso baixar a taxa de juros. Mas não é preciso fazer isso no pressuposto de que pode acontecer. Tem de fazer se acontecer.
O sr. acredita que acontece?
O meu cenário base é o de que isso provavelmente não ocorre, apesar do impasse político da Europa. A história recente joga a favor de a Europa ter racionalidade. Pessoas influentes na região sabem que deixar a situação atual convergir para uma crise bancária dispara um fenômeno à la Lehman Brothers.
E a China?
Não adianta dizer que a China vai salvar o mundo porque é um país que está neste globo, não em Marte ou em Vênus. Se EUA e Europa desaceleram, a China desacelera, por mais que a gente ache que a China é um fenômeno inexplicável. Em resumo, desacelera todo mundo e desacelera o Brasil. Com isso, há uma força desinflacionária aqui. Tudo o mais constante, a primeira providência será o Banco Central interromper a alta dos juros e ficar em compasso de espera. Se tiver de baixar, baixa. Independentemente da velocidade que baixe, quando o mercado perceber que entrou em um ciclo de queda, a curva de juros já inclina negativamente, de forma que o BC não pode e não deve ser precipitado nessa redução. Deve ir com cautela. Digo isso explicitamente para não dizerem que estou defendendo redução amanhã. Como, aliás, um bando de gente tem feito.
Qual seria o efeito no Brasil de um eventual QE3?
Um QE3 levaria a uma nova rodada de enfraquecimento do dólar e, como as commodities globais estão correlacionadas com a moeda americana, os preços de commodities subiriam. É claro que há duas forças contraditórias aqui, pois há a desaceleração do mundo. Ao se colocar as duas coisas juntas, não se sabe direito para onde vai (o preço).
Como deve reagir o governo?
Nesse cenário, por que eu defendo que uma reação do governo se dê no campo monetário, e não no fiscal? Em primeiro lugar, porque o campo fiscal já está suficientemente desarrumado. E ficou provado no mundo que a tal reação keynesiana, que muitos economistas têm defendido também no Brasil, provocou tudo isso que estamos vendo nos EUA e na Europa. (John Maynard) Keynes (considerado o mais importante economista do século 20) nunca escreveu que essas políticas levariam ao aumento da dívida pública. Ele nunca prestou atenção a esse fato. O mundo provou depois que déficits aumentam a dívida.
Em se confirmando esse cenário, o Brasil vai crescer menos. Só que o governo brasileiro tem a meta de crescer 4,5% ao ano. Não dá para cumprir essa meta nos próximos anos?
Não vou dizer que vai ou não vai, porque lá pelas tantas a Europa pode resolver seu problema. Mas, no quadro que vejo hoje da economia mundial, o Brasil vai crescer menos. E o governo vai ter de se dobrar à realidade. Não há o que fazer. Se tentar escapar disso, vai gerar desequilíbrios. Ou na conta corrente ou na inflação ou no endividamento. De alguma forma, será algo que trará custos mais adiante.
O governo brasileiro terá de se dobrar à realidade, diz ex-BC
Leandro Modé
O Estado de S. Paulo, 13 de agosto de 2011
Segundo Affonso Celso Pastore, se o País tentar garantir a meta de crescimento em meio à crise global, corre o risco de causar desequilíbrios, com alta da inflação ou endividamento
SÃO PAULO - O ex-presidente do Banco Central (BC) Affonso Celso Pastore mal conseguiu dormir nas noites que se seguiram ao rebaixamento da nota de crédito do governo dos EUA. A perda de sono resultou não apenas das preocupações com a piora do cenário global após a decisão da agência Standard & Poor’s, mas, principalmente, da dedicação para entender a complexa conjuntura global. Em momentos como o atual, consultores econômicos como ele são demandados como nunca pelos clientes.
Por mais complicada que seja a situação, eles precisam dar respostas que ajudarão bancos, empresas e até mesmo pessoas físicas a embasar decisões que movimentam cifras enormes. Ainda de olhos vermelhos, fruto das noites quase em claro, Pastore conversou com o Estado em seu escritório, na zona oeste de São Paulo, na tarde de quinta-feira. "Essa foi a primeira das últimas noites em que realmente dormi bem, de tão cansado que estava."
Para Pastore, o que ocorre hoje é parte da crise iniciada em 2008. E o cenário básico traçado por ele não é dos mais animadores, inclusive para o Brasil. "No quadro que vejo hoje da economia mundial, o Brasil vai crescer menos. E o governo vai ter de se dobrar à realidade. Não há o que fazer. Se tentar escapar disso, vai gerar desequilíbrios", afirmou. A seguir, os principais trechos da entrevista.
O que significa a diminuição da nota dos EUA para a economia global?
O rebaixamento da nota dos EUA é um episódio menor. Se só ele tivesse ocorrido, o dólar teria se desvalorizado e teria havido uma subida da taxa de juros americana. Só que ocorreu o contrário. Ou seja, há algo mais. No caso, a Europa, cuja percepção de risco cresceu mais que a americana. Para ter um entendimento completo disso, é preciso olhar para duas crises paralelas. A dos EUA, que já vem de algum tempo, mostra que a capacidade de o país crescer é muito menor do que o mercado pensava.
Por quê?
A crise de 2008 - esta, aliás, é a continuidade daquela - produziu uma destruição de riqueza que nunca aconteceu. Quando a riqueza cresceu durante a bolha, as famílias se endividaram gastando renda futura. Em outras palavras, o grau da alavancagem atingiu níveis sem precedentes - 130% da renda disponível. O estouro da bolha e a crise de 2008 fizeram a riqueza das famílias voltar ao nível em que estava antes de a bolha se formar. Só que o grau de endividamento ficou muito mais alto. Significa que é preciso poupar para pagar as dívidas. É o chamado processo de desalavancagem. (Kenneth) Rogoff, ex-economista-chefe do FMI, chamou a atenção para isso, ao falar em grande contração, e não grande recessão. O erro das pessoas foi achar que se tratava de uma recessão como as passadas.
E quando elas se deram conta de que não era?
Houve três episódios que fizeram essa percepção aumentar. O primeiro foi quando Obama teve de negociar o limite da dívida dos EUA. Ficou patente que ele perdeu o grau de liberdade na execução da política fiscal. O segundo ponto foi o fim do QE2 (quantitative easing, na sigla em inglês, que na prática significa injeção de dinheiro na economia por meio do banco central). Na sequência desses dois episódios, veio a revisão dos dados do Produto Interno Bruto (PIB), que mostrou que a recuperação havia sido muito frágil. A rigor, o PIB dos EUA ainda não voltou ao nível pré-crise. Se não houvesse a questão da Europa, isso deveria ter produzido uma mudança nos preços das ações, que deveriam ter caído.
E a Europa?
A crise europeia é, ao mesmo tempo, uma crise de dívida soberana e um potencial de crise bancária. As duas coisas sempre vêm juntas, como mostra um livro de Rogoff e Carmen Reinhart (Oito Séculos de Delírio Financeiro: Desta Vez é Diferente). Há vários tipos de contágio envolvidos. Há países insolventes, como Grécia, Irlanda e talvez Portugal, e países com dívidas grandes, casos de Espanha e Itália, que começaram a receber contágio dos menores. Segundo Rogoff, esse tipo de crise se resolve de três formas: ou se faz uma reestruturação ordenada das dívidas, ou se tem inflação ou acaba em default (calote).
Em qual dessas três possibilidades o sr. acredita?
Os europeus terão de ir para a reestruturação, que será custosa para os países, que terão de absorver os prejuízos dos bancos quando houver o corte das dívidas. E a Europa terá de ter cabeça fria para conseguir condição política de fazer isso.
Já há quem fale em uma década perdida para as economias desenvolvidas.
A analogia aqui é com o Japão. Houve uma desalavancagem das empresas japonesas, não das famílias, como nos EUA de hoje. Há um livro magistral sobre isso (The Holy Grail of Macroeconomics), escrito por Richard Koo, que mostra o seguinte: quando o Japão foi para taxa de juros nula, não conseguiu fazer a economia crescer porque o melhor uso que as empresas podiam ter era pagar dívida. As empresas nos EUA não estão endividadas, o que tem enganado gestores de fundos. O ponto, tanto nos EUA quanto na Europa, é que as pessoas não consomem. É preciso, portanto, desalavancar as famílias. Esse processo é longo. Pode levar uma década para acertar isso.
Estamos a caminho de uma segunda recessão, o que chamam de double dip?
É possível, sem dúvida, de várias formas. A primeira é a seguinte: os EUA não crescem. Em sua última decisão, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) se comprometeu a não mexer no juro básico até 2013. Mas há sinais que pode fazer um QE3. Como o quantitative easing potencialmente produz estímulo de demanda? Há dois canais. O primeiro é gerar um efeito riqueza. Me parece que, hoje, esse efeito é muito pequeno, se é que vai ter. O QE2, por exemplo, não mexeu em um único cent nos preços das casas. O segundo canal de transmissão se dá por meio da desvalorização do dólar (que favorece as exportações americanas e, por tabela, o crescimento econômico). O problema é que o mundo está ficando irritado com a depreciação do dólar. Os países sentem que voltou um comportamento que, no século 19, chamava ‘beggar thy neighbour’, que é a depreciação competitiva da moeda para ganhar mercado do outro.
Mas há reações no mundo.
Sim, hoje, há reações em vários lugares, inclusive no Brasil - ainda que, por aqui, de forma meio atabalhoada. Não quero dizer que o mundo sairá do regime de câmbio flutuante, mas cito um exemplo usando dois países, a Austrália e a China. Os australianos nunca intervêm no câmbio, enquanto os chineses adotam câmbio fixo. Se o Fed anunciar um QE3, é uma nova força para enfraquecer o dólar. Se o mundo se comportar como a Austrália, os EUA atingem o que desejam (aumentar suas exportações). Mas, se reagir como a China, os EUA não conseguem desvalorizar sua moeda. No limite, nesse cenário, poderá haver estagflação (estagnação com inflação) nos EUA. Acho que o mundo não caminhará para nenhum dos extremos - nem Austrália nem China.
E o Brasil?
Deve olhar isso tudo com muita cautela. Pode acontecer no mundo uma coisa extrema. Se houver a solução crítica, desordenada, será reproduzido, em tese, o que houve na fase pós-quebra do Lehman Brothers. Cai comércio mundial, desabam preços das commodities, PIB do mundo e do Brasil caem. Nesse caso, o Brasil terá de reagir de forma semelhante a 2008. Semelhante, frise-se, não igual. Teremos de usar dinheiro das reservas para financiar exportações e comprar recebíveis, reduzir compulsórios se houver empoçamento de liquidez nos bancos. Podemos usar melhor o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para evitar prejuízos. Ainda assim haverá desaceleração mais forte. Em um caso desses, seria preciso baixar a taxa de juros. Mas não é preciso fazer isso no pressuposto de que pode acontecer. Tem de fazer se acontecer.
O sr. acredita que acontece?
O meu cenário base é o de que isso provavelmente não ocorre, apesar do impasse político da Europa. A história recente joga a favor de a Europa ter racionalidade. Pessoas influentes na região sabem que deixar a situação atual convergir para uma crise bancária dispara um fenômeno à la Lehman Brothers.
E a China?
Não adianta dizer que a China vai salvar o mundo porque é um país que está neste globo, não em Marte ou em Vênus. Se EUA e Europa desaceleram, a China desacelera, por mais que a gente ache que a China é um fenômeno inexplicável. Em resumo, desacelera todo mundo e desacelera o Brasil. Com isso, há uma força desinflacionária aqui. Tudo o mais constante, a primeira providência será o Banco Central interromper a alta dos juros e ficar em compasso de espera. Se tiver de baixar, baixa. Independentemente da velocidade que baixe, quando o mercado perceber que entrou em um ciclo de queda, a curva de juros já inclina negativamente, de forma que o BC não pode e não deve ser precipitado nessa redução. Deve ir com cautela. Digo isso explicitamente para não dizerem que estou defendendo redução amanhã. Como, aliás, um bando de gente tem feito.
Qual seria o efeito no Brasil de um eventual QE3?
Um QE3 levaria a uma nova rodada de enfraquecimento do dólar e, como as commodities globais estão correlacionadas com a moeda americana, os preços de commodities subiriam. É claro que há duas forças contraditórias aqui, pois há a desaceleração do mundo. Ao se colocar as duas coisas juntas, não se sabe direito para onde vai (o preço).
Como deve reagir o governo?
Nesse cenário, por que eu defendo que uma reação do governo se dê no campo monetário, e não no fiscal? Em primeiro lugar, porque o campo fiscal já está suficientemente desarrumado. E ficou provado no mundo que a tal reação keynesiana, que muitos economistas têm defendido também no Brasil, provocou tudo isso que estamos vendo nos EUA e na Europa. (John Maynard) Keynes (considerado o mais importante economista do século 20) nunca escreveu que essas políticas levariam ao aumento da dívida pública. Ele nunca prestou atenção a esse fato. O mundo provou depois que déficits aumentam a dívida.
Em se confirmando esse cenário, o Brasil vai crescer menos. Só que o governo brasileiro tem a meta de crescer 4,5% ao ano. Não dá para cumprir essa meta nos próximos anos?
Não vou dizer que vai ou não vai, porque lá pelas tantas a Europa pode resolver seu problema. Mas, no quadro que vejo hoje da economia mundial, o Brasil vai crescer menos. E o governo vai ter de se dobrar à realidade. Não há o que fazer. Se tentar escapar disso, vai gerar desequilíbrios. Ou na conta corrente ou na inflação ou no endividamento. De alguma forma, será algo que trará custos mais adiante.
O Brasil como ditadura monocratica decidida por um juiz: censura ao Estadao
Abaixo, um editorial que dispensa qualquer comentário.
O Brasil não é um país normal no plano econômico. Do contrário, o governo não deixaria prevalecer essa mentira diária do "seis vezes", ou "dez vezes sem juros".
Mas ele tampouco é um país normal no plano jurídico-político. Do contrário, os tribunais superiores (inferiores seria mais correto) não deixariam prevalecer a censura de imprensa e o não julgamento de mérito de uma ditadura monocrática de um juiz sabujo a serviço de oligarcas.
Paulo Roberto de Almeida
Anos de silêncio
Editorial Gazeta do Povo
Curitiba, 14 de agosto de 2011
Justiça que tarda certamente falha. Desde 31 de julho de 2009, o jornal O Estado de S.Paulo está proibido, por meio de liminar, de publicar notícias baseadas nas investigações da Polícia Federal sobre ilícitos praticados pelo empresário maranhense Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney. As apurações da operação chamada antes Boi Barrica, depois Faktor, levaram ao indiciamento do empresário por lavagem de dinheiro, tráfico de influência, formação de quadrilha e falsidade ideológica. E lá se vão dois anos desde que o Estadão foi silenciado.
A decisão de amordaçar o jornal foi tomada pelo desembargador do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) Dácio Vieira, amigo da família Sarney. E é essa decisão que se mantém até hoje, apesar de ter sido tomada de forma monocrática (proferida por um único magistrado) e em antecipação de tutela (antecipação parcial ou total dos efeitos de uma futura decisão). Esse fato causa estranheza, já que os argumentos apresentados pela família Sarney carecem da chamada “fumaça do bom direito”, requisito exigido para que a liminar fosse concedida. Pior: a decisão de Vieira mantém-se até hoje, apesar de ele ter sido considerado suspeito para julgar e ter sido excluído do caso, tendo perdido a relatoria do processo.
O caso está parado no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Há 14 meses, espera-se que o ministro do STJ Benedito Gonçalves decida qual o foro adequado para o processo: a Justiça do Maranhão ou a instância equivalente no Distrito Federal. Enquanto isso, a tal liminar de Vieira permanece de pé e um julgamento de mérito da questão parece estar longe de acontecer. E enquanto não se decide o mérito, perpetua-se a injustiça, principalmente, quando está a se tratar de valores tão sensíveis e caros à democracia.
No episódio Estadão, claramente, não está a se tratar da intimidade e da honra de pessoas anônimas e sobre fatos que não dizem respeito a toda coletividade. Pelo contrário. Está a se falar de informações de interesse público. Pessoas públicas. Dados colhidos em investigações da Polícia Federal. E essas informações, indiscutivelmente, a sociedade tem o inviolável direito de conhecer. A proteção da privacidade limita-se à vida particular do cidadão. Não vale quando se está em jogo ato de interesse público ou em prejuízo do que é público.
A proteção do sigilo de Justiça, diriam alguns, poderia justificar a proibição feita ao Estadão. É importante lembrar, porém, que o sigilo é da Justiça, não da imprensa. À imprensa não pode ser imposto o papel de guardar sigilos que não são seus. A imprensa é essencial à sociedade e à democracia justamente porque, sendo independente, pode descobrir o que é guardado a sete chaves pelo poder público. E é por isso que ela é capaz de fiscalizar o poder. De que serviria a imprensa se ela não pudesse revelar segredos de interesse público?
Quando o segredo de Justiça oculta dados de flagrante interesse público, a imprensa tem, sim, o dever de desvendá-lo, usando, é claro, meios lícitos. E ao desvendá-los, deve avaliar a pertinência dessa publicação. A imprensa certamente não cumpriria o seu papel se optasse por fingir que não viu o que interessa a toda a população, mantendo-a na mais completa ignorância.
O que se está a proteger, então, ao impedir a divulgação dessas informações? A quem interessa? Aos quatro ventos todos cantam a importância da liberdade de imprensa. Um valor, certamente, caro à democracia. Mas um valor que, na prática, é difícil de se efetivar. Ou pelo menos difícil de se efetivar quando estão em jogo interesses poderosos. Interesses que parecem se sobrepor ao interesse maior: o público. A verdade é que todos são muito liberais, a não ser quando a liberdade contraria o seu interesse particular.
A proibição imposta ao Estadão há dois anos não está a prejudicar apenas aquele veículo. Macula a liberdade de imprensa país afora. É por isso que a Gazeta do Povo é solidária. Não apenas ao jornal O Estado de S.Paulo, mas principalmente a todos os cidadãos que estão desprovidos das informações as quais aquele jornal foi impedido de divulgar. São os leitores os maiores prejudicados. E é a esses que somos solidários. Ao proteger a honra e a intimidade de Fernando Sarney, sobrou aos brasileiros a violação ao seu direito de serem informados. Ficaram sem notícias sobre como o filho do presidente do Senado, ao se aproveitar do poder e influência do pai, tornou-se caso de polícia.
O Brasil não é um país normal no plano econômico. Do contrário, o governo não deixaria prevalecer essa mentira diária do "seis vezes", ou "dez vezes sem juros".
Mas ele tampouco é um país normal no plano jurídico-político. Do contrário, os tribunais superiores (inferiores seria mais correto) não deixariam prevalecer a censura de imprensa e o não julgamento de mérito de uma ditadura monocrática de um juiz sabujo a serviço de oligarcas.
Paulo Roberto de Almeida
Anos de silêncio
Editorial Gazeta do Povo
Curitiba, 14 de agosto de 2011
Justiça que tarda certamente falha. Desde 31 de julho de 2009, o jornal O Estado de S.Paulo está proibido, por meio de liminar, de publicar notícias baseadas nas investigações da Polícia Federal sobre ilícitos praticados pelo empresário maranhense Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney. As apurações da operação chamada antes Boi Barrica, depois Faktor, levaram ao indiciamento do empresário por lavagem de dinheiro, tráfico de influência, formação de quadrilha e falsidade ideológica. E lá se vão dois anos desde que o Estadão foi silenciado.
A decisão de amordaçar o jornal foi tomada pelo desembargador do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) Dácio Vieira, amigo da família Sarney. E é essa decisão que se mantém até hoje, apesar de ter sido tomada de forma monocrática (proferida por um único magistrado) e em antecipação de tutela (antecipação parcial ou total dos efeitos de uma futura decisão). Esse fato causa estranheza, já que os argumentos apresentados pela família Sarney carecem da chamada “fumaça do bom direito”, requisito exigido para que a liminar fosse concedida. Pior: a decisão de Vieira mantém-se até hoje, apesar de ele ter sido considerado suspeito para julgar e ter sido excluído do caso, tendo perdido a relatoria do processo.
O caso está parado no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Há 14 meses, espera-se que o ministro do STJ Benedito Gonçalves decida qual o foro adequado para o processo: a Justiça do Maranhão ou a instância equivalente no Distrito Federal. Enquanto isso, a tal liminar de Vieira permanece de pé e um julgamento de mérito da questão parece estar longe de acontecer. E enquanto não se decide o mérito, perpetua-se a injustiça, principalmente, quando está a se tratar de valores tão sensíveis e caros à democracia.
No episódio Estadão, claramente, não está a se tratar da intimidade e da honra de pessoas anônimas e sobre fatos que não dizem respeito a toda coletividade. Pelo contrário. Está a se falar de informações de interesse público. Pessoas públicas. Dados colhidos em investigações da Polícia Federal. E essas informações, indiscutivelmente, a sociedade tem o inviolável direito de conhecer. A proteção da privacidade limita-se à vida particular do cidadão. Não vale quando se está em jogo ato de interesse público ou em prejuízo do que é público.
A proteção do sigilo de Justiça, diriam alguns, poderia justificar a proibição feita ao Estadão. É importante lembrar, porém, que o sigilo é da Justiça, não da imprensa. À imprensa não pode ser imposto o papel de guardar sigilos que não são seus. A imprensa é essencial à sociedade e à democracia justamente porque, sendo independente, pode descobrir o que é guardado a sete chaves pelo poder público. E é por isso que ela é capaz de fiscalizar o poder. De que serviria a imprensa se ela não pudesse revelar segredos de interesse público?
Quando o segredo de Justiça oculta dados de flagrante interesse público, a imprensa tem, sim, o dever de desvendá-lo, usando, é claro, meios lícitos. E ao desvendá-los, deve avaliar a pertinência dessa publicação. A imprensa certamente não cumpriria o seu papel se optasse por fingir que não viu o que interessa a toda a população, mantendo-a na mais completa ignorância.
O que se está a proteger, então, ao impedir a divulgação dessas informações? A quem interessa? Aos quatro ventos todos cantam a importância da liberdade de imprensa. Um valor, certamente, caro à democracia. Mas um valor que, na prática, é difícil de se efetivar. Ou pelo menos difícil de se efetivar quando estão em jogo interesses poderosos. Interesses que parecem se sobrepor ao interesse maior: o público. A verdade é que todos são muito liberais, a não ser quando a liberdade contraria o seu interesse particular.
A proibição imposta ao Estadão há dois anos não está a prejudicar apenas aquele veículo. Macula a liberdade de imprensa país afora. É por isso que a Gazeta do Povo é solidária. Não apenas ao jornal O Estado de S.Paulo, mas principalmente a todos os cidadãos que estão desprovidos das informações as quais aquele jornal foi impedido de divulgar. São os leitores os maiores prejudicados. E é a esses que somos solidários. Ao proteger a honra e a intimidade de Fernando Sarney, sobrou aos brasileiros a violação ao seu direito de serem informados. Ficaram sem notícias sobre como o filho do presidente do Senado, ao se aproveitar do poder e influência do pai, tornou-se caso de polícia.
Atencao senhores bandidos (ou candidatos a...): a Policia Federal continuara algemando...
Não me refiro a bandidos pés-de-chinelos, pois destes ninguém se ocupa, como soe acontecer. Mas aos bandidos de colarinho branco, que possuem poderosos protetores (talvez candidatos a...).
Por vezes me assalta uma dúvida: e se, no Brasil, os bandidos de colarinho branco, desses que não gostam de ser algemados, fossem em maior número, infinitamente maior, do que os bandidos pés-de-chinelos?
Pois é: neste caso, a PF iria precisar de um reforço orçamentário para comprar mais algemas. Considero que seu uso é não apenas necessário, mas útil: elas possuem valor didático-pedagógico. Sem elas, esses presos de colarinho branco ficam se sentindo poderosos.
Nós, simples mortais, temos o direito de vê-los humilhados um pouquinho, nem que seja por poucas horas, até que um juiz complacente os liberte mediante pedidos de habeas-corpus por brilhantes advogados que eles estão pagando com o dinheiro que roubaram de todos nós.
Apoio totalmente o uso de algemas, e seria até capaz de recomendar um cascudos regulamentares no momento da prisão, como se faz aliás com bandidos pés-de-chinelo.
Afinal de contas, temos de democratizar a justiça no Brasil.
Paulo Roberto de Almeida
Nota de Esclarecimento: atuação da Polícia Federal no Brasil
13 de agosto de 2011
A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal reagiu com veemência às declarações de várias autoridades e políticos, entre eles o ex-presidente Lula, condenando a atuação da PF na prisão de quase 40 integrantes do Ministério do Turismo. Ao invés de condenarem o 'assalto' aos cofres públicos, a preocupação dos reclamantes está focada na imagem dos agemtes públicos que enriquecem às custas dos impostos pagos pelos cidadãos. É o seguinte o teor da Nota ao Público expedida pela ANDPF:
A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal vem a público esclarecer que, após ser preso, qualquer criminoso tem como primeira providência tentar desqualificar o trabalho policial.
Quando ele não pode fazê-lo pessoalmente, seus amigos ou padrinhos assumem a tarefa em seu lugar.
A entidade lamenta que no Brasil, a corrupção tenha atingido níveis inimagináveis; altos executivos do governo, quando não são presos por ordem judicial, são demitidos por envolvimento em falcatruas.
Milhões de reais - dinheiro pertencente ao povo - são desviados diariamente por aproveitadores travestidos de autoridades. E quando esses indivíduos são presos, por ordem judicial, os padrinhos vêm a publico e se dizem “ estarrecidos com a violência da operação da Polícia Federal”. Isto é apenas o início de uma estratégia usada por essas pessoas com o objetivo de desqualificar a correta atuação da polícia. Quando se prende um político ou alguém por ele protegido, é como mexer num vespeiro.
A providência logo adotada visa desviar o foco das investigações e investir contra o trabalho policial. Em tempos recentes, esse método deu tão certo que todo um trabalho investigatório foi anulado. Agora, a tática volta ao cenário.
Há de chegar o dia em que a história será contada em seus precisos tempos.
De repente, o uso de algemas em criminosos passa a ser um delito muito maior que o desvio de milhões de reais dos cofres públicos.
A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal colocará todo o seu empenho para esclarecer o povo brasileiro o que realmente se pretende com tais acusações ao trabalho policial e o que está por trás de toda essa tentativa de desqualificação da atuação da Polícia Federal.
A decisão sobre se um preso deve ser conduzido algemado ou não é tomada pelo policial que o prende e não por quem desfruta do conforto e das mordomias dos gabinetes climatizados de Brasília.
É uma pena que aqueles que se dizem “estarrecidos” com a “violência pelo uso de algemas” não tenham o mesmo sentimento diante dos escândalos que acontecem diariamente no país, que fazem evaporar bilhões de reais dos cofres da nação, deixando milhares de pessoas na miséria, inclusive condenando-as a morte.
No Ministério dos Transportes, toda a cúpula foi afastada. Logo em seguida, estourou o escândalo na Conab e no próprio Ministério da Agricultura. Em decorrência das investigações no Ministério do Turismo, a Justiça Federal determinou a prisão de 38 pessoas de uma só tacada.
Mas a preocupação oficial é com o uso de algemas. Em todos os países do mundo, a doutrina policial ensina que todo preso deve ser conduzido algemado, porque a algema é um instrumento de proteção ao preso e ao policial que o prende.
Quanto às provas da culpabilidade dos envolvidos, cabe esclarecer que serão apresentadas no momento oportuno ao Juiz encarregado do feito, e somente a ele e a mais ninguém. Não cabe à Polícia exibir provas pela imprensa.
A ADPF aproveita para reproduzir o que disse o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos: “a Polícia Federal é republicana e não pertence ao governo nem a partidos políticos”.
Brasília, 12 de agosto de 2011
Bolivar Steinmetz
Vice-presidente, no exercício da presidência
Por vezes me assalta uma dúvida: e se, no Brasil, os bandidos de colarinho branco, desses que não gostam de ser algemados, fossem em maior número, infinitamente maior, do que os bandidos pés-de-chinelos?
Pois é: neste caso, a PF iria precisar de um reforço orçamentário para comprar mais algemas. Considero que seu uso é não apenas necessário, mas útil: elas possuem valor didático-pedagógico. Sem elas, esses presos de colarinho branco ficam se sentindo poderosos.
Nós, simples mortais, temos o direito de vê-los humilhados um pouquinho, nem que seja por poucas horas, até que um juiz complacente os liberte mediante pedidos de habeas-corpus por brilhantes advogados que eles estão pagando com o dinheiro que roubaram de todos nós.
Apoio totalmente o uso de algemas, e seria até capaz de recomendar um cascudos regulamentares no momento da prisão, como se faz aliás com bandidos pés-de-chinelo.
Afinal de contas, temos de democratizar a justiça no Brasil.
Paulo Roberto de Almeida
Nota de Esclarecimento: atuação da Polícia Federal no Brasil
13 de agosto de 2011
A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal reagiu com veemência às declarações de várias autoridades e políticos, entre eles o ex-presidente Lula, condenando a atuação da PF na prisão de quase 40 integrantes do Ministério do Turismo. Ao invés de condenarem o 'assalto' aos cofres públicos, a preocupação dos reclamantes está focada na imagem dos agemtes públicos que enriquecem às custas dos impostos pagos pelos cidadãos. É o seguinte o teor da Nota ao Público expedida pela ANDPF:
A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal vem a público esclarecer que, após ser preso, qualquer criminoso tem como primeira providência tentar desqualificar o trabalho policial.
Quando ele não pode fazê-lo pessoalmente, seus amigos ou padrinhos assumem a tarefa em seu lugar.
A entidade lamenta que no Brasil, a corrupção tenha atingido níveis inimagináveis; altos executivos do governo, quando não são presos por ordem judicial, são demitidos por envolvimento em falcatruas.
Milhões de reais - dinheiro pertencente ao povo - são desviados diariamente por aproveitadores travestidos de autoridades. E quando esses indivíduos são presos, por ordem judicial, os padrinhos vêm a publico e se dizem “ estarrecidos com a violência da operação da Polícia Federal”. Isto é apenas o início de uma estratégia usada por essas pessoas com o objetivo de desqualificar a correta atuação da polícia. Quando se prende um político ou alguém por ele protegido, é como mexer num vespeiro.
A providência logo adotada visa desviar o foco das investigações e investir contra o trabalho policial. Em tempos recentes, esse método deu tão certo que todo um trabalho investigatório foi anulado. Agora, a tática volta ao cenário.
Há de chegar o dia em que a história será contada em seus precisos tempos.
De repente, o uso de algemas em criminosos passa a ser um delito muito maior que o desvio de milhões de reais dos cofres públicos.
A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal colocará todo o seu empenho para esclarecer o povo brasileiro o que realmente se pretende com tais acusações ao trabalho policial e o que está por trás de toda essa tentativa de desqualificação da atuação da Polícia Federal.
A decisão sobre se um preso deve ser conduzido algemado ou não é tomada pelo policial que o prende e não por quem desfruta do conforto e das mordomias dos gabinetes climatizados de Brasília.
É uma pena que aqueles que se dizem “estarrecidos” com a “violência pelo uso de algemas” não tenham o mesmo sentimento diante dos escândalos que acontecem diariamente no país, que fazem evaporar bilhões de reais dos cofres da nação, deixando milhares de pessoas na miséria, inclusive condenando-as a morte.
No Ministério dos Transportes, toda a cúpula foi afastada. Logo em seguida, estourou o escândalo na Conab e no próprio Ministério da Agricultura. Em decorrência das investigações no Ministério do Turismo, a Justiça Federal determinou a prisão de 38 pessoas de uma só tacada.
Mas a preocupação oficial é com o uso de algemas. Em todos os países do mundo, a doutrina policial ensina que todo preso deve ser conduzido algemado, porque a algema é um instrumento de proteção ao preso e ao policial que o prende.
Quanto às provas da culpabilidade dos envolvidos, cabe esclarecer que serão apresentadas no momento oportuno ao Juiz encarregado do feito, e somente a ele e a mais ninguém. Não cabe à Polícia exibir provas pela imprensa.
A ADPF aproveita para reproduzir o que disse o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos: “a Polícia Federal é republicana e não pertence ao governo nem a partidos políticos”.
Brasília, 12 de agosto de 2011
Bolivar Steinmetz
Vice-presidente, no exercício da presidência
Minitratado do Inusitado - Paulo Roberto de Almeida
Minitratado do Inusitado
Paulo Roberto de Almeida
(ver toda a série neste link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/04/minitratados-um-exercicio-ludico.html)
O que é o inusitado? Como diz o próprio conceito, trata-se de algo fora do normal, além do padrão costumeiro das coisas, que só ocorre de forma imprevista, em momentos não esperados, como uma surpresa. Diz-se, assim, dos acontecimentos raros, ou mesmo inéditos, que rompem com o processo habitual dos fenômenos correntes, ou de eventos pouco frequentes, que literalmente “caem do céu”, qualquer que seja sua qualidade – boa ou má – e seu impacto circunstancial. Sendo inusitado, sempre haverá um impacto, temporário ou permanente em função de sua intensidade.
Nos assuntos humanos, o inusitado pode assumir diferentes formas, todas elas, ou quase todas, provenientes de fontes externas (uma vez que ninguém “planeja” o inusitado). Quase sempre, é um evento independente, ou alguém, que produz o efeito inusitado na vida de outro alguém, que é então tomado de surpresa, como deve ser, para receber a classificação de inesperado, ou inusitado, justamente. O inusitado deve ser contrastado com a normalidade das coisas, com o ritmo habitual – frequentemente aborrecido – com que a vida se desenrola, vindo então romper a monotonia do cotidiano, causando surpresa, admiração, no mais das vezes contentamento, em alguns casos surpresas desagradáveis.
Como não se pretende num minitratado como este falar das tragédias e infelicidades humanos, fiquemos com o inusitado agradável, aqueles que nos promete melhores dias, uma vida mais feliz, uma mudança para melhor. Claro, todos esperam ter um aumento de salário, ganhar na loteria, ter mais possibilidades de mudar para uma vida mais atraente, livre das preocupações habituais com dinheiro, trabalho ou amor. Por que não provocar, então, o seu “próprio” inusitado? Porque isso é geralmente impossível no domínio das possibilidades humanas: todas as pessoas normais – pelo menos as mais “racionais” – são movidas por aquele princípio que os economistas chamam de maximização do bem-estar, mais corriqueiramente pela busca da satisfação pessoal, ou o aumento do prazer, segundo os freudianos. Advém daí que essas pessoas, dotadas de expectativas racionais, pretendem construir o seu futuro de bem-estar maximizado – se possível imediatamente – de maneira convencional, atuando sobre os meios e ferramentas à disposição, e nisso não existe nenhum caráter de inusitado em todo o empreendimento.
O inusitado surge, de fato, de forma totalmente inesperada: um acontecimento político, ou econômico, que altera fundamentalmente as regras do jogo – e cria novas oportunidades para as habilidades de quem é “atingido” pelo inesperado; o aparecimento de novos personagens no cenário habitual de nosso cotidiano, despertando novas sensações ou sentimentos há muito julgados “aposentados”; a oferta surpreendente de novas possibilidades de atuação profissional – acadêmica ou de mercado – que mobilizam nossas vantagens comparativas naturais (ou adquiridas); enfim, todo e qualquer evento fortuito que constitua uma boa surpresa, que altera o itinerário usual de nossas vidas, merece essa alcunha de inusitado; se não fosse assim, não seria “o” inusitado, e sim as pequenas surpresas da vida. Todo mundo tem “direito” a pequenas surpresas ao longo da vida, um pequeno número, contudo, recebe a grata surpresa de um verdadeiro inusitado, sempre saudado com prazer e sorrisos.
Pensando bem, nem mesmo ganhar na loteria constitui um inusitado na acepção própria da palavra, uma vez que o jogador buscou aquilo conscientemente, de forma otimisticamente sonhadora, mas ainda assim planejada, e situada no terreno das possibilidades (ainda que com uma única chance em vários milhões de “azares”). Jogar na loteria é especular com a sorte, uma atividade que os especuladores profissionais conduzem todos os dias nas bolsas de valores e nos mercados de futuros, com maiores e melhores chances de ganhar do que amadores, como somos todos nós. O inusitado merece esse nome porque ocorre justamente quando não estamos especulando com nada, muito menos tentando fazer com que ele ocorra.
Ele se dá numa aparição repentina, num olhar trocado, num piscar de olhos, num sorriso disfarçado, até mesmo numa busca ao acaso na internet (o Google pode ter milhões de inusitados inesperados, que só aparecem quando desdobramos alguns dos seus milhões de itens que aparecem em qualquer busca inocente). Muito do que acontece em nossas vidas tem correlações causais, e mecanismos indutivos que fazem com que certos eventos sejam de fato determinísticos, ou pelo menos possíveis dentro do terreno das combinações da causa e efeito normalmente existentes em algum processo qualquer (trabalho, política, economia, ganhos materiais, etc.). Só o inesperado corresponde a uma química misteriosa – como aquela do amor – que responde a “leis” desconhecidas para nós, uma combinação de moléculas não captada no reino de nossa imaginação, uma sensação diferente que invade nosso ser, inebria nosso pensamento e nos destaca, pelo menos durante algum tempo, deste mundo terreno que é o nosso de todos os dias.
A única coisa a ser feita, nesses casos, é abrir-se ao inusitado, e não planejar mais nada, pela próxima meia hora, ou mais. Como diria um general famoso:
On s’engage, et puis on voit...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 14 de agosto de 2011
(sem revisão, so far...)
Paulo Roberto de Almeida
(ver toda a série neste link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/04/minitratados-um-exercicio-ludico.html)
O que é o inusitado? Como diz o próprio conceito, trata-se de algo fora do normal, além do padrão costumeiro das coisas, que só ocorre de forma imprevista, em momentos não esperados, como uma surpresa. Diz-se, assim, dos acontecimentos raros, ou mesmo inéditos, que rompem com o processo habitual dos fenômenos correntes, ou de eventos pouco frequentes, que literalmente “caem do céu”, qualquer que seja sua qualidade – boa ou má – e seu impacto circunstancial. Sendo inusitado, sempre haverá um impacto, temporário ou permanente em função de sua intensidade.
Nos assuntos humanos, o inusitado pode assumir diferentes formas, todas elas, ou quase todas, provenientes de fontes externas (uma vez que ninguém “planeja” o inusitado). Quase sempre, é um evento independente, ou alguém, que produz o efeito inusitado na vida de outro alguém, que é então tomado de surpresa, como deve ser, para receber a classificação de inesperado, ou inusitado, justamente. O inusitado deve ser contrastado com a normalidade das coisas, com o ritmo habitual – frequentemente aborrecido – com que a vida se desenrola, vindo então romper a monotonia do cotidiano, causando surpresa, admiração, no mais das vezes contentamento, em alguns casos surpresas desagradáveis.
Como não se pretende num minitratado como este falar das tragédias e infelicidades humanos, fiquemos com o inusitado agradável, aqueles que nos promete melhores dias, uma vida mais feliz, uma mudança para melhor. Claro, todos esperam ter um aumento de salário, ganhar na loteria, ter mais possibilidades de mudar para uma vida mais atraente, livre das preocupações habituais com dinheiro, trabalho ou amor. Por que não provocar, então, o seu “próprio” inusitado? Porque isso é geralmente impossível no domínio das possibilidades humanas: todas as pessoas normais – pelo menos as mais “racionais” – são movidas por aquele princípio que os economistas chamam de maximização do bem-estar, mais corriqueiramente pela busca da satisfação pessoal, ou o aumento do prazer, segundo os freudianos. Advém daí que essas pessoas, dotadas de expectativas racionais, pretendem construir o seu futuro de bem-estar maximizado – se possível imediatamente – de maneira convencional, atuando sobre os meios e ferramentas à disposição, e nisso não existe nenhum caráter de inusitado em todo o empreendimento.
O inusitado surge, de fato, de forma totalmente inesperada: um acontecimento político, ou econômico, que altera fundamentalmente as regras do jogo – e cria novas oportunidades para as habilidades de quem é “atingido” pelo inesperado; o aparecimento de novos personagens no cenário habitual de nosso cotidiano, despertando novas sensações ou sentimentos há muito julgados “aposentados”; a oferta surpreendente de novas possibilidades de atuação profissional – acadêmica ou de mercado – que mobilizam nossas vantagens comparativas naturais (ou adquiridas); enfim, todo e qualquer evento fortuito que constitua uma boa surpresa, que altera o itinerário usual de nossas vidas, merece essa alcunha de inusitado; se não fosse assim, não seria “o” inusitado, e sim as pequenas surpresas da vida. Todo mundo tem “direito” a pequenas surpresas ao longo da vida, um pequeno número, contudo, recebe a grata surpresa de um verdadeiro inusitado, sempre saudado com prazer e sorrisos.
Pensando bem, nem mesmo ganhar na loteria constitui um inusitado na acepção própria da palavra, uma vez que o jogador buscou aquilo conscientemente, de forma otimisticamente sonhadora, mas ainda assim planejada, e situada no terreno das possibilidades (ainda que com uma única chance em vários milhões de “azares”). Jogar na loteria é especular com a sorte, uma atividade que os especuladores profissionais conduzem todos os dias nas bolsas de valores e nos mercados de futuros, com maiores e melhores chances de ganhar do que amadores, como somos todos nós. O inusitado merece esse nome porque ocorre justamente quando não estamos especulando com nada, muito menos tentando fazer com que ele ocorra.
Ele se dá numa aparição repentina, num olhar trocado, num piscar de olhos, num sorriso disfarçado, até mesmo numa busca ao acaso na internet (o Google pode ter milhões de inusitados inesperados, que só aparecem quando desdobramos alguns dos seus milhões de itens que aparecem em qualquer busca inocente). Muito do que acontece em nossas vidas tem correlações causais, e mecanismos indutivos que fazem com que certos eventos sejam de fato determinísticos, ou pelo menos possíveis dentro do terreno das combinações da causa e efeito normalmente existentes em algum processo qualquer (trabalho, política, economia, ganhos materiais, etc.). Só o inesperado corresponde a uma química misteriosa – como aquela do amor – que responde a “leis” desconhecidas para nós, uma combinação de moléculas não captada no reino de nossa imaginação, uma sensação diferente que invade nosso ser, inebria nosso pensamento e nos destaca, pelo menos durante algum tempo, deste mundo terreno que é o nosso de todos os dias.
A única coisa a ser feita, nesses casos, é abrir-se ao inusitado, e não planejar mais nada, pela próxima meia hora, ou mais. Como diria um general famoso:
On s’engage, et puis on voit...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 14 de agosto de 2011
(sem revisão, so far...)
Esta aumentando o numero de idiotas no mundo?: a proposito do criacionismo (e suas derivacoes catolicas)
Tenho sido alertado, por diversos meios, para o crescimento do número de católicos normais -- com escusas pelo "normais", mas é que podem existir os anormais, também, como em qualquer outro agrupamento humano -- que pregam, como os evangélicos e outras tribos religiosas mais fundamentalistas, o direito de escolas religiosas, neste caso católicas, ensinarem também a versão "criacionista" da criação do mundo e da espécie humana paras as crianças matriculadas nesses estabelecimentos.
Com perdão dos mais sensíveis, já vou classificar esse tipo de iniciativa entre as idiotices que assaltam o mundo, de modo preocupantemente crescente, se ouso dizer.
Com efeito, o besteirol criacionista -- como vêem sequer atribuo a esse ajuntamento de bobagens o estatuto de "versão", sequer de "teoria", o que seria uma ofensa ao pensamento racional e científico -- vem sendo desde muito tempo propagado por seitas religiosas as mais diversas, geralmente vinculadas à vertente reformista, ou protestante, dos cultos cristãos. Começou, provavelmente, com os batistas -- que ensinam a tradição bíblica elementar, e totalmente ingênua -- da criação do mundo e dos homens, depois se espalhou por outras seitas evangélicas, algumas assumindo uma suposta "teoria" do "desenho inteligente" -- que não deixa de ser misticismo igual -- que tenta, como as outras, colocar deus como a origem de todas as coisas.
Enfim, tudo isso tem sua função nas pregações religiosas, que, como se sabe, tentam sempre congregar seus fiéis em torno de preceitos básicos que sempre colocam seu deus no centro de tudo, assegurando com isso a fidelização de pessoas que poderiam, de outro modo, buscar outras explicações para os chamados "mistérios do mundo" (que não são mistérios, obviamente, apenas fenômenos ainda não devassados pela pesquisa científica).
O que era, até pouco tempo atrás, o apanágio de seitas protestantes, unicamente, e que faziam disso um cavalo de batalha em escolas laicas, ou públicas, por querer impor suas crenças num sistema basicamente neutro e infenso às religiões, parece estar contaminando, ultimamente, grupos ou indivíduos católicos igualmente, o que é, além de idiota, preocupante.
A Igreja Católica há muito já se afastou das bobagens geocêntricas que tinham levado a processos memoráveis num passado distante, e mais recentemente ela já se reconciliou com a teoria darwinista, que permanece a base de qualquer estudo científico em matérias biológicas e naturais para qualquer pessoa que pretenda seguir carreira nessas áreas. O processo de laicização e de secularização já avançou bastante em sociedades cristãs do Ocidente, de maneira que as escolas públicas, agora separadas das Igrejas em grande medida, com padrões curriculares obrigatórios ou não, ensinam as teorias científicas sobre o mundo e as sociedades humanas. Escolas religiosas são livres para ter disciplinas ligadas a seus credos, mas se um país formaliza currículos básicos nas áreas científicas, o mais provável é que a ciência tenha precedência, até obrigatória, sobre a religião, nos currículos padronizados que serão objeto de exames e de requerimentos necessários para outras etapas de ensino. A religião é confinada, como é o certo, a seu domínio exclusivo, separado do ensino formal de ciências, de história, de filosofia, etc.
É curioso, portanto, ver católicos empenhados em que o criacionismo seja ensinado nas escolas, ao mesmo título e com a mesma ênfase que as teorias científicas.
Sinto muito, mas só posso classificar essa atitude como retorno à idiotice, que eu pensava estar recuando em função da disseminação do pensamento científico no mundo.
Creio que vou ter de revisar um trabalho anterior sobre o assunto:
Está aumentando o número de idiotas no mundo?
revista Espaço Acadêmico (ano 6, nr. 72, maio de 2007; ISSN: 1519-6186).
Via Política (29.04.2007).
Com perdão dos mais sensíveis, já vou classificar esse tipo de iniciativa entre as idiotices que assaltam o mundo, de modo preocupantemente crescente, se ouso dizer.
Com efeito, o besteirol criacionista -- como vêem sequer atribuo a esse ajuntamento de bobagens o estatuto de "versão", sequer de "teoria", o que seria uma ofensa ao pensamento racional e científico -- vem sendo desde muito tempo propagado por seitas religiosas as mais diversas, geralmente vinculadas à vertente reformista, ou protestante, dos cultos cristãos. Começou, provavelmente, com os batistas -- que ensinam a tradição bíblica elementar, e totalmente ingênua -- da criação do mundo e dos homens, depois se espalhou por outras seitas evangélicas, algumas assumindo uma suposta "teoria" do "desenho inteligente" -- que não deixa de ser misticismo igual -- que tenta, como as outras, colocar deus como a origem de todas as coisas.
Enfim, tudo isso tem sua função nas pregações religiosas, que, como se sabe, tentam sempre congregar seus fiéis em torno de preceitos básicos que sempre colocam seu deus no centro de tudo, assegurando com isso a fidelização de pessoas que poderiam, de outro modo, buscar outras explicações para os chamados "mistérios do mundo" (que não são mistérios, obviamente, apenas fenômenos ainda não devassados pela pesquisa científica).
O que era, até pouco tempo atrás, o apanágio de seitas protestantes, unicamente, e que faziam disso um cavalo de batalha em escolas laicas, ou públicas, por querer impor suas crenças num sistema basicamente neutro e infenso às religiões, parece estar contaminando, ultimamente, grupos ou indivíduos católicos igualmente, o que é, além de idiota, preocupante.
A Igreja Católica há muito já se afastou das bobagens geocêntricas que tinham levado a processos memoráveis num passado distante, e mais recentemente ela já se reconciliou com a teoria darwinista, que permanece a base de qualquer estudo científico em matérias biológicas e naturais para qualquer pessoa que pretenda seguir carreira nessas áreas. O processo de laicização e de secularização já avançou bastante em sociedades cristãs do Ocidente, de maneira que as escolas públicas, agora separadas das Igrejas em grande medida, com padrões curriculares obrigatórios ou não, ensinam as teorias científicas sobre o mundo e as sociedades humanas. Escolas religiosas são livres para ter disciplinas ligadas a seus credos, mas se um país formaliza currículos básicos nas áreas científicas, o mais provável é que a ciência tenha precedência, até obrigatória, sobre a religião, nos currículos padronizados que serão objeto de exames e de requerimentos necessários para outras etapas de ensino. A religião é confinada, como é o certo, a seu domínio exclusivo, separado do ensino formal de ciências, de história, de filosofia, etc.
É curioso, portanto, ver católicos empenhados em que o criacionismo seja ensinado nas escolas, ao mesmo título e com a mesma ênfase que as teorias científicas.
Sinto muito, mas só posso classificar essa atitude como retorno à idiotice, que eu pensava estar recuando em função da disseminação do pensamento científico no mundo.
Creio que vou ter de revisar um trabalho anterior sobre o assunto:
Está aumentando o número de idiotas no mundo?
revista Espaço Acadêmico (ano 6, nr. 72, maio de 2007; ISSN: 1519-6186).
Via Política (29.04.2007).
A revolta das classes medias, everywhere - Tom Friedman, Moises Naim
Dois artigos sobre as manifestações recentes em diversos países:
A Theory of Everything (Sort of)
By THOMAS L. FRIEDMAN
The New York Times, August 13, 2011
LONDON burns. The Arab Spring triggers popular rebellions against autocrats across the Arab world. The Israeli Summer brings 250,000 Israelis into the streets, protesting the lack of affordable housing and the way their country is now dominated by an oligopoly of crony capitalists. From Athens to Barcelona, European town squares are being taken over by young people railing against unemployment and the injustice of yawning income gaps, while the angry Tea Party emerges from nowhere and sets American politics on its head.
There are multiple and different reasons for these explosions, but to the extent they might have a common denominator I think it can be found in one of the slogans of Israel’s middle-class uprising: “We are fighting for an accessible future.” Across the world, a lot of middle- and lower-middle-class people now feel that the “future” is out of their grasp, and they are letting their leaders know it.
Why now? It starts with the fact that globalization and the information technology revolution have gone to a whole new level. Thanks to cloud computing, robotics, 3G wireless connectivity, Skype, Facebook, Google, LinkedIn, Twitter, the iPad, and cheap Internet-enabled smartphones, the world has gone from connected to hyper-connected.
This is the single most important trend in the world today. And it is a critical reason why, to get into the middle class now, you have to study harder, work smarter and adapt quicker than ever before. All this technology and globalization are eliminating more and more “routine” work — the sort of work that once sustained a lot of middle-class lifestyles.
The merger of globalization and I.T. is driving huge productivity gains, especially in recessionary times, where employers are finding it easier, cheaper and more necessary than ever to replace labor with machines, computers, robots and talented foreign workers. It used to be that only cheap foreign manual labor was easily available; now cheap foreign genius is easily available. This explains why corporations are getting richer and middle-skilled workers poorer. Good jobs do exist, but they require more education or technical skills. Unemployment today still remains relatively low for people with college degrees. But to get one of those degrees and to leverage it for a good job requires everyone to raise their game. It’s hard.
Think of what The Times reported last February: At little Grinnell College in rural Iowa, with 1,600 students, “nearly one of every 10 applicants being considered for the class of 2015 is from China.” The article noted that dozens of other American colleges and universities are seeing a similar surge as well. And the article added this fact: Half the “applicants from China this year have perfect scores of 800 on the math portion of the SAT.”
Not only does it take more skill to get a good job, but for those who are unable to raise their games, governments no longer can afford generous welfare support or cheap credit to be used to buy a home for nothing down — which created a lot of manual labor in construction and retail. Alas, for the 50 years after World War II, to be a president, mayor, governor or university president meant, more often than not, giving things away to people. Today, it means taking things away from people.
All of this is happening at a time when this same globalization/I.T. revolution enables the globalization of anger, with all of these demonstrations now inspiring each other. Some Israeli protestors carried a sign: “Walk Like an Egyptian.” While these social protests — and their flash-mob, criminal mutations like those in London — are not caused by new technologies per se, they are fueled by them.
This globalization/I.T. revolution is also “super-empowering” individuals, enabling them to challenge hierarchies and traditional authority figures — from business to science to government. It is also enabling the creation of powerful minorities and making governing harder and minority rule easier than ever. See dictionary for: “Tea Party.”
Surely one of the iconic images of this time is the picture of Egypt’s President Hosni Mubarak — for three decades a modern pharaoh — being hauled into court, held in a cage with his two sons and tried for attempting to crush his people’s peaceful demonstrations. Every leader and C.E.O. should reflect on that photo. “The power pyramid is being turned upside down," said Yaron Ezrahi, an Israeli political theorist.
So let’s review: We are increasingly taking easy credit, routine work and government jobs and entitlements away from the middle class — at a time when it takes more skill to get and hold a decent job, at a time when citizens have more access to media to organize, protest and challenge authority and at a time when this same merger of globalization and I.T. is creating huge wages for people with global skills (or for those who learn to game the system and get access to money, monopolies or government contracts by being close to those in power) — thus widening income gaps and fueling resentments even more.
Put it all together and you have today’s front-page news.
A version of this op-ed appeared in print on August 14, 2011, on page SR11 of the New York edition with the headline: A Theory of Everything (Sort of).
=========
Explosión social en Reino Unido
Test: ¡Adivine el país!
MOISÉS NAÍM
El País, 14/08/2011
Hoy comenzamos con un test. Seleccione el país de donde proviene la siguiente noticia: "En las últimas semanas, calles y plazas han sido tomadas por miles de personas que protestan contra el Gobierno y por la situación del país. En algunos lugares, las manifestaciones se han tornado violentas". Las opciones son: Azerbaiyán, Chile, China, España, Filipinas, Grecia, Indonesia, Israel, Portugal, Reino Unido, Rusia, Tailandia. La respuesta es fácil: en todos. Y la lista podría, por supuesto, incluir Bahréin, Egipto, Jordania, Marruecos, Libia, Siria, Túnez o Yemen.
Este año comenzó con la primavera árabe y siguió con el verano furioso. La furia callejera se ha vuelto contagiosa y la indignación popular se ha globalizado. Es imposible diferenciar una foto de jóvenes enfrentados a la policía en Santiago de Chile de otra con la misma imagen en Londres. O una que muestra a los indignados acampados en la Puerta del Sol en Madrid de otra con las tiendas de campaña de los miles de manifestantes en las calles de Tel Aviv.
Es tentador buscar una explicación única para todas estas protestas. Si bien es cierto que la mala situación económica, la desigualdad y la falta de oportunidades para los jóvenes están presentes en muchas de ellas, más cierto aún es que cada una de estas movilizaciones está impulsada por fuerzas muy propias. Los estudiantes chilenos salen a la calle porque quieren mejor educación, los ingleses porque quieren robar un televisor. Los israelíes protestan por el alto costo de la vida y la falta de vivienda y los indignados españoles porque... No sé bien por qué. Por todo.
En Reino Unido el debate público sobre las causas de los saqueos es particularmente revelador. Cada quien tiene una explicación distinta: familias débiles y rotas, ineptitud policial, inmigración, multiculturalismo, discriminación racial, las políticas sociales, los recortes presupuestarios, la desigualdad económica, la tolerancia frente a conductas antisociales, los defectos del sistema educativo, la sobredosis de blackberrys y redes sociales y muchas más. Lo que esta variedad de explicaciones significa es que, en realidad, nadie entiende el origen de esta súbita explosión de violencia callejera. Decir que revela un profundo malestar social o, como señaló el primer ministro inglés, David Cameron, que hay segmentos de su sociedad que están muy enfermos, es equivalente a diagnosticar a un paciente diciendo que tiene un virus indeterminado. Este diagnóstico puede ser cierto, pero ayuda muy poco a encontrar la cura.
Por otro lado, aunque no sabemos qué pasó esta semana en Reino Unido, sí contamos con un análisis riguroso y reciente de la inestabilidad social que hubo en Europa entre 1919 y 2009. Jacopo Ponticelli y Hans-Joachim Voth, de la Universidad Pompeu Fabra, en Barcelona, acaban de publicar un fascinante ensayo en el cual, tras analizar rigurosamente una enorme base de datos para 26 países europeos, determinan que en estos 90 años "los recortes en el gasto público aumentaron significativamente la frecuencia de disturbios, marchas anti-Gobierno, huelgas generales, asesinatos políticos e intentos de derrocar el orden establecido". Esto no es una sorpresa, pero está bien que alguien lo haya comprobado científicamente.
La gran pregunta, sobre la que tampoco tenemos respuestas concluyentes, es si las acciones en la calle logran cambiar las cosas. Por ahora, la única afirmación, tan segura como inútil, es que en algunos casos sí y en otros no. La toma de la plaza de Tahrir produjo cambios cataclísmicos en Egipto. En Tiananmen, no. ¿En la Puerta del Sol? Tampoco, por ahora. No se sabe qué hace que las protestas callejeras se transformen en fuente de cambio político o solo sirvan de ejercicio catártico sin más consecuencias en la práctica.
Este es un terreno intelectualmente resbaladizo. Por ejemplo, los profesores Ponticelli y Voth, basándose en los mejores análisis disponibles, afirman que, en contraste con lo que cabría suponer, "los Gobiernos que imponen recortes presupuestarios no son significativamente penalizados en las elecciones por los votantes, pero tampoco hay evidencia de que la expansión del gasto resulte en ganancias electorales". Si esto es así, se preguntan los profesores, ¿por qué entonces los Gobiernos posponen tanto como pueden las medidas de austeridad y cuando las ponen en práctica lo hacen a medias?
Según ellos, es porque los políticos ya saben lo que las investigaciones académicas confirman: hay pocas decisiones gubernamentales que saquen a la gente a protestar a la calle más rápidamente que los tijeretazos fiscales.
Así, en vista de que en muchos países los recortes al gasto público se han hecho inevitables, ya sabemos qué debemos esperar. La furia callejera de este verano se va a prolongar. Son afortunados -y pocos- los países que la podrán evitar.
A Theory of Everything (Sort of)
By THOMAS L. FRIEDMAN
The New York Times, August 13, 2011
LONDON burns. The Arab Spring triggers popular rebellions against autocrats across the Arab world. The Israeli Summer brings 250,000 Israelis into the streets, protesting the lack of affordable housing and the way their country is now dominated by an oligopoly of crony capitalists. From Athens to Barcelona, European town squares are being taken over by young people railing against unemployment and the injustice of yawning income gaps, while the angry Tea Party emerges from nowhere and sets American politics on its head.
There are multiple and different reasons for these explosions, but to the extent they might have a common denominator I think it can be found in one of the slogans of Israel’s middle-class uprising: “We are fighting for an accessible future.” Across the world, a lot of middle- and lower-middle-class people now feel that the “future” is out of their grasp, and they are letting their leaders know it.
Why now? It starts with the fact that globalization and the information technology revolution have gone to a whole new level. Thanks to cloud computing, robotics, 3G wireless connectivity, Skype, Facebook, Google, LinkedIn, Twitter, the iPad, and cheap Internet-enabled smartphones, the world has gone from connected to hyper-connected.
This is the single most important trend in the world today. And it is a critical reason why, to get into the middle class now, you have to study harder, work smarter and adapt quicker than ever before. All this technology and globalization are eliminating more and more “routine” work — the sort of work that once sustained a lot of middle-class lifestyles.
The merger of globalization and I.T. is driving huge productivity gains, especially in recessionary times, where employers are finding it easier, cheaper and more necessary than ever to replace labor with machines, computers, robots and talented foreign workers. It used to be that only cheap foreign manual labor was easily available; now cheap foreign genius is easily available. This explains why corporations are getting richer and middle-skilled workers poorer. Good jobs do exist, but they require more education or technical skills. Unemployment today still remains relatively low for people with college degrees. But to get one of those degrees and to leverage it for a good job requires everyone to raise their game. It’s hard.
Think of what The Times reported last February: At little Grinnell College in rural Iowa, with 1,600 students, “nearly one of every 10 applicants being considered for the class of 2015 is from China.” The article noted that dozens of other American colleges and universities are seeing a similar surge as well. And the article added this fact: Half the “applicants from China this year have perfect scores of 800 on the math portion of the SAT.”
Not only does it take more skill to get a good job, but for those who are unable to raise their games, governments no longer can afford generous welfare support or cheap credit to be used to buy a home for nothing down — which created a lot of manual labor in construction and retail. Alas, for the 50 years after World War II, to be a president, mayor, governor or university president meant, more often than not, giving things away to people. Today, it means taking things away from people.
All of this is happening at a time when this same globalization/I.T. revolution enables the globalization of anger, with all of these demonstrations now inspiring each other. Some Israeli protestors carried a sign: “Walk Like an Egyptian.” While these social protests — and their flash-mob, criminal mutations like those in London — are not caused by new technologies per se, they are fueled by them.
This globalization/I.T. revolution is also “super-empowering” individuals, enabling them to challenge hierarchies and traditional authority figures — from business to science to government. It is also enabling the creation of powerful minorities and making governing harder and minority rule easier than ever. See dictionary for: “Tea Party.”
Surely one of the iconic images of this time is the picture of Egypt’s President Hosni Mubarak — for three decades a modern pharaoh — being hauled into court, held in a cage with his two sons and tried for attempting to crush his people’s peaceful demonstrations. Every leader and C.E.O. should reflect on that photo. “The power pyramid is being turned upside down," said Yaron Ezrahi, an Israeli political theorist.
So let’s review: We are increasingly taking easy credit, routine work and government jobs and entitlements away from the middle class — at a time when it takes more skill to get and hold a decent job, at a time when citizens have more access to media to organize, protest and challenge authority and at a time when this same merger of globalization and I.T. is creating huge wages for people with global skills (or for those who learn to game the system and get access to money, monopolies or government contracts by being close to those in power) — thus widening income gaps and fueling resentments even more.
Put it all together and you have today’s front-page news.
A version of this op-ed appeared in print on August 14, 2011, on page SR11 of the New York edition with the headline: A Theory of Everything (Sort of).
=========
Explosión social en Reino Unido
Test: ¡Adivine el país!
MOISÉS NAÍM
El País, 14/08/2011
Hoy comenzamos con un test. Seleccione el país de donde proviene la siguiente noticia: "En las últimas semanas, calles y plazas han sido tomadas por miles de personas que protestan contra el Gobierno y por la situación del país. En algunos lugares, las manifestaciones se han tornado violentas". Las opciones son: Azerbaiyán, Chile, China, España, Filipinas, Grecia, Indonesia, Israel, Portugal, Reino Unido, Rusia, Tailandia. La respuesta es fácil: en todos. Y la lista podría, por supuesto, incluir Bahréin, Egipto, Jordania, Marruecos, Libia, Siria, Túnez o Yemen.
Este año comenzó con la primavera árabe y siguió con el verano furioso. La furia callejera se ha vuelto contagiosa y la indignación popular se ha globalizado. Es imposible diferenciar una foto de jóvenes enfrentados a la policía en Santiago de Chile de otra con la misma imagen en Londres. O una que muestra a los indignados acampados en la Puerta del Sol en Madrid de otra con las tiendas de campaña de los miles de manifestantes en las calles de Tel Aviv.
Es tentador buscar una explicación única para todas estas protestas. Si bien es cierto que la mala situación económica, la desigualdad y la falta de oportunidades para los jóvenes están presentes en muchas de ellas, más cierto aún es que cada una de estas movilizaciones está impulsada por fuerzas muy propias. Los estudiantes chilenos salen a la calle porque quieren mejor educación, los ingleses porque quieren robar un televisor. Los israelíes protestan por el alto costo de la vida y la falta de vivienda y los indignados españoles porque... No sé bien por qué. Por todo.
En Reino Unido el debate público sobre las causas de los saqueos es particularmente revelador. Cada quien tiene una explicación distinta: familias débiles y rotas, ineptitud policial, inmigración, multiculturalismo, discriminación racial, las políticas sociales, los recortes presupuestarios, la desigualdad económica, la tolerancia frente a conductas antisociales, los defectos del sistema educativo, la sobredosis de blackberrys y redes sociales y muchas más. Lo que esta variedad de explicaciones significa es que, en realidad, nadie entiende el origen de esta súbita explosión de violencia callejera. Decir que revela un profundo malestar social o, como señaló el primer ministro inglés, David Cameron, que hay segmentos de su sociedad que están muy enfermos, es equivalente a diagnosticar a un paciente diciendo que tiene un virus indeterminado. Este diagnóstico puede ser cierto, pero ayuda muy poco a encontrar la cura.
Por otro lado, aunque no sabemos qué pasó esta semana en Reino Unido, sí contamos con un análisis riguroso y reciente de la inestabilidad social que hubo en Europa entre 1919 y 2009. Jacopo Ponticelli y Hans-Joachim Voth, de la Universidad Pompeu Fabra, en Barcelona, acaban de publicar un fascinante ensayo en el cual, tras analizar rigurosamente una enorme base de datos para 26 países europeos, determinan que en estos 90 años "los recortes en el gasto público aumentaron significativamente la frecuencia de disturbios, marchas anti-Gobierno, huelgas generales, asesinatos políticos e intentos de derrocar el orden establecido". Esto no es una sorpresa, pero está bien que alguien lo haya comprobado científicamente.
La gran pregunta, sobre la que tampoco tenemos respuestas concluyentes, es si las acciones en la calle logran cambiar las cosas. Por ahora, la única afirmación, tan segura como inútil, es que en algunos casos sí y en otros no. La toma de la plaza de Tahrir produjo cambios cataclísmicos en Egipto. En Tiananmen, no. ¿En la Puerta del Sol? Tampoco, por ahora. No se sabe qué hace que las protestas callejeras se transformen en fuente de cambio político o solo sirvan de ejercicio catártico sin más consecuencias en la práctica.
Este es un terreno intelectualmente resbaladizo. Por ejemplo, los profesores Ponticelli y Voth, basándose en los mejores análisis disponibles, afirman que, en contraste con lo que cabría suponer, "los Gobiernos que imponen recortes presupuestarios no son significativamente penalizados en las elecciones por los votantes, pero tampoco hay evidencia de que la expansión del gasto resulte en ganancias electorales". Si esto es así, se preguntan los profesores, ¿por qué entonces los Gobiernos posponen tanto como pueden las medidas de austeridad y cuando las ponen en práctica lo hacen a medias?
Según ellos, es porque los políticos ya saben lo que las investigaciones académicas confirman: hay pocas decisiones gubernamentales que saquen a la gente a protestar a la calle más rápidamente que los tijeretazos fiscales.
Así, en vista de que en muchos países los recortes al gasto público se han hecho inevitables, ya sabemos qué debemos esperar. La furia callejera de este verano se va a prolongar. Son afortunados -y pocos- los países que la podrán evitar.
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