quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Maria Yedda Leite Linhares (1921/2011): homenagem a uma historiadora - Francisco Carlos Teixeira


Maria Yedda Leite Linhares – 1921/2011

Poucas pessoas conseguiram em uma só vida viver tanto. Maria Yedda Leite Linhares foi, acima de tudo, uma formadora de gente. E tinha a vocação irresistível de participar, de viver no mundo e fazer a mudança, Para ela tenho como lembrança, um título de Pablo Neruda: “confesso que vivi”!


Maria Yedda Leite Linhares foi acima de tudo uma formadora de gente. Sua alegria, a grande satisfação, era ter em seu redor jovens com quem dialogasse – sempre de forma igual, buscando em cada um deles, um talento, uma vocação. Em torno de sua sala de aula e de seus gabinetes de pesquisas passaram gerações. A primeira delas com nomes como Arthur e Hugo Weiss, Valentina Rocha Lima, Francisco Falcon e Helena Lewin. A estes se agregou uma segunda turma, formada pelos jovens Ciro Cardoso, Barbara Levy, José Luis Werneck da Silva, Berenice Brandão. E então veio a sua integral participação nas lutas do seu tempo a levaria, em 1964, a viver a cada dia no coração da crise do Brasil moderno.

Contra todos os conselhos, inclusive do bom-senso e sabedoria do Dr. José Linhares, ou “o José” simplesmente, ela insistira. Não havia conserto, era da sua natureza. Nascera assim. Lá no Ceará, em 3 de novembro de 1921, nascera - para usar a expressão do poeta que ela tanto amaria - “gauche na vida”. Meninota, contra a vontade dos pais, colocara um imenso laço vermelho nos cabelos para ver a passagem das tropas revolucionárias que adentravam o Calçamento de Messejana para conquistar Fortaleza em 1930. Aí consolidara sua vocação: rebelde, teimosa, voluntariosa, humana e generosa. 

Com a família, seguindo o rastro da crise mundial que derrubara os preços do algodão, mudou-se para Porto Alegre. Lá ficou pouco tempo. Sofreu uma infecção no ouvido, que mais tarde martirizaria a vida e a vaidade. Mudaram-se para o Rio. Aqui, na capital federal, abriu-se o espaço e as redes sociais que permitiriam a Maria Yedda ser a mulher que marcou seu tempo. Autodidata, com uma letra incompreensível, adaptou-se mal ao colégio de freiras. Estudou ainda mais, em especial português – que se tornou uma obsessão e quase a nos rouba para o jornalismo – e história. Na maratona de educação alcançou o primeiro lugar, tendo como prêmio o único livro que jamais emprestou: a História Geral de Varnhagen. 

A criação da UDF facilitou sua ascensão ao curso de “filosofia” – entendida bem mais como um curso humanista para a formação de professores. Lá conheceu os amigos que marcariam sua vida: o Dr. Anísio Teixeira, uma marca poderosa. Com o Dr. Anísio apreendeu, e acreditou, por toda vida que somente a educação para todos, laica e pública, mudaria o país. Aí encontrou também seu amigo de vida, Darcy Ribeiro – o que não quer dizer, de forma alguma, que não brigassem como cão e gato. Conviveu como jovem estudante, em sala de aula ou em reuniões e debates, com homens como Hermes Lima, Brochado da Rocha, San Thiago Dantas - todos jovens professores e oponentes da ditadura varguista. Yedda ouvia, apreendia e preparava-se também para participar.

Por fim assistiu a derrocada da UDF, o golpe do Estado Novo e a prisão de Pedro Ernesto e de seus jovens professores. 

Sua excelência em português, já naquele momento conhecida de todos, a aproximou de uma severa senhora americana encarregada da formação de quadros do Dasp. Era a chegada da política de boa vizinhança. Maria Yedda foi para os Estados Unidos, jovem, corajosa e sozinha. Um fenômeno em sua época. Estudou no Barnard College, na Universidade de Columbia.

Nada seria igual depois disso. Creio que mesmo o amor, e gratidão, que viria a ter pela França, não igualariam jamais a admiração pelos Estados Unidos. Sozinha, e precisando viver, tornou-se, ainda uma vez, professora de português para americanos e, depois, em inglês, locutora da rádio universitária.

Travou laços de amizade com uma geração de exilados da guerra civil espanhola, odiou Franco e ouviu os relatos das atrocidades dos fascismos em ascensão. Conheceu a poesia americana, espanhola e a arte deslumbrante de um México insurgente. Amava Lorca. Freqüentou o Radio City Hall e apaixonou-se pelo jovem Frank Sinatra. O inglês tornou-se uma língua fluente, na qual amava dizer poesias. Todas modernas, nunca amou Shakespeare, mas ficaria para sempre fascinada pela sonoridade de Walt Whitman.

Então veio guerra e a decisão de voltar ao Brasil. Três dias de avião, porto por porto, até mesmo no Caribe com o piloto perseguindo um submarino alemão. O Rio mudara, o Brasil se cansava da ditadura nativa. Voltava para universidade, agora a UB, a gloriosa universidade da qual seria a mais jovem mulher catedrática. 

Travava amizade com Delgado de Carvalho, o decano da história moderna e contemporânea. Mais do que tudo: conhecia José, jovem rábula, que a traria, ainda mais, para o coração da crise, casando-se e convivendo com os atores do poder. Data daí a amizade e o respeito por Alzira Vargas – o que importava que fosse oposição, tratava-se de “Alzirinha”, tão somente. Jamais esqueceria a desobediência do Comandante Amaral Peixoto, o pai da nossa “França Livre”, Niterói!

Tornou-se fundadora da UNE e sua primeira diretora do “Departamento Cultural”: o teatro, incluindo o jovem teatro negro, as revistas culturais e dos debates. Talvez fosse sempre isso do que Yedda mais gostava. O debate. Quente. Vivo. Múltiplo. Formou-se a frente pela entrada do Brasil na guerra mundial. Lá estava ela, na primeira fila, de braços com Marighela! O escritório da Reuters, na Cinelândia, tornar-se-ia seu própio escritório, lendo em primeira mão os telegramas que relatavam a guerra. Tornar-se-ia, para sempre e do fundo do seu coração, botafoguense. Os chamados rapazes do Botafogo, com João Saldanha à frente, seriam parceiros de caminhadas na então estreita calçada de Copacabana.

O casamento deveria ter equilibrado sua vocação revolucionária, creio, contudo, que foi o Dr. José que se acostumou ao sobressalto. Aconselhava, pedia e sempre, sempre, punha-se ao seu lado. Em toda crise repetia a mesma coisa: “Minha filha, não diga nada, espere para ouvir...” Inútil, Yedda não era mulher de esperar. Agia. Muitas vezes na direção certa, guiada por seu instinto contrário a toda injustiça. Outras vezes era precipitada, nunca, contudo, injusta. No mais das vezes prejudicava a si mesma.

Do casamento teve Maria Teresa, “Teca”, e José, “Zequinha”! Havia orgulho nos filhos, via-se neles, sentia por eles. Uma das maiores revoltas foi vê-los envolvidos na insidiosa e malsã campanha da imprensa golpista nos idos de março de 1964. Creio também que ambos pagaram algum preço – o preço de serem filhos de Yedda, o preço das horas roubadas, o preço de partilhá-la com todos nós, comigo, com Ciro Cardoso e principalmente com Francisco Falcon. Temos que pedir perdão por isso, perdão por tê-la tanto tempo conosco! A tudo se juntava a presença de Yonne Leite, outro motivo de orgulho de Yedda, que a via, com tudo que isso encerra, bem mais como filha do que irmã.

Na casa, a velha Virgínia cuidava de todos, incluindo alimentar os famintos assistentes, como o insistente Falcon.

Vieram os concursos, provas, cerimônias, becas e arminhos. Substituía Delgado de Carvalho como catedrática: foi o dia que mais chorou na vida. Não queria a cátedra, ao menos não queria “aquela cátedra” – lutaria todo o resto de sua vida para mudar a universidade. Falcon seria seu principal companheiro de trabalho, de lealdade e de debates intelectuais. Livros inteiros eram lidos e resenhados pelo telefone, todas as noites.

Os tempos eram de chumbo, o ar era arenoso e o chão fugidio. Yedda namorava com o PCBR, respeitava e ouvi a Apolônio de Carvalho, tinha Renée como amiga. Apoiara o ministro da educação, assumia a direção da Radio MEC. Desesperada, sem tempo, negociando e montando uma equipe de trabalho, pediria a Eduardo Portella que escrevesse seu discurso de posse, dizendo pelo telefone o que queria dizer. Ao seu lado estaria como fiel escudeira a nossa Sandra Ribeiro da Costa, forte, sem sutilezas e capaz de protegê-la, inclusive dela mesma.

Usou seu espaço para fazer cultura, afastou-se do ambiente malsão da FNFi daqueles dias. Adorava as óperas e a música erudita, da qual se tornou aficionada, muitas vezes tendo Ciro Cardoso como interlocutor. Só detestava o Bolero de Ravel. Deu a Roberto Carlos seu primeiro emprego no Rio, na própria rádio. Então vieram rostos novos, em especial Alberto Coelho, um amigo que será um consolo e uma fonte permanente de atualização e de novidades.

Então veio o pior: as forças alarmadas, como dizia “o José”, tomaram o poder. A “Revolução Brasileira em curso”, como diziam os amigos do ISEB, era feita de papel. As conseqüências seriam terríveis. Prisões, cassassões, aposentadorias compulsórias. Maria Yedda seria inculpada em 11 IPMs; seria acusada na mídia, seria espezinhada por muitos. Pouco importava, sabia o que fazer.

Queria proteger amigos – advertia Falcon, em razão do projeto da história nova. Passaria uma temporada no exterior e por fim tomaria à frente da resistência. No apartamento da Cinco de Julho organizava-se a Passeata dos Cem Mil. Em fim, o ar tornou-se irrespirável. As prisões se sucederam... Tirada do hospital foi levada para o 1º. RCC. Fernand Braudel e Jean-Paul Sartre escreveriam ao presidente-general exigindo sua liberdade. 

O exílio seria na França. Primeiro Paris, onde encontraria Ciro Cardoso, e todos que estavam, e depois Toulouse-Le Mirail, onde Jacques Godechot e Bartolomé Benassar a aceitariam com carinho e respeito. Travaria conhecimento e angariaria respeito de todos: Albert Soboul, o amigo Mauro.

Por fim, o casamento de Maria Teresa e o nascimento de Patrícia, a primeira neta seriam de mais. Forçava seu retorno, antes do decreto da anistia. A pressão seria tremenda, obrigando-a a um exílio interno, em Vassouras e impossibilitando toda pesquisa e docência em entidades públicas.

Com a volta reorganizavam-se as redes de sociabilidade, os amigos e os projetos. Em principio o CPDA, no Horto Florestal, depois a UFF e. em fim, o retorno à casa, a UFRJ. Formava-se em torno dela uma nova geração, dos quais João Fragoso e Hebe Mattos são os mais amados.

Enfim a redemocratização: Yedda ainda uma vez aceita os desafios. Primeiro é a secretaria municpal de educação, depois, por duas vezes, seria secretaria estadual de educação. Então, ao lado de Darcy Ribeiro, lançariam mão da herança do Dr. Anísio Teixeira. Os cieps, brizolões – a mais generosa e igualitária proposta de educação que o país produziu – é em verdade a versão moderna da escola-parque. 

Outros amigos vieram: Laurinda, Lia Faria, Edilberto, Maria Lucia kamache – todos embalados pelo mesmo sonho: “A educação para todos, pública, laica e de qualidade. Ao seu lado, como amparo, crítico e amigo, teria a presença de Paulo Sérgio Duarte, mais um filho muito amado.

Isto é um pouco de Maria Yedda, só um pouco, porque tão poucas pessoas conseguiram em uma só vida viver tanto. Hoje não estou triste, não quero estar triste. Para Yedda tenho apenas uma lembrança, um título de Pablo Neruda: “confesso que vivi”!

(*) Professor na Universidade do Brasil.

Debate-lancamento livros PRA: Hoje, Livraria Cultura-Casa Park, 19h30


Paulo Roberto de Almeida convida para o lançamento de seus dois livros mais recentes: 
Globalizando: ensaios sobre a globalização e a antiglobalização (Rio de Janeiro: Lumen Juris Editora, 2011; link: http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/107Globalizando.html

e Relações internacionais e política externa do Brasil: a diplomacia brasileira no contexto da globalização (Rio de Janeiro: LTC, 2012; link: http://www.pralmeida.org/301Livros/2FramesBooks/RelaIntPExt2011.html),

em debate sobre a “Inserção internacional do Brasil: agendas e desafios”, com a participação dos professores José Roberto Novaes de Almeida (Eco-UnB) e Amado Luiz Cervo (UnB, apos.).
Livraria Cultura, Casa Park:
Dia 1° de Dezembro de 2011, às 19:30hs.

Monde - uma revista global francesa: chamada de artigos

APPEL A CONTRIBUTIONS
Revue Monde(s), Histoire, espace, relations
Première revue française d’histoire globale 

Articles en français et anglais (Articles can be submitted in French or in English)

La revue Monde(s), Histoire, Espace, Relations est la première revue française d’histoire globale. Elle encourage la production d’analyses historiques fondées sur l’étude de  phénomènes internationaux par une perspective décentrée, tenant compte de la diversité des points de vue et pas seulement du monde Occidental. Lieu dédié aux recherches novatrices provenant de l’ensemble des champs historiographiques, la revue Monde(s) entend représenter un espace d’échange et de débat entre des approches méthodologiques et géographiques variées. 
Toutes les thématiques de l’histoire globale comme les circulations (idées, usages, hommes, marchandises et capitaux), les réseaux, les conflits ou les régulations (institutionnelles ou informelles) ont vocation à être traité par la revue. 

Editée chez Armand Colin, la revue Monde(s) commencera sa publication en avril 2012. Chaque numéro est organisé autour d’un dossier spécial, ainsi que de trois articles de Varia. 

Le premier numéro portera portera sur « Le débat transnational » (coord. : Sabine Dullin et Pierre Singaravélou). Le second numéro sortira à l’automne 2012 et comprendra un dossier sur « Les Empires » (coord. : Pierre Boiley et Antoine Marès).
Chaque numéro comprend un dossier spécial, plusieurs articles de varias indépendants du dossiers, ainsi qu’un débat autour d’un livre marquant de l’historiographie. Tous les numéros comprendront des articles en français et en anglais.

Le comité de rédaction encourage la soumission d’articles d’histoire globale portant sur la période contemporaine (XIXe-XXe). Chaque article est soumis à un processus de double relecture anonyme. Après approbation par le comité de rédaction, l’article sera publié dans la partie ‘varia’.
Merci d’envoyer votre article de 40.000 signes (ou 6500 mots) environ à : gisele.borie (at) univ-paris1.fr.

Plus de précisions (chartes, normes aux auteurs, comité de rédaction) sur notre site web : www.Mondes.com
Le comité de rédaction.

2/ CALL FOR PAPERS
Monde(s), Histoire, espace, relations
The first French journal of global history

The historical journal Monde(s), Histoire, Espace, Relations, is the first French journal of global history. It encourages innovative historical research on international phenomena from a global perspective, rather than an exclusively Western vision of the world. Its ambition is to serve as a catalyst for new historical research on global history covering all areas of historiography, providing a forum for debate between different methodological and geographical approaches. All areas of global history, such as circulations (of ideas, culture, people, goods, money), networks, conflicts or conflict resolution (institutional or informal), are concerned. 

Published by Armand Colin, Monde(s)’s first issue will be released in April 2012. Each issue has a thematic section and a varia section. The first issue’s thematic section will deal with “The Transnational Debate” (edited by Sabine Dullin and Pierre Singaravélou). The second issue’s thematic section will analyse the notion of “Empire” (edited by Pierre Boiley and Antoine Marès).
Each issue will be divided into three parts: a long thematic section,  a‘varia’ section of articles concerning various topics, and a debate on an outstanding book. Articles will be published in French and in English.

The Editorial Committee welcomes the submission of articles on contemporary global history since the 19th century. Each article will be evaluated by an anonymous peer-review process. Once accepted, articles will be published in the ‘varia’ section of the journal.

Proposals (6.500 words or 40.000 characters) in French or in English may be submitted to: gisele.borie (at) univ-paris1.fr.

For more information (instructions for authors, Editorial Committee members), please consult our website: www.Mondes.com

The Editorial Committee.

Diplomacia companheira - Editorial de O Globo




O destino de aliados do Itamaraty
Editorial O Globo, 1/12/2011

Já é da História que Lula e o PT foram sensatos em manter a rota da política econômica, ao assumirem em 2003. O governo e o país escaparam de grave crise. Mas, talvez para compensar o “conservadorismo”, uma manobra radical foi executada na política externa.
Instituiu-se a “diplomacia companheira”, inspirada na ideologia nacionalista e terceiro-mundista das décadas de 60 e 70 do século passado, quando Unctad era sinônimo de independência. Ressuscitou-se um antiamericanismo juvenil, importado do passado, do mundo bipolar da Guerra Fria. O primeiro grande feito da diplomacia companheira foi rejeitar a proposta americana da Alca (Área de Livre Comércio das Américas). Aplausos foram ouvidos na Casa Rosada, ocupada pelos Kirchner, e no Palácio Miraflores, do caudilho Hugo Chávez. Cumpriu-se um ritual de conferências apenas para sacramentar a decisão prévia de não se fazer acordo com os “gringos”. Todas as fichas foram apostadas na Rodada de Doha, no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), para uma profunda liberação do comércio mundial. Não deu certo. Doha se frustrou, está congelada na OMC, a Alca foi esquecida, e Brasil/Argentina e parceiros do Mercosul não assinaram qualquer acordo bilateral relevante para alavancar as exportações. Ao contrário de vários outros países.
Se a China houvesse rateado nos últimos nove anos, o Brasil não teria resgatado a dívida externa com divisas das exportações. O fracasso da diplomacia companheira no plano comercial está expresso no estado perene de crise no Mercosul e no fato de o Brasil continuar com uma parcela ínfima das exportações mundiais (entre um e dois por cento).
No plano político, o Itamaraty dos tempos lulopetistas não foi melhor. O avanço da Primavera Árabe já despejou na lata de lixo da História um dos parceiros escolhidos pela política externa instituída em 2003, Muamar Kadafi, “amigo e irmão”, no entender de Lula. Ao menos, já com Dilma no Planalto, o Itamaraty foi coerente com o passado de profissionalismo e, na ONU, condenou as atrocidades do ditador. Mas fraquejou diante da ditadura dos Assad, em fase de implosão, mesmo quando as ruas das cidades sírias já estavam manchadas de sangue. Parece ter havido uma recaída na tosca ideia de que ser independente é estar do outro lado em que se encontram os Estados Unidos, mesmo que, para isso, se tenha a companhia de ferozes ditadores. Mas, diante da escalada da violência do regime, a ponto de causar reação da própria Liga Árabe e de antigos aliados como a Turquia, o Itamaraty recuou. Antes tarde.
O processo acelerado de mudanças no Norte da África aconselha coerência no compromisso com princípios e cuidados com alianças descabidas, seladas apenas por caprichos ideológicos. O Irã de Ahmadinejad, outro ungido pela diplomacia companheira, ruma célere para voltar a ser um estado pária, como depois da revolução islâmica de Khomeini. A tresloucada depredação da embaixada britânica, um videoteipe do cerco à representação diplomática americana em 1979, é sugestiva.
O momento deveria ser de revisão da política de alianças exóticas. Por enquanto, esta diplomacia de varejo tem sido contestada por fatos que ocorrem em regiões distantes. O Itamaraty precisa estar preparado para quando companheiros geograficamente mais próximos caírem em desgraça.

A arte de enganar os incautos - Cesar Maia

Certos governos vivem de propaganda. Alguns mais do que outros. Alguns até só vivem de propaganda, tanto que a propaganda em si, de si mesmos, virou a própria arte de governar, se é que se pode chamar de arte as coisas servidas ao distinto público, envelopadas em efeitos visuais modernosos, apenas para dar a impressão de que se está fazendo alguma coisa, quando na verdade a única coisa que existe é mesmo a propaganda, e os pagamentos feitos a marqueteiros e agências de publicidade.
Nunca antes neste país, antes de 2003, quero dizer, se tinha feito tanta propaganda em torno do nada.
Nada, literalmente nada, e no entanto com todo o suporte visual e auditivo dessas peças bonitas de publicidade onde o que se vê é gente contente com o governo, como nos cenários Potemkim.
O governo é um governo Potenkim (quem quiser saber o que é, vá na wikipédia).
Com vocês, um que também já fez muita publicidade de si mesmo, mas que não deixa de ter razão em seus argumentos.
Paulo Roberto de Almeida


PROMESSAS COMO PUBLICIDADE: QUEM ENGANA QUEM?
Cesar Maia, 1/12/2011
          
1. Agora, se tornou técnica de comunicação governamental -generalizada pelos marqueteiros dos governos, prefeitos de grandes cidades, governadores, ministros e presidente- dar declarações, entrevistas coletivas, atos formais declaratórios, inaugurar pedras fundamentais e coisas no estilo, transformando intenções e promessas em fatos no imaginário popular, através da cobertura da imprensa e publicidade posterior. Tem até croquis realistas, com adaptação digital de fotos e desenhos animados em computação gráfica. E há intenções e promessas que são lançadas para cinco anos na frente e que não poderão ser cobradas na próxima eleição, nem seu andamento.
            
2. No Rio e em todo Brasil -PAC, por exemplo- essa é uma prática rotineira e generalizada. A imprensa, por crédito, ingenuidade, para não perder a notícia para concorrentes, ou mesmo por boa vontade, dá destaque. Colunas colocam até as fotos digitais e destacam. O eleitor registra e às vezes guarda na memória. Na imensa maioria das vezes, dá crédito e imagina que tudo está andando. Em muitos casos, quando a obra ou intervenção é localizada numa determinada região, só os moradores dessa região sabem que a promessa é falsa. Os demais, que nunca vão naquele bairro, ficam pensando que as coisas estão caminhando.
            
3. E os marqueteiros sublinham os lançamentos com slogans do tipo "um governo que trabalha"..., e os comerciais na TV vão mostrando as intenções como realidade. Um exemplo recente é a publicidade da prefeitura do Rio com 'Rio-Cidade Olímpica'. A única obra andando é o túnel da Grota Funda ou Transoeste, que nada tem a ver com as Olimpíadas. Basta checar no projeto entregue ao COI. Mas até a comissão do COI foi enganada e visitou a única obra em andamento, sem saber que nada tem a ver com os JJOO.
            
4. Este jogo de ilusão, promessas e, em boa parte das vezes, mentiras, é intensificado pelos candidatos à reeleição ou para os candidatos, da sua turma, à sucessão. E o que se diz é que só ele pode garantir a continuidade das obras. Outro dia, foi publicado que o túnel da 'perimetral' não vai ser mais o projetado, mas vai até a Praça XV, no Rio. Nada se falou de projeto, de valores e do financiamento para isso, já que os recursos da CEF, transformados em certificados e entregues aos empreiteiros, não têm essa previsão. Um pouco antes, se disse que esses recursos da CEF, via certificados, iriam bancar a construção do Museu do Amanhã. Isso seria totalmente irregular. Claro, os responsáveis não se meteriam nesse 'imbróglio', tendo depois que responder ao MP e ao TCU.
           
5. O novo Museu da Imagem e do Som, lançado a fins de 2007, 4 anos depois, não saiu do chão. Agora, há uma fórmula boa para ganhar tempo: lançar concursos de projetos, debater preliminares, coisa e tal e, com isso, 'ganhar' um ano. A lista, aqui no Rio -prefeitura e estado-, é extensa. Pelo menos 20 destaques de obras importantes não foram para valer e outras tantas são obras de outdoor em canteiros de obras-fake. Certamente, um tempo depois, a imprensa, se sentindo fraudada, faz a cobrança colocando imagens e calendário do dia das promessas e mostrando que nada foi feito, ou quase. Mas também há um ou outro caso em que a ampla publicidade paga pelos governos, da promessa ou intenção, inibe essa cobrança.
          
6. Um vídeo de 2 minutos a respeito, "Quero Morar na Propaganda"..., foi muito divulgado e ainda faz sucesso. Assista.

Nossos aliados nos Brics: liberais libertarios, para o poder, liberticidas para a imprensa...

Pois é, quem diria?: tu quoque África do Sul?
A gente sabia que China e Rússia eram, assim digamos, um pouco liberticidas em matéria de imprensa, sobrando a defesa das liberdades democráticas para Brasil e Índia, pelo menos no plano formal...
Agora vem essa, e a gente começa a pensar se os Brics não são uma má ideia para a liberdade de imprensa...
Paulo Roberto de Almeida 



Abrindo o jogo
Carlos Brickmann, 30/11/2011

Parece incrível, mas um país que voltou há tão pouco tempo à democracia, cicatrizando com rara habilidade as feridas do passado, com amplo apoio internacional, está querendo retornar aos tempos da sombra. A África do Sul acaba de aprovar penas de prisão (de até 25 anos) a jornalistas que divulguem informações que o Estado considerar sigilosas. O nome da censura, lá, é "Lei de Proteção da Informação"; e seu objetivo é, segundo o deputado Molopo Mothapo, do partido governista Congresso Nacional Africano, CNA, "garantir a segurança nacional".

E quem ameaça a segurança nacional sul-africana? Isso o pessoal favorável à censura não conta. Molopo Mothapo diz também que a censura sul-africana "está totalmente de acordo com a prática internacional". De certa forma, tem razão: China, Arábia Saudita, Cuba, Irã, Sudão, Coréia do Norte e outras nações usam esta maneira, entre outras, de "garantir a segurança nacional". E até no Brasil há gente que gostaria muito de, sob a mesma bandeira, evitar que jornalistas descubram e divulguem coisas que os governos não querem ver descobertas e divulgadas.

Pensadores???!!! Globais???!!! A Foreign Policy endoidou de vez?

Eu sabia que a revista Foreign Policy era original, um tantinho iconoclasta, mas saudavelmente cética e agradavelmente contestadora do status quo, oferecendo artigos originais, desafiadores do "pensamento único" -- como diriam alguns ingênuos -- ou pelo menos contestadores dos lugares comuns tão frequentes nesses veículos tradicionais do establishment americano, como a Foreign Affairs ou outras.
Mas não sabia que ela era desinformada e um tantinho louca, também.
Alguém aí conhece uma obra original, algum texto criativo, alguma grande contribuição da presidenta brasileira (ela gosta de ser chamada assim) para a elevação espiritual e intelectual da humanidade, enfim, algo, menor que seja, que justifique sua inclusão nessa categoria de "pensadores"?
Ou será que meras intenções -- como o Brasil Sem Pobreza, que poderia ser um menos ambicioso, do tipo Brasil Sem Miséria -- e projetos eivados de propaganda oficial passam por realizações efetivas, e justo no campo do "pensamento"?
Parbleu! A Foreign Policy anda de miolo mole...
Paulo Roberto de Almeida

Dilma Rousseff y Yoani Sánchez, entre los 100 pensadores de Foreign Policy

Dilma Rousseff resalta la renovada importancia de los emergentes
Infolatam/Efe
Washington, 30 de noviembre de 2011
Las claves
  • Rousseff, que aparece en el puesto 42 del ránking, queda destacada por su determinación para luchar contra la desigualdad en su país y por la puesta en marcha de su plan "Brasil sin pobreza".
  • FP recoge también al periodista y escritor venezolano Teodoro Petkoff, uno de los críticos más importantes y persistentes contra las políticas del presidente de Venezuela, Hugo Chávez, y quien aparece en la lista en el puesto 99.
La presidenta de Brasil, Dilma Rousseff, y la bloguera cubana Yoani Sánchez se encuentran en la lista de los 100 pensadores globales más influyentes que aparecen en el nuevo número de la revista de política internacional Foreign Policy (FP).
La lista está encabezada por algunas de las personalidades más determinantes en el surgir de la Primavera Árabe -los movimientos de agitación civil en Oriente Medio-, como los egipcios Alaa Al Aswany, Mohamed El Baradei Wael Ghonim, así como los sirios Ali Ferzat y Razan Zaitouneh.
Rousseff, que aparece en el puesto 42 del ránking, queda destacada por su determinación para luchar contra la desigualdad en su país y por la puesta en marcha de su plan “Brasil sin pobreza”, que pretende sacar a más de 16 millones de brasileños de la pobreza extrema.
“Mientras que muchos líderes del mundo se ven obligados a lidiar con la ira social en una época de creciente desempleo y con la reducción de los presupuestos federales, la primera mujer presidenta de Brasil está a cargo de la gestión de una economía floreciente, que se ha triplicado en la última década, y ha supuesto un incremento de su protagonismo en el escenario mundial”, dice la revista.
La cubana Yoani Sánchez aparece en el puesto 81, reconocida por la labor que realiza desde su blog Generación Y, que publica desde 2007.
“Es una voz disidente de tal importancia que el Gobierno cubano ha ordenado incluso que fuese detenida y golpeada”, dice la publicación.
FP insiste en su trabajo fundamental para denunciar lo que ocurre dentro de su país, algo que lleva a cabo con “talento” y “optimismo”.
FP recoge también al periodista y escritor venezolano Teodoro Petkoff, uno de los críticos más importantes y persistentes contra las políticas del presidente de Venezuela, Hugo Chávez, y quien aparece en la lista en el puesto 99.
Los 100 pensadores escogidos por la revista aparecen junto a una ficha en la que responden a algunas preguntas acompañadas por las valoraciones de FP.
Sánchez considera que su musa “es la libertad a través de las nuevas tecnologías” y apuesta por el estímulo de las inversiones para luchar contra la crisis económica.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...